LEAL, Ondina Fachel & BOFF, Adriane de Mello. Insultos, queixas, sedução e sexualidade: fragmentos de identidade masculina em uma perspectiva relacional. In: PARKER, Richard & BARBOSA, Regina Maria (Orgs.) Sexualidades Brasileiras. Rio de Janeiro: Relume Dumará: ABIA: IMS/UERJ, 1996.
LEAL, Ondina Fachel & BOFF, Adriane de Mello. Insultos, queixas, sedução e sexualidade: fragmentos de identidade masculina em uma perspectiva relacional. In: PARKER, Richard & BARBOSA, Regina Maria (Orgs.) Sexualidades Brasileiras. Rio de Janeiro: Relume Dumará: ABIA: IMS/UERJ, 1996.
LEAL, Ondina Fachel & BOFF, Adriane de Mello. Insultos, queixas, sedução e sexualidade: fragmentos de identidade masculina em uma perspectiva relacional. In: PARKER, Richard & BARBOSA, Regina Maria (Orgs.) Sexualidades Brasileiras. Rio de Janeiro: Relume Dumará: ABIA: IMS/UERJ, 1996.
Insultos, queixas, seducdo e sexualidade:
fragmentos de identidade masculina em uma
perspectiva relacional
Ondina Fechel Leal
je Mello Boff
{_Género e homens
entes pesquisas nossas que tiveram como foco o masculino. O objetivo &
E: trabalho pretende ordenar algumas idéias relacionando dados de dife-
partilhar idéias e interrogagbes em torno do tema, a partir das investigacies,
n sendo realizadas.
que foram e vi
Ao nos situarmos dentro do campo de estudos de género por uma “entrada”,
digamos, um tanto incomum — uma vez que nos identificamos com uma trajetéria
de pesquisa que tem tomado 0 “homem” como objeto de investigacao, sobretudo
ao concebermos cexualidade como tema central —, ndo poderiamos deixar de tecer
algumas consideragdes sobre a nossa insercio e “estranhamento” neste campo. A
partir de alguns comentarios a esse respeito e através de material etnogrfico de
diferentes pesquisas, tentaremos indicar de forma bastante sucinta pontos —dados
— que nos parecem relevantes para o entendimento de identidade masculina,
Primeiro, parece-nos fundamental perceber que “estudos de génera” ow a
necessidade de “estudos de género” aparecem como uma reivindicaao amadure-
Cida dentro de um campo até entao identificado como “estudos de mulheres". No
entanto, mais do que, de fato, deslocar preocupacdesou mudarde objeto de estuto,
que ocorreu foi uma mudanga de nome (rétulo) para uma drea de estudo, sem
de fato ter dado tempo ainda (ou investimento,ou vontade) para que uma tradigio
io desfavoravel, mas faz parte, sim, da constatagio deste fato como um chamar
atengio para o como é dificil trabalhar com “homem’, de inserir-se necessaria-
mente no campo “género” e perceber este campo reificado no "feminino”, quer
iabelecida se modificasse. F’sta observacao nao tem o sentido de uma aprecia-120 Senualidades Brasileeas
como seu abjeto, quer como sujeito de investigagao, Ambas as instancias — objeto
e sujeito de investigacio — sto quase exclusivamente femininas e teceram uma
cumplicidade densa, a qual nfo se pode negar. Nao ha dtivida, do mesmo modo,
que tal configuracao € politicamente relevante. Mas 0 que sabemos de fato a
respeito de relagies de género? Muito ainda tem que ser pensado a respeito da
dificuldade da incorporacao de investigadores-sujeitosmasculinosneste empreen-
dimento, Nao seremos nds, atentas as questoes de genero, a negarmos as nuances
de género no que se refere as miiltiplas questoes que a investigacio envolve, a
comecar pelo tipo de preocupacio que orienta um trabalho. A participacio mas-
culina tem muito a contribuir neste campo.
Qualquer revisio de estudos de genero aponta também para outra caracteris-
tica que vai conformando este campo: uma presenca significativa de estudos sobre
homossexualidade, sobretudo homossexualidade masculina, feitos por investiga-
dores também homossexuais masculinos, Sio estes estudos — e aqui a referéncia
principal é a érea da antropologia — que tem o mérito de centrarem com bastante
Enfase a problemética género em dois focus: a construcao social da identidade ¢ 0
aspecto relacional. Através da experiéncia mesmo da homossextalidade & que
“sexo” de fato, desloca-se para” género”, enquanto categoria, desbiologizando-se.
Eas questoes associadas & identidade de genera passam entao pela relagao entre 0
masculine €0 feminino, se éalguma coisa (ser homtem, ser mulher, ser homossexu-
al) vis-a-vis 0 “outro(s}” — negociam-se, constroent-se, mantém-se identidades
sexuiais constantemente via modos de interacto e cédigos arbitrérios, que, em
riltima andlise (indicava-nos Peter Fry ha tempo), condensam-se em uma gramatica
de ativo/passivo.
Neste inventario da problematica “géner0” nao podemos deixar de perceber
que, se “homem”, como foi dito, esteve ausente deste campo; em contraposicio,
ele nao esteve ausente, de forma alguma, das ciéncias sociais em geral, nem como,
sujeito, nem como abjeto, O foco dos estudos sobre “cultura popular” e “classe
operiria” foram sempre essencialmente masculinos, como se — no nivel das
categorias sociol6gicas — eles (os homens) tivessem consciéncia ¢ n6s (mulheres)
tivéssemos “identidade”. Isto implica o seu inverso, o que talvez seja uma equaca0
‘mais perversa ainda, ou Seja eles (os homens) nao tém identidade e n6s (mulheres)
nao temos consciéncia. Ainda uma observacao se faz necessaria: tematicas como
“reproducio” estruturaram-se, solidificaram-se e cristalizaram-se com a auséncia
do masculino. Nao teriamos nés enquanta pesquisadores faked for granted 0 espaco
social da reproducao como restrito ao doméstico — espaco social familia — e este
essencialmente feminino, coma se a reprodugio se desse a revelia do homem? Ou,
ainda, com muita dificuldade (quem sabe por nossa heranca marxista) ordenado
vinculos da reproducio biolégica com a reproducao social? De outro lado, quando,
— ainda que escassos — estudos sobre homens comecam a surgir enfatizando
identidade de género, 0 foco é sextalidade, e nao reprodugdo. Seré este um.
problema nosso (pesquisadores) ou algo que os nossos objetos nos impdem?
Sexualidade ests para o homem assim como reproducio ests paraa mulher? Como
pensar estes dois temas (sexualidade e reproducio) senao de uma perspectiva
relacional? Como pensé-los em uma perspectiva relacional se toda a ciéncia social
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que construimos jd os consagron como categorias estanques ¢ auténomas? Estaria
a énfase em sexualidade, no que se refere a0 masculino, histdrica e irremediavel
mente comprometida com a “entrada” do homem neste campo, que se deu,
primeiro, com os estuelos de homossextalidade masculina, onde a énfase — faz
sentido — € sexualdade, e ndo reprodugio?
Trata-ce apenas de quest6es. QuestOes que, se permanecerem adliadas, isto é,
se adiarmos a reflexio a respeito da constituicao do proprio campo género &
sexualidade, permaneceremos insistindo em uma perspectiva um tanto niiope
Nosso esforco de pesquisa vai neste sentido: primeiro, abordar género enquan:
to relagies e nao simplesmente masculinidades e feminilidades como esferas
estanques, dissociadas e sem relagio uma coma outra na sta propria constituicao.
Segundo, nao negligenciar empiricamente, enquanto universo dle andlise, o mas-
culino, Neste sentido, conforma-se, no sul do Brasil, uma tradigao em “estudos de
homens”, que passa a ter visibilidade, talvez mais do que por seu proprio mérito,
pela auséncia radical de trabalhos nesta area. Estas pesquisas tém operado no
sentido de observar uma demand, assim como tem lancado questoes, alimentan-
dlowagrapando-se ao conjunto de investigacbese discussdes produzidas no nivel
nacional
{_Insultos masculinos _ ee
Bsta tradigao de estudar 0 masculino localizada, e certamente ainda incipiente,
tem cerca de 10 anos, Como marco de nossas preocupacoes, vale a pena referir Leal
(1984). Trata-se de um trabalho, realizado em 1984 cont homens urbanos, classe
média, a respeito de duelos verbais: trocas rimadas de ofensas, um género es-
pecifico de folclore peculiar a adolescentes masculinos. $6 para dar um exemplo
do tipo de material, um menino diz:
Quem faz assim & teco-teco
Senta aqui no meu boneeo
Ao que outro deve responder:
Quem faz assine é vio
Ji ote no teu busulio
Aanslise deste material ¢ das situagdes cotidianas onde estes “