O navio S. S. Expedition, em pesquisas históricas no território argentino da Patagónia, é afastado da costa por uma tempestade. A divagar no Oceano Glacial Antárctico, a tripulação vê-se privada de todos as suas necessidades. Duas semanas decorrem até que um helicópetro misteriosamente vindo do nada indica finalmente a rota de regresso. Mas que mais que a salvação poderá este navio trazer?
Primeiro capítulo de um romance em plena fase inicial. Comentem!
O navio S. S. Expedition, em pesquisas históricas no território argentino da Patagónia, é afastado da costa por uma tempestade. A divagar no Oceano Glacial Antárctico, a tripulação vê-se privada de todos as suas necessidades. Duas semanas decorrem até que um helicópetro misteriosamente vindo do nada indica finalmente a rota de regresso. Mas que mais que a salvação poderá este navio trazer?
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O navio S. S. Expedition, em pesquisas históricas no território argentino da Patagónia, é afastado da costa por uma tempestade. A divagar no Oceano Glacial Antárctico, a tripulação vê-se privada de todos as suas necessidades. Duas semanas decorrem até que um helicópetro misteriosamente vindo do nada indica finalmente a rota de regresso. Mas que mais que a salvação poderá este navio trazer?
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“Estamos na rota certa?” “Sim, finalmente!” O S.S. Expedition encontrava-se em pesquisas submarinas na costa argentina, aquando de uma forte tempestade, soprando ventos e cantando trovoadas. O bafejar das rajadas eriçou o mar, as ondas revoltaram-se, a espuma branca vislumbrava-se, ao longe, embatendo de encontro às rochas bicudas das falésias da Patagónia. Poderia ter sido aquela a definitiva viagem do navio que durante anos servira a agência Connor, Historical Research Inc., a agência de Lumux Connor, um prestigiado arqueólogo que levara a cabo expedições inacreditavelmente perigosas e inóspitas. O vento cantava chorando simultaneamente lágrimas que não se sabiam vindas do céu ou do mar revolto que berrava bem alto, cuspindo milhões e milhões de pequenas partículas salgadas. O navio, um autêntico brinquedo nas mãos do Adamastor Antárctico, cambaleando como um alcoólico em plena noite boémia lisboeta, cidade que parecia ser o paraíso em comparação ao inferno gelado. O casco, alagado dos salpicos chorosos do céu patagónio argentino que se parecia tornar a última morada da população aterrorizada. Os aparelhos informáticos, todos os documentos adquiridos através da pesquisa de largos meses num solo submarino sul atlântico gelado, até mesmo os próprios informáticos, os próprios geógrafos, os próprios meteorologistas que viram aquela tempestade como uma borra de café numa previsão de um lindo dia de sol de inverno, os próprios arqueólogos que estudavam as fontes históricas de modo a orientar os mergulhadores que imergiam no gélido choro do Atlante, tudo balançava, ao sabor do vento, ao sabor das águas, ao sabor e má vontade da natureza inóspita. O casco ficou danificado, o convés transformou-se numa piscina tropical situada abaixo do Círculo Polar Antárctico (o que seria considerado como uma anomalia geográfica pouco grave, tendo em conta a temperatura da água), os cientistas tornaram-se marionetas nas mãos das Mães de todas as mães, a Mãe Céu, a Mãe Terra, a Mãe Água, deixando de sentir sequer o rumo que tomavam. E a tempestade, acalmando, já não rugia, já não chorava desalmadamente, já não se manifestava abruptamente, já não embalava o simples navio nos braços carinhosos das suas ondas. A intempérie desvanecera-se, tudo voltara ao normal, os trabalhos de reconstituição do Expedition haviam começado, os aparelhos informáticos, alagados até à motherboard, eram descartados, os projectos e documentos voltavam à sua posição inicial. Tudo voltava ao normal, tudo excepto a posição. Estando extremamente perto do continente gelado aquando das submersões na Patagónia argentina, estavam agora a um palmo e meio de alcançar a placa de gelo mais próxima. Pelo mar escuro denotavam-se pequenos icebergues que nas profundidades se tornavam na força mais fantástica e poderosa alguma vez existente. O céu verde, repleto de nuvens, parecia anunciar uma nova tormenta mas era apenas a proximidade à última fronteira do sul que o tornava invejoso. Já parcialmente recuperados, a missão mudou: encontrar a rota de regresso. Tal poderia ser complicado, demorar semanas, possivelmente meses, ao que seriam dados como desaparecidos e possivelmente como mortos. Os aparelhos eléctricos ou electrónicos haviam deixado de ser uma opção. Até preparar as refeições em rápidas Bimbis, se havia transformado numa impossibilidade. Desta forma, pensar sequer em colocar aparelhos de GPS a funcionar, seria uma loucura sem saída absolutamente nenhuma. Viam-se presos numa expansão marítima austral, obrigados a usar técnicas retrógradas de orientação ultramarina. Privados até de quadrantes e astrolábios (ditos inúteis num barco tão bem aparelhado como o Expedition), olhar os céus seria a mais plausível da única opção de que dispunham. Arqueólogos? Informáticos? Meteorologistas? Geógrafos? Ninguém no navio era realmente especializado em Astronomia e observação celeste, o que tornava tudo ainda mais complicada. Olhar os céus seria uma tarefa feita às cegas, baseada em cultura geral. Após tentativas consecutivas, a frustração ocupava-se das mentes e dos corpos mal alimentados da dita tripulação inexperiente. O céu nublado antárctico escondia as estrelas, a principal e talvez única forma que todos no barco conheciam de orientação. Previsões meteorológicas seriam possíveis, mas a informática tornava-se essencial de qualquer das formas: inútil. Esperar: passivo, aborrecido, a paciência é uma virtude. As provisões estariam a terminar e o continente gélido na parecia querer que aquele navio em particular voltasse a porto seguro. Seria esta uma das especulações dos passageiros/tripulação que, dotados de tempo e falta de assunto para falar para além da sua desgraça pessoal, a bem ou a mal, iam aparecendo da cabeça de um geógrafo, da cabeça de um arqueólogo e por vezes até da boca. Por vezes a piada era geral, por vezes a veracidade do pensamento era tal que a apatia se adensava. Talvez uma noite, por pura sorte, por que Deus assim o quisera, por que talvez assim tivesse que ser, as nuvens se afastassem, dessem um passo ao lado na sua caminhada pelos céus e mostrassem as tão aguardadas estrelas. Duas semanas estavam decorridas desde a tempestade e do afastamento do barco da costa argentina. A esperança desvanecera- se, à mesma velocidade que os mantimentos. A morte parecia bater às portas do navio que estava agora todo aparelhado e pronto a partir. Mas para onde? Por várias vezes haviam pensado em fazer uma paragem na Antárctida, esperando que uma equipa de bravos exploradores polares os resgatasse. No entanto, esta tornava-se também uma ideia rebuscada, visto que os agasalhos que transportavam a bordo eram ideias para a América e não para o Pólo Sul. Esperar deixara de parecer uma opção plausível. A vontade de muitos era saltar para o mar frígido e esperar que o corpo reagisse da forma mais dramática. “Helicóptero! Helicóptero!” Uma manhã, pela mais desconhecida razão deste mundo e do próximo, um animal alado saiu dos céus, arranhando o vento pesado e cortando as sebes das nuvens. Um helicóptero. Seria possível. Durante duas semanas, duas semanas a fio havia aguardado um milagre, uma ajuda divina que lhes mostrasse o caminho. E esse dia havia chegado. Um mensageiro, um salvador, irrompia pelos céus fora. Esforços não foram poupados, embora as forças restantes fossem já muito poucas. Aquele helicóptero poderia não estar destinado à salvação do barco mas a uma qualquer outra missão. Havia que assinalar a posição. Very lights foram disparados, gritos soltos das bocas mal nutridas, braços acenados num esforço incrível. E lá vinha, descendo uma escada invisível, o salvador, o helicóptero. Teriam sido forças desperdiçadas? Se fossem, que importava. Estavam agora cientes da sua salvação, nada lhes poderia demover da sua felicidade. Aterrar no casco foi uma tarefa ligeiramente complicada mas assim que o primeiro rosto foi vislumbrado, usando agasalhos as ovações tornaram-se ensurdecedoras. Era, realmente, o helicóptero em busca do navio e dos seus passageiros, um helicóptero que estava a fazer o seu trabalho mais por uma questão de descargo de consciência, visto que não era só no meio do mar que as esperanças se tinham dizimado. Todos especulavam o pior, agoiravam para o ar dizendo que seria maldição. Ninguém tinha no pensamento que alguém naquele barco pudesse estar vivo. Talvez fosse aquele o final feliz de uma história de terror. No entanto, a história estava apenas no início. “Cinquenta e sete graus e quarenta e sete minutos a sul e sessenta e oito graus e catorze minutos a oeste!” A demarcação da rota nos aparelhos estava completa. Ushuaia, a cidade mais a sul da Argentina, seria o destino. As mentes estavam mais calmas, a preocupação era agora contactar os familiares, os estômagos continuavam vazios apesar da alguma comida fornecida pelos pilotos do helicóptero. Reflectir sobre aquela experiência seria o mais acertado a fazer mas nem a isso se propunham. As horas passavam e os passageiros iam-se distribuindo pelos seus quartos, procurando descansar do susto. Lumux, isolado, procurava sozinho o sossego de um mar menos escuro, de um céu menos esverdeado, de um ar que se tornava cada vez mais quente e que lhe acariciava todos os sentidos. Respirava os pensamentos da sua irmã que estaria agora a rejubilar, especulando todo o mal que poderia ter acontecido ao seu irmão. “A pensar na vida?” Uma voz que ninguém naquele navio alguma vez esqueceria irrompia por uma tão cinematográfica porta, questionando-o de uma forma que não lhe pareceu de todo adequada à situação. “Mais a pensar na quase morte?”, puxando a ironia do fundo do seu ser e evitando responder de forma menos agradável. “O que lá vai, lá vai! Se pensássemos constantemente no ‘poderia ter acontecido’ por certo que muita gente teria de ser internada” continuando num tom um tanto apaziguado, uma voz calma e doce que se diria talvez mais feminina que masculina. “Para além do mais, está a salvo. Isso sim seria algo a louvar e não pensar no que nem sequer chegou a acontecer.” “Talvez tenha razão.” O mar permanecia calmo, manifestando através de ligeiras ondulações que bramavam ligeiramente ao bater na proa do navio. Golfinhos ou baleias. Nem vê-los. Tal cenário seria demasiado final e calmo, como se tentasse fechar um capítulo. Mas tudo apenas começava. Destoando-se das águas, o céu encontrava-se bastante carrancudo, não verde mas cinzento, carregado e desejoso de libertar uma pluviosidade que poderia cessar a acalmia que se verificava em termos de mar. A Antárctida seria agora algo a esquecer. Tal como o salvador dissera, “o que lá vai, lá vai” e o continente gelado por certo que ia lá bem longe, no fundo dos pensamentos revoltos dos passageiros. “Sem querer parecer indelicado, tem família?”, numa tentativa de puxar um novo tema de diálogo, tentando parar as observações ao estado do tempo. “Uma irmã”, abanando ligeiramente a cabeça num gesto de confirmação, como que a eliminar a palavra “sim” do seu discurso. “Os meus pais morreram há dois anos num acidente de automóvel perto de Chicago.” “Desculpe a pergunta. Lamento imenso!”, baixando ainda mais o tom da sua voz ligeiramente fêmea, ao ponto de a tornar ligeiramente assustadora. “Não tem importância. Como disse ‘o que lá vai lá vai’”, voltando ao recurso à ironia e esboçando um ténue sorriso no seu rosto pálido e ensonado, com uma denotação incrível das olheiras e a barba por aparar, podendo ser aquele considerado como o rosto - tipo de um náufrago. “A princípio foi um pouco difícil. A minha irmã não queria aceitar. Trancou-se em casa duas semanas a fio. Quando finalmente a consegui persuadir a sair à rua, chorou ao ver a luz do dia.” “Que horror!” “Assim que a vi assim comovi-me e abracei-a a chorar também” explicou, rodando um anel que utilizava no dedo indicador, dotado de um olho egípcio em prata. “Foi… o momento em que me senti mais unido à minha irmã. Desde esse dia nunca mais nos chateámos. Temos uma relação incrível.” “Mais uma vez sem querer parecer indelicado, esse anel foi um presente da sua irmã?”, perguntou apontado para o pequeno objecto dourado e prateado que continuava a girar de um lado para o outro com o auxílio da mão esquerda de Lumux. “Sim, foi um presente de Natal. Ela pediu-me para o usar no dedo anular mas eu raramente o faço. Só quando estou com ela”, ao mesmo tempo que erguia a mão, estendo o dedo ao salvador para que pudesse observar minuciosamente. Seguiram-se mais alguns momentos de apatia. Observar o mar e os céus passou novamente a ser a actividade de eleição. Lá longe, o sol punha-se, criando uma aurora avermelhada que destoava completamente da paisagem branca que todos imaginavam. Muitos dos passageiros acordavam agora, talvez um pretexto para poderem festejar a sua chegada a Ushuaia. Esperando ver o continente sul-americano, muitos distribuíam-se heterogeneamente pelo convés, divididos em grupos como se quisessem festejar a chegada do ano novo com uma taça de champanhe francês ou, mais simples, observando o horizonte sozinho, esperando chorar de alegria ao chegar a terra firme. “Talvez o indicador signifique outra coisa…”, intercedeu novamente o salvador, tentando reatar a conversa, desta vez talvez numa vertente mais enciclopédica, simbólica. “Desculpe!”, bramiu Lumux num tom de ligeira incompreensão. “O Olho-que-tudo-vê… Uma boa alusão, sim senhor. Tenho que tirar-vos o chapéu. Talvez um símbolo para exprimir a ingenuidade da espécie humana perante o que está mesmo à sua frente!” soltou. O diálogo tomara um rumo estranho, o tom do salvador mudara. A voz carinhosa, tenuemente feminina, apaziguante dava lugar a um tom grave, monstruoso, paranormal e ameaçador, bastante intimidador, tornando o ambiente pesado e, de novo, antárctico. “Não estou a compreendê-lo!”, a incredulidade estampada no rosto de Lumux, ligeiramente acompanhada por uma sensação de medo que lhe rompia as veias. O salvador tornara-se ameaçador. O tema de conversa tinha mudado estranhamente depressa dos assuntos familiares para uma discussão estranha, talvez relacionada com simbologia. “Pelo amor de Deus! Não se faça de desentendido. Pergunto-me a mim mesmo há quanto tempo e por mais quanto tempo tencionam vocês continuar com o vosso legado de clausura e esquecimento!”, o salvador mexia as mão de forma ribombante, cerrando os punhos em intervalos curtos, quase que ameaçando agredir Lumux. “Está a tornar-se indelicado!” “Vá para o caralho mais as indelicadezas! Explique-me. Só quero saber o porquê de esconder algo assim tão afincadamente!” “Você está a passar dos limites!” O Lumux começava a sentir-se arrepiado, assustado com o comportamento do salvador. Levar o assunto por um caminho menos agressivo seria o ideal mas não parecia existir um acordo mútuo entre as partes. Os insultos ouviam-se num tom anormal. O começara com uma conversa amistosa estava a transformar-se numa discussão acesa. “Responda! Porquê?”, gritando aos ventos, espalhando o som por todo o navio sem sequer captar a atenção dos passageiros no convés que se preocupavam mais em olhar o nada em busca da salvação argentina. Lumux permaneceu calado, movendo-se em direcção à porta, tentando acabar por ali a discussão. “Responda, caralho!” A mão direita do salvador tornara-se uma ameaça. Segurando de forma decidida, mantendo a mesma expressão agressiva, estendendo o braço na direcção de Lumux, uma pistola entrava no conflito. “Está a passar largamente os limites!” “Eu não o volto a avisar!”, puxando a patilha da arma de forma a desimpedir o caminho da bala. “Responda!” “Raciocine, por favor! Não é óbvio que não posso responder a algo que não sei”, abanado as mãos nervosamente, de uma lado para o outro e expressando no seu rosto o medo. “Sempre fiéis!” O salvador aplaudiu, deixando a arma pendurada no dedo indicador da sua mão direita, até chegando a sorrir. Ironicamente inclinou-se perante Lumux, colocando ao mesmo tempo uma mão paralela à cabeça e afastando-a depois, tentando reproduzir a acção de “tirar o chapéu”. “Queira saber então que a fidelidade não foi, não é, nem nunca será a salvação para ninguém!”. Voltou a estender o braço, oferecendo à arma a sua posição normal. “Depois conta-me como as coisas são lá em cima!” Lá longe, nesse momento, a Antárctida ruiu, ouvindo o grito assassino da arma do salvador. Bem perto, nesse momento, Ushuaia assistiu incrédula, aparecendo pouco a pouco do mar ao mesmo tempo que chorava aos céus.