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Comércio Exterior

Brasília, 2006
Reitor Diretor-Presidente
Lauro Morhy Alberto Borges Matias
Vice-Reitor Instituidores Responsáveis
Timothy Martin Mulholland Carlos Alberto Campello
David Forli Inocente
Gestor de Operações
João Deléo

Professor Autor
Diretor
Comércio Exterior
Bernardo Kipnis
Prof. José Lopes Vazquez
Coordenadora Pedagógica
O autor é responsável pelo conteúdo.
Maria de Fátima Guerra de Sousa
Designer Educacional
Bruno Silveira Duarte
Ilustradores do Projeto
Carlos Miguel Rodrigues; André
Tunes; Tatiana Tibúrcio; Ribamar
Araújo e Paulo Rodrigues
Capa
Rodrigo Mafra e Eduardo Miranda
Editoração
Alissom Lazaro; Evaldo Abreu;
Gibran Lima e Télyo Nunes

Universidade de Brasília – UnB INEPAD – Instituto de Ensino e Pesquisa em


Centro de Educação a Distância – CEAD Administração
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SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO ......................................................................................................7
TEMA 1 - TEORIAS CLÁSSICAS DO COMÉRCIO INTERNACIONAL .......................................9
TEMA 2 - BARREIRAS AO COMÉRCIO INTERNACIONAL .................................................. 23
TEMA 3 - DIREITO INTERNACIONAL E COMÉRCIO EXTERIOR ......................................... 35
TEMA 4 - BLOCOS ECONÔMICOS E ORGANISMOS REGIONAIS ...................................... 43
TEMA 5 - MERCADO CAMBIAL ................................................................................... 61
TEMA 6 - OPERAÇÕES FINANCEIRAS E NEGÓCIOS INTERNACIONAIS............................... 79
TEMA 7 - TAXA DE CÂMBIO ....................................................................................... 91
TEMA 8 - TRIBUTAÇÃO NO COMÉRCIO EXTERIOR ......................................................... 97
TEMA 9 - REGIMES ADUANEIROS ESPECIAIS ................................................................107
SIGLAS, TERMOS TÉCNICOS E GLOSSÁRIO ............................................116
BIBLIOGRAFIA BÁSICA ....................................................................................118
APRESENTAÇÃO

Este material apresenta temas cuidadosamente selecionados e contêm


não apenas teorias, doutrinas, práticas comerciais, tributárias e bancárias
mas também dispositivos jurídicos brasileiros em sua relação imediata
com a malha internacional da exportação e importação.
O pensamento dominante no planejamento e elaboração desse mate-
rial foi o de buscar um canal capaz de levar saber e conhecimento para sua
vida profissional e seus projetos pessoais.
A matéria vale tanto para pessoas que já estão profissionalmente na área
como para pessoas que desejam conhecer a natureza do comércio exterior.
Inicialmente você perceberá que o modo como a matéria se apresenta irá
pedir bastante atenção. Mas isso é natural.
Um texto é como uma casa. É preciso entrar, olhá-la e vê-la pessoalmen-
te para sabermos bem o que ela tem por dentro. Acontecerá que, progres-
sivamente, você se familiarizará com os temas e com o processo de exposi-
ção adotado. Chegará o momento em que as temáticas passarão a ganhar
espaço em sua mente, e a despertar suas habilidades, e a consolidar suas
competências.
O módulo desenvolverá a matéria na base de nove temas. Veja os tí-
tulos: teorias clássicas sobre comércio exterior, barreiras ao comércio interna-
cional, direito internacional e comércio exterior, blocos econômicos, mercado
cambial, operações financeiras e pagamentos, taxa de câmbio, tributação no
comércio exterior, e regimes aduaneiros especiais.
Cada um desses temas levará a você um conjunto de informações que
lhe darão uma idéia sobre aquilo que mais ocupa o centro de atenções dos
estudiosos, dos empresários, dos governos, dos bancos, dos fiscais, e dos
trabalhadores no campo do comércio exterior.
A fim de facilitar o acompanhamento da exposição, há uma tábua de si-
glas, glossário e termos técnicos mais usados. Uma bibliografia básica final
ajudará você a ampliar suas leituras e a descobrir um caminho para novos
conhecimentos.
Bom estudo!
TEMA 1

TEORIAS CLÁSSICAS DO
COMÉRCIO INTERNACIONAL
TEMA 1 - TEORIAS CLÁSSICAS DO COMÉRCIO INTERNACIONAL
TEMA 1
TEORIAS CLÁSSICAS DO
COMÉRCIO INTERNACIONAL Objetivos do Tema
• Apresentar os fundamentos que norteiam o comércio internacional, em sua
íntima conjugação com a realidade do mercado brasileiro, no duplo capítulo das
semelhanças e das diferenças.

Conhecer a essencialidade das três teorias clássicas que ajudarão a entender


melhor o jogo do comércio exterior.

1.1 ALGUMAS OBSERVAÇÕES SOBRE O MERCADO INTERNACIONAL


Muitas vezes as pessoas imaginam que o mercado internacional é apenas um
mero prolongamento do mercado doméstico. Mas é mais do que isso. No fundo,
os dois se assemelham na medida em que tratam de compras e vendas de bens
e serviços. Também é verdade que o mercado internacional pode ser analisado
mediante a aplicação dos mesmos critérios e métodos comumente utilizados
para a explicação do comércio interno.
Ambos, comércio interno e internacional, se encontram alicerçados no atendi-
mento das necessidades e desejos dos indivíduos . E neste aspecto, estão muito
próximos.
Outra aproximação pode ser feita quando examinamos os motivos que dão
origem aos dois tipos de comércio, o internacional e o nacional. O principal mo-
tivo, tanto para regiões como para países, reside na impossibilidade de uns e
outros produzirem vantajosamente todos os bens e serviços para atender as ne-
cessidades de demanda de seu mercado interno . Isto é proveniente de fatores
diversos, dentre os quais pode-se destacar a desigualdade na distribuição geo-
gráfica dos recursos naturais, as diferenças de clima e de solo e as diferenças nos
processos de produção.

1.1.1 Desigualdades e diferenças entre o comércio doméstico e o in-


ternacional
Algumas regiões ou países são possuidores de recursos naturais que
outros não têm. O carvão é abundante na América do Norte e em alguns
países europeus, enquanto que é escasso em outras regiões. O petróleo,
de igual forma, pode ser encontrado apenas em determinadas regiões .
O Estado de Minas Gerais possui abundância de minério de ferro ao con-
trário de outros Estados que não possuem jazidas deste mineral ou, então,
o possuem em menores quantidades.
As diferenças de clima e de solo também contribuem para essa de-
sigual distribuição. A cana-de-açúcar e o café, por exemplo, podem ser
produzidos em larga escala em certas regiões do Brasil. E o trigo apre-
senta melhor produtividade em países como a Rússia e a Argentina,
ao contrário dos países de climas quentes, como nos de várias regiões do
continente africano.
Estes e outros fatores de origem natural fazem com que alguns países tenham
a possibilidade de produzir determinados produtos, enquanto que outros não
têm essa mesma possibilidade. Além do mais, é oportuno ressaltar que, mesmo
quando há igualdade de condições quanto ao aspecto físico da produção, pode-
rá ser mais interessante produzir os mesmos bens em outras regiões, em função
10 de uma simples diferença de preços dos recursos produtivos, tributos etc.
No ambiente internacional é sempre bom considerar, também, as diferenças
de preços provenientes das relações de valor das diferentes moedas. Em conse-
qüência, torna-se mais vantajoso, para cada país e região, aplicar o princípio da TEMA 1
TEORIAS CLÁSSICAS DO
divisão de trabalho, buscando a especialização naquelas atividades produtivas COMÉRCIO INTERNACIONAL
que oferecerem melhores condições e vantagens deixando como alternativa a
permuta dos produtos entre si.

1.1.2 Semelhanças entre comércio doméstico e o internacional


Ainda no tocante às características dos dois tipos de comércio, outros pontos
de semelhança podem ser encontrados. Tanto o comércio internacional quanto
o comércio interno de países e regiões têm como ponto fundamental a troca de
determinados bens e serviços. De igual modo, ambos envolvem compradores e
vendedores, benefícios mútuos para as partes, políticas de produção e de vendas,
problemas de assistência creditícia, preferências de consumidores, faturamento,
detalhes de transportes, seguros domésticos e internacionais da carga transporta-
das, e no caso específico de comércio externo, seguro de crédito à exportação etc.

1.1.3 Algumas diferenças importantes entre comércio doméstico e o inter-


nacional
Apesar de tudo, não obstante a existência dessas semelhanças, possui o co-
mércio internacional tantos pontos divergentes em relação ao comércio interno,
que se justifica o seu tratamento como assunto à parte.
Essas diferenças podem ser sistematizadas da seguinte maneira, observando-
se o grau de mobilidade dos fatores de produção:

• A mobilidade de fatores no mercado interno


Embora a mobilidade dos fatores ocorra tanto no mercado interno como no
internacional, ela apresenta-se em maior grau no campo interno do que no inter-
nacional, especialmente em relação ao fator-trabalho.
Se, por exemplo, para a instalação de uma determinada indústria no interior
de São Paulo – São José do Rio Preto, por exemplo - se fizer necessária uma pro-
dução complementar na cidade de São Paulo, o deslocamento de máquinas ou
de equipamentos produzidos pela indústria paulistana para aquela região far-
se-á sem maiores dificuldades de ordem jurídica, política etc. De igual forma, se
em uma região houver falta de mão-de-obra, ao mesmo tempo em que outra se
registra excesso dela, é natural que em virtude disso se produzam movimentos
migratórios, que num curto prazo poderão atender a dificuldade, antes apresen-
tada, de falta de mão-de-obra. No caso de um empreendimento a ser feito, se
uma região necessitar de recursos financeiros é lógico pensar que os necessários
recursos não deixarão de aparecer desde que a região ofereça adequada com-
pensação aos donos do capital que se dispõem a investir no local.

• A mobilidade de fatores no mercado internacional


No mercado internacional a mobilidade de fatores é muito menor, por uma
série de motivos. Assim como observa Killough (In: Ratti, 2000:342), “a especia-
lização profissional, associações, laços de família, costumes, idioma e legislação
imigratória restritiva retardam os movimentos de trabalhadores de um para ou-
tro país”. Há países como o Brasil que não oferecem maiores dificuldades à entra-
da de estrangeiros. O mesmo não acontece em certos países como, por exemplo,
nos Estados Unidos, onde a legislação imigratória e as associações profissionais
dificultam grandemente a entrada de trabalhadores de outras nacionalidades.
11
• Transferência de matérias-primas e outros produtos
As transferências de matérias-primas e de outros produtos também estão su-
TEMA 1
TEORIAS CLÁSSICAS DO jeitas a restrições de diversas naturezas. Além das barreiras aduaneiras, existem
COMÉRCIO INTERNACIONAL outros impedimentos como as quotas de importação, regulamentos sanitários,
proteção aos produtores locais etc.

• Dificuldades e riscos de movimentação de capitais financeiros


O mesmo ocorre em relação aos capitais financeiros, cuja movimentação pode
ser dificultada ou, em casos extremos, impedida de entrar em determinados paí-
ses. Isso sem mencionar os maiores riscos a que estão sujeitos, como é o caso do
risco político e cambial. O risco político está condicionado à implementação de
regras e regulamentos que se manifestam sob a forma de nacionalização, desa-
propriação e confisco. O risco cambial, por sua vez, é causado pela variação da
taxa de câmbio entre duas moedas que podem causar exposições de natureza
contábil e econômica ao detentor do capital financeiro

1.1.2 Natureza do mercado


No mercado interno predominam os fatores de coesão, enquanto no mercado
internacional a predominância é dos fatores de dispersão.

1.1.2.1 fator de coesão no mercado interno


Quando se analisa o mercado interno de um país, chama a atenção a unidade
de idioma, costumes, hábitos de comércio, sistemas de pesos e medidas etc.
Essa unidade tende a padronizar os hábitos de consumo e os bens produzi-
dos, o que, indiscutivelmente, oferecerá maiores facilidades para a adoção de um
sistema de produção em larga escala.

1.1.2.2 O fator de dispersão no mercado internacional


No mercado internacional, porém, as diferenças existentes em relação aos as-
pectos apontados tornam problemática essa padronização. Uma empresa que
opere no mercado internacional deverá se aprofundar no estudo dos hábitos
e comportamentos dos habitantes dos países com os quais comercia. De igual
modo, deverá adaptar os seus produtos de modo a atender, na medida do pos-
sível, às peculiaridades de cada população. Isso, evidentemente, dificultará de
certo modo a aplicação de uma política de produção em massa.

1.1.3 Existência de barreiras aduaneiras e outras restrições


Durante a Idade Média, era comum a ocorrência de barreiras aduaneiras
internas, condicionando o comércio entre cidades de um mesmo país. Tais
barreiras foram desaparecendo progressivamente, com o surgimento dos
Estados-Países. Mas não totalmente. Elas ainda persistem no campo inter-
nacional.
Essas barreiras, juntamente com outras restrições, além de dificultarem a cir-
culação de mercadorias entre os países, contribuíram para o surgimento do
que se chama cobrança de direitos aduaneiros. Tal cobrança acarreta maiores
dificuldades para as empresas que se dedicam ao comércio internacional, uma
vez que deverão ser considerados os reflexos da cobrança desses direitos nos
preços de seus produtos e nas possibilidades de sua colocação junto aos con-
12 sumidores de outros países.
1.1.4 Longas distâncias
Embora possa haver exceções, as distâncias a serem percorridas pelos pro-
TEMA 1
dutos no campo internacional são, de modo geral, muitos maiores do que no TEORIAS CLÁSSICAS DO
mercado interno, salvo exceções específicas. COMÉRCIO INTERNACIONAL

Além das elevadas despesas com fretes, outros fatores devem ser
considerados. Entre esses fatores está o tempo gasto nos transportes
e sua influência sobre as condições físicas dos produtos transporta-
dos. Esse fato implica a necessidade de embalagens e condições es-
peciais de transportes, entre outras coisas.

1.1.5 Variações de ordem monetária


A utilização de diferentes moedas no comércio internacional é um
dos fatores de distinção comumente apontados no confronto entre o comércio
interno e o internacional.
No mercado interno, inexiste o problema do poder liberatório da moeda na-
cional. Todas as transações realizadas internamente são liquidadas na moeda do
país. No mercado internacional isso não ocorre. Exatamente por ser quase impos-
sível impor a um exportador que ele aceite como pagamento de sua exportação
outra moeda que não seja a de seu país.
Surge assim a necessidade de se trocar diferentes moedas, para que as liqui-
dações financeiras do comércio internacional possam se efetivar. Aí está o pro-
blema do câmbio.

1.1.6 Variações de ordem legal


No mercado interno, as transações comerciais estão sujeitas a um mesmo sis-
tema legal, o que implica unidade de regulamentos, tributos etc., embora pos-
sam surgir pequenas variações de uma região para outra.
No mercado internacional, contudo, poderá haver grandes diferenças entre os
sistemas legais, o que implica numa diversidade de critérios de arbitramento das
pendências que porventura ocorram. Ainda que o Direito tenda a se universalizar,
essas distinções persistem. Em conseqüência, deve o comerciante internacional
levar em consideração uma grande variedade de dispositivos e complexidades
de ordem legal, que inexistem quando se considera apenas o mercado interno.

1.1.7 A grande questão que aqui se debate


De que maneira um país determinará o que lhe será mais vantajoso Produzir,
exportar ou importar?
A resposta para esta pergunta pode ser encontrada nas Teorias Clássicas dos eco-
nomistas ingleses do século XIX sobre comércio exterior, apresentadas a seguir.

1.2 AS TEORIAS SOBRE O MERCADO EXTERIOR


De acordo com Passos e Nogami (2005:522), por diversas questões que en-
volvem desde a sobrevivência de uma nação até a satisfação de necessidades
menos vitais, fortes razões induzem os países ao comércio exterior de bens e
serviços.
Entre essas razões pode-se citar:
• as desigualdades entre as nações no tocante às reservas não reprodutivas (re-
cursos naturais); 13
• diferenças internacionais no tocante a fatores climáticos (que são determina-
dos por fatores relativamente estáticos como altitude, latitude, topografia e
TEMA 1 tipo de superfície) e a fatores edáficos (natureza e distribuição de solos);
TEORIAS CLÁSSICAS DO
COMÉRCIO INTERNACIONAL • desigualdades nas disponibilidades estruturais de capital e trabalho; e
• diferenças nos estágios de desenvolvimento tecnológico.
É a partir da combinação desses quatro fatores que surge a divisão interna-
cional do trabalho, a especialização das nações. Por decorrência, o comércio ex-
terno tem contribuído, contínuo e persistentemente, para a internacionalização
dos processos econômicos e, é inegável, para o gradativo aumento das taxas de
dependência de cada economia com relação ao resto do mundo.
Três são as principais teorias que procuram explicar a existência do comércio
internacional. A primeira é a chamada Teoria da Vantagem Absoluta. Seu formu-
lador foi Adam Smith (1723-1790), economista inglês, que a desenvolve em seu
livro Uma Pesquisa sobre a natureza e as causas da Riqueza das Nações (Inquiry into
the nature and the causes of the Wealth of the Nations), publicado em 1776.
A segunda, a Teoria das vantagens comparativas de David Ricardo (1772-1823),
considerado o mais legítimo sucessor de Adam Smith, aperfeiçoou as idéias con-
tidas na Teoria da Vantagem Absoluta.
A terceira chama-se Teoria da Demanda Recíproca, e foi desenvolvida por John
Stuart Mill(1806-1873), filósofo e economista inglês, em Princípios de economia po-
lítica com algumas de suas aplicações à filosofia social (Principles of political economy
and some of the applications to social philosophy) em 1848, obra que se tornou no
principal guia dos estudos em economia no século XIX, durante muitos anos.

1.2.1 A TEORIA DAS VANTAGENS ABSOLUTAS DE ADAM SMITH


A Teoria das Vantagens Absolutas mostra em que condições determinado pro-
duto ou serviço pode ser oferecido, com preços de custos inferiores aos dos con-
correntes. Em geral, essa situação é criada pela especialização, mas no caso de
produtos agrícolas, a condição climática é fundamental.
A teoria fica mais clara quando dizemos que um país tem uma vantagem ab-
soluta na produção de um determinado produto, ao ser comparado com outro
país produtor.
Isso significa que as necessidades de insumo por unidade de produto na in-
dústria são menores em certos países do que em outros. Para entender melhor,
compare dois países, Rússia e Inglaterra, ambos produtores de trigo e aço.
Na Rússia, um operário poderá produzir por ano, por exemplo , 30 unidades de
trigo ou seis unidades de aço. Procurando entender melhor: se, nessa perspecti-
va, um operário resolver produzir 30 unidades de trigo, produzirá zero unidades
de aço. Se resolver produzir seis unidades de aço, produzirá zero unidades de tri-
go. Tudo vai depender da maneira como ele vai distribuir seu tempo de trabalho.
Se ele distribuir o tempo de produção pelos dois artigos, poderá produzir, por
exemplo, 15 unidades de trigo e três unidades de aço. Outras combinações de
produção também são possíveis. Isso, na Rússia.
Por outro lado, na Inglaterra, um operário poderá produzir 20 unidades de
trigo ou dez unidades de aço ou, então, uma combinação dos dois, se resolver
distribuir seu tempo na produção de ambos.
Com base nas hipóteses assinaladas acima, pode-se construir uma tabela
contendo as alternativas de produção, tal como é apresentada abaixo:

14
Quadro 1.1
Possibilidades de produção por homem/ano
TEMA 1
PAÍS TRIGO AÇO TEORIAS CLÁSSICAS DO
COMÉRCIO INTERNACIONAL
RÚSSIA 30 ou 6
INGLATERRA 20 ou 10

Observa-se que a Rússia tem uma vantagem absoluta na produção de trigo e


a Inglaterra uma vantagem absoluta na produção de aço.
Assim, de acordo com Adam Smith, a Rússia se especializará na produção de
trigo e a Inglaterra na produção de aço, trocando entre si, posteriormente, os
excedentes de produção.
A condição de vantagem absoluta pode, entretanto, sofrer restrições em ter-
mos de comércio internacional. É comum que novos produtores ou fabricantes
peçam medidas protecionistas ao Estado. O argumento fundamental – tese da
indústria nascente – é que só com essa proteção a indústria nacional poderia
desenvolver-se e criar novos mercados. Um exemplo é o da indústria automo-
bilística brasileira: a economia de escala (vantagem absoluta) conseguida tantos
nos EUA como na Europa, tornava inviável um parque automobilístico brasileiro;
apenas o protecionismo do Estado, sobretaxando a importação permitiu que a
produção local, embora mantida por multinacionais, se desenvolvesse e chegas-
se a concorrer no mercado mundial.

1.2.2 TEORIA DAS VANTAGENS COMPARATIVAS (OU DOS CUSTOS COMPA-


RATIVOS)
O conceito de custos foi introduzido na teoria de comércio exterior pelo econo-
mista inglês David Ricardo em 1817. Relacionam-se os custos de produção dos
produtos A e B, produzidos por dois países distintos, N e W, comparando-os. Os
custos de produção do produto A são expressos em relação aos custos de produ-
ção do produto B. Possui a vantagem comparativa o país onde for menor a rela-
ção de custos de produção dos produtos A e B. Ricardo introduziu esse conceito
como prova de que é vantajosa para um país sua especialização internacional.
Ricardo aperfeiçoou o modelo de Smith, mostrando que, para que os países
se beneficiem dessa atividade, é necessário que apenas haja vantagens compa-
rativas. Desse modo, na hipótese de comércio entre dois países, poderia ocorrer
que um país obtivesse vantagens absolutas na produção de todos os bens em
relação ao seu parceiro.
Nesse caso, a teoria das vantagens comparativas esclarece que, mesmo assim,
é benéfico o comércio entre dois países, desde que a desvantagem absoluta não
seja da mesma quantia em todas as linhas de produção. Em outras palavras, as
trocas benéficas entre países são possíveis sempre que a capacidade relativa de
produzir bens for diferente entre eles, quer dizer, sempre que um país tiver uma
vantagem comparativa, mesmo que seja absolutamente mais ou menos produ-
tivo que o outro na produção de todos os bens (Willianson, 1996). A condição
básica para a existência de comércio seria apenas que o custo de oportunidade
de produzir um bem fosse diferente entre diferentes países.
No contexto da teoria clássica, as diferenças nos custos comparativos existem
somente quando os países apresentam diferentes funções de produção, ou seja,
o grau de especialização de cada país dependerá de sua função de produção.

15
Quadro 1.2
Possibilidades de produção por homem/ ano
TEMA 1
TEORIAS CLÁSSICAS DO PAÍS TRIGO AÇO
COMÉRCIO INTERNACIONAL
RÚSSIA 18 ou 6
INGLATERRA 20 ou 10

Neste caso, a Inglaterra possui uma vantagem absoluta sobre a Rússia na pro-
dução dos dois produtos. De acordo com Adam Smith, não haveria a especializa-
ção da produção, nem a troca entre os dois países.
O grande mérito de Ricardo foi mostrar que o comércio também será provei-
toso para os dois países, mesmo que um deles tenha vantagem absoluta sobre o
outro na produção de todas as mercadorias. Sua vantagem, porém, sempre será
maior em alguns produtos do que em outros. Dito de outra maneira, devem ser
consideradas não as vantagens absolutas, mas sim as vantagens comparativas
ou relativas.
No Quadro 1.2 nota-se que, embora a Inglaterra tenha uma vantagem ab-
soluta sobre a Rússia na produção dos dois artigos, sua vantagem é maior na
produção de aço (10 contra6) e menor na produção de trigo (20 contra18). Assim,
a Inglaterra tem uma vantagem comparativa na produção de aço (onde sua van-
tagem absoluta é maior) e uma desvantagem comparativa na produção de trigo
(onde sua vantagem absoluta é menor).
A Rússia, por sua vez, tem uma vantagem comparativa na produção de trigo,
onde sua desvantagem comparativa é menor, e uma desvantagem comparativa
na produção de aço, onde sua desvantagem comparativa é maior.
Desse modo, compensará à Inglaterra especializar-se na produção de aço e à
Rússia a especialização na produção de trigo, trocando entre si os excedentes de
produção.

1.2.3 Custos de Oportunidade


Embora de grande utilidade, a teoria das vantagens comparativas apresentava
uma limitação muito séria, por estipular que as relações de valores entre dois
bens eram determinados pelas quantidades de trabalho incorporadas na produ-
ção de cada um deles.
Um trabalhador, durante um certo período de tempo, pode produzir 30 unida-
des de trigo ou 15 unidades de aço. Portanto, 30 unidades de trigo valeriam tanto
quanto 15 unidades de aço. Isto significa que o valor de uma unidade de aço é
igual a duas unidades de trigo e o valor de uma unidade trigo seria igual a meia
unidade aço. A relação de valor considera, portanto, um único fator de produção : o
trabalho.
Na realidade, porém, há uma série de outros fatores de produção que também
têm sua participação no processo produtivo, como a terra, as matérias-primas,
os capitais, as tecnologias etc. Todos esses fatores, portanto, devem ser conside-
rados.
Em 1933, Gottfried Von Haberler procurou refinar a Teoria das Vantagens Com-
parativas, introduzindo o conceito de custo de oportunidade, o qual permite con-
siderar todos os fatores de produção e não apenas o fator trabalho.
Segundo Haberler (In: Ratti, 2000:359) que, com uma certa dotação de recursos,
um país pode produzir várias combinações de mercadorias. Consideremos apenas
dois produtos: trigo e aço. Com os recursos de que dispõe e admitindo-se o pleno
16
emprego de fatores de produção, o país poderá produzir apenas trigo ou apenas
aço ou, ainda, ou fazer combinações de dois produtos, como vamos exemplificar
a seguir. TEMA 1
TEORIAS CLÁSSICAS DO
COMÉRCIO INTERNACIONAL

Quadro 1.3
Possibilidades de Produção na relação de quantidades

COMBINAÇÕES TRIGO AÇO


A 400 0
B 300 150
C 200 300
D 100 450
E 0 600

Colocando esses valores em um gráfico, teremos o seguinte:


Gráfico 1.1
Curva de possibilidades de produção

Observando o Quadro 1.3 nota-se que a tabela mostra apenas algumas das
possíveis combinações. Na realidade, qualquer ponto localizado na reta, apresen-
tada no Gráfico 1.1 indica uma combinação possível. Acima da reta não é possí-
vel. Abaixo da reta é possível; porém, seria uma combinação que, ou não estaria
utilizando plenamente todos os fatores de produção (capacidade ociosa) ou, en-
tão, não estaria obtendo o máximo de aproveitamento desses fatores.
Essa curva (no caso, uma reta) é conhecida como curva de possibilidades de
produção, e nos mostra as combinações máximas entre dois bens que a socieda-
de está apta a produzir (Passos, Nogami, 2005:54).
Os preços ou custos do trigo serão expressos em termos de aço e vice-versa.
No gráfico, a linha reta representa não apenas a curva de possibilidades de pro-
dução dos dois artigos, mas também a relação de valor (preços) entre eles, dada
pela inclinação da reta.
Quanto mais aço for produzido, menor será a produção de trigo. Por outro
lado, se quisermos produzir mais trigo teremos de produzir menos aço. O custo
de oportunidade corresponde ao número de unidades de um produto que deve-
rão ser sacrificadas para que se possa produzir uma unidade do outro produto. 17
Exemplo: Examinando o Quadro 1.3 pode-se verificar que para um país pro-
duzir 150 unidades de aço (A) deve deixar de produzir 100 unidades de trigo
TEMA 1 (T). Estes dados permitem estabelecer a seguinte relação de que 100 unidades
TEORIAS CLÁSSICAS DO de trigo são iguais a 150 unidades de aço. Desta forma, podemos dizer que uma
COMÉRCIO INTERNACIONAL
unidade de trigo equivale a 1,5 unidades de trigo, ou que uma unidade de aço é
equivalente a 0,67 unidades de trigo.
No caso focalizado, a curva de possibilidades de produção é representada por
uma reta. Isso significa que os custos de produção (custos de oportunidade), tan-
to do trigo como do aço, são constantes. Isto significa dizer que o custo para
produzir uma unidade adicional do produto será sempre idêntico ao custo da
unidade anterior produzida.
Quando os custos de oportunidade foram crescentes, ou seja, quando o custo
de cada unidade produzida for superior ao custo da unidade anteriormente pro-
duzida, a curva de possibilidades de produção deixa de ser uma reta, passando
a ser côncava em relação à origem.

Figura 1.2

Curva de possibilidades de produção com custos de oportunidade crescente

No caso apresentado na Figura 1.2, teremos diferentes custos de oportunidade


para cada ponto da curva. No ponto C, por exemplo, a relação de custos é repre-
sentada pela inclinação da reta tangente PP. Conforme o ponto que escolhermos
na curva, teremos retas com diferentes inclinações e, portanto, diferentes rela-
ções de custos.

1.2.4 TEORIA DA DEMANDA RECÍPROCA


Na exposição anterior verificou-se que David Ricardo havia formulado sua
teoria da vantagem comparativa comparando o custo de produção de uma uni-
dade de uma mesma mercadoria em dois países diferentes. Portanto, a base de
comparação é a unidade do produto. Exemplificando:
• 100 toneladas de açúcar no país A custam 80 horas/homem;
• 100 toneladas de açúcar no país B custam 120 horas/homem.
Posteriormente, John Stuart Mill formulou a Teoria da Demanda Recíproca de
modo inverso a Ricardo. Na teoria de Stuart Mill, a base não será mais a unidade
18 do produto, mas o que em um determinado número de horas dois países dife-
rentes podem produzir. Senão vejamos:
• Em 10 horas o país A produz 20 toneladas de aço;
TEMA 1
• Em 10 horas o país B produz 10 toneladas de aço. TEORIAS CLÁSSICAS DO
COMÉRCIO INTERNACIONAL
Aparentemente a diferença parece não ser grande, mas pelas análises que se
pode fazer , as verdadeiras diferenças se tornarão mais claras. Antes de mais
nada, observa-se que Mill procura evidenciar a eficiência comparativa, conforme
apresentado no Quadro 1.4.

Quadro 1.4
Produção comparativa entre dois países

INSUMO DE PAÍS PRODUÇÃO DE PRODUÇÃO DE


TRABALHO AÇO TRIGO
(HOMENS/
(toneladas) (toneladas)
HORA)
10 A 20 20
10 B 10 15

No quadro acima verifica-se que país A tem vantagem absoluta nos dois pro-
dutos apresentados (aço e trigo). Mas tem maior vantagem comparativa no aço.
Por outro lado, o país B não tem vantagem absoluta nos dois produtos. Tem me-
nor desvantagem comparativa no trigo.
Se não houver comércio entre os dois países, as trocas serão apenas internas
e nas seguintes condições:
• O país B pode trocar 10 toneladas de aço por 15 toneladas de trigo na base de
10 homens/horas;
• O país A pode trocar 10 toneladas de aço por 10 toneladas de trigo tomando
por base 5 homens/horas.
Admitindo-se que o país B está disposto a vender 15 toneladas de trigo por
11 toneladas de aço, pode-se considerar que está havendo aí um bom negócio,
exatamente porque o custo de produção de 15 toneladas de trigo nesse país
equivale ao custo de produção de 10 toneladas de aço. Vamos admitir ainda que
o país A aceite vender 11 toneladas de aço por 15 toneladas de trigo. Também
é um bom negócio porque o custo de produção no país A é de 11 toneladas de
aço, que equivalem a 11 toneladas de trigo.
Diante dos números acima, B exportaria trigo para A e compraria aço de A,
desde que tivesse nisso alguma vantagem. Dito de outra maneira, haverá vanta-
gem para o país B: se este conseguir trocar pelo menos, mais de 10 toneladas de
aço por 15 toneladas de trigo (ou + 10A : 15tr.);
Por sua vez, o país A terá vantagem se conseguir trocar pelo menos, 10 tone-
ladas de aço por mais de 10 toneladas de trigo.
As condições serão vantajosas se os países conseguirem fazer trocas externas
mais vantajosas que as trocas internas. Será vantajoso para A trocar 10 toneladas
de aço por mais de 10 toneladas de trigo e para B trocar mais de 10 toneladas de
aço por 15 toneladas de trigo. Esses números constituem os limites de possibili-
dade de troca, como está representado no Quadro 1.5.

19
Quadro 1.5
Limites de possibilidade de troca mostrados em gr
gráfico
TEMA 1
TEORIAS CLÁSSICAS DO PAÍS AÇO TRIGO
COMÉRCIO INTERNACIONAL
A 10 toneladas Por + 10 toneladas
B + 10 toneladas Por 15 toneladas

Portanto, poderá ser realizado o comércio entre os dois países dentro desses
limites. Porém há um fator novo que vai estabelecer o valor exato de troca. Esse
fator é a demanda por essas mercadorias nos dois países. Daí o nome de Teoria
da Demanda Recíproca.
De acordo com essa teoria, o comércio se realizará quando os preços equa-
lizarem as demandas nos dois países. Em outras palavras, suponhamos que os
preços desses produtos sejam:

Quadro 1.6
Grau de interesse de troca
Valor de Troca Demanda de A Demanda de B
A = aço
Grau de interesse Grau de interesse
Tr = trigo
Não há interesse em Há interesse em
10A :10Tr
comprar trigo de B comprar aço de A
Em face da situação acima, B propõe nova condição de troca.

Quadro 1.7
Condição
çã de Troca
Valor de Troca Demanda de A Demanda de B
10A : 12Tr Há interesse, porém a Continua grande
demanda é pequena interesse
Para que haja comércio, B melhora as condições de troca.

Quadro 1.8
Nova Condição
çã de troca
Valor de Troca Demanda de A Demanda de B
Aumenta o
10A :14Tr Há interesse de B
interesse de A

Agora, supondo que as condições de troca fossem tal como apresentadas no


quadro abaixo, tem-se uma nova possibilidade de troca.

20
Quadro 1.9
Condição
çã de Troca
TEMA 1
Valor de troca Demanda de A Demanda de B TEORIAS CLÁSSICAS DO
COMÉRCIO INTERNACIONAL
10A : 15Tr Há interesse Há pouco interesse
Há alto interesse de A Neste caso, não há
10A : 20Tr
na troca interesse de B na troca

Desta forma , sucessivamente, os preços vão se alterando até chegar ao ponto


de equilíbrio, que poderia ser 10 toneladas de aço por 14 toneladas de trigo.
Entretanto, essa relação de troca (10A : 14Tr) se altera de acordo com a maior
ou menor demanda pelos respectivos produtos. Essa demanda sofre os efeitos
dos problemas conjunturais que podem determinar a maior ou menor necessi-
dade de mercadorias negociadas em cada país.
Deste modo, à luz das Teorias Clássicas do Comércio Internacional (Vantagens
Absolutas, Vantagens Comparativas e da Demanda Recíproca), pode-se dizer que
é viável a troca de produtos sempre que os países tiverem recursos semelhantes
em economias de escala. A utilização de novas tecnologias enseja um rendimen-
to crescente de escala.

21
ANOTE
TEMA 2

BARREIRAS AO COMÉRCIO
INTERNACIONAL
TEMA 2 - BARREIRAS AO COMÉRCIO INTERNACIONAL
TEMA 2
BARREIRAS AO COMÉRCIO
INTERNACIONAL Objetivos do Tema
• Mostrar o protecionismo adotado por certos Estados no que toca à defesa de
algumas de suas matérias-primas e à entrada de capital estrangeiro.
• Evidenciar como os países organizam seus esquemas protecionistas
concretizados em barreiras alfandegárias, em taxas múltiplas de câmbio para
estimular a exportação, e em subsídios a certos produtos nacionais a fim de os
tornarem mais competitivos
• Mostrar que, apesar do estatuto do livre comércio internacional, há tacitamente
ou declaradamente limites na concorrência mundial e os Estados procuram se
proteger contra o dumping1, os trustes2 e os cartéis3 internacionais.

2.1 PROTEÇÃO À PRODUÇÃO


Embora se pregue, até com ardor, o livre comércio, as nações preocupam-se
em proteger sua produção nacional.
Afinal, a invasão de produtos vindos do exterior, acaba tomando o lugar da-
queles que são produzidos domesticamente. E com eles, vão-se as matérias-pri-
mas (que seriam adquiridas), o trabalho (o emprego) e o capital.
A teoria econômica estabelece que os recursos produtivos (também denomi-
nados fatores de produção) são elementos utilizados no processo de fabricação
dos mais variados tipos de mercadorias, as quais, por sua vez, são utilizadas para
satisfazer necessidades e desejos. O trabalho, a terra, as matérias-primas, os com-
bustíveis, a energia e os equipamentos são, entre outros, exemplos de recursos
produtivos. Estes recursos produtivos podem ser classificados em quatro gran-
des grupos: terra, trabalho, capital e capacidade empresarial.
Assim, com o objetivo de manter o equilíbrio da economia doméstica, no
sentido da manutenção do pleno emprego (utilização plena dos recursos pro-
dutivos disponíveis), os países podem criar medidas protecionistas utilizando o
argumento, por exemplo, de proteger a indústria nascente.
Uma indústria nascente pode não estar em condições de sobreviver à com-
petição externa. O argumento da indústria nascente sustenta que tais indústrias
deveriam ser protegidas, ao menos temporariamente, por altas tarifas ou cotas
até que conseguissem desenvolver eficiência tecnológica e economias de escala
que lhes possibilitassem competir com as indústrias estrangeiras.

2.2 PROTEÇÃO AO MEIO AMBIENTE


Em dezembro de 1997, em Kyoto, no Japão, realizou-se a terceira conferência
das Nações Unidas sobre a mudança do clima, com a presença de representantes
de mais de 160 países. Seus objetivos eram, em primeiro lugar, o de obter o com-
promisso dos países desenvolvidos em reduzir e limitar a emissão de dióxido de
carbono e de outros gases responsáveis pelo efeito estufa. Em segundo lugar,
pretendia a Conferência da ONU criar a possibilidade de utilização de mecanis-
1
Prática comercial que consiste em vender produtos a preços inferiores aos custos, com a finalidade de eliminar concorrentes e/ou ganhar
maiores fatias de mercado.
2
Tipo de estrutura empresarial na qual várias empresas, já detendo a maior parte de um mercado, combinam-se ou fundem-se para
24 assegurar esse controle, estabelecendo preços elevados que lhes garantam elevadas margens de lucros.
3
Grupo de empresas independentes que formalizam um acordo para sua atuação coordenada, com vistas a interesses comuns.
mos de flexibilidade para que os países em desenvolvimento pudessem atingir
os objetivos de redução de gases do efeito-estufa.
TEMA 2
BARREIRAS AO COMÉRCIO
INTERNACIONAL
2.2.1 Em que consiste o efeito-estufa
O efeito-estufa consiste, basicamente, na ação do dióxido de carbono e de
outros gases sobre os raios infravermelhos refletidos pela superfície da terra, re-
enviando-os para ela, mantendo assim uma temperatura estável no planeta.
Ao irradiarem para a Terra, parte dos raios luminosos oriundos do Sol são ab-
sorvidos e transformados em calor, outros são refletidos para o espaço, mas só
parte destes chega a deixar a Terra, em conseqüência da ação refletora que os
chamados “gases de efeito-estufa” (dióxido de carbono, metano, clorofluorocar-
bonetos (CFCs) e óxidos de azoto) têm sobre tal radiação reenviando-a para a
superfície terrestre na forma de raios infravermelhos.
Desde a época pré-histórica o dióxido de carbono tem tido um papel de-
terminante na regulação da temperatura global do planeta. Com o aumento da
utilização de combustíveis fósseis (carvão, petróleo e gás natural), a concentra-
ção de dióxido de carbono na atmosfera duplicou nos últimos cem anos. Neste
ritmo e com o abatimento massivo de florestas que se tem praticado (é nas plan-
tas que o dióxido de carbono, através da fotossíntese, forma oxigênio e carbono,
que é utilizado pela própria planta), o dióxido de carbono começará a proliferar
levando, muito certamente, a um aumento da temperatura global. Este aumento
de temperatura, mesmo que seja de poucos graus, levará ao degelo das calotas
polares e a grandes alterações a nível topográfico e ecológico do planeta.

2.2.2 Seqüestro de Carbono


O refém desse seqüestro é todo o carbono que é capturado e mantido pela
vegetação, durante o processo respiratório da fotossíntese. Sua finalidade é con-
ter e reverter o acúmulo de CO2 na atmosfera visando a diminuição do efeito-
estufa.
Dessa maneira, o seqüestro de carbono se tornou assunto presente em ques-
tões ambientais, pois, apesar de as quantidades de CO2 retiradas da atmosfera
pela vegetação não estarem definidas, esse tipo de medida é visto como uma
importante atitude para sinalizar uma redução na emissão de carbono e atingir
as metas estabelecidas pelo protocolo de Kyoto (diminuição de, no mínimo, 5,8%
da quantidade de carbono presente na atmosfera).

2.2.3 Créditos de Carbono


Para tanto, foram criados mecanismos de flexibilização através dos quais os
países ricos podem promover a redução fora de seu território. Esta alternativa
ficou conhecida como Mecanismos de Desenvolvimento Limpo (MDL), sendo a ne-
gociação de créditos de carbono sua forma transacional.
A negociação de créditos de carbono já beneficia uma série de empresas no
Brasil. São empresas de diversos setores, como siderurgia, papel e celulose, sane-
amento e recursos renováveis, entre outras. Estas empresas estão acessando um
mercado que, segundo alguns especialistas, deve movimentar US$10 bilhões de
dólares em crédito de carbono ao ano, e o Brasil deve ser responsável por 10%
desta quantia.
25
2.2.4 O que é o crédito de carbono
O crédito de carbono consiste em certificar reduções de emissões de gazes de
TEMA 2
BARREIRAS AO COMÉRCIO efeito estufa (GHG Protocol4), que através de um custo marginal de redução no
INTERNACIONAL Brasil possam compensar um possível custo de oportunidade nos países desen-
volvidos.

2.3 PROTEÇÃO AO TRABALHO


Todo governo tem entre seus objetivos principais a proteção ao trabalho e
toda a gama de preocupações que o tema carrega. É um escopo social.
Isto posto, podemos afirmar que os países podem enfrentar, em relação ao
emprego, três situações: falta de mão-de-obra, pleno emprego de mão-de-obra
e desemprego.

2.3.1 Falta de mão-de-obra


O mundo passou por muitas transformações após a
segunda guerra mundial (1939-1945). No início, havia a
necessidade de mão-de-obra. A Europa se recuperava
dos estragos e empresas eram reconstituídas. Mas, em
grande parte, o avanço da tecnologia veio substituir o
trabalho humano. E com isso, grandes quantidades de
trabalhadores foram colocadas na rua. Os países passa-
ram a proteger-se dificultando a entrada de trabalhado-
res de outros países. É o reverso da medalha. Na medida
em que a tecnologia avança, cresce o recuo no recruta-
mento de trabalho humano. É uma situação que tende a se agravar em todo o
mundo.

2.3.2 Pleno emprego da mão-de-obra


Pleno emprego da mão-de-obra significa todas as vagas preenchidas. Neste
caso não há necessidade de se contratar no exterior e a força de trabalho local,
com a tecnologia disponível, ocupa as vagas ofertadas.
Nas palavras de Sandroni (1999:474), é uma situação em que a demanda de
trabalho é igual ou maior que a oferta. Isso significa que todos que desejarem
vender sua força de trabalho pelo salário corrente terão condições de obter um
emprego.
Ainda segundo o autor, numa economia dinâmica é muito difícil que ocorra a
eliminação total do desemprego, pois:
• há atividades – como a agricultura – que não ocupam continuamente a mes-
ma força de trabalho (desemprego sazonal);
• é necessário certo tempo para que as pessoas troquem de emprego (é o cha-
mado desemprego friccional);
• além disso, certas pessoas podem optar por viver desempregadas.
Por essa razão, considera-se haver uma situação de pleno emprego de mão-
de-obra quando não mais que 3 a 4% da força de trabalho está desempregada.

26 GHG Protocol – The Greenhouse Gas Protocol Initiative.


4
2.3.3 Desemprego de mão-de-obra
É a pior situação para o trabalhador. Dependendo de seu grau de empregabili-
TEMA 2
dade, será mais fácil ou difícil sua volta ao mercado. O que seria empregabilidade? BARREIRAS AO COMÉRCIO
A palavra vem do inglês employability e significa o conjunto de conhecimentos, INTERNACIONAL

habilidades e comportamentos que tornam um executivo/ profissional impor-


tante. Ter conhecimentos, habilidades e comportamentos compatíveis para de-
sempenhar tarefas trabalhistas é importante não apenas para o indivíduo, mas
para toda e qualquer empresa. Esses dotes são características que transcendem
a organização, pois atendem às necessidades do mercado de executivos/ profis-
sionais como um todo.
O desemprego da mão-de-obra pode ocorrer, devido à recessão econômica,
ao crescimento econômico menor que o crescimento demográfico, às novas tec-
nologias que dispensam a mão-de-obra, e a políticas econômicas governamen-
tais inadequadas.
Analisando-se as estatísticas da atividade econômica brasileira pode-se ob-
servar que o desemprego vem crescendo nos últimos anos no país. Segundo
o IBGE, 7,14% da população economicamente ativa estava desempregada em
2002, 12,30% em 2003, e 11,50% em 2004.
De acordo com o ex-ministro Roberto Campos, citado por Maia (1999:127), os
promotores do desemprego no Brasil são os sindicatos agressivos, o nacionalis-
mo, os monopólios estatais e a legislação trabalhista.

2.3.4 Sindicatos agressivos


Os investidores (particularmente os donos do capital estrangeiro) procuram
defender-se das excessivas reivindicações, estabelecendo-se em países onde a
atividade sindical não seja muito forte.

2.3.5 Nacionalismo
A legislação nacionalista, criando restrições ao capital estrangeiro faz com
que as multinacionais procurem outros países para se instalar. Este é um argu-
mento morto, posto que a abertura efetuada nos últimos anos equiparou o ca-
pital estrangeiro ao nacional em muitos aspectos. Problemas aos estrangeiros
são comuns aos nacionais, como a insegurança da propriedade, só para citar um
exemplo.

2.3.6 Monopólios estatais


Argumento já desqualificado tendo em vista o grande número de privatiza-
ções ocorridas no governo Fernando Henrique Cardoso (1995-2002).

2.3.7 Legislação trabalhista


Este argumento ainda perdura. As empresas, de qualquer porte, sofrem com
os pesados encargos sociais, tendo como conseqüência o desemprego e o au-
mento da economia informal5.

5
Esta denominação vem do fato de que a maioria dessas unidades dedicadas à produção ou venda de mercadorias ou à produção de
serviços não é constituída de acordo com as leis vigentes, não recolhe impostos, não mantém uma contabilidade de suas atividades.
27
2.4 PROTEÇÃO AO CAPITAL
Os países procuram proteger o capital nacional, criando barreiras à entrada
TEMA 2
BARREIRAS AO COMÉRCIO do capital estrangeiro, seja ele capital financeiro ou representado pela entrada
INTERNACIONAL de máquinas e equipamentos (uma fábrica nova, por exemplo).
Muitas vezes, como já ocorreu aqui mesmo no Brasil, a proteção é um guarda-
chuva que protege a ineficiência. Muito se falou sobre a invasão dos produtos
têxteis, notadamente chineses, mas nada se disse sobre a obsolescência de nos-
so parque fabril. A cidade de Americana, no interior paulista, é um bom exemplo
do antes e do depois. Antes, havia uma indústria obsoleta que quase foi dizimada
quando da invasão de produtos têxteis chineses e coreanos. Hoje, há uma indús-
tria moderna e competitiva que não teme os asiáticos.
Nos últimos tempos tem-se travado uma dura batalha entre empresários da
Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (ABIMAQ) e o
Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). O motivo está
em o Banco oficial ter anunciado que voltará a financiar a importação de máqui-
nas e equipamentos sem similar nacional. Trata-se de crédito salutar e que deve
ser incentivado. Só beneficiará as importações de produtos não fabricados no
Brasil. Não haverá concorrência predatória com os fabricantes nacionais uma vez
que serão financiados somente aqueles equipamentos que não são produzidos
no Brasil.

2.5 DESVIOS DO MODELO DO COMÉRCIO LIVRE


Há um esforço muito grande da comunidade internacional em tornar o co-
mércio exterior mais livre, mais fluente. Entretanto, o trânsito comercial mundial
pode se defrontar com algumas formas de obstáculos como o dumping, os oli-
gopólios, os trustes e dos cartéis.

2.5.1 Dumping
Como já foi definido anteriormente, o dumping consiste em vender uma mer-
cadoria ou um serviço, no exterior ou no mercado doméstico, por preço abaixo
do custo de produção.
Conforme especifica Sandroni (1999:187), no mercado internacional, o dum-
ping pode ser persistente quando existem subsídios governamentais para o in-
cremento das exportações e as condições de mercado permitem uma discrimi-
nação de preços tal que a maior parte dos lucros de uma empresa que o pratica
seja obtida no mercado interno.
O dumping temporário é utilizado para afastar concorrentes de determinados
mercados quando um país necessita colocar neles excedentes de certos produ-
tos, sem prejudicar os preços praticados em seu mercado interno.
A União Européia proíbe o dumping. A Organização Mundial do Comércio
(OMC), por sua vez, permite a introdução de tarifas especiais ou sobretaxas de
importação como forma de limitar os efeitos de tal política.

2.5.2 Oligopólio
De acordo com Passos e Nogami (2005:349) o oligopólio é a forma de merca-
do que atualmente prevalece nas economias do mundo ocidental. Ele pode ser
28 conceituado como uma estrutura de mercado em que um pequeno número de
empresas controla a oferta de um determinado bem ou serviço. De acordo com
essa conceituação, a indústria automobilística é um exemplo de indústria com
pequeno número de firmas. Entretanto, o oligopólio pode também ser enten- TEMA 2
BARREIRAS AO COMÉRCIO
dido como uma indústria em que há um grande número de firmas, mas poucas INTERNACIONAL
dominam o mercado. Como exemplo, pode-se citar a indústria de bebidas.
Atualmente, podemos incluir alguns outros oligopólios como os de produto-
res de suco de laranja, as indústrias de aço e de fumo e a atividade de comercia-
lização de soja.
Desta forma, o oligopólio é uma tendência que reflete a concentração da pro-
priedade em poucas empresas de grande porte, pela fusão entre elas, incorpo-
ração ou mesmo eliminação (por compra, dumping e outras práticas restritivas)
das pequenas empresas.

2.5.3 Trustes
Os trustes representam a fusão de várias empresas, levando ao monopólio. A
indústria siderúrgica está passando por esse processo.
Os trustes têm sido proibidos em vários países, mas a eficácia dessa proibição
não é muito grande.

2.5.4 Cartel
Nas palavras de Maia (1997:93) o cartel é uma forma de eliminar a concorrên-
cia. Vários produtores fazem um acordo comercial para distribuir entre si cotas
de produção, determinar preços, suprimindo a livre concorrência. Uma das ca-
racterísticas importantes é que cada empresa conserva sua autonomia interna.
Um bom exemplo de cartel é a OPEP (Organização dos Países Exportadores de
Petróleo), que determina o preço do barril de petróleo e estabelece a cota de
produção de cada associado.
Na verdade, existem muitos tipos de cartel. Em sua forma mais perfeita tem-
se o Cartel Centralizado, que determina todas as decisões para todas as firmas-
membro. Assim, por meio de uma agência coordenadora, organizam-se as firmas
de modo que elas ajam como se participassem de um grande conglomerado
monopolista, possuidor de várias fábricas. Por essa razão tal forma perfeita de
conluio leva à solução de monopólio.

2.6 ESQUEMAS PROTECIONISTRAS


Constituem, também, barreiras ao comércio internacional as seguintes medi-
das protecionistas:
• Subsídios;
• Barreiras tarifárias;
• Taxas múltiplas de câmbio; e
• Licenças de importação e exportação.

2.6.1 Subsídios
É comum os governos subsidiarem alguns setores produtivos com a finalida-
de de os tornarem competitivos com os similares produzidos no exterior. Se o 29
subsídio for apenas direcionado para baixar os preços, sem a contrapartida da
melhoria de qualidade, o subsídio é, na verdade, uma proteção à ineficiência e
TEMA 2 ao atraso.
BARREIRAS AO COMÉRCIO
INTERNACIONAL Quando o subsídio é destinado à exportação, ele poderá constituir-se num
dumping, sobre o qual já foi comentado anteriormente.
Outras vezes o subsídio é aplicado para a produção de mercadorias destina-
das ao consumo interno, com o objetivo de manter a competitividade da produ-
ção nacional, que em condições normais não poderia competir com a produção
estrangeira. Isso onera o bolso do consumidor nacional, que acaba pagando mais
por um produto igual ou pior que o importado.
Conforme salienta Maia (1999:94), normalmente os subsídios trazem outras
distorções que mais prejudicam do que ajudam. A produção nacional não me-
lhora porque está protegida e torna-se obsoleta.
Como exemplo de subsídio à ineficiência cabe lembrar a proteção implemen-
tada ao setor de informática, na década de 1970, quando foi criada a reserva de
mercado para este setor. O subsídio, se mal direcionado é caro e acaba punindo
o país.

2.6.2 Barreiras tarifárias


O governo pode aplicar uma barreira tarifária, isto é, um imposto que, adicio-
nado ao preço internacional do produto, poderá fazer que o preço da mercadoria
produzida internamente se torne competitivo; dessa forma, o governo protege
os produtores nacionais a fim de que não sofram a concorrência de produtos
importados mais baratos.
As barreiras tarifárias representam verdadeiro flagelo para o setor importador.
Muitas vezes são baixadas medidas sem critérios claros e objetivos consistentes.
Barreiras tarifárias podem ser estabelecidas para proteger indústrias nascentes.
Citamos o caso do setor de informática, que acabou se revelando um fracasso
monumental.
Hoje temos alíquotas no setor siderúrgico que tornam o produto final do se-
tor altamente caro internamente. Seria o caso de baixar ou reduzir a zero as alí-
quotas de importação, forçando a baixa dos produtos internamente.
Segundo o empresário Sérgio Machado6, , os estaleiros nacionais estariam
pagando 30% a mais pela matéria-prima do que os concorrentes internacionais.
Mas a reclamação é mais antiga7: em 2004 , as montadoras já reclamavam do pre-
ço do aço que só no período de janeiro a agosto subira cerca de 41%. A ABIMAQ
espera um aumento de até 15% no preço de aço para o ano de 2006.
A indústria automobilística é uma das mais atingidas por essa onda altista. O
consumidor final, obviamente é quem está pagando por isso.
No caso das exportações, práticas alfandegárias tornam nosso açúcar pouco
competitivo na Europa e nos Estados Unidos. A União Européia tem que proteger
os ineficientes produtores franceses. Nos EUA o suco de laranja é também agra-
vado com altas taxas de imposto de importação.

30 Presidente da Transpetro, em Globo Online, edição de 16 de janeiro de 2.006


6

Folha Online, de 6 de outubro de 2004.


7
2.6.3 Taxas Múltiplas de Câmbio
O sistema de taxas múltiplas foi criado para estimular a exportação e favore-
TEMA 2
cer a importação de produtos considerados essenciais. E, também, para inibir ou BARREIRAS AO COMÉRCIO
favorecer entradas e saídas financeiras. Assim, um país pode ter uma moeda local INTERNACIONAL

desvalorizada, beneficiando a exportação e inibindo a importação, uma outra


taxa de câmbio para a importação de produtos essenciais, como o petróleo, e
uma terceira taxa para operações financeiras.
O sistema de taxas múltiplas já foi utilizado no passado, até por países da
União Européia (Peseta A e Peseta B, na Espanha), mas não encontra guarida nos
mercados cambiais em funcionamento no mundo atual.
Mesmo o Brasil passou por essa experiência nos anos 1950, quando o Gover-
no fixou cinco categorias de enquadramento dos bens importáveis. Perdurou
por pouco tempo, sendo substituído pela fixação de uma cotação cambial que
era manejada pelos dirigentes do Ministério da Fazenda.
Tal prática terminou com a criação do Banco Central do Brasil em 31 de de-
zembro de 1964 (Lei 4.595/64, ou Lei do Mercado de Capitais).

2.6.4 Licenças de Importação e Exportação


É necessário entender que licenciamentos de importação e exportação para
fins estatísticos são uma coisa, e licenciamentos com a finalidade de tornar di-
fícil a importação ou exportação de determinados produtos são outra coisa. A
licença de importação é emitida para permitir a entrada de mercadorias no país.
O que ocorre é que essa licença pode estar condicionada ao cumprimento de
alguma exigência, como a sujeição a uma determinada cota, exame por diferen-
tes órgãos (IBAMA8, se produto que sensibiliza o meio ambiente; Ministério do
Exército, no caso de armas; DETRAN9, se veículo etc.). Tais exigências costumam
travar o processo de uma importação. Na área das exportações existem poucas
exigências. Há que se emitir o Registro de Exportação (RE), um documento obti-
do via SISCOMEX10 e autorizado on line pelos órgãos competentes.
Embora condenada no âmbito da Organização Mundial do Comércio (OMC)
esta prática é utilizada por muitos países, inclusive pelo Brasil.
Sistemas de licenciamento engessam as operações de comércio internacio-
nal. O processo burocrático torna-se lento, impaciente e altamente corruptível.
As decisões passam a ser subjetivas, tirando todo o aspecto técnico da questão.

2.7 NOVAS BARREIRAS AO COMÉRCIO INTERNACIONAL


A intensificação do comércio internacional, seu crescimento em volume, valor
e tecnologia, com a entrada de novos atores, especialmente da China, tornaram
a arena muito competitiva e novas formas de protecionismo surgiram, represen-
tadas por barreiras técnicas e ecológicas.
Nesses casos, assim como no caso da barreira tarifária, o governo visa dar maior
competitividade ao produto nacional. A diferença básica é que não se aplica um
imposto, mas sim obstáculos quantitativos ou burocráticos, segundo Passos e Noga-
mi (2005:527), que oneram ou inviabilizam as importações. Como novas restrições
pode-se citar os certificados de origem e vistos consulares, fixação de cotas etc.

Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis


8

Departamento Estadual de Trânsito


9
31
2.7.1 Barreiras Técnicas
A abertura dos mercados incrementou o processo de trocas entre os países e
TEMA 2
BARREIRAS AO COMÉRCIO aprofundou a necessidade do uso de uma linguagem comum para o estabeleci-
INTERNACIONAL mento de requisitos de desempenho e de ausência de riscos para o consumidor
e o meio ambiente.
Sob esta ótica, o texto do Acordo sobre Barreiras Técnicas ao Comércio (Tech-
nical Barrier to Trade - TBT), resultante da revisão do GATT11 na Rodada Uruguai,
apresenta o critério de que “um regulamento técnico não se consistiria em bar-
reira desnecessária ao comércio quando, buscando o alcance de objetivos legíti-
mos, fosse baseado em norma internacional”.
A “democracia” do acesso à participação em uma organização internacional
de normalização foi o princípio que poderia assegurar as condições necessárias
para que a norma internacional refletisse um consenso entre os interesses de
todos os países.
Todavia, ter as condições necessárias para a elaboração de uma norma verda-
deiramente internacional não implica que elas tenham sido suficientes, até hoje.
Embora o objetivo seja não se constituir em barreira desnecessária ao comér-
cio, alguns países vêm exagerando no estabelecimento e implementação de tais
regulamentos.

2.7.2 Dumping Social


Dumping Social é o termo utilizado para caracterizar a venda, no mercado in-
ternacional, de produtos a um preço inferior ao praticado no mercado domésti-
co, em virtude da falta ou da não-observância dos padrões trabalhistas interna-
cionalmente reconhecidos. O trabalho infantil, o trabalho escravo ou a falta de
respeito aos padrões trabalhistas serviriam como fatores diferenciais na compo-
sição do preço dos produtos. O tema é sensível e opõe os países desenvolvidos,
que defendem a inclusão de cláusulas trabalhistas nas regras do comércio inter-
nacional, aos países em desenvolvimento, que preferem que o tema seja tratado
no âmbito da Organização Internacional do Trabalho.

2.7.3 Responsabilidade Sócio-Ambiental


Os desequilíbrios do homem ao tratar das relações que estabelece entre seus
objetivos econômico-financeiros e o espaço natural têm despertado a socieda-
de, cujas preocupações se voltam cada vez mais para iniciativas de preservação
do meio ambiente, visando o bem estar comum.
A atuação socialmente responsável de todos os segmentos da sociedade,
com destaque para os fatores econômicos e educacionais, está se transforman-
do numa questão fundamental, que requer estudo, reflexão e comportamentos,
principalmente pró-ativos, e em última instância, reativos, haja vista tratar-se da
mola propulsora para manutenção da qualidade de vida presente sem compro-
meter as possibilidades de sobrevivência das gerações futuras.

10
Sistema Integrado de Comércio Exterior - SISCOMEX, instituído pelo Decreto n° 660, de 25.9.92, é a sistemática administrativa do comércio
exterior brasileiro, que integra as atividades afins da Secretaria de Comércio Exterior - SECEX, da Secretaria da Receita Federal-SRF e do
Banco Central do Brasil - BACEN, no registro, acompanhamento e controle das diferentes etapas das operações de exportação.
11
Acordo Geral sobre Tarifas de Comércio (General Agreement on Tariffs and Trade). A sigla GATT denomina o organismo internacional que
visava propiciar a redução de obstáculos ao comércio entre as nações. Dentre os 23 países que, em 1947, assinaram o acordo de criação
do GATT, estava o Brasil. O sucesso e a importância do GATT é atestado pelo fato do comércio internacional, desde o fim da Segunda
32 Grande Guerra, ter crescido até multiplicar-se por dez. Em 1995, os então 95 países membros do GATT, assinaram um acordo constituindo a
Organização Mundial do Comércio (OMC), organismo de caráter permanente, em substituição ao GATT, que tinha um caráter temporário.
Durante anos, os recursos naturais foram explorados sem nenhum critério de
propriedade e preservação, apenas, como bens úteis ao desenvolvimento. Neste
sentido, o meio ambiente tem sido um bem econômico gratuito que a empresa TEMA 2
BARREIRAS AO COMÉRCIO
utiliza, sem considerar ou influenciar no preço do produto ou serviço e sem con- INTERNACIONAL
siderar, principalmente, a finitude dos recursos naturais.
Assim, por não se ater ao futuro, até pela falta de planejamento em longo
prazo, verificam-se inúmeros problemas, que estão atingindo o planeta, e agora
o homem se volta para a sua própria sobrevivência, preocupando-se também
com o futuro.
Mas, este lento processo de transformação não tem sido galgado com espon-
taneidade, tendo em vista que o comportamento da sociedade em relação ao
meio ambiente sempre foi influenciado por acontecimentos de natureza políti-
co-social. Essa mudança de postura iniciou-se em Paris, no ano de 1968, quando
se realizou a Conferência sobre a Biosfera.
A ocasião serviu como base para o lançamento do programa “O Homem e a
Biosfera”, em 1971, pela UNESCO12. Outros eventos seguiram-se a este, como a reu-
nião do Clube de Roma, em 1970, a qual chamava a atenção para a necessidade
de conter o crescimento econômico mundial. Em 1972, realizou-se em Estocolmo
a Conferência Mundial sobre o Meio Ambiente. Seu objetivo era a conscientiza-
ção dos governos e instituições internacionais quanto à necessidade de imple-
mentar medidas efetivas para preservar e diminuir a degradação ambiental.
No Brasil, a ECO 92, realizada no Rio de Janeiro, promoveu uma série de de-
bates sobre problemas prementes de hoje e a preparação do mundo para este
século. A Declaração do Rio Sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento destaca que
este “deve ser exercido de modo a permitir que sejam atendidas eqüitativamen-
te as necessidades de desenvolvimento e de meio ambiente das gerações pre-
sentes e futuras”, que ficou conhecida como Agenda 2113.
Nesse sentido, um dos maiores desafios, em se tratando da questão ambien-
tal, é a compatibilização entre o crescimento econômico e a preservação do meio
ambiente. Aqueles que buscam apenas a geração de valor econômico, em pou-
cos anos, terão dificuldades em sobreviver.
A relação do ser humano com o meio ambiente tem, obrigatoriamente, que se
tornar harmoniosa. A mesma é vital no processo de sobrevivência e possibilita
reflexões a respeito da capacidade competitiva e da permanência no mercado
das indústrias poluidoras, da influência dos acordos internacionais no perfil das
empresas e a tendência que começa a aflorar no sentido de direcionar os re-
cursos financeiros para projetos que reúnam, além de vantagens econômicas,
segurança ambiental.

United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura)
12

Agenda 21 é um programa de ação para viabilizar a adoção do desenvolvimento sustentável e ambientalmente racional em todos os
13

países. Nesse sentido, o documento da Agenda constitui, fundamentalmente, um roteiro para a implementação de um novo modelo de
desenvolvimento que se quer sustentável quanto ao manejo dos recursos naturais e preservação da biodiversidade, equânime e justo tanto
nas relações econômicas entre os países como na distribuição da riqueza nacional entre os diferentes segmentos sociais, economicamente
eficiente e politicamente participativo e democrático.
33
ANOTE
TEMA 3

DIREITO INTERNACIONAL E
COMÉRCIO EXTERIOR
TEMA 3 – DIREITO INTERNACIONAL E
TEMA 3
DIREITO INTERNACIONAL
COMÉRCIO EXTERIOR
E COMÉRCIO EXTERIOR

Objetivos do Tema
• Apresentar as linhas gerais do Direito Internacional Privado e dar a conhecer
os princípios que regulam a relação internacional entre os Estados;
• Mostrar os pressupostos do Direito Internacional Privado que tenham
interferência no Comércio Exterior. São eles: a nacionalidade, a condição
jurídica do estrangeiro, o conflito de leis e o conflito de jurisdições;
• Dar a conhecer o sistema brasileiro de Direito Internacional Privado na sua
relação com o sistema aduaneiro, tarifário, de direito anti-dumping etc.

3.1 INTRODUÇÃO AO DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO E PRIVADO


Segundo Costa (2005:196), nos últimos anos, o desenvolvimento das trocas
econômicas internacionais gerou uma série de mudanças no cenário do comér-
cio internacional. O fenômeno comércio internacional interessa a vários atores. O
economista, por exemplo, por meio de suas observações e até mesmo previsões,
fornece os dados de base. Já o cientista político, levando em conta os dados for-
necidos, determina as metas e os objetivos a serem seguidos. E, por fim, o jurista
concretiza os instrumentos legais que servirão de fundamento para as transa-
ções internacionais de bens e serviços.
Desta forma, os contratos internacionais são, segundo Strenger (2003:43) fru-
to de uma multiplicidade de fatores, envolvendo métodos e sistemas interdisci-
plinares, inspirados na economia, na política, no comércio exterior, nas ciências
sociais e com muitos frutos colhidos nas relações internacionais.

3.1.1 Direito Internacional Público


É o conjunto de normas que regem as relações dos direitos e deveres cole-
tivos, quanto aos tratados, convenções e acordos entre as nações. Também se
chama Direito das Gentes.
O Direito Internacional Privado é tido como um ramo do Direito Público, que
compreende um conjunto de normas reguladoras das relações entre as nações
no tocante à proteção das pessoas, direitos e interesses particulares dos seus
nacionais em país estrangeiro e, reciprocamente, dos estrangeiros radicados
no país.
Quanto ao Direito Internacional, afirma Alessandro Groppali, que se trata de
uma ordem normativa ainda em formação, sendo seus dispositivos desprovi-
dos da eficácia que caracteriza as normas estatais. O Direito Internacional não
possui outras fontes além dos tratados e do costume. Não são suas normas do-
tadas do poder coercitivo que caracteriza a ordem estatal. Enquanto os ramos
do Direito Positivo já apresentam certo grau de estabilidade, o Direito Inter-
nacional nem codificado se acha, estando impossibilitado, portanto, de atuar
coercitivamente.
O Estado totalitário, seguindo as pegadas de Hans Kelsen, considerou como
Direito apenas as normas estatais, sendo confrontado pela doutrina corporativis-
36 ta cristã, que afirma a necessidade de o Estado atuar só supletivamente perante
os indivíduos e as sociedades menores. No contexto desta doutrina, o Estado não
seria a única fonte de normas jurídicas.
TEMA 3
Na verdade, Estado e Direito são irmãos xifópagos, predestinados a viver uni- DIREITO INTERNACIONAL
E COMÉRCIO EXTERIOR
dos, sem poderem separar-se. Se, na verdade, a idéia de um direito difuso, es-
palhado na comunidade primitiva, representado pelo totem ou mana, entidade
espiritual que governaria os destinos da comunidade, pode ser uma hipótese
encantadora para explicar a precedência do Direito sobre o Estado, na verdade,
quando surge o Estado, tal entidade passa a ser a fonte suprema do Direito, supe-
rior em poder e eficácia a todas as outras, embora a existência destas não possa
ser negada.

3.1.2 O DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO


De acordo com Ledel (2004), para compreender adequadamente o tema ,
“faz-se necessário, primeiramente, fazer uma análise, ainda que breve, de alguns
pontos gerais de Direito Internacional Privado, visando estabelecer o âmbito de
aplicação dessa área do direito”.
Assim, segundo José Maria Rossani Garcez, o direito internacional privado,
em síntese, pode ser apresentado como o conjunto de normas ou princípios apli-
cados ou admitidos por cada Estado, destinadas a regular os direitos, atos ou fa-
tos que tenham conexão internacional e se destinem a ter efeitos entre pessoas
naturais ou jurídicas privadas ou a entidades públicas ou privadas no exercício
de atividades jusprivatistas.
O direito internacional privado, apesar da denominação, é um conjunto de
normas de direito público e interno. Interno porque se compõe de normas que
cada país adota voluntariamente, como Estado soberano que é. E é direito pú-
blico porque consiste em uma das espécies de normas de superdireito, ou so-
bredireito, que não disciplinam diretamente o comportamento dos homens em
sociedade, mas a aplicação de outras normas.
Quanto ao objeto do direito internacional privado, entende Jacob Dolinger
que a disciplina envolve as seguintes matérias: a nacionalidade, a condição jurí-
dica do estrangeiro, o conflito de leis e o conflito de jurisdições.
Já para a corrente liderada por Irineu Strenger, a finalidade principal do direi-
to internacional privado seria a normatividade selecionadora para a aplicação
da lei estrangeira em determinado país e da lei nacional deste país a casos que
comportem algum elemento de conexão com mais de uma legislação nacional,
algum elemento de estraneidade.
Enfim, as normas de conflito elaboradas pelos Estados soberanos visam facili-
tar a aplicação e disciplinar da forma mais adequada o relacionamento interna-
cional, oferecendo aos operadores do direito os princípios regulamentares que
permitam a aplicação da legislação estrangeira ou nacional a casos que guardem
alguma conexão internacional. Com isso busca-se evitar a possibilidade de jul-
gamentos contraditórios nos diferentes Estados, capazes de disciplinar a mesma
relação social.
As normas de direito internacional privado indicam o direito aplicável às di-
versas situações jurídicas conectadas a mais de um sistema legal. Essas normas
são constituídas pelos elementos de conexão, que são expressões legais, de con-
teúdos variáveis, que têm o efeito de indicar e permitir a determinação do direito
ou sistema legal que deve tutelar uma determinada relação jurídica.
37
No sistema de direito internacional privado brasileiro, são estes os principais
elementos de conexão: a) domicílio; b) nacionalidade; c) residência; d) lugar do
TEMA 3 nascimento ou falecimento; e) lugar da constituição da pessoa jurídica; f ) lugar
DIREITO INTERNACIONAL
E COMÉRCIO EXTERIOR da situação do bem; g) lugar da constituição ou execução da obrigação; h) lugar
em que se encontre o proponente do contrato; i) lugar da prática do ato ilícito.
Assim, observa-se que apesar de existir o princípio de que as leis não valem
ou não produzem efeitos ultraterritorialmente, na verdade ele é mitigado, pois
vários são os ordenamentos jurídicos que inserem normas e mecanismos rela-
tivos ao seu direito internacional privado , propiciando formas de aplicação em
seu território da legislação estrangeira e estabelecendo critérios para que suas
leis também possam aplicar-se em outros países, quando for o caso., de acordo
com Daiana Vasconcellos.

3.2 ATOS INTERNACIONAIS


Segundo definiu a Convenção de Viena do Direito dos Tratados, de 1969, em seu
artigo 2, alínea a, tratado internacional é “um acordo internacional concluído por
escrito entre Estados e regido pelo Direito Internacional, quer conste de um ins-
trumento único, quer de dois ou mais instrumentos conexos, qualquer que seja
sua denominação específica” .
No Brasil, o Ato internacional necessita, para a sua conclusão, da colaboração
dos Poderes Executivo e Legislativo. Segundo a vigente Constituição Brasileira,
celebrar tratados, convenções e atos internacionais é competência privativa do
Presidente da República (art. 84, inciso VIII), embora estejam sujeitos ao referen-
do do Congresso Nacional, a quem cabe, ademais, resolver definitivamente sobre
tratados, acordos e atos internacionais que acarretem encargos ou compromissos
gravosos ao patrimônio nacional (art. 49, inciso I). Portanto, embora o Presidente
da República seja o titular da dinâmica das relações internacionais, cabendo-lhe
decidir tanto sobre a conveniência de iniciar negociações, como a de ratificar o
ato internacional já concluído, a interveniência do Poder Legislativo, sob a forma
de aprovação congressual, é, via de regra, necessária.
A tradição constitucional brasileira não concede o direito de concluir tratados
aos Estados-membros da Federação. Nessa linha, a atual Constituição diz compe-
tir à União, “manter relações com Estados estrangeiros e participar de organiza-
ções internacionais” (art. 21, inciso I). Por tal razão, qualquer acordo que um Esta-
do federado ou Município deseje concluir com Estado estrangeiro, ou Unidade
dos mesmos que possua poder de concluir tratados, deverá ser feito pela União,
com a intermediação do Ministério das Relações Exteriores, decorrente de sua
própria competência legal.
Cabe registrar, finalmente, que, na prática de muitos Estados, vicejou, por vá-
rias razões, o costume de concluir certos tratados sem aprovação legislativa.
Eles passaram a ser conhecidos como acordos em forma simplificada ou acor-
dos do Executivo. As Constituições brasileiras, inclusive a vigente, desconhecem
tal expediente.

3.3 SISTEMA BRASILEIRO DE DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO


Existem estudos na área do Direito Internacional, abrangendo tópicos foca-
dos nas áreas de comércio exterior e suas atividades complementares (câmbio,
38 seguros, financiamentos, tributação, etc).
Assim, o estudo de Introdução ao Direito Aduaneiro, produzido por Leonar-
do Correia Lima Macedo, Auditor Fiscal da Receita Federal, se nos afigura como
instrumento esclarecedor e de apoio no entendimento do Direito Internacional TEMA 3
DIREITO INTERNACIONAL
aplicável à matéria. E COMÉRCIO EXTERIOR

Devido às especificidades de princípios e normas relativas ao comércio exte-


rior, alguns autores argumentam sobre a existência de um Direito Aduaneiro.

3.3.1 Conceituação do Direito Aduaneiro


Vejamos como o conceitua José Lence Carluci: “Na esteira de Idelfonso Sán-
chez González podemos conceituar o Direito Aduaneiro como o conjunto de nor-
mas e princípios que disciplinam juridicamente a política aduaneira, entendida
esta como a intervenção pública no intercâmbio internacional de mercadorias e
que constitui um sistema de controle e de limitações com fins públicos”.

3.3.2 Objetivo do Direito Aduaneiro


O objetivo deste ramo do Direito seria disciplinar os controles de ingressos e
saídas de veículos, pessoas e mercadorias, em harmonia com os tratados inter-
nacionais e, ainda, atender aos interesses pátrios de intervenção na política de
comércio exterior.
Juridicamente, seria composto pelo conjunto de normas internas aplicáveis
às importações e exportações, assim como pelos tratados internacionais sobre
comércio exterior. Neste sentido, apresenta uma ambivalência entre normas in-
ternas e internacionais.
Roosevelt Baldomir Sosa, citando Eduardo
Raposo de Medeiros, lembra: “Uma questão
está fora de dúvida: o Direito Aduaneiro não
tem nada a ver com o Direito Fiscal, quer pelo
seu próprio contorno conceitual, quer pela es-
pecificidade da ação em função dos regimes
mais diversos devido a espaços econômicos,
aos tipos de acordos internacionais, a procedimentos normalizados ou simpli-
ficados de facilitação do comércio externo, a suportes documentais de decla-
ração das mercadorias, etc. Por outras palavras, o Direito Aduaneiro tem particu-
laridades técnicas e econômicas susceptíveis de considerar os seus mecanismos
jurídicos de intervenção no comércio internacional, como um conjunto à parte,
com uma técnica e originalidades independentes do Direito Fiscal, e com uma
terminologia própria. Daí espraiar-se pela nomenclatura pautal em conexão com
questões da taxação em eventuais alternativas de aplicação dos regimes geral
ou preferencial, passando pelos regimes suspensivos de conteúdo econômico
das mercadorias e regime aduaneiro dos meios de transporte, e terminando no
contencioso aduaneiro”.
Diante do exposto, fica claro que os direitos exercidos por um país na política
de comércio exterior são, na maioria das vezes, direitos aduaneiros. É o caso, por
exemplo, dos direitos antidumping e compensatório.
Supondo a existência de tal ramo do direito, devemos delimitar suas vertentes.
Ainda segundo Roosevelt, as vertentes que contribuem para a formação do Di-
reito Aduaneiro seriam: “Direito Interno: Regime legal das operações de Comér-
cio Exterior (controle administrativo); Regime cambiário sobre pagamentos e 39
recebimentos das operações de Comércio Exterior (controle do valor aduaneiro);
Regimes fiscal e de controle aduaneiro sobre pessoas que demandam ou saem
TEMA 3 do território aduaneiro e, principalmente, sobre os fluxos de transporte e de mer-
DIREITO INTERNACIONAL
E COMÉRCIO EXTERIOR cadorias, objeto de operações de Comércio Exterior, inclusive ingressos tempo-
rários; Regime legal de combate às contravenções em matérias alfandegária e
penal”.

3.4 DIREITO INTERNACIONAL E DIREITO ADUANEIRO


Fazem parte do Direito Internacional os acordos sobre tarifação ou tributação
das mercadorias, objeto do comércio exterior, os acordos sobre certificação de
origem das mercadorias, os acordos sobre valoração de mercadorias, os acordos
sobre classificação de mercadorias e os acordos de cooperação internacional em
matéria aduaneira.
Devido à sua forte característica internacional, o Direito Aduaneiro tem uma
tendência natural de universalizar-se, ou seja, de produzir normas, cujo principal
objetivo seja harmonizar procedimentos em nível mundial do comércio exte-
rior.
No Brasil, tal ramo do direito não é reconhecido como autônomo e para muitos
é considerado um sub-ramo do Direito Tributário. Este não reconhecimento leva a
um conflito de competências (Ministério da Fazenda, Ministério do Desenvolvi-
mento, Indústria e Comércio Exterior e Ministério das Relações Exteriores), o que
contribui para a ineficácia de políticas no setor.
Independentemente do reconhecimento, no Brasil, da existência do direito
aduaneiro como um ramo autônomo, existem poucos profissionais qualificados
para assuntos aduaneiros.
Na imensa maioria dos casos, os profissionais que atuam no setor são especia-
listas em outras áreas, dificultando excessivamente o entendimento das regras
de comércio exterior e, principalmente, da problemática aduaneira.

40
ANOTE
ANOTE
TEMA 4

BLOCOS ECONÔMICOS E
ORGANISMOS REGIONAIS
TEMA 4 – BLOCOS ECONÔMICOS E
TEMA 4
BLOCOS ECONÔMICOS E
ORGANISMOS REGIONAIS
ORGANISMOS REGIONAIS

Objetivos do Tema
• Oferecer a oportunidade de conhecer os diversos blocos econômicos regio-
nais existentes no mundo, suas finalidades, seus participantes e seus obje-
tivos;
• Dar a conhecer os principais debates levantados na opinião pública que
mexem com a política de sustentação destes blocos.

4.1 BLOCOS ECONÕMICOS


Os blocos econômicos foram criados com a finalidade de desenvolver o co-
mércio de terminada região, segundo Maia (1999:117). Para alcançar esse objeti-
vo, eliminam as barreiras alfandegárias, o que torna o custo do produtos menor.
Este tipo de integração regional visa criar melhor poder de compra dentro do
bloco econômico, melhorando o nível de vida de sua população. Assim, como
os mercados domésticos passam a ser disputados também por empresas dos
outros países, membros do bloco, cresce a concorrência, o que acaba implicando
em uma melhoria na qualidade dos produtos e redução nos custos de produ-
ção.
Desta forma, com a economia mundial globalizada, a tendência comercial é
a formação de blocos econômicos por todo o mundo. Adotam redução ou isen-
ção de impostos ou de tarifas alfandegárias e buscam soluções em comum para
problemas comerciais. Em tese, o comércio entre os países constituintes de um
bloco econômico aumenta e gera crescimento econômico para os países.
Geralmente estes blocos são formados por países vizinhos ou que possuem
afinidades culturais ou comerciais.
Esta é a nova tendência mundial pois, cada vez mais, o comércio entre blocos
econômicos cresce. Economistas afirmam que ficar de fora de um bloco econô-
mico é viver isolado do mundo comercial.
Segundo Balassa (1964:13), cinco são as fases para a constituição de um bloco
econômico, que podem evoluir até atingir a integração total:

• Zona de Livre Comércio


Sistema no qual as tarifas alfandegárias são zero para os países que integram
uma zona de livre comércio, embora cada país tenha um nível diferente de tarifas
para os países externos ao acordo de livre comércio.
Cada país-membro mantém a ampla liberdade no que se refere à sua política
interna, bem como no tocante à política comercial com os países não associados.

• União Aduaneira
Também conhecida como União Alfandegária, é um acordo entre dois ou
mais países que visa a eliminação das barreiras alfandegárias, estabelecendo
44 uma tarifa comum externa em relação aos países não-membros. O acordo, em
geral, abrange taxas de importação e exportação e quaisquer encargos ou cotas
que tendem a restringir o comércio. Este tipo de integração pode limitar-se a um
grupo de produtos, como ferro e aço, ou constituir uma integração econômica TEMA 4
BLOCOS ECONÔMICOS E
completa, tal como existia no Mercado Comum Europeu. ORGANISMOS REGIONAIS

• Mercado Comum
O Mercado Comum é um tipo de integração econômica que vai além do que
estabelece a União Aduaneira, não admitindo restrições aos fatores de produção,
isto é, capital e trabalho.
• União Econômica
Extensão do Mercado Comum, a União Econômica procura harmonizar as po-
líticas econômicas nacionais. Assim, os países membros mudam suas legislações,
para torna-las coerentes com os princípios estabelecidos neste tipo de bloco
econômico.
• Integração Econômica Total
Neste estágio, os países componentes do bloco concordam com as condi-
ções estabelecidas na união econômica e vão além. Adotam uma política mo-
netária comum.
Os países membros passam a adotar, também, uma política monetária, fiscal,
social e anticíclica uniforme, bem como delega-se a uma autoridade supra-na-
cional poderes para elaborar e aplicar essas políticas. As decisões dessa autori-
dade devem ser acatadas por todos os Estados-Membros.

4.2 PRINCIPAIS BLOCOS ECONÔMICOS


4.2.1 UNIÃO EUROPÉIA (UE)
Dentre os blocos econômicos formados, destacamos em primeiro lugar, a
União Européia (UE). É um bloco econômico, político e social de 25 países euro-
peus que participam de um projeto de integração política e econômica.

4.2.1.1 Países participantes


Os países integrantes desse bloco, atualmente, são: Alemanha, Áustria, Bélgi-
ca, Chipre, Dinamarca, Eslováquia, Eslovênia, Espanha, Estônia, Finlândia, França,
Grécia, Hungria, Irlanda, Itália, Letônia, Lituânia, Luxemburgo, Malta, Países Baixos
(Holanda), Polônia, Portugal, Reino Unido, República Checa e Suécia.
Estes países são politicamente democráticos, com um Estado de Direito. Ob-
serva-se que a maioria dos dez últimos países que aderiram ao bloco, foram pa-
íses comunistas. Com o total de 25 países, em 2004 o bloco passou a ter uma
população de 455 milhões de habitantes e um PIB de US$ 12,56 trilhões.

4.2.1.2 Tratados que definiram a constituição jurídica, política e econômica


da UE
Os tratados que definem a União Européia são: o Tratado da Comunidade Eu-
ropéia do Carvão e do Aço (CECA), o Tratado da Comunidade Econômica Euro-
péia (CEE), o Tratado da Comunidade Européia da Energia Atômica (EURATOM)
e o Tratado da União Européia (UE), conhecido também pelo nome de Tratado 45
de Maastricht. Este tratado, assinado em 7 de fevereiro de 1992 na cidade ho-
landesa de Maastricht, estabelece os fundamentos da integração política, que é
TEMA 4 sustentada por três pilares: o mercado único constituído pela União Econômica
BLOCOS ECONÔMICOS E
ORGANISMOS REGIONAIS e Monetária e mais dois pilares inter-governamentais constituídos pela Política
Externa e Segurança Comum (PESC) e Justiça e Assuntos Internos (JAI).

4.2.1.3 Instituições básicas da União Européia


A União Européia não é uma federação, nem é uma organização de coope-
ração entre governos como as Nações Unidas. Possui, de fato, um caráter único.
Seus Estados membros congregaram as suas soberanias em algumas áreas para
ganharem uma força e uma influência no mundo que não poderiam obter isola-
damente.
Entenda-se por congregação de soberanias o fato de os Estados membrosde-
legarem alguns de seus poderes a instituições comuns que criaram, de modo a
assegurar que assuntos de interesse comum possam ser decididos democratica-
mente no âmbito da Comunidade Européia.
Desta forma, para alcançar seus objetivos, a União Européia conta com três
instituições básicas:

• O Parlamento Europeu;
O Parlamento possui três funções principais: partilha o poder legislativo com
o Conselho; exerce o controle democrático de todas as instituições da União
Européia, especialmente da Comissão; e partilha com o Conselho, a autoridade
sobre o orçamento da União Européia, o que significa que pode influenciar as
despesas relativas ao bloco.
O Parlamento Europeu tem sedes na França, na Bélgica e em Luxemburgo.

• A Comissão Européia;
É o órgão executivo da União Européia. A Comissão é a instituição politica-
mente independente que representa e salvaguarda os interesses da União Eu-
ropéia. Ela é a força impulsionadora do sistema institucional: propõe legislação,
políticas, programas de ação e é responsável pela execução das decisões do Par-
lamento e do Conselho.

• O Conselho da União Européia,


O Conselho é o principal órgão de tomada de decisões da União Européia,
tendo sido instituído através dos tratados de fundação da década de 1950-1960.
Representa os Estados membros e, nas suas reuniões participa um ministro do
governo nacional de cada um dos países do bloco. A decisão de qual o ministro
que irá participar depende do tema a ser tratado.

4.2.1.4 A Moeda única: o euro


Com o propósito de unificação monetária e facilitação do comércio entre os
países membros, a União Européia adotou o euro como moeda única. A partir
de janeiro de 2002, doze países ou Estados-membros, dentre os 15 que então a
46 constituíam, adotaram o Euro para livre circulação. Esses países são: Alemanha,
Áustria, Bélgica, Espanha, Finlândia, França, Grécia, Irlanda, Itália Luxemburgo, Pa-
íses Baixos e Portugal. Grã-Bretanha, Suécia e Dinamarca ficaram de fora da zona
do euro por opção política. TEMA 4
BLOCOS ECONÔMICOS E
ORGANISMOS REGIONAIS

4.2.1.5 Objetivos da União Européia


Os objetivos prioritários da União Européia são:
• Promover a unidade política e econômica da Europa;
• Melhorar as condições de vida e de trabalho dos cidadãos europeus;
• Melhorar as condições de livre comércio entre os países-membros;
• Reduzir as desigualdades sociais e econômicas entre as regiões;
• Fomentar o desenvolvimento econômico dos países em fase de crescimento;
• Proporcionar um ambiente de paz, de harmonia e de equilíbrio na Europa.

4.2.2 MERCADO COMUM DO SUL - MERCOSUL


O Mercado Comum do Sul ou Mercado Comum do Cone Sul, também co-
nhecido de forma simplificada como MERCOSUL , foi instituído pelo Tratado de
Assunção, assinado em 26.03.91, pela Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai, com o
objetivo de promover o desenvolvimento dos quatro países mediante a confor-
mação de um espaço econômico ampliado e, por via de conseqüência, de uma
inserção mais competitiva na economia internacional.
A concepção do bloco evoluiu a partir do programa de aproximação econô-
mica entre Brasil e Argentina de meados dos anos 80 e tem dois grandes pilares:
a democratização política e a liberalização econômico-comercial.

4.2.2.1 A base legal do MERCOSUL


A base legal do MERCOSUL no Brasil está contida nos seguintes diplomas legais:
• Decreto nº 350, de 21.11.91, que promulga o Tratado de Assunção.
• Decreto nº 922, de 10.09.93, que promulga o Protocolo de Brasília, assinado
em 17.12.91, que estabelece as distintas etapas e procedimentos para a solu-
ção de controvérsias no MERCOSUL.
• Decreto nº 1.901, de 09.05.96, que promulga o Protocolo de Ouro Preto, assi-
nado em 17.12.94, que definiu a estrutura institucional do MERCOSUL e con-
feriu ao MERCOSUL personalidade jurídica de Direito Internacional.

4.2.2.2 Objetivo do MERCOSUL


O objetivo principal do MERCOSUL é a constituição de um Mercado Comum
entre os países integrantes e, para tanto, se preocupa com:
a) eliminação de barreiras tarifárias e não-tarifárias no comércio entre os países
membros;
b) adoção de uma Tarifa Externa Comum (TEC);
A Tarifa Externa Comum (TEC) é o pilar da União Aduaneira. A TEC, composta
das alíquotas de importação e da Nomenclatura Comum do MERCOSUL - NCM
foi implantada pelos Estados-Partes, a partir de 01.01.95. 47
Em função da TEC, todos os produtos importados de países não-participantes
do MERCOSUL, estão sujeitos à mesma alíquota de imposto de importação ao
TEMA 4 serem internalizados em qualquer dos Estados-Partes.
BLOCOS ECONÔMICOS E
ORGANISMOS REGIONAIS c) coordenação de políticas macroeconômicas;
d) livre comércio de serviços;
e) livre circulação de mão-de-obra;
f ) livre circulação de capitais.

4.2.2.3 Procedimentos indispensáveis à Exportação


A empresa que quiser exportar para o MERCOSUL deve verificar a classificação
tarifária da sua mercadoria (NCM) e se esta consta da lista do Regime de Adequa-
ção do país de destino, para conhecer a alíquota a ser aplicada. A empresa deve
fazer essa consulta porque, em princípio, todos os participantes da área podem
importar e exportar entre si sem gravames tarifários. Só os produtos constantes
da lista do Regime de Adequação é que são tarifados. Daí a necessidade do exa-
me prévio.
O Registro de Exportação, que é um documento básico de exportação, deverá
conter o Código do Acordo de Complementação Econômica nº. 18 (ACE 18), que
poderá ser verificado na tabela do SISCOMEX.
Finalmente, o exportador deverá providenciar o Certificado de Origem a ser
enviado ao importador, emitido por entidades de classe privadas, que tenham
jurisdição federal ou estadual, relacionadas na Portaria Interministerial MF-MICT-
MRE nº. 11, de 21.01.97. Esse documento comprova que a mercadoria foi produ-
zida no país de origem, integrante do bloco econômico.

4.2.2.4 Estrutura do Mercosul


• Conselho do Mercado Comum
Órgão superior do bloco, formado pelos ministros de Economia e Relações
Exteriores que trata da condução do processo de integração e dos acordos com
outros países, organismos e blocos econômicos.

• Grupo do Mercado Comum


Órgão executivo do Mercosul, formado por técnicos e especialistas em inte-
gração. Suas funções são as de propor projetos de decisão do Mercado Comum
e fixar programas de trabalho que garantam avanços.

• Comissão de Comércio do Mercosul


Órgão de assistência do Grupo do Mercado Comum, com o objetivo de cuidar
da aplicação dos instrumentos de política comercial.

• Comissão Parlamentar Conjunta


Órgão representativo dos Parlamentos dos países do Mercosul.

48
• Foro Consultivo Econômico-Social
Órgão representativo dos setores econômicos, sociais, integrado por entida-
TEMA 4
des empresariais e trabalhistas. BLOCOS ECONÔMICOS E
ORGANISMOS REGIONAIS

• Secretaria Administrativa do Mercosul


Órgão de apoio operacional, responsável pela prestação de serviços aos de-
mais órgãos do bloco, fornecendo documentos e publicações das decisões to-
madas no Mercosul.

4.2.2.5 O Mercosul e a consolidação da zona de livre comércio


No ano de 1997, o MERCOSUL deu continuidade aos esforços para a consoli-
dação da zona de livre comércio e para o aprofundamento da união aduaneira.
Nesse sentido, tentando melhor aproximação internacional, quer seja com blo-
cos econômicos, quer seja com países, o MERCOSUL avançou na discussão de
diversos temas, com destaque para:
a) código aduaneiro e gestão aduaneira;
b) circulação intra-zona de mercadorias sujeitas ao pagamento de Tarifa Externa
Comum (TEC);
c) medidas e restrições não-tarifárias;
d) regulamentos técnicos;
e) regime automotor.
f ) regime açucareiro. regime de adequação.
g) anti-dumping e subsídios
h) defesa do consumidor.
i) políticas públicas que distorcem a competitividade.
j) regimes especiais de importação.
k) compras governamentais.
l) serviços;
m) propriedade intelectual.

4.2.2.6 Relacionamento externo do MERCOSUL


O MERCOSUL é pessoa jurídica de direito internacional. Assim, o bloco coor-
dena a atuação das delegações dos governos dos Estados-Partes nos distintos
foros econômico-comerciais internacionais, bem como instrui as respectivas
representações permanentes em organismos econômicos internacionais para
a coordenação de posições e atuação conjunta em temas relacionados com a
política comercial comum da União Aduaneira.

4.2.2.7 Regime de Origem para o Comércio Intra-MERCOSUL


Para que o produto brasileiro circule livre de tarifa de importação dentro do MERCOSUL
deve preencher determinados requisitos para ser considerado originário de um dos Estados-
Partes,e,para tanto,deve estar acompanhado do Certificado de Origem do MERCOSUL.
49
De acordo com o estabelecido no Regulamento de Origem do MERCOSUL, as
mercadorias que tiverem que cumprir com o índice de nacionalização deverão
TEMA 4 observar o percentual de 60%. Este cálculo é feito considerando que o preço CIF
BLOCOS ECONÔMICOS E
ORGANISMOS REGIONAIS dos materiais importados não deve exceder 40% do preço FOB de exportação
da mercadoria.
As mercadorias dos setores químico e siderúrgico, de informática e de teleco-
municações, deverão cumprir os requisitos específicos previstos no ACE nº. 18.

4.2.2.8 Como Solucionar Dificuldades


O exportador brasileiro que se sentir prejudicado por alguma restrição im-
posta à sua mercadoria por parte de qualquer país-membro, deverá dar conhe-
cimento de suas dificuldades, entre outros, ao Departamento de Negociações In-
ternacionais da SECEX14 que submeterá o assunto à Seção Nacional da Comissão
de Comércio do MERCOSUL (CCM), para exame.
À parte destas colocações, cabe ressaltar, conforme descreve Ratti (2001:498),
que a mudança do regime cambial brasileiro, com a desvalorização do real frente
ao dólar, em 15/01/1999, contribuiu para o surgimento de uma crise no Mercosul.
Com a desvalorização os preços dos produtos exportáveis brasileiros torna-
ram-se mais baratos em termos de dólar, causando preocupações na Argentina
com a possibilidade de uma “invasão” de produtos brasileiros. Pressionadas por
setores que se sentiram prejudicados, as autoridades argentinas adotaram uma
série de medidas protecionistas. Surgiram restrições contra vários produtos bra-
sileiros: tecidos, calçados, papel, produtos siderúrgicos, frango e açúcar.

4.2.3 NAFTA - ACORDO DE LIVRE COMÉRCIO DA AMÉRICA DO NORTE


O Acordo de Livre Comércio da América do Norte (North American Free Trade
Agreement – NAFTA) teve início em 1988 com a participação dos EUA e Canadá.
Os dois países firmaram Acordo de Liberalização Econômica tendo sido criada
uma zona de livre comércio entre os países- membro. O acordo foi assinado em
1991. O México aderiu ao bloco em 13 de agosto de 1992.
Este projeto entrou em vigor em 01 de janeiro de 1994 tendo sido acertado
um prazo de 15 anos para a total eliminação das barreiras alfandegárias entre os
três países-membros, ficando facultada, a todos os Estados da América Central
e do Sul, a livre adesão ao bloco.

4.2.3.1 Objetivos do NAFTA


O Acordo NAFTA visa promover a adequada e efetiva proteção aos direitos de
propriedade intelectual, estabelecer mecanismos para solução de controvérsias
e fomentar uma rede trilateral e regional de cooperação na expansão dos bene-
fícios conseguidos com o acordo.
Na opinião de Manoel Ruiz, “o NAFTA obteve bons resultados com o comércio
regional no hemisfério norte do Continente Americano, sendo um projeto para
fazer frente à Comunidade Européia, e para ajudar a enfrentar a concorrência
representada pela economia japonesa e pelo bloco econômico europeu.”
De acordo com os dados publicados por esse autor, em novembro de 2005,“a

50 Secretaria de Comércio Exterior (SECEX) do Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior


14
população do NAFTA abriga uma população de 417.600.000 de habitantes, com
um PIB superior a US$ 11 trilhões, o qual gera US$ 1,5 trilhão em exportações e
US$ 1,8 trilhão em importações. O acordo estabelece a livre circulação de merca- TEMA 4
BLOCOS ECONÔMICOS E
dorias e serviços entre os países-membros, com a eliminação das barreiras legais ORGANISMOS REGIONAIS
e das tarifas alfandegárias, limitadas somente à área comercial. O objetivo é am-
pliar os horizontes de mercado dos países-membros e maximizar a produtivida-
de interna de cada país. O NAFTA não pretende a unificação total das economias
dos países-membros, ao contrário da União Européia.”

4.2.3.2 Desnível sócio-econômico entre os membros


O NAFTA – diz ainda Manoel Ruiz - gerou muita polêmica em relação à dife-
rença socioeconômica entre o (México) e (EUA e Canadá) e enfrenta grande resis-
tência para consenso em alguns acordos, pois o México por ser o país mais pobre,
com a menor renda per capita, maior índice de analfabetismo e menor expecta-
tiva de vida entre os países-membros, pode oferecer mão-de- obra mais barata e
aumentar a imigração mexicana, tudo isso preocupa os EUA e Canadá. Por outro
lado, o México está preocupado com o intercâmbio tecnológico, automatização
e a robotização da sua indústria, que poderia aumentar o desemprego, e ainda
com uma economia mais fraca não teria condições de competir com o restante
do bloco.

4.2.4 Associação Latino-Americana de Integração - ALADI


A Associação Latino-Americana de Integração - ALADI - foi instituída pelo Tra-
tado de Montevidéu, em 12.08.80, para dar continuidade ao processo de integra-
ção econômica iniciado, em 1960, pela Associação Latino-Americana de Livre Co-
mércio - ALALC. Este processo visa à implantação, de forma gradual e progressiva,
de um mercado comum latino-americano, caracterizado, principalmente, pela
adoção de preferências tarifárias e pela eliminação de restrições não-tarifárias.

4.2.4.1 Membros-participantes divididos em três categorias


A ALADI reúne doze países classificados em três categorias, de acordo com
suas características econômico-estruturais:
• Países de Menor Desenvolvimento Econômico Relativo (PMDER): Bolívia,
Equador e Paraguai
• Países de Desenvolvimento Intermediário (PDI): Chile,Colômbia, Peru, Uru-
guai e Venezuela.
• Demais países: Argentina, Brasil e México

4.2.4.2 Tipos de Acordo no Âmbito da ALADI


Os Acordos podem ser de Alcance Parcial ou Regional, diferindo entre si pela
totalidade ou não de signatários entre os países-membros da Associação.
Os Acordos de Alcance Parcial – (AAP) , são aqueles que não contam com a
participação da totalidade dos países-membros da ALADI, sendo utilizados para
aprofundar o processo de integração regional, através de sua progressiva multi-
lateralização.
Para exportar para algum país da ALADI, a empresa deve verificar se o produto 51
em questão é objeto de preferência em algum Acordo firmado com o Brasil e seu
respectivo código (os códigos constam de tabela existente no SISCOMEX). Deve
TEMA 4 verificar também se o produto em questão se encontra negociado, assim como
BLOCOS ECONÔMICOS E
ORGANISMOS REGIONAIS sua respectiva classificação em NALADI/SH15 (classificação tarifária da ALADI).
Por fim, deve providenciar a emissão do Certificado de Origem junto a uma das
entidades credenciadas e enviá-lo ao importador. Em caso de dúvida quanto à
classificação, contatar a Secretaria da Receita Federal de sua região.

4.2.4.3 Certificado De Origem


O Certificado de Origem é emitido pelas Federações de Comércio, Indústria e
Agricultura e algumas Associações Comerciais, habilitadas, junto à ALADI, para
tal fim.

4.2.4.4 Regime de origem da ALADI x MERCOSUL


O Regime de Origem da ALADI é mais flexível que o do MERCOSUL, pois per-
mite que os produtos tenham 50%, no mínimo, de conteúdo nacional para todos
os países, exceto para os de menor desenvolvimento econômico, que poderão
ter 40%.
No Regime de Origem do MERCOSUL é necessário que o produto apresente
60% de conteúdo regional.

4.2.4.5 Convênio de Créditos Recíprocos – ALADI


Em 1965 foi subscrito pelo Brasil, na cidade de México, México, o Acordo Geral
de Créditos Recíprocos, o CCR, com vistas a estimular a cooperação financeira La-
tino-Americana, facilitar e expandir o comércio regional de bens e serviços, redu-
zir as transferências de divisas entre os Bancos Centrais dos países convenentes.
Na verdade tal convênio veio suprir a falta de moeda forte, o dólar americano,
pois a moeda, embora grafada em dólares é escritural e não desembolsada no
momento em que a operação é liquidada.
Esses convênios se destinam ao registro de pagamentos correspondentes a
operações diretas de qualquer natureza que se efetuem entre o Brasil e aqueles
países conveniados, com reembolso através do Banco Central.
Entretanto, a operação só é considerada segura se tiver uma garantia bancá-
ria. Uma exportação em cobrança não oferece a garantia dada pelo Convênio
embora transitada dentro do mesmo, mas sem a garantia bancária. Ocorre que
os Bancos Centrais garantem os bancos conveniados, o que não acontece com
outras empresas não financeiras.

4.2.5 Comunidade Andina (CAN)


É uma organização sub-regional com personalidade jurídica internacional
composta por Bolívia, Colômbia, Equador, Peru e Venezuela.
O principal objetivo da CAN é contribuir para o desenvolvimento da região

Em 1985, o Comitê de Representantes da ALADI adotou a Nomenclatura Aduaneira da Associação Latino-Americana de Integração
15

(NALADI), como base comum dos Acordos. A NALADI foi criada utilizando a Nomenclatura do Conselho de Cooperação Aduaneira (NCCA).
Era a NALADI/NCCA, que continha 7 dígitos. Posteriormente, o Sistema NCCA foi substituído pelo Sistema Harmonizado de Designação e
Codificação de Mercadorias (SH), aprovado pelo Conselho de Cooperação Aduaneira, com o objetivo de atender a todos os segmentos do
52 comércio, como instrumento fiscal ou gerador de dados para estatísticas de produção, comércio exterior e transporte, além de facilitar a
compatibilização de estatísticas internacionais e simplificar as negociações bilaterais e multilaterais.
mediante a integração econômica e social dos países membros e a gradual for-
mação de um mercado comum latino-americano.
TEMA 4
BLOCOS ECONÔMICOS E
ORGANISMOS REGIONAIS
4.2.6 Mercado Comum do Caribe (CARICOM)
Pelo tratado assinado em 30/04/1968 foi constituída a Associação de Livre
Comércio do Caribe, mais conhecida por CARIFTA (Caribbean Free Trade Associa-
tion). Era composta de quatro países (Barbados, Guiana, Jamaica e Trinidad-Toba-
go) e sete territórios (Antígua, Dominica, Granada, Montserrat, San Kitts-Nevis-
Anguilla, Santa Lúcia e São Vicente). Em 01/05/1971, houve a adesão de Belize
(antiga Honduras Britânicas).
A Associação foi formada com o objetivo de expandir e diversificar o comércio
intrazonal através da eliminação das barreiras aduaneiras, bem como promover
o desenvolvimento equilibrado e progressivo das economias da área.
Em 04/07/1973, Barbados, Guiana, Jamaica e Trinidad-Tobago firmam o trata-
do que criava o Mercado Comum do Caribe ou CARICOM (Caribbean Common
Market), em substituição à CARIFTA.

4.2.5 Cooperação Econômica da Ásia e do Pacífico (APEC)


A APEC (Asia-Pacific Economic Cooperation) foi criada no ano de 1989 na Aus-
trália, inicialmente apenas como um fórum de conversações informais entre os
países membros da ASEAN (Associação das Nações do Sudeste Asiático) e seus
parceiros econômicos da região do Pacífico, como EUA e Japão. Porém, só no
ano de 1993 adquiriu características de um bloco econômico na Conferência de
Seattle (Estados Unidos), quando os membros se comprometeram a transformar
o Pacífico em uma área de livre comércio.

4.2.5.1 Por que foi criada a APEC


A criação da APEC surgiu em decorrência de um intenso desenvolvimento
econômico ocorrido na região da Ásia e do Pacífico, propiciando uma abertu-
ra de mercado entre 22 países mais Hong Kong (China), além da transforma-
ção da área do sudeste asiático em uma área de livre comércio nos anos que
antecederam a criação da APEC, causando um grande impacto na economia
mundial. Um aspecto estratégico da aliança, é aproximar a economia norte-
americana dos países do Pacífico, a para contrabalançar com as economias do
Japão e de Hong Kong.

4.2.5.2 Aspectos positivos da Apec


Entre os aspectos positivos da criação da APEC estão o desenvolvimento das
economias dos países-membros que expandiram seus mercados, sendo que
hoje em dia, além de produzirem sua mercadoria, correspondem a 46% das ex-
portações mundiais, além da aproximação entre a economia norte- americana e
os países do Pacífico e do crescimento da Austrália como exportadora de maté-
rias-primas para outros países membros do bloco.
Como aspecto negativo, pode-se salientar que um dos maiores problemas da
APEC, senão o maior, é a grande dificuldade em fazer coincidir os diferentes in-
teresses dos países-membros e daqueles que estão ligados ao bloco, como Peru,
Nova Zelândia, Filipinas e Canadá. 53
O bloco reúne uma população de 2.559,3 milhões de habitantes, alcançando
um PIB de US$ 18,6 trilhões, exportações no valor de US$ 2,9 trilhões e importa-
TEMA 4 ções de US$ 3,1 trilhões.
BLOCOS ECONÔMICOS E
ORGANISMOS REGIONAIS

4.2.5.3 Países-membros da APEC


Os países-membros da APEC são: Austrália, Brunei, Canadá, Darussalam, Cana-
dá, Indonésia, Japão, Malásia, Nova Zelândia, Filipinas, Cingapura, Coréia do Sul,
Tailândia e Estados Unidos, desde 1989; China, Hong Kong e Formosa (Taiwan),
desde 1991; México e Papua-Nova Guiné, desde 1993; Chile, a partir de 1994; e
Peru, Rússia e Vietnã, a partir de 1998.

4.2.6 Área de Livre Comércio das Américas (ALCA)


A Cúpula de Miami, também chamada Cúpula das Américas, realizou-se de 9
a 11 de dezembro de 1994, em Miami, Estados Unidos. Reuniu chefes de Estado
e de Governo de trinta e quatro países de todas as Américas que tomaram a
iniciativa de criação da Área de Livre Comércio das Américas (ALCA). Na deno-
minação original ela é conhecida como FTAA (Free Trade Área of the Américas).

4.2.6.1 Países que fazem parte da ALCA


A ALCA é composta por 34 países: Antígua e Barbuda, Argentina, Bahamas,
Barbados, Belize, Bolívia, Brasil, Canadá, Colômbia, Costa Rica, Chile, Domini-
ca, Equador, El Salvador, Estados Unidos, Grenada, Guatemala, Guiana, Haiti,
Honduras, Jamaica, México, Nicarágua, Panamá, Paraguai, Peru, República Do-
minicana, St. Kittis e Nevis, Santa Lucia, São Vicente e Granadinas, Suriname,
Trinidad e Tobago, Uruguai, e Venezuela. Atualmente o Brasil detém a Pre-
sidência e, o Equador, a Vice-Presidência. O único país que não participa da
ALCA é Cuba.

4.2.6.2 Evolução estrutural e negocial da ALCA


Na Primeira Reunião Ministerial sobre Comércio, realizada em Denver, EUA, em
30.6.95, foram constituídos sete Grupos de Trabalho: acesso a mercados; direi-
tos aduaneiros e regras de origem; investimentos; normas e barreiras técnicas ao
comércio; medidas sanitárias e fitossanitárias; subsídios; e economias menores.
Esses grupos tinham o objetivo de iniciar um programa de trabalho para pre-
parar o início das negociações da ALCA, na qual as barreiras ao comércio e aos
investimentos seriam eliminadas progressivamente, o mais tardar até 2005, ano
em que as negociações seriam concluídas.
Na Segunda Reunião Ministerial sobre Comércio, realizada em março de 1996,
em Cartagena, Colômbia, criaram-se mais quatro grupos de trabalho serviços,
compras governamentais, defesa da concorrência e direitos de propriedade in-
telectual.
Esses grupos de trabalho realizaram reuniões ao longo de 1995, 1996 e 1997.
O Banco Central do Brasil participou do Grupo de Trabalho sobre Investimentos
(GTI) e do Grupo de Trabalho sobre Serviços (GTS).
Na Quarta Reunião Ministerial sobre Comércio, realizada em março de 1998,
em São José da Costa Rica, foram definidos os seguintes aspectos sobre as nego-
54 ciações da Alca:
a) início formal em abril de 1998.
b) o acordo final será equilibrado, abrangente, congruente com a OMC e constitui-
TEMA 4
rá um compromisso único. Serão levadas em conta as necessidades, as condi- BLOCOS ECONÔMICOS E
ções econômicas e as oportunidades das economias menores. As negociações ORGANISMOS REGIONAIS

serão transparentes e se basearão no consenso para a tomada de decisões.


c) a ALCA pode coexistir com acordos bilaterais e sub-regionais. As negociações
deveriam estar concluídas , no mais tardar, no ano de 2005. Motivos políticos
e econômicos não permitiram que as negociações fossem concluídas.
Com as eleições majoritárias que ocorrerão no Brasil em 2006 (Presidência da
República e Governo dos Estados Federados) dificilmente as negociações serão
concluídas. A agenda será doméstica e política.
A estrutura institucional para as negociações será composta por: um Comitê
de Negociações Comerciais (CNC) no nível de Vice-Ministros; nove grupos de ne-
gociação: acesso a mercados; investimentos; serviços; compras governamentais;
solução de controvérsias; agricultura; direitos de propriedade intelectual; subsí-
dios, anti-dumping e medidas compensatórias; e políticas de concorrência.

4.2.6.3 A ALCA hoje


A alínea c) acima inserida é suficiente para comprovar o estado inercial em
que se encontram os trabalhos para implementação da ALCA. Nada foi concluí-
do. Outros assuntos estão tomando a agenda das nações envolvidas e o assunto
ALCA foi colocado em segundo plano . Entretanto, para o bem ou para o mal, o
acordo será alcançado. Só não se sabe quando.

4.3 ORGANISMOS INTERNACIONAIS


4.3.1 Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD)
O PNUD - Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento - tem como
objetivo central o combate à pobreza. Em resposta ao compromisso dos líde-
res mundiais de atingir os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM), o
PNUD adota uma estratégia integrada, sempre respeitando as especificidades de
cada país. Seus objetivos estão voltados, em primeiro lugar, para a promoção da
governabilidade democrática e para o apoio à implantação de políticas públicas
e ao desenvolvimento local integrado, para a prevenção de crises e recuperação
de países devastados, assim como para a utilização sustentável da energia e do
meio ambiente. Mas trabalha também pela disseminação da tecnologia da in-
formação e da comunicação em prol da inclusão digital, e ainda na luta contra o
HIV/AIDS. O PNUD é uma instituição multilateral e uma rede global presente hoje
em 166 países, pois está consciente de que nenhuma nação pode gerir sozinha a
crescente agenda de temas do desenvolvimento.
Advogado das mudanças necessárias para a sustentabilidade do planeta e de
melhores condições de vida dos povos, o PNUD conecta países a conhecimen-
tos, experiências e recursos, ajudando pessoas a construir uma vida mais digna.
Dessa forma, trabalha conjuntamente no âmbito das soluções traçadas pelos pa-
íses-membros, para fortalecer as capacidades locais e proporcionar acesso, tanto
aos recursos humanos, técnicos e financeiros do PNUD e da cooperação externa,
quanto à sua ampla rede de parceiros constituída pelos governos nacionais e
locais, pelo terceiro setor, pelas universidades e centros de excelência, pelo setor
privado, e por outros organismos internacionais. 55
4.3.1.1 Projetos do PNUD no Brasil
Projetos de desenvolvimento local já foram implantados em 58 municípios.
TEMA 4
BLOCOS ECONÔMICOS E Setecentas e vinte organizações foram incentivadas e 13.908 produtores capaci-
ORGANISMOS REGIONAIS tados, graças ao trabalho conjunto de 150 parceiros identificados e coordenados
pelo PNUD. Trata-se de iniciativas para expandir as condições de cidadania plena
e estimular a abertura de novas oportunidades sócio-econômicas e políticas nas
localidades com baixo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH16).
Em parceria com o SEBRAE (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas
Empresas), foi implementado o EMPRETEC (Programa de Desenvolvimento de
Empreendedores), que já orientou mais de 50 mil pessoas para a montagem e
administração de negócios próprios.
Em parceria com o Ministério da Educação, o PNUD apoiou a implantação do
Programa Proformação, que emprega ensino a distância e presencial para certifi-
cação de professores leigos do ensino fundamental. Até 2002, nas regiões Norte,
Nordeste e Centro-Oeste, cerca de 23 mil professores das escolas públicas de mil
e quatrocentos municípios concluíram o curso Proformação.

4.3.2 PNUMA
O PNUMA é um Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente. Foi criado
como resultado da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente Huma-
no realizada em Estocolmo, no ano de 1972. Pela primeira vez, o tema ambiental
e a necessidade de compatibilizar crescimento econômico com o manejo sus-
tentável de recursos naturais foram incorporados na agenda política internacio-
nal. Como parte da Organização das Nações Unidas, o PNUMA tem como missão
promover atividades e encorajar parcerias na área ambiental.

4.3.3 Organização Internacional do Trabalho (OIT)


A OIT foi criada em 1919 pela Conferência de Paz, após a Primeira Guerra
Mundial, com o objetivo de promover a justiça social.
A sua Constituição converteu-se na Parte XIII do Tratado de Versalhes. Em 1944,
à luz dos efeitos da Grande Depressão, a da Segunda Guerra Mundial, a OIT ado-
tou a Declaração da Filadélfia como anexo da sua Constituição. A Declaração an-
tecipou e serviu de modelo para a Carta das Nações Unidas e para a Declaração
Universal dos Direitos Humanos. Em 1969, em seu 50º aniversário, a Organização
foi agraciada com o Prêmio Nobel da Paz. Em seu discurso, o presidente do Comi-
tê do Prêmio Nobel afirmou que a OIT era “uma das raras criações institucionais
das quais a raça humana podia orgulhar-se”.
Em 1998, após o fim da Guerra Fria, foi adotada a Declaração da OIT sobre os
Princípios e Direitos Fundamentais no Trabalho e seu Seguimento. O documento
é uma reafirmação universal da obrigação de respeitar, promover e tornar rea-
lidade os princípios refletidos nas Convenções fundamentais da OIT, ainda que
não tenham sido ratificados pelos Estados Membros.
Desde 1999, a OIT trabalha pela manutenção de seus valores e objetivos em
prol de uma agenda social que viabilize a continuidade do processo de globa-
lização através de um equilíbrio entre objetivos de eficiência econômica e de
equidade social.

56 O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) mede o nível de desenvolvimento humano dos países utilizando como critérios indicadores
16

de educação (alfabetização e taxa de matrícula), longevidade (esperança de vida ao nascer) e renda (PIB per capita).
4.3.3.1 Objetivos estratégicos da OIT
Os objetivos estratégicos da OIT podem ser resumidos nos seguintes:
TEMA 4
a) Promover os princípios fundamentais e direitos no trabalho através de um BLOCOS ECONÔMICOS E
ORGANISMOS REGIONAIS
sistema de supervisão e de aplicação de normas;
b) Promover melhores oportunidades de emprego/ renda para mulheres e ho-
mens em condições de livre escolha, de não discriminação e de dignidade;
c) Aumentar a abrangência e a eficácia da proteção social;
d) Fortalecer o tripartismo e o diálogo social.

4.3.4 FAO – Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura


4.3.4.1 Finalidade da criação da FAO
A FAO - Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura-
foi criada em 1945 com o mandato de “liberar a humanidade da fome”. No pre-
âmbulo de sua carta constitutiva, os Estados-membros fundadores, entre eles o
Brasil, comprometeram-se a fomentar o bem-estar geral, intensificando as ações
individuais coletivas com vistas a:
a) elevar os níveis de vida e de nutrição dos povos sob sua jurisdição;
b) melhorar o rendimento da produção e a eficácia da distribuição dos produtos
agrícolas e dos alimentos em geral;
c) melhorar as condições das populações rurais e contribuir para a expansão da
economia mundial.
No final de 2005, faziam parte do Organismo internacional, 187 países. O Brasil
é um de seus mais importantes contribuintes e o mais importante entre os pa-
íses em desenvolvimento. O Governo brasileiro e a FAO firmaram, em 1995, im-
portante acordo de cooperação denominado “Acordo para Uso de Peritos”, que
compreende o apoio financeiro do organismo a atividades de cooperação téc-
nica entre países em desenvolvimento. Iniciou-se, assim, um processo de coope-
ração tripartida Brasil/FAO/PALOPS, envolvendo o Brasil, a FAO e os cinco Países
Africanos de Língua Oficial Portuguesa.
Merece menção, ainda, o papel fundamental desempenhado pelo Brasil ao lon-
go do processo de negociação dos textos adotados durante a Cúpula Mundial da
Alimentação, organizada e patrocinada pela FAO. A Cúpula realizou-se em Roma,
em novembro de 1996, tendo aprovado dois documentos: a Declaração Política e
o Plano de Ação, cujo objetivo é o de combater a fome e a desnutrição no mundo
e garantir, por conseguinte, a segurança alimentar em escala global. Esta meta en-
contra-se em plena consonância com a política social do Governo brasileiro, que
tem na busca da segurança alimentar um dos seus pontos cardeais.

4.4 AS ONGs INTERNACIONAIS


4.4.1 Característica das ONG’s
As Organizações Não-Governamentais (ONGs) têm desempenhado um impor-
tante papel na sociedade contemporânea, atuando no espaço público, embora
não sendo estado, ou atuando no setor privado, mesmo não sendo entidades
lucrativas. Com origem ou sustentação neste espaço, vieram a constituir-se, em
cada uma, referências institucionais originais próprias. No conjunto, elas se dife-
57
renciavam do primeiro setor, o Estado, e do segundo setor, o mercado, assumindo
uma característica e um modo peculiar de ser e agir, baseado na concepção de
TEMA 4 gestão social.
BLOCOS ECONÔMICOS E
ORGANISMOS REGIONAIS

4.4.2 Mudanças e ajustes organizacionais


A partir das mudanças ocorridas no macro-contexto mundial, as ONGs tam-
bém passaram a experimentar profundos ajustes organizacionais, baseados na
concepção de gestão estratégica, que têm provocado alterações conceituais no
seu caráter institucional original. Foram pesquisadas as transformações ocorri-
das em tal caráter institucional de sete ONGs Internacionais de maior porte no
Brasil, após a implantação de modernas práticas administrativas, próprias do se-
tor privado.

4.4.3 Tornam-se estrategicamente mais funcionais


Tomando-se por base aquela amostra, pôde constatar-se que as ONG’s estão
se tornando mais funcionais, dentro da lógica de gestão estratégica, imposta
principalmente pelas regras atuais do mercado, e isso tem trazido impacto desfi-
gurador imediato sobre os valores de referência institucional delas.
Nas décadas anteriores aos anos oitenta do século passado, o macro-ambien-
te das Organizações Não-Governamentais - ONGs - apresentava-se extremamen-
te estável. Era caracterizado por fontes de financiamento abundantes e pouca
exigência em termos de eficácia e impacto nos resultados. Tal contexto fazia com
que não houvesse muita preocupação, por parte delas, com gerenciamento e
estratégias organizacionais.

4.4.4 Adaptam estrutura e organização


No entanto, transformações ocorridas no cenário mundial obrigaram as ONGs
a experimentarem sucessivos ajustes organizacionais. grande maioria das ONGs
viveu processos bastante severos de reengenharia interna e externa, na tentativa
de garantir a sobrevivência. Muitas delas não conseguiram. A ênfase passou a ser
na sustentabilidade financeira e na consecução de resultados mensuráveis, prin-
cipalmente através da sua inserção no ambiente de mercado. Com isso, as ações
de pressão política e militância social, tão presentes no cotidiano das ONGs du-
rante os anos 70, passaram para segundo plano na última década.
ONGs internacionais, como Anistia Internacional, Human Rights Watch, Comis-
são Internacional de Justiça e Oxfam, são organizações globais poderosas com
equiparados interesses organizacionais e capacidades. A Anistia Internacional,
por exemplo, recebe doações de seus sócios que variam de meio a um milhão
de dólares, e seu orçamento anual opera 30 milhões de dólares, com projetos
em mais de 140 países. A Human Rights Watch vangloria-se em terde mais de 22
milhões, e o recurso anual da Oxfam Internacional é mais que 300 milhões. Estes
recursos constituem uma poderosa base para manter acesso à mídia (projeção
na mídia e reportagens detalhadas), e para a comunidade diplomática.

58
ANOTE
ANOTE
TEMA 5

MERCADO CAMBIAL
TEMA 5 – MERCADO CAMBIAL
TEMA 5
MERCADO CAMBIAL
Objetivos do tema
• Oferecer noções sobre política cambial, operações de câmbio e características
do mercado de câmbio no que diz respeito ao comércio exterior;
• Proporcionar o conhecimento dos instrumentos de pagamentos que amparam
as operações de comércio exterior;
• Evidenciar a importância dos mesmos e o cuidado em utilizá-los de maneira a
assegurar a liquidação de suas operações, nas óticas de empresários, comer-
ciantes, exportadores, banqueiros e financiadores.

5.1 GENERALIDADES
O mercado de câmbio pode ser considerado como uma passagem através da
qual os fluxos de moeda estrangeira se convertem em moeda nacional e vice-
versa.
São ofertantes nesse mercado as pessoas físicas e jurídicas que possuem mo-
eda estrangeira e desejam trocar por moeda nacional.
Em contraposição aos ofertantes, as pessoas que desejam ou necessitam ad-
quirir a moeda estrangeira são, no sistema cambial, demandantes
Isso significa que a mercadoria transacionada nesse mercado é a divisa. Divisa
é qualquer moeda estrangeira utilizável em transações econômicas internacio-
nais. As transações envolvem, em geral, qualquer cidadão, tanto os residentes no
país como os residentes no exterior. Da mesma forma, o custo em moeda nacio-
nal das divisas, isto é, a taxa de câmbio, representa o preço nesse mercado.
No grupo de ofertantes de moeda estrangeira estão:
• os exportadores, que vendem suas mercadorias para o exterior e são pagos
em moeda estrangeira. São obrigados, pela legislação cambial, a vender às
instituições autorizadas a operar em câmbio;
• os turistas estrangeiros, que trazem moeda estrangeira e necessitam trocá-la
pela moeda nacional (doméstica);
• os investidores internacionais, que trazem divisas para aplicar no país;
• os agentes econômicos, em geral, que tomam recursos no exterior para apli-
carem em suas atividades.
No grupo dos demandantes da moeda estrangeira estão:
• os importadores;
• os turistas brasileiros em viagem para o exterior;
• os agentes econômicos que investem ou enviam renda para o exterior;
• os agentes econômicos (pessoas, empresas e governo) que possuem dívidas
no exterior e que precisam enviar divisas para quitar seus compromissos.

5.2 POLÍTICA CAMBIAL


A política cambial passou por alterações nos últimos 30 anos. Até agosto de
62 1968, tínhamos uma taxa fixa que só se alterava na mudança presidencial. A par-
tir de agosto de 1968 foi introduzido o regime de minidesvalorização. O objetivo
da mudança era fazer com que nossa moeda, desvalorizada a conta-gotas, tor-
nasse mais competitivo nossos produtos no exterior, dando maior rentabilidade TEMA 5
ao setor exportador. Foi o início da era denominada “milagre brasileiro”, quando o MERCADO CAMBIAL
país cresceu com altas taxas do PIB e nas exportações.
Intercalamos períodos de abundância em divisas, com escassez no período
de 1982 a 1987, quando o câmbio chegou a ser centralizado no Banco Central.
No dia primeiro de julho de 1994, com a introdução da moeda nacional atual,
o real, o mercado foi se tornando livre, isto é, passou a atuar sem a presença os-
tensiva do Banco Central do Brasil (Bacen).
Tal prática levou a uma valorização do Real criando também incentivos para
as importações.
Aquele ano – 1994 – foi o último da década de 1990 em que o país teve
superávit na balança comercial. O Brasil só voltaria a ter superávit na balança
comercial no ano de 2001. A moeda manteve-se estável em relação ao dólar
dos Estados Unidos e só em janeiro de 1999, com a unificação dos Mercados
Livres e Flutuantes é que a moeda brasileira se descolou da moeda norte-
americana.
Uma desvalorização cambial é uma medida de política econômica governa-
mental, mas ela ocorre simplesmente porque o Banco Central, que é o maior de-
tentor de divisas estrangeiras, anuncia que passará a praticar um preço mais alto
em suas transações cambiais. Não é um anúncio formal. Percebe-se a ação do
Banco Central pelo comportamento dos dealers que agem em nome da autar-
quia federal. Este fato – ou ação – tem o poder de alterar as curvas de oferta e
demanda por divisas instantaneamente.
Se o Banco Central do Brasil estiver comprando divisas a um preço mais alto
do que o mercado, irá elevar a curva de demanda, desvalorizando a moeda na-
cional.
Mas, quais os impactos de uma desvalorização cambial sobre os demais ma-
cromercados?
No mercado de bens e serviços, teremos um aumento na demanda agrega-
da por produtos nacionais. Isto porque o preço dos importados ficará mais alto
em moeda local, fazendo com que uma parcela maior do gasto seja canalizada
para a compra de produtos nacionais. Por outro lado, com os produtos nacionais
mais baratos em moeda internacional, aumentará a procura dos mesmos pelos
importadores no exterior, aumentando nossas exportações.

5.3 OPERAÇÕES DE CÂMBIO


5.3.1 Conceito
Câmbio é uma operação financeira que consiste em vender, trocar ou com-
prar valores em moedas de outros países ou papéis que representem moedas de
outros países. É a troca de moeda de um país pela de outro.

5.3.2 Mercado de Câmbio


É o conjunto de operações de câmbio, ajustadas entre operador e cliente ou
entre operadores, situados na mesma cidade, país ou em cidades e países dife-
rentes. 63
5.3.3 Características do Mercado
De acordo com as condições, podemos ter:
TEMA 5
MERCADO CAMBIAL • Mercado calmo (estável);
• Mercado nervoso (sujeito a oscilações de segundos ou minutos);
• Mercado oferecido (grande oferta de moeda ou excesso);
• Mercado procurado (grande procura de moeda ou escassez).

De acordo com as características das operações, temos:


• Mercado pronto;
• Mercado futuro;
• Mercado interbancário;
Fatores sensibilizadores do mercado de câmbio
• Medidas adotadas pelas autoridades monetárias;
• Balanços de Pagamentos;
• Cotações do ouro;
• Alterações acentuadas nas condições climáticas;
• Resultados de eleições presidenciais;
• Conflitos entre nações.

5.4 CLASSIFICAÇÃO DAS OPERAÇÕES DE CÂMBIO


5.4.1 Quanto ao Tipo
• Câmbio Manual: consiste na compra e venda de moeda estrangeira em espé-
cie, ou seja, é a troca física de dinheiro estrangeiro pela moeda nacional ou
vice-versa;
• Câmbio Sacado: são operações que envolvem saques sobre haveres junto a
banqueiro no exterior.

5.4.2 Quanto à Natureza


• Comerciais: são operações relacionadas com o comércio exterior (importa-
ções exportações), tais como: importação, exportação, frete, seguro, comissão
de agente;
• Financeiras: ingresso e saída de capitais;
• Pagamento de Assistência Técnica;
• Pagamento de Direitos Autorais;
• Royalties;
• Juros;
• Dividendos;
• Lucros.

64
5.4.3 Mercado paralelo de câmbio
O mercado paralelo de câmbio nada mais é do que realizar operações conduzi-
das por meio de pessoas físicas ou jurídicas não autorizadas a operar no merca- TEMA 5
MERCADO CAMBIAL
do de câmbio. Trata-se, pois, de operações ilegais . Assim, a denominação correta
desse mercado seria “mercado negro” ou mercado “clandestino” de câmbio. Con-
sagrou-se, porém, a expressão “paralelo”, por se tratar de uma operação de câmbio
paralela ao câmbio oficial ou talvez, até, por ser um termo menos chocante que
“clandestino” ou “ilegal”,
Por ser um mercado “ilegal”, constituído, alimentado, ofertado e demandado
ao arrepio das leis, encontra terreno fértil em operações clandestinas de câmbio,
nas remessas clandestinas de lucros e nas operações de lavagem de dinheiro por
desvio de verbas públicas. Atua sempre no âmbito de operações ilegais.

5.4.4 Posição de Câmbio


Tempos atrás, os bancos que atuavam no mercado de câmbio eram obrigados
a manter uma posição, de acordo com o limite previamente acertado com o BA-
CEN e sempre levando em conta seu patrimônio líquido. Hoje o BACEN dispen-
sou a exigência de limite, mas passou a fixar a posição do Banco de acordo com
seu patrimônio líquido. Qual a diferença? Se, no passado, o Banco não poderia ter
mais do que US$ 10.000.000,00 de posição comprada, mesmo que seu patrimô-
nio líquido permitisse, agora poderá ter uma posição comprada de qualquer va-
lor, desde que seu patrimônio Líquido esteja ajustado às exigências do BACEN.
Mas, o que vem a ser posição de câmbio comprada, vendida e nivelada?
• Posição comprada (long position) revela a posição em câmbio de uma insti-
tuição financeira autorizada a operar nesse mercado e que comprou moeda
estrangeira no mercado e seu saldo ultrapassa as sua vendas de câmbio.
• A posição vendida (short position), por outro lado, revela a posição cambial de
uma instituição que vendeu muita moeda estrangeira no mercado, superan-
do as compras efetuadas.
• E assim, temos que a posição nivelada (balanced) é uma posição conservado-
ra do Banco. Está simplesmente empatado em vendas e compras de divisas
estrangeiras.
E qual seria a posição ideal de câmbio? Depende, certamente, da instituição
envolvida na operação. A cada banco compete analisar situações e diante dos
dados reais e tendências do mercado tem condições de projetar uma operação
de câmbio mais rentável.
No início de fevereiro de 2006, o mercado previa uma forte queda do dólar
americano, com o fortalecimento da moeda brasileira o Real. Nesse caso, a ins-
tituição procurava manter uma posição vendida, pois adquiriria por um valor
menor as divisas que deveria entregar, no futuro, ao importador.

5.5 MOEDAS ESTRANGEIRAS


Moeda é a unidade de valor aceita como instrumento de troca numa comu-
nidade. A moeda estrangeira é aquela que é utilizada como meio de troca em
outros países, isto é, fora de seu mercado doméstico.

65
5.5.1 Quanto ao Aspecto Cambial
• São conversíveis, aceitas livremente por outros países:
TEMA 5
MERCADO CAMBIAL Dólar dos Estados Unidos Estados Unidos
Libra Esterlina Inglaterra
Iene Japão
Euro União Européia
Coroa Sueca Suécia
Coroa Dinamarquesa Dinamarca
Coroa Norueguesa Noruega
Dólar Canadense Canadá
Franco Suíço Suíça
• São inconversíveis, mas não são aceitas ou têm curso dificultado por outros
países:
Real Brasil
Guarani Paraguai
Rúpia Índia
Dinar Argelino Argélia

5.5.2 Moeda Escritural ou de Convênio


Moeda escritural ou de convênio é aquela que decorre de acordos bilaterais
ou multilaterais de pagamentos, com o objetivo de desenvolver ou de regular o
intercâmbio comercial entre países de moedas inconversíveis.

5.5.3 Acordo bilateral


Os convênios bilaterais de pagamento têm por objetivo facilitar e por conseqü-
ência, desenvolver o intercâmbio comercial entre dois países. Podem fixar quan-
titativamente ou qualitativamente as importações, exportações e operações fi-
nanceiras. Geralmente contêm dispositivos sobre a forma de compensação dos
débitos e créditos e estabelecem um teto operacional, assim como a moeda para
pagamento das transações entre os países convenientes, o prazo para pagamen-
to de saldos além do referido teto, etc.
As compras ou vendas de câmbio referentes a transações ao amparo de con-
vênios bilaterais mantidos pelo Brasil são celebradas em dólares americanos.
Quando da liquidação de tais compras, o banco operador recebe do Banco Cen-
tral o valor em dólares, através de ordens de pagamento, junto ao banqueiro que
for indicado. Na liquidação de vendas, é o Banco Central que recebe do banco
operador o crédito no exterior. Cabe ao Banco Central debitar ou creditar, confor-
me o caso, a conta do Banco Central do outro país.
Foi um instrumento muito usado no passado, à época da Guerra Fria, isto é,
até à queda do Muro de Berlim e à era das reformas no tempo da glasnost e da
perestroika na União Soviética.
A partir dessa época, os convênios vencidos não foram renovados, permane-
66 cendo apenas um, com a Hungria.
5.5.4 Acordos Multilaterais
São acordos do tipo Convênio de Créditos Recíprocos, mantido com os países
da ALADI (Associação Latino-Americana de Integração). A moeda utilizada nos TEMA 5
MERCADO CAMBIAL
convênios, geralmente, é o dólar dos Estados Unidos.
São os convênios mantidos entre diversos países, com um texto uniforme bá-
sico e instrumentos específicos entre os países participantes (convenientes).
Em 1965 foi subscrito pelo Brasil, na cidade de México, México, o Acordo Geral
de Créditos Recíprocos, o CCR, com o objetivo de estimular a cooperação finan-
ceira Latino-Americana, facilitar e expandir o comércio regional de bens e ser-
viços e reduzir as transferências de divisas entre os Bancos Centrais dos países
convenientes.
Na verdade, tal convênio veio suprir a falta de moeda forte, o dólar americano,
pois a moeda, embora grafada em dólares, é escritural e não desembolsada no
momento em que a operação é liquidada.
Como foi dito acima, trata-se, verdadeiramente, de uma contabilização escri-
tural da moeda e não de transferência bancária para a conta do credor. Seria, nos
dias de hoje, como que uma moeda virtual. Por isso, é possível que alguns países
fiquem inadimplentes na compensação, pois o acerto tem que ser em moeda
forte, isto é, em dólar dos Estados Unidos. Nesses encontros de contas (compen-
sação) cada banco central comunica ao respectivo banco central de cada país,
quanto tem a haver e quanto deve em relação ao terceiro país. Cada banco cen-
tral efetua apenas um pagamento ao banco agente, ou faz jus ao recebimento,
se for o caso.
As operações ao amparo de CCR dos clientes com bancos autorizados a operar
no convênio e destes com o banco central, são expressas em dólares dos Estados
Unidos, bem como todos os documentos pertinentes (saques, faturas, etc).
São muitas as operações cursadas dentro do convênio pela segurança que ofe-
rece aos exportadores e importadores, pois a garantia do pagamento deixa de
ser comercial (importador) e passa a ser política (Governo), pois os bancos cen-
trais é que se responsabilizam pelo reembolso.

5.5.5 Garantia bancária


A operação só é considerada segura se tiver uma garantia bancária. Uma ex-
portação em cobrança não oferece a garantia dada pelo convênio, embora tran-
sitada dentro do mesmo, mas sem a garantia bancária.
Ocorre que os bancos centrais garantem os bancos conveniados, o que não
ocorre com outras empresas não financeiras. Atualmente, o Banco Central do
Brasil mantém convênios com os seguintes países: Argentina, Bolívia, Chile, Co-
lômbia, Equador, México, Peru, República Dominicana, Uruguai e Venezuela.

5.5.6 Paridade
Definida como sendo o preço de uma moeda estrangeira em relação à outra. A
mais utilizada é a paridade em relação ao Dólar dos Estados Unidos.
Exemplo: Se para comprar US $ 1,00 são necessários oitenta e dois centavos
de euros (€ 0,82) , diz-se que a paridade da Euro em relação ao Dólar Americano
é de 0,82 por 1, ou seja, € 0,82 valem US $ 1,00.
67
Assim, se alguém tem € 500,00 e quer transformá-los em dólares, divide-se o
valor por 0,82, que é a paridade, resultando em US $ 609,75.
TEMA 5
MERCADO CAMBIAL
5.5.7 Arbitragem
A arbitragem consiste na compra de determinada quantidade de uma moeda
e na venda de outra moeda estrangeira, de forma que, aplicada a paridade en-
tre elas, o resultado seja de equivalência, podendo a liquidação ser simultânea,
pronta ou futura. De forma resumida, é a troca de determinada moeda estran-
geira por outra.
Essas transações são efetuadas geralmente para:
• Suprir o saldo em determinada moeda estrangeira junto a banqueiro que não
tem disponibilidade para cumprir compromissos nessa moeda, mas tem disponi-
bilidade em outra
Exemplo: o banco fez uma venda para atender a importação de um cliente.
Ocorre que sua posição em moeda estrangeira mantida no exterior é em dólares
americanos e a venda interna foi em ienes. Vendeu ¥125.000.000 e precisa com-
prar os mesmos no exterior para atender a importação. Verifica qual é a paridade
do iene em relação ao dólar americano: US$ 1,00 por ¥125,00. Assim, necessita de
US$ 1.000.000,00 para comprar os ienes necessários. Isso é o que o banqueiro faz.
E o importador no Brasil, quanto pagará por essa transação?
Sabemos que US$ 1,00 = ¥125,00
E que US$ 1,00 = R$ 2,15
Então
¥125,00 = R$ 2,15
¥1 = x R$
Logo
“x “ R$ = ( ¥1 x R$ 2,15 ) / ¥125 = 0,01720
Assim, US$ 1.000.000,00 equivale a ¥125.000.000 que é igual a R$
2.150.000,00.

• Obter vantagens em transações envolvendo duas ou mais praças


Exemplo: Cotações do dólar americano em duas praças:
New York US $ 0,62 Sw.Fr. 1,00
Zurich Sw.Fr. 1,00 US $ 0,64
O Banco Operador compra Francos Suíços em New York e os envia para Zu-
rich, onde alcança US $ 0,64, obtendo vantagem de US $ 0,02 por Franco Suíço
negociado.
New York: US $ 1.000.000,00 compra Sw.Fr. 1.612.903,23
Em Zurich vende os Sw.Fr. por US $ 1.032.258,07
É claro que as compras e vendas são feitas com Bancos diferentes.
• Evitar riscos com determinadas moedas que, no mercado cambial, oscilam com
freqüência, ou presume-se que se desvalorizarão
68 Exemplo: Alguém que tenha tomado recursos em Euro em 05.01.99.
Um milhão de euros (€1.000.000) valia US$1.000.000 em 06.04.99. O Euro
tinha perdido 8,8% em relação ao Dólar Americano. A mesma quantia de Euros
valia US $ 1.007.00,00. Para o Tomador fora ótimo tomar em Euros porque agora TEMA 5
sua necessidade em dólar americano era 8,8% menor do que há 4 meses. MERCADO CAMBIAL

A decisão de se arbitrar depende da “posição” em que se encontra . Exemplo foi a


desvalorização do Real frente ao dólar americano ocorrida em janeiro de 1999. Quem
estava “comprado” em dólar americano ganhou e a ponta “vendedora” perdeu.

5.5.7.1 Tipos de arbitragem


• Arbitragem Direta
É a transação efetuada por dois operadores localizados em praças de países
diferentes, que arbitram suas respectivas moedas
• Arbitragem Indireta
É a transação realizada por um operador que, atuando em sua base, efetua
operações envolvendo as moedas nacionais de duas praças estrangeiras, quer
arbitrando as duas moedas ou mais de duas. Em linhas gerais, é uma operação
envolvendo três moedas, utilizando-se o “cross rate”. É o sistema cambial brasilei-
ro, envolvendo a paridade do Real em relação ao Dólar e este em relação à sua
paridade com terceiras moedas.
PARIDADE: COTAÇÃO EM R$:
MOEDA
COMPRA CROSS VENDA CROSS COMPRA VENDA
US $ 1,000 1,000 1,000 1,000 3,58500 3,59000
DKK* 7,43610 0,134479 7,47091 0,133853 0,479861 0,482780
NOK 7,36634 0,135753 7,40087 0,135119 0,484403 0,487352
SEK 9,10046 0,109885 9,14195 0,109386 0,392148 0,394486

Siglas: * DKK=coroa dinamarquesa; **NOK= coroa norueguesa - ***SEK= coroa sueca

• Arbitragem interna – operações simbólicas


As operações simbólicas de compra e venda simultâneas de câmbio têm por
finalidade regularizar exigências de ordem cambial, não figurando, portanto,
entre as transações normais que se caracterizam pela entrega efetiva da moe-
da. Estas operações ocorrem nas seguintes situações: conversão de créditos em
investimento; constituição e liberação de depósitos, no Bacen; regularização de
fraude cambial.
Estas operações não provocam movimentação nas contas em moedas estran-
geiras mantidas no exterior pelo Bacen.
• Arbitragem externa
Esta operação consiste na remessa de divisas de uma praça para outra, bus-
cando obter vantagens em função das diferenças de preço existentes. É repre-
sentada pela venda de uma moeda estrangeira contra o recebimento de outra
moeda também.

5.5.7.2 Operações de arbitragem e suas modalidades


• Prontas (spots)
Operações em que a entrega das moedas se dá em de dois dias úteis. 69
• Futuras (forwards)
Operações em que a entrega da moeda se dará em prazo superior a dois
TEMA 5 dias úteis.
MERCADO CAMBIAL
As paridades e o cross utilizados neste caso (futuro) podem ser diferentes
das utilizadas em operações prontas, porque as moedas envolvidas podem
sofrer oscilações em suas cotações. Podem estar com “prêmio” ou “a descon-
to”. Isto é, vai-se receber mais ou menos moeda estrangeira no futuro. Ou se
despenderá mais ou menos moeda na operação.
Em princípio, as arbitragens futuras servem para fazer o hedge (proteção)
da moeda comprada ou vendida para entrega futura.
Exemplo: Se a empresa tem compromisso para pagar Sw.Fr. 1,000,000.00
em 90 dias e o Financeiro acha que poderá ocorrer uma valorização da mo-
eda em relação ao dólar americano, ele pode arbitrar futuro, pagando algum
prêmio.
Assim, hoje Sw.Fr. 1.000.00,00 são comprados no mercado spot por US $
550.000,00 e no mercado futuro (90 dias) por US $ 600.000,00. Se pagar à vista,
pagará o primeiro valor; se no vencimento, o segundo. O segundo valor cor-
responde a uma desvalorização de 9,09% do dólar em relação ao Franco Suí-
ço. Aí caberá ao Financeiro decidir: compra à vista (spot) e entrega os dólares
ou compra a prazo (forward), suportando aquele custo.
Poderá ocorrer o contrário: o dólar se valorizar e ele perder na operação.
O conhecimento do cenário e das tendências do mercado serão os baliza-
dores da tomada de decisão. Muitas vezes, a arbitragem futura nada tem a ver
com operação comercial, tornando-se meramente como operação especula-
tiva. Como ocorreu no Brasil (em janeiro de 1999, para ser mais exato). É certo
que as operações datavam de período anterior, mas muitas foram feitas dias
antes da desvalorização, deixando no ar a dúvida de vazamento de informa-
ções sobre a valorização do dólar.

5.6 Contratos de Câmbio


Define-se como contrato de câmbio o instrumento especial firmado entre o
vendedor e o comprador de moedas estrangeiras, no qual se mencionam as ca-
racterísticas completas das operações de câmbio e as condições sob as quais se
realizam.

5.6.1 Quanto à forma jurídica


• Bilateral: existência de um comprador e de um vendedor;
• Sinalagmático: ambas as partes têm direitos e deveres concomitantes;
• Consensual: depende do bom senso, do consentimento e da anuência das
partes;
• Cumulativo e incondicional: faz a estimativa das obrigações a serem cumpridas
independentemente de quaisquer eventos futuros e incertos;
• Oneroso: as obrigações assumidas representam comprometimento patrimo-
nial equivalente às vantagens visadas;
• Solene: as normas cambiais exigem forma determinada e escrita.
70
5.6.2 Elementos Essenciais
• Nome do comprador e do vendedor;
TEMA 5
• Valor em moeda estrangeira; MERCADO CAMBIAL

• Valor em moeda nacional;


• Taxa de câmbio, prêmios e bonificações;
• Vencimento;
• Natureza da operação;
• Forma da entrega da Moeda Estrangeira.

5.6.3 Elementos Imutáveis


• Comprador e vendedor;
• Moeda estrangeira, taxa cambial e moeda nacional.

5.7 ADIANTAMENTOS (CONTRATOS DE CÂMBIO DE EXPORTAÇÃO)


O adiantamento sobre contrato de câmbio constitui antecipação parcial ou
total,por conta do preço, em moeda nacional, da moeda estrangeira comprada
(vendida) a termo, devendo ter a sua concessão pelos bancos e sua utilização pe-
los exportadores dirigida para o fim precípuo de apoio financeiro à exportação.

5.7.1 Modalidades de Adiantamentos


• ACC – Adiantamento sobre Contratos de Câmbio
Os bancos que operam com câmbio podem conceder aos exportadores os
adiantamentos sobre os ACC, que constituem na antecipação parcial ou total
dos reais equivalentes à quantia em moeda estrangeira comprada a termo
desses exportadores pelo banco.
É a antecipação do preço da moeda estrangeira que o banco negociador das
divisas concede ao exportador amparado por uma linha de crédito externa,
intermediada pelo banco negociador, que é autorizado a operar em câmbio.
O objetivo desta modalidade de financiamento é proporcionar recursos ante-
cipados ao exportador para que possa fazer frente às diversas fases do proces-
so de produção e comercialização da mercadoria a ser exportada, constituin-
do-se, assim, num incentivo à exportação.
Efetuado antes do embarque da mercadoria para o exterior. Prazo de até 360
dias.
• ACE – Adiantamento sobre as Cambiais Entregues
Esta segunda modalidade de financiamento ocorre quando a mercadoria já
está pronta e embarcada, podendo ser solicitado até 60 dias após o embar-
que, aproveitando ao máximo possível a variação cambial.
fase, passa a se chamar ACE, podendo o seu prazo se estender em até 180 dias
da data do embarque.
O adiantamento nesta fase poderá caracterizar-se pela simples manutenção
do ACC, efetuando-se apenas a transformação contábil através, se for o caso,
de complementação de valor. 71
Nestes tipos de operação aplicam-se as taxas Libor17 ou Prime Rate, mais o
spread dos bancos negociadores.
TEMA 5 A taxa Libor é a taxa praticada pelos bancos londrinos com os seus clientes
MERCADO CAMBIAL
preferenciais. A taxa Prime Rate é a taxa de juros praticada pelos bancos na praça
financeira de Nova Iorque, junto aos seus clientes preferenciais.

5.8 CÂMBIO SIMPLIFICADO (EXPORTAÇÃO)


O câmbio simplificado é caracterizado por aquelas operações de valor até US
$ 20.000,00, cuja negociação da moeda estrangeira se formalizará mediante a
assinatura do boleto, pelo exportador, em banco autorizado a operar em câmbio.
Essas operações de câmbio simplificado podem , ocorrer até 180 dias antes ou
180 dias após o embarque.

5.8.1 Vantagens
Nas operações de câmbio simplificado dispensa-se a:
• apresentação pelo exportador, ao banco autorizado a operar em câmbio, dos
documentos comprobatórios da operação comercial;
• vinculação, pelo banco comprador da moeda estrangeira, do contrato de
câmbio ao respectivo Registro de Exportação – RE.

5.8.2 Desvantagens
• As operações não são passíveis de alteração, cancelamento, baixa ou contabi-
lização na posição especial;
• Não existe adiantamento.

5.8.3 Comprometimento do vendedor e comprador de moeda estrangeira


• Ao vendedor (exportador) interessa: manter, pelo prazo de 5 (cinco) anos, à dis-
posição do Bacen, os documentos que respaldam a operação de câmbio (bo-
leto, fatura comercial, pedido ou contrato mercantil);
• Ao comprador (banco) interessa: manter em seu poder o boleto, pelo mesmo
prazo de 5 (cinco) anos, à disposição do Banco Central do Brasil, para apresen-
tação, quando solicitado.

5.8.4 Câmbio simplificado (importação)


As operações de importação de valor até US$ 20.000,00 têm seu procedimen-
to facilitado através da contratação do câmbio simplificado. Para tal, a contrata-
ção deverá ter sido desembaraçada através de DSI (Declaração Simplificada de
Importação).
Estão dispensadas de vinculação à DSI:
• Fechamento: até 90 dias, antes ou após o registro da DSI;
• Guarda de documentos: cinco anos;
• Licença Simplificada de Importação, quando cabível.
72 Iniciais de London InterBank Offer Rate
17
5.9 POSIÇÃO ESPECIAL
O contrato de câmbio é transferido para a posição especial quando o paga-
mento das mercadorias embarcadas não tenha ocorrido no prazo previsto para a TEMA 5
MERCADO CAMBIAL
liquidação do contrato e o seu cancelamento não seja possível, de imediato, por
falta do cumprimento de pré-requisitos regulamentares previstos para tal fim.

5.10 LIQUIDAÇÃO DO CONTRATO DE CÂMBIO


• Liquidação pronta: até 2 (dois) dias úteis;
• Liquidação futura: no vencimento, e excepcionalmente, na exportação, até 30
dias depois de vencido.

5.11 PROTESTO DO CONTRATO DE CÂMBIO


Quando deixa de haver consenso entre as partes, mesmo que exista a possi-
bilidade de cancelamento, o contrato de câmbio deve ir para o protesto para ser
dada baixa cambial.

5.12 MERCADO BRASILEIRO DE CÂMBIO


Em março de 2005 foram divulgadas pelo Banco Central do Brasil as Resolu-
ções do Conselho Monetário Nacional nº 3.265 e nº 3.266, ambas de 04/03/2005,
e a Circular do Banco Central do Brasil nº 3.280, de 09/03/2005. Tais normativos
deram continuidade ao trabalho do Banco Central em desburocratizar o merca-
do de câmbio, objetivando a redução de custos e aumento da produtividade.
As modificações promovidas pelo Conselho Monetário Nacional extinguiram
a Consolidação das Normas Cambiais, até então vigentes, e instituíram um re-
gulamento único denominado Regulamento do Mercado de Câmbio e Capitais
Internacionais (RMCCI). Indiscutivelmente este no regulamento representa um
avanço para a transparência e liberalização dos controles das operações cam-
biais no Brasil.
A principal mudança ocorrida foi a unificação dos mercados de câmbio exis-
tentes (flutuante e livre) em um mercado único para todas as operações de câm-
bio, abrangendo as compras e moeda estrangeira, compra e venda de ouro, ca-
pitais brasileiros no exterior, capitais estrangeiros no Brasil e transferências inter-
nacionais em reais. Embora as taxas de câmbio fossem similares, as regras eram
diferentes e implicavam incongruências entre os procedimentos fixados para
cada mercado, provocando situação de incerteza para o mercado.
Entre outras modificações introduzidas, as pessoas físicas e jurídicas podem
comprar ou vender moeda estrangeira e efetuar investimentos no exterior, sem
limitação de valor, observada a legalidade da trnsação e tendo fundamentação
econômica e respaldo documental exigido pelos bancos comerciais, sendo obri-
gatório o registro no SISBACEN ou no SISCOMEX, conforme a natureza da opera-
ção, e a identificação das partes, independente do valor da operação, ressalvadas
algumas exceções.
Existam no Brasil, até então, dois mercados de câmbio: um que se chamava
mercado de taxas livres (Resolução 1.690, de 18.03.90) e outro, denominado mer-
cado de taxas flutuantes (Resolução 1.552, de 22.12.88).
Nesse mercado eram realizadas as operações comerciais e financeiras, em ge- 73
ral, por pessoas jurídicas e de interesse geral para o país.
Em 22.12.1988 foi criado o mercado de taxas flutuantes. Adiante, veremos
TEMA 5 quais as operações que podiam ser efetuadas nesse mercado.
MERCADO CAMBIAL
Por força da Resolução 2.588, de 25.01.99, com validade a partir de 01.02.99,
foram unificadas as posições dos mercados de taxas livres e de taxas flutuan-
tes, ficando mantida a regulamentação cambial vigente para os dois mercados,
devendo tais operações serem conduzidas conforme dispunham as normas de
regência para sua natureza.

5.12.1 Estrutura antiga


Para entender a importância da unificação do mercado de câmbio, basta veri-
ficar que o mercado de câmbio no Brasil estava, até março de 2005, oficialmente
dividido em:
• Mercado de Câmbio de Taxas Livres (Dólar Comercial)
Instituído pela Resolução nº 1.690, de 18/03/1990, do Conselho Monetário Na-
cional, é destinado às operações de câmbio em geral, enquadrando-se neste
segmento as operações comerciais de exportação e importação, bem como as
operações financeiras de empréstimos e investimentos externos, bem como o
retorno ao exterior da remuneração destas operações.
• Mercado de Câmbio de Taxas Flutuantes (Dólar Flutuante)
Instituído pela Resolução nº 1.552, de 22/12/1988, do Conselho Monetário Na-
cional, legitimando um segmento de mercado que era até então considera-
do ilegal, enquadrando neste segmento as operações de compra e venda de
câmbio a clientes, gastos com cartão de crédito no exterior, transferências uni-
laterais e movimentação na CC-5 e outras operações entre instituições finan-
ceiras como definidas pelo Bacen.
Importante salientar que, no início de 1999, o Banco Central do Brasil já tinha
iniciado os procedimentos para a unificação do mercado de câmbio, isto é, a cria-
ção de uma única taxa, e o fim da divisão até então existente entre o mercado
de câmbio livre e flutuante. Desta forma, a partir de 01/02/1999 os dólares que
sobravam em um segmento já podiam ser utilizados no outro.
A contabilização dos dólares comercial e do flutuante passaram a ser con-
juntas. Faltava, portanto, acabar com as diferenças de registro e regulamentação
entre os dois segmentos para a completa unificação.

5.12.2 Operações do Mercado de Taxas Flutuantes


Muito mais a título de curiosidade, está listada abaixo a relação das operações
que eram registradas no mercado de taxas flutuantes:

Serviços e operações com ouro


• Turismo;
• Negócios, serviços e treinamentos;
• Fins educacionais, científicos e culturais;
• Participação em competições esportivas;
74
• Tratamento de saúde;
• Operações com ouro.
TEMA 5
MERCADO CAMBIAL

Investimento brasileiro no exterior


• De pessoa jurídica;
• De pessoa física.

Investimentos no mercado de capitais entre os países signatários do MER-


COSUL
• Investimentos Brasileiros no Exterior em Certificados de Depósito de Ações
emitidas por Companhias sediadas em países do MERCOSUL;
• Membros do Congresso Nacional e do Poder Judiciário.

Transferências unilaterais
• Transferências de Patrimônio;
• Heranças e legados;
• Aposentadorias e pensões;
• Contribuições a entidades associativas;
• Contribuições a entidades previdenciárias;
• Compromissos diversos;
• Aluguel de veículo no exterior;
• Multas de trânsito;
• Reservas em estabelecimentos hoteleiros;
• Despesas com comunicações (telefone, fax, telex etc.);
• Aquisição de edital.

Outras despesas eventuais


• Manutenção de pessoas físicas no exterior;
• Prêmios auferidos no País;
• Indenizações não amparadas por seguros.

Outras transferências
• Fiança de créditos de exportações;
• Garantias bancárias;
• Aquisição de “software”;
• Vencimentos e ordenados;
• Serviços técnicos profissionais;
• Serviços de Imprensa;
• Cursos e congressos; 75
• Passagens marítimas internacionais;
• Passe de atleta profissional;
TEMA 5
MERCADO CAMBIAL • Capitais estrangeiros a curto prazo – menos de 360 dias;
• Encomendas internacionais;
• Remuneração, reembolso de despesas e custeio de torneios, competições e
outros eventos esportivos semelhantes;
• Remuneração de eventos internacionais de natureza artística;
• Aquisição de medicamentos no exterior por pessoas físicas não destinados à
comercialização;
• Participação em feiras e exposições;
• Publicidade e propaganda;
• Transmissão de eventos;
• Aquisição de imóveis;
• Aluguel de imóveis;
• Multas e/ ou juros contratuais;
• Honorários de membros de conselhos consultivos;
• Serviços aeroportuários;
• Utilização de bancos de dados internacionais;
• Honorários profissionais referentes a cursos, palestras e seminários;
• Instalação e/ ou manutenção de escritório no exterior.

Outras transferências não especificadas anteriormente


• Cartões de crédito Internacionais;
• Vales postais Internacionais;
• Reembolso postal Internacional.
Exportações de jóias, gemas, pedras preciosas e de artefatos de ouro de
pedras preciosas

5.12.3 AGENTES INTERVENIENTES NO MERCADO DE CÂMBIO


5.12.3.1 Banco Central do Brasil
Entidade autárquica criada pela Lei 4.595, em 31/12/1964, é o “Banco dos Bancos”.
Por delegação do Conselho Monetário Nacional, o Bacen instrui, supervisiona,
fiscaliza e controla o Sistema Financeiro Brasileiro. É dele que parte toda a orien-
tação sobre o mercado cambial doméstico.

5.12.3.2 Bancos Autorizados


São os bancos que, cumpridas as exigências determinadas pelo Banco Central
do Brasil, são credenciados a operar nos mercados de câmbio.

76
5.12.3.3 Agências de Turismo, Hotéis e Similares
São as entidades que, cumpridas as exigências da Resolução 1.522/88, são au-
torizadas pelo Bacen a operar no segmento de taxas flutuantes. TEMA 5
MERCADO CAMBIAL

5.12.3.4 Pessoas Físicas e Jurídicas


São as pessoas que buscam os mercados para comprar ou vender moeda es-
trangeira. Cumprida a legislação cambial, elas podem comprar ou vender a moe-
da estrangeira, restritas ao mercado (livre ou flutuante) específico para suas ope-
rações. Poderão ou não manter conta em moeda estrangeira, mas não poderão
transacionar livremente.

5.12.3.5 Corretores de Cãmbio


Antigamente, era obrigatória a presença do corretor de câmbio, nas praças
que mantinham bolsas de valores, em operações de câmbio superiores a US$
100.000,00.
Desde a implantação do Plano Real não existe mais essa obrigação. Todavia,
no interesse do comprador ou vendedor, haverá a interveniência do corretor.

77
ANOTE
TEMA 6

OPERAÇÕES FINANCEIRAS E
PAGAMENTOS INTERNACIONAIS –
MODALIDADES DE PAGAMENTOS
TEMA 6 – OPERAÇÕES FINANCEIRAS E PAGAMENTOS
TEMA 6
OPERAÇÕES FINANCEIRAS E INTERNACIONAIS – MODALIDADES DE PAGAMENTOS
PAGAMENTOS INTERNACIONAIS-
MODALIDADES DE PAGAMENTOS

Objetivos do Tema
• Conhecer os instrumentos de pagamentos que amparam as operações de
comércio exterior;
• Evidenciar a importância dos mesmos e o cuidado em utilizá-los de maneira
a assegurar a liquidação de suas operações, nas óticas de empresários,
comerciantes, exportadores, banqueiros e financiadores;
• Mostrar as principais modalidades de pagamento utilizadas no mercado
internacional: pagamento antecipado, remessa sem saque, cobrança, carta de
crédito.

6.1 PRINCIPAIS MODALIDADES DE PAGAMENTO


As principais modalidades de pagamento utilizadas no mercado internacional
são:
• Pagamento antecipado;
• Remessa Sem saque;
• Cobrança;
• Carta de crédito.

6.1.1 Pagamento antecipado


É a melhor condição de pagamento para o ex-
portador e a de maior risco para o importador. Nes-
te caso o importador faz uma remessa antecipada
dos recursos para o seu fornecedor (exportador)
e este, no prazo avençado previamente, remete a
mercadoria adquirida pelo importador.
É uma modalidade de pagamento utilizada mais
entre matrizes e filiais ou estas e suas congêneres.
Pressupõe uma confiança irrestrita entre as partes. Há a agravante de muitos pa-
íses colocarem obstáculos a essa prática, pois envolve uma saída antecipada de
divisas, o que sempre não é bem visto pelo país do importador.
No Brasil, as instruções cambiais (RMCCI18 1-12-5-3) permitem pagamento ante-
cipado de importação para embarque em até 180 dias. Isto significa que o exporta-
dor estrangeiro deverá embarcar em até 180 dias a mercadoria para o Brasil.
Em contrapartida, os exportadores brasileiros podem remeter as mercadorias
em até 360 dias (RMCCI 1-11-4-2A) do recebimento antecipado de suas exporta-
ções. Nota-se aí o tratamento diferenciado: quando nos beneficia, a legislação é
mais condescendente com o setor exportador e mais exigente com o importador.
Em todo o caso recomenda-se que as partes (exportador e importador) te-
nham um contrato assinado entre as si, de maneira a proteger os direitos e obri-
gações dos contratantes vendedores/compradores.
80 Regulamento do Mercado de Câmbio e Capitais Internacionais
18
6.1.2 Remessa sem saque
Trata-se de modalidade de pagamentos em que o exportador remete os do- TEMA 6
cumentos diretamente ao importador/sacado no exterior, sem transitar pela OPERAÇÕES FINANCEIRAS E
PAGAMENTOS INTERNACIONAIS-
rede bancária. Também representa uma operação de risco e pressupõe, como no MODALIDADES DE PAGAMENTOS

pagamento antecipado, uma confiança irrestrita entre as partes. De novo, ope-


ração realizada entre Matrizes e Filiais e entre estas últimas e suas congêneres e
Matrizes.
Por que operação de risco?
O importador tendo recebido a documentação diretamente do exportador/
vendedor, pega o conhecimento de embarque e a fatura, dirige-se à alfândega
de destino e recebe a mercadoria. E pode fazê-lo sem pagar a importação.
Ao lado desse risco, apresenta também algumas vantagens operacionais e fi-
nanceiras:
• documentação chega mais rapidamente às mãos do importador. Assim que
a documentação de exportação estiver pronta, o exportador utiliza-se dos
serviços de courier e remete imediatamente os documentos ao exterior. Essa
agilidade vai permitir ao importador preparar-se convenientemente para a
liberação da mercadoria (suprir-se para os impostos, contratar seguro e frete
locais etc.);
• despesas bancárias reduzidas, pois o banco não estará envolvido na operação
da remessa e manuseio dos documentos, apenas na sua liquidação, via con-
tratação de câmbio.
Até o advento da Carta-Circular BACEN no 3.280, de 09.03.2005, o Banco Cen-
tral obrigava o exportador (com exceções pontuais) a entregar os documentos
originais da exportação do banco negociador de câmbio. Atualmente, o expor-
tador, independentemente da via de transporte, poderá enviar a documentação
diretamente ao importador. Se ocorrer fechamento de câmbio, o exportador de-
verá negociar com o banco comprador das divisas a remessa direta ou não dos
documentos de exportação.
Por que o banco comprador de câmbio deverá autorizar? Muito provavel-
mente o banco adquirente da moeda estrangeira financiou o exportador. Para
manter-se a par da operação e zelar pelos seus ativos financeiros o banco deverá
acompanhar o processo da operação até ao seu final. Isso não quer dizer que não
autorizará. Dependendo de sua política de crédito, e do histórico do exportador
com o banco, este autorizará ou não a remessa direta.

6.1.3 Cobrança
Cobrança, de acordo com as regras e usos uniformes para cobranças, Revisão
nº 522, de 01.01.1996, da Câmara de Comércio Internacional, Paris, França, repre-
senta a entrega de documentos a um banqueiro, com instruções de:
• Obter pagamento e/ou aceite desses documentos;
• Entregar documentos contra pagamento ou aceite;
• Entregar outros documentos com outros termos e condições especificados.

6.1.3.1 Tipos de cobrança


A cobrança poderá ser documentária comercial e/ou financeira e cobrança limpa. 81
• Cobrança documentária

TEMA 6 Uma cobrança documentária comercial poderá vir ou não, acompanhada de


OPERAÇÕES FINANCEIRAS E documentos financeiros.
PAGAMENTOS INTERNACIONAIS-
MODALIDADES DE PAGAMENTOS
Os documentos financeiros são representados pelas cambiais (letras de câm-
bio ou saques), notas promissórias ou outros documentos similares utilizados
para pagamento.
Os documentos comerciais são representados pelas faturas comerciais, docu-
mentos de transportes, outros documentos não-financeiros.

• Cobrança limpa
A cobrança limpa é uma cobrança não acompanhada de documentos comer-
ciais (faturas, conhecimentos etc.), mas acompanhada de um documento finan-
ceiro (saque, nota promissória etc.).

6.1.3.2 Quanto ao prazo de pagamento


As cobranças podem ser à vista ou a prazo.
• Cobrança à vista
O importador paga à vista ao banco encarregado da cobrança, recebe a docu-
mentação de importação, habilitando-se a retirar sua mercadoria junto à alfândega.

• Cobrança a prazo
O importador, quando recebe a documentação da importação junto ao banco
assume o compromisso de pagar a operação em um determinado número de
dias do aceite da cambial ou saque. O saque ou cambial é um título aceito pelo im-
portador que se comprometeu a pagar a importação em um prazo determinado.
No prazo avençado ele dirige-se ao Banco, compra a moeda estrangeira, o Banco
faz a remessa para o país do exportador, via SWIFT19, e a operação é liquidada.

6.1.4 CARTA DE CRÉDITO DOCUMENTÁRIO


A carta de crédito é, de longa data, uma das manifestações da prática mercantil
destinada a oferecer certa garantia aos contratos de compra e venda, principal-
mente no mercado internacional.
O crédito documentário (ou Documentado), de criação mais recente, vem se
desenvolvendo e se aperfeiçoando através dos anos.
Com a crise que se abateu sobre o mundo, durante e após a Primeira Grande
Guerra (1914 -1918), agravada pela crise de 1929 (crash da Bolsa de Nova Iorque,
EUA ), os vendedores, no mercado internacional, como forma de cercar os contra-
tos de venda de suas mercadorias de maiores e mais sólidas garantias, passaram
a exigir um pacto acessório de garantia, ao lado dos contratos mercantis de com-
pra e venda, representado pela intervenção de um estabelecimento de crédito.
A partir de então os créditos dos devedores passaram a ser amparados por garantia
bancária que tanto podia ser fornecida por um estabelecimento de crédito da praça do
exportador quanto do importador, e, às vezes, quando havia a descrença da solvabili-

82 Society for Worldwide Interbank Financial Telecommunication


19
dade de bancos distantes do mercado de venda, exigiam os vendedores que a garantia
de um Banco fosse confirmada por outro de sua confiança. Com esta exigência faziam
TEMA 6
com que aquele Banco que assim agisse passasse a assumir, diretamente, a responsa- OPERAÇÕES FINANCEIRAS E
bilidade pelo bom termo do negócio. A partir do empenho ou obrigação direta de um PAGAMENTOS INTERNACIONAIS-
MODALIDADES DE PAGAMENTOS
banqueiro, ao que se convencionou chamar crédito bancário, estabeleceu-se um certo
equilíbrio nas relações contratuais entre vendedores e compradores de países distin-
tos. Ao vendedor ficava assegurado que o preço de venda lhe seria pago; ao compra-
dor se dava a certeza de que receberia a coisa comprada, nas condições ajustadas.
Com o decorrer dos anos, os agentes do comércio internacional foram criando
práticas e procedimentos assemelhados para se adequarem a essa modalidade
de negócio. Porém, o mercado mundial ressentia-se da falta de regras claras e uni-
formes que estabelecessem as obrigações e responsabilidades de todas as partes
envolvidas. Surge então em cena um organismo mundial, cuja tarefa primordial é a
de contribuir para a expansão do comércio internacional, através da criação de fa-
cilitadores da realização de negócios entre empresas de diferentes países. Esse or-
ganismo mundial que faltava chama-se Câmara de Comércio Internacional – CCI.

6.1.4.1 Regras e usos uniformes sobre créditos documentários


De uma reunião de trabalho da Câmara de Comércio Internacional, ocorrida
em Viena, Áustria, em 1933, resultou a publicação de um documento denomina-
do de “Regras e Usos Uniformes Sobre Créditos Documentários” cuja finalidade
maior foi a de proteger os banqueiros a respeito de instruções incompletas e im-
precisas dadas pelo comprador. Com o passar dos anos, as “Regras” foram sendo
aperfeiçoadas mediante a incorporação de costumes bancários internacionais
e outras regras que facilitassem as funções bancárias. Seu aprimoramento tem
sido buscado por meio de revisões e atualizações periódicas levadas a efeito pela
Comissão de Bancos da Câmara de Comércio Internacional. Foram feitas revisões
em 1951, 1962, 1974, 1983 e, por último, em 1993.

6.1.4.2 Negociação da carta de crédito


De uma maneira sucinta você tomou conhecimento de alguns cuidados que
o empreendedor deve tomar na negociação da carta de crédito, seja para a expor-
tação, seja para importação.
Todavia, é importante um outro lembrete muito especial: independentemen-
te da negociação ocorrer em ordem, sem discrepâncias, é necessário que o ex-
portador tenha informações seguras sobre o importador e vice-versa.

6.1.4.3 Informações importantes para importadores e exportadores.


Os bancos negociam documentos. Há que se considerar com cuidado os aspec-
tos cadastrais da outra parte, bem como a idoneidade de seus proprietários.

6.1.4.4 Conceito de crédito documentário- Disposições gerais e definições


O crédito documentário é uma modalidade de pagamento bastante usual,
porque oferece maiores garantias, tanto para o vendedor (exportador) como
para o comprador (importador). Em que pese o fato de que é o importador quem
procura um banco para propor a abertura de um crédito, convém ressaltar que
o mesmo decorre de exigência feita pelo exportador, cabendo a este, portanto, 83
determinar as condições e os termos principais do instrumento, de modo que
possa cumpri-lo integralmente e, por conseqüência, exigir tempestivamente sua
TEMA 6
OPERAÇÕES FINANCEIRAS E garantia. Cabe, portanto, ao exportador, caso sua escolha recaia - dentre as diver-
PAGAMENTOS INTERNACIONAIS- sas modalidades de operações internacionais- sobre a modalidade do “crédito”,
MODALIDADES DE PAGAMENTOS
procurar certificar-se, dentre outros itens:
a) de que o emitente é banco sólido e tradicional, de primeira linha, não repre-
sentando risco comercial para a operação;
b) de que o país do emitente não está sujeito a restrições cambiais ou regula-
mentos que possam impedir ou dificultar certas transações de comércio exte-
rior, particularmente as suas importações;
c) não sendo favorável o cenário oferecido pela análise dos itens precedentes,
de que será possível obter “Confirmação” do Crédito;
d) que será possível obter “confirmação” do crédito, caso o cenário oferecido
pela análise dos itens precedentes não seja favorável;
e) se o crédito estabelece compromisso revogável, irrevogável ou irrevogável
confirmado;
f ) de que os documentos a serem exigidos pelo importador ou seu país poderão
ser apresentados.
g) de que sua emissão não acarretará gastos adicionais;
h) de que o país do importador permite a instituição do crédito cobrindo o valor
total da operação;
i) se o tipo de mercadoria exige ou não flexibilidade no tocante ao valor ao Cré-
dito (“about”);
j) se serão permitidos ou proibidos embarques parcelados; se haverá restrição/
exigência de porto, para embarque/desembarque da mercadoria, de trans-
portadores e bandeiras de navios/ aeronaves;
k) de que o Crédito poderá ser emitido para utilização no seu país e de que os
prazos de validade(de embarque e apresentação dos documentos) serão
compatíveis com as condições e natureza da venda;
l) de que ele, exportador, poderá satisfazer plenamente as condições gerais do
crédito.

6.1.4.5. A Red Clause ou Cláusula Vermelha


A Red Clause (Cláusula Vermelha), muito comum no comércio internacional,
permite que o beneficiário receba antecipadamente o valor total ou parcial do
crédito para, posteriormente, entregar os documentos ao banco.
Via de regra, ela é instituída para dar ao beneficiário meios para adquirir ou
fabricar o produto a ser exportado.
Por sua natureza de adiantamento sem garantia, ela deverá existir apenas
quando o importador tiver plena confiança no seu fornecedor estrangeiro (exporta-
dor). No Brasil, salvo em casos especiais, expressamente autorizados pelo Banco
Central do Brasil, ela é proibida para as importações, sendo permitida somente
quando instituída para os créditos de exportação.
A abertura, negociação e liquidação do crédito devem ser processadas de
acordo com as “Regras e Usos Uniformes Relativos a Créditos Documentários”,
84
Publicação No. 500, da C.C.I20., as quais, salvo se expressamente estipulado em con-
trário no crédito, obrigam, ao seu cumprimento, todas as partes interessadas.
TEMA 6
Segundo essas “Regras”, as expressões “créditos documentários” (ou “créditos”) OPERAÇÕES FINANCEIRAS E
PAGAMENTOS INTERNACIONAIS-
abrangem qualquer ajuste pelo qual um banco (banco emitente), agindo a pedido e MODALIDADES DE PAGAMENTOS

em conformidade com instruções de seu cliente (tomador):


• deve efetuar pagamento a terceiros (beneficiários) ou à sua ordem, ou aceitar
e pagar letras de câmbio emitidas pelo beneficiário; ou
• autoriza outro banco a efetuar tal pagamento, ou aceitar e pagar as referidas
letras de câmbio; ou
• autoriza outro banco a negociar, contra a entrega de documentos exigidos,
desde que respeitados os termos e condições do crédito.
Os créditos são, por sua natureza, transações distintas das vendas ou de outro(s)
contrato(s) que lhes possam ter servido de base, e de modo algum tal(is) contrato(s)
envolve(m) ou obriga(m) os bancos, mesmo que alguma referência a ele(s) esteja
incluída no crédito. Portanto, o compromisso de um banco de pagar, aceitar le-
tras ou negociar e/ou cumprir qualquer outra obrigação relativa ao crédito, não
está sujeito a reclamações do tomador do crédito decorrentes de seu relaciona-
mento com o banco emitente ou com o beneficiário.
Insistindo, nas operações amparadas em crédito, todas as partes intervenien-
tes transacionam com documentos e não com mercadorias, serviços e/ou outros
itens aos quais os documentos possam referir-se.

6.1.4.6 Forma e Notificação do Crédito


Em linhas gerais, o procedimento para o estabelecimento de um crédito docu-
mentário é o seguinte:
• O importador providencia junto a um banco da praça a abertura de uma car-
ta de crédito no exterior, através do correio ou por teletransmissão (SWIFT),
em favor do exportador da mercadoria (ou dos serviços). Tal crédito pode ser
transmitido ao beneficiário diretamente pelo banco emitente, como através
de um seu correspondente na praça do exportador.;
• Nessa carta de crédito são delineados os termos e condições em que a operação
deve ser concretizada; termos e condições esses que dizem respeito, especialmen-
te, aos seguintes itens: nome e endereço completo do beneficiário, forma do cré-
dito, valor e moeda do crédito, prazos de validade para embarque e negociação,
documentação exigida (fatura, conhecimento de embarque, apólice de seguro,
saque, certificado de origem etc.), porto de embarque e desembarque, forma de
utilização (pagamento à vista, aceite ou negociação), em que banco será utilizável,
permissão ou não para embarques parcelados ou transbordos etc;
• Todo o crédito documentário deve indicar claramente se ele é revogável ou
irrevogável. À falta de indicação, todo o crédito é considerado, por princípio,
como irrevogável;
• O crédito revogável pode ser emendado ou cancelado pelo banco emitente
a qualquer momento, sem qualquer comunicação prévia ao beneficiário. Este
tipo de Crédito não oferece garantias ao exportador no que se refere à conti-
nuidade da transação, motivo pelo qual é pouco utilizado;
• O crédito irrevogável, ao contrário, somente pode ser emendado ou cance-
A Publicação no. 500 da Câmarra de Comércio Internacional (CCI) também é conhecida como Brochura 500.
20
85
lado mediante prévia e expressa concordância do banco emitente, do banco
confirmador, se houver, e do beneficiário. É o mais utilizado no comércio exte-
TEMA 6
OPERAÇÕES FINANCEIRAS E rior por ser a modalidade de crédito que oferece maiores garantias ao expor-
PAGAMENTOS INTERNACIONAIS- tador.
MODALIDADES DE PAGAMENTOS

6.2 OUTROS TIPOS DE CRÉDITO


Além dos tipos citados acima, os créditos podem ser, ainda, transferíveis e con-
firmados.

6.2.1 Crédito Transferível


No crédito transferível, o banco é autorizado a pagar o total ou parte do seu
valor a uma ou a várias terceiras pessoas, de acordo com instruções recebidas do
primeiro beneficiário. Um crédito pode ser transferido, desde que expressamen-
te seja designado como “transferível” pelo banco emitente.
Mesmo que um Crédito não seja declarado “transferível”, o beneficiário poderá
exercer a faculdade de ceder os direitos que tenha ou venha a ter segundo os
termos do crédito. Entretanto, essa faculdade refere-se tão somente à cessão de
direitos de valores e não à faculdade de cumprir os termos do próprio crédito.

6.2.2 Crédito Confirmado


No crédito confirmado, o exportador fica amplamente garantido, já que uma
confirmação de um crédito irrevogável por um outro banco constitui um com-
promisso firme do Banco confirmador, adicionalmente ao do Banco emitente,
desde que os seus termos e condições sejam integralmente cumpridos:
• se o crédito estipular pagamento à vista - de pagar à vista;
• se o crédito estipular pagamento a prazo - de pagar na(s) data(s) de vencimento(s)
determinada(s) segundo as condições do crédito;
• se o crédito estipular aceite - de aceitar letra(s) sacada(s) pelo beneficiário
contra o Banco confirmador ou outro banco designado e pagá-las no venci-
mento;
• se o crédito estipular negociação - de negociar, sem direito de regresso contra
os sacadores, letra(s) sacada(s) pelo beneficiário e/ou documentos apresenta-
do (s) conforme os termos do crédito.

6.3 FORMAS DE UTILIZAÇÃO DOS CRÉDITOS


Todos os créditos devem indicar, também, de forma clara, se são utilizáveis por
pagamento à vista, por pagamento a prazo, por aceite ou por negociação.

6.4 PARTES INTERVENIENTES DA CARTA DE CRÉDITO. DIREITOS E ORBRIGAÇÕES


Todo o crédito documentário tem como partes intervenientes:
• o beneficiário = exportador (vendedor);
• o tomador do crédito = importador (comprador);
• o banco emitente = aquele que age a pedido do importador no processo de
86 abertura;
• o banco avisador = banqueiro da praça do exportador que transmite/comuni-
ca a abertura do crédito, sem responsabilidade de sua parte;
TEMA 6
• o banco negociador = banqueiro que paga ao exportador e ainda, opcional- OPERAÇÕES FINANCEIRAS E
PAGAMENTOS INTERNACIONAIS-
mente; MODALIDADES DE PAGAMENTOS

• o banco confirmador = banco que assume o compromisso de pagar ao expor-


tador, em qualquer circunstância.
Todas as obrigações e responsabilidades das partes intervenientes na moda-
lidade de crédito documentário acham-se consolidadas nos 49 artigos que com-
põem o conjunto das “Regras”. Na seqüência serão apresentadas algumas delas.

6.5 DOCUMENTOS – EMISSÃO E PRAZOS PARA APRESENTAÇÃO


Os bancos não assumem quaisquer responsabilidades pela forma, suficiên-
cia, exatidão, autenticidade, falsificação ou eficácia legal de qualquer (quaisquer)
documento(s), nem pelas condições gerais e/ou particulares estabelecidas nos
documentos ou neles sobrepostos. Tão pouco assumem qualquer obrigação pela
descrição, quantidade, peso, qualidade, embalagem, entrega, valor ou existência
da mercadoria representada por qualquer (quaisquer) documento(s).
Todos os créditos devem estipular data de vencimento e local para a apresen-
tação dos documentos para pagamento, ou para aceite. Também devem indicar,
à exceção dos créditos livremente negociáveis, o local para apresentação dos
documentos para negociação. Uma data de pagamento estipulada para paga-
mento, para aceite ou para negociação será entendida como data final para apre-
sentação dos documentos.
Além de estipular uma data de vencimento para apresentação dos documen-
tos, todo o crédito, que exija documento(s) de transporte, deve também estipu-
lar um prazo definido, a partir da data do embarque, durante o qual devem ser
apresentados. Caso não seja estipulado tal prazo, os bancos recusarão os docu-
mentos que lhes forem apresentados após 21 dias da data do embarque. Em
qualquer caso, entretanto, os documentos não devem ser apresentados após a
data do vencimento do crédito.

6.6 OPERAÇÕES FINANCEIRAS INTERNACIONAIS


6.6.1 Derivativos - Créditos Especiais
O comércio internacional, em razão de sua complexidade e do seu constan-
te desenvolvimento, está sempre a exigir de seus participantes grande dose de
criatividade e alto poder de adaptação. Resultado direto de tais exigências, os
chamados créditos especiais surgiram como forma de adequação do mercado
às peculiaridades que envolvem certos tipos de operações.

6.6.2 Carta de Crédito de Reserva ou Emergência - Standby Letter of Credit


Enquanto o crédito documentário é destinado a garantir o cumprimento e/ou
desempenho (performance), as cartas de crédito standby são destinadas a garantir
o não cumprimento e/ou o não desempenho (non performance).
Trata-se de uma operação de crédito externo, a fim de possibilitar a obten-
ção de recursos junto a um banco, formalizada através de uma carta de crédito
com vencimento estipulado. São utilizadas, também, como forma de abertura de 87
crédito a favor de um país, por organismos econômicos mundiais – como o FMI
- Fundo Monetário Internacional - para ser utilizado quando necessário (emer-
TEMA 6
OPERAÇÕES FINANCEIRAS E gência).
PAGAMENTOS INTERNACIONAIS-
MODALIDADES DE PAGAMENTOS Digamos que uma empresa brasileira pretenda obter um empréstimo junto a
um banco na Inglaterra. Com o objetivo de prevenir-se contra uma eventual falta
de pagamento do empréstimo (non performance), o banco daquele país exige
uma garantia de um banco brasileiro. Tal garantia, uma vez emitida, representará
um crédito de reserva (standby) ao banco inglês e será utilizada somente se a
empresa nacional, tomadora do empréstimo, não honrar seu compromisso de
pagamento.

6.6.3 Crédito Rotativo - Revolving Letter of Credit


Modalidade de crédito em que a totalidade ou parte do seu montante se tor-
na disponível após a utilização, geralmente dentro das mesmas condições, sem
que seja necessária a emissão de uma nova carta de crédito.
Os créditos com restabelecimento automático estipulam que os valores pa-
gos tornar-se-ão novamente e automaticamente disponíveis, até que o total dos
pagamentos a serem liquidados pelo tomador (importador) do crédito atinja o
valor total da carta de crédito. Nos créditos sem restabelecimento automático, o
valor torna-se novamente disponível para novos embarques, mas apenas após o
recebimento, pelo beneficiário (exportador), de notificação de restabelecimento
emitida pelo banco emitente.
O crédito rotativo é muito utilizado por importadores que adquirem, de um
mesmo fornecedor, continuadamente, o mesmo tipo de mercadoria. No Brasil, as
indústrias calçadistas encontram-se entre as maiores beneficiárias desta moda-
lidade de crédito.

6.6.4 Crédito Transferível


O crédito transferível é um crédito sob o qual o beneficiário (primeiro benefi-
ciário) pode solicitar ao banco autorizado a pagar, a responsabilizar-se pelo cum-
primento da obrigação por pagamento diferido, a aceitar ou a negociar (o banco
transferidor). Ou, no caso de um crédito livremente negociável, ao banco especi-
ficamente autorizado no crédito como banco transferidor, que coloque o crédito
à disposição no todo ou em parte a um ou mais outro(s) beneficiário(s), também
conhecido(s) por segundo(s) beneficiários(s)).
Um crédito pode ser transferido somente se for expressamente designa-
do como “transferível” pelo banco emitente. Termos como “divisível”, “cedível” e
“transmissível” não tornam o crédito transferível.

6.6.5 Crédito Triangular - Back to Back Credit


É o crédito documentário vinculado a um primeiro crédito, denominado como
crédito mestre (Master Credit), onde o beneficiário (exportador) do primeiro cré-
dito é geralmente um intermediário (não produtor) que cede seus direitos a um
banco para a emissão de um segundo crédito a favor do fornecedor (produtor)
da mercadoria.
Na realidade, o Back to Back Credit não se configura como um tipo de carta de
88 crédito, mas sim como uma modalidade de operação baseada em duas cartas de
crédito. Na prática, este tipo de operação ocorre da seguinte forma:
um importador desejando adquirir certa mercadoria no exterior emite uma TEMA 6
carta de crédito a favor do exportador estrangeiro, que terá que adquirir a referi- OPERAÇÕES FINANCEIRAS E
PAGAMENTOS INTERNACIONAIS-
da mercadoria de um produtor local que somente lhe venderá a mesma contra MODALIDADES DE PAGAMENTOS

uma carta de crédito doméstica.


o exportador dirige-se a um banco de sua preferência e solicita a emissão de
uma carta de crédito doméstica em favor do produtor local, apresentando, como
garantia, o crédito emitido a seu favor pelo importador.O valor deste crédito é
então transferido ao banco emitente do crédito doméstico que, via de regra, é de
valor inferior ao do primeiro.
efetuada a exportação, o banco local paga ao exportador a diferença entre as
duas cartas de crédito. A diferença representa o lucro do exportador.

89
ANOTE
TEMA 7

TAXA DE CÂMBIO
TEMA 7 – TAXA DE CÂMBIO
TEMA 7
TAXA DE CÂMBIO
Objetivos do Tema
• Proporcionar o conhecimento de como se movimentam as taxas no mercado de câmbio;

• Mostrar a lei da oferta e da procura de moeda estrangeira, as oscilações de mercado e


as cotações de câmbio, conectadas com o padrão da taxa de câmbio e com o sistema de
taxas livres, oficiais, fixas e variáveis;

• Mostrar como acontecem as oscilações cambiais e quais os tipos de operações que ocor-
rem no Mercado Brasileiro de Câmbio.

7.1 A TAXA DE CÂMBIO


Taxa de câmbio é o preço convencionado em unidades ou frações (centavos),
para recebimento em moeda nacional, por instituição autorizada a operar em
câmbio, pela venda de moeda estrangeira, ou paga em moeda nacional pela ins-
tituição, pela compra de moeda estrangeira.
Esse valor arbitrado para compra ou venda é denominado de cotação.
Por isso dizemos que existe cotação para compra e cotação para a venda da
moeda estrangeira. Para termos a cotação correta temos que nos posicionar em
uma das pontas: vendedora ou compradora.
Você chega à cotação das diversas moedas estrangeiras em relação ao Real
utilizando a paridade das mesmas em relação ao dólar e a paridade deste em
relação à moeda nacional, isto é, ao Real ou R$.
No Brasil, a moeda estrangeira mais negociada é o dólar dos Estados Unidos,
fazendo com que a cotação mais comumente utilizada seja a dessa moeda. Des-
sa forma, quando se fala que a taxa de câmbio é 2,15, significa que o dólar norte-
americano custa R$ 2,15.

7.1.1 A taxa e a lei da oferta e da procura


A compra e a venda de moeda estrangeira ocor-
rem de acordo com as regras do mercado, isto é,
dentro da lei de oferta e de procura.
Como qualquer outro ativo, o excesso ou falta da
moeda estrangeira é que irá fixar o seu preço, isto é, o
valor de mercado.

7.1.2 Taxa de Compra


É a cotação que o operador de câmbio utili-
za para as operações de compra de uma determi-
nada moeda. Exemplo: US$ 1,00 está cotado a R$
2,1500/2,1580.
A cotação para a compra pela instituição operadora de câmbio é a da esquerda,
isto é, a instituição está disposta a comprar o dólar norte-americano por R$ 2,1500.

92
7.1.3 Taxa de Venda
É a cotação utilizada pelos operadores de câmbio para as operações de venda de
determinada moeda estrangeira. Exemplo: US$ 1,00 está cotado a R$ 2,1500/2,1580. TEMA 7
TAXA DE CÂMBIO
A cotação para a venda dada pela instituição autorizada a operar câmbio é a da
direita, isto é, a instituição está disposta a vender dólar americano por R$ 2,1508.

7.1.4 Taxa ascendente


A taxa de câmbio estará em situação ascendente quando:
• A procura for maior que a oferta;
• A procura permanecer estável e a oferta diminuir;
• A procura e a oferta crescerem e o crescimento da procura for maior que o
da oferta;
• A procura e a oferta diminuírem; e a diminuição da oferta for menor do que a
procura.

7.1.5 Taxa descendente


A taxa cambial terá sentido descendente quando:
• A oferta aumenta e a procura permanece estável;
• A oferta aumenta e a procura diminui;
• A oferta e demanda aumentam e o aumento da oferta é maior do que a de-
manda;
• A procura diminui e a oferta permanece estável;
• A oferta e a procura diminuem e a diminuição da procura é maior do que a oferta.

7.1.6 Taxas livres e oficiais


A taxa é livre quando é determinada pelo mercado segundo a lei da oferta e
da procura. Ela se forma, portanto, dentro de um mercado totalmente livre. O Go-
verno apenas intervirá se perceber que algum movimento especulativo (contra
a moeda local ou divisa estrangeira) está ocorrendo e pode provocar oscilações
indesejáveis no mercado.

7.1.7 Taxas fixas e variáveis


Taxa fixa é quando o valor de uma taxa, independentemente da oferta e da pro-
cura da mesma no mercado, permanece imutável por determinado período. Esse
tipo de situação já foi experimentado no passado, quando alguns planos econômi-
cos foram implementados. No Plano Cruzado, na época do presidente José Sarney
em que o câmbio permaneceu com a taxa fixa por alguns meses, no Plano Verão
por ocasião do mandato do mesmo Presidente, no início do Governo Collor etc.
Na taxa variável, como se depreende, a cotação pode variar no sentido ascenden-
te ou descendente, dependendo da oferta e da demanda pelas divisas no mercado.
Se a taxa é variável, podemos corretamente afirmar que a taxa é flutuante, ou

93
seja, é comprada e vendida dentro da lei da oferta e da procura.

TEMA 7
TAXA DE CÂMBIO 7.1.8 O spread
O spread é a diferença entre a taxa de compra e a taxa de venda, com a qual,
os bancos ou estabelecimentos autorizados a operar em câmbio cobrem seus
custos e realizam seus lucros.

7.1.9. Taxa PTAX do Banco Central do Brasil


É a taxa média de venda (compra) do dólar norte-americano comercial pon-
derada em valor, apurada pelo Bacen ao final de cada dia e, que serve como refe-
rência para os negócios em dólar norte-americano.
Segundo a Circular 3.300 em seu artigo 1º diz o seguinte: As cotações de
compra e de venda da PTAX serão calculadas com base no resultado da taxa
média (ponderada pelos volumes) das operações realizadas no mercado inter-
bancário de cambio, com liquidação em d+2, obtida apos o expurgo de uma
parcela dessas operações, cujo volume não é superior a 5% do volume nego-
ciado no dia. O expurgo é feito para eliminar possíveis operações outliers21.

7.1.10 As bandas cambiais


Com a implantação do Plano Real, foi criado o conceito de bandas cambiais
com o objetivo, entre outros, de controlar a entrada de recursos externos. O Ba-
cen passou a, eventualmente, comprar dólar por uma taxa inferior à taxa de ven-
da. Uma diferença ampla entre as duas cotações é um fator de desestímulo ao
smart money22.
Em fevereiro de 1996, o Bacen estabelece a “faixa de flutuação” da Banda Cam-
bial como sendo de R$ 0,97 por US$ 1,00 a paridade mínima para sua interven-
ção de compra, e R$ 1,06 por US$ 1,00 sua paridade máxima para a intervenção
de venda no mercado de taxas livres (dólar comercial).
Este mecanismo foi extinto em 15/01/1999, com a adoção do mecanismo de
dólar flutuante em que a cotação do dólar passava a ser formada unicamente
pelo mercado, com a intervenção do Bacen apenas em situação de crise, se fosse
o caso, para controlar a volatilidade excessiva.

7.1.11 A desvalorização cambial


Quando a economia de um país sofre os efeitos da inflação, ou seja, se os cus-
tos dos produtos produzidos internamente crescem, haverá a necessidade, de
forma a manter a competitividade desses produtos no mercado internacional,
de alterar as taxas de câmbio que permitam o reajuste de preços internos aos
preços externos, após compensado o desconto da inflação externa.
No caso do Brasil, os ajustes são feitos sempre em relação ao dólar, que é a mo-
eda de referência de nossas transações externas. A desvalorização do real frente
ao dólar é calculada levando-se em conta a taxa de câmbio nominal média do
período, considerando a cotação de venda do Bacen corrigida pela relação entre
o índice de preço no atacado dos EUA e o IPA-DI da Fundação Getúlio Vargas.

Operações que tenham sido fechadas com taxas muito discrepantes em relação à média do dia.
21

94 Recurso externo que só é internalizado para obter ganho em prazo curto, à medida que o percentual dessa diferença não permita
22

compensar, no prazo de oportunidade, a diferença entre as taxas de juros internas e externas.


ANOTE
ANOTE
TEMA 8

TRIBUTAÇÃO NO
COMÉRCIO EXTERIOR
TEMA 8 – TRIBUTAÇÃO NO COMÉRCIO EXTERIOR
TEMA 8
TRIBUTAÇÃO NO
COMÉRCIO EXTERIOR Objetivos do Tema
• Oferecer os dados que proporcionam o conhecimento da tributação aplicada às
operações de comércio exterior, tanto nas exportações como nas importações;
• Mostrar o tratamento fiscal nas exportações e como funcionam os regimes
aduaneiros e a tributação alfandegária;
• Apresentar um comparativo da tributação brasileira com a de outros países.

8.1 QUEM TRIBUTA AS OPERAÇÕES DE EXPORTAÇÃO


Uma das questões fundamentais das transações comerciais internacionais é a
de saber quem tributa as operações de exportação de mercadorias. A pergunta
é: a tributação corre por conta do país vendedor ou do país comprador?

8.1.1 Alguns países adotam a tributação no destino


É bom saber que alguns países adotam o princípio da tributação no destino,
ou seja, a incidência dos tributos ocorre no país onde serão consumidas as mer-
cadorias. Dessa forma, a exportação é isenta dos tributos internos.

8.1.2 Outros países tributam a mercadoria na origem, ou seja, antes de ser


exportada
Em contrapartida, há outros países que adotam o princípio da tributação na
origem das mercadorias. As exportações são tratadas como qualquer transação
interna, sofrendo a incidência dos tributos.

8.1.3 O Brasil adota o princípio da tributação no país de destino


No Brasil, é adotado o princípio da tributação no país de destino.Desta forma
as exportações de mercadorias, ao saírem do país, não sofrem a incidência de
impostos, respeitados os princípios internacionais.

8.2 RELAÇÃO DE IMPOSTOS ISENTOS NAS OPERAÇÕES DE EXPORTAÇÃO


Apresentamos abaixo uma relação de impostos que são suspensos ou isentos
nas operações de exportação:

8.2.1 Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI)


Não há incidência do imposto sobre produtos industrializados na saída de
produtos com destino ao exterior.
No caso de venda do produto no mercado interno, em operação equiparada
à exportação ou para a qual sejam atribuídos os incentivos fiscais concedidos à
exportação, a saída é efetuada com isenção do IPI. Como exemplo, a venda com
o fim específico de exportação, nos termos do Decreto-Lei nº. 1.248, de 29.11.72,
à empresa comercial exportadora.
No caso de venda do produto no mercado interno, com destino à exportação,
98 para empresa comercial que opera no comércio exterior, a saída é efetuada com
suspensão do IPI.
A suspensão do imposto aplica-se, também, nas saídas com o fim de exporta-
TEMA 8
ção para: TRIBUTAÇÃO NO
COMÉRCIO EXTERIOR
• armazém-geral alfandegado, entreposto aduaneiro e entreposto industrial;
• outros estabelecimentos da mesma empresa.
A suspensão do IPI aplica-se ainda:
• a produto intermediário e material de embalagem, de fabricação nacional,
vendidos a estabelecimento industrial para industrialização de produto a ser
exportado;
• a suspensão é também aplicada quando produtos intermediários e material
de embalagem são vendidos a estabelecimento comercial, para industriali-
zação em outro estabelecimento da mesma empresa ou de terceiros, e que
também se destinem à exportação.
É importante observar que além da não incidência na exportação, ao fabrican-
te é concedido o direito à manutenção do crédito do IPI relativo à matéria-prima,
produto intermediário e material de embalagem adquiridos para emprego na
industrialização de produto exportado.
Neste caso, o crédito não é estornado e pode ser utilizado:
• por dedução do valor do IPI devido em saídas tributadas;
• por transferência para outro estabelecimento da empresa;
• por compensação com débitos de quaisquer tributos e contribuições sob a
administração da Secretaria da Receita Federal, nos termos da legislação em
vigor;
• mediante ressarcimento em dinheiro.

8.2.2 Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços de


Transporte Interestadual, Intermunicipal e de Comunicação (ICMS)
Não há incidência do imposto sobre a circulação de mercadorias e serviços
sobre operações que destinem ao exterior produtos industrializados, inclusive
produtos semi-elaborados, produtos primários ou prestação de serviços.
O ICMS não incide, ainda, sobre operações de saída de mercadoria, com o fim
específico de exportação para o exterior, destinada a empresa comercial expor-
tadora, inclusive a constituída nos termos do Decreto-Lei n° 1.248, de 29.11.72 ou
outro estabelecimento da mesma empresa, ou ainda a armazém alfandegado ou
entreposto aduaneiro.
Da mesma forma que para o IPI, é concedido o direito à manutenção do crédi-
to de ICMS relativo à mercadoria entrada no estabelecimento para integração ou
consumo em processo de produção de mercadorias destinadas ao exterior.
Os créditos não necessitam ser estornados e os saldos credores do ICMS acu-
mulados podem ser:
• transferidos e utilizados por qualquer estabelecimento do contribuinte no
mesmo Estado;
• transferidos para outros contribuintes do mesmo Estado, mediante o reco-
nhecimento formal do crédito pela autoridade competente.

99
8.2.3 Contribuição para Financiamento da Seguridade Social (COFINS)
Na determinação da base de cálculo da COFINS são excluídas as receitas de-
TEMA 8
TRIBUTAÇÃO NO correntes da exportação de mercadorias ou serviços assim entendidos:
COMÉRCIO EXTERIOR
• as vendas de mercadorias ou serviços para o exterior, realizadas diretamente
pelo exportado;
• as exportações realizadas por intermédio de cooperativas, consórcios ou enti-
dades semelhantes;
• as vendas realizadas pelo produtor-vendedor às empresas comerciais expor-
tadoras, nos termos do Decreto-Lei n° 1.248, de 29.11.72, desde que destina-
das ao fim específico de exportação para o exterior;
• as vendas, com o fim específico de exportação para o exterior, às empresas
exportadoras registradas no DECEX, da Secretaria de Comércio Exterior;
• o fornecimento de mercadorias ou a prestação de serviços para uso ou consu-
mo de bordo em embarcações e aeronaves em tráfego internacional, quando
o pagamento for efetuado em moeda conversível;
• as demais vendas de mercadorias ou serviços para o exterior, nas condições
estabelecidas pelo poder executivo.

8.2.4 Contribuição para os Programas de Integração Social e de Formação


do Patrimônio do Servidor Público (PIS/PASEP)
Na determinação da base de cálculo do PIS/PASEP, pode ser excluído o valor
da receita de exportação de mercadorias nacionais.
São consideradas exportadas, para fins do incentivo, as mercadorias vendi-
das à empresa comercial exportadora de que trata o Decreto-Lei n° 1.248, de
29.11.72.

8.2.4.1 Crédito de COFINS - PIS/PASEP


Consoante às disposições da Lei 9.363/96 é concedido crédito presumido do IPI a título de
ressarcimento dos valores da COFINS e do PIS/PASEP que hajam incidido sobre a aquisição de
insumo nacional utilizado em produto exportado.
O incentivo aplica-se, inclusive, nos casos de venda a empresa comercial exportadora
com o fim específico de exportação para o exterior. O crédito pode ser transferido para
qualquer estabelecimento da empresa para efeito de compensação com o IPI.
Este ressarcimento objetiva compensar a tributação do COFINS e do PIS/PASEP, ocorrida
em etapas anteriores do processo produtivo, de difícil mensuração e eliminação (a priori).
A base de cálculo do crédito presumido é determinada mediante a aplicação sobre o
valor total das aquisições de matérias-primas, produtos intermediários e material de em-
balagens, do percentual correspondente à relação entre a receita de exportação e a receita
operacional bruta do produtor exportador.
O crédito fiscal é o resultado da aplicação de 5,37% (percentual fixado pelas autorida-
des) sobre a base de cálculo anteriormente indicada.

8.2.5 Imposto sobre Operações de Crédito, Câmbio e Seguros (IOF)


A alíquota é de 0% para as operações de crédito, câmbio e seguro, e sobre operações
relativas a títulos e valores mobiliários, nas operações de câmbio vinculadas à exportação
100 de bens e serviços.
A alíquota é 0% (zero por cento), também:
• nas operações de crédito à exportação, bem como de amparo à produção
TEMA 8
para exportação ou de estímulo à exportação; TRIBUTAÇÃO NO
COMÉRCIO EXTERIOR
• nas operações relativas a adiantamento de contrato de câmbio de exportação.

8.2.6 Imposto de Renda na fonte


Alíquota de 0% do Imposto de Renda, incidente sobre os rendimentos auferi-
dos no País, por residentes ou domiciliados no exterior, nos casos de:
• remessas para o exterior, exclusivamente para pagamento das despesas com
promoção, propaganda e pesquisas de mercado de produtos brasileiros, in-
clusive aluguéis e arrendamentos de “stands” e locais para exposições, feiras e
conclaves semelhantes, bem como as de instalação e manutenção de escritó-
rios comerciais e de representação, de armazéns, depósitos ou entrepostos;
• solicitação, obtenção e manutenção de direitos de propriedade industrial, no
exterior;
• comissões pagas por exportadores a seus agentes no exterior;
• juros de descontos, no exterior, de cambiais de exportação e as comissões de
banqueiro inerentes a essas cambiais;
• juros e comissões relativos a créditos obtidos no exterior destinados ao finan-
ciamento de exportações.

8.2.7 Imposto de Renda da Pessoa Jurídica (IRPJ) nas operações de expor-


tações
As receitas de exportação estão sujeitas ao pagamento de imposto de renda,
quando da apuração do resultado ao final do exercício conforme o enquadra-
mento, seja no lucro presumido ou no lucro real.

8.3 REGIMES ADUANEIROS E TRIBUTOS


Este assunto será tratado no tema 9 – Tributação no Comércio Exterior, em
Regimes Aduaneiros, com maior profundidade.
No item anterior foram listados os gravames pertinentes à exportação. Neste
item estão aspectos pertinentes à tributação sobre operações de importação.
As importações sofrem tributação por ocasião da entrada da mercadoria no mer-
cado interno, quando ocorre a nacionalização das mesmas. O imposto de importa-
ção é o primeiro gravame a ser calculado e, sucessivamente, quando forem devi-
dos, os impostos de produtos industrializados, o de circulação de mercadorias e
serviços, e demais taxas, que veremos a seguir.
Para que seja apurado o valor a ser pago utiliza-se um dos métodos dispostos
no Acordo de valoração aduaneira, conforme Decreto nº. 4.543/2002.
Estabelecendo a base fiscal, que é formada pelo valor da mercadoria, mais o
valor do frete internacional, mais o valor do seguro, calcula-se a incidência dos
impostos, começando com o cálculo do Imposto de Importação.

8.3.1 Imposto de Importação


O imposto de importação, segundo o art. 1º do Decreto-lei nº. 2.472/1988, que 101
deu nova redação ao mesmo artigo do Decreto-lei nº. 37/1966, incide sobre mer-
cadoria estrangeira e tem, como fato gerador, sua entrada no território nacional.
TEMA 8
TRIBUTAÇÃO NO A base de cálculo (art. 75 do Decreto nº. 4.543/2002) incidirá sobre,
COMÉRCIO EXTERIOR
• quando a alíquota for específica, a quantidade de mercadoria, expressa na
unidade de medida estabelecida;
• quando a alíquota for ad valorem, o valor aduaneiro apurado segundo as nor-
mas do art. VII do Acordo Geral sobre Tarifas Aduaneiras e Comércio (GATT).

8.3.2 Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI)


Considera-se industrializado o produto que tenha sido submetido a qualquer
operação que lhe modifique a natureza ou finalidade, ou o aperfeiçoe para con-
sumo.

8.3.2.1 Incidência do imposto


Segundo Cassone (2004:224), o imposto de produtos industrializados se dá
pela conjugação do art. 153, IV, e o art. 153, § 3º, II, da Constituição Federal, inci-
dindo sobre operações relativas a produtos industrializados e será:
• seletivo, em função da essencialidade do produto;
• não cumulativo, compensando-se o que for devido em cada operação com o
montante cobrado nos anteriores;
• não incidirá sobre produtos industrializados destinados ao exterior.
São isentos do imposto sobre produtos industrializadosos produtos capitula-
dos no art. 135 do Decreto nº. 4.543/2002, no que se refere ao inciso I e às alíneas
a a o e q a t do inciso II, desde que satisfeitos os requisitos e condições exigidos
para concessão do benefício análogo relativo ao Imposto de Importação. Isso
significa dizer que, não havendo pagamento de Imposto de Importação, não ha-
verá pagamento do Imposto sobre Produtos Industrializados.
Sempre que o imposto de importação dispensado vier a ser exigido, exigir-se-
á também o IPI.

8.3.2.2 Fato gerador


• o desembaraço aduaneiro, quando de procedência estrangeira;
• a saída do produto do estabelecimento industrial, ou equiparado a industrial.

8.3.3 Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços de


Transporte Interestadual, Intermunicipal e de Comunicação (ICMS)
O ICMS é um imposto estadual, de abrangência nacional. Cada Estado da Fe-
deração tem legislação própria.

8.3.3.1 Da Base de Cálculo


• Operações relativas à circulação de mercadorias e às prestações de serviços
de transporte interestadual e intermunicipal e de comunicação, ainda que as
operações e as prestações se iniciem no exterior;

102 • Incide também sobre a entrada de mercadoria importada do exterior, ainda


que se trate de bem destinado a consumo ou a ativo fixo do estabelecimento,
assim como sobre o serviço prestado no exterior;
• A base de cálculo do ICMS é o montante do custo da mercadoria (mais o frete
TEMA 8
e o seguro internacionais), mais o Imposto de Importação, mais o Imposto so- TRIBUTAÇÃO NO
bre Produtos Industrializados, reajustado. COMÉRCIO EXTERIOR

8.3.4 Contribuição para o PIS/PASEP e da COFINS na Importação


Instituídas pela Lei nº. 10.865, de 30-4-2004, a contribuição para os programas
de integração social e de formação do patrimônio do servidor público incidente
sobre a importação de produtos estrangeiros ou serviços (PIS/Pasep-Importação) e
portador de bens estrangeiros ou serviços do exterior (Cofins-Importação), com
base nos arts. 149, § 2º, inciso II, e 195, inciso IV, da Constituição Federal, observado o
disposto no seu art. 195, § 6º.
O pagamento das contribuições deverá ser efetuado na data do registro da
declaração de importação no SISCOMEX (art. 252 do Decreto nº. 4.543/2002 e Lei
nº. 9.532/1997, art. 54).
Alíquotas:
• PIS/PASEP-Importação: –1,65% (um inteiro e sessenta e cinco centésimos por
cento);
• COFINS-Importação: –7,6% (sete inteiros e seis décimos por cento);

8.3.5 CIDE - Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico–Combustíveis


A contribuição de intervenção no domínio econômico – combustíveis (CIDE
– combustíveis) foi criada pela Lei nº. 10.336, de 19-12-2001 e incide sobre a impor-
tação de petróleo e seus derivados, gás natural e seus derivados, e álcool etílico com-
bustível (Decreto nº. 4.543/2002, art. 253, e Lei nº. 10.336, de 19-12-2001, art. 1º).
É responsável solidário pela CIDE – combustíveis, o adquirente de mercadoria
de procedência estrangeira, no caso de importação realizada por sua conta e
ordem, por intermédio de pessoa jurídica importadora (Decreto nº. 4.543/2002,
art. nº. 256, e Lei nº. 10.336, de 2001, art. 11).

8.3.6 Adicional ao Frete para a Renovação da Marinha Mercante (AFRMM)


O AFRMM é um adicional ao frete cobrado pelas empresas brasileiras e es-
trangeiras de navegação que operam em porto brasileiro, de acordo com o co-
nhecimento de embarque e o manifesto de carga, pelo transporte de carga de
qualquer natureza (art. 2º do Decreto-lei nº. 2.404, de 23-12-1987). O objetivo de
tal arrecadação é apoiar o desenvolvimento da marinha mercante brasileira e a
indústria de construção naval.

8.3.6.1 Fato gerador e base do cálculo


O AFRMM é devido na entrada no porto de descarga e é calculado sobre o
frete, à razão de (art. 3º do Decreto-lei nº. 2.404/1987, modificado pela Lei nº.
8.032/1990):
• 25% (vinte e cinco por cento), na navegação de longo curso;
• 10% (dez por cento), na navegação de cabotagem;
• 5% (cinco por cento), na navegação lacustre e fluvial.
103
8.4 ENQUADRAMENTO DAS EMPRESAS INSCRITAS NO “SIMPLES”
O SIMPLES23 consiste em uma forma simplificada e unificada de recolhimen-
TEMA 8
TRIBUTAÇÃO NO to de tributos, por meio da aplicação de percentuais favorecidos e progressivos,
COMÉRCIO EXTERIOR incidentes sobre uma única base de cálculo - a receita bruta. A empresa SIMPLES
originariamente não podia fazer operações de importação mas tal limitação foi
suspensa a partir de 24 de agosto de 2001. Apenas pagará os impostos inciden-
tes como uma outra empresa não caracterizada como SIMPLES.

8.5 TAXAS DE ARMAZENAGEM E DE CAPATAZIA


8.5.1 Portuárias
As demais despesas incidentes na importação de mercadorias são as de ca-
patazia e armazenagem. Capatazia refere-se aos gastos com a movimentação de
mercadorias pelo pessoal da administração do porto. A armazenagem, refere-se
aos custos incidentes na mercadoria depositada nos armazéns, pátios, depósitos
etc., de propriedade dos administradores dos portos, podendo ser:
• armazenagem interna;
• armazenagem externa;
• em armazéns gerais;
• armazém especial.

8.5.2 Aeroportuárias
Na movimentação de cargas em dependências dos aeroportos, temos as des-
pesas de capatazia nos Terminais de Carga Aérea (Teca) e as de armazenagem.
Deve ser consultado um agente de cargas ou despachante aduaneiro antes
de ser fechada a importação para que sejam levantados os preços cobrados nos
diversos aeroportos e portos nacionais, considerando que os custos variam de
um para outro local de descarga/ desembaraço.
Às vezes, é melhor para um importador de São Paulo desembaraçar o produto
em Paranaguá ou no Rio de Janeiro, dependendo da carga a ser movimentada.

8.6 CONTRIBUIÇÃO PROVISÓRIA SOBRE MOVIMENTAÇÃO OU TRANSMIS-


SÃO DE VALORES E DE CRÉDITOS E DIREITOS DE NATUREZA FINANCEIRA
–CPMF
Essa contribuição foi criada provisoriamente (apenas por 13 meses) pela Lei
nº. 9.311, de 24-10-1996. A alíquota à época era de 0,20% sobre o valor movimen-
tado. Sistematicamente prorrogada, a contribuição, que deveria ser provisória,
tornou-se permanente, e é cobrada a alíquota de 0,38%.

8.7 DEMAIS DESPESAS INCIDENTES NAS OPERAÇÕES DE IMPORTAÇÃO


No registro da declaração de Importação, o importador pagará pela utilização
do SISCOMEX. Um registro com apenas uma adição custa R$ 50,00 ao importador;
por cada adição excedente será cobrado R$ 10,00. Essas adições representam as

23
SIMPLES – Sistema Integrado de Pagamento de Impostos e Contribuições das Microempresas e das Empresas de Pequeno Porte. O Simples
está em vigor desde 1.º de janeiro de 1997. Consiste no pagamento unificado dos seguintes impostos e contribuições: IRPJ, PIS, COFINS,
CSLL, INSS Patronal e IPI (se for contribuinte do IPI). A inscrição no Simples dispensa a pessoa jurídica do pagamento das contribuições
instituídas pela União, como as destinadas ao SESC, ao SESI, ao SENAI, ao SENAC, ao SEBRAE, e seus congêneres, bem como as relativas ao
104 salário-educação e à Contribuição Sindical Patronal. O Simples poderá incluir o ICMS e/ou o ISS devido por microempresa e/ou empresa de
pequeno porte, desde que o Estado e/ou o Município em que esteja estabelecida venha aderir ao Simples mediante convênio.
diversas classificações tarifárias das mercadorias importadas. É conveniente que
o Importador se informe sobre essa despesa junto ao despachante aduaneiro
que vai liberar sua mercadoria na alfândega pois os custos são reajustados perio- TEMA 8
TRIBUTAÇÃO NO
dicamente pela Secretaria da Receita Federal. COMÉRCIO EXTERIOR
Assim, se importar apenas um item tarifário, isto é, apenas um tipo de merca-
doria, a Declaração terá apenas uma adição; se importar quatro itens tarifários, a
declaração de importações terá quatro adições.

8.8 COMPARATIVO DA TRIBUTAÇÃO BRASILEIRA COM A DE OUTROS PAÍSES


Grande parte dos países apresentam incidência tributária mais amena em
relação ao fisco brasileiro (Percentual sobre o PIB) :
• Países da OCDE24 – Pacífico: 28,88%;
• América: 27,5%;
• Europa: 39,8%;
• União Européia: 41,3%.
Abaixo um quadro mostrando a incidência percentual da tributação no PIB de
cada país. Percebe-se, infelizmente, que a carga tributária do Brasil está acima de
muitos países.

Quadro 8.1
Carga Tributária de Países Selecionados
PAÍS PIB 2002 PIB 2003
SUÉCIA 53,20 50,80
NORUEGA 44,90 43,90
BRASIL 35,84 35,54
ALEMANHA 36,40 36,20
CANADÁ 35,20 33,90
ESPANHA 35,20 35,80
SUIÇA 34,50 29,80
PORTUGAL 34,50 33,90
ARGENTINA 19,20 20,70
ESTADOS UNIDOS 29,60 20,70

Tal tributação onera nossos produtos quando concorrem no exterior. Embora


a balança brasileira de mercadorias esteja sendo positiva, com reflexos na balan-
ça de pagamentos do país, poderia estar muito melhor ainda se a tributação não
fosse tão alta. O combate à economia informal (ilegal) poderia ser o remédio para
essa situação. Afinal, quando todos pagam, todos pagam menos.

24
A Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Economico (OCDE) sucedeu à Organização Europeia de Cooperação Economica,
que foi criada para administrar a ajuda dos Estados Unidos e do Canadá, no quadro do Plano Marshall, ao processo de reconstrução
européia que se seguiu à 2ª Guerra Mundial. Desde que iniciou a sua atividade, em 1961, a OCDE, que conta hoje com 30 países membros,
tem por missão reforçar a economia dos países membros, melhorar a sua eficácia, promover a economia de mercado, desenvolver um
sistema de trocas livres e contribuir para o desenvolvimento e industrialização dos países.
105
ANOTE
TEMA 9

REGIMES ADUANEIROS
ESPECIAIS
TEMA 9 – REGIMES ADUANEIROS ESPECIAIS
TEMA 9
REGIMES ADUANEIROS
ESPECIAIS Objetivos do Tema
• Proporcionar uma visão ampla dos regimes aduaneiros especiais e atípicos que
facilitam o comércio exterior, funcionando como alavancadores especiais no
incremento das exportações;
• Fazer compreender a dinâmica do trânsito aduaneiro assim como a dimensão
do funcionamento do regime comum e do regime extraordinário aduaneiro na
exportação e também as leis que o regem;
• Oferecer dados sobre o funcionamento da operação de drawback na
importação;
• Esclarecer o regime de entreposto industrial na importação.

9.1 REGIMES ADUANEIROS ESPECIAIS


Regimes aduaneiros especiais são mecanismos que permitem a importação e a
exportação de mercadorias com a suspensão dos tributos incidentes.

9.1.1 Regimes aduaneiros especiais na exportação


9.1.1.1 Trânsito Aduaneiro na Exportação
Permite o transporte de mercadoria, sob controle da autoridade aduaneira, de
um ponto a outro do território nacional, com suspensão de tributos.
O regime, concedido pela Secretaria da Receita Federal, pode ser aplicado ao:
• transporte de mercadoria nacional ou nacionalizada, verificada ou despacha-
da para exportação, do local de origem ao local de destino, para embarque ou
armazenamento em área alfandegada para posterior embarque;
• transporte, pelo território aduaneiro, de mercadoria nacional ou nacionaliza-
da, verificada;
• ou despachada para exportação e conduzida em veículo com destino ao ex-
terior.
O prazo de suspensão dos tributos será o necessário para amparar o transpor-
te desde o local de origem até ao de destino, contado a partir do momento do
desembaraço para trânsito aduaneiro, e limitado ao momento da certificação da
chegada da mercadoria no destino.
O regime se extingue na conclusão da operação de trânsito, no território na-
cional, mediante atestado de chegada da mercadoria ao destino.

9.1.1.2 Exportação Temporária


Considera-se exportação temporária a saída, do país, de mercadoria nacional
ou nacionalizada, condicionada à re-importação em prazo determinado ou mes-
mo estado ou depois de submetida a processo de conserto, reparo ou restaura-
ção. O prazo máximo de permanência no exterior é de 2 (dois) anos.
O registro de exportação (RE), no SISCOMEX, constitui requisito para conces-
são do regime, que se extingue com a reimportação da mercadoria. A exporta-
ção temporária é concedida pela Secretaria da Receita Federal.
108
A aplicabilidade do Regime de Exportação Temporária cabe a
I) mercadorias destinadas a feiras, competições esportivas ou exposições, no ex-
TEMA 9
terior; REGIMES ADUANEIROS
ESPECIAIS
II) produtos manufaturados e acabados, inclusive para conserto, reparo ou res-
tauração para seu uso ou funcionamento;
III) animais reprodutores para cobertura, em estação de monta,
com retorno cheia, no caso de fêmea, ou com cria ao pé, bem
como animais para outras finalidades;
IV) veículos para uso de seu proprietário ou possuidor;
V) minérios e metais, para fins de recuperação ou beneficiamento;
VI) mercadoria a ser submetida à operação de transformação, ela-
boração, beneficiamento ou montagem, no exterior, e sua reim-
portação, na forma do produto resultante dessas operações.
Na re-importação de mercadoria exportada temporariamente para conserto,
reparo e restauração serão exigíveis os tributos incidentes na importação dos
materiais empregados na execução dos serviços, enquanto que, na hipótese de
ocorrência de aperfeiçoamento passivo, serão exigíveis os tributos incidentes so-
bre o valor agregado.
O regime de exportação temporária para aperfeiçoamento passivo (Portaria MF
675/94) é o que permite a saída, do país, por tempo determinado, de mercadoria
para ser submetida à operação de transformação, elaboração, beneficiamento
ou montagem, no exterior, e sua re-importação, na forma do produto resultante
dessas operações.

9.1.1.3 Entreposto Aduaneiro na Exportação


Compreende duas modalidades:
A) Regime Comum: aquele que, após terem sido observadas as normas pertinen-
tes, depositar as mercadorias, destinadas ao mercado externo, em entreposto
aduaneiro;
B) Regime Extraordinário: refere-se às empresas comerciais exportadoras de que
trata a Lei 1.248/72, que adquirem mercadorias para o fim específico de ex-
portação, e as depositam em entreposto aduaneiro, ou promovem o seu em-
barque direto.
Assim, este regime permite o depósito de mercadorias a serem exportadas,
em lugar determinado, com suspensão do pagamento de tributos e sob controle
fiscal.
O regime de entreposto aduaneiro na exportação é concedido pela Secretaria da
Receita Federal.
O prazo de permanência da mercadoria no regime de entreposto na exporta-
ção é de até 1 (um) ano, prorrogável pelo mesmo período. Em situações especiais,
o prazo de permanência no regime pode ser prorrogado até o limite máximo de
3 (três) anos.
Dentro do prazo de vigência do regime, acrescido de 45 (quarenta e cinco)
dias após esgotar-se o prazo de permanência, deverá ser adotada uma das se-
guintes providências com relação à mercadoria entrepostada:
• iniciar o despacho de exportação ( solicitar a SD no SISCOMEX);
• reintegrá-la ao estoque do estabelecimento do beneficiário; 109
• em qualquer outro caso, recolher os tributos suspensos, de acordo com a le-
gislação pertinente.
TEMA 9
REGIMES ADUANEIROS Vencido o prazo do regime, sem a adoção de uma das providências previstas, a mer-
ESPECIAIS cadoria é considerada abandonada, para fins de aplicação da pena de perdimento.

9.1.1.4 Drawback
A operação de drawback compreende a importação com isenção ou suspen-
são do Imposto de Importação (II), do IPI, do ICMS, este na forma definida pelos
Estados e Distrito Federal, inclusive no âmbito do CONFAZ25, do Adicional ao Fre-
te para Renovação da Marinha Mercante (AFRMM), além da dispensa do reco-
lhimento de outras taxas que não correspondam à efetiva contraprestação de
serviços, nos termos da legislação em vigor.
Para efetivamente obterem estes benefícios tributários, as importações reali-
zadas através de operação de Drawback devem ser obrigatoriamente utilizadas
na industrialização de produtos destinados à exportação.
Trata-se de poderoso instrumento de incentivo às exportações brasileiras e
incremento das vendas externas.

Modalidades de drawback
• Isenção;
• Suspensão;
• Restituição.

Principais vantagens
• Suspensão dos tributos incidentes na importação de mercadoria a ser utiliza-
da em processo de industrialização de produto destinado à exportação;
• Isenção de tributos incidentes na importação de mercadoria, em quantidade
e qualidade equivalentes, destinada à reposição de mercadoria anteriormen-
te importada utilizada na industrialização de produto exportado.
Essa modalidade também poderá ser concedida, desde que haja uma justifi-
cação, para a importação de mercadoria equivalente, adequada à realidade
tecnológica, com a mesma finalidade da originariamente importada, obede-
cidos os respectivos coeficientes técnicos de utilização, e ficando o valor total
da importação limitado ao valor da mercadoria substituída.

Operações Especiais de Drawback


• Drawback Genérico
Dá-se exclusivamente na modalidade de suspensão. Caracteriza-se pela dis-
criminação genérica da mercadoria a importar e o seu respectivo valor. Exemplo:
importação de partes e peças de locomotiva, avião, turbinas elétricas, etc.
Percebe-se que essa operação é conveniente para exportação de produto de
bens de capital, que exige muitos valores agregados e, muitas vezes, alta tecnologia.

• Drawback Sem Cobertura Cambial


O Conselho Nacional de Política Fazendária - CONFAZ tem por finalidade promover ações necessárias à elaboração de políticas e
25

harmonização de procedimentos e normas inerentes ao exercício da competência tributária dos Estados e do Distrito Federal, bem como
110 colaborar com o Conselho Monetário Nacional - CMN na fixação da política de Dívida Pública Interna e Externa dos Estados e do Distrito
Federal e na orientação às instituições financeiras públicas estaduais.
Exclusivamente para a modalidade de suspensão, é utilizado quando a impor-
tação da mercadoria é feita sem cobertura cambial parcial ou total. Poderá ocor-
rer quando o exportador brasileiro agregar ao produto exportado mercadoria TEMA 9
REGIMES ADUANEIROS
remetida pelo próprio importador. ESPECIAIS

• Drawback Solidário
Exclusivamente na modalidade de suspensão. Caracteriza-se pela participa-
ção solidária de duas ou mais empresas industriais. Exemplo: participação de lici-
tação internacional em que o produto deverá conter insumos importados. Duas
ou mais empresas locais serão as fornecedoras e atuam conjuntamente na im-
portação de matéria-prima a ser utilizada no produto a exportar.

• Drawback Intermediário
Concedido nas modalidades de suspensão e Isenção. Caracteriza-se pela com-
pra externa de mercadoria, por empresas fabricantes-intermediários, destinada a
processo de fabricação de produto intermediário a ser fornecido a empresas in-
dústriais-exportadoras, para utilização na industrialização de produto final des-
tinado à exportação.

• Drawback para embarcação


Concedido nas modalidades de suspensão e isenção. Caracteriza-se pela im-
portação de mercadoria destinada a processo de industrialização de embarca-
ção para fins de venda no mercado interno conforme disposto no parágrafo 2º
do artigo 1º. da Lei nº. 8.402/92. Essa lei restabeleceu os incentivos fiscais dados
à exportação e o artigo citado equiparou a venda interna das embarcações às
exportações no tocante ao benefício fiscal. É uma grande ajuda ao setor de cons-
trução naval.

• Drawback para fornecimento no mercado interno:


Concedido exclusivamente na modalidade de suspensão e visa beneficiar
aos fabricantes internos nas concorrências internacionais, para a aquisição de
matéria-prima, produto intermediário e componentes destinados a processo de
industrialização no País, de máquinas e equipamentos a serem fornecidos no
mercado interno.
Ou seja, considera a licitação internacional para fornecimento doméstico
como se fosse uma exportação.

• Drawback para reposição de matéria-prima nacional


Concedido exclusivamente na modalidade de isenção. Trata-se de importação
de mercadoria para reposição de matéria-prima nacional utilizada em processo
de industrialização de produto exportado, beneficiando a indústria exportadora
ou o fornecedor nacional para atender a situações conjunturais de mercado.

• Drawback interno ou verde amarelo


As matérias-primas, produtos intermediários e materiais de embalagem, de
fabricação nacional, vendidos a estabelecimento industrial e destinados à indus-
trialização de produtos a serem exportados, gozam do incentivo da suspensão 111
do imposto sobre produtos Industrializados (IPI), e o assunto é tratado pela Ins-
trução Normativa DpRF no. 84/92.
TEMA 9
REGIMES ADUANEIROS
ESPECIAIS
• Não concessão de drawback
Importação de mercadoria utilizada na industrialização de produto
destinado ao consumo na Zona Franca de Manaus e em áreas de livre comércio.
a) Exportação ou importação de mercadoria suspensa ou proibida;
b) Exportações contra pagamento em moeda nacional;
c) Exportações conduzidas em moeda-convênio ou outras não conversíveis,
contra importações cursadas em moeda de livre conversibilidade;
d) Importações de petróleo e seus derivados, conforme o disposto no Decreto
no. 1.495/95.

9.2 EXPORTAÇÕES VINCULADAS À COMPROVAÇÃO DE OUTROS REIMES


ADUANEIROS OU INCENTIVOS À EXPORTAÇÃO
Resultado cambial
No exame do pedido de drawback, será levado em conta o resultado cambial
da operação.
Assim, a relação básica a ser observada é de 40% (quarenta por cento), esta-
belecida pela comparação do valor total das importações, isto é, valor da merca-
doria na origem, mais despesas de frete, seguro e outras despesas formadoras
do preço de importação, com o valor líquido das exportações, assim entendido o
valor no local de embarque deduzido das parcelas de comissão de agente, even-
tuais descontos e deduções.
Quando apresentar o pedido, a interessada deverá fornecer os valores estima-
dos de frete, seguro de demais despesas incidentes na importação pretendida.

Modalidade Restituição
Ocorre quando o exportador não deseja mais vender mercadorias ao exterior
com aqueles insumos agregados à sua exportação e pretende ser ressarcido, via
crédito fiscal.
Recomenda-se aos interessados que se dirijam às respectivas Delegacias lo-
cais da Secretaria da Receita Federal para se inteirarem de outros procedimen-
tos que possam ser estabelecidos. Lembramos que essa matéria está sujeita a
alterações e às mudanças da política econômica brasileira, principalmente no
sentido de acabar ou diminuir benefícios fiscais, podendo intempestivamente
inibir pedidos da espécie.
As operações de drawback, nas modalidades de suspensão e de isenção, são
concedidas pela Secretaria de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvi-
mento, da Indústria e do Comércio; sendo a modalidade suspensão operada ele-
tronicamente via SISCOMEX no módulo drawback e a modalidade de isenção é
operacionalizada pelo Banco do Brasil; já a modalidade de restituição, é concedi-
da pela Secretaria da Receita Federal do Ministério da Fazenda.

9.3 O REGIME ADUANEIRO ESPECIAL DO ENTREPOSTO INDUSTRIAL


112
O regime de entreposto industrial é o que permite a determinado estabe-
lecimento de uma indústria importar, com suspensão de tributos, mercadorias
que, depois de submetidas à operação de industrialização, deverão destinar-se TEMA 9
REGIMES ADUANEIROS
ao mercado externo (artigo 372 do Decreto 4.543/2002, de 27 de dezembro de ESPECIAIS
2002 e artigo 69, do DL 37/66). A importação e o processo de produção do entre-
posto industrial ficarão sob controle aduaneiro.

4.4 REGIMES ADUANEIROS ATÍPICOS


9.4.1 Loja Franca
O regime aduaneiro especial de loja franca é o que permite ao estabeleci-
mento instalado em zona primária de porto ou de aeroporto alfandegado ven-
der mercadoria nacional ou estrangeira a passageiro em viagem internacional,
contra pagamento em cheque de viagem ou em moeda estrangeira conversível
(Decreto-lei nº. 1.455, de 1976, art. 15 e Decreto nº. 4.543/2002, art. 421).
O regime será outorgado somente às empresas selecionadas mediante con-
corrência pública, e habilitadas pela Secretaria da Receita Federal (Decreto-lei nº.
1.455, de 1976, art. 15, § 1º).

9.4.2 Depósito Especial


O regime aduaneiro de depósito especial é o que permite a estocagem de
partes, peças, componentes e materiais de reposição ou manutenção, com sus-
pensão do pagamento de impostos, para veículos, máquinas, equipamentos,
aparelhos e instrumentos, estrangeiros, nacionalizados ou não, nos casos defini-
dos pelo Ministro de Estado da Fazenda (Decreto nº. 4.543/2002, art. 428).

9.4.3 Depósito afiançado


O regime aduaneiro especial de depósito afiançado (DAF) é o que permite a
estocagem, com suspensão do pagamento de impostos, de materiais importa-
dos sem cobertura cambial, destinados à manutenção e ao reparo de embarca-
ção ou de aeronave pertencentes à empresa autorizada a operar no transporte
comercial internacional e utilizadas nessa atividade (Decreto nº. 4.543/2002, art.
436, e Instrução Normativa SRF nº. 113, de 27-12-1994).
O DAF localizado em zona primária pode ser utilizado, inclusive, para a guarda
de provisões de bordo.

9.4.4 Depósito Alfandegado Certificado (DAC)


O regime de depósito alfandegado certificado é o que permite considerar ex-
portada, para todos os efeitos fiscais, creditícios e cambiais, a mercadoria nacio-
nal depositada em recinto alfandegado, vendida a pessoa sediada no exterior,
mediante contrato de entrega no território nacional e à ordem do adquirente
(Decreto-lei nº. 2.472, de 1988, art. 6º e Decreto nº. 4.543/2002, art. 441).
Somente será admitida no DAC a mercadoria vendida mediante contrato Deli-
vered Under Customs Bond (DUB), convencionada entre exportador e importador
(Portaria SCE nº.15, de 17.11.2004, da SECEX, MDIC, Capítulo XIII).

9.4.5 Depósito Franco


O regime aduaneiro especial de depósito franco é o que permite, em recinto 113
alfandegado, a armazenagem de mercadoria estrangeira para atender ao fluxo
comercial de países limítrofes com terceiros países (Decreto nº. 4.543, art. 447).
TEMA 9
REGIMES ADUANEIROS
ESPECIAIS
9.5 REGIMES ADUANEIROS APLICADOS EM ÁREAS ESPECIAIS
9.5.1 Zona Franca de Manaus
Considerada como um regime aduaneiro atípico, porque contemplada com
uma série de benefícios, notadamente fiscais, a Zona Franca de Manaus foi nor-
matizada pelo Decreto-Lei 288/67.
Caracteriza-se por ser uma área de livre comércio de importação e exporta-
ção e de incentivos fiscais especiais, estabelecida com a finalidade de criar no
interior da Amazônia um centro industrial, comercial e agropecuário dotado de
condições econômicas que permitam seu desenvolvimento, em face dos fatores
locais e da grande distância, a que se encontram, os centros consumidores de
seus produtos.
É uma área de livre comércio por excelência, porém, seu desenvolvimento
ocorreu graças à instalação de grandes grupos industriais no local, principalmen-
te aqueles voltados para a área eletroeletrônica.
Esse conceito foi expendido em 1967. Trinta e nove anos depois, ainda se dis-
cute a necessidade da região continuar contando com os incentivos da época da
implantação.
Esses incentivos são, basicamente, a isenção de imposto de Importação e Im-
posto sobre produtos Industrializados.
Pelas sucessivas alterações ocorridas desde a sua implantação, recomenda-se
às pessoas interessadas em se instalar na região que verifiquem junto da Receita
Federal de seu domínio fiscal as possíveis vantagens de instalação.
Importante lembrar que toda a consulta aos órgãos federais, estaduais e mu-
nicipais devem ser formais, isto é, através de carta, devidamente identificado o
responsável na empresa, pela consulta efetuada.

9.5.2 Zona de Processamento de Exportações (ZPE)


As ZPEs (Decreto-Lei nº 2.452/88, regulado pelo Decreto 846/93) caracteri-
zam-se como áreas de livre comércio com o exterior, destinadas à instalação de
empresas voltadas para a produção de bens a serem comercializados exclusiva-
mente com o exterior, sendo consideradas zonas primárias para efeito de con-
trole aduaneiro.

9.5.2.1 Finalidade das ZPE


A finalidade da ZPE é a de reduzir os desequilíbrios regionais, gerar novos em-
pregos, bem como, fortalecer o balanço de pagamentos e promover a difusão
tecnológica e o desenvolvimento econômico e social do País.

9.5.2.2 Requisitos para a criação de uma ZPE


A proposta para criação de ZPE partirá dos Municípios ou Estados interessa-
dos e deverão satisfazer os seguintes requisitos:
• adequação de portos/aeroportos internacionais;
114 • comprometimento dos proponentes de realizarem as desapropriações neces-
sárias e obras de infra-estruturas;
• comprovação de disponibilidade financeira, considerando inclusive a possibi-
TEMA 9
lidade de aportes de recursos da iniciativa privada; REGIMES ADUANEIROS
ESPECIAIS
• comprovação de disponibilidade mínima de infra-estrutura e de serviços ca-
pazes de absorver os efeitos de sua implantação;
• indicação da forma de administração da ZPE;
• atendimento de outras condições porventura estabelecidas em regula-
mentos.
A administradora deverá atender às instruções do Ministério da Fazenda, perti-
nentes ao fechamento da área, ao sistema de vigilância e aos dispositivos de segu-
rança. Deverá também a Administradora responder pelas instalações de equipa-
mentos necessários ao controle, vigilância e administração aduaneira local.
Existe muita controvérsia junto ao Governo Federal sobre a existência das ZPE.
Uns são favoráveis, pois a instalação visa corrigir possíveis distorções regionais e
produzir ganhos no comércio exterior. Outros acham que representam renúncia
fiscal da qual o governo não deveria abrir mão.
São poucas as ZPE autorizadas e em funcionamento: Maracanaú, no Ceará;
Parnaíba, no Piauí; Macaíba, no Rio Grande do Norte, São Luís, no Maranhão; João
Pessoa, na Paraíba; Barcarena, no Pará; Nossa Senhora do Socorro, em Sergipe;
Araguaína, em Tocantins; Ilhéus, na Bahia; Complexo Suape, entre Cabo e Ipojuca,
em Pernambuco; Itacoatiara, no Amazonas e Cáceres, em Mato Grosso.

9.5.3 Área de Livre Comércio (ALC)


Diferente da ZPE, a ALC – Área de Livre Comércio, é uma área demarcada, con-
tínua, cuja finalidade é promover o comércio de importação e exportação, com
regime fiscal especial, incentivando o desenvolvimento da região aonde for de-
marcada.
A primeira área de livre comércio criada foi a de Tabatinga, no Amazonas, pela
Lei 7.965/89.
A entrada dos produtos, para consumo ou reexportação, se fazem via suspen-
são de impostos.
Mais tarde, atendidas as finalidades, quando destinadas ao consumo interno,
beneficiamento (de acordo com a mercadoria), agropecuária e piscicultura, ins-
talações de turismo, atividades de construção, reparos navais, estocagem para
reexportação, as obrigações fiscais são transformadas em isenções.
A finalidade é promover o desenvolvimento regional, conforme o espírito da lei.
As áreas de livre comércio, são combatidas por uma parcela ponderável do
Governo Federal que, acompanhando as críticas às ZPE, vêem possibilidade de
contrabando, com desvio de parte da mercadoria importada para outros locais
do Brasil e, a renúncia fiscal do Estado a essas receitas de importações.
Além de Tabatinga, podemos alinhar as seguintes ALC: Guajará-Mirim, em
Rondônia; Pacaraima e Bonfim, em Roraima; Macapá e Santana, no Amapá; Brasi-
léia e Cruzeiro do Sul, no Acre.

115
SIGLAS, TERMOS
TÉCNICOS E GLOSSÁRIO

AAP – Acordo de alcance parcial


ACC – Adiantamento sobre contratos de câmbio
ACE – Adiantamento sobre as Cambiais Entregues
Acordo - Expressão de uso livre e de alta incidência na prática
internacional, embora alguns juristas entendam por acordo os atos
internacionais com reduzido número de participantes e importância
relativa.
AFRMM - Adicional ao frete para a renovação da Marinha Mercante
Ajuste ou acordo complementar - É o ato que dá execução a outro,
anterior, devidamente concluído e em vigor, ou que detalha áreas de
entendimento específicas, abrangidas por aquele ato.
ALADI - Associação Latino-Americana de Integração
ALCA - Área de Livre Comércio das Américas
Arbitragem - É a troca de determinada moeda estrangeira por outra.
APEC - Cooperação Econômica da Ásia e do Pacífico
Atos Internacionais - Acordo internacional concluído por escrito
entre Estados e regido pelo Direito Internacional, quer conste de um
instrumento único, quer de dois ou mais instrumentos conexos, qualquer
que seja sua denominação específica.
BACEN – Banco Central do Brasil.
BB – Banco do Brasil S.A.
Câmbio Manual - Compra e venda de moeda estrangeira em espécie, isto
é, troca física de dinheiro estrangeiro pela moeda nacional ou vice-versa.
Câmbio Sacado - São operações que envolvem saques sobre haveres
junto a Banqueiro no exterior.
Cartel – É uma forma de eliminar a concorrência. Vários produtores se
unem e estabelecem cotas e preços
CCR - Convênio de Créditos Recíprocos
CECA - Tratado da Comunidade Européia do Carvão e do Aço.
CEE - Tratado da Comunidade Econômica Européia.
CIDE - Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico.
Convenção - Num nível similar de formalidade, costuma ser empregado o
termo Convenção para designar atos multilaterais, oriundos de conferências
internacionais e versem assunto de interesse geral das nações.
COFINS - Contribuição para Financiamento da Seguridade Social.
Convênio – O termo convênio está relacionado a matérias sobre
cooperação multilateral de natureza econômica, comercial, cultural,
jurídica, científica e técnica.
CPMF - Contribuição Provisória Sobre Movimentação ou Transmissão de
Valores e de Créditos e Direitos de Natureza Financeira.
Custo de oportunidade – Teoria econômica em que se permite
considerar todos os fatores de produção e não apenas o fator trabalhista.
Direito Internacional Privado - Ramo do Direito Público, que
compreende um conjunto de normas reguladoras das relações entre as
nações.
Direito Internacional Público - É o conjunto de normas que regem as
relações dos direitos e deveres coletivos, quanto aos tratados, convenções
e acordos entre as nações.
Drawback - A operação de drawback compreende a importação com
isenção ou suspensão do imposto de importação(II).
Dumping - Consiste em vender no exterior por preço abaixo do custo de
produção.
Dumping Social - Termo utilizado para caracterizar a venda, no mercado
internacional, de produtos a um preço inferior ao praticado no mercado
SIGLAS, TERMOS
TÉCNICOS E GLOSSÁRIO

doméstico, em virtude da falta ou não-observância dos padrões


trabalhistas internacionalmente reconhecidos.
EURATOM - Tratado da Comunidade Européia da Energia Atômica.
FAO – Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura.
I.I. – Imposto de Importação.
Incoterms – Termos internacionais de comércio.
I.P.I. – Imposto sobre Produtos Industrializados.
I.C.M.S. – Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços.
LIBOR – London Interbanking offered rate – Taxa de juros, preferencial
no mercado de Londres, Inglaterra.
Memorando de Entendimento - O memorando de entendimento
é semelhante ao acordo, com exceção do articulado, que deve ser
substituído por parágrafos numerados com algarismos arábicos. Seu
fecho é simplificado e normalmente entra em vigor na data da assinatura.
MERCOSUL - Mercado Comum do Sul ou Mercado do Cone Sul.
NAFTA – North América Free Trade Agreement - Acordo de Livre
Comércio da América do Norte.
OIT - Organização Internacional do Trabalho.
Oligopólio - Concentração da exploração do mercado nas mãos de
poucos concorrentes.
ONG - Organização Não-Governamental.
Paridade – (câmbio) Definida como sendo o preço de uma moeda
estrangeira em relação à outra.
PIS/PASEP - Programas de Integração Social e de Formação do
Patrimônio do Servidor Público.
PNUD - Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento.
PNUMA - Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente.
Prime Rate – Taxa de juros preferencial no mercado de New York, Estados
Unidos.
Protocolo - Termo que tem sido usado nas mais diversas acepções, tanto
para acordos bilaterais quanto para multilaterais. Aparece designando
acordos menos formais que os tratados, ou acordos complementares ou
interpretativos de tratados ou convenções anteriores.
R.E. – Registro de Exportação.
Spot – operação financeira de pagamento à vista.
Spread - É a diferença entre a taxa de compra e taxa de venda.
Swap - É a combinação de uma venda futura de determinada moeda,
com sua simultânea compra pronta (ou vice-versa).
TEC - Tarifa Externa Comum
Teoria da Demanda Recíproca – Teoria Clássica do Comércio
Internacional. De acordo com essa teoria o comércio se realizará quando
os preços equalizarem as demandas nos dois países.
Teoria das Vantagens Absolutas - Condições em que determinado
produto ou serviço pode ser oferecido, com preços de custos inferiores
aos dos concorrentes.
Teoria das Vantagens Comparativas - Conceito de custos introduzido na
teoria de comércio exterior pelo economista David Ricardo, em 1817.
Tratado - Termo para designar, genericamente, um acordo internacional.
Tripartismo – Termo utilizado no foro das relações de trabalho para
indicar as três partes intervenientes no processo: governo, trabalhador e
empregador.
Trustes – Representam a fusão de várias empresas, levando ao
monopólio.
UE - União Européia.
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS

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