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Outro combate outra paz

“é preciso distinguir o combate contra o Outro e o combate entre Si. O


combate-contra procura destruir ou repelir uma força, mas o combate-
entre(...)é o processo pelo qual uma força se enriquece ao se apossar de
outras forças somando-se a elas num novo conjunto, num devir (...).
a guerra é somente o combate-contra, uma vontade de destruição”
“(...)mais profundamente, o próprio combatente é o combate, entre suas
próprias partes, entre as forças que subjugam ou são subjugadas, entre as
potências que exprimem essas relações de força” - deleuze

somos a geração do meio. viemos depois da segunda guerra e da


ditadura. nem nazis nem milicos para lutar-contra, nem democracia nem
revolução. o hiato.
o que temos neste tempo para nós é um combate espiritual, mas imanente.

“e num plano frio e calculado resolveu que sua primeira luta devia ser
consigo mesmo. pois se ele queria reconstruir o mundo, ele próprio não
servia...se queria, como último termo final de seu trabalho chegar aos outros
homens - teria antes que terminar de destruir totalmente seu modo de ser
antigo’ - clarice

nós somos os membros do clube da luta, e estamos aprendendo que

“o homem dionisíaco gosta não somente do espetáculo do horrível e do


inquietante, mas ama o fato terrível em si mesmo e todo luxo de destruição,
de desagregação, de negação; a maldade, a insanidade, o feio lhe parecem
permitidos em toda espécie, como conseqüência de uma superabundância
que é capaz de fazer, de cada deserto, um país fértil.” - nietzsche

e o horrível está aí: a guerra civil não-declarada num país onde por mês
morrem assassinadas o total de vítimas do atentado ao world trade center.
uma ordem mundial que segrega, exclui e elimina milhões de diferentes que
não podem consumir nem discordar.

“É a guerra da potência mundial contra tudo que possa resistir,


escapar.”(Baudrillard)

“árabes e nômades chamam o saara de el khela, o nada, de tanesruft, o


país do medo”- clarice

neste deserto em que nos movemos, feito de nada e medo, como conseguir
paz? estou indo rápido demais?
“a humanidade está ensopada de humanização, como se fosse preciso; e
essa falsa humanização impede o homem e impede a sua humanidade.
existe uma coisa que é mais ampla, mais surda, mais funda, menos boa,
menos ruim, menos bonita(...)parte humana mais difícil.(...) porque é
violenta a ausência de gosto da água, é violenta a ausência de cor de um
pedaço de vidro. Uma violência que é tão mais violenta porque é neutra.” -
clarice

o neutro é, em termos ‘humanos’ uma despersonalização, eu deixa de ser.

“deixar de pensar-se como um eu para viver-se como um fluxo, um


conjunto de fluxos, em relação com outros fluxos, fora de si e dentro de si
próprio(...) é um querer-viver, luta e combate” – Deleuze

porque “as lutas são ao mesmo tempo econômicas, políticas e culturais –e,
por conseqüência, são lutas biopolíticas para decidir a forma da vida. são
lutas constituintes, que criam novos espaços públicos e novas formas de
comunidade.” – michael hardt e toni negri

“Vemos por todos os lugares surgirem as novas religiões, os novos


etnocentrismos, as novas questões lingüísticas, formas bastardas evidentemente,
ambíguas, mas sempre tentando escapar e redescobrir um território que fuja a
essa imensa rede globalizada. Cada indivíduo tem preservado alguma coisa de
singularidade. É a singularidade que está em jogo. Faço um esquema entre o
mundial, o universal e o singular. O universal está esmagado, então a luta hoje é
entre o mundial e o singular.”(Baudrillard)

paz não é ausência de conflito nem de violência. como o equilíbrio não é


ausência de tensão, mas o máximo de tensão em cada extremidade. paz é
uma relação de forças, um fluxo. não pode tornar-se uma condição
miserável de sobrevivência, nem uma fadiga da luta, ou apenas uma
urgência de escapar da morte.
então, é preciso experimentar juntar essas forças, conectar, experimentar
encontrar o equilíbrio.

“é verdade que a maior parte do modo de experimentar vem com dor, mas
também é verdade que esse é o modo inescapável de se atingir o único
ponto máximo, pois tudo tem um único ponto máximo, e cada coisa tem
uma vez, e depois nos preparamos para a outra vez que será a primeira vez
- e se tudo isso é confuso, nisso tudo somos inteiramente amparados pelo
que somos, nós que somos o desejo.” - clarice
“que não escape o essencial, como conclusão: dos abismos, (...) e mesmo
da grande suspeita, regressa-se regenerado, pele nova, mais sensível e
maldoso que nunca, com gosto mais apurado e sutil para a alegria, língua
mais sensível para as coisas boas, espírito mais alegre, com uma segunda
inocência - mais perigosa - na alegria; regressa-se mais infantil do que
nunca(...)” - nietzsche

“quem não se tornar como criança não pode entrar no reino” - jesus

“cada evento insurrecional que surge dentro da ordem do sistema imperial


provoca um choque em todo o sistema(...) o aspecto mais relevante
demonstrado pelas lutas talvez sejam as acelerações súbitas, em geral
cumulativas, que podem se tornar virtualmente simultâneas, explosões que
revelam um poder propriamente ontológico e um ataque imprevisível nos
equilíbrios mais centrais do Império” – michael hardt e toni negri

pessoal, social, local, nacional, globalmente, a luta continua, companheiro.

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