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Funções da Polpa
Langeland (1982), com muita propriedade, relata as funções da polpa, que são: de formação,
nutrição, sensorial e defesa.
Função Formadora:
Durante a invaginação da lâmina dentária no tecido conjuntivo ocorre uma concentração das
células mesenquimatosas, conhecida como papila dental, diretamente abaixo do órgão dental.
A papila dental torna-se nitidamente evidente por volta da oitava semana embrionária nos
dentes decíduos anteriores, evidenciando-se mais tarde nos dentes posteriores e, ainda mais
tarde, nos dentes permanentes.
Função Nutritiva:
(Brännströn verificou que em pacientes adultos, esses prolongamentos ocupam apenas 1/3 dos
canalículos dentinários, sendo o restante prenchido por líquido intersticial).
Função Sensorial:
Uma das funções da polpa é a de responder às agressões com dor. Ela apresenta em seu
interior terminações nervosas livres.
Função Defensiva:
Uma das funções da polpa é a de responder às agressões com inflamação. Os irritantes, seja
qual for a origem, estimula uma resposta quimiotática que impede ou retarda a destruição do
tecido pulpar.
A inflamação, portanto, é uma ocorrência normal e benéfica. Todavia, também desempenha um
papel destrutivo na polpa. A polpa bem vascularizada tem surpreendente capacidade de defesa
e recuperação. A desintegração completa será o resultado final se os agentes nocivos forem
suficientementes intensos e duradouros.
Como foi dito anteriormente, o movimento circulatório pulpar tem capacidade de remover o
agente irritante. Devemos ter em mente que se atuarmos em dentina, estamos atuando em
tecido conjuntivo complexo dentina-polpa e qualquer distúrbio em um, refletirá no outro.
O organismo humano está constantemente submetido a estresse que podem ser de três
intensidades:
- Subfisiológico,
- Normo-fisiológico
- Suprafisiológico.
No estímulo subfisiológico, que está abaixo do limiar de excitação, o organismo não responde.
O normo-fisiológico determina resposta fisiológica do organismo, adaptando-o à vida. O
suprafisiológico desencadeará ruptura do equilíbrio, podendo levar o organismo à doença ou à
morte.
Quando a agente agressor (cárie) estiver na dentina, mas sua agressão estiver dentro do
normo-fisiológico, o complexo dentina-polpa reage fisiologicamente, lançando mão dos meios
normais de mecanismos ativos de obliteração dos canalículos dentinários e formação de
dentina secundária irregular (dentina reparadora).
Sabemos que todas as vezes que a cárie atinge a dentina, a polpa responderá, porque a
dentina e a polpa formam um único complexo.
Como já dissemos, na polpa encontra-se apenas terminações nervosas livres, logo, sob
qualquer estímulo (térmico, elétrico) ela só responde de uma forma: DOR.
Microbiana:
Em casos raros, os microrganismos penetram na cavidade pulpar pelo forame apical (via
retrógrada). No decurso de doenças septicêmicas, a contaminação poderá ocorrer por via
sangüínea. O incidente, no entanto, ocorre em polpas previamente inflamadas. Este fenômeno
é conhecido como anacorese.
Físicas:
Mudanças térmicas: frio e calor exagerados provocam alterações pulpares. Exemplo: calor
provocado pelo alta rotação sem refrigeração adequada.
Traumas acidentais, pancadas sobre o dente podem ocasionar a ruptura do feixe vásculo-
nervoso. Movimentos ortodônticos bruscos ou com força exagerada. Restaurações excessivas
no sentido oclusal podem ocasionar forças exageradas sobre o dente.
Químicas:
A manifestação subjetiva é, sem dúvida, a dor, que surge quando a polpa sofre ação direta do
irritante, ou quando este a alcança indiretamente, através da dentina. A sensação dolorosa é a
resposta instantânea ao estímulo. Nem sempre, porém, há correspondência entre a gravidade
da lesão pulpar e a intensidade da dor provocada.
A presença de dor realmente insinua, no mínimo, distúrbio funcional da polpa. Não se conclui,
porém, que a ausência de fenômenos dolorosos revela polpa normal.
Sempre que ocorrer perda de substância dental, não importando a causa que desencadeou
(cárie, fratura, abrasão, trauma operatório), ficam dentina e polpa sujeitas a estímulos
anormais.
Assim, desde que a cárie atinja a dentina, esta fica diretamente sujeita aos estímulos do meio
bucal. Então, aumentam os produtos de agentes microbianos. A cárie caminha para a completa
destruição da coroa e os dentes não assistem inertes à sua ruína. O primeiro mecanismo de
defesa, quando a cárie atinge a dentina, é a obliteração dos canalículos dentinários, ao redor
do sítio atacado (dentina translúcida). Os canalículos obliterados tornam-se impermeáveis aos
microrganismos e às toxinas, mas raramente, porém, o estacionamento da cárie é definitivo.
A dentina secundária irregular não deve ser confundida com a dentina secundária regular. Esta
junta-se à dentina primária durante toda a vida do órgão dental, submetido à excitação normal.
Sua deposição é centrípeta e uniforme por todo o contorno da cavidade pulpar, reduzindo
assim o volume, sem contudo modificar a forma geral.
Nesta fase inicial do processo patológico há, portanto, equilíbrio entre as agressões e as
defesas. Até a cárie atingir a metade da espessura da dentina, o agente agressor pode estar
dentro do normo-fisiológico. No momento em que ela atinge metade da espessura da dentina
(relação esmalte-polpa), a intensidade da agressão será mais acentuada.
Daí para frente, o irritante transpõe o limite normo-fisiológico e modifica as reações de defesa.
Não se elaborará mais dentina secundária irregular. Os odontoblastos começam a se deficitar e
aparece uma dentina osteóide, que se caracteriza por defeitos de calcificação.
Assim que a cárie transpõe 3/4 de dentina, os odontoblastos se atrofiam e fica inibida a
formação da dentina. A polpa, neste estado, será rapidamente colocada em contacto com a
cavidade bucal (polpa exposta).
A) Inflamatórias
B) Degenerativas
Assim, as designações hiperemia (pulpite focal reversível), pulpite serosa, pulpite supurativa,
indicam apenas estados evolutivos do mesmo processo patológico e não doenças distintas da
polpa, como poderá parecer ao menos avisados.
Neste estado, a inflamação pode regredir sem deixar estigmas, desde que seja eliminado a
causa que a motivou. Porém, se o agente agressor continua, a inflamação se agrava de tal
modo que maior quantidade de exsudato difunde-se no interior do tecido conjuntivo. Esse
exsudato, de natureza serosa, infiltra-se na malha conjuntiva exercendo pressão sobre os
vasos e nervos.
Como a polpa está circunscrita por paredes não-elásticas (dentina), ela tem uma capacidade
de dilatação limitada e, então, a inflamação, na tentativa de vencer o agente agressor, acaba
por destruir os próprios tecidos da mesma. A esse estado de inflamação mais intensa dá-se o
nome de pulpite. A partir desse momento, a polpa está irremediavelmente perdida.
Na chamada pulpite crônica (forma aberta), a polpa comunica-se com o meio bucal, e nesta
condição, à medida que os exsudatos são formados, vão sendo drenados para o exterior.
Nesse caso, os sintomas subjetivos atenuam-se e a morte pulpar requer algum tempo para se
efetuar. Concomitantemente, surgem reações no periápice.
Na chamada pulpite aguda (forma fechada), em que a polpa não se comunica com o meio
exterior, o desfecho da inflamação dá-se rapidamente e os fenômenos de pericimentite são
mais perigosos.
Pulpite crônica hiperplásica: Ela ocorre, principalmente, em molares jovens com ampla abertura
da câmara pulpar. A polpa exposta apresenta-se com formação de um pólipo de cor
avermelhada.
Esclerose Pulpar
Nódulos pulpares
Degeneração Hialina:
Degeneração Gordurosa:
A reabsorção interna (ilustrada abaixo) recebe o nome de mancha rósea quando o processo de
reabsorção ocorre na coroa dental, porque a cor da polpa é refletida, por transparência, pelo
esmalte. A reabsorção interna pode afetar a coroa e a raiz do dente e pode determinar, com
sua evolução, a perfuração da parede do canal radicular.
Reabsorção interna
O confronto direto entre o cirurgião-dentista e o paciente sempre foi e será o verdadeiro banco
de prova de nossa capacidade profissional, pois nesse estado, muito melhor que em qualquer
outro, pode demonstrar-se a vocação pela arte de curar.
O paciente mais simples pode tornar-se, quando bem orientado, um cuidadoso intérprete do
próprio sofrimento, e mesmo uma linguagem pobre pode transformar-se em instrumento eficaz,
contanto que o interlocutor saiba traduzi-la em termos exatos da semiologia clínica.
Para estabelecer o diagnóstico das pulpopatias, faz-se necessário conhecer os sintomas. A dor,
como sabemos, não se manifesta de uma só forma, porém, apresenta, características
diferenciais importantes, podendo ser agrupadas em quatro categorias: dor espontânea;
pulsátil; atenuada e constante, e dor noturna.
Sempre que estivermos diante de um problema de análise de dor devemos pensar nas
sequintes situações:
Térmicos
A hiperemia ou pulpite focal reversível precede a pulpite aguda. Trata-se de uma lesão
reversível, mas não deixa de ser um sinal de alarme, indicando que a resistência pulpar vai
chegando ao limite extremo. Seu diagnóstico é de suma importância para evitar o sacrifício
inutil da polpa.
Se a hiperemia for acudida em tempo, eliminando a causa, ela regride e a polpa volta à
normalidade. Mas, se a hiperemia for abando-nada à própria sorte, caminha inexoravelmente
para a pulpite aguda.
3 - A dor é deflagrada, sobretudo pelo frio e cessa assim que se estabelece o equílibrio térmico.
Na fase inicial da hiperemia, a dor é provocada e de curta duração, e desaparece num pequeno
espaço de tempo.
4 - À medida que o processo inflamatório evolui, o total desaparecimento das dores provocadas
se torna cada vez mais demorado, devida ao progressivo retardamento da drenagem venosa.
5 - Num estado mais avançado surgem dores aparentemente espontâneas, mas na verdade
são dores provocadas por estímulos mínimos, tais como o aumento do fluxo sangüíneo
cefálico, que ocorre no decúbito dorsal ou depois de trabalho muscular prolongado.
Fase de Transição:
Nesta fase, as dores se tornam incômodas e o paciente necessita do emprego de
ANALGÉSICOS para eliminá-las. As dores são intermitentes, isto é, comportam intervalos
assintomáticos.
O encurtamento destes intervalos e a ineficácia cada vez mais acentuada dos analgésicos
indicam que a polpa vai esgotando sua capacidade defensiva e que está iminente o
estabelecimento da pulpite aguda. Nesta situação a reversibilidade é problemática.
Pulpite Aguda
Ela é exacerbada com o aumento da irrigação cefálica (paciente deitado). Nos curtos intervalos
entre duas crises o alívio é quase completo. A DOR da pulpite aguda é contínua sem ser
permanente.
Nos períodos de relativo alívio ela pode ser provocada, ou mais exatamente, exacerbada pelo
CALOR. Tocando-se o dente com guta-percha aquecida, produz-se DOR VIOLENTA que
persiste mesmo após o restabelecimento da temperatura anterior. O frio, exceto nos períodos
de acalmia, alivia a dor.
Na pulpite aguda a dor é espontânea, exacerbada pelo calor, contínua e raramente localizada.
Em fases mais adiantadas, as dores assumem um caráter nevralgiforme e pode irradiar-se para
todo o hemi-arco e mesmo, para regiões mais distantes.
Freqüentemente, otalgias são oriundas de pulpite aguda nos molares inferiores. Dores
provinientes de caninos e incisivos superiores projetam-se para zona infra-orbitaria e a dos pré-
molares e molares superiores irradiam-se, respectivamente para o sinus e para a região
temporo-occipital.
Pulpites Crônicas
O sintoma subjetivo desta pulpite crônica é a ausência de dor espontânea. A dor só ocorre
quando provocada, por exemplo, durante a mastigação ou ao toque de algum instrumento. O
sinal, ou sintoma objetivo marcante, é a presença de cárie profunda com exposição da câmara
pulpar e a presença de um pólipo.
O tratamento desta pulpite depende de uma análise bem aprimorada, pois se o dente
apresentar estrutura coronária suficiente para receber uma restauração, se responder negativo
à percussão vertical e se as polpas dos canais radiculares estiverem sadias, pode-se optar por
uma pulpotomia, caso contrária, pela pulpectomia.
Esta pulpite também apresenta dor provocada ao toque ou à mastigação de alimentos sobre a
polpa. Como sinal observa-se cárie profunda com exposição pulpar e esta, com aspecto de
uma úlcera.
As pulpites crônicas podem tornar-se agudas clinicamente, quando por qualquer motivo a
câmara pulpar for obliterada. O exsudato, não tendo via de drenagem, comprime os tecidos da
polpa, dando o quadro típico de pulpite aguda.
As doenças degenerativas são definitivas e, via de regra, não são acompanhadas de sintomas
subjetivos.
Ainda falta muito estudo semiológico dos sintomas dessas doenças. Por esse motivo, seu
diagnóstico é estabelecido por acaso. No exame radiográfico de rotina pode-se diagnosticar
doenças degenerativas insuspeitáveis, tais como nódulos e reabsorções internas.
Eventualmente, dores nevralgiformes originam-se de processos degenerativos cálcicos,
principalmente nos molares (hipóteses).
Quando a reabsorção da dentina ocorre ao nível do colo, observa-se uma tonalidade rósea na
porção cervical da coroa, originando o nome de mancha rósea.
Em qualquer exame clínico há que se fazer o uso de radiografias, pois elas indicam a presença
de cárie, material restaurador, relação cárie-polpa, condições do periápica, reabsorções
internas, calcificação do órgão pulpar.
Update 29 de julho de 1997. Esta página foi elaborada com o apoio do Programa incentivo à
Produção de Material didático do SIAE - Pró-Reitorias de Graduação e Pós-Graduação da
USP.
Artigo publicado no Odontologia.com.br em 1 de Outubro de 2001, no endereço:
http://www.odontologia.com.br/artigos.asp?id=272