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Movimento social
que alimenta 3.500
crianças chega a
aldeias indígenas
e inspira projetos
em outros Estados
Padre Luiz Facchini, idealizador
das Cozinhas Comunitárias
EDITORIAL UNS & OUTROS
A Cidade da UM SUCESSO
Festival de música instrumental em Joinville?
I
Adauto Vieira, um dos idealizadores desse
alimenta perto de 3.500 crianças evento que, na versão 2006, mostrou que veio para ficar. Estiveram por aqui feras como Wagner
por dia, em zonas pobres, o padre Tiso, Naná Vasconcelos e Egberto Gismonti, talvez a grande estrela até agora – junto com Hermeto
Paschoal, na estréia. “A vinda de Gismonti demonstrou o respeito alcançado pelo festival. Ele se
Luiz Facchini acalenta o sonho de apresenta quase que exclusivamente na Europa e nos EUA. Seu espetáculo foi um dos raros no
transformar Joinville na “cidade da Brasil”, sublinha Vieira. Neste ano, o público somou 1.500 pessoas no teatro e 3 mil nos palcos
alternativos. “Pelo nível da programação e pela organização impecável, o festival se firmou como
solidariedade”, como afirma em
um dos mais respeitados eventos de música instrumental do Brasil”, orgulha-se o presidente do
reportagem publicada nesta Revista instituto criado para cuidar dessa iniciativa. Em 2007, adianta o advogado, o projeto é trazer
Döhler. Diversas iniciativas em curso “alguma atração de renome internacional”. Os fãs ficam na torcida.
2 2o SEMESTRE 2006
incluir um
iniciativa de ão
o-os pe la a publicaç
“Parabeniz rea cultural, com inville
ra a á de Jo
espaço pa m sobre as bandas os uma “Por conta da matéria sob
p orta g e ão , so m re o projeto A4, do qual
da re formaç pela mídia tenho o orgulho de ser um
iç ão 1 3). Para in on ta d a a das acionistas, acabei ns
(ed
e vem sen d o ap movida a ler esta revista “Gostaria de dar os parabé
banda qu trabalhos . No início, ville pis a
u m d os melhores ís.”
despretensiosamente. Ao
cabo da vigésima página pela reportagem J
‘ oin
como Sul do pa banda Faira
ns
percebi que já tinha lido , no acelerador’ (ed ição 13) , que
de p en d entes do do Santiago, vocalista da a revista toda, não apenas ficou
in Ronal folheado. Foi quando me
lembrei do valor real e aborda a TAC. O conteúdo
incalculável de uma boa ótimo!”
publicação empresarial. ia olog
Jornalista que sou, contum Augusto Cruz, da TAC - Tecn
az crítica às banalidades
e Automotiva Catarinense S.A.
textos insossos via de reg
ra acumulados nas
publicações empresariais
, considero-me fonte seg
para dizer: podem crer que ura “A revista é uma iniciativa
o trabalho de vocês vale
pena.” a muito boa e a qualidade
do
Malu Salgueiro, consultora
especializada em comunicação trabalho é excelente.”
empresarial
Dietmar Lilie, de Joinville
UM PAPO com Therence Mir, gourmet e proprietário da Mercearia Sofia, um NESTA REVISTA
restaurante diferenciado que fica no Mercado Municipal de Joinville.
VOCÊ VAI LER
2o SEMESTRE 2006 3
VIDA PESSOAL
as mãos’, e vamos formando timidez exacerbada atrapalha o
trombone
participantes receberam seus
diplomas e aprenderam as
manhas da expressão oral (veja
algumas na página 6). Um
público heterogêneo, que vai de
Vencer o medo de falar adolescentes interessados em eliminar a
em público é vital. gagueira ao apresentar trabalhos escolares
até executivos cientes de que a falta de Norberto se soltou e descobriu vocação de professor
E até os mais tímidos lógica na argumentação pode sacrificar a
assinatura de um contrato. “Em 20 horas, Norberto Kuchenbecker, diretor da
podem chegar lá transformamos um tímido em um orador”, Faculdade Cenecista de Joinville (FCJ), não
anuncia o presidente do clube, pelo qual já deixou isso acontecer. Decidiu ir atrás de
ornalista ou advogado, empresário ou cruzaram o empresário Mário Zendron, o socorro ainda no quarto ano da faculdade
4 2O SEMESTRE 2006
diferencial competitivo, nestes tempos em 90. Lá, aprendeu um segredo para não profissionais da palavra dependem dela
que os currículos estão parecidos demais: amarelar diante da platéia: elaborar diariamente. “O grau de clareza e precisão
“Quem se comunica bem, exerce melhor as previamente o que vai dizer – e treinar da palavra é vital para o jornalista”, frisa
funções de liderança porque sabe motivar a bastante. “O COL me trouxe a tranqüilidade Samuel Lima, diretor da faculdade,
equipe, transmitindo credibilidade”. que tenho hoje”, agradece. Adelson argumentando que a fluência é necessária
Westrupp, delegado da Polícia Civil de “para encarar desde um simples contato
PILAR PROFISSIONAL Araquari, fez o curso há poucos meses e, para pedido de entrevista até uma platéia
embora não seja novato em oratória, adversa”, como também no exercício de
Há vários canais para cultivar essa surpreendeu-se ao ouvir que é a expressão selecionar e transmitir informações. A
qualidade, oferecidos por escolas, empresas corporal o fator que mais pesa ao falar em jornalista Carla Lavina, inibida até a
e entidades (leia quadro abaixo). A Câmara público. “Melhorei muito nisso. Observo até medula, conseguiu lidar bem com isso
de Dirigentes Lojistas (CDL) de Joinville os erros de apresentadores de TV, que não enquanto trabalhou em jornal, que ela
encaixa o assunto em treinamentos sobre sabem se comportar em pé na frente da considera “uma posição confortável” para os
relações humanas, vendas, atendimento ao câmera”, orgulha-se Westrupp. tímidos. Quando foi se especializar em
cliente e liderança, além de dois cursos A profusão de cursos que ensinam a botar marketing, constatou que não havia jeito,
específicos de oratória por ano – as 30 vagas teria de se expor mais
se esgotam rápido, avisa Estela Winters em público, se
Steil, responsável pela área. “Entendemos quisesse evoluir na
que a comunicação eficaz é um dos pilares carreira, e recorreu
do bom profissional”, reforça. A loja aos cursos de
Millium, de materiais de construção e oratória. De cadeira,
utilidades domésticas, 900 funcionários e 18 Carla dá um conselho
filiais, convocou a fonoaudióloga Monika a quem vive algo
para aprimorar a comunicabilidade de seus semelhante: “As
orçamentistas, a equipe incumbida de técnicas são úteis,
convencer o freguês a fechar uma compra mas, no final,
cotada por telefone. “Se a abordagem não depende apenas de
for boa, a venda pode ser perdida aí”, você para vencer o
admite Caroline Nicolli, RH da Millium. Lena, campeão mundial de oratória: sonho realizado, cursos disputados nervosismo”. ■
Em geral, as empresas avaliam a
a boca no trombone inspira
o entusiasmado Altamir
Cursos de oratória & afins
Andrade, do COL, a
classificar Joinville como a
PRONTO-SOCORRO
2O SEMESTRE 2006 5
VIDA PESSOAL
20%
das pessoas nascem tímidas
“Ninguém nasce tímido” Mas bem menos que isso, apenas
Gerente de Recursos Humanos da Wiest S/A, indústria de autopeças, o psicólogo 7%
Aroldo Coelho Jr., pós-graduado em Comportamento Organizacional e Administração da população mundial, tem fobia social, uma
de RH, afirma que o profissional contemporâneo precisa trabalhar sua capacidade de espécie de “hipertimidez”, tratada por psicólogos
comunicação, “para se fazer compreender”, e que os muito inibidos perdem
oportunidades de ouro. E não mais que
Em que os profissionais deve ser uma busca 7%
aspectos a constante. Todos devem “falar a das pessoas são comunicadores natos,
comunicação mesma língua”, ou seja, a cultura da com talento especial para a oratória –
eficaz é empresa passa obrigatoriamente pela como Silvio Santos e Fidel Castro
importante linguagem, pela comunicação. Senão,
para o teríamos o retorno à Torre de Babel
profissional bíblica. Falar em público é requisito
Manhas para encarar o público
que quer básico para os líderes de organizações.
espaço no Hoje, as empresas buscam desenvolver ✑ É por causa do medo que
NO GOGÓ
mercado? essa habilidade em seu público muita gente fala alto ou baixo
É fundamental, interno, independente dos cargos de demais, fica artificial, agressiva
uma vez que “se fazer chefia. Dessa forma, tímidos e ou desarticulada perante o
compreender”, para acanhados têm, na maioria das público. Mas o maior defeito é
um líder, é grandes empresas, oportunidade de não saber ordenar o
característica básica, inerente à deixar de sê-lo. pensamento – iniciar,
desenvolver e concluir uma
função. Como atingir objetivos e
apresentação.
metas se aquele a quem cabe orientar, Timidez sempre tem solução?
✑ Por isso, você deve preparar
facilitar, estimular, dirigir não Plagiando Simone de Beauvouir: seu discurso com
consegue se fazer entender? Os “ninguém nasce tímido, torna-se”. Ou antecedência, dividindo a fala
mexicanos usam uma expressão seja, ninguém é fraco, tímido, vencedor em formato de tópicos.
interessante nos processos de ou empreendedor desde o momento ✑ Seja qual for o tema, planeje
comunicação: “se me explico...”. Ou que nasceu. Ele se torna. Tudo está em três segmentos: introdução
seja, colocam a responsabilidade por ato, como diria Sartre. Dessa forma, (“sobre o que vai falar”),
se fazer entender no comunicador, e tem solução, sim. Cabe analisar se é desenvolvimento (apresente o
assunto proposto, com seus
não no interlocutor. O brasileiro necessário ao tímido mudar. Quem ele
argumentos) e conclusão (deve
emprega inadequadamente o “você se torna ao mudar? Procurar um
sugerir uma reflexão sobre o
entendeu?” Ou seja, coloca no outro o especialista é aconselhável para aqueles que foi falado).
problema. Cabe ao líder se fazer que efetivamente percebem a ✑ Ensaie bastante na frente do
entender. Mesmo considerando que necessidade de mudar. Curso de espelho, contando o tempo e
esse é um processo dialético, no oratória qualificado também é uma com o roteiro a mão. Se for o
sentido de que temos sujeitos com oportunidade de desenvolver essa caso, chame a família para
Leia mais sobre este assunto na edição virtual da Revista Döhler www.dohler.com.br/revistadohler14
experiências diferentes e percepções habilidade. O tímido pode perder um ensaio geral.
diferentes, e que as dificuldades de oportunidades de crescimento em ✑ Enxugue o roteiro quando
estiver se sentindo mais firme.
compreensão são de ambos. cargos de maior relevância dentro de
✑ No dia D, procure estar bem
uma organização eficaz.
disposto e controlar o sistema
A empresa nervoso – respirar fundo
valoriza mais ajuda a regular a adrenalina e
quem “fala aparência tranqüila inspira
bem”? confiança.
Diria que as ✑ Mantenha-se firme e encare
empresas valorizam audiência.
quem “faz o que ✑ Fale com fluência, ritmo, sem
pressa, nem muito devagar.
diz”, mas também
✑ Atenção ao fecho do discurso.
quem fala bem, pois
O ideal é que termine com um
a comunicação “clímax”, para não esfriar a
eficaz é necessária platéia. Faça um resumo do
em qualquer que falou, um agradecimento
organização. O ou uma frase de efeito, por
entendimento entre O psicólogo Aroldo: cultura da empresa passa pela linguagem exemplo.
FONTES: APOSTILA COL, REINALDO POLITO
6 2O SEMESTRE 2006
COMPORTAMENTO
Cãezinhos,
gatinhos, peixes e
tartarugas
“educam” crianças
e ajudam até a
combater a
depressão
Brasileira de Zooterapia (Abrazoo). Ela Alexandre Rossi adestra cães para trabalho com crianças e idosos
2O SEMESTRE 2006 7
COMPORTAMENTO
em 2005 que a Universidade de São Paulo domésticos, dizem os autores, estimula a
(USP) introduziu a disciplina de zooterapia criança a expressar a ternura, além de
na faculdade de veterinária e, em Brasília, a facilitar o equilíbrio sensorial e emocional.
UnB passou a estudar os efeitos do convívio Em Curitiba, o Colégio Nossa Senhora de
com cães na recuperação de doentes de Sion adota os conceitos de Maria
Alzheimer. Pesquisadores de vários países Montessori desde o final dos anos 50. Cinco
foram mais longe ao relatar, por exemplo, cachorros, uma gata, vários peixinhos, uma
como a TAA reduziu o consumo de tartaruga, duas araras, um tucano e dois
analgésicos entre crianças com câncer ou papagaios “participam” de atividades
constatar que donos de cães gastam menos didáticas ao lado dos 1.200 alunos. A
em remédios e saem antes do hospital, em interação proporciona interessantes
casos de internação. oportunidades de aprendizado, beneficia o
Totós e bichanos também podem ser bons desenvolvimento afetivo, aguça a
aliados do enfermeiro. Foi o que perceberam Carinho universal curiosidade, dá segurança e ajuda até a
as paulistas Cíntia Kawakami e Cyntia resolver casos de timidez precoce. “A
Nakano em trabalho de graduação na USP. criança precisa saber que existem outros
Depois de um semestre de visitas a asilos e
creches, acompanhadas de simpáticos
“S into uma dor muito grande quando
vejo cães abandonados. Se morasse
numa casa, recolheria a maioria”, garante a
seres, diferentes dela, no planeta. Tendo
consideração por formas de vida mais
animaizinhos, elas registraram que os funcionária pública Areli Morello, dona de simples, aprenderá a respeitar sua própria
mascotes ajudavam a quebrar o gelo, uma gatinha persa e um cãozinho yorkshire. espécie”, defende Agueda Thormann,
provocando “melhora considerável nas Areli faz questão de alimentar os bichinhos bióloga e educadora do Sion.
relações interpessoais”, fator indispensável esfomeados que encontra e vê no
para que o profissional reconheça companheirismo o benefício principal do EMOÇÃO NA TELINHA
“sentimentos, condições e intenções do relacionamento com os animais de estimação:
paciente” – ou seja, as “respostas não- “Parece que, dando carinho para eles, estou A jaraguaense Daiane Zanghelini herdou
verbais” ao tratamento. “Vimos nas pessoas fazendo o mesmo com todos os outros da mãe o costume de recolher gatinhos
deprimidas pela solidão um sorriso bichinhos”. vira-latas e recrutar interessados em adotá-
verdadeiro e nas crianças castigadas pelo los. “Tenho um gato de 11 anos que é como
tratamento a disposição de crianças “Acredita-se que eles possam servir de se fosse da família”, revela. Ela transformou
saudáveis. Foi uma experiência marcante”, treino para a vida futura, despertando o a paixão por pets em objeto de estudo na
anotam as enfermeiras, lamentando as senso de responsabilidade mediante a monografia para graduação de Jornalismo.
barreiras que a TAA encontra para se necessidade de alimentação diária, cuidados No trabalho, analisou os mecanismos
disseminar pelos hospitais brasileiros que gerais e conhecimento do ciclo biológico”, empregados pelo programa “Late Show” – o
não permitem a entrada de animais – apontaram os professores Rainiere Gaertner único sobre a turma das quatro patas em
segundo as estudiosas, o tabu perdeu o e Joaquim Olinto Branco em tese de canal aberto, transmitido pela Rede TV –
sentido com a comprovação de que os seres Mestrado em Educação, na Universidade do com o propósito de comover o espectador.
humanos transmitem mais infecções aos Vale do Itajaí (Univali). Recentemente, a “Queria compreender por que me sentia tão
pacientes do que cães e gatos limpos e prefeitura de Florianópolis lançou um emocionada vendo imagens de animais
imunizados. programa que vai embutir lições sobre maltratados ou de donos acariciando cães e
respeito aos animais nas gatos”, conta. Encontrou respostas ao
disciplinas curriculares de cruzar teorias de massa, psicanálise,
1a a 4a série. Por meio de psicopedagogia e semiótica. “Os
cartilhas com textos, telespectadores deslocam, para as imagens,
desenhos e exercícios sentimentos como angústia, revolta, tristeza
relacionados ao tema, o e rejeição. A TV capta as carências das
município pretende pessoas e tenta supri-las com experiências
conscientizar a garotada que não conseguimos realizar”, observa
para a idéia da posse Daiane, que continua fã do programa,
responsável – estima-se em mas passou a assisti-lo “mais com a
10 mil os cães e gatos razão”.
abandonados na capital. O Em geral, ainda é o coração que
problema também é grave manda no vínculo (cada vez mais
A voluntária Denise, no gatil do Abrigo Animal: animais errantes em Joinville, onde a ONG intenso) do ser humano com os bichos
Abrigo Animal batalha pelo de estimação. Vera Neves, dona de pet
AULA DE NATUREZA recolhimento e adoção de animais errantes. shop em Joinville, mantém há 10 anos a
Autores como o francês Hubert tradição de promover movimentadas
Se na saúde ainda há dilemas, no campo Montagner e a italiana Maria Montessori feiras semanais de filhotes, nas tardes de
da educação é consenso que os bichinhos de enfocaram o caráter pedagógico desses sábado. A feira virou passeio-família.
estimação têm um papel a cumprir. pequeninos seres. O contato com animais “Mesmo clientes que não podem ter
8 2O SEMESTRE 2006
O abrigo dos cães sem-teto
Há cinco anos, preocupados com a doenças causadas por animais de rua, as
superpopulação de cães e gatos autoridades da saúde recorram ao
zanzando pelas ruas de Joinville, sacrifício em massa, como se vê em
voluntários resolveram fazer alguma algumas cidades. “O respeito aos animais
coisa – e fundaram o Abrigo Animal. A está ligado ao respeito dos homens pelo
ONG defende a proteção, a saúde e os seu semelhante”, prega a entidade. Pena
direitos dos animais, advogando a que muita gente não se dá conta disso –
esterilização como a forma mais eficaz com freqüência, os cães e gatos
de combater o sofrimento dessas recolhidos são encontrados em péssimo
criaturinhas. Mantido à base de doações, estado de saúde, não raro vítimas de
venda de produtos em feirinhas e maus tratos, esfaqueados, queimados ou
alguma verba da prefeitura, com envenenados. Os números crescem sem
orçamento mensal de R$ 15 mil, o parar: em junho deste ano, contavam-se
Abrigo Animal supre a ausência de 700 cães e 200 gatos abrigados pela
órgãos públicos voltados ao tema na organização. A maioria é vira-lata, mas
Anti-tristeza cidade. Diferente do que ocorre, por há diversos exemplares de raça que seus
exemplo, em Itajaí, que mantém um donos largaram de mão. “Alguns
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CIDADANIA
fruto, na definição do próprio autor: a
fundação inaugurou a 32a cozinha, a
segunda em uma aldeia indígena – a
primeira havia iniciado atividades no
mês de abril, em Guaramirim. Palavras
em idioma guarani marcaram a
abertura da Oca Cozinha Comunitária,
na Aldeia Pindoti. A tribo é composta
por sete famílias, somando 38 índios, e
está localizada em Araquari. “As
comunidades indígenas se encontram,
ainda, muito desassistidas”, lamenta
Facchini, ao sublinhar que, com esse
público, a entidade realiza uma
experiência diferenciada, buscando
respeitar e, mais que isso, ajudando a
preservar a cultura guarani.
10 2O SEMESTRE 2006
FALTAM VOLUNTÁRIOS trabalho social beneficia quem o faz. E,
claro, é vital para quem o recebe”,
Em cada uma das reconhece o religioso, antes de
cozinhas espalhadas compartilhar um pouco de sua
por vários bairros, a experiência com as quase 500 mães que
comunidade é cuidam das cozinhas. Maioria absoluta
motivada a no universo de voluntários da
participar: quem instituição, muitas mulheres que
prepara as refeições passaram a se dedicar ao projeto
e serve para a redescobriram seu próprio valor como
criançada são mães seres humanos.
voluntárias que
recebem, O PÃO DO CORPO E DA ALMA
quinzenalmente, a
Hora do almoço na comunidade indígena: trabalho atinge novos alvos provisão dos gêneros De mãos para o alto, eles agradecem
necessários. “A idéia aos céus pela comida. Todos juntos,
– merecedor, recentemente, de ampla não é apenas suprir pedem a bênção e querem ter a certeza
reportagem em rede nacional, no a fome física, embora seja muito de que o alimento nunca mais faltará.
programa Ação, da TV Globo – não é, importante, claro. Queremos ajudar a Sim. Ele já faltou. Não foram poucas as
porém, o único desenvolvido pela construir nas pessoas o espírito de vezes em que os moradores de algumas
Fundação Pauli-Madi. A instituição cidadania e solidariedade, fundamental regiões mais carentes de Joinville
toca outros três para a idéia dar certo”, precisaram rezar para saciar a fome.
trabalhos sociais, defende Facchini. Além Agora, a oração tem o intuito de celebrar
sempre voltados à de cuidar das tarefas da o almoço simples e sagrado.
família, à infância e à cozinha em si, os Os moradores sempre foram regidos
adolescência: Cidadão voluntários também se pela fé. Nenhuma religião ou credo em
do Futuro, Comitê da dedicam à arrecadação específico. A força para seguir a jornada
Solidariedade e Casa de doações para as vinha do alto. E foi daí, do alto de um
Abrigo. Sem contar as famílias. E atuam em altar, que um padre desceu para ajudar a
várias ações paralelas, parceria com a mudar o cenário da população
como as hortas fundação, sugerindo joinvilense. Só na unidade da Cozinha
hidropônicas do soluções para problemas Comunitária do Jardim Edilene, cerca de
Plantando Vida, que das comunidades em 300 crianças almoçam, de segunda a
garantem um bom que estão inseridos. sexta-feira. Seis quilos de arroz, quatro
suprimento de verduras Convidadas a se quilos de feijão, três pacotes de
e legumes às refeições engajar, as mulheres macarrão, três quilos de fubá, 10 frangos
servidas nos bairros. E Marlene é voluntária há cinco anos retomam contato com com legumes e saladas são servidos
o Segundo Tempo, em noções fundamentais todos os dias.
parceria com o governo e a Univille, que, tantas vezes, o duro dia-a-dia de Uns pratos com três divisórias e outros
junto às comunidades das cozinhas e extrema pobreza acaba seqüestrando. lisos. Isso, na verdade, pouco importa. A
envolvendo cerca de 500 crianças e Além de matar a fome delas mesmas, e preocupação está no fato de manter o
adolescentes. das crianças da comunidade, algumas projeto, já que, “quando a cozinha fecha,
Os Comitês da Solidariedade, resgatam a si próprias, conscientizando- muita gente passa fome”, afirma Marlene
integrados por voluntários das se de seus direitos de cidadã e de da Silva, voluntária coordenadora
▲
2O SEMESTRE 2006 11
CIDADANIA
da cozinha do Jardim Edilene. Marlene
bate ponto no local há cinco anos, desde
que as refeições começaram a ocupar as
mesas por ali. A jornada se inicia às 8h e
só acaba lá pelas 14h, quando a louça
está limpa. No preparo dos alimentos,
trabalham uma cozinheira e três
ajudantes. Após o almoço, mais quatro
ajudantes entram em cena.
As refeições são para crianças e
adolescentes de até 15 anos. Mas Maria
Salete de Carvalho garantiu o direito de
almoçar na cozinha por ajudar nas
tarefas, pelo menos duas vezes por
semana. Ela e os quatro filhos comem
no local há três anos. “Às vezes eu dava Projeto ameniza situação difícil em comunidades carentes: objetivo é buscar auto-suficiência
só pão e café para meus filhos, no
almoço. Não tinha outra coisa”, lamenta. Parque Guarani desde que a unidade que vêm os recursos que asseguram às
A oportunidade de almoçar na cozinha começou a funcionar. Antes, fazia as crianças o pão nosso de cada dia. Dos
trouxe alegria para a família. “Notei que refeições em casa. “Nunca nos faltou R$ 40 mil que gasta todos os meses, a
meus filhos cresceram e se nada, mas a situação nunca foi boa. fundação recebe R$ 18 mil da
desenvolveram muito.” Hoje, eu e minhas duas irmãs prefeitura, via Secretaria de Bem-Estar
Nem sempre a inocência da infância almoçamos sempre aqui”, conta a Social. O acerto vale até março de
permite revelar as dificuldades. A garota. Agora, a janta em família 2007. A secretária Maria José Fettback
existência triste faz com que as carências também está garantida. explica que esse tipo de contribuição
se tornem banais e sejam superadas pela Na cozinha do Parque Guarani, assim tem prazo definido – é regido pela
às vezes vã esperança de um futuro como em todas as outras, as doações são disponibilidade orçamentária e
melhor. “Todos os dias tinha comida lá bem-vindas e bem aproveitadas. Na prioridades da administração.
em casa”, diz Paula *, uma menina de véspera do final de semana, os legumes, “Quando o prazo expirar, vamos nos
12 anos. Cabisbaixa, ela faz a declaração que naturalmente estragariam pela ação reunir com a fundação e conversar
timidamente, com vergonha de do tempo, viram conserva. Pimentão, sobre o problema”, adianta a
confessar a situação difícil. Na casa de cenoura e couve-flor dão o colorido aos secretária, empenhada na
Paula, moram nove pessoas. Só o pai vidros enfileirados na cozinha. implantação, ano que vem, dos
trabalha. Durante o dia, são mínimas as restaurantes populares, que pretendem
opções para o lazer. “Fico andando na FONTES DE AJUDA servir refeições a R$ 1,00 para famílias
rua, na casa dos meus amigos, mas sei carentes.
que isso não é bom”, desabafa. Carla *, Mais que dos cofres públicos, é da Embora os recursos financeiros
outra menina, freqüenta a cozinha do iniciativa privada e de pessoas físicas sejam uma preocupação, padre
Facchini explica que a entidade
procura formas de se tornar
independente de verbas públicas.
“Gostaríamos de chegar a uma
situação de auto-suficiência que nos
permitisse dormir sossegados, sem
riscos de que, numa mudança de
governo ou de política, fiquemos sem
condições de atender nossas crianças.”
Conquistar essa independência é
possível apenas se a comunidade se
envolver um pouco mais. “Estamos
divulgando o máximo possível o
trabalho da fundação, buscando
sensibilizar pessoas e empresas sobre a
importância de garantir o
funcionamento e – por que não? – o
crescimento dessa instituição.”
Depende de todos. E de cada um. ■
Maria Salete ajuda nas tarefas diárias de uma das cozinhas e almoça ali com os quatro filhos * Os nomes foram alterados para manter a privacidade das crianças.
12 2O SEMESTRE 2006
Empresa multiplica doações de funcionários
Ao todo, 95% dos onde exista uma loja da
funcionários da rede de Salfer, pelo menos uma
lojas Salfer participam entidade que cuide de
do Programa Salfer crianças seja assistida
Solidária. Quem se por nós.”
engaja no projeto faz A rede também
uma doação mensal, mantém o projeto
que é descontada direto Padrinhos do Saber.
na folha de pagamento. Neste, cada um dos 97
Sob o total arrecadado, participantes adotou
a empresa colabora com uma criança da cozinha
mais 150%. Esse do Jardim Edilene. “A
montante é doado à gente compra os
Fundação Pauli-Madi, materiais escolares e
que compra os acompanha os alunos. É
alimentos necessários. um forte incentivo, até o
Mais que dar Grupo de colegas da Salfer visita cozinha: “padrinhos” incentivam estudos rendimento escolar
dinheiro, mensalmente subiu”, explica
os funcionários fazem uma visita às colaborou de alguma forma para que Valdemiro. Isso criou um vínculo
cozinhas para acompanhar o alguém tivesse uma vida melhor”. Ao mais forte ainda com as crianças
andamento do projeto. É essa a todo, a Salfer ajuda 34 entidades: em assistidas. “Muitas querem conhecer
forma de monitorar o uso dos cada cidade onde há unidades da o local onde o ‘padrinho’ trabalha e
recursos. Além disso, toda semana, loja, os empregados contribuem e a até se espelham e pensam em
quando a Salfer reúne os novos empresa coloca os tais 150% em trabalhar na Salfer, mais tarde”,
empregados para a integração na cima e distribui a alguma instituição. comemora o executivo.
empresa, eles são convidados a “Nosso objetivo é que, em cada lugar
integrar o projeto. “Felizmente a FUNCIONÁRIOS EMPOLGADOS
adesão é bastante grande”,
comemora Valdemiro Hafemann, Humanização é a palavra que
RADIOGRAFIA melhor define a sensação dos
diretor Corporativo e da Qualidade
da Salfer, explicando: “O valor funcionários com o projeto. Não são
Com apenas os números do desconto em folha de
mínimo de doação é de R$ 7,00
mensais. E o máximo depende da 8 funcionários pagamento que contam para quem é
vontade e do gesto de cada um”. e quase solidário. O que vale é o crescimento
O programa foi implantado em 500 voluntários de caráter e a sensação do dever
1998. Surgiu do movimento dos cumprido. A analista fiscal Lucemara
a Fundação Pauli-Madi mantém
próprios trabalhadores. “Vinha muita Narloch lembra que, quando
32 cozinhas começou a ajudar as Cozinhas
gente nas lojas pedir coisas.
espalhadas pela periferia da cidade e Comunitárias, a primeira impressão
Acabávamos dando, só que isso
tornava a iniciativa pouco eficaz, arredores. boa que ficou foi o carinho das
porque talvez ajudássemos quem não crianças. “Algumas vêm e nos
precisava”, conta. “Depois de uma Dessas, abraçam, porque sabem que a gente
visita às cozinhas, vimos a está ali para passar um dia diferente,
2 são ocas-cozinhas
dificuldade que o padre Facchini um almoço diferente”, salienta,
e alimentam índios guaranis. No total,
tinha para manter o projeto. Aí a referindo-se às visitas feitas pelos
quase funcionários a alguns bairros. “As
empresa se posicionou oferecendo
uma participação adicional.” 3,5 mil crianças e adolescentes crianças mandam cartinhas. É uma
Os benefícios são claros: “O são atendidas pelos projetos da coisa que realiza tanto a gente
voluntariado qualifica as pessoas, dá fundação. quanto a fundação. Digo que ajudar
uma dimensão diferente ao trabalho. os outros faz parte do meu projeto de
E, para os funcionários, é motivo de vida”, completa. “A importância de
Quem quiser ser voluntário ou fazer
orgulho fazer parte de um projeto ajudar é imensa”, emenda a
doações, o telefone é 3465-0165. assistente de marketing Fernanda
dessa envergadura. É muito bom
você ir para casa sabendo que Martinelli.
2O SEMESTRE 2006 13
GÊNERO
14 2O SEMESTRE 2006
Boa Vista, vizinho à necessidade. Quando possível, auxilia
área central, 100 na reintegração ao trabalho, no retorno
ocorrências à frente dos filhos à escola e, em alguns casos,
do Jardim Paraíso, ajuda até a conseguir emprego e
extremo-norte da moradia. “A prioridade é garantir que
cidade. Na elas retomem a vida normal nas suas
seqüência, grudados, comunidades”, esclarece a assistente
Centro, Aventureiro social Valquíria Backes. Caso haja risco
e Iririú, misturando de morte, a mulher é hospedada por até
zonas pobres com três meses na Casa Abrigo Viva Rosa,
regiões de classe enquanto a equipe do PAMVVI tenta
média. “O problema solução melhor. Com 28 vagas,
é mais sério do que endereço mantido em sigilo por
imaginávamos. E do segurança, a Casa Abrigo representou
que conseguimos dar um passo importante na abordagem da
Cynthia, do CDH: momento privilegiado, mas faltam políticas públicas visibilidade”, violência contra a mulher. De cada
preocupa-se Janine, cinco atendimentos feitos pelo
responsáveis pelo estudo: “Esse é um titular de um projeto de extensão programa, um depende dessa estrutura,
fenômeno conhecido, mas sobre o qual objetivando capacitar instituições que o que dá idéia da gravidade dos casos.
se fala pouco, contribuindo para que se atuam na proteção às mulheres. Na O balanço do PAMVVI em 2005
reproduza sob sigilo e em nome de uma perspectiva de ir além da estatística, as permite traçar um perfil médio da
privacidade criminosa”. duas professoras decidiram também mulher que é alvo de agressões pelo
Em Joinville, começa a ser suprida a reunir e analisar narrativas pessoais, companheiro: 36 a 45 anos (33%),
carência de dados precisos sobre o tanto de vítimas de violência quanto de baixa escolaridade (63% com ensino
assunto. Projeto recente, assinado por profissionais da área. Esperam lançar fundamental incompleto), sem
duas professoras da Univille, rastreia as tudo em livro neste semestre. qualificação profissional (metade
estatísticas disponíveis e se propõe a desempregadas,
subsidiar, com elas, o trabalho das grande número de
organizações sociais. Janine Gomes da diaristas ou donas-
Silva e Arselle da Fontoura percorreram de-casa), entre dois
notícias de jornal, documentos e três filhos, família
fornecidos pela Delegacia da Mulher e simples. Perto de
registros do Centro de Atendimento à 60% andam com o
Vítima de Crime (Cevic) para montar boletim de
um denso painel que engloba doze ocorrência na mão,
anos, de 1991 a 2003. Dezenas de confirmando a
tabelas e gráficos minuciosos observação positiva
acompanham a evolução das de que, feras feridas,
ocorrências policiais relacionadas à elas vão perdendo o
mulher ao longo desse período, como medo de gritar. A
também um balanço dos serviços delegada Marilisa
prestados pelo Cevic, órgão de Boehm vê isso
assistência social, psicológica e jurídica Professora Janine, da Univille: números para compreender o problema diariamente. “As
administrado por uma ONG e ligado ao mulheres têm mais
governo estadual. coragem para denunciar e mais clareza
O material coletado por Janine e ABRIGO E REINTEGRAÇÃO sobre o que é errado nos
Arselle sustenta a impressão de que, por relacionamentos”, avalia. No comando
diversos motivos, raramente os Outra fonte de números, sempre de uma estrutura enxuta, apenas 13
culpados são punidos – apenas 10% dos relevantes para compreender a extensão funcionários e quatro psicólogas,
quase 22 mil boletins de ocorrência do drama e agir sobre ele, é o PAMVVI, Marilisa reconhece que precisaria “no
(BOs) emitidos em seis anos, até 2003, sigla do Programa de Atendimento a mínimo o dobro disso para dar conta do
tiveram encaminhamento. No último Mulheres Vítimas de Violência, recado”. Desabafa: “Dá uma sensação
ano computado, os registros mais vinculado à prefeitura. Desde abril de de impotência”. A delegada também
freqüentes foram de lesões corporais, 2004, o PAMVVI procura resgatar a percebe um aumento da violência, com
brigas e ameaças – a principal delas, de auto-estima de quem passa por esse inúmeras famílias desestruturadas pelo
morte. Ao contrário do que sugere o tipo de experiência. Diretamente, alcoolismo e pela instabilidade
senso comum, essas coisas não oferece assistente social, psicóloga e econômica.
acontecem só na periferia. Em 2003, pedagoga, que providenciam médico e A questão social aparece na origem
por exemplo, o bairro campeão foi o advogado, de acordo com a desse crescimento. O coordenador do
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2O SEMESTRE 2006 15
GÊNERO
Cevic, Pedro Paulo Rosa, definitivas, porém, as
lamenta que, na maior parte próprias mulheres
das vezes, as organizações preferem alternativas
afins acabem por tratar “curativas” em lugar das
apenas das conseqüências, preventivas, como
deixando de lado a causa. “De campanhas pela mídia e
que adianta investir na auto- inclusão de disciplinas
estima da mulher e mandá-la sobre direitos humanos no
de volta para o lobo?”, currículo escolar, desde as
questiona. Cynthia Pinto da primeiras séries. É o que
Luz, do Centro de Direitos informa a pesquisa da
Humanos, entende que a Fundação Perseu Abramo,
resposta está na reavaliação citada acima. Os
dos valores que estruturam a responsáveis pelo
sociedade atual e que Mônica Monich, Deise Gomes e Valquíria Backes: o trio do PAMVVI levantamento acendem o
aprovam, passivamente, a sinal vermelho: “A
discriminação da mulher no trabalho ou concepção de vida”. dimensão do fenômeno indica que, por
a utilização do corpo feminino como Instituição que luta por isso há longo necessárias e importantes que sejam, as
mercadoria. Não é do dia para a noite tempo, o CDH não faz apenas o medidas de acolhimento das vítimas,
que se chega lá – e a advogada só se atendimento imediato às vítimas de mesmo se implementadas em larga
mostra otimista no longo prazo: violência, mas trabalha em várias escala, serão insuficientes se não for
“Podemos depositar nossas esperanças frentes, estimulando essas pessoas a combatida a base moral que legitima a
nos filhos e filhas das gerações futuras, transformar a realidade ao seu redor – o violência contra a mulher, o que
pois está claro que a mulher já não que implica em cortar o mal pela raiz, demanda uma política educacional ativa
aceita o papel de eterna sofredora e jamais silenciando quando o parceiro de desconstrução e construção de
contribui na construção de uma nova vira algoz. Na hora de discutir soluções valores”. ■
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“A vida não é fácil. Mas é melhor que antes”
“Quando vim para Joinville com à noite em casa, me Veio ao meu trabalho,
meu marido, a primeira coisa que fiz batia e ia embora. ameaçou os colegas.
foi procurar serviço. Afinal, tinha que Uma noite, eu estava Não vai desistir, mas
pagar aluguel – ele gastava o salário dormindo com as não vai conseguir
na zona. Chegava no dia seguinte, crianças e acordei de também. Minha
bêbado, 10 centavos no bolso. Pedia repente, quando o vi vontade é forte. Não
café. Se não tinha, me chamava de se aproximando com tenho mais medo.
vagabunda, dava pontapés e me jogava fios de luz Consegui meu
contra a parede. Foi uma tortura. Eu desencapados, perto dinheirinho, fiquei
ficava um mês, dois, no emprego e ele da cabeça das firme. A vida não é
me tirava dizendo que quem crianças. Voei nele. fácil, mas é melhor que
trabalhava era prostituta. Caí em Pegou a foice, antes. Tinha outros
depressão. Uma ex-patroa me disse arrebentou a porta. planos com o
‘chega de sofrer’. Mas ele dizia que, se Estamos separados há casamento, uma pessoa
eu largasse dele, iria me matar. Daí, cinco anos, mas ele do meu lado, que me
ela me levou ao Cevic. Um mês depois, me persegue, diz que sou dele e mais desse atenção. Meu sonho foi por água
um oficial de Justiça foi lá em casa e ninguém. Meu menino de 14 anos abaixo. Agora, estou tentando
exigiu que ele se retirasse. Pegou a acompanhou a parte mais difícil. construir outros sonhos. Não vou
bicicleta, deixou os pertences lá e ficou Assistia a tudo. Ia comer embaixo da desistir.”
seis meses fora – só voltava para cama, por medo. Via o pai com foice,
quebrar coisas, maltratar as crianças, facão, avançando na mãe... Ele já Maria de Lourdes de Jesus, 42 anos, mãe de dois
me atormentar. Muitas vezes, entrava tentou me matar com faca, pedra... filhos, fez questão de “mostrar a cara” neste depoimento
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GASTRONOMIA
A cara e o sabor
de Joinville
14 ou 15 quilos cada uma”, conta ele, que
Horas e horas na começou em um espaço menor, no Km 2.
grelha, costela é Não há notícias de outra cidade brasileira
que cultue hábito semelhante, com tamanho
sinônimo de sexta-feira rigor: toda sexta-feira, dezenas de botequins
e restaurantes espalhados pelos bairros
e perguntarem a um gaúcho qual a oferecem a costela assada, iguaria que passa
18 2O SEMESTRE 2006
dedicação toda, o prato típico joinvilense PÚBLICO MENOR
parece cativo dos estabelecimentos menores.
“Até porque, para ser mesmo boa, O consumo da costela caiu bastante, nos
ela tem que ter a marca do últimos anos. Se, na década de 80, os
assador”, acrescenta Adolfo estabelecimentos chegavam a assar até 400
Goedert, pai de Sérgio e um quilos por semana, hoje dificilmente se
dos mais antigos passa dos 80. “Culpa”, em parte, das
profissionais da cidade. mudanças de hábitos alimentares ditadas
Mas, se o critério pelas campanhas educativas sobre as
for o de quem está relações entre a saúde e a dieta das
há mais tempo em pessoas. Afinal, a costela é um dos cortes
atividade, o troféu vai bovinos que mais concentram a temida
para Osman Lohmann, gordura animal, responsável pelo aumento
que administra com a nas taxas de colesterol e das complicações
ajuda de dois de seus quatro cardiovasculares. “Para mim, isso é um
filhos a churrascaria com seu mistério. Meu pai, por exemplo, viveu até
sobrenome, no
bairro Iririú.
Simpático e bem-falante –
finanças, trocou a roupa formal de escritório outro ponto comum entre
pelo avental de churrasqueiro. Não se churrasqueiros –, admite
arrependeu. “A única lembrança de minha que ultimamente prefere
vida relacionada à culinária foi um passar a semana na praia e
ensinamento de minha mãe, quando eu era vir para Joinville às quintas,
ainda pequeno, de que maionese se comia para cuidar apenas da
fria”, brinca ele, reiterando que gosta do que costela. “Já estou me
faz e se dedica a inventar temperos e inovar aposentando”, brinca, ao
em receitas para agradar também aos dizer que os filhos cuidam
clientes do domingo. do empreendimento com
dedicação. Com a
Osman Lohmann: o mais antigo da cidade no ramo
simplicidade que lhe é
peculiar, Lohmann se
recorda de como tudo começou: “Éramos os 98 anos, comendo costela gorda”, sorri
um grupo de amigos que se reuniam para Alírio. Todos concordam que o consumo
jogar bolão e comer costela. Trabalhava em caiu, mas acreditam que a tradição vai se
um outro lugar, até que alguém sugeriu que manter ainda por um bom tempo. “Afinal, a
eu devia abrir meu próprio negócio”, conta sexta-feira foi feita para relaxar e esquecer
ele, que tem em seu currículo profissional as preocupações”, emenda Dudy, com a
da juventude passagens pelo refeitório da anuência de seus clientes e amigos, que
Malharia Arp e como ecônomo da Sociedade não deixam de dar uma passadinha,
Alvorada. sempre que podem. Sem arrependimentos
Do grupo de amigos, o hábito da costela ou culpas. ■
Sérgio mistura dois estilos: “Não tem segredo” evoluiu para um pequeno restaurante, que
construiu ao lado da residência – e onde
Embora longe da vida de “costeleiro” já está até hoje, só que com uma infra- Três boas casas do ramo
há alguns anos, seu Alírio sabe de cor a estrutura bem maior. O conhecimento do
DIA DE COSTELA
rotina da profissão. “É preciso acordar cedo ofício veio, vejam só, do amigo Alírio, que já Bar e Cancha do Adolfo
porque, se você quiser tudo pronto no início cultivava a fama de melhor costeleiro da Rua Alagoas, 303 – Anita Garibaldi
da noite, lá pelas 11 horas tem que colocar cidade. “Foi ele quem começou isso tudo”, S 3433-0175
a costela no fogo – e isso exige preparação, credita.
desde o tempero até o fogo”, recomenda. É Bar e Mercearia Greissy
o que fazem Sérgio e Dudy, que
Rua Otto Boehm, 861 – Centro
começam a servir pelas 18 horas
S 3422-3727
porque, afinal, sexta-
feira é dia de “happy Dudy (ao centro),
hour” e desde cedo com um casal de Churrascaria Lohmann
fregueses
já tem gente pronta Rua Guerra Junqueira, 209 - Iririú
mexicanos: do
a degustar. Talvez escritório para a S 3437-1323
por exigir essa churrasqueira
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INSTITUCIONAL
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