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Jarbas

Tenho acompanhado seus últimos posts sobre arquitetura escolar. Não desconheço e não
desconsidero os efeitos das condições de conservação e manutenção dos prédios
escolares sobre o currículo oculto e sobre a aprendizagem.

Participei, inclusive, na FDE, bom tempo atrás, de um projeto denominado, se não me


falha a memória, de Projeto de Preservação e Manutenção do Patrimônio.

O projeto, que se espalhou pela rede pública de escolas do Estado de São Paulo,
implicava em envolver toda a comunidade escolar, incluindo os pais e moradores
vizinhos, em propostas de manutenção e conservação dos prédios escolares. A idéia não
era apenas a de reduzir custos de manutenção, mas de engajar a comunidade em um
projeto com efeitos educacionais, especialmente os de educação ambiental.

Mas, acredito que seu primeiro post sobre o assunto tocava em questão mais importante:
o efeito do dispositivo arquitetônico sobre a situação de aprendizagem. O dispositivo
em auditório, induz uma relação de aprendizagem em que o professor fala e o aluno
ouve. Mesmo que o professor queira a participação, o dispositivo arquitetônico induz à
passividade.

Para modificar essa situação, é preciso transformar o espaço e ambiente da escola e da


sala de aula. Da escola poderíamos falar em construções que se abrissem para seu
entorno e se tornassem parte dele e não continuassem recintos fechados e escondidos
dos olhares do mundo como são hoje.

Mas, o espaço e o ambiente da sala de aula parecem imutáveis. O formato retangular


induz à organização das carteiras em fila. Ora, sabemos que o formato mais adequado à
conversa e à participação é o círculo. Ninguém projeta escolas e salas supondo as
carteiras escolares dispostas em círculo.

Tenho casos sobre isso.

Para mim, a atividade e a participação do aluno são fundamentais no processo de


aprendizagem. Assim, a melhor sala de aula em que já trabalhei, foi uma que existia no
CENAFOR, antiga e extinta Fundação do MEC em São Paulo. Era circular e
carinhosamente a apelidávamos de "Queijinho". Além de ser circular, continha
divisórias internas que possibilitavam a criação de espaços de diferentes tamanhos para
o trabalho de pequenos ou grandes grupos. Estava adequada para uma proposta
metodológica diferente da convencional.

Trabalhando na capacitação de docentes para a o Programa Educação para o Trabalho


(PET) do SENAC/SP, usava o auditório da unidade da Rua 24 de Maio, centro de São
Paulo. Todo dia, para desespero do pessoal de limpeza, carregava as pesadas poltronas e
transformava o quadrado em círculo. Todo o fim de dia, o pessoal da limpeza, retornava
as poltronas para sua original posição em filas paralelas, objetivando prepará-las para o
uso noturno. Da experiência, cheguei à convicção que a mudança educacional só
acontecerá quando, em qualquer circunstância, o pessoal de limpeza organizar as
cadeiras em círculo.
Por fim, já me sabendo excessivo, uma lembrança do SENAC Rio. O Centro
Politécnico do Senac Rio foi escolhido para implementar cursos técnicos, formatados de
acordo com uma nova proposta pedagógica. Nela estava prevista uma revolução
metodológica incompatível com as salas em formato de auditório. O espaço das salas do
Centro Politécnico, no entanto, era insuficiente para a organização das cadeiras em
círculos que contivessem 30 participantes. Foi necessário derrubar as paredes e de duas
salas fazer uma. Solução perfeita se não fosse pelas colunas, que no meio da grande
sala, dificultavam os olhares e as conversas.

Como conclusão, tenho pensado que uma solução arquitetônica adequada a uma
metodologia ativa seria a construção de salas sextavadas e espaços escolares que fossem
construídos espelhando-se na organização dos favos de mel. Nada sei de arquitetura
para saber se tais escolas e salas são viáveis. Mas, acredito que seriam mais doces e
democráticas.

Abraços

José Antonio Küller

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