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IX JORNADAS SOBRE ALTERNATIVAS RELIGIOSAS NA AMÉRICA LATINA

Instituto de Filosofia e Ciências Sociais – UFRJ


Rio de Janeiro, 21 a 24 de Setembro de 1999
Tema central: Sociedades e Religiões

O BAILADO DA BARQUINHA: CONSIDERAÇÕES ACERCA DE LAZER E


TRABALHO EM UMA RELIGIÃO USUÁRIA DE AYAHUASCA
Wladimyr Sena Araújo1

INÍCIO DA CONSTRUÇÃO DA BARCA


O Centro Espírita e Culto de Oração Casa de Jesus Fonte de Luz, conhecido
popularmente como Barquinha, foi criado na década de 40 por Daniel Pereira de
Mattos na zona rural de Rio Branco, capital do Estado do Acre, na Amazônia
brasileira. Hoje este espaço situa-se no bairro de Vila Ivonete e conta com cerca
de 500 praticantes.
Ainda são bastante obscuros os dados acerca da vida de Mestre
Daniel. Sabe-se oficialmente que ele nasceu no dia 13 de julho de 1888 na cidade
de São Luís - MA..
Ainda criança, foi levado para uma escola de aprendizes da Marinha.
A partir de então, as entrevistas sugerem uma série de hipóteses
acerca da vida deste homem. Alguns alegam que Daniel pertenceu à
Marinha de Guerra, entretanto, outros informantes comentaram o fato
dele ter pertencido à Marinha Mercante.
Homem habilidoso, foi bastante citado em entrevistas como um indivíduo que
sabia desempenhar doze tarefas: construtor naval, cozinheiro, músico, barbeiro,
alfaiate, carpinteiro, marceneiro, artesão, poeta, pedreiro, sapateiro e padeiro.
Ao chegar em Rio Branco, trabalhou como barbeiro no bairro 6 de agosto,
onde também residiu. Logo após, passou a morar em um bairro próximo ao centro
da cidade, conhecido até os dias atuais como bairro do Papôco. Este espaço
situa-se às margens do rio Acre e era bastante freqüentado por navegantes que
por ali passavam, sendo também famoso por ser uma zona de prostituição
(Araújo Neto, 1995:17-18).
Daniel foi descrito como um grande boêmio da cidade de Rio Branco. Bebia,
fumava, fazia composições musicais que falavam de paixão, de amor e busca
pela mulher desejada. Muitas vezes, em virtude do estado de embriaguez, dormia
ao relento. Em suas saídas deslizava canções em seu violão. Músicas que fluíam
pelos dedos e boca a paixão pela noite, pelas serenatas que embriagavam os
homens de canções e cachaça.
Encontrou-se enfermo, com problemas no fígado, ocasionados pelo abuso do
álcool. Sabendo da gravidade da doença, Raimundo Irineu Serra, líder religioso
do CICLU (Centro Eclético de Fluente Luz Universal) e o sistematizador da
doutrina daimista, convidou-o a fazer um tratamento espiritual através do daime.
O tratamento teve início em 1936, sendo interrompido por Daniel quando se
encontrou melhor de saúde. Voltou a beber e novamente doente, foi chamado por
Irineu para dar continuidade ao tratamento já iniciado. Durante este processo,
Daniel teve uma revelação da missão religiosa que por ele deveria ser efetuada.
Daniel começou os seus trabalhos em um seringal por nome de Santa Cecília,
que pertencia ao amigo Manoel Julião de Souza. Nestas terras Daniel construiu

1 Mestre em Antropologia Social e Doutorando em História Social - Unicamp.


uma casinha rústica, semelhante a uma pequena casa de seringal. Lá ele recebia
salmos que eram considerados instruções provenientes de outros planos
sagrados. Neste espaço começou o seu trabalho de atendimentos por ele
designados de “Obras de Caridade”. No início, estes atendimentos eram
realizados em crianças e adultos, especificamente os caçadores da região com os
membros de suas famílias. Pouco tempo depois, moradores da zona urbana de
Rio Branco passaram a procurá-lo.
NOÇÃO DA BARCA, MAR SAGRADO E LIVRO AZUL
Mestre Daniel tinha, segundo depoimentos, uma relação muito próxima com o
mar. Grande parte dos salmos do hinário da casa referem-se ao mar, a viagens
através de uma nau e a seres aquáticos. Acredita-se que a sua história de vida
tenha reforçado a proximidade do Centro Espírita e Culto de Oração Casa de
Jesus Fonte de Luz com a Marinha, sendo um dos principais elementos sagrados
a Barquinha.
A barca para os seus integrantes tem dois significados: o primeiro é o
de que a mesma representa a própria missão deixada por Daniel e a segunda
expressa a viagem de cada um. Esta barca é a viagem de suas vidas e deve ser
considerada como uma viagem dentro da grande viagem.
Ela tem como característica principal atravessar uma grande travessia,
atravessar uma grande tempestade e os homens que nela viajam estão na barca
de Deus. Ele é portanto o seu proprietário de direito. Para que a barca não afunde
é necessário “trabalhar”, procurando evitar que a Barquinha desapareça mar a
dentro. Esses trabalhadores vivem em função de seu proprietário e o trabalho é
uma dívida que os praticantes tem com ele.2
A embarcação relaciona-se, sobretudo, a barcaças típicas amazônicas que
constantemente cortam os rios daquela região. Esta embarcação conta ainda,
segundo eles, com São Francisco das Chagas, Mártir São Sebastião, São José e
Daniel Pereira de Mattos, o fundador do espaço. Eles tem como missão conduzir
a nau ao encontro de Jesus e, juntamente com os adeptos, procuram evitar
tormentas na sua travessia.
O Barquinho Santa Cruz, designação apresentada por eles está marcado por
instruções provenientes do “invisível” e apresenta na sua trajetória características
escatológicas.
“A viagem nada mais é do que uma provação,
onde a água agitada reflete as tentações do mundo
de ordem mundana. A água se agita porque a
sociedade humana quebrou determinadas regras
divinas. As águas marítimas exprimem o sentimento
descontrolado aos seres humanos e o desgosto do
criador” (Araújo Neto, 1995:13).

A Barquinha, em sua forma mais ampla, continua sendo a missão criada por
Daniel Pereira de Mattos, com a finalidade de viajar dentro de três mistérios. Pode
ser ainda designada de vida na sua mais completa plenitude. Por último, ela
representa uma longa viagem executada pelos fiéis. São os atos destes praticantes
que vão determinar o rumo que o Barquinho Santa Cruz irá tomar.
Os marinheiros desta barca, que viajam nos “mistérios” do céu, da terra e do mar
são chamados de marinheiros do mar sagrado ou soldados dos exércitos de Jesus.
Estas pessoas são assim designadas a partir do momento que recebem o

2 Os adeptos acreditam também que a nau é a própria igreja, local de reuniões periódicas do grupo.
fardamento. Para a cientista social Vanessa Paskoali (1998), vestir a farda
representa antes de tudo uma morte, um rito de iniciação que culmina com a
aceitação de regras do grupo. Segundo a sua concepção,
“Para os novos membros é fundamental a
transformação do modus vivendis a partir do
ingresso formal ao grupo. (...) A morte não é o fim
de uma vida, mas o começo de uma nova. É a
transição do desespero e da angústia que sentia
quando chegou ao Centro, ao consolo e a
esperança que encontra quando passa a fazer
parte, quando é iniciado. (...) Trata-se pois, de um
tipo de morte que une corpo e alma, ao invés de
separá-los” (Paskoali, 1998:101).3

Quando assumem os trabalhos espirituais da Barquinha, os marinheiros


desempenham tarefas básicas para alcançar um maior grau de luz quando
desencarnarem. Se houver uma preparação aguçada por parte dos fiéis, dizem-lhes
que estão promovidos a oficiais e não mais a marinheiros, uma vez que ocupam
dentro da hierarquia religiosa, uma posição mais elevada. A Barquinha acaba sendo
uma escola de preparação de oficiais.
Determinadas entidades de luz são chamadas também de oficiais. Estes oficiais,
quando chegam para trabalhar usam determinados instrumentos referentes às
“forças armadas” tais como lanças, espadas, algemas, cachorros, dentre outros. Os
registros desses instrumentos são revelados nos salmos entoados pelos presentes.
Essas “forças armadas”, compostas de entidades de luz são provenientes dos planos
do céu, terra e mar e duelam com entidades trevosas. Logo, a barca, juntamente com
marinheiros e oficiais vem a ser um receptáculo de conversão de entidades maléficas
em entidades benéficas, desencadeado mar a dentro.4
O mar, na qual navegam esses marinheiros são as águas sagradas, isto é, o
daime, daí a denominação mar sagrado. Estas personagens navegam, portanto,
sobre as ondas do daime no balanço da barca Santa Cruz.
O daime é considerado uma luz. A luz associa-se a revelação, a uma ampliação
de conhecimentos, e aqueles que navegam sobre as ondas do mar sagrado
gradativamente vão adquirindo conhecimentos para si e uma sensibilidade maior de
enxergar o outro. É quando se percebe a vida nos olhos, o olhar de si no outro e do
outro em si. A revelação é considerada como um processo simbólico de
aprendizagem significativo.
O daime, enquanto mar sagrado, torna-se uma substância de poder, um elo de
ligação com o sagrado e um locus de cura. Evidentemente esta “água” não é
acessível a qualquer um, a qualquer hora e de qualquer maneira. Por ser sagrada,
esta tem que ser usada em um tempo e espaço sacros e para ter direito de usar a
substância, o fiel tem que passar por uma série de provas.
Podemos dizer que a água é luz, vida e fonte de rica energia positiva do divino. O
daime é um dos meios de conexão com o sagrado, um dos condutores da troca

3 A pesquisa de Paskoali foi realizada no Centro Espírita Daniel Pereira de Mattos. Este local é uma das dissidências do Centro Espírita

e Culto de Oração Casa de Jesus Fonte de Luz.

4 A junção das “forças armadas” e dos marinheiros do mar sagrado formam os chamados em uma concepção nativa de “Santos

Exércitos de Jesus”.
vertical entre os homens e os seres divinos. Portanto ele é mar, ao mesmo tempo
que é luz, algo que afasta as trevas e ilumina o espírito. É a água/luz sagrada que
conduz o sujeito a uma viagem para a vida eterna.
O daime é considerado um instrutor, um professor, que sempre está ensinando os
participantes das performances rituais que fazem o seu uso. Ele se torna um veículo
entre a vida material e a vida espiritual. Neste sentido, ele contribui para que o
participante do ritual tenha contato com seres divinos de realidades sagradas. Logo,
este enteógeno é ainda chamado de voz divina e o ponto de ligação com o ser
supremo, pois, ele é um dos meios de conversar com o sagrado, representado no
topo da pirâmide por Deus.
Esta substância produz “sonhos”, é uma substância que faz “sonhar” (Costa,
1956). Ela dá aos integrantes características proféticas, porque anuncia um fato que
poderá ocorrer. Quando tal fato é concretizado, ele é então “testificado”, tirado a
limpo, vindo a ser duplamente verdadeiro.
Através de viagens, os tripulantes da Barquinha conhecem lugares diversos,
produzindo o que nós podemos chamar de sagrado compartimentado, tendo em vista
que os planos que regem esta casa dividem-se em lugares míticos, onde há uma
geografia mítica ricamente construída pelos adeptos e legitimada pelo líder religioso
manifestada na arquitetura , nos salmos e nos pontos por um lado. Por outro,
determinadas formas de êxtase como a miração através da ingestão do daime,
produzem um conhecimento pessoal de lugares de conhecimento coletivo, mas
também a outros nunca antes navegados pelos praticantes da nau sagrada.

O BAILADO DOS MARINHEIROS DO MAR SAGRADO


Quando Daniel Pereira de Mattos faleceu em 1958, o senhor Antônio Geraldo
realizou algumas modificações no espaço. Dentre elas a criação de um parque
destinado às brincadeiras da irmandade com as entidades dos três mistérios que
regem aquela casa.
Os bailados realizados no parque são considerados uma extensão dos
trabalhos iniciados na Igreja, pois, é do interior da Igreja que ocorre aquilo na qual
eu denominaria de ampliação espacial, porque é da mesa de trabalho, que tem
uma forma de cruz e é o eixo central de todo o espaço, que com o decorrer dos
trabalhos oficiais novos lugares vão sendo abertos. Existe uma mobilidade
espacial, portanto, podemos considerá-lo como espaço móvel, pela dinâmica
apresentada em cada um desses lugares.5
A finalidade do bailado é a de satisfazer as entidades que trabalham nas
obras de caridade em datas específicas santificadas, principalmente no final de
Romarias como as de S. Sebastião, S. Francisco e S. José, quando essas
entidades têm um trabalho mais intenso. Nessas Romarias ocorre um preparo
mais aguçado da irmandade. O barquinho Santa Cruz, como já afirmamos, sai do
cais do porto no primeiro dia de romaria, penetra em alto mar e na metade de
cada uma, ele dá a volta e retorna para o porto de chegada. Durante este tipo de
trabalho, um número maior de pessoas são atendidas e há uma grande
quantidade de doutrinação de almas, porque estas viagens (romarias), preparam

5 Para a cientista Social Esmeralda Araújo (1999), o interior da igreja nada mais é do que o “motor da barca Santa Cruz”. Pois a

principal atividade ritualística (Obras de Caridade) rege outras, como é o caso das “brincadeiras” do parque.
os indivíduos na grande viagem, que terminará quando a barca irá ancorar aos
pés de Jesus.6
As entidades chamadas para brincar têm a permissão para se satisfazer dos
gozos materiais, no caso a dança, pois utilizam os aparelhos para bailar pontos
que as identificam. As entidades também tem o poder de enviar pontos através
dos aparelhos que os recebem e os escrevem na seqüência. Estes pontos
louvam entidades do Astral, da Floresta e do Mar.
É importante destacar que os médiuns tem esta possibilidade de
adquirir pontos que são cantados somente em dias de festas oficiais ou trabalhos
de comemoração, quando ocorre o “baile” do parque. Entretanto, os hinos só
podem ser recebidos pelo Presidente do espaço, que os recebe em sua
residência, chamada de Castelo Azulado, que segundo ele, é uma réplica de um
castelo de cristal que fica no astral sob um monte azulado. Estes salmos (hoje em
média de 600) são entoados nas demais atividades ritualísticas do Centro Espírita
e Culto de Oração Casa de Jesus Fonte de Luz.
As “brincadeiras” são também uma iniciação à incorporação, porque, muito
raramente há este tipo de prática no interior da igreja. O bailado, por deixar as
pessoas mais descontraídas através do Daime, dos pontos e, principalmente
através do movimento, faz com que estas desenvolvam sua mediunidade através
da incorporação.
Pois bem, o bailado tem essa finalidade de atender as entidades que se
dispõem a prestar caridade naquela casa e, por conseguinte as pessoas que
trabalham no Centro utilizam o lugar para efetuar uma brincadeira que resulta
também em uma auto-análise da vida. A brincadeira produz trilhas para pensar os
problemas da vida, devido as instruções recebidas.
Solange Arruda, analisando a dança através do método de Laban pensou algo
semelhante:
“A dança proporciona maior autoconsciência: quando sinto meus ossos,
órgãos internos, minha pele, meus movimentos, meu núcleo, começo um caminho
para dentro de mim. Ao mesmo tempo, desenvolvo a consciência do outro: se
encontro meu núcleo, o que é único em mim, minha unidade, posso perceber o
outro como ser inteiro. Minha inteireza permite que eu entre em contato, então
posso conhecer uma relação nova, sem projeção, medo ou culpa. Além disso,
ganho a consciência do espaço que desenvolve o raciocínio abstrato e o
relacionamento com os outros. Adquiro a consciência do tempo que desenvolve a
presteza ao agir, a percepção do ritmo interno e a musicalidade. Quando me
conscientizo da fluência, desenvolvo a percepção de como está sendo feito o
percurso do movimento, que pode ser livre ou controlado. (...) O ser humano é
energia e sua ação acontece no tempo e no espaço. (...) A energia que move o
nosso corpo pode ser leve ou forte. Começo a movimentar-me , sem saber como
e nem por que e percebo que algo me respira, me espreguiça, me rodopia, me
move. Há a relação entre o movimento interno em direção ao externo e do
externo em direção ao interno. O movimento em direção à vida e o movimento da
vida em direção a mim.” (Arruda, 1988:16-21).

6 Durante os trabalhos oficiais, bandeiras de cores diversas são estendidas por todo o parque. Além disso, é colocado 1 estandarte

em cada coluna. Esses estandartes homenageiam caboclos, encantados, santos e pretos velhos. As entidades na qual observemos

nos dias de bailado foram as seguintes: Princesa das Limeiras, Sereias, Iemanjá, São Jorge, Príncipe Espadarte, Índio Chefe

das Matas, Índio Itapuã, São Sebastião, Jangadeiro do Mar Sagrado.


Sentir a energia externa fluindo para dentro de si traz a percepção de que
forças do invisível penetram os membros da barquinha, que por sua vez as
interiorizam formando o todo. Quando estes exploram as suas energias internas,
as manifestam através de movimentos externos.
Cada componente da barquinha cria um ritmo pessoal na dança; não foram
raras as vezes que me falaram que cada um dança para si, sobre o seu ritmo.
Quando escutam os seus sons interiores, estes marinheiros acabam criando
músicas, exteriorizando-as através dos movimentos. Mas eles também escutam
sons de fora, do barulho de carros, das pessoas conversando, do vento que
sopra, etc. Da mesma forma que o som interior, é possível também recriar os
exteriores com gestos, ou tentar uni-los ao interno manifestando-os através do
movimento. Com isso, é possível dançar esses sons, transcender o tempo, entrar
na eternidade, criar um novo tempo e comunicar-se com ele. (op. cit.22).
O lugar do parque torna-se dinâmico porque os corpos são envolvidos por
eles. Ele acaba se tornando um companheiro de dança. Desta maneira, aqueles
que participam do bailado percebem o lugar, o círculo sagrado, porque através do
olhar sobre este, é perfeitamente possível ver outros mundos e torná-los visíveis
através dos gestos de lá para cá; é quando começam a circular no disco, na
borda do cálice sagrado ou na barca, símbolos de realidades sagradas através
das ondas do daime que vem e vão. Acerca disso, aqueles que bailam em
conjunto com o espaço tornam-se escultores-dançarinos 7 porque dão forma à
realidade invisível.
O salmo de convite às entidades e à irmandade para bailar chama-se vamos
brincar. Ele é um hino de transição entre o interior da Igreja e o parque. Neste
salmo são convidadas entidades do Astral, da Terra e do Mar para este tipo de
performance ritual. São chamados as crianças ou erês, os pretos velhos, os
caboclos e os encantados como botos, sereias, fadas, príncipes, princesas,
dentre outros.8
No plano Astral, algumas entidades não têm permissão para incorporar, são
entidades santificadas ou purificadas que se apresentam no trabalho, mas não
mantém contato direto com a irmandade, como é o caso de alguns bispos que
são citados no hinário. Os bispos são em média 33, mas tive acesso a poucos de
seus nomes. Contudo, existem entidades do Astral, que embora estejam em um
plano elevado, têm a permissão de “baixar” no aparelho.

7Concepção de Arruda para o relacionamento entre o performer e o espaço.

8 Luís Eduardo Luna, ao estudar vegetalistas peruanos detectou também a presença de seres provenientes dos planos do céu, da

terra (florestas) e águas. Estas entidades mencionadas pelos vegetalistas interferem diretamente na vida dos seres humanos. As

mudanças sociais, econômicas e tecnológicas são apontadas como fatores de enorme reelaboração simbólica destes caboclos.

Segundo ele:

“Estas mudanças produzem um ótimo impacto no mundo espiritual do povo amazônico, que, com ótima plasticidade, tem incorporado

em sua visão de mundo vários espíritos de diversas formas, dependendo do grau de assimilação de influência externa”. (Luna, 1986

:73). Portanto, na concepção dos mestres vegetalistas do peru os espíritos podem ser vistos como animais, mestiços, xamãs,

estrangeiros, princesas, extraterrestres de outros planetas e de sistema solar distante. É importante destacar que além dos elementos

dos encantados, o mundo religioso dos vegetalistas está imerso no cristianismo, devido a intensa atividade dos missionários no século

XVI.
É interessante notar que todas essas entidades são consideradas oficiais da
casa e os componentes do Centro são preparados neste plano para tornarem-se
oficiais quando desencarnarem. Os oficiais apresentam-se fardados e todo o
trabalho tem o domínio Astral. A farda marca a relação das entidades desses
planos com o cristianismo. Quando os integrantes da barquinha referem-se a
entidades do Astral, afirmam que estas estão mais próximas do céu, diferente
daquelas do Mar e da Terra, embora já estejam com um grande grau de luz. As
entidades do Astral prestam assistência a essas entidades do mar e da floresta. O
céu é o paraíso, onde habitam seres de plena luz que, embora dêem assistência
aos trabalhos, não agem mais diretamente como ocorre com a maioria daqueles
seres pertencentes aos três mistérios.9
Nos trabalhos oficiais do parque, existe uma divisão no tempo e uma ordem
de classificação de entidades. As crianças bailam no primeiro tempo, ou seja, na
abertura dos trabalhos durante hora e meia a 2 horas, exatamente o período em
que aquelas que participam dos trabalhos oficiais permanecem acordadas. O
horário dos pontos de erês varia de 22:00 h à 00:00.
Em seguida as crianças se afastam e ocorre a baixada de pretos velhos, os
quais participam dos serviços de cura das obras de caridade. Eles também tem o
seu período de bailar, de hora e meia à 2 horas. Estão em uma segunda ordem.
Depois de algum tempo é realizada a subida dos pretos velhos, então é feita a
baixada dos caboclos, que não é tão específica deles, pois aí também estão
inseridos os indígenas, as fadas, os botos, as sereias e todos os seres que não
se classificam como crianças e pretos velhos.
No parque, só bailam entidades que foram doutrinadas aos pés do Cruzeiro
ou aos pés do altar no interior da Igreja. Não há, portanto, permissão para que
nenhuma entidade pagã participe do bailado. São entidades fardadas que se
aproximam dos marinheiros fardados em fase de preparação para alcançar um
plano de luz mais elevado. A farda marca a relação com os símbolos cristãos
entre os participantes dos trabalhos e as entidades doutrinadas naquele espaço.
Entretanto, é possível a penetração de entidades consideradas inferiores; é aí
que ocorre o aprisionamento destas entidades para uma posterior doutrinação,
um dos trabalhos em alto mar.
É neste sentido que falamos da ação das “forças armadas”, do céu, da terra e
do mar, que mesmo nos trabalhos de comemoração, segundo a concepção dos
espíritas apostólicos cristãos, arrebanham entidades trevosas para compor o
quadro dos “Exércitos de Jesus”.
O ritmo destinado para as crianças é um ritmo de marcha, os pretos velhos
dançam mais tranqüilos, geralmente em ritmo de marcha lenta e os caboclos, as
sereias, os botos, as fadas, os indígenas, os príncipes, estes obedecem todos os
ritmos que são tocados: a valsa, marcha e “balada”.
Além do convite das entidades para bailar no parque, quando os marinheiros
do mar sagrado passam da formalidade para a informalidade, existe um ponto de
cobertura chamado “troco - troco”, na qual o terreiro está assegurado por reforços
invisíveis enviados por Jesus Cristo . Logo após há a chamada das entidades e,
por fim, o terreiro é aberto por D. Romão, entidade responsável por este tipo de
trabalho.10

9 Exemplifico os Santos que fazem parte da doutrina da casa como São José, São Sebastião e São Francisco, o mediador do local.

10 Antes, esta atividade ficava a critério de D. Semião que era recebido por Chica Gabriel. Com a saída desta do Centro, assumiu este

tipo de função Maria Leopoldina, que recebe a entidade por nome de D. Romão nos trabalhos de Obras de Caridade.
Os pontos executados no lugar servem, além da descontração, para limpar e
tirar os maus fluídos bem como para curar11 aquelas pessoas que estão
dançando naquele círculo, considerado um círculo de luz, pois, simbolicamente a
luz da barquinha ilumina toda a circunferência e irradia os performers. Enquanto
ocorrem as incorporações, cantam-se pontos de limpeza no parque, e as pessoas
são levadas para o salão de atendimentos, onde o Presidente envia as entidades
obsessoras para um campo de concentração a fim de, posteriormente, serem
doutrinadas e poderem no futuro trabalhar com os indivíduos. Ao serem
doutrinadas, estas passam a receber denominações cristãs, são as entidades que
passam a carregar a bandeira da cruz.
As canções induzem de certa forma as viagens dos participantes a reinos
distantes do Astral, da Terra e do Mar. Na maior parte das narrativas colhidas,
entidades os convidam para visitar os seus reinos em um ou mais mistérios.
Este tipo de performance ritual, antes de ser uma representação por parte dos
fardados torna-se uma apresentação das entidades autorizadas para o bailado,
que em muitos casos usam o corpo dos médiuns ou aparecem em visões dos
adeptos, levando-os a outras dimensões cósmicas.
Bailar nada mais é do que uma combinação de gestos, exposto através de
motivos individuais. Para Suzanne Langer “gesto é a abstração básica pela qual a
ilusão da dança é efetuada e organizada.” (Langer, 1980:163). Ele tem uma
infinidade de formas. Dependendo de uma série de condições internas e externas
o executor da performance pode expressar alegria, dor, angústia e uma série de
sentimentos através das partes que compõem o corpo. Desta maneira, pode-se
ter mãos que choram, pés que se exaltam em fúria ou ombros maliciosos e
quadris sensuais.
As características das entidades evidenciam-se na dança. As crianças pulam
bastante, desprendem muita energia no início dos trabalhos com gestos
traquinas. Os pretos velhos são curvos, são mais lentos na dança e dançam
flexionando os joelhos (Guimarães, 1993:93). Os caboclos demonstram bastante
força no bailado, as sereias demonstram sensualidade, beleza, são graciosas,
elegantes e rodam com bastante freqüência. Elegância no bailado é uma
característica dos outros encantados. É’ preciso ressaltar que estas
características não são válidas para todos, mas é possível percebê-las em alguns
daqueles que bailam.
No parque as pessoas dançam para si e compartilham a dança com as
entidades que ali estão. Algumas vezes ocorre a incorporação mas, no geral, há o
predomínio da irradiação sobre os presentes, porque a maioria das entidades
doutrinadas passam a ter um outro tipo de relação com os médiuns, ou seja, é
possível sentir o “outro” de “outros planos”, mas isto não significa dizer que o
outro está completamente no corpo. Portanto, ao invés da entidade tomar forma
através do corpo, como ocorre com a incorporação, ela se aproxima do adepto,
sem que seja necessário a incorporação.
Estes processos de incorporação e de irradiação ocorrem com ou sem
o auxílio do daime, pois, na concepção dos marinheiros do mar sagrado, o chá
auxilia o processo de desenvolvimento da mediunidade. Este aprendizado é
realizado durante os dias de quarta-feira, quando ocorrem os trabalhos de
concentração, que são antes de mais nada, trabalhos de preparação de médiuns.
É importante frisar que durante as “brincadeiras” do parque, elementos de
planos sagrados chegam ao indivíduo com as incorporações e irradiações. Por

11Concepção de Arruda para o relacionamento entre o performer e o espaço.


outro lado, os indivíduos podem chegar a lugares míticos através das mirações.12
Portanto, é possível que um indivíduo que participe do bailado incorpore, tenha
irradiações ou mirações em momentos distintos das performances rituais.
Nos domingos, após o catecismo, as crianças são levadas para o
parque para bailar. É importante ressaltar que neste tipo de atividade não há o
ponto de cobertura, tampouco a chamada espiritual dentro da Igreja. Além disso,
não existe uma ordem para os pontos de erês, pretos - velhos e caboclos como
ocorrem nos dias de trabalhos oficiais. O bailado dura cerca de três horas e os
presentes não usam fardamento ou roupas brancas, como ocorrem nos dias de
festas oficiais. A cor da roupa fica a critério de cada um.
Em ambos os tipos de bailado, a dança é espontânea e o movimento só
acontece quando existe uma motivação interna, ou quando cada um encontra
dentro de si uma tentativa de resposta para um desafio sobre as diversas facetas
da vida.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
As “brincadeiras” da Barquinha constituem, antes de mais nada, uma das
atividades mais importantes do espaço, pois, ela congrega aspectos lúdicos e
características não-lúdicas.
Voltamos a lembrar que o bailado tem importância crucial dentro das atividades
da Barquinha, porque ele atende a cinco finalidades básicas:
a) o bailado enquanto forma de lazer - falamos do sentido lúdico da festa, onde o
parque torna-se um local do brincar, com uma estrutura ritual distinta do interior da
Igreja.13
O sentido lúdico diz respeito ao bailado dos homens e das mulheres que
comungam o lugar sacro da barca: o parque. Este local torna-se espontâneo, pois, os
sujeitos estão envolvidos com ele durante a ação. Há um diálogo horizontal dos homens
que brincam, conversam e se divertem através de pontos cantados e acompanhados
através de guitarra, baixo, bateria, atabaques, sanfona e saxofone.
É um momento de descontração e de relaxamento que ocorre, principalmente, no final da
longa trajetória de penitência das romarias. É o homem imbuído no dionisíaco, no lazer, na
percepção de bailar e se envolver em um prazer pessoal, mas também coletivo.
Da mesma forma que os homens, as entidades chegam para “brincar”, porque
trabalharam durante toda uma fase prevista no calendário oficial do Centro, são as
comemorações dos “Exércitos de Jesus”, das “Forças Armadas”. Estes seres,
provenientes dos três mistérios (Céu, Terra e Mar) chegam ao bailado para se satisfazer
dos gozos materiais após a participação intensiva de outros rituais. São entidades que
trabalham em atividades específicas da casa, tais como Obras de Caridade e trabalhos
para desfazer serviços de Quimbanda.

12 “Miração é um estado de transe desencadeado pelo Daime, onde a pessoa pode ter visões com intensidade de cor, vidências,

estabelecer contatos telepáticos com pessoas distantes, permitindo uma relação mais sensorial com o ambiente. Para um iniciante, é

antes de tudo, uma viagem ao seu interior, ao inconsciente. O Daime vai despertar o inconsciente coletivo, lembrança milenar de

utilização ritualizada da ayahuasca, originária da América pré-colombiana, onde determinadas plantas tinham função de veículos de

revelação mística-religiosa” (Fróes, 1986:26).

13 Embora temos que lembrar novamente que os trabalhos do parque são considerados uma extensão dos trabalhos iniciados no

interior da Igreja.
b) o bailado enquanto prática de incorporação, pois, é durante as “brincadeiras”, que
os freqüentadores têm a oportunidade de projetar em seu corpo entidades oriundas
de planos diferentes.
As “brincadeiras” não supõem apenas o lazer dos sujeitos que bailam. Neste caso, o
parque torna-se um lugar de trabalho, tanto pelos marinheiros do mar sagrado, como por
parte das entidades provenientes de planos do “invisível”.
Um dos propósitos deste trabalho, é a incorporação dos performers que dela
participam. O círculo sagrado torna-se então, um lugar de preparação mediúnico. Nele, os
aparelhos estarão se aperfeiçoando para os demais rituais e, juntamente com as
entidades oficiais estarão doutrinando almas e auxiliando no batismo de eguns sem luz.
Neste sentido, o sujeito recebe o divino em seu corpo. Ele se torna um
receptáculo de seres provenientes de vários planos. Desta feita, o corpo do
aparelho (médium) é um corpo marcado, expresso através da ação simbólica
gestual.
Assim como os sujeitos recebem o divino no corpo, os mesmos podem ir ao divino
através da “miração”. Durante o estado de “miração”, as pessoas vão aos três mistérios,
conhecem lugares míticos diferentes, conhecem entidades e, são conduzidas por elas a
locais distantes. Neste processo, as pessoas tem sensações diferentes e voltam mudadas
após a viagem
Quando os performers sentem a presença de seres durante o bailado do parque, é
dito que eles (os performers) estão irradiados por entidades de luz. Esta designação de luz
ao círculo do centro do parque faz referência ao local santificado do espaço e, é nele, que
as entidades acompanham os sujeitos durante os pontos cantados.
Durante os intervalos de pontos ou concomitante a eles, alguns marinheiros do mar
sagrado rezam algumas preces fora do círculo sagrado, seja nos bancos que circundam o
círculo, aos pés do cruzeiro que encontra-se entre o parque e a Igreja, ou no altar da
própria Igreja.
O que vale à pena destacar é que a incorporação, a irradiação, a miração e as
preces constituem o encontro de três tradições em um ponto específico da barca. É o
encontro de princípios de práticas religiosas indígenas, africanas e européias. Tais
práticas são resignificadas. Desta forma, o bailado produz uma dinâmica simbólica,
porque a atividade produz, sobretudo, apreensão de novos símbolos na contínua
construção da barca Santa Cruz.
c) as “brincadeiras” como dom, no sentido de nela haver troca e reciprocidade de
forma horizontal e vertical, ou seja, à título horizontal, destacamos as relações dos
homens com os outros homens e, a nível vertical, a relação dos homens com
entidades divinas.
d) o bailado como conversor, porque, no bailado, especificamente durante as
incorporações ocorridas durante o seu processo, entidades maléficas são capturadas e
enviadas a um plano de luz. Os marinheiros do mar sagrado, juntamente com as
entidades de luz, convertem as chamadas entidades trevosas. Estas entidades sem luz
serão batizadas futuramente e trabalharão com a irmandade por todo o percurso da barca
Santa Cruz.
e) o bailado como prática de cura, pois, do círculo emergem bons fluídos e ainda,
entidades de luz, que podem propiciar um bem estar espiritual e material ao indivíduo que
esteja enfermo, porque o bailado é uma atividade na qual os seres iluminados são
chamados também para curar.
Na verdade, a cura é uma continuidade dos trabalhos realizados no interior da
Igreja, de forma que devemos considerá-la como uma continuidade do tratamento iniciado
em outros trabalhos rituais. Além disso, alguns praticantes bailam para comemorar
melhoria no quadro clínico pessoal ou de alguma pessoa próxima, bem como agradecer a
cura concedida.
***
É necessário informar ainda que o parque é um lugar periférico a todo o conjunto do
espaço. Ele está intimamente ligado ao Axis mundi da Barquinha, ou seja, a cruz do centro
da Igreja, que foi o início de toda a trajetória da missão e de onde emergem as principais
instruções do Centro.
Do interior da Igreja, os marinheiros da Barca Santa Cruz vão ao parque bailar, dar
continuidade aos trabalhos, ampliar o espaço e produzir um constante eco simbólico
durante as suas viagens.
É importante lembrar ainda que esta performance ritual deve ser pensada
insistentemente através da relação dos elementos nela embutidos. Desta forma, é
possível imaginar o individual manifestado em um todo coletivo, onde os indivíduos
somam as suas diversas experiências e transitam por pontos entendidos como
inseparáveis.
Os elementos internos tais como sentimentos e pensamentos aliam-se aos externos
e produzem movimentos que falam de “outras realidades”, de outros seres. O Daime, um
dos elementos dos trabalhos pode estabelecer uma conexão, um canal de ligação às
outras dimensões dos três mistérios. Desta feita, os aromas, sons, músicas, gestos, luzes,
substância, dentre outros, fazem do bailado uma performance sinestésica imbuída de um
SET e um SETTING.
O pressuposto teórico para a posição SET e SETTING trata de duas coisas
complementares dentro de uma manifestação transcendente. O SET, diz respeito ao
estado psicológico do indivíduo ao usar a substância, incluindo a sua personalidade e a
expectativa acerca dela. O SETTING, por sua vez trata do meio físico, social onde ocorre
o uso da substância.14
Para entender a ampliação de consciência dos indivíduos durante o bailado, é
importante compreender a interação de fatores: a) biológicos tais como peso, dietas
especiais, condição física, abstinência sexual; b) psicológico (SET) como motivação,
atitudes, personalidade, humor, experiências anteriores; c) social e de interação, através
da participação indivíduo/grupo, estrutura do grupo, ritual, presença de um guia; d)
cultural, envolvendo o sistema simbólico compartilhado pelo grupo e aprendido na
juventude: a expectativa do conteúdo visionário, adjuntos não-verbais. Ex.: música, dança,
perfumes, etc., crenças e valores (MacRae, 1992:19). A soma destes aspectos resultam
na sinestesia e, nesta atividade que compreende a unidade dos sentidos, fazendo com
que o indivíduo possa ir a outros planos (miração), recebê-los (incorporação) ou senti-los
(irradiação).
O bailado, assim como todos os demais trabalhos da casa servem como um
dinamizador da cosmologia, onde os símbolos são transmitidos e/ou modificados. Os
trabalhos de Daniel tentam dizer alguma coisa, pois, os diversos atos inscritos nas
performances rituais constituem ação. Estas Expressam não só idéias, mas sentimentos.
Neste caso, a missão deixada por ele ultrapassa os próprios muros que separam o mundo
sagrado e o mundo profano. As pessoas retornam para a vida cotidiana embriagadas pelo
sagrado.
É neste campo que entra em cena a importância da experiência e, da subjetividade.
Cantar e bailar são expressões artísticas, São plásticas antes de mais nada, entretanto, o
fato estético em si está concomitantemente ligado a um contexto social na qual esta
manifestação produz mudança nos indivíduos que dela participam, levam consigo algo
mais que a simples apreciação estética pois os marinheiros do mar sagrado refletem sobre
a vida na grande barca que viaja dias e noites sobre as ondas do mar sagrado.

14 Soma-se a essas duas características o fator fisiológico.


BIBLIOGRAFIA
ARAÚJO NETO, Francisco Hipólito de (1995). Com quantos Paus se faz uma Nau.
Rio Branco: UFAC.
ARRUDA, Solange (1988). A Arte do Movimento - as Descobertas de
Rudolf Laban na Dança e Ação Humana. São Paulo: PRN gráficos e editores associados LTDA.
FRÓES, Vera (1983). História do Povo Juramidam - A Cultura do Santo
Daime. Manaus: SUFRAMA.
GUIMARÃES, Edir Rosa e LIMA, Almir S. M. de (1993). Umbanda - Sua
decodificação. Rio de Janeiro: Erca.
LANGER, Suzanne (1980). Sentimento e Forma. São Paulo: Perspectiva.
LUNA, Luís Eduardo (1986). Vegetalismo: Chamanismo entre los Ribereños
de la Amazonía Peruana.
MACRAE, Edward (1992) Guiado pela Lua. Xamanismo e uso ritual da
ayahuasca no culto do Santo Daime. São Paulo: Brasiliense.
PASKOALI, Vanessa (1998). Navegar é Preciso, Morrer não é Preciso. Rio
Branco: UFAC (monografia de conclusão de curso).
SENA ARAÚJO, Wladimyr (1997). Navegando nas Águas do Mar Sagrado:
História, Cosmologia e Ritual no Centro Espírita e Culto de Oração Casa de Jesus Fonte de Luz. Campinas: Unicamp
(dissertação de Mestrado).
______________________ (1999). Navegando Sobre as Ondas do Daime. História, Cosmologia e Ritual da Barquinha. Campinas:
Editora da Unicamp.

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