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Caminhos para a Missão

Fazendo Missiologia contextual

C
oletânea de artigos organizada pelos padres Guy
Labonté e Joachim Andrade, publicada pelo Centro
Cultural Missionário da CNBB de Brasília. O livro é
uma colaboração na reflexão teológica e missioná­ria.
Durante o ano, o Centro Cultural Missionário - CCM
recebe missionários(as) que se preparam para a
Missão, tanto nas Igrejas-irmãs dos diversos conti-
nentes, quanto na nossa Igreja do Brasil. Recebe a assessoria de
vários professores, pastores, educadores e peritos. A maioria dos
artigos no livro foi escrita por esses colaboradores. É um instrumento
para as pessoas que atuam nas comunidades, que formam grupos
de reflexão e também que têm sede de aprofundar alguns temas
relacionados à espiritualidade, teologia e antropologia da Missão.
É um convite aos leitores para cumprir melhor o seu compromisso
de discípulos missionários. A imagem dos discípulos de Emaús
(capa) inspira a discernir o que o Senhor fala pelas pessoas e na
realidade, em busca de novos caminhos no horizonte da missão.

Pedidos
Centro Cultural Missionário – CCM Preço: R$ 40,00
SGAN 905 – Conjunto B – 70790-050 – Brasília, DF

Tel.: (61) 3274.3009


E-mail: ccm@ccm.org.br www.ccm.org.br
EDITORIAL
Convocar e enviar
SUMÁRIO
MAIO 2009/04

O
fio condutor da missão da Igreja que une as reflexões
missiológicas do Concílio Vaticano II, das Conferências
de Medellín, Puebla, Santo Domingo e Aparecida encontra
sua origem na missão de Deus, concretizada na Criação,
na Encarnação e na Redenção (cf. AG 2ss). Pelo envio
de Jesus Cristo ao mundo, a missão de Deus ganha ao
mesmo tempo, visibilidade e vulnerabilidade. Jesus nos revela o 1 - O globo e as sandálias,
rosto misericordioso e justo de Deus. É a lógica do Deus-Amor, da significando convocação e
gratuidade e do serviço demonstrado no lava-pés e na cruz. envio da comunidade cristã.
O Vaticano II destacou uma novidade teológico-pastoral para a
2 - Irmão Israel José Nery.
ação missionária da Igreja. A missão não é mais algo exterior, uma Fotos: Jaime C. Patias
entre tantas atividades, mas parte integrante da identidade e natureza
eclesial (cf. AG 2) que se definiu como povo de Deus, sacramento
 Mural-----------------------------------------------------04
universal da salvação. O povo de Deus em seu conjunto, por sua Cartas
natureza e vocação é missionário, chamado “para manifestar e co-
municar a caridade de Deus a todas as pessoas e povos” (AG 10).  OPINIÃO--------------------------------------------------05
Oração pela Unidade
A aplicação do Vaticano II na América Latina e no Caribe fez Renatus Porath
com que a Igreja no continente passasse do “ter missões” – com a
 África----------------------------------------------------06
finalidade de ganhar almas – ao “ser missionária” para estar univer- Libertação: tarefa inacabada?
salmente próxima do outro - opção pelos pobres - “responsabilidade Michael Mutinda
para com o mundo” (AG 36b). A Igreja
 PRÓ-VOCAÇÕES----------------------------------------07
aprendeu os dois movimentos básicos
José Altevir da Silva

As diferenças enriquecem
de sua missionariedade com Jesus de Rosa Clara Franzoi
Nazaré: convocar e enviar.  VOLTA AO MUNDO-------------------------------------08
Ao colocar no centro do seu discurso a Notícias do Mundo
necessidade de ser discípula missionária, Fides / MISNA / ZENIT
a Conferência de Aparecida resgatou a  ESPIRITUALIDADE----------------------------------------10
identidade e a natureza da Igreja. Para que Leitura Orante da Palavra de Deus
isso se concretize, o documento aponta Patrick Gomes Silva
caminhos que passam pela “conversão  TESTEMUNHO-------------------------------------------12
pastoral e renovação missionária das O anjo da estrada
comunidades” cristãs. Anna Pozzi
“Esta firme decisão missionária deve impregnar todas as estru-  FÉ E POLÍTICA -------------------------------------------14
turas eclesiais e todos os planos pastorais das dioceses, paróquias, Vamos trabalhar!
Humberto Dantas
comunidades religiosas, movimentos e de qualquer instituição da
Igreja. Nenhuma comunidade deve se isentar de entrar decididamente,  FORMAÇÃO MISSIONÁRIA ---------------------------15
com todas as suas forças, nos processos constantes de renovação Iniciação à vida cristã
Antônio Possamai
missionária e de abandonar as ultrapassadas estruturas que já não
favoreçam a transmissão da fé” (DA 365).  Juventude missionária ----------------------------19
Iniciativas nessa direção, como a Missão Continental, o Ano Que crise é essa?
Vanessa Ramos e Jonathan Constantino
Catequético Nacional, o Ano Paulino e o despertar para a missão
além-fronteiras, quando bem articuladas entre si, são grandes opor-  DESTAQUE DO MÊS -----------------------------------20
A conversão da Igreja
tunidades para implementar o ousado projeto de Aparecida. Para Lírio Girardi
alcançar a necessária conversão pastoral e renovação missionária
pela iniciação cristã, a Igreja deveria retomar os dois movimentos  especial -------------------------------------------------22
100 Anos em Missão
fundamentais na vida e na missão de Jesus: a convocação e o envio Rosa Clara Franzoi
– proximidade na universalidade.
Convocar significa chamar do individualismo, da dispersão de-  IGREJA ----------------------------------------------------23
Dia Mundial das Comunicações
sarticulada, de uma massa alienada e indefinida, de uma instituição Karla Maria
pesada, de uma estrutura ultrapassada, para constituir comunidades
 infância missionária ------------------------------24
alicerçadas na relação fraterna de irmãs e irmãos, e enviar essas Queremos vida em abundância
comunidades ao mundo. Congregar em função do envio e enviar Roseane de Araújo Silva
em função de formar nas comunidades, agentes do Reino. Aqui
 ENTREVISTA IRMÃO NERY------------------------------26
está o sentido da vida comunitária dos cristãos das Comunidades Catequese, caminho para o discipulado
Eclesiais de Base e de todas as comunidades cristãs. Educar para Jaime Carlos Patias
viver a fé na proximidade e na universalidade resgata a identidade  ATUALIDADE----------------------------------------------28
missionária da Igreja discípula de Jesus morto e ressuscitado, sa- CEBs ampliam horizontes da missão
cramento universal da salvação entregue ao serviço e à inclusão Dirceu Benincá
na unidade e diversidade.   volta ao brasil---------------------------------------30
CNBB / IAM Comire Sul 1 / Notícias do Planalto

- Maio 2009 3
Mural do Leitor
Ano XXXVI - Nº 04 Maio 2009 Morte e Vida Voltou para arquidiocese de Nampula o
Sete meses se passaram desde que padre Luiz Cardalga, padre diocesano da
Diretor: Jaime Carlos Patias atravessei o Atlântico para me lançar na Espanha que atuou mais de 30 anos no
missão Ad Gentes e ancorar na cultura Brasil. Tem 73 anos e já foi missionário
Editor: Maria Emerenciana Raia africana, até então por mim desconhecida. em Moçambique. Também estamos felizes
Escrevo como aluno do curso de língua e com a chegada do missionário leigo Antônio
Equipe de Redação: Patrick Gomes cultura Macua, no norte de Moçambique, Daniel da cidade de Esteio, arquidiocese de
Silva, Rosa Clara Franzoi, Júlio César oferecido pela arquidiocese de Nampula Porto Alegre. Irá morar conosco em Moma
Caldeira, Cristina Ribeiro Silva e Mi- aos missionários estrangeiros. e atuará na pastoral das duas paróquias
Aqui é tempo de fortes chuvas e fome. que atendemos. Continuamos na certeza
chael Mutinda
No último final de semana uma comunidade que o Espírito irá suscitar mais vocações
teve que cancelar batismos de crianças missionárias para atuar no projeto do
Colaboradores: José Tolfo, Vitor
por faltas de condições, noutra fiz 26 Regional Sul 3 em Moçambique.
Hugo Gerhard, Roseane de Araújo Silva,
batizados sem clima de festa, pois não
Humberto Dantas, Karla Maria, Dirceu
havia alimentos. No término da missa, Padre Maurício da Silva Jardim, da arquidiocese de Porto Alegre,
Benincá, Gianfranco Graziola, Ricardo
todos voltaram às suas casas. O normal RS, missionário do Projeto Igrejas Solidárias RS-Moçambique-
Castro e Cecília Soares de Paiva
era ficarem na comunidade para o almoço. Amazônia, do Regional Sul 3 da CNBB.
Neste tempo o povo alimenta-se somente
Agências: Adital, Adista, CIMI,
de folhas de mandioca, esperando a colhei- Terremoto na Itália
CNBB, Fides, IPS, MISNA, Radioagência ta do milho, que produz uma vez ao ano. O drama da paixão do Senhor foi vivido
Notícias do Planalto e Vaticano Como carril (carne ou molho) encontra-se de forma muito mais sofrida, na Sexta-Feira
rãs, gafanhotos ou outros insetos. Uma Santa, 10 de abril, na região de Abruzzo,
Diagramação e Arte: Cleber P. Pires mãe desesperada suicidou-se por ver que Itália. Uma missa autorizada pelo papa neste
acabara o alimento para seus filhos. dia em que não se celebra a Eucaristia em
Jornalista responsável: Como falar de morte, cruz, sofrimento, nenhuma igreja, marcou o funeral de 205
Maria Emerenciana Raia (MTB 17532) perdas, dor, sem perder a esperança na das 290 vítimas do terremoto de Áquila,
vida? Na Páscoa de Jesus encontramos Itália. Ao chegar à cidade se notava o
Administração: Luiz Andriolo a resposta definitiva para este binômio desconcertamento provocado pelos aba-
morte e vida. Ele nos garantiu que a morte los sísmicos. Pessoas pelas ruas, grande
Sociedade responsável: não tem a última palavra. Aqui predomina tráfego de veículos, em muitas casas as
Instituto Missões Consolata a motivação de continuar caminhando e marcas da destruição. A missa presidida
(CNPJ 60.915.477/0001-29) lutando para que haja vida para todos. pelo cardeal Tarcisio Bertone, secretário
Alguns me dizem que depois da dor da de Estado do Vaticano contou, segundo
Impressão: Edições Loyola paixão vem a alegria da ressurreição. Esta fontes oficiais, com cerca de 8.000 pessoas.
Fone: (11) 2914.1922 dinâmica pascal realmente está misturada Estiveram presentes o arcebispo de Áquila
paradoxalmente na vida do povo Macua. Giuseppe Molinari, os bispos de Abruzzo e
Colaboração anual: R$ 50,00 A luz do círio acesa em cada vigília pascal Molise, o presidente da República, Giorgio
BRADESCO - AG: 545-2 CC: 38163-2 rompe definitivamente as forças da morte Napolitano e o primeiro ministro Silvio
Instituto Missões Consolata e da tristeza. Todos agem e vivem como Berlusconi. As palavras do arcebispo ex-
(a publicação anual de Missões é de 10 números) vitoriosos, mesmo mergulhados na dor pressaram o sentimento da maioria dos
de crucificados pelo contexto social de presentes: “queremos um abraço divino
Missões é produzida pelos pobreza absoluta. Também tenho refletido do teu corpo ressuscitado para que desta
Missionários e Missionárias da Consolata sobre esta experiência pascal de Jesus profunda história de morte nasça uma nova
Fone: (11) 2256.7599 - São Paulo/SP acontecendo em minha caminhada de e luminosa história de vida e esperança”.
(11) 2231.0500 - São Paulo/SP padre missionário Fidei Donum. Quando A celebração foi realizada na praça de
(95) 3224.4109 - Boa Vista/RR retomo meu projeto pessoal de vida tenho armas da Academia Militar de Copito, um
descoberto que sou convidado pelo mestre dos únicos edifícios que não foi atingido.
Membro da PREMLA (Federação de Imprensa a renunciar aos meus planos pessoais em Durante a homilia, Bertone afirmou que
Missionária Latino-Americana) e da UCBC vista de um projeto maior. Este processo de “debaixo dos tijolos que caíram nascerá o
(União Cristã Brasileira de Comunicação Social) morte e perdas se transforma em vida nova sonho de reconstruir, a vontade de recome-
na perspectiva do seguimento de Jesus. çar”. A grande e impressionante marca de
Redação O caminho do discípulo é na verdade o esperança que brota de uma tragédia como
Rua Dom Domingos de Silos, 110 caminho da semelhança com o mestre e esta aparece nos inúmeros voluntários que
02526-030 - São Paulo Ele nos ensinou que não veio fazer a sua se fazem presentes na região.
Fone/Fax: (11) 2256.8820 vontade, mas a vontade Daquele que o
Site: www.revistamissoes.org.br enviou. Esta é a medida do amor. Padre Arlindo Pereira Dias, membro do Conselho Geral dos
E-mail: redacao@revistamissoes.org.br Uma boa notícia deste tempo pascal Missionários do Verbo Divino em Roma esteve presente na
é que não estou mais sozinho em Moma. celebração de Abruzzo.

4 Maio 2009 -
Oração pela Unidade

OPINIÃO
Que todos sejamos um, unidos na tua mão! (Ez 37, 17)
ensinou os criadores dessa Semana, no ano de 1908, a buscar
a oração conjunta. Ao rezarem juntos, perceberam que muros
poderiam ser transpostos. Viram que a oração feita com pes-
soas da outra comunidade cristã encurtava distâncias, abria o
diálogo e despertava para tarefas comuns. Com certeza, eram
idealistas, pessoas incansáveis na busca dessa unidade, mas
aprenderam a orar em conjunto.
Iniciativa importante
Ainda continuamos com essa oração comum após mais de
um século de sua prática nessa Semana. Como gostaríamos de
poder complementar essa oração com a celebração da Ceia do
Senhor igualmente em conjunto! Confesso que nos acostuma-
mos facilmente com nossa história de separações e divisões no
percurso de dois mil anos de Igreja. Para vergonha nossa, até
ódio chegamos a alimentar entre nós cristãos.
A Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos é uma inicia-
tiva importante que nos faz ensaiar a oração conjunta e, assim,
conhecer-nos mutuamente. Em nossas orações queremos olhar
para nossas próprias fileiras, nos encorajando para o diálogo e a
reconciliação. Queremos também olhar para fora e ver desafios
conjuntos que podemos abraçar com nosso testemunho de fé
e amor. Homens e mulheres da Coreia, comprometidos com a
busca pela unidade, elaboraram o material para o uso nesses
oito dias de oração, nas Igrejas do mundo todo (cfr. site do
CONIC: www.conic.org.br). A realidade de uma Coreia dividida
entre Norte e Sul inspirou a busca do tema em Ezequiel 37, 17:
Que todos sejam um em tuas mãos! Quanta divisão na grande
comunidade humana. E pior ainda, quanta divisão na grande
comunidade de Jesus Cristo, comprometendo o Evangelho e a
vontade de Deus de curar as feridas. A Semana inicia no primeiro
dia lembrando em oração a escandalosa história de separações
e divisões na Igreja; no segundo dia, intercede pelo fim da guerra
e violência; no terceiro, pelo fim da desigualdade entre ricos e
de Renatus Porath pobres; no quarto dia, a oração se concentra na necessidade
de um testemunho que nasce da unidade para proteger a terra;

H
no quinto dia, a intercessão se volta para os que sofrem; no
á 101 anos essa Semana de Oração está sendo sexto dia, o tema é o pluralismo que destrói a comunidade e a
promovida. No Brasil, ela vem sendo organizada pelo diversidade que enriquece; no sétimo dia, a Semana culmina
menos há 25 anos pelas Igrejas que compõem o Con- lembrando que a comunidade de Jesus Cristo, na sua pluralidade,
selho Nacional de Igrejas Cristãs (CONIC): Católica, muitas vezes insuportável, precisa buscar o espírito do Sermão
Luterana, Episcopal Anglicana, Ortodoxa, Reformada, da Montanha, porque como cristãos e cristãs somos chamados
Presbiteriana Unida e outras. Como a oração nasce a ser “artesãos da reconciliação e portadores de esperança”.
da necessidade, da falta, da ausência, do aperto, e até do Que Deus, que nos mantém unidos em sua mão, nos renove
sofrimento, essa Semana nasceu como iniciativa de homens por inteiro, como indivíduos e comunidade, para que o mundo
e mulheres que sentiram falta de oração no seu tempo. Eram creia que somos seus discípulos! (Jo 17) 
pessoas que acreditavam em Jesus e sofriam com a ­ausência
de unidade entre as muitas Igrejas cristãs. Pareciam mais con- Renatus Porath é pastor da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil e professor da área
correntes entre si, disputando clientes, do que colaboradoras bíblica na Escola Dominicana de Teologia (EDT).
na tarefa confiada a elas pelo Senhor da Igreja.
A Boa Nova de Jesus Cristo criava comunhão entre pessoas Errata:
com Deus, mas cada qual acreditava que era à sua mesa da Na edição de abril, rubrica Opinião, "Carajás: tragédia para não ser esquecida",
Eucaristia que Ele estava presente e não na outra comunidade onde se lê: "foram abertos, pela Polícia Militar do Estado do Pará, 1.445 processos
que também se dizia Igreja de Jesus Cristo. Esse desconforto, para investigação dos policiais envolvidos no massacre. Dos 155, apenas dois
foram condenados..." , leia-se: "foram abertos, pela Polícia Militar do Estado do
esse sofrimento por causa da ausência de unidade, de comu- Pará, 144 processos para investigação dos policiais envolvidos no massacre, dos
nicação entre pessoas e comunidades que se diziam cristãs quais apenas dois foram condenados..."

- Maio 2009 5
Curiosidade
Com 54 países e uma população de cerca de 800 milhões de habitantes, a África é o continente que abriga as mais antigas
evidências da presença humana no planeta. Foi dividido e ocupado pelas potências da Europa a partir do século XV. Milhões
de africanos foram escravizados e as forças coloniais mantiveram a exploração dos recursos naturais da região, mesmo após o
fim da escravidão. Persistem rivalidades étnicas entre populações de países cujas fronteiras foram criadas artificialmente pelas
nações européias no fim do século XIX. Isto explica porque a África responde atualmente por 2% do PIB mundial. Tem quase
metade de sua população vivendo abaixo da linha de pobreza e sofre com epidemias como AIDS, cólera e tuberculose.

Libertação
tarefa inacabada?
de Michael Mutinda do Partido Democrático da Guiné - PDG -, o povo da República

N
da Guiné alcançou a sua independência. Assim, Gana e Guiné
o dia 25 de maio de 2009 todos os amantes da paz serviram como inspiração e base para o movimento pan-africano
celebrarão o Dia da Libertação da África. Este será o em todo o mundo. A partir de 1959 até 1963 as revoluções se
quinquagésimo primeiro aniversário deste dia escolhido intensificaram e celebrações para marcar o Dia da Liberdade da
para comemorar, lembrar e homenagear aqueles que África foram realizadas em Azania (África do Sul), Etiópia, Guiné
se sacrificaram pela libertação dos povos africanos, e Quênia. E como resultado das lutas organizadas no continen-
dentro e fora do continente. te, houve um aumento do número de países que se tornaram
O Dia da Libertação da África - DLA - foi fundado em Accra independentes.
Gana, na primeira Conferência dos Países Independentes da África,
no dia 15 de abril de 1958. O objetivo era marcar em cada ano Questões urgentes
subsequente o progresso do movimento de libertação do continente Foi no contexto destas revoluções que a Organização da
e, ao mesmo tempo, renovar o compromisso e a determinação do Unidade Africana - OUA - foi fundada em Addis Abeba, Etiópia,
povo para libertar-se da dominação estrangeira e da exploração. em 25 de maio de 1963. Com a presença de mais de 110 pessoas
A Conferência de Todos os Povos da África, realizada de 8 a 13 representando 31 países africanos, 21 movimentos da libertação
de dezembro de 1958, também em Accra, reafirmou a resolução e centenas de apoiadores e observadores internacionais, a OUA
da Conferência dos Países Independentes da África de exortar foi originalmente destinada a trazer força, unidade e coordenação
todos os africanos e todos os amigos deste continente dispersos desta revolução africana. A OUA proclamou que o Dia da Liberda-
pelo mundo para observar o Dia da Liberdade da África como de da África deveria tornar-se, doravante, o Dia da Libertação da
data para renovar as forças. No mesmo ano, sob as orientações África e teria de ser celebrada anualmente a marca histórica da
fundação da OUA, e levar adiante o propósito e intenção do Dia
da Liberdade da África. No fim do apartheid - África do Sul - em
Jaime C. Patias

1994, novas ideias de libertação foram colocadas na ordem do


dia para o continente. Questões de saúde, segurança alimentar,
justiça ambiental, educação decente, os direitos das mulheres, a
política de inclusão cultural e liberdades foram colocados como
o núcleo da libertação da África.

E o desafio para frente?


Mais de 50 anos após o início do Dia da Libertação da África,
ainda existem territórios coloniais (como o caso do Sahara Oci-
dental) e manifestações de opressão e exploração. A libertação da
África exige que o povo tome controle dos seus governos e que
as questões de planejamento e organizações sejam discutidas e
executadas nas aldeias, vilas e cidades em vista do bem-estar, paz
e justiça como princípios do ser humano. Este dia deve alimentar
as ideias, dentro e fora da África, de derrubar as fronteiras de
opressão e controle que foram criadas desde 1885. Ainda espe-
ramos ver esta libertação. Será que é uma tarefa inacabada? 

Michael Mutinda é seminarista imc, queniano, estudando teologia no ITESP, Ipiranga, São Paulo.

Abertura do Fórum Social Mundial 2007 em Nairóbi, Quênia.

6 Maio 2009 -
pró-vocações
As diferenças enriquecem
Somos diferentes, mas semelhantes. 
eles possuem muitos elementos que se assemelham, que os
Josiah Kokal

aproximam. São elementos comuns, no nosso caso, a todas as


casas. Todas as casas têm portas, telhado, janelas etc.

Diferenças
Raça, língua, religião, educação, classe social etc. Todo
esse papo, apenas para demonstrar aquilo que, absolutamente,
ninguém contesta: somos seres diferentes, porém, com muitos
elementos que nos assemelham, que nos aproximam. Todos
sabemos que as diferenças existem e chegam a provocar
briga, violência, marginalização e até guerras. Por que isto
acontece? Porque esquecemos um pormenor importante: se
existem as diferenças, continuam existindo as semelhanças e
estas deveriam ajudar na superação daquelas. Mas, não, nos
intrigamos com as diferenças perdendo até a nossa raciona-
lidade, cometendo absurdos. A realidade é que nós que nos
julgamos seres inteligentes - e de fato o somos - muitas vezes
não temos a capacidade mental e a sensibilidade humana
para perceber estas semelhanças que há entre nós e ficamos
apenas nas diferenças.

Comportamentos diferentes
Nos nossos relacionamentos do dia a dia, quando não per-
cebemos nitidamente a dignidade do ser humano que é igual
de Rosa Clara Franzoi a todos, acabamos criando uma série de diferenças no trata-
mento com as pessoas. Muitas vezes resistimos, mantendo-nos

V
irredutíveis, fixos na convicção de que somos mais; os outros
amos fechar os olhos por um instante e pensar, por são inferiores e devem ser tratamos como tais. Esta atitude é
exemplo, na casa dos nossos sonhos. Se tivésse- desastrosa e com certeza, vai nos levar ao isolamento, porque
mos que descrevê-la para alguém, certamente a ninguém gosta de quem se julga superior. Diante do diferente,
pintaríamos com as cores mais vivas e brilhantes, devemos confrontar nossas atitudes com as atitudes do outro e
já que todos amamos o belo. Observaremos que as num gesto de grandeza de espírito, reconhecer que o outro é
casas imaginadas serão todas muito lindas, porém, tão bom quanto nós e às vezes até melhor; e que a diferença
diferentes umas das outras. Podem ser até muito parecidas, da cor da pele, grau de estudo, religião, classe social não nos
mas, nunca serão idênticas. É que cada pessoa tem a sua torna nem maiores e nem menores perante os nossos iguais.
própria identidade, a sua própria imaginação, o seu próprio Somos apenas diferentes. Este modo de proceder é um ato de
pensamento e assim por diante. Contudo, se formos analisar os justiça, pois estamos oferecendo ao outro aquele tratamento
objetos imaginados, iremos perceber que, embora diferentes, que gostaríamos que fosse dado a nós. “As pessoas verda-
deiramente grandes são aquelas que fazem com que todos se
sintam grandes” (Gilbert Chesterton). 
Quer ser um missionário/a? Rosa Clara Franzoi, MC, é animadora vocacional.
Irmãs Missionárias da Consolata - Ir. Dinalva Moratelli
Av. Parada Pinto, 3002 - Mandaqui - 02611-001 - São Paulo - SP
Para refletir:
Ler Mt 5, 43-47 e responder:
Tel. (11) 2231-0500 - E-mail: rebra@uol.com.br
1. O texto nos diz que Deus não faz distinção entre as pessoas.
Centro Missionário “José Allamano” - padre Patrick Gomes Silva Às vezes temos dificuldade de agir assim. Por que será?
Rua Itá, 381 - Pedra Branca - 02636-030 - São Paulo - SP 2. Deus ama a todos com amor de Pai, sem julgamentos an-
Tel. (11) 2232-2383 - E-mail: secretariamissao@imconsolata.org.br tecipados. Muitas vezes, nós julgamos as pessoas, mesmo
Missionários da Consolata - padre César Avellaneda sem saber as causas deste ou daquele erro. Por que?
Rua da Igreja, 70-A - CXP 3253 - 69072-970 - Manaus - AM 3. O amor ao próximo deve ser tão natural para o cristão quanto
Tel. (92) 3624-3044 - E-mail: amimc@ibest.com.br viver e respirar. Acontece isto em nossos relacionamentos
com as pessoas?

- Maio 2009 7
evangelização. Recentemente dez sacerdotes, nove
irmãs e uma leiga receberam o diploma, numa cerimô-
nia que contou com a participação de dom Salvatore
Pennacchio, Delegado Apostólico em Mianmar, e de
vários bispos, religiosos e leigos. O Instituto propõe um
itinerário de formação de três anos, que inclui cursos
no período de verão, encontros especiais e seminários
no exterior, segundo a especialização escolhida. O
Instituto é convencionado com a Pontifícia Universidade
de Teologia de Dublin, que reconhece os créditos. O
acordo foi iniciado em Mianmar pela Sociedade de
São Colombano, a pedido dos bispos birmaneses, em
2003. Podem ser feitos ainda cursos de antropologia,
vocação cristã, desenvolvimento humano, espiritualida-
de, consulente familiar, sexualidade e celibato, oração
cristã, doutrina cristã e direção espiritual. O diretor do
Instituto, padre Michel McGuire, da Sociedade de São
Colombano, ressaltou que a formação deve estar sempre
Colômbia unida com a relação que desenvolve nos candidatos
Justiça e direitos humanos a fé e a esperança.
VOLTA AO MUNDO

Assassinatos, massacres, despejos forçados de


civis, torturas, perseguições por razões culturais ou Vaticano
políticas, desaparecimentos: são crimes diante dos quais Visita do papa à África
uma delegação de deputados do “Partido Trabalhista” Há duas coisas que Bento XVI não poderá esque-
e dos sindicatos ingleses se disse indignada, depois cer de sua primeira visita à África: sua alegria e seu
de uma semana de visita na Colômbia, durante a qual senso do sagrado. De 17 a 23 de março, o papa fez
recolheu testemunhos de organizações da sociedade visita apostólica aos Camarões e a Angola. “Sobretu-
civil, dirigentes indígenas, camponeses, professores do, impressionaram-me dois aspectos, ambos muito
e ex-reféns da guerrilha. Num documento lido no importantes – confessou ao dirigir-se aos milhares
Parlamento de Bogotá, os observadores denunciaram de peregrinos reunidos na Praça de São Pedro. O
os “graves crimes” de responsabilidade do governo e primeiro é a alegria visível nos rostos das pessoas, a
das Forças Armadas. “Com as evidências recolhidas, alegria de sentirem-se parte da única família de Deus,
não temos nenhuma dúvida, de que o governo e as e agradeço ao Senhor por ter podido compartilhar com
forças públicas são cúmplices de violações dos direitos as multidões destes nossos irmãos e irmãs momentos
humanos”, afirmou a deputada Sandra Osborne, do simples de festa cheia de fé”. O segundo aspecto que
“Partido Trabalhista” de Londres, membro da Comis- impressionou o papa foi “o forte senso do sagrado que
são das Relações Exteriores do Reino Unido. “Além se respirava nas celebrações litúrgicas, característica
disso, estamos convencidos”, acrescentou, “que as esta comum a todos os povos africanos e imersa, poderia
ações são apoiadas pelo governo e pelo Exército. dizer, em cada momento de minha permanência entre
Estes crimes são agravados pela impunidade da qual aquelas queridas populações. A visita me permitiu ver
se beneficiam os responsáveis”. Num país que se en- e compreender melhor a realidade da Igreja na África
contra em guerra desde 1964, segundo as estatísticas na variedade de suas experiências e dos desafios que
mais recentes das organizações não governamentais, se encontram para enfrentar neste tempo”.
fora os enfrentamentos armados, somente no ano de
2007, foram assassinados 1.400 civis; no ano de 2008 O sangue dos Mártires
os deslocados devido à violência aumentaram em No domingo, dia 29 de março, Bento XVI deu gra-
41% se comparados com o ano de 2007 (estima-se ças a Deus pelo sangue que derramaram e continuam
que são pelo menos três milhões em todo o país); em derramando os missionários no mundo para anunciar o
média, somente oito em cada 100 assassinatos são Evangelho de Jesus Cristo. O papa compartilhou este
investigado pela magistratura. A deputada Osborne, sentimento com os peregrinos reunidos na Praça de
que em breve apresentará um informe ao governo São Pedro, como explicou, após ter constatado em
de Londres, entre outras coisas, solicitou aos países sua viagem aos Camarões e a Angola o apreço que as
estrangeiros para “não aprovarem qualquer forma de pessoas têm por esses evangelizadores. No último dia
Tratado de Livre Comércio, até que os direitos huma- 24 de março, além disso, por iniciativa do Movimento
nos dos trabalhadores sejam respeitados de maneira Juvenil Missionário das Obras Missionárias Pontifícias
certificada a nível internacional”. italianas, recordou-se no mundo todos os missionários
que foram assassinados. O dia escolhido foi o do as-
Mianmar sassinato de dom Oscar Arnulfo Romero, arcebispo
Novos evangelizadores de San Salvador, em 1980, atualmente em causa de
A formação de sacerdotes, religiosos e leigos é beatificação. Em 2008, pelo menos 20 missionários
essencial para a missão da Igreja, sendo ainda muito foram assassinados no mundo, segundo um informe
importante para poder proclamar a Boa Nova. Com esta realizado pela agência Fides. 
consciência o “Instituto de Formação Mianmar” continua
formando e doando à Igreja local agentes eclesiásticos,
religiosos e leigos, para o trabalho pastoral e para a Fontes: Fides, Misna, ZENIT.
8 Maio 2009 -
Intenção Missionária
Para que as Igrejas Católicas de recente fundação, agradecidas ao Senhor pelo dom
da fé, estejam dispostas a participar da Missão universal da Igreja, oferecendo sua
disponibilidade para pregar o Evangelho ao mundo inteiro.
A Igreja Católica está organizada hoje, no mundo inteiro, em
Néo Monteiro

cerca de 3.000 dioceses. Isso significa, matematicamente, uma


diocese para cada 370 mil católicos ou para cada dois milhões de
habitantes. Somos também mais de 400 mil padres que, divididos
numericamente, representamos um para cada três mil católicos
ou um para cada 16 mil habitantes do planeta.
Coloquei estes dados apenas para ilustrar a ideia central da
intenção missionária deste mês. Isto é, a Igreja é missionária pela
sua própria natureza e constituição. Pedir que seja missionária, é
supor que talvez não o seja. Mas o pedido a ser feito é que a Igreja
Católica, e cada uma de suas comunidades, pequenas, médias
e grandes, continuem sendo e se expandam sempre mais como
células missionárias, bases de lançamento do Evangelho para todos
os povos, todas as nações, e todos os rincões do planeta.
Comunidade cristã de Mecanhelas, Niassa, Moçambique. As Igrejas jovens, de recente fundação, exatamente pela sua
de Vitor Hugo Gerhard juventude, estão carregadas de entusiasmo e ricas em novas ex-

N
periências. São aquele sinal de esperança tantas vezes lembrado
a primeira semana de abril, alguns meios de comunica- pela própria hierarquia católica. São também o sinal visível da
ção social divulgaram a seguinte notícia: “nos Estados universalidade da Igreja, sua catolicidade (sinônimos entre si) e
Unidos da América, por ocasião da Páscoa deste ano, presença jovial no meio do mundo e dos povos.
150 mil pessoas irão livremente professar a fé católi- Que esta realidade seja motivo de reerguimento do nosso
ca, deixando suas denominações cristãs de origem e bom astral e autoestima, nos ajudando na oração e na prática
aderindo ao catolicismo”. Para um país considerado pai das virtudes, nestes tempos pascais que nos remetem ao Pen-
do materialismo e do consumo exagerado, proveniente tecostes. 
de outras tradições cristãs, é uma notícia realmente auspiciosa.
Com isso, esta nação já ultrapassa a cifra dos 52% de católicos Vitor Hugo Gerhard é sacerdote diocesano de Novo Hamburgo e trabalha na Paróquia Nossa
entre os seus concidadãos. Senhora de Lourdes, em Canela, RS.

Páscoa Missionária
Durante a Semana Santa, um grupo de sete Leigas leigas do Rio de Janeiro, Ângela, Jeanette, Jeanice e Marly e
Missionárias da Consolata – LMC, quatro seminaristas e os seminaristas Júlio César e Michael Mutinda, com o padre
dois padres do Instituto Missões Consolata estivemos nas Jaime C. Patias atuaram em duas comunidades e na Matriz
cidades de Baependi, Varginha e Nepomuceno, no sul de de Baependi. Padre Luiz Andriolo e os seminaristas Dieu
Minas Gerais, diocese de Campanha. Enfrentar o medo, se Donné e Denis Gitari auxiliaram em Nepomuceno.
deparar com o novo, com o outro, com o próprio Cristo, foi No sul de Minas, a Semana Santa se revela de modo
um dos desafios que nós, mulheres comuns, mães, jovens muito especial. A fé ganha as ruas, estradas e ladeiras, se
estudantes e professoras, enfrentamos em uma breve missão, manifesta nas inúmeras celebrações e procissões. Os fiéis
a caminho da Missão Ad Gentes. caminham com a Mãe das Dores e o Cristo morto, descem-no
O objetivo foi vivenciar a Páscoa com o povo e ajudar as da Cruz, o sepultam, sentem as dores de Maria, se recolhem.
comunidades a preparar as celebrações, visitar as famílias, O luto é traduzido no silêncio e no respeito. No Sábado Santo,
os doentes e colocar-nos à disposição das comunidades. A com a certeza da ressurreição, vibram de alegria. As famílias
expectativa e o medo de enfrentar a novidade e os desafios se reúnem nas comunidades e na cidade que se transfor-
da missão foram amenizados pela calorosa acolhida das ma para a Grande Páscoa. Para nós, leigas missionárias,
famílias e dos padres José Roberto e Geraldo em Baependi, “discípulas urbanas”, viver a Páscoa com o povo de Minas
Jean Poul Hansen em Varginha, Benedito A. Ferreira e Joa- indicou o caminho da missão de ser a presença do Cristo, na
quim das Chagas em Nepomuceno, seminaristas diocesanos simplicidade e no serviço, acolhendo o outro em suas dores,
e colaboradores. Lucrécia, Lucília e eu estivemos em três sorrisos e sabores.
comunidades de Varginha depois de sermos acolhidas pelas
irmãs e postulantes Beneditinas da Divina Providência. As Karla Maria, LMC de São Paulo.

- Maio 2009 9
espiritualidade

Leitura Orante A exemplo do que


aconteceu com
Maria, a Palavra não

da Palavra de Deus
nos pode deixar
indiferentes.

de Patrick Gomes Silva

Passos da Leitura Orante da Palavra


"A
Bíblia esteja sempre presen-
te como Palavra de Deus e
Disposição: é importante criar um ambiente adequado que favoreça o recolhimento como expressão da Missão
e a escuta da Palavra de Deus. Continental entre nós, in-
centivando o povo à Lectio
Divina, ou seja, ao exercício
1. Invocação ao Espírito Santo
da leitura orante da Sagrada Escritura.
Peça o auxílio do Espírito Santo para acolher a Palavra. Você não vai “estudar”
Essa prática muito salutar de abordagem
a Palavra, vai escutar o que Deus tem a lhe dizer. Repita: “Envia, Senhor, o teu
da Palavra de Deus (...), favorece o en-
Espírito”. contro pessoal com Jesus Cristo” (DGAE
63; cf. DA 249). Estas palavras extraídas
2. Leitura (o que a Palavra diz em si) do “Projeto Nacional de Evangelização: o
Objetivo: Conhecer bem o texto Brasil na Missão Continental”, documento
• Ler devagar e sem pressa! número 88 produzido pela CNBB, nos
• Sublinhar o que achar importante incentivam a nos aproximarmos da Pa-
• Ler os comentários presentes na Bíblia lavra de Deus através da Lectio Divina,
• Transcrever algumas frases ou palavras, se achar útil um esquema tão antigo e sempre atual
Algumas perguntas podem ajudar: que é conhecido como Leitura Orante
Quais são as personagens? Onde decorre a ação? da Palavra (veja no quadro o esquema
Quando acontece? O que fazem as personagens? dos passos desta proposta de oração).
Sugerimos, nesta edição, o estudo de um
texto bíblico bem conhecido: “o anúncio
3. Meditação (o que a Palavra diz hoje a mim) do Anjo a Maria”, que o evangelista Lucas
Reler o texto em primeira pessoa, colocando-se na pele da personagem! nos transmitiu.
Encontrar a afirmação central, depois: Repetir - Memorizar
Confrontar a sua vida atual com a Palavra escutada: O contexto
a. Sua vida com Deus O episódio da Anunciação faz parte
b. Sua vida com os outros do chamado Evangelho da infância, que é
c. Sua vida consigo mesmo formado pelos dois primeiros capítulos de
Lucas. É importante recordar que o episódio
4. Oração (o que a Palavra me faz dizer) não é uma crônica daquilo que aconteceu
Responder à Palavra escutada através da oração. Fazer isto em três etapas: naquele dia, mas sim o resultado de uma
1. Pedindo perdão pela Palavra não vivida reflexão que Maria conduziu em sua vida,
2. Agradecendo e louvando pelas maravilhas que Deus operou e opera em sua à luz das palavras e dos acontecimentos
sucessivos e, com ela, a comunidade
vida
cristã primitiva. Já no Antigo Testamento
3. Fazendo seus pedidos a Deus, de modo especial, pedindo o dom do Espírito
se encontram textos que contêm anúncios
Santo.
de nascimentos: o nascimento de Ismael
(Gênesis 16, 11-12), de Isaac (Gênesis
5. Contemplação (a Palavra me leva ao Coração de Deus) 17, 18), de Sansão (Juízes 13, 7), do
Sinta a presença de Deus, não é tempo de palavras, mas apenas de silêncio. Messias (2Samuel 7, 14; Isaías 7, 14-17).
Permita que Deus fale no silêncio, lugar privilegiado de Sua presença. Este pano de fundo serve para iluminar o
texto que será considerado.
6. Missão e Ação (a Palavra me leva aos outros)
A Palavra não nos pode deixar indiferentes, depois de escutar o que Deus tem a Lectio (Lc 1, 26-38)
dizer, é tempo de descer da montanha e ir ao encontro dos irmãos e irmãs e de v. 26: No sexto mês o anjo Gabriel foi
se colocar em ação/missão: “Faça-se em mim segundo a tua Palavra”. enviado por Deus – Antes de mais nada,
trata-se de uma referência temporal im-

10 Maio 2009 -
“não temas” ocorre 365 vezes na Bíblia,
Jaime C. Patias

como se Deus quisesse assegurar que


todos os dias podemos colocar nossa
confiança n’Ele.
vv. 31-33: Eis que conceberás e darás à
luz um filho, e lhe porás o nome de Jesus.
Ele será grande e chamar-se-á Filho do
Altíssimo, e o Senhor Deus lhe dará o trono
de seu pai Davi; e reinará eternamente
na casa de Jacó, e o seu reino não terá
fim – Temos a descrição daquilo que vai
acontecer com Maria: terá um filho de nome
Jesus, ao qual desde logo são atribuídos
vários títulos messiânicos.
v. 34: Maria perguntou ao anjo: Como
se fará isso, pois não conheço homem?
– Maria, ao contrário de Zacarias, pede
um esclarecimento de tudo aquilo que o
anjo lhe está dizendo. Se num primeiro
momento ela fica perturbada, agora é
tempo de pedir explicações.
v. 35: Respondeu-lhe o anjo: O Espí-
rito Santo descerá sobre ti, e a força do
Altíssimo te envolverá com a sua sombra.
Por isso o ente santo que nascer de ti será
Aline Martins durante encontro celebrativo das CEBs, 2007, São José dos Campos, SP.
chamado Filho de Deus – Eis a explicação:
portante, que liga este texto ao anúncio descender de Davi e nascer de uma virgem, o autor da concepção será o Espírito Santo.
do nascimento de João Batista, no texto vemos como o evangelista nos mostra A força do Altíssimo que envolverá Maria
precedente. O portador da mensagem, que Jesus tem todas as suas “cartas” em recorda o Espírito que pairava sobre as
tal como no anúncio de Zacarias, é o anjo dia. O nome “Maria” provém da raiz “mar” águas no momento da Criação no livro
Gabriel: um mensageiro divino. A visita do que significa “senhora”, que por sua vez do Gênesis. Trata-se claramente de uma
anjo a Maria recorda todas as outras visi- recorda “Eva”, assim, em Maria teremos ação divina e não humana. O Espírito é o
tas de Deus às várias mulheres do Antigo uma nova Criação. doador e “originador” da vida.
Testamento, tais como Sara, Ana, a mãe de v. 28: Entrando, o anjo disse-lhe: Ave, vv. 36-37: Também Isabel, tua parenta,
Sansão.Atodas, foi anunciado o nascimento cheia de graça, o Senhor é contigo – até ela concebeu um filho na sua velhice;
de um filho com uma missão importante Traduzir a saudação trazida pelo anjo a e já está no sexto mês aquela que é tida
na realização do plano de Deus. Gabriel é Maria não é fácil, o “Ave” não consegue por estéril, porque a Deus nenhuma coisa
recordado no livro de Daniel como aquele exprimir todo o sentido da exultação que é impossível – Um sinal não pedido é dado
que contempla a face de Deus. o original comporta. É importante subli- a Maria. Este sinal é um dom de Deus, o
A uma cidade da Galiléia, chamada nhar o sentido da alegria presente neste qual oferece uma antecipação daquela
Nazaré – Nazaré era um pequeno lugarejo, anúncio. Também a tradução “cheia de luz e graça que abraçará a pessoa que
naquele tempo com cerca de 150 habitan- graça” não é suficientemente clara, melhor é interpelada por Ele. Para demonstrar a
tes, lugar desprezado e de população mista seria dizer: “alegra-te, cheia do favor de onipotente ação de Deus é recordada a
(judeus e não-judeus), não reconhecida Deus”. A palavra “graça” significa aqui gravidez inesperada de Isabel, da qual
como sendo exemplar na observância da “favor, benevolência”, ou seja, Maria é Maria é familiar e, portanto, bem conhece
lei e do culto sacro. Famosa a expressão agraciada com um favor que vem do o sofrimento que a condição estéril causou
de Natanael: “O que pode vir de bom de próprio Deus. O Senhor está contigo é nesta. Eis que é proclamada a glória de
Nazaré?” Aí passava uma importante a certeza da assistência divina, muitas Deus: nada é impossível para Ele.
estrada romana, a via maris, que ligava a vezes no Antigo Testamento encontramos v. 38: Então disse Maria: Eis aqui a
Mesopotâmia ao Egito, muito frequentada esta promessa. serva do Senhor. Faça-se em mim segundo
por comerciantes. Esta região é significa- v. 29: Perturbou-se ela com estas pala- a tua palavra. E o anjo afastou-se dela
tiva para Lucas, pois representava que o vras e pôs-se a pensar no que significaria – Maria não precisa ver para acreditar,
Evangelho devia ser escutado e acolhido semelhante saudação – É a perturbação acredita de imediato nestas palavras e
por todo tipo de pessoa. que vem da incompreensão das palavras do aceita o plano divino: “eis aqui a Serva do
v. 27: A uma virgem desposada com anjo, por mais que procure entender, Maria Senhor”. O texto demonstra a alegria de
um homem que se chamava José, da sente uma compreensível ignorância. Maria, que mesmo não compreendendo
casa de Davi e o nome da virgem era v.30: O anjo disse-lhe: Não temas, inicialmente o projeto divino, entende que
Maria – O mensageiro divino é enviado Maria, pois encontraste graça diante de é chamada a ser colaboradora deste gran-
a uma mulher, ao contrário daquilo que Deus – “não temas” uma expressão tam- de plano de salvação e, portanto, aceita
sucedera no texto precedente, quando bém usada nos relatos dos chamados participar dele, a serviço do seu Senhor.
apareceu a Zacarias. Aqui é uma mulher do Antigo Testamento. O sentido é claro O anjo termina a sua missão, começa a
que é chamada a colaborar com o plano aqui, perante uma missão árdua, estas missão de Maria. 
divino. José é um homem de “classe”, palavras querem trazer a calma, confiança
pertencente à descendência de Davi. àquela que agora recebe a missão. É Patrick Gomes Silva, imc, é diretor do Centro Missionário José
Segundo as profecias o Messias deveria interessante recordar que esta expressão Allamano, em São Paulo.

- Maio 2009 11
O anjo da estrada
testemunho

Luta em favor dos “últimos da fila”.


fotos: Arquivo Andare

Irmã Eugênia com jovens recuperadas e reintegradas na sociedade, Nigéria, África.

de Anna Pozzi
O nosso serviço é voltado em 1993 começou a enfrentar o problema,

A
jamais deixou de atender pessoalmente
missionária da Consolata, irmã em particular, àquelas que os inúmeros casos que encontrou, além
Eugênia Bonetti, dedica-se ao de ter criado uma rede de pessoas, que
combate do tráfico de jovens deixam a rua para iniciar com ela agem, na prevenção, denúncia,
destinadas à exploração sexual. e combate a este crime.
Foi convidada a participar do I um caminho de reintegração
Congresso Latino-Americano de
social e familiar. Coração africano
Pastoral de Rua, realizado na Colômbia “Quando parti para a Missão do Quênia
de 19 a 24 de outubro de 2008. coração de irmã Eugênia. Um pedido de - narra a missionária - no longínquo ano
socorro, de misericórdia, mas também de 1967, pensava que a minha vida fosse
O grito da jovem Maria um grito de denúncia e de condenação. A dedicada à África. Lutávamos para promover
Um dia, do escritório da Cáritas italiana, luta da missionária, das estradas da África a educação, especialmente das jovens e
irmã Eugênia dirigia-se para a missa. O transferiu-se, às estradas e ruas da Itália, para a emancipação das mulheres, num con-
grito de socorro de uma jovem nigeriana de dia e de noite, em favor e ao lado das texto fortemente machista. Quanta alegria,
lhe interrompeu o caminho e daquele mo- mulheres condenadas à escravidão sexual. determinação e coragem! Eu sentia que a
mento em diante, mudou seus projetos de Meras prostitutas para quem as usa; vítimas mensagem do Evangelho, de esperança e
vida e de missão. Irmã Eugênia, 69 anos, e escravas para quem conhece as suas libertação, trazida por Cristo, se realizava
dos quais 24 vividos no Quênia, ainda tem histórias de desonra e submissão. nos ideais que me haviam fascinado na
bem presente aquele episódio aterrador. Irmã Eugênia encontrou milhares delas juventude e que me acompanharam na
O rosto de Maria - era este o nome da na Nigéria, em Turim, Tirana, Milão, Bucares- busca vocacional e no desejo de me tornar
jovem agredida - demonstrava horror e te e em outros lugares de origem, trânsito e missionária na África”.
desespero. O seu grito encontrou eco no destinação de jovens traficadas. Desde que Hoje, às vésperas dos 70 anos de

12 Maio 2009 -
possa criar em si a consciência do valor
da própria vida e dignidade”.
“A Igreja e todos os cristãos, são cha-
mados a fazer alguma coisa” – sustenta
a missionária – “O silêncio e a indiferença
podem ser uma forma de conivência”. Irmã
Eugênia procurou e encontrou aliados: em
primeiro lugar as 250 religiosas pertencen-
tes a 70 congregações diferentes, que, em
mais de uma centena de centros e casas
de acolhida, lutam diariamente para tirar
estas jovens das ruas e oferecer-lhes uma
chance de futuro. “Nossa força é o trabalho
em rede”, explica. “Uma rede que abrange
uns 30 países, de origem, trânsito e desti-
nação das jovens traficadas. Em toda parte,
outras Irmãs locais fazem um trabalho
precioso de prevenção e sensibilização,
de proteção às moças e suas famílias, e
de acolhida e inserção na sociedade das
que voltam para casa.

O reconhecimento
As jovens surpreendem. Como Joy, que
Irmã Eugênia com mãe e filha nigerianas. A mãe foi ajudada pela irmã na Itália. retornou à Nigéria. Quando se encontra
com irmã Eugênia abraça-a longamen-
idade e dos 50 de Profissão Religiosa, de instrução, enganadas por uma rede de te. Joy é uma jovem bela e sorridente.
irmã Eugênia continua cheia de energia traficantes que negocia a exploração das Diplomou-se recentemente em psicologia
e de projetos, determinada, batalhadora, escravas: 30 mil apenas na Itália. com o objetivo de ajudar outras jovens,
sempre próxima das pessoas, especial- traumatizadas como ela, a cicatrizar as
mente das mulheres. Atrás do rosto des- O desafio feridas da alma, e a recomeçar a viver.
ta grande empreendedora, decidida e “Esta nova situação - diz irmã Eugê- “Obrigada, irmã Eugênia, muito obrigada!”
eficiente, bate um coração que muito se nia - me desafiava, como pessoa e como Não se cansa de repetir-lhe e de abraçá-la,
dedicou a África; um coração vital, hospi- religiosa, eu que questionava a minha com um largo sorriso e olhos brilhantes
taleiro, misericordioso, que sabe acolher vida, a minha vocação e as minhas moti- de reconhecimento. É assim esta “rocha”
as riquezas e as fraquezas das pessoas, vações missionárias. Eu sonhava com a chamada Eugênia, que não resiste e se
a alegria e o cansaço, as esperanças e África e queria levar estas mulheres para emociona a cada reencontro.
as decepções. Com seu caráter forte e a minha casa! Seu grito, porém, dizia-me No Congresso de Bogotá, pediram a
batalhador, não podia aceitar, impassível, algo mais. Talvez que eu pudesse ser o ela para que apresentasse o trabalho que
a dolorosa decisão de ter que voltar para a instrumento para uma nova missão, nova está sendo feito na Itália para recuperar e
Itália em 1991. E a outra vocação surgiu no fronteira, ligada à dignidade da pessoa; em reintegrar quem é vítima de exploração
encontro fortuito com Maria. “Suas roupas, especial a pessoa humilhada, esmagada, sexual. “A nossa experiência de religiosas
suas atitudes, mostravam abertamente de explorada. Cristo colocou o ser humano e que procuram há vários anos dar respostas
onde vinha e o que fazia. As pessoas que a sua dignidade como centro da sua obra adequadas a este tipo de problema, através
cruzavam nosso caminho admiravam-se de redentora e deve ser este fundamento do de uma centena de comunidades de acolhida
ver uma religiosa ao lado de uma prostituta. nosso agir e do nosso serviço. A missão para mulheres exploradas e os seus filhos,
Eu mesma não sabia como explicar isto às está lá onde vivem as pessoas, muitas suscita sempre grande admiração. Para
pessoas. Estava apressada para chegar vezes em condições desumanas. É ali que nós consagradas, esta resposta, nada mais
em tempo à missa. Diante do pedido de devemos mostrar que somos discípulos é do que uma maneira de viver a nossa
socorro, parei para escutá-la. E graças a missionários de Jesus Cristo”. fidelidade e atualidade dos nossos carismas
Maria, descobri mais uma vocação dentro de fundação, que tem especial preocupação
da minha vocação missionária”. Uma resposta corajosa com a promoção da mulher e a proteção
Nos Estados Unidos, o trabalho da irmã às crianças. O nosso serviço é voltado, em
As muitas Marias da vida Eugênia foi duplamente reconhecido pelo particular, àquelas que deixam “a rua” para
Na época, Maria tinha 30 anos e três Departamento de Estado, em 2004 e em iniciar um caminho de reintegração social
filhos, deixados na Nigéria. Comprada e 2007 por sua luta contra as escravidões e familiar. É este um trabalho que fazemos
vendida por diversos traficantes, meses de modernas. Em 2007, George W. Bush e em conjunto com a Cáritas e com todas as
viagem em condições desumanas, Maria sua esposa Laura, em viagem pela Itália, forças que operam neste sentido. Graças
não imaginava que o trabalho que lhe foi quiseram encontrar-se pessoalmente com a esta colaboração, milhares de mulheres
oferecido significaria vender o corpo para ela. “O que podemos fazer para apoiar o puderam mudar de vida e reintegrar-se na
pagar uma dívida absurda, ajudar sua fa- seu trabalho?” perguntaram. E irmã Eugênia sociedade. Só trabalhando em comunhão
mília e obter os documentos. Sua história respondeu: “combater muito mais do que e não por competição, conseguimos tais
é semelhante a de muitas outras jovens já se faz, todas as formas de pobreza e resultados”, concluiu. 
nigerianas, e que tende a atingir meninas corrupção. Promover a educação, trabalho
sempre mais jovens e com menor grau e formação humana para que cada pessoa Anna Pozzi é jornalista italiana.

- Maio 2009 13
fé e política

Vamos trabalhar!
A preocupação com as eleições de 2010 toma conta das ações dos governantes em 2009.
O encontro com os prefeitos em fevereiro foi outro equívoco
Divulgação

marcante. O presidente Lula e a ministra Dilma Rousseff, sua


candidata predileta, reuniram milhares de governantes locais em
Brasília e afirmaram: gastem, invistam que teremos recursos para
crescer, sobretudo em virtude do PAC (Programa de Aceleração
do Crescimento). Pois bem, além de o PAC se assemelhar a
um conjunto exagerado de promessas, com os incentivos fis-
cais que precisaram ser dados à indústria, e com a diminuição
das atividades econômicas, os recursos repassados para as
prefeituras diminuíram, e a bonança prometida se transformou
em lamento. Nas últimas semanas, diversos estados assistiram
manifestações de prefeitos reclamando a falta de dinheiro para
pagar salários de servidores. A saúde e a educação estão postas
em xeque em diversos locais. Cidades arrecadam muito menos
do que precisam, dependem de repasses federais e parece
que foram estimuladas a planejarem um cenário próspero que
não existe. Diante da distância entre os discursos otimistas e a
­realidade, Lula perde fôlego perante a opinião pública, apesar
de ainda deter altíssimos índices de aprovação de seu governo.
A despeito de tudo isso, Dilma se torna mais conhecida e cresce
nas pesquisas eleitorais.

Serra x Dilma
Por outro lado a oposição parece apostar nas colocações
equivocadas do presidente. O programa dos Democratas - DEM,
partido de oposição - na televisão deu conta de que a "marolinha"
do presidente se transformou em enchente. Mas apostar nesse
tipo de propaganda indica que tem gente tentando lucrar com
a crise, torcendo pela desgraça do país. No PSDB, partido que
efetivamente deverá rivalizar com Dilma do PT, José Serra, SP
e Aécio Neves, MG, se preparam para uma prévia que pode
não ocorrer. O objetivo é saber em torno de qual candidatura o
partido se concentrará, correndo o risco de haver nova quebra
e pouco empenho de alguns setores. Nesse caso, é importante
de Humberto Dantas destacar os excessivos recursos despendidos pelo governo
paulista com propaganda institucional. A prestação de contas
dos atos públicos tem se tornado exagerada. As ações correm o

A
país, em horário nobre de televisão. Além disso, José Serra tenta
proveitando uma frase que caracterizará o mandato se firmar como um gestor dos mais competentes. Seu estilo se
do presidente Luiz Inácio Lula da Silva: ‘nunca antes distancia de Lula, seu carisma não atinge os índices daquele que
na história desse país’ antecipamos de forma tão ocupa o posto com o qual sonha. Assim, suas atitudes tentam
escancarada, escandalosa e exagerada uma eleição provar que antes de um amigo ou de um pai, o povo precisa de
presidencial. As estratégias tomam conta das principais um técnico, de um administrador hábil. Para tanto, distribui pelo
atitudes de políticos e partidos por todo o território na- Brasil material para prefeituras e aliados que mostram como
cional. O que não faltam são exemplos de atitudes eleitoreiras, trabalhar de forma eficiente. Tudo indica que em 2010 teremos
que se aproximam dos limites legais para lançarem nomes, uma disputa bastante acirrada. Mas devemos esclarecer: faltam
ideias e projetos. 14 meses para as definições oficiais das candidaturas e 18 meses
O governo federal pauta claramente suas realizações nas para as eleições. Enquanto isso, a crise demite, a propaganda
disputas de 2010. Assim, parece ignorar os reais e devastadores despende e a sociedade se pergunta: temos efetivamente gente
efeitos e impactos da crise econômica mundial, chamando-a de preocupada com o nosso presente, ou apenas com o futuro das
"marolinha", quando uma onda gigantesca eleva os índices de lideranças políticas nacionais? Fiquemos ligados, a urgência
desemprego, reduz a atividade comercial e impacta a qualidade da crise nos coloca, mais do que nunca, como os legítimos
de vida. Cerca de meio milhão de brasileiros, por exemplo, já demandantes de direitos e bem-estar. 
deixaram a tão sonhada classe média – C – e voltaram para as
camadas ‘D’ e ‘E’ nos últimos meses. A comemorada prosperi- Humberto Dantas é cientista político, coordenador de cursos na Assembleia Legislativa de São
dade oferece espaço para momento significativamente delicado. Paulo e apresentador do programa Despertar da Cidadania na rede Canção Nova de Rádio.

14 Maio 2009 -
Iniciação à vida cristã
FORMAÇÃO mISSIONÁRIA

“Desafios da Missão: Iniciação Cristã, Missão Continental e Missão Além-


Fronteiras”, foi o tema da 28ª Assembleia Geral do Conselho Missionário
Nacional - COMINA, realizada em Brasília, de 12 a 15 de março. Um dos
conferencistas foi dom Antônio Possamai, bispo emérito de Ji-Paraná,
Rondônia, que debateu o tema em estudo.
de Antônio Possamai ao apontar a necessidade de fé mais “catequese” de primeira Eucaristia, e
comprometida com a vida. A Encíclica só, sem estarmos atentos ao “antes” e

N
Evangelii Nuntiandi (1975) poderia ter ao “depois”, embora bastante atentos
ão sou especialista em sido o grande passo para esta mudança. ao “dia”: roupa, filmagens, fotografias,
Catequética. Apenas te- Este documento reprova uma catequese um pouco de atenção à liturgia, à festa
nho algumas convicções de tipo “verniz superficial”. na família e outros detalhes. O “antes”
que se baseiam na leitura Tomo a liberdade de citar alguns é a vida familiar, social e eclesial do
que faço da história atual exemplos do nosso tradicional compor- candidato. O “depois” é a caminhada do
da nossa Igreja. Ao longo tamento neste campo, comportamento “eucaristizado” dentro da comunidade. O
da minha vida pastoral tentei algumas muito distante de uma iniciação cristã: mesmo acontece com a “catequese” de
experiências no sentido de dar outra continuamos batizando crianças sem crisma. Crisma-se quando o candidato
direção ao processo de educação na nos preocuparmos se há condições concluiu o programa e, normalmente,
fé, valorizando a iniciação cristã. Estas para entender que o batismo deve ser baseados unicamente no testemunho
experiências nem sempre tiveram tanto uma resposta a um chamado e sem do catequista, excluída a comunidade
êxito, mas algumas foram promissoras entender o alcance e as consequências que não acompanhou o candidato na
e gratificantes. Continuo alimentando deste sacramento; continuamos com a sua caminhada eclesial e social; quase
a esperança de que um dia acontece-

José Altevir da Silva


rá uma total virada na condução do
processo de acolhida e introdução do
povo na nossa Igreja, bem como no
processo de educação da fé.

Um pouco da realidade
Muito se tem escrito sobre o tema da
iniciação cristã nestes últimos anos. O
Diretório Nacional de Catequese dedica
bom espaço para o tema. Entretanto,
a caminhada vai prosseguindo muito
lentamente.
Nossa Igreja do Brasil continua
teimando em acreditar numa história
que comprovadamente não tem dado
certo. Falta a coragem eclesial de dar
uma virada. Teima na prática de cate-
queses pontuais. Em vista dos sacra-
mentos. Não em vista da vida cristã,
da união entre fé e vida. Até mesmo
a cúpula da Igreja se preocupa muito
mais com dados estatísticos do que
com a qualidade dos católicos, embora
o Magistério da Igreja seja insistente Padre Joachim Andrade, SVD e dom Antônio Possamai durante Assembleia do COMINA, Brasília, DF.

- Maio 2009 15
José Altevir da Silva
28ª Assembleia Geral do COMINA, março de 2009, sede das Pontifícias Obras Missionárias, Brasília, DF.

mais diversos ministérios consagrados criar no convertido uma nova conduta,


Como nos queixarmos de que não ou leigos na Igreja se não fornecemos pela participação na vida da comunidade
temos vocações para os mais aos nossos católicos uma iniciação eclesial. O catecumenato introduzia o
diversos ministérios consagrados ou cristã que os leve a um encontro e convertido na vida da Igreja, no cerne
leigos na Igreja se não fornecemos a uma decisão pessoal com Cristo e dos três ministérios: da palavra, litúrgico
com sua Igreja? Como nos queixarmos e da conduta ou vivência cristã. Sem
aos nossos católicos uma iniciação de que tenhamos tantos governan- a demonstração concreta de trilhar o
cristã que os leve a um encontro e tes dos três poderes constitucionais, caminho de Jesus, o catecúmeno não
a uma decisão pessoal com Cristo e tantos empresários tão injustos e tão era admitido e introduzido no seio da
corruptos se não os educamos na fé? comunidade eclesial.
com sua Igreja? Como nos queixarmos de que nossa Temos o testemunho de alguns
juventude e nossos casais não valori- escritores, como Justino e Hipólito
nenhuma catequese para o sacramen- zam o sacramento do matrimônio, e a de Roma que afirmam que do século
to do matrimônio, para os poucos que família vai desmoronando? O que é I em diante o catecumenato era uma
ainda procuram este sacramento. Enfim, que nos preocupa como missionários? instituição bem organizada. Os can-
falta-nos a visão e o compromisso de O número ou a qualidade dos cristãos didatos eram admitidos sob a condi-
“educar para viver a fé”, educação que católicos? ção de um exame de sua conduta ou
se projete em todas as circunstâncias da comportamento, bem como das reais
vida: familiar, eclesial, social, empresarial, Um pouco de história motivações da conversão. O impe-
política, jurídica etc. e que se estenda Nos primeiros séculos do nosso rador Constantino talvez estivesse
para toda a vida. tempo o processo para ingressar na bem intencionado quando decretou
Fica então bem claro que dá para Igreja era muito exigente. Era levado a liberdade para os cristãos viverem
entender porque temos um catolicismo muito a sério o tempo do “catecu- publicamente sua fé. Mas, sem prever,
tão insignificante e tão dividido. Vejamos menato”. Após o primeiro anúncio – deu início a uma vida cristã sem coe-
alguns exemplos: como nos queixarmos querigma – se a resposta era “sim”, rência e sem compromisso. Ser cristão
de que não temos vocações para os o candidato ingressava no grupo dos foi se tornando sempre mais fácil e até
catecúmenos. Era uma ca- mesmo vantajoso. O cristianismo aos
Jaime C. Patias

minhada relativamente longa poucos tornou-se a religião oficial do


dependendo do progresso Império. Aos poucos os bispos foram
do candidato. Tinha duração se tornando príncipes, com suas rou-
variável, normalmente de pagens e palácios, e, em certos casos,
dois a três anos. Entretanto, até mesmo administradores políticos e
em alguns casos, este tempo governadores de Estados, com seus
poderia exigir até mais anos exércitos, distanciando-se sempre
de preparação. Na Igreja pri- mais do modelo de Jesus Cristo e do
mitiva este itinerário era muito modelo dos Apóstolos. Havia, conse-
exigente. Para os pagãos quentemente, muitas vantagens. Ser
havia uma preparação cate- cristão não oferecia mais perigos. E o
cumenal prévia ao batismo. catecumenato foi se extinguindo. Lá pelo
Esta preparação consistia século V, tinha praticamente desapare-
numa instrução na fé cristã cido. E multidões iam ingressando na
Formação missionária para seminaristas, Centro Cultural Guido
Conforti, Curitiba, Paraná. e, sobretudo, tratava-se de Igreja. Vivemos o nosso modo de ser

16 Maio 2009 -
FORMAÇÃO mISSIONÁRIA
cristão em decorrência deste fato até A iniciação cristã deve ser cada munus profético, sacerdotal e servidor
nossos dias. Não só fomos perdendo de Cristo recebemos o recado de sermos
a qualidade de sermos fermento, sal vez mais percebida, recebida uma Igreja toda e sempre missionária.
e luz, mas, muito pior, como cristãos e vivenciada a partir da ótica Infelizmente pouco caminhamos. E
católicos somos motivos de escândalos missionária, pois missão não é uma pensar que já se passaram mais de
e de páginas vergonhosas na nossa 50 anos desde que o Espírito falou de
história. Fomos perdendo significado opção aleatória que fazemos na maneira tão forte!
e deixando de ser admirados, como Igreja, mas é parte integrante da E nem se trata somente de uma
acontecia com as primeiras comuni- sua própria natureza. missão para que aumente o número
dades cristãs. E foram acontecendo de batizados e que frequente a missa
fatos que, analisados em nossos dias, E poderia continuar engrossando esta dominical ou que batize seus filhos e
nos causam escândalo. Vejamos: os lista de vítimas de um cristianismo sem contribua com o dízimo. Tudo isto será
impérios católicos foram se expandindo, compromisso. consequência de uma missão que tenha
tomando terras, continentes com a cruz por base uma séria iniciação cristã que
e a espada; povos nativos foram sendo É urgente mudar de fato eduque para a vivência da fé.
sacrificados, negros foram sendo escra- E agora? Faz-se urgente nos ves- Iniciação que deve atingir todas as
vizados. Convenhamos: a atual situação tirmos de coragem para darmos uma pessoas de todas as idades.
da África deve-se ao comportamento virada na história. E o tempo está mais Aparecida começa a tratar do tema
das nações conquistadoras e coloni- uma vez propício para nós, católicos, que da iniciação cristã vendo brevemente
zadoras, sempre cristãs (católicas ou vivemos na América Latina. O Espírito o que acontece com os católicos na
protestantes). No Brasil, com destaque nos vem falando com insistência, como América Latina e Caribe: “são muitos
para a Amazônia, atualmente avançam recentemente nos falou em Aparecida. os cristãos que não participam da Eu-
o agronegócio, o desmatamento, as O episcopado latino-americano e cari- caristia dominical nem recebem com
queimadas, a poluição do solo, das benho mostrou-se preocupado com este regularidade os sacramentos nem se
águas e do ar, a concentração da terra tema da Iniciação Cristã e deixou-nos inserem ativamente na comunidade
até mesmo mediante a contratação ricos ensinamentos. eclesial... Temos alta porcentagem
de pistoleiros, matando, e até, muitas Tenhamos presente que estamos de católicos sem a consciência de
vezes, colocando o nome de alguma sendo convocados para uma Permanen- sua missão de ser sal e fermento no
santa na porteira da fazenda. Ainda te Missão Continental. Não mais apenas mundo, com identidade cristã fraca e
como católicos não profetizamos contra periódicas Santas Missões Populares, vulnerável” (DA 286).
um sistema neoliberal que provoca a por sinal muito valiosas; nem somente Logo mais adiante julgar a realidade
falência da sociedade e aumentamos a celebração do mês missionário com como um grande desafio que questiona a
o número de famintos, de doentes, de sua oferta; nem mesmo tão somente fundo a maneira como estamos educan-
mortos prematuramente. Promovemos com o envio de alguns missionários do na fé e como estamos alimentando
guerras e, para alimentá-las, fabri- para regiões mais necessitadas; e a experiência cristã (DA 287).
camos armas as mais sofisticadas e muito menos restringindo a visão mis- E adianta uma convocação para
mortíferas. É bom lembrar que grande sionária à responsabilidade de algumas mudar. É o agir: desafio que deve-
parte das minas que aleijam e matam congregações religiosas. Aliás, desde mos encarar com decisão, coragem
em Angola são fabricadas num país o Vaticano II com a definição de Igreja e criatividade, visto que em muitas
marcadamente católico como é o Brasil. como “Povo de Deus”, participantes do partes a iniciação cristã tem sido pobre
ou fragmentada... “Impõe-se a tarefa
irrenunciável de oferecer modalidade
Jaime C. Patias

de iniciação cristã, que além de marcar


o quê, também dê elementos para o
quem, e como e onde se realiza” (DA
287).
É a forma de assumir o desafio de
uma nova evangelização para a qual já
fomos muitas vezes convocados.
Voltemos um pouco mais para a
nossa história para que melhor en-
tendamos a situação atual. A partir
do século IV, com as “conversões” em
massa, o catecumenato se reduziu
ao tempo da Quaresma, quando se
administrava aos convertidos uma
catequese básica. Aparece então um
fato novo: cresce o número de crian-
ças ao batismo e diminui o número
de adultos. Este fato novo explica a
substituição da instrução pelo rito. A
Estudo dos Salmos durante Curso de Verão 2009, promovido pelo CESEP na PUC-SP. razão é o surgimento de uma deter-

- Maio 2009 17
FORMAÇÃO mISSIONÁRIA
na vida cristã os adultos batizados e

Arquivo Missões
minada teologia do pecado original, não suficientemente evangelizados; b)
que induzia a batizar as crianças o as crianças batizadas em um processo
quanto antes. que as leve a completar sua iniciação
Podemos então afirmar que as cristã; c) os não-batizados que, ha-
mudanças havidas no século IV de- vendo escutado o querigma, queiram
sestruturaram a catequese, sem que abraçar a fé (DA 293). Continua nosso
até hoje se tenha encontrado uma documento ensinando o seguinte: “Pro-
resposta satisfatória a desafios que pomos que o processo catequético de
perduram desde essa época. O batismo formação adotado pela Igreja para a
das crianças antes do processo cate- iniciação cristã seja assumido em todo
quético, a primeira eucaristia no início o continente como a maneira ordinária
deste processo e a confirmação no final e indispensável de introdução na vida
do mesmo, dão a impressão de que a cristã e como a catequese básica e
função da catequese é preparar para fundamental” (DA 294).
a recepção dos sacramentos. Sugere
também que catequese é assunto de Concluindo
crianças. E com isto, desapareceu a Nestes últimos tempos o Espírito
catequese de iniciação. Tudo isso é nos tem falado repetidas vezes e com
reflexo de um modelo eclesiológico que muita insistência. Valem para nós as
ainda privilegia a sacramentalização. palavras do Salmo 95: "Quem dera que
Os resultados são estes de que falei hoje ouvísseis sua voz; não endureçais
anteriormente. A partir desta realidade os corações, como em Meriba, como no
marcada por tantas negatividades, de- dia de Massa no deserto, onde vossos
vemos afirmar que é impossível ser um pais me tentaram, me provaram, apesar
cristão sem passar por um processo de de terem visto as minhas obras".
iniciação cristã. E tem mais: a iniciação gistério da Igreja da América Latina, Creio muito oportuno ir concluindo
cristã não pode ser feita somente pela vejamos a provocação que nos faz com esta citação de Aparecida. “Assu-
pessoa da/o catequista porque a fé e o Aparecida: “Temos alta porcentagem mimos o compromisso de uma grande
tesouro da mensagem evangélica são de católicos sem a consciência de sua missão em todo o continente, que de
realidades que se recebem pessoal- missão de ser sal e fermento no mundo, nós exigirá aprofundar e enriquecer
mente, mas através da comunidade. com identidade cristã fraca e vulnerável” todas as razões e motivações que
A iniciação cristã pressupõe uma co- (DA 286). “Isto constitui um grande de- permitam converter cada cristão em
munidade de fé, no interior da qual o safio que questiona a fundo a maneira discípulo missionário. Necessitamos
catequizando, uma vez inserido, é capaz como estamos educando na fé e como desenvolver a dimensão missionária
de fazer um processo, que começa pela estamos alimentando a experiência da vida de Cristo. A Igreja necessita
catequese de iniciação e continua com cristã; desafio que devemos encarar de forte comoção que a impeça de se
a catequese de adultos. com decisão, coragem e criatividade, instalar na comodidade, no estanca-
Este ensinamento nos obriga a visto que em muitas partes a iniciação mento e na indiferença, à margem do
pensar: o que se pode esperar de um cristã tem sido pobre ou fragmentada” sofrimento dos pobres do continente.
catequizando que não vê e nem sente (DA 287). E fala ainda mais fortemente: Necessitamos que cada comunidade
uma comunidade de fé? Pior ainda: “Ou educamos na fé, colocando as cristã se transforme num poderoso
de uma família que não vive a fé, mas pessoas realmente em contato com centro de irradiação da vida em Cristo.
apenas busca o rito? Jesus Cristo e convocando-as para Esperamos por um novo Pentecostes
Como se trata de iniciação ao cris- segui-Lo, ou não cumpriremos nossa que nos livre do cansaço, da desilusão,
tianismo como um todo, entende-se missão evangelizadora” (DA 287). da acomodação ao ambiente; espera-
por participação em uma comunidade mos uma vida do Espírito que renove
concreta mais que a presença em Paróquia e iniciação cristã nossa alegria e nossa esperança” (DA
atos de culto, na vida da Igreja como A iniciação cristã dá a possibilidade 362).
um todo. de uma aprendizagem gradual no co- E, finalmente: no episódio da Vi-
Para a iniciação cristã, é muito impor- nhecimento, no amor e no seguimento sitação, Maria, grávida de Jesus, nos
tante o contexto no qual a comunidade e, de Cristo. Desta forma, ela forja a dá duas lições: 1) tem pressa: “partiu
dentro dela, catequizandos, catequistas, identidade cristã com as convicções apressadamente para a região monta-
pais e padrinhos estão inseridos. O con- fundamentais e acompanha a busca nhosa”. 2) muito cedo iniciou seu Filho
texto é importante, não simplesmente do sentido da vida. Uma comunidade na vivência da sua missão: entrando na
por uma questão de buscar-se uma que assume a iniciação cristã renova casa de Isabel e Zacarias tornou alegres
linguagem adequada para que se dê sua vida comunitária e desperta seu aquelas pessoas e fez João pular de
uma comunicação mais efetiva, mas, caráter missionário. alegria no ventre de Isabel. O missionário
sobretudo, para que os catequizandos Ensinam nossos bispos em Apareci- vibra com a sua vocação. 
possam ir encarnando a fé cristã na vida da: a paróquia precisa ser o lugar onde
pessoal, comunitária e social. se assegure a iniciação cristã e terá Dom Antônio Possamai é bispo emérito
Voltando ao que nos ensina o Ma- como tarefas irrenunciáveis: a) iniciar de Ji-Paraná, Rondônia.

18 Maio 2009 -
Roteiro de Encontro
Tema do mês: Refletindo sobre a crise de Vanessa Ramos e Jonathan Constantino
a) Acolhida
b) Invocação do Espírito Santo

É
c) Dinâmica cada dia mais comum assistir a telejornais, ouvir programas no
d) Apresentação do tema,
rádio, ler em revistas, jornais ou na internet, notícias relacionadas
questionamentos e debate
e) Compromisso mensal a uma tal crise econômica mundial. Mas, apesar de presente em
f ) Oração conclusiva discursos e noticiários, pouco se tem feito no sentido de explicar o
que é essa crise: suas origens, características e consequências.
A queda do capital.
Ilustração: Carlos Lattuf
Crise de quê?
A crise está relacionada ao modelo atual de organização da sociedade
em que vivemos. Enfrentamos os efeitos de uma globalização propagada
como a integração dos povos, cujo lema era o pensar global e agir local. Mas,
na prática, andamos na contramão, na qual a lógica é globalizar a produção
e localizar a riqueza, intensificando-se uma política deliberada que não vem
por acaso. A crise é reflexo da liberdade do movimento dos capitais em um
mercado financeiro sem regras. Esse processo de especulação mercantil,
financeiro e produtivo é semelhante a um carro que possui apenas o pedal
de aceleração (lucro). O carro acelera sem se preocupar com os pedestres
que podem entrar em sua frente. Assim, o “mercado sem freios” atropela
as relações mínimas de sustentabilidade e de sobrevivência.
Nesse sentido, a estruturação de nossa sociedade sobre relações
individualistas entre os seres humanos, a economia e relações financeiras
desregradas, a devastação ambiental e o consumismo exacerbado, gerou
não apenas uma crise econômica mundial, mas sim uma Crise Estrutural
do modelo capitalista de produção, colocando-o em xeque.

Consequências
Dentre as consequências desta crise, a mais imediata é o aumento
do desemprego. Devido à diminuição do consumo e à redução da de-
manda de produção, as empresas tendem a fechar postos de trabalho.
Há uma investida dos empresários na busca da flexibilização das leis
trabalhistas, o que lhes permitirá explorar ainda mais os trabalhadores
para poderem garantir seus lucros.
Outra ação constatada em momentos de crise é o aumento da
repressão aos oprimidos que lutam pela efetivação de seus direitos
e denunciam as mazelas do sistema capitalista. Essa repressão
ocorre de modo ideológico, através dos meios de comunicação;
ou de modo efetivo, através das polícias, dos serviços militares e
do Judiciário.

E agora?
Fica cada vez mais evidente, nesses dias, o quão desumana e
injusta é a lógica do sistema capitalista na qual um pequeno grupo

Que crise
concentra as riquezas produzidas por uma maioria de trabalhadores.
Em tempos de crise há uma tendência muito forte ao agravamento
da barbárie, na qual os prejudicados serão os trabalhadores, as
mulheres, os negros, indígenas e jovens, principalmente os mais
pobres. Há uma dívida a ser paga. Não é justo que os trabalhadores
paguem por uma crise que não foram eles que construíram. Por

é essa?
isso, como Jesus Cristo, devemos nos posicionar radicalmente
ao lado dos oprimidos e não de seus opressores e atentarmos ao
alerta que seus ensinamentos e atitudes nos fazem sobre uma
outra forma de relação com o mundo e o próximo, num modo de
vida integral e comunitário. 

Vanessa Ramos, do Cimi-SP e colaboradora da revista Missões e jornal Brasil de Fato.


Jonathan Constantino, professor e colaborador da revista Missões e jornal Brasil de Fato.

Para refletir:
1. Você já ouviu falar da crise?
2. Você se sente afetado por ela?
3. O que a juventude tem a ver com a crise?

- Maio 2009 19
Destaque do mês

A conversão da Igreja de Lírio Girardi


As opções da Igreja Católica na sua caminhada com

"E
stou celebrando com os índios a os Povos Indígenas de Roraima.
vitória que acaba de acontecer no
Supremo Tribunal Federal”. Era

Lírio Girardi
a voz de dom Roque Paloschi,
atual bispo de Roraima que, do
outro lado da linha, respondia à
minha chamada telefônica. O motivo da
celebração era o desfecho final do julga-
mento concluído em 19 de março de 2009,
no qual o STF confirmou a homologação
da Terra Indígena Raposa Serra do Sol,
em área contínua - 1.700.000 hectares
- conforme assinada pelo presidente da
República, em 15 de abril de 2005.
Em especial os Povos Indígenas, a
Igreja de Roraima, missionários e missio-
nárias, leigos e leigas, e todas as pessoas
e organizações que colaboraram, lutaram
e sofreram até chegar este dia, têm mil
Curso sobre a história do povo na Bíblia e a história do povo Macuxi, em 1993, Raposa Serra do Sol, RR.
motivos para se alegrar e celebrar esta
vitória, apesar das resalvas impostas pelo e organizando a catequese. A partir de início, aconteceram choques entre alguns
STF. Desde o século XVI, a Igreja esteve 1948, chegaram também os missionários “coronéis de Roraima”, detentores do poder
presente junto aos Povos Indígenas de e missionárias da Consolata, que deram econômico e político, e a Igreja.
Roraima. E o recente Documento de continuidade a este trabalho. A partir de
Aparecida confirma esse compromisso 1990, várias congregações masculinas Depois do Vaticano II
dos discípulos missionários. e femininas e o clero local reforçaram a Os documentos do Vaticano II (1962),
presença da Igreja na região. de Medellín (1968) e de Puebla (1979),

Documento de Aparecida Que presença?


Até o Concílio Vaticano II luzes e
trouxeram, para a Igreja, novas luzes,
novos valores, novas atitudes e, princi-
palmente, uma nova leitura da realidade,
“Como discípulos missionários
a serviço da vida, acompanhamos sombras misturam-se. Os missionários iluminada pela Palavra de Deus. Com isso,
os povos indígenas e originários no eram enviados a evangelizar todos, in- os missionários descobriram a tensão e o
fortalecimento de suas identidades distintamente: fazer cristãos-católicos, conflito existente entre a aldeia e a fazenda,
e organizações próprias, na defesa batizar. Essa era a missão no tempo do entre índios e fazendeiros invasores que
do território na educação intercul- cristianismo monocultural: plantar a Igreja chegaram de mansinho, pedindo licença
tural bilíngue e na defesa de seus Católica, para todos, índios e não-índios. para colocar o gado. O índio acreditou. O
direitos”. (DA 530) O estudo das línguas e da cultura ajuda- gado foi se multiplicando; invadiu as terras,
va nesse processo de catequização. Os as roças, - não havia cercado -, semeando
missionários faziam longas viagens, a medo, destruição e tristeza.
Desde o século XVI, padres jesuítas pé, no lombo do burro, ou em transportes O índio tornou-se mão de obra barata
e carmelitas trabalharam junto a esses precários para garantir a “desobriga” - de- das fazendas e perdeu a posse da terra.
Povos, muitas vezes acompanhando ex- veres cristãos. As escolas eram espaços Nessa situação, ele precisava pedir licença
pedições de “Resgate e Descimentos”, privilegiados. As igrejas eram poucas. ao fazendeiro para pescar, caçar e tirar
cuja finalidade era aprisionar índios e A sede da fazenda do gado tornou-se palha do buritizal para cobrir a casa. O dono
levá-los como escravos para Manaus estratégica para o missionário se apoiar, da terra havia se tornado escravo.
e Belém. Freis franciscanos e padres reunir o povo, celebrar a missa, batizar e A língua indígena também foi cedendo
diocesanos também estiveram junto aos administrar os casamentos. A introdução espaço para o português. A língua Ma-
índios, frequentemente envolvidos na luta do gado, em 1777, nessa região habitada cuxi passa a ser chamada de “gíria”. As
contra a concorrência dos protestantes. por diferentes Povos Indígenas, significou o outras também. Para ser gente, precisa
Os monges beneditinos e beneditinas, início da invasão das terras, da dominação falar português. “Nós pensávamos que o
de 1908 a 1948, marcaram significativa- e exploração dos índios. A fazenda tornou- Deus do branco era bom”, disse o velho
mente a vida e a cultura, principalmente se o centro deste processo. Sem julgar as Tuxaua Gabriel Macuxi, referindo-se a
dos povos Macuxi, Wapixana, Ingarikó, intenções, a Igreja foi parceira em muitos essa traição.
Maiongon e Taurepang, visitando, convi- aspectos, omissa em outros, e também Com a invasão da terra e a perda da
vendo, estudando as línguas e a cultura profética, em alguns momentos. Desde o língua, o índio perdeu suas raízes, sua

20 Maio 2009 -
da Polícia e da Funai e do modo como que respondessem às necessidades con-

Diocese de Roraima atuavam os missionários. A Assembleia


foi suspensa, pela truculência da Polícia
cretas dos índios, como: ferramentas para
incentivar a produção; escolas indígenas
Criada em 1977 (desde 1908 era e da Funai que exigiam a retirada do para preservar a língua e a cultura Macuxi
Prelazia de Roraima), compreende presidente do CIMI. Dom Aldo Mongiano e Wapixana; encontros entre missionários e
todo o Estado. São 226 mil quilôme- se opôs, já que dom Tomas Balduíno era lideranças sobre tradições indígenas, com
tros quadrados, com uma população seu convidado especial. Os índios tiveram a assessoria de Pajés Macuxi; promoção
atual em torno de 400 mil habitantes, que voltar para suas casas. Foi então que da mulher indígena, através de cursos de
dos quais, mais de 40 mil índios, eles entenderam que deveriam se orga- corte e costura que gerou o Movimento
de nove etnias diferentes: Macu- nizar a partir de si mesmos. Começaram das Mulheres Indígenas de Roraima;
xi, Wapixana, Yanomami, Ingarikó, as reuniões nas comunidades indígenas cooperativas comunitárias, para favore-
Taurepang, Patamona, Wai-Wai, e nas diferentes regiões do Estado. As cer as trocas e o comércio dos produtos
Atroari-Waimiri e Yekuana. Assembleias continuaram. O movimento indígenas, entre as diversas comunidades;
indígena foi tomando corpo: nasceram cursos de formação de lideranças, para
novas lideranças comunitárias, novas tuxauas, professores, agentes de saúde,
identidade. Explorados e desprezados, organizações – Conselhos – e em 1987, catequistas, conselheiros, vaqueiros; en-
os Macuxi e Wapixana, nos anos 60 e foi criado o Conselho Indígena de Rorai- contros de formação política, em todos os
70, do século passado, tinham vergonha ma - CIR, hoje uma das mais dinâmicas níveis, visando a participação dos índios
de serem índios. Consideravam-se “ca- e respeitadas organizações da Amazônia na Assembleia Nacional Constituinte de
boclos”, porque índio é bicho, diziam os e do Brasil. 1988.
brancos. b) Preparação de Agentes de Pasto- d) Um projeto libertador. Foi o gado
ral. Em 1978, a Diocese de Roraima rea- invasor que ocupou e roubou a terra do
Uma opção histórica lizou o primeiro Curso sobre Indigenismo, índio. Dizia-se: “somente quem tem gado
Uma nova leitura da realidade levou assessorado pelo especialista de cultura tem direito a ter terra”. Alguém concluiu:
em 1974, os missionários da Consolata em indígena, o padre jesuíta Bartolomeu vamos criar condições para o índio ter o
Roraima a escolher os Povos Indígenas Mellia. Daí nasceu o Primeiro Documento seu gado, já que ele aprendeu a lidar com
e as Comunidades Eclesiais de Base - da Pastoral Indigenista da Igreja de Ro- o gado das fazendas. Dessa realidade e
CEBs - como prioridades de seu trabalho. raima, que denunciou a triste realidade inspirado pela Palavra de Deus, nasceu o
Em 1978 foi a Diocese de Roraima que, de abandono e sofrimento dos Povos projeto econômico, político e social, “Uma
em Assembleia fez a opção preferencial Indígenas, sua marginalização econômi- vaca para o índio”. O Estatuto estabeleceu
pelos índios e indicou a Pastoral Indige- ca, cultural e ideológica; escolheu, como como objetivos: recuperar a terra, criar
nista como prioridade. Em 1979, dom Aldo objetivos a defesa das terras indígenas, união entre as comunidades indígenas e
Mongiano, bispo de Roraima, publicou a preservação da cultura, o estudo das melhorar a alimentação. Cada comunidade
uma Carta Pastoral com o título: “Podem línguas, a comunhão de vida com os índios, que optava pelo projeto, se comprometia
os missionários evangelizar os índios?”. e sua autonomia; e propôs como Linhas a construir o curral e escolher o vaquei-
Foi uma resposta ao presidente da Fun- de Ação: denunciar casos de violação de ro. Assinava o termo de compromisso e
dação Nacional do Índio - Funai - que terras indígenas; continuar apoiando as recebia 52 cabeças de gado para cuidar,
proibia os missionários de trabalhar com assembleias anuais dos chefes indígenas; durante cinco anos. Após esse tempo, a
os Povos Indígenas. O bispo denunciou preparar os agentes de pastoral indigenis- comunidade repassava 52 cabeças para
a vergonhosa situação de abandono e ta; sensibilizar o povo de Roraima sobre outra comunidade e ficava com o fruto. Este
exploração que eles sofriam e afirmou a realidade indígena; em sintonia com o projeto foi o motor da luta de libertação.
que a Igreja iria continuar sua missão, CIMI e a Igreja do Brasil - CNBB. Semeou coragem, incentivou a união das
apesar da proibição. c) Investimento de recursos econô- comunidades e principalmente ocupou
micos. Além de destinar agentes de pas- e recuperou a terra. O papa João Paulo
Marcos desta opção toral, a Igreja investiu recursos em projetos II, através do cardeal Tonini, arcebispo
a) Assessoria ao movimento indíge- de Rimini, que visitou as comunidades
na. Desde os anos 1970, a Igreja promovia, indígenas, enviou, como oferta pessoal, a
Arquivo CIR

na Missão Surumu, a 200 quilômetros quantia para comprar dez cabeças de gado
de Boa Vista, encontros de lideranças para os índios. O apoio e a generosidade
indígenas, sobre temas como: alfabeti- de muitas pessoas e organizações foram
zação, higiene, construção de casas e extraordinários. O projeto distribuiu 8.500
aprendizagem da Celebração da Palavra cabeças de gado a 150 comunidades.
de Deus. Em janeiro de 1977, foi realizada Hoje, esse gado ultrapassa 30 mil cabeças
a Primeira Assembleia dos Tuxauas de e continua recuperando a terra, alimen-
Roraima, em Surumu, com a participação tando a esperança e a vontade de lutar
de 147 lideranças, os bispos dom Aldo e viver. A conquista da Terra Indígena
Mongiano, de Roraima e dom Tomás Bal- Raposa Serra do Sol, sua demarcação
duíno, presidente do Conselho Indigenista e homologação, e a confirmação pelo
Missionário - CIMI -, missionários(as), STF, selando definitivamente a vitória
leigos(as) e jornalistas. Esta Assembleia dos Povos Indígenas, deve-se muito ao
marcou a arrancada do movimento in- projeto “Uma vaca para o índio”. (continua
dígena. Após um dia inteiro de fala das na próxima edição). 
lideranças Macuxi e Wapixana, quando
denunciaram seu sofrimento e a invasão Lírio Girardi, imc, é superior provincial do Instituto Missões
do gado em suas terras, queixaram-se Gado do Projeto "Uma Vaca para o Índio", Muriru, RR. Consolata no Brasil.

- Maio 2009 21
100 Anos em Missão
“Eu te dou a vocação: vai e funda...”
de Rosa Clara Franzoi sionários apresentam ao fundador a necessidade da presença
de missionárias, especialmente para o campo da promoção da

O
mulher e da infância. Tentando contornar o problema, Allamano
olhar atento de um homem chamado José Allamano faz um apelo às congregações religiosas femininas já existentes
– sacerdote da diocese de Turim, norte da Itália – foi para um trabalho missionário na África. Seu apelo foi acolhido
a pedra de toque para o início da congregação das por algumas famílias religiosas, e no primeiro momento, o caso
Missionárias da Consolata. No coração dele pulsava parecia estar resolvido; porém, por uma série de razões, não foi
um ardente zelo pelo anúncio do Evangelho. Após uma possível dar continuidade ao projeto. Diante do impasse, José
profunda experiência do Cristo Missionário, acabou Allamano expõe o problema ao então papa Pio X e trava-se o
cedendo ao forte apelo. A vontade de ser missionário era tanta seguinte diálogo:
que ele teria ido pessoalmente para a Missão se a sua frágil Pio X: Por que não fundas tu um Instituto feminino, como
saúde o permitisse. fizeste com os missionários?
Como os santos sempre acham saídas para justificar seus Allamano: Santidade, eu não tenho vocação para fundar um
ideais e sonhos, José Allamano, quase como “revanche” de- Instituto para mulheres.
cidiu reunir discípulos e discípulas, para que, de certa forma Pio X: Ah! Se a questão for só esta, eu te dou a vocação:
concretizassem o que a ele estava sendo negado. O olhar se Vai e funda.
voltava para o continente africano, onde o missionário Guglielmo Allamano toma as palavras de Pio X como uma ordem. E
Massaia deixara profundas marcas de um grande serviço de desde aquele momento, começa a pensar na fundação. Muitas
evangelização no país da Etiópia e de onde fora expulso com coisas aconteceram entre este diálogo e a concretização da
outros missionários. Enfrentando dificuldades, em 1901 o padre obra. Além da enorme responsabilidade, teve que enfrentar a
Allamano funda o Instituto das Missões, para padres e irmãos. descrença de muitos, para os quais a Missão não era compatível
E em 1903 já envia os primeiros quatro missionários para o com as mulheres. Começa toda uma história de sofrimentos,
Quênia, na África. mas ele não desiste. José Allamano acredita e aposta em suas
futuras missionárias. E a memorável data chega: no dia 29 de
Missionárias da Consolata janeiro de 1910 ele anuncia o início do Instituto das Missionárias
Com a dedicação e o esforço dos missionários, o campo da Consolata. 
apostólico vai se expandindo e o trabalho evangelizador torna-
se mais abrangente. São necessárias novas forças. Os mis- Rosa Clara Franzoi, MC, é animadora vocacional.
Jaime C. Patias

Irmãs Inezinha Bombardelli e Rebecca Gallazzo durante celebração de Jubileu de Profissão Religiosa, em São Paulo.

22 Maio 2009 -
Dia Mundial das Comunicações
de Karla Maria

"Novas tecnologias, novas relações.

C
riado pelo Concílio Vaticano II através do Documento
Inter Mirifica em dezembro de 1963, o Dia Mundial das
Promover uma cultura de respeito, de
Comunicações é celebrado todos os anos na festa da
Ascensão do Senhor. O tema sugerido para este ano
diálogo, de amizade", este é o tema
vai de encontro à preocupação da Igreja em assumir
no mundo a sua missão de evangelizar, utilizando as
proposto pelo papa Bento XVI para a
inúmeras ferramentas disponíveis. Com o intuito de refletir sobre celebração, em 24 de maio, do 43° Dia
a relação da Igreja com a comunicação, ferramenta indispensável
Mundial das Comunicações.

da sociedade contemporânea, a Igreja concentra sua atuação em


um novo contexto, onde as relações humanas (no trabalho, nos
lares, escolas, em especial na educação de crianças e jovens),
são fomentadas e orientadas pelas novas tecnologias, pelos
meios de comunicação. “Estas tecnologias são um verdadeiro
dom para a humanidade: por isso devemos fazer com que as
vantagens que oferecem sejam postas a serviço de todos os
seres humanos e de todas as comunidades, sobretudo de quem
está necessitado e é vulnerável”, diz a mensagem do papa Bento
XVI proferida em 24 de janeiro de 2009. O pontífice argumenta
também, que não podem ser apenas os países industrializa-
dos a ter acesso a tais avanços tecnológicos, que devem ser
disponibilizados também aos países mais pobres. Dirigindo-se
aos jornalistas católicos, o papa convidou a jamais renunciar à
coerência e à busca da verdade.

Importância dos meios


Bento XVI recorda também a importância daqueles que dirigem
os meios de comunicação e geram seus conteúdos: “aqueles que
operam no setor de produção e difusão de conteúdo dos novos
media não podem deixar de sentir-se obrigados ao respeito da
dignidade e do valor da pessoa humana”.
O Dia das Comunicações neste ano será celebrado em 24
de maio, e todas as dioceses, as Pastorais da Comunicação,
comunicadores populares e meios de comunicação católicos, se
organizam para celebrar a data e refletir sobre o tema.
“Promover uma cultura de respeito, de diálogo, de amiza-
de”, é responsabilidade de todos os cristãos, em especial dos
“Embora seja motivo de maravilha a velocidade com que comunicadores, que devem utilizar os meios disponíveis com
as novas tecnologias evoluíram em termos de segurança ética e compromisso. A Pastoral da Comunicação é fundamental
e eficiência, não deveria surpreender-nos a sua populari- neste processo.
dade entre os usuários porque elas respondem ao desejo Para uma atuação consciente nas comunidades, é impres-
fundamental que têm as pessoas de se relacionar umas cindível a informação e uma lúcida Pastoral da Comunicação.
Contudo, para que ela seja mais do que um mural de recados,
com as outras. Este desejo de comunicação e amizade
ou a simples exaltação de instituições e pessoas ocupando
está radicado na nossa própria natureza de seres humanos, cargos hierárquicos é necessário que seus agentes de pastoral
não se podendo compreender adequadamente só como e comunicadores recebam formação, apoio e condições para
resposta às inovações tecnológicas. À luz da mensagem comunicar ao mundo o essencial: a Boa Nova de Jesus. “O
bíblica, aquele deve antes ser lido como reflexo da nossa anúncio supõe conhecimento profundo das tecnologias para se
chegar a uma conveniente utilização” afirma o papa Bento XVI,
participação no amor comunicativo e unificante de Deus, que
que reforça sua mensagem em especial aos jovens. 
quer fazer da humanidade inteira uma única família”.
Karla Maria, LMC, é estudante de jornalismo e colaboradora da revista Missões.

- Maio 2009 23
Queremos vida em abundância!
“Nós somos povo que caminha em
Infância
Missionária romaria pra garantir a água nossa Sugestão para o grupo
cada dia!” Roberto Malvezzi (Gogó) Acolhida (destacar nesse mês o continente africano, preparar o
ambiente com os símbolos missionários, as cores dos continentes,
Bíblia e imagens de crianças)
de Roseane de Araújo Silva Motivação (objetivo): trazer à reflexão do grupo a problemática
da falta de saneamento básico e os males que causa para as

N
crianças e adolescentes que sofrem esse drama.
o mês dedicado às mães e a Maria, Nossa Senhora, Oração espontânea por todas as crianças e adolescentes em
vamos falar de uma preocupação constante de muitas leito de hospital.
mães nos dias atuais, que é a saúde dos pequeninos. Partilha dos compromissos semanais
Como será que ela anda de um modo geral? As crian- Leitura da Palavra de Deus (sugestões para os 4 encontros):
ças e os idosos parecem ser os mais vulneráveis e são Realidade Missionária: Mateus 9, 35-38. No Evangelho de Mateus,
Jesus nos dá o exemplo de observar a realidade e agir com com-
constantemente vítimas de políticas públicas insuficientes.
paixão em favor dos mais injustiçados. Dessa maneira continuamos
Várias das doenças que os aflige estão ligadas diretamente à falta a missão de Jesus: levar a Boa Notícia do Reino de Deus a todas
de água e saneamento, trocando em miúdos, doenças que poderiam as crianças e adolescentes de nossa comunidade.
ser evitadas. Dados oficiais do sistema de saúde pública indicam Espiritualidade Missionária: João 4, 1-15. Ao conversar com uma
que 700 mil internações hospitalares por ano foram causadas por mulher samaritana, Jesus supera os preconceitos existentes em
doenças relacionadas à falta ou inadequação de saneamento nos sua época e enxerga a necessidade da samaritana em encontrar
últimos 10 anos. Deste número, para cada 100 internados estima- a fonte de água viva. Nos dias de hoje, muitas pessoas sofrem
pela falta de saneamento e água potável, que as impede de ter
se que 65 sejam crianças menores de 10 anos.
uma vida digna. O que fazer então?
Para que o tratamento de esgoto e serviço de coleta chegue Compromisso missionário: João 10, 14-18. Jesus se apresenta
a todos os lares brasileiros, seria necessário investir três vezes os como o bom pastor, aquele que dá a vida pelas suas ovelhas
recursos atuais, ou seja, cerca de nove bilhões de reais por ano, e não busca seus próprios interesses. Seguir a Jesus é seguir
até o ano de 2020. O investimento é pequeno diante dos bene- seu exemplo também, na doação e no serviço aos irmãos. Nosso
fícios trazidos para a população. Atualmente menos da metade sacrifício desse mês será feito pelas crianças e adolescentes de
dos domicílios brasileiros têm acesso à coleta de esgoto, trazendo Mali, na África que sofrem a escassez de água.
Vida de Grupo: João 13, 34-35. O maior dos mandamentos é
com isso doenças que atingem adultos e crianças. A doença mais
o amor, como nos ensinou Jesus. Através do amor ao próximo
comum nestes casos é a diarreia. Para se ter uma ideia, quando seremos reconhecidos como seguidores de Jesus, onde quer que
a Pastoral da Criança surgiu há 18 anos, a diarreia era a principal estejamos. Esta é a alternativa de vida que Jesus nos propõe, com
vida digna e liberdade diante das situações de morte. Um sinal
de vida em nossas comunidades é o trabalho junto às crianças
Fábio Pinheiro

pequenas da Pastoral da Criança, com a pesagem mensal das


crianças. Marcar uma visita a uma comunidade vizinha, para
acompanhar a atividade.
Momento de agradecimento (fazer preces espontâneas a partir
do tema e da reflexão do Evangelho).
Canto e despedida.

causa de morte entre crianças. Graças ao trabalho de “formiguinha”


das líderes das comunidades e o famoso soro caseiro, hoje em dia
esta doença é a terceira causa de morte no Brasil.
O nosso compromisso como crianças e adolescentes missio-
nários é manter a todos bem informados sobre os acontecimentos
que envolvem as pessoas dos continentes (6º Compromisso da
IAM). Isso nos ajuda a estarmos atentos ao que ocorre em nosso
meio, assim como fez Maria nas Bodas de Caná da Galiléia (Jo 2,
1-12), quando Jesus realizou o seu primeiro sinal. Sua palavra nos
convida a uma ação constante: “Façam o que ele mandar!” A partir
de pequenos gestos em nossa comunidade, podemos sim colabo-
rar, seja na separação do lixo ou mesmo não desperdiçando água.
Segundo o Fundo das Nações Unidas para a Infância - UNICEF,
cerca de 900 milhões de pessoas em todo o mundo não têm acesso
à água potável, enquanto que 125 milhões de crianças menores de
cinco anos vivem em lares sem acesso a fontes de água potável.
Devemos ser solidários a partir de nossa casa. Há muito o que
fazer! De todas as crianças do mundo – sempre amigas! 

Favela do Maruim, em Natal, RN. Roseane de Araújo Silva é missionária leiga e pedagoga da Rede Pública do Paraná.

24 Maio 2009 -
- Maio 2009 25
Catequese,
Entrevista

caminho para o discipulado

Jaime C. Patias
Nosso coração arde
quando Ele fala, explica
as Escrituras e parte
o pão (Lc 24, 13-35).
“Não estamos falando
do tradicional cursinho
vestibular para Primeira
Eucaristia, Crisma,
Batismo ou Matrimônio”.
de Jaime Carlos Patias

A
44ª Assembleia Geral dos Bispos
do Brasil em 2006 aprovou a
realização, em 2009, do Ano
Catequético Nacional. A abertura
oficial aconteceu no dia 19 de
abril, com celebrações especiais
em todas as paróquias do Brasil e o seu
encerramento será na festa de Cristo

Irmão Nery
Rei, dia 22 de novembro. O objetivo é
dar novo impulso à catequese como uma
dimensão de toda ação evangelizadora
da Igreja para o discipulado. Irmão Israel Brasil. Não se trata, portanto de Ano da Natural de Machado, MG, Irmão
José Nery, membro do Grupo de Reflexão Catequese, mas de um Ano Catequético. Israel José Nery pertence ao Instituto
de Catequese - GRECAT, organismo da Não é para ficar limitado aos catequistas. dos Irmãos das Escolas Cristãs
CNBB e presidente da Sociedade de Ca- A Igreja quer que todas as pastorais, todos (Irmãos Lassalistas), fundado, em
tequetas Latino-Americanos - SCALA, nos os movimentos, todas as congregações, 1680, na França, pelo Padroeiro dos
dá as coordenadas do Ano Catequético todas as iniciativas dos fiéis, desenvolvam Professores, São João Batista de La
e avalia seu alcance eclesial. É urgente seriamente a dimensão catequética que, Salle (1651-1719). Além de trabalhos
recuperar a concepção da catequese como aliás, todas possuem pelo simples fato de em sua Província Religiosa, Ir. Nery
processo permanente de educação da fé serem eclesiais. Infelizmente isso ainda é escritor com 53 livros publicados.
e não somente em vista à preparação aos não está acontecendo, pois por enquanto É também autor de vários CDs de
sacramentos. está restrito ao pessoal da catequese, que canções e DVDs (Ed. Paulinas).
ainda não percebeu o alcance real deste
Irmão Nery, o que pretende a Igreja Ano Catequético.
com o Ano Catequético Nacional? ao discipulado missionário, à iniciação
Ela pretende “mobilizar-se por inteiro” Como a Igreja pretende envolver a cristã, à catequese permanente, à Igreja de
para assumir e viver a catequese como todos neste Ano Catequético? comunhão e participação - como um grande
uma ação eclesial imprescindível para que Colocando em prática as orientações plenário de pequenas comunidades, à luta
possa ser e agir conforme o Evangelho, do Documento de Aparecida, sobretudo no profética por um mundo justo e solidário
encarnada e libertadora, na realidade do que se refere à conversão dos católicos, e na defesa e promoção da vida. Além

26 Maio 2009 -
Luigi Cason
O que é o GRECAT?
Grupo de Reflexão Catequéti-
ca, criado em 1984 para ajudar na
operacionalização do documento
Catequese Renovada. O Grupo
acompanha a reflexão e sistemati-
zação da catequese. É responsável
pela produção de textos, animando
a caminhada catequética. É formado
por catequetas: religiosas/os, leigas/
os e presbíteros, que se reúnem
duas vezes ao ano.
A 3ª Semana Nacional de Cate-
quese que ocorrerá em Itaici, Indaia-
tuba, SP, nos dias 6 a 11 de outubro Jovens da Paróquia Sagrado Coração de Jesus, Monte Santo, BA.
contará com palestras como as do
cardeal dom Cláudio Hummes, frei e agentes de pastoral a partir do novo olhos e o coração fixos no horizonte como
Carlos Mesters e do biblista Fran- conceito de catequese. se víssemos o invisível. A nossa Igreja
cisco Ourofino. ainda tem o peso da rotina pastoral, da
E como vai ficar então a tradicional formalidade nas orações e celebrações,
preparação aos sacramentos? da frieza intelectual no estudo da Bíblia e
disso, ela quer operacionalizar o Diretório É um assunto delicado e complica- da Teologia; o peso de uma estrutura de
Nacional de Catequese - DNC e resgatar do. Para isso, porém, é preciso de uma manutenção do seu status quo que lhe
a riqueza da Catechesi Tradendae ou seja vez por todas aceitar que o mundo da dificulta muito ver que ela está ficando
a Catequese Hoje (de João Paulo II), e cristandade já não existe mais. Estamos para trás na história. E como, na Igreja,
da Conferência de Puebla, pois ambas num pluralismo cada vez mais amplo. E a hierarquia comanda tudo, urge que
celebram 30 anos em 2009. Para facilitar comprovado está, que um grande número bispos e padres, seminaristas, diáconos
o processo de mobilização nacional, a de batizados na Igreja Católica se sente (e lideranças cristãs) decidam de vez por
CNBB publicou um excelente texto base, desestruturado face a tantas propostas um modelo de Igreja de conversão, de
que está organizado a partir do relato dos religiosas e cristãs que se multiplicam comunhão e participação, de escuta e
Discípulos de Emaús (Lc 13-35). dia a dia. Muitos tomam consciência que misericórdia, de discipulado missionário,
não são convertidos, ignoram sua fé, de serviço e profetismo. Só assim os
Este Ano Catequético poderá con- não possuem convicções sólidas e são leigos e leigas (98% dos católicos) terão
tribuir para a renovação da Igreja? religiosamente infantis. Percebem que vez e voz. Basta analisar a realidade do
Sim, sem dúvida. Mas é fundamental seu cristianismo de tradição não lhes dá Brasil para comprovar que, apesar de ser
deixar claro que não estamos falando de o suporte necessário para enfrentar este o maior país cristão do mundo, os cristãos,
catecismo, mas de catequese. E também mundo em mudança. Eles se sentem por não serem em sua grande maioria
não estamos falando do tradicional “cur- disponíveis a quem lhes fizer uma oferta convertidos, pouco significam para reais
sinho vestibular para Primeira Eucaristia” de conversão e de compromisso. Em e necessárias mudanças na sociedade
ou “cursinho vestibular para Crisma ou Aparecida, os bispos analisaram essa brasileira. O Ano Catequético visa, sim a
Batismo ou Matrimônio”. A proposta da realidade e concluíram que mais do que renovar a Igreja como um todo.
Igreja é outra e bem desafiadora. Trata-se continuar sacramentalizando é essencial
primeiramente de ajudar a pessoa a realizar evangelizar, oferecer oportunidade para Como está organizado este Ano
o seu encontro pessoal com Jesus Cristo conversão, para o encontro pessoal com Catequético?
vivo, a se converter, dar seu sim a Deus, Jesus Cristo. Como consequência, daí vi- Temos à disposição o excelente texto
como pede o Documento de Aparecida. rão, o engajamento na Igreja, a frequência base (Ed. CNBB) que desenvolve o tema:
Ora, isso exige uma mudança no modo aos sacramentos, a opção vocacional, o “Catequese: caminho para o discipulado”
de compreender e realizar a catequese. compromisso com a construção do Reino e o lema: “Nosso coração arde enquanto
Acredito que uma grande contribuição de Deus. A Iniciação à vida cristã, que tem ele fala, explica as escrituras e parte o
deste Ano Catequético consistirá, portanto, outro ritmo e outra metodologia que a pre- pão” (cf. Lc 24, 13-35). Há ainda vários
em trazer para a prática as orientações paração aos sacramentos, contemplará no subsídios como o CD de Hinos e Canções
do Documento de Aparecida no capítulo devido tempo a vida sacramental, mas como (Ed. Paulinas), o cartaz, spots, releases,
6, que nos direcionam para a Catequese parte de um processo catequético, litúrgico artigos e entrevistas para rádio, TV, revis-
de Iniciação à Vida Cristã, apoiada na e comunitário que, de fato, possibilite ao tas, jornais. E um dos momentos altos de
grande riqueza do Catecumenato da fiel se converter e se comprometer com 2009 será a Terceira Semana Brasileira
Igreja dos séculos III ao V e no Ritual de o Senhor, a Igreja e o Reino. É preciso, de Catequese, de 6 a 10 de outubro, em
Iniciação Cristã de Adultos - RICA. E neste aqui, ler DA 294. Itaici, Indaiatuba, SP, precedida por várias
processo, a Igreja confirmará algumas realizações nos regionais, nas dioceses
prioridades em sua ação evangelizadora Este ano promete, então, ser revolu- e nas paróquias. 
e catequética: a conversão do próprio cionário, no bom sentido da palavra?
católico, a começar pelos adultos, e nova É isso mesmo. Mas precisamos ter Jaime Carlos Patias, imc, diretor da revista Missões e mestre em
formação dos presbíteros, catequistas os pés no chão ao mesmo tempo que os Comunicação, com a colaboração de Rosa Clara Franzoi.

- Maio 2009 27
CEBs ampliam horizontes d
Atualidade

O 12º Intereclesial das Comunidades


Eclesiais de Base - CEBs visa fortalecer
a articulação entre elas, aprofundar sua
identidade, comunhão e espiritualidade
missionária e ecológica.
José Roberto Garcia

11º Intereclesial das CEBs em 2005, Ipatinga, MG.

de Dirceu Benincá cerca de três mil participantes do Brasil Em particular, a região enfrenta sérios
e de outros países. problemas de devastação das flores-

C
O objetivo do encontro é aprofundar tas, agressão aos seus povos e culturas
ompreender a realidade como a dimensão missionária das CEBs no decorrente da implantação de grandes
ela é, com vistas a defender a âmbito eclesial, sociopolítico e ecológico projetos capitalistas, entre os quais duas
vida e a integridade da criação. diante das graves questões verificadas hidrelétricas: Santo Antônio e Jirau. De
Esta é a perspectiva para a qual no contexto atual. Espera-se que o 12º acordo com o sociólogo Pedro Ribeiro
se orienta o 12º Intereclesial encontro das CEBs seja um momento de Oliveira, em análise feita na reunião
das Comunidades Eclesiais de muito proveitoso para ampliar o conheci- da equipe ampliada e dos assessores
Base, a realizar-se de 21 a 25 de julho de mento e a sensibilidade sobre a Amazônia, das CEBs, ocorrida em Porto Velho, de
2009, em Porto Velho, Rondônia. Tendo onde vivem aproximadamente 25 milhões 21 a 25 de janeiro passado, vivemos
como tema “CEBs - Ecologia e Missão” de pessoas numa área de 5.030.730 uma crise mundial em quatro dimensões:
e lema “Do ventre da Terra o grito que quilômetros quadrados (Amazônia Legal financeira,de governança, ecológica e de
vem da Amazônia”, o evento deve reunir brasileira). humanidade. São crises inter-relacionadas

28 Maio 2009 -
da missão

Jaime C. Patias
com impactos negativos, que nos desafiam
para novas ações.
As Comunidades Eclesiais de Base
sentem-se imbuídas da missão profética
de contribuir com a salvaguarda da Casa
Comum. “O 12º Intereclesial quer fortalecer
a articulação e a comunicação das CEBs;
aprofundar sua identidade, comunhão e
espiritualidade missionária e ecológica, à
luz do Documento de Aparecida. Reunir
as pessoas e comunidades na beleza
de sua diversidade humana e cultural,
oriundas das diferentes regiões do país,
de várias igrejas e práticas, na vivência
da fé indígena, cabocla e multirracial, na
igualdade, na partilha e fraternidade”. A
Formação de lideranças das CEBs, Obra Social Magnificat, 2009, diocese de São José dos Campos, SP.
afirmação é de dom Moacyr Grechi, arce-
bispo de Porto Velho, na apresentação do hospitais, Casa do Menor e recuperação das CEBs, com a solidariedade aos povos
texto base, livro que serve como subsídio de pessoas com deficiência. da Amazônia, bem como com a susten-
preparatório ao evento, publicado pela Seguindo a prática das CEBs nesses tabilidade do planeta.
Editora Paulus. grandes encontros, haverá momentos Diversos encontros de nível diocesano
celebrativos de louvor e penitência, a e regional foram realizados ou ainda serão
Metodologia do encontro caminhada dos mártires e a romaria das com o objetivo de preparar esse grande
A estrutura do encontro está basea- comunidades, sempre contemplando a evento. Entre eles, o “Dozinho”, de 26 a
da em uma imagem fluvial que motiva à dimensão ecumênica, multirreligiosa e 28 de setembro de 2008, em Porto Velho,
união e participação de todos na grande multicultural. O encontro adotará o método com a participação de aproximadamente
travessia em tempos agitados por ventos ver, julgar e agir, consagrado pelas CEBs 1.600 pessoas, encontro que serviu para
neoliberais. Haverá momentos coletivos ao longo de sua trajetória. O olhar atento motivar as comunidades locais na prepa-
com a presença da grande assembleia, e amplo sobre a Amazônia será ilumina- ração do 12º Intereclesial e fortalecer o
no espaço identificado como Porto. Em do pelo Evangelho da Vida e analisado espírito de acolhida das delegações. Uma
outros momentos, os participantes se criticamente sob o ponto de vista social, cartilha popular, cujo roteiro está baseado
reunirão em 12 plenárias, caracterizadas político, econômico, cultural, eclesial e no texto base, também será utilizada pelas
como Rios. Em alusão aos rios da região, ecológico. Com o objetivo de motivar para a comunidades no processo de preparação
tais plenárias terão os seguintes nomes: luta em favor da justiça e preservação dos do encontro.
Guamá, Gurupi, Tapajós, Tocantins, Purus, ecossistemas, serão ouvidos testemunhos As CEBs, autodefinidas como “fermen-
Juruá, Madeira, Guaporé, Jari, Oiapoque, proféticos de pessoas como: Rigoberta to na massa” e “novo jeito de ser Igreja”,
Araguaia e Itacaiunas. Para partilha de ex- Menchú, ativista indígena guatemalteca, procuram ser fiéis à aliança estabelecida
periências e aprofundamento de questões Prêmio Nobel da Paz em 1992; Desmond com o Criador, que diz: “Quero fazer uma
e desafios, os membros de cada plenária Tutu, bispo anglicano da África do Sul; aliança com os animais da floresta e as
se distribuirão em grupos menores, nas Pedro Casaldáliga, bispo emérito de São aves do céu, com os répteis do chão e
chamadas Canoas. Félix do Araguaia; Marina Silva, senadora tudo o que vive na terra. Vou eliminar o
Os primeiros três dias serão dedicados e ex-ministra do Meio Ambiente. arco e as armas de guerra para que todas
a ver a realidade e ouvir os gritos que emer- as criaturas descansem em segurança.
gem da terra e dos povos da Amazônia, Alimentando a utopia Então, vou me casar contigo na justi-
bem como conhecer e socializar as lutas Ancorados na utopia de uma “terra ça e na misericórdia, na fidelidade e na
em defesa da vida. A idéia é estabelecer onde corre leite e mel” (Ex 3, 8), ‘terra compaixão. Eu escutarei os céus e eles
ligações entre o contexto local e os gritos regada pelo rio de água viva, em cujas escutarão a terra, e a terra escutará as
e lutas presentes em todo Brasil, América margens as árvores dão frutos doze meses plantações” (Os 2, 18-19. 21). Com esse
Latina e Caribe, olhando também os sinais por ano e suas folhas servem para curar propósito, as CEBs seguem trabalhando
e as expressões do mundo novo deseja- as nações’ (Cf. Ap. 22,2), sonho mesmo pela transformação do mundo existente
do pelas comunidades. Auxiliarão neste de uma “terra sem males”, acalentado e pela construção do Reino de Deus,
propósito as visitas que serão feitas às pelos Povos Indígenas desde há muito horizonte maior da missão! 
comunidades indígenas, de agricultores, tempo, os participantes do 12º Intere-
de extrativistas, de ribeirinhos, de ga- clesial terão oportunidade de reafirmar Dirceu Benincá é sacerdote, membro da Equipe Ampliada
rimpeiros, de acampados, de bairros, de seus compromissos. Tais compromissos Nacional das CEBs. Coautor do livro “CEBs: nos trilhos da
afrodescendentes, em casas de detenção, estarão relacionados com a caminhada inclusão libertadora”, Paulus, 2006.

- Maio 2009 29
Belém - PA para fazer coisas, seguir organizações, mas formar
Irmã Dorothy Stang pessoas missionários(as), que tenham um encontro
O Tribunal de Justiça do Pará anulou, no dia 7 pessoal com Deus e façam sua experiência de se
de abril, o julgamento que absolveu o fazendeiro apaixonar por Jesus e pela Missão. Pessoas que
Vitalmiro Bastos de Moura, o Bida. Ele é acusado sejam solidárias, que partilhem e verdadeiramente
pelo Ministério Público do Estado de ser um dos amem o outro”.
mandantes do assassinato da missionária Dorothy
Stang. Os desembargadores do tribunal determinaram 2ª Mobilização Regional
a prisão imediata do fazendeiro até o novo julgamento, A partir do dia
que ainda será marcado. A Justiça entendeu que o 23 de maio, a IAM
julgamento deveria ser anulado, porque a defesa do Regional Sul 1
usou uma prova ilegal ao exibir um vídeo com o realizará a 2ª Mo-
depoimento de outro participante do crime para bilização Regional
inocentar o fazendeiro. O coordenador nacional da com o tema “IAM –
Comissão Pastoral da Terra (CPT) e advogado da Discípulos Missioná-
família de Dorothy Stang, João Batista Afonso, des- rios nos Cinco Con-
tacou a importância da decisão do tribunal: “Segundo tinentes”. O objetivo
dados da CPT, são mais de 800 assassinatos no é celebrar os 166
Pará, nos últimos 30 anos, sem que um mandante anos de fundação
esteja cumprindo pena atrás das grades. A absolvição da IAM, divulgando
do Vitalmiro Bastos era um resultado mais do que o protagonismo mis-
escandaloso. Então, a anulação do julgamento é um sionário das crian-
VOLTA AO BRASIL

passo importante nessa luta contra a impunidade ças e adolescentes


dos mandantes de assassinatos do campo no Pará”. em comunhão com
A defesa do fazendeiro informou que vai recorrer. todos os povos por
Na mesma sessão, os desembargadores anularam meio da oração, do sacrifício e da solidariedade
também o julgamento de Rayfran das Neves, que foi universal. Para isso, será realizada uma coleta em
condenado a 27 anos de prisão como executor de todas as paróquias e dioceses do estado em favor
Dorothy. Para os desembargadores, os jurados não das crianças de Maua, Província de Niassa, Norte
consideraram que Neves praticou o crime visando a de Moçambique, África. Os encontros baseados na
promessa de recompensa. Se isso tivesse ocorrido, Metodologia das Quatro Áreas Integradas, além
a pena de Rayfran poderia ser maior. de cartazes, vídeos, dinâmicas e orações estarão
No dia 17 de abril, nos cinemas de São Paulo, disponíveis no blog da Garotada Missionária: ga-
Rio de Janeiro, Brasília e Belém, estreou o docu- rotadamissionaria.blogspot.com. Caberá a cada
mentário “Mataram Irmã Dorothy”. Narrado pelo ator diocese distribuir o material e preparar a mobilização
Wagner Moura, o filme revela bastidores do contro- com o gesto concreto, que encerrará as atividades,
vertido julgamento dos assassinatos da missionária a ser realizado entre os dias 20 e 21 de junho. O
americana. Dirigido pelo americano Daniel Junge, o Regional Sul 1 da CNBB abrange o estado de São
longa-metragem, de 94 minutos, também investiga Paulo e conta com 46 dioceses, sendo que, em 34
as razões da morte da freira, bem como sobre os delas a IAM encontra-se organizada, somando ao
verdadeiros mandantes do crime. Ano passado, o todo, 338 grupos.
filme venceu o Prêmio do Público e Grande Prêmio
do Júri no Festival South by Southwest; recebeu Rio de Janeiro - RJ
menção honrosa do júri no FIC Brasília; e participou Medalha Chico Mendes de Resistência
das seleções oficiais do Festival do Rio e Mostra José Batista Afonso, advogado da Comissão
Internacional de São Paulo. Pastoral da Terra - CPT do Regional Norte 2 (Amapá
e Pará) da CNBB foi homenageado no dia 1º de abril,
São Paulo - SP no Rio de Janeiro, com a medalha Chico Mendes
Infância e Adolescência Missionárias de Resistência. A indicação para a homenagem foi
Coordenadores diocesanos da Pontifícia Obra comunicada aos integrantes da CPT do Regional
da Infância e Adolescência Missionárias – IAM, do durante a sua Assembleia Regional da Comissão
Regional Sul 1 da CNBB, realizaram, de 24 a 26 de Pastoral da Terra. A homenagem da entrega da me-
abril, no Centro Missionário José Allamano, Zona dalha Chico Mendes de Resistência foi criada em
Norte da capital paulista, mais um encontro de for- 1989 pelo Grupo Tortura Nunca Mais, no sentido de
mação. Além de intensificar a formação permanente marcar para sociedade em geral o que foi o Golpe
dos coordenadores em conformidade com o Docu- Militar de 1964 e seus inúmeros efeitos que se fazem
mento de Aparecida, o encontro teve por objetivo sentir ainda hoje. Batista recebeu a medalha na ca-
aprofundar a articulação entre os coordenadores das tegoria Violência Rural por sua atuação em defesa
diversas dioceses e facilitar o trabalho conjunto das dos direitos dos trabalhadores rurais que lutam pela
dioceses com o Secretariado Nacional, em Brasília. A terra e por um desenvolvimento, onde a Vida, a Jus-
coordenadora estadual da IAM, Nadia Maria da Silva tiça Social e o respeito à Natureza prevaleçam. José
Fusinato, vem trabalhando para implantar grupos Batista Gonçalves Afonso é mineiro. Nasceu no Vale
nas dioceses do estado como uma das tarefas do do Jequitinhonha em 28 de fevereiro de 1964. 
Conselho Missionário Regional - COMIRE. Segundo
informou, “não se trata de formar pessoas apenas Fontes: CNBB, IAM Comire Sul 1, Notícias do Planalto.
30 Maio 2009 -
Tenha o mundo
em suas mãos!
Hoje, mais do que nunca precisamos comunicar
para informar os cidadãos na sua capacidade de
refletir e entender a realidade.
Quando falamos de comunicação na Igreja não
devemos pensar apenas nos meios. Entendemos
de maneira especial o processo de comunicação
nos espaços de reflexão para as comunidades, as
pastorais, os grupos, os movimentos, nas diversas
iniciativas que criam interação entre pessoas
movidas pelos valores do Evangelho.
A revista MISSÕES, editada pelos missionários e
missionárias da Consolata no Brasil, é um meio
de informação e formação que visa contribuir com
a construção de um mundo mais justo e solidário
através de subsídios pastorais, espirituais, sociais
e culturais. Seu público alvo são as lideranças e
os cidadãos em geral, as famílias, os jovens e os
agentes de pastoral das comunidades cristãs. Neste
sentido, MISSÕES apresenta matérias sobre:

• Atualidade da sociedade e movimentos sociais


• Espiritualidade e temas pastorais
• Articulação de projetos sociais e ambientais
• Estudos sobre os desafios para a missão da Igreja
• Subsídios para uma pastoral missionária
• Testemunhos de vida e de experiência
• Reflexões para a juventude
• Trabalhos didáticos para as crianças, e muito mais.

Com isso, a revista MISSÕES deseja ajudar os seus leitores a


olhar para fora do próprio mundo, além das próprias fronteiras
eclesiais, culturais e geográficas.
A solidariedade em vista do bem comum é fruto da participação
de todos. Faça parte desse projeto!


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