Professional Documents
Culture Documents
O Trabalho na Redação
ERBOLATO, Mário L. Técnicas de codificação em jornalismo.
Petrópolis : Vozes, 1978, p. 193-198
Uma empresa jornalística não vende um produto qualquer. Vende um produto bem
específico e em que se busca, mais que em qualquer outro, o valor intrínseco. Vende-
se opinião, vende-se coerência - se é que cabe ainda o uso do verbo vender.
Júlio de Mesquita Neto
NA Redação dos jornais, a atividade é sempre das mais intensas, com notícias que
chegam ininterruptamente. Os encarregados de recebê-las (Produção ou Recepção) as
encaminham aos redatores, para que possam ser tratadas, de acordo com a
importância de que se revestem.
Cada Editor (responsável por um dos setores ou assuntos) faz a previsão das matérias
que deverão ser publicadas no dia seguinte, calculando Inclusive o espaço total de que
necessitará. Diariamente, há reunião dos Editores, com o Editor Geral, depois de a
Administração informar o número de páginas da edição e o total dos anúncios. Aí,
então, é feita a distribuição do número de colunas para as diversas Editorias.
R. Fraser Bond afirma que “o jornal tem seus planejadores, seu produto manufaturado
1
de notícias, variedades e anúncios convertidos nos exemplares impressos” . O mesmo
autor cita Philip Gibbs, em frase que publicou em Adventures in Journalism: “Um jornal
é um organismo vivo, impregnado da vida dos que nele trabalham, inspirados por seu
espírito, animados pelos seus ideais e pensamentos, o veículo vivo da sua própria
aventura cotidiana”.
A informação retardada
As atividades dos jornalistas nem sempre podem ser exercias com rapidez e liberdade.
Durante as guerras, há a censura, voluntária ou estabelecida oficialmente, a fim de
que a divulgação de determinados fatos não prejudique a segurança. Assim, muitas
notícias ou despachos telegráficos são retardados por horas ou dias, para liberação
quando já não possam prejudicar o andamento das operações bélicas ou diplomáticas.
1
R. Fraser Bond. Introdução ao jornalismo. Rio, Livraria AGIR Editora.
2
John Hohenberg. Manual de Jornalismo. Rio, Editora Fundo de Cultura.
3
Luiz Moreno Gómez e Victor Arroyo. Cinco siglos tras la noticia. 18º Cuaderno,
Caracas, Universidad Central de Venezuela
Professor mestre Artur Araujo (artur.araujo@puc-campinas.edu.br)
site: http://docentes.puc-campinas.edu.br/clc/arturaraujo/
ftp: ftp://ftp-acd.puc-campinas.edu.br/pub/professores/clc/artur.araujo/
Página 2 de 5
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE CAMPINAS
WASHINGTON, agosto, 6, 1945 (AP) - Por John Hightower - A força destruidora mais
terrível que já foi dominada pelo homem, a energia atômica, está sendo lançada agora
contra as ilhas do Japão, pelos bombardeiros estadunidenses. O Japão enfrenta a
ameaça de uma destruição total e completa, ou a sua capitulação, que não pode
demorar muito. A existência da nova arma foi anunciada pessoalmente pelo Presidente
Truman, em uma declaração divulgada pela Casa Branca, às onze da manhã, hora de
guerra do Este. Disse que a primeira bomba atômica, inventada e aperfeiçoada pelos
Estados Unidos, havia sido jogada na base do exército japonês em Hiroxima, dezesseis
horas antes de sua declaração. Uma só bomba leva mais poder que dois mil aparelhos
B-29 em um só ataque contra o Japão. O Secretário da Guerra, Stimson, informou que
a explosão havia levantado nuvens de fumaça e poeira tão densas, que se tornou
impossível a observação pormenorizada dos efeitos. O poder da bomba, segundo
Stimson, era suficiente para fazer superar a imaginação. Assegurou, ainda, que seria
uma enorme ajuda para o término da guerra contra o Japão.
Stimson relembrou que o Japão poderá ser colocado fora de combate apenas por
ataques aéreos, sem necessidade de ser invadido. Truman frisou que os japoneses
haviam rechaçado o ultimatum de rendição dos Três Grandes, reunidos em Potsdam, e
que tinha por finalidade evitar a “completa destruição dos nipônicos”. Disse ainda que
agora, com a nova bomba, os japoneses poderiam esperar “uma chuva de destruição
pelo ar, como jamais se viu na Terra”.
A informação também proclamava a vitória anglo-americana ao custo de dois milhões
de dólares, em uma das mais terríveis batalhas da guerra: a batalha dos laboratórios,
com o fim de revelar os segredos do átomo e aplicar a sua energia para fins militares.
Os alemães tentaram desesperadamente sair vitoriosos nesta luta, nos últimos meses
da guerra. Os cientistas estão de acordo que se aproxima uma nova era para a paz e a
guerra. Se bem que há muito para se experimentar a nova energia, indubitavelmente
ela poderá ser usada para propulsionar aviões, barcos e trens, para fins tanto
construtivos, como de destruição.
Truman disse que a nova bomba obtém a sua energia na mesma fonte do sol e que
tinha maior poder que vinte mil toneladas de TNT. Como um B-29 pode lançar cerca de
dez toneladas de bombas sobre um objetivo, isso significa que dois mil desses aviões
serão necessários para conseguir com o TNT a destruição que um só aparelho alcança
com uma só das novas bombas. Truman declarou que o novo poder “domina as bases
do universo”. Estas palavras parecem ter grandes possibilidades como propaganda
contra os japoneses. Agora se pode dizer que o próprio sol contribui para destruí-los.
Todavia, o segredo envolve muitas das características da nova bomba atômica,
sabendo-se apenas que o tamanho da carga explosiva é pequeno”.
Hightower, correspondente da Associated Press, não se contentou em fornecer
pormenores sobre o lançamento da bomba e de seus efeitos imediatos, mas preferiu
interpretar o acontecimento, desconhecido para a humanidade, e fazer conjecturas
sobre o emprego da energia atômica.
do navio, para lhe comunicar a notícia, que iria causar grande alvoroço em todo o
mundo. Somente horas depois é que a nota foi fornecida às agências.
É certo que a imprensa não teve conhecimento de vários fatos (ou por medida de
segurança deixou de divulgá-los) que iriam terminar com a segunda guerra. Em
Alamogordo, a 16 de julho, uma bomba atômica havia explodido, em caráter de
experiência, sem que os jornalistas informassem a respeito.
5
A barriga - noticia falsa - pode ocorrer com o melhor dos jornais. A Revista Veja conta
como o Popular da Tarde publicou, em 1970, com minúcias, que Tostão (à época
famoso jogador) havia chegado ao Rio de Janeiro, depois de ter sido operado da vista,
nos Estados Unidos:
Para Nino Cecílio (35 anos, 17 de jornalismo) a quarta-feira da semana passada foi um
dos piores dias de sua vida profissional. Nesse dia, o Popular da Tarde (8.000
exemplares diários) publicou em primeira página a notícia da chegada de Tostão ao
Brasil. E na última página do caderno de esportes uma reportagem de quase
seiscentas palavras contava toda a história - desde a descida no Galeão, “às 7h30 da
manhã”, até a posterior viagem para Belo Horizonte “em companhia de seus
familiares, num taxi-aéreo”. Um dos parágrafos: “... Estavam esperando Tostão, há
mais de duas horas, os seus pais, o tio e muitos funcionários do aeroporto do Galeão,
que fizeram questão de ver bem de perto o olho esquerdo do jogador. Dona Osvaldina
(mãe de Tostão) ficou muito emocionada quando viu o filho descer do avião que o
trouxe de Houston”. A reportagem só tinha uma falha: Tostão ainda está nos Estados
Unidos - por determinação dos médicos sua volta foi adiada e ele não estará no Brasil
antes de 20 de abril.
4
Edgar Mc Innis. História da II Guerra Mundial. Porto Alegre, Livraria do Globo
5
Revista Veja. 18 de fevereiro de 1970.
Professor mestre Artur Araujo (artur.araujo@puc-campinas.edu.br)
site: http://docentes.puc-campinas.edu.br/clc/arturaraujo/
ftp: ftp://ftp-acd.puc-campinas.edu.br/pub/professores/clc/artur.araujo/
Página 4 de 5
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE CAMPINAS
A barriga
O Popular da Tarde cometeu o que, em linguagem jornalística, chama-se barriga - a
publicação de uma noticia que não aconteceu - o mais assustador fantasma das
redações. Nino Cecílio queixa-se da fatalidade: “O jornal fechou de madrugada e às 7
horas já estava impresso. A matéria sobre Tostão foi feita com base na programação
preparada para sua chegada. A intenção era dar ao leitor um noticiário quente,
atualizado. Infelizmente, o primeiro telegrama internacional, falando no adiamento da
viagem, chegou às 7h19. Aí não havia mais nada que pudéssemos fazer”. E o jornal foi
para as bancas, para desespero de seus editores. Mas para a jovem equipe de
repórteres e redatores do Popular da Tarde (idade média de 24 anos) o caso teve sua
utilidade: “Foi uma lição”, afirma Nino Cecílio. “Vamos aproveitá-la e não desanimar.
Afinal, não fomos os primeiros a cometer uma rata. E, certamente, não seremos os
últimos”.
Segundo clichê
Enquanto o jornal ainda estiver sendo impresso, é possível alterar e substituir qualquer
de suas páginas. Caso chegue alguma notícia importante, substitui-se uma delas, da
edição normal, pela que acaba de ser conhecido chamado segundo clichê. A edição do
jornal sai, dessa forma, Com uma ou várias páginas (primeira, segunda, terceira,
última ou qualquer outra) diferentes, no decorrer da tiragem. Às vezes substitui-se
apenas uma matéria da edição normal, que tenha o mesmo espaço da que foi recebida
à última hora (ainda que devam ser utilizados tipos maiores). Mas pode acontecer que
toda a diagramação precise ser alterada e a paginação se apresente diferente.