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de 1989)
francês, bem como os dados que nos vão chegando relativos a outros
*Publicado inicialmente na RCL nº 9 (1989), foi posteriormente actualizado como capítulo do livro O
Fenómeno Televisivo, Lisboa, Círculo de Leitores, 1995.
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Em primeiro lugar, o caso francês. Poder-se-ia pensar que a questão das
TSF. Os debates eram, por essa altura, bem mais intensos e calorosos... Mas,
indo um pouco mais atrás na história, seria possível ver, quer no serviço postal,
acabavam por ser dadas e, no princípio dos anos 20, três estações de rádio
Sr. Tardieu, através de um insensato golpe arbitrário que, num outro país que
monopólio da rádio (...). Não tendo nós um posto de emissão, é-nos interdito
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reacção» . Pouco depois, no entanto, era a Frente Popular a receber o mesmo
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de quinze horas de programas por semana para cerca de 100 receptores, boa
2Jean Autin, "Les organismes français de service publique face a l'avenir", Revue de l'UER , vol. XXXV,
nº 5, Septembre, p.37.
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Só em 1953 é afirmada a intenção de se estabelecer um monopólio da
financeira.
dizer que lhe era concedida uma maior autonomia face ao poder político.
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De 1978 para 1981 opera-se à derradeira mudança: se a Lei de 28 de
86, como forma de retardar a televisão privada, o certo é que esse interesse
(«A radiodifusão francesa deve ter diariamente uma política nacional de defesa
dos interesses da França...», ou os de Roger Frey em 1959 («O Estado dispõe
relativamente do poder (“Não sou testemunha directa senão desde 1982, mas,
em relação a este período, foram-nos dados os meios para poder afirmar que
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Nação, com o serviço do governo» - Jeanneney, op. cit.: 75) , o facto é que
nem por isso a partir de então as críticas deixaram de ser mais acesas do que
eram antes...
seis anos, mais tarde alargada até 1952, já como Ente Italiano per la Audizione
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Após o 25 de Abril de 1945, com a democracia-cristã no poder, foram
havia adoptado para a RAI só a partir de finais dos anos 60 passa a ser
dentro e fora com greves e ocupações das instalações. Por outro lado, estudos
passo atrás, mas já seria tarde... A partir de então, as redes locais florescerão
televisão em toda a Itália! Obviamente que deste total apenas poucas centenas
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teriam emissões regulares ou mesmo esporádicas, mas não deixa de ser um
imperava.
cinco vezes mais do que os três canais da RAI. O mercado assim prosseguiu,
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ora dando a primazia à RAI, ora aos canais de Berlusconi, até que o próprio
próprio governo havia quem considerasse que a nova lei deveria ser
canais televisivos». 4
4 “Televisão privada gera debate político”, Diário Popular, Lisboa, 29 de Agosto de 1981.
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exigência jurídico-constitucional, mas uma decisão política que pode adaptar-
do Estado».
empresa pública, mas estabelecer uma gestão indirecta exige uma decisão do
orgânica».
votava contra uma proposta de lei apresentada pela agora oposição, mais
5 “La Izquierda no quiere una TV privada”, Cambio 16, nº. 540, Madrid, 5 de Abril de 1982, p. 49.
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o momento de regulamentar a televisão privada por razões técnicas e
televisão pública.
artifício para fazer ver como liberalização televisiva o que na realidade não é
mais do que um conjunto de normas restritivas» 6
. Também os grupos
6 “La Oposición anuncia que recurrirá al Tribunal Constitucional contra la Ley de Televisión Privada”, El
Pais, 15 de Abril de 1988.
7 Idem.
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contundente era apresentada deste modo: “Según los optimistas, las nuevas
antes de dos años. Así, un documento que ya nace viejo, en desfase respecto
Los interesses políticos han viciado de origen ese proyecto, destinado a que el
de cada canal, 40 por cento deverá ser proveniente dos países da CEE e 50
por cento em “expressão originária espanhola”. Quarenta por cento dos filmes
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exibidos por mês deverão ser de produção comunitária e pelo menos 50 por
poderão emitir-se filmes comerciais antes de passarem dois anos sobre a sua
José Borrell, com esta lei a Espanha passava a destacar-se, na Europa, como
o país que mais tinha avançado em termos legislativos no domínio das auto-
aos municípios no desenvolvimento dos serviços uma vez que passavam a ser
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regiões, é obrigatório também incluir o canal ou canais de televisão local que
é limitado e que, portanto, devem ser objecto de disposições que garantam que
8 Rôle et Gestion des Télécommunications dns une Société Démocratique, Conseil de l’Europe,
Assemblée Parlementaire, Strasbourg, 1975.
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A primeira parte desse projecto apresentava um conjunto de quatro
interesses das regiões e das minorias, mas que não sejam exclusivamente
cultura;
informação;
nível europeu.
parlamentares, etc. Era ainda convicção profunda dos autores da proposta que
e cultural da radiotelevisão.
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nestes organismos europeus quanto ao papel e à gestão das telecomunicações
primeira metade dos anos 70, é importante notar como Robert Wangermée
que as pressões pela televisão privada se começavam a fazer sentir cada vez
mais: “(...) Se, apesar de todas as críticas, o princípio do monopólio foi mantido
monopólio não poderia criar senão outras televisões que teriam os mesmos
europeu, já em plena década de 80. Veja-se, por exemplo, como Sergio Borelli
via a questão em meados da década: «Será possível restabelecer o conceito
atravessamos?».
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O princípio da década de 80, no entanto, havia ficado marcado pelo
apresentava como um documento para “uma nova ordem mundial mais justa e
televisão dizia respeito, este “manual” - assim lhe chamou o seu autor -
tipo de informação.
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reinvestir o essencial dos resultados de exploração no desenvolvimento da
radiodifusão», etc.
dos próprios programas» - o que seria entendido pela UER como uma
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o caso da Globo, já Sergio Borelli, na sua introdução ao dossier distribuído aos
dedos de uma mão os programas europeus que passam nos canais dos
Estados Unidos; mas, para contar os enlatados americanos nos nossos écrãs,
apoio estatal da ordem dos 80 por cento do orçamento anual, sendo os outros
20 por cento cobertos pela publicidade. «Se a televisão comercial é uma
Day (Publivision Inc.), que ainda se referiria aos “mecenas” que patrocinam
cerca de 150 emissoras públicas têm. Mais grave era a situação em Espanha:
alterou, foi para pior...), sendo a TVE quase totalmente subvencionada pela
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desaparecido os programas “minoritários” em favor dos de “audiências
Television Task Force, presidida por Giscard d’Estaing. Fazendo-se eco das
legislação espanhola.
10 Europe 2000: What Kind of Television, Report of the European Television Task Force, The European
Institute for the Media, Manchester, 1988.
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desenvolvida; no domínio também da publicidade, onde é imperioso distinguir
audiência a nível europeu. Hoje, à distância, podemos ver que se ficou apenas
toleráveis. 11
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nacional e, para além do mais, a função do serviço público é, segundo o
alternativa importante face aos serviços transmitidos por satélite, tendo sempre
outros, isto é, não deve ser considerado como um serviço apenas económico,
fazer uma outra reflexão que nos permita distanciarmo-nos um pouco do tipo
pleno desfuncionamento.
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Habermas dizia haver ainda uma possibilidade de um consenso racional e
mudança da ordem social deveria implicar não apenas a tecnologia mas mudar
privados ocupados pelas grandes redes no horário nobre e por redes locais e
regionais no resto do tempo; o resto dos espaços livres seria atribuído aos
público, não podem assim ser colocadas fora do âmbito de reflexão sobre o
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estratégia de consolidação enquanto referente central das práticas sociais,
Mas se, por um lado, o Estado não vai alienar uma prática e a sua
público de televisão, por outro lado, ele cede neste mesmo campo quando
responde com iguais argumentos (leia-se: programas, conteúdos, modelos) à
público”.
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Bibliografia
SHARF, Albert (1986) “Le radiodiffuseur national dans une communauté: son
rôle et sa contribution”, Revue de l’UER, vol. XXXVII, n º 6, Novembre.
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