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“Para uma defesa moral do jornalismo e de sua especificidade ética”

Aline Baroni

Karam sustenta, no capítulo 3 de seu livro “Jornalismo, ética e liberdade”, como idéia principal, que a
ética jornalística somente deve ser formulada a partir de um debate teórico.
Para isso, inicia uma crítica a Janet Malcolm. Segundo ele, o jornalismo é uma atividade importante
moralmente e distinta das outras, ao contrário do que propõe Malcolm ao dizer que o jornalismo é
moralmente indefensável. Karam defende que o mundo é impensável sem o jornalismo e que essa atividade
possui uma “potencialidade grandiosa de reconstituir cotidiana e pluralmente o mundo”. Combatendo a
posição de Malcolm, para quem o jornalismo se prende ao presente, Karam acredita na indispensabilidade do
jornalismo tanto para o presente como para o futuro na medida em que constitui uma forma de apropriação e
de autoprodução diária da realidade.
As deficiências do jornalismo, para ele, não podem ser generalizadas. O jornalismo não apenas se
submete ao que já é dado, mas vislumbra aquilo que ainda não é. Trata-se de uma mediação diária com a
realidade, em uma atividade que nos permite ter acesso àquilo que acontece no mundo.
Para a formulação da ética jornalística é preciso situá-la em sua importância ontológica e
epistemológica para a humanidade desvendar as particularidades do ato de divulgar (que cabe ao
jornalismo), entendendo que esse é completamente diferente do fazer (que cabe a outras profissões). Ao
jornalismo cabe, portanto, a mediação direta e global – entender que há o mundo, períodos nele inscritos e
tratar dos acontecimentos que interessam ao público. Esse processo, que Karam chama de “periodização
informativa” é o compromisso ético do jornalismo, que permite às pessoas participarem do mundo. É
necessário ao jornalismo refletir sobre a feitura diária da informação e o gesto técnico competente e
politicamente consciente.
A primeira medida para se formular uma ética do jornalismo é indagar sobre os problemas
detectáveis na profissão. São perguntas que exigem debate e reflexão e cujas respostas requerem relações
específicas entre a prática e a sociedade e, portanto, não podem ser generalizações que comparem a ética
jornalística à de qualquer outra profissão. A questão da ética jornalística, para ele, está na capacidade de
distinção entre os acontecimentos de relevância pública e a obrigação de publicá-los, atendendo a princípios
de pluralidade social, em uma tentativa de ampliar o direito à informação.
Usando as idéias de Cremilda Medina, Karam aponta que o jornalismo, como forma de conhecer a
realidade, é também uma fonte de acesso ao fato histórico e, portanto, pode servir para o homem passar a
protagonista da ação social.
Para Karam, atualmente, os códigos são quase meramente referências formais afastadas da
convicção interior dos jornalistas. No entanto, a consciência da dimensão ética pode redefinir a atuação
pessoal e técnica cotidiana do profissional. A crise na ética jornalística se dá, por sua vez, nos monopólios e
oligopólios da propriedade dos meios, na incompetência na apuração e redação, na exposição da vida
privada sob o pretexto de interesse público, além de vários outros fatores que o autor elenca –
resumidamente, a crise se dá por não se levar em conta a responsabilidade que a atividade jornalística exige.
Daí a necessidade do debate teórico citado no início.

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