Professional Documents
Culture Documents
RESUMO
complexos, por um mundo imaginário, onde impera a simplificação. Isso induz a erros
de interpretação sobre a realidade. Por essa razão, o pensamento reducionista tem sido
criticado e refutado. Contudo, ele ainda é freqüentemente encontrado nas diversas áreas
energéticos.
Este trabalho faz uma crítica ao pensamento reducionista presente nessa área.
essa postura, acredita-se que se está contribuindo para que o reducionismo presente nas
transposta e que a crítica a esse pensamento é o passo inicial a ser dado em direção à
negligenciada.
∗
Citar este artigo da seguinte forma: SILVA, Marcos Vinicius Miranda da ; BERMANN, C. . O
reducionismo como barreira para as análises e compreensão dos sistemas energéticos. In: X Congresso
Brasileiro de Energia, 2004, Rio de Janeiro. A universalização do acesso à energia. Rio de Janeiro :
Chivas Produções, 2004. v. III. p. 1636-1643.
INTRODUÇÃO
atitude teórica que, para explicar um fenômeno complexo, procura reduzi-lo aos
essa razão, ele tem sido refutado em todas as áreas do conhecimento. Contudo, o
promoverá o seu desenvolvimento, uma visão reducionista está sendo utilizada, porque
energia é apenas um dos elementos que podem dar suporte para que esse processo se
intensifique.
reducionista. Segundo esse princípio, todo fenômeno depende de uma causa ou várias
causas para existir. Isso leva a crer que o conhecimento da causa permite a previsão e
compreensão do fenômeno.
1
Utiliza-se a palavras erros ao invés de desvios, porque todos os planos de expansão do sistema elétrico
brasileiro têm interpretado erroneamente a realidade, simplificando-a.
princípio da causalidade. As demandas energéticas futuras não podem ser previstas,
porque seus comportamentos são aleatórios, uma vez que muitos elementos que
exercem influências sobre elas também apresentam esse tipo de comportamento, como é
o caso, por exemplo, do PIB. Por outro lado, o uso de séries históricas não tem a menor
erros sobre a interpretação da realidade. Portanto, suas limitações devem ser apontadas,
SISTEMAS ENERGÉTICOS
Essa distorção conceitual faz com que a energia por si só seja capaz de produzir todas
essas atividades. Desta forma, o único imperativo para que elas existam passa a ser a
disponibilidade de energia.
relações com a sociedade e com o meio ambiente, e que estabelece fluxos contínuos de
energia, tecnologia, capital, com os outros sistemas sociais, além de ter a função de
vez maiores de energia constitui-se no único caminho que levará as sociedades para o
praticamente reduzido à oferta de energia. Foley (1992, p.3) afirma que o abismo entre
(1998), embora reconheça que o baixo consumo energético não é a única causa da
panacéia. Cegos pelo reducionismo, alguns não conseguem perceber que a energia é
melhoria das condições sociais foi recentemente destruído quando se percebeu que
alguns países com economias pouco desenvolvidas e com baixos consumos de energia
mais desenvolvidas e com consumos de energia bem mais elevados (tabela 1).
no Brasil, onde o consumo de energia é mais elevado do que no Siri Lanka, na Armênia
e no Vietnã, alguns índices sociais são bem inferiores aos apresentados por esses países.
consumir enormes quantidades de energia é sinônimo de mudança social, uma vez que
eles terão utilizado outros fatores para justificar suas argumentações. Quem realmente
acredita que o Brasil, apenas por ultrapassar a barreira do consumo de 1 tep por
habitante, passará a ter uma expectativa de vida, uma taxa de alfabetização e um índice
estão cada vez mais dependentes de energia. Porém, entende-se também que as
também têm o direito de ver suas necessidades essenciais atendidas e suas aspirações
concretizadas.
SISTEMAS ENERGÉTICOS
2
Os dados sobre mortalidade infantil referem-se ao número de mortes em um grupo de 1000 crianças
nascidas vivas. A taxa de adultos alfabetizados está em percentagem.
imprevisíveis. Além disso, os métodos de previsão utilizados aprisionam o
baixo custo. Por outro lado, a idéia de que desenvolvimento era sinônimo de
praticamente iguais (ROSENFELD & WARD 1992, p.225-226). Depois dos aumentos
reforçou ainda mais a concepção de que quanto maior fosse a oferta de energia barata
Ef=(Ep/Pp)xPf
perceber que era possível manter o crescimento da economia, através de uma redução
do consumo de energia. Isso foi possível devido aos avanços tecnológicos, que
uso final da energia. Esse novo contexto serviu de argumentação para refutar a
consumo de energia. Entretanto, essa concepção ainda pode ser encontrada nos métodos
• É de senso comum que a produção total de bens e serviços depende de alguns fatores:
mão-de-obra, matéria-prima, energia, terra, capital. Essa produção terá um valor, que
utilizada no processo produtivo. Esse valor forma o PIB, que se for somado a renda
formação do PIB e da demanda energética, sendo que elas podem mudar ao longo do
tempo.
• A intensidade energética tende a ser reduzida ao longo do tempo, devido aos avanços
em economias instáveis, mesmo que diferentes tipos de cenários para a economia sejam
para os períodos de recessão. Essa tendência, relacionada tanto a uma cultura econômica
generalista, que afirma que a economia sempre cresce, como aos interesses políticos que
sempre tentam passar à sociedade uma visão otimista sobre a economia, leva
períodos dominados por forte recessão econômica. A combinação entre uma intensidade
demandas da sociedade.
expansão dos sistemas energéticos foram soluções encontradas para reduzir o grau de
incerteza, que envolve a previsão das demandas energéticas. Entretanto, elas têm
planejamento da expansão dos sistemas energéticos, uma vez que cada cenário
todos os elementos que exercem influência sobre a dinâmica da demanda energética são
considerados. Por outro lado, se n-elementos exercem influência sobre a dinâmica das
influência distinta sobre essa dinâmica. Entretanto, na prática, não é isso o que se
o Plano Nacional de Energia Elétrica 1993 – 2015 (Plano 2015) está fundamentado
influência sobre a dinâmica da demanda energética, onde cada elemento apresenta dois
comportamentos distintos para o período da previsão, fornece quatro cenários
cenários nos planos de expansão dos sistemas energéticos no Brasil, uma vez que as
é simplificada nesses planos. Isso significa que nem todos os elementos que exercem
energética podem mudar o seu comportamento no curto prazo. Isso ocorreu, por
Uma importante questão nessa discussão deve ser ressaltada. É notório que há
um privilégio dado à geração hídrica de grande porte no Brasil. Como exemplo dessa
Monte, no Estado do Pará, que contará com uma potência instalada de cerca de 11.182
MW. O início da construção de uma hidrelétrica desse porte precisa ocorrer vários anos
antes da entrada em operação das primeiras turbinas, porque seu prazo de construção é
prazo da expansão dos sistemas energéticos, uma vez que os erros na previsão das
país.
pensamento reducionista, uma pergunta torna-se inevitável. Por que ele ainda se faz
energéticos, porque ele tem tradição no pensamento científico, porque ele seduz. Afinal,
complexidade do mundo real ainda não foram desenvolvidas. Por essa razão, a
Para Capra (1998, p.46), a forma de superar o reducionismo envolve a crítica aos
CONCLUSÕES
energia pelo conceito de sistema energético é uma ação prática que pode ser
inter-relações.
metodologias capazes de representar o mundo real de forma mais fiel possível. Torna-se
elementos não poderão ser quantificados. Por essa razão, a imprevisibilidade deve ser
imprescindível.
energéticas e tentar aperfeiçoar esse instrumento para que ele se torne mais flexível à
complexidade da realidade. Porém, essa flexibilização não pode ficar restrita apenas à
REFERÊNCIAS BIBIOGRÁFICAS
BRASIL.MINISTÉRIO DE MINAS E ENERGIA – MME. Sumário Executivo do
Plano Decenal de Expansão 2003/2012. Comitê Coordenador do Planejamento da
Expansão dos Sistemas Elétricos – CCPE, Brasília, Dezembro de 2002, 77p. Disponível
em: http://www.mme.gov.br. Acesso: 02/04/2004.
CAPRA, Fritjof. O ponto de mutação. Trad. Álvaro Cabral. São Paulo: Cultrix, 1998
(Original Inglês).
CENTRAIS ELÉTRICAS BRASILEIRAS - ELETROBRÁS. Plano Nacional de
Energia Elétrica 1993 – 2015. Plano 2015. Rio de Janeiro, Relatório executivo:
síntese, v.1, 1994.
FOLEY, Gerald. The energy question. 4ed. London: Penguin Books, 1992.
GOLDEMBERG, José. Energia, Meio Ambiente e desenvolvimento. Trad. André
Koch. São Paulo: Edusp, 1998 (Original Inglês).
INTERNATIONAL ENERGY AGENCY (IEA) – Energy Statistics.
http://www.iea.org/dbtw-wpd/texttbase/stats/index.asp. Acesso: 09/05/2004.
JAPIASSÚ, Hilton; MARCONDES, Danilo. Dicionário básico de filosofia. Rio de
Janeiro, 3a ed. rev. e ampliada, Jorge Zahar, 2001.
ROSENFELD, Arthur, H., WARD, Ellen. Energy use in buildings. In HOLLANDER,
Jack M. (ed.) The Energy-environment connection. Washington, DC: Island Press,
1992.
SUÁREZ, Carlos E. Energy needs for sustainable human development. In
GOLDEMBERG, José, JOHANSSON, Thomas B. (Eds.) Energy as an instrument for
socio-economic development. New York: UNDP, 1995.
UNITED NATIONS DEVELOPMENT PROGRAMME (UNDP). Human Development
Reports: Human Development Indicators 2003.
http://hdr.undp.org/reports/global/2003/indicator/index.html. Acesso: 09/05/2004.