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Foi sob este aspecto puramente jurídico e social que até aqui viemos considerando
o divórcio. Ao combate-lo, não nos socorremos senão de provas racionais, tiradas à
moral, à psicologia, à sociologia e ao direito. Para admiti-las não é mister crer,
basta raciocinar; elas não se dirigem ao cristão, falam a todo homem. Não lançamos
mão, uma só vez, de argumentos teológicos e exegéticos. A Escritura, a voz dos
Padres da Igreja, a autoridade dos concílios, muito de caso pensado, não os
invocamos no debate. Discutimos, sempre, em nome da razão e dos fatos, a fim de
que as nossas conclusões se impusessem à universalidade dos leitores.
Mas o divorcio apresenta outrossim um aspecto religioso. Para toda a humanidade a
constituição de um novo lar foi sempre um ato sagrado. Para a grande maioria da
cristandade constitui um sacramento. É tão nobre a missão da família, são tão
íntimos os deveres domésticos que só na religião se podem atingir as energias
profundas, indispensáveis à fidelidade do seu desempenho.
Nos países católicos, mais ainda que nos outros, é funesta a legalização do
divórcio. Entre protestantes e cismáticos a deformação da moral foi precedida por
uma alteração da doutrina. A cisão do vínculo não contrasta com a consciência
religiosa do povo. Os divorciados poderão ainda beneficiar dos auxílios
espirituais que lhes pode subministrar um cristianismo diluído pela heresia ou
pela cisma. A família não será uma vítima infeliz da irreligião.
O catolicismo conserva, em toda a sua integridade, o tesouro divino dos
ensinamentos morais do Evangelho. Com a sua consciência é incompatível o divórcio.
Na Itália, a "iniciativa" das lojas não logrou resultado. Mas foi a maçonaria quem
implantou a lei fatal na França, na Hungria, em Portugal (Um advogado português
escreve, sem excessiva delicadeza: "O divórcio não teve em Portugal oposição
violenta... Foi um estilhaço benéfico da Revolução.... Não houve um protesto
válido. Nem mesmo as feras da reação puderam rosnar embaraçadas com a expulsão dos
coios e congregações". Vaz Ferreira, Comentário à lei do divórcio, Lisboa, s.d.,
ps. 6-7. Processos legislativos e estilos literários dizem bem a uma democracia
livre e finamente educada! - Da lei do divórcio promulgada pela Revolução Francesa
afirma L. Michon: "Cette loi sur le divorce est nettement agressive, dirigée
contre les croyances catholiques", Le maintient et la défense de la famille par le
droit, Paris, 1930, p. 70.