Professional Documents
Culture Documents
162831.doc
63
O ASSASSINO
ARTHUR SCHNITZLER
(1861-1931 - Áustria)
médico de bordo.
Logo nos primeiros dias, o ar marítimo pareceu ter
efeito benigno sobre Elise. Sua palidez sumiu, sua
fisionomia tornou-se mais alegre, e ela mostrou-se mais
espontânea do que Alfred jamais tinha percebido. E
enquanto antes Elise se mantivera indiferente e até
hostil a qualquer aproximação de estranhos, por mais
inofensivos que fossem, agora ela não fugia às
conversas em comum, do tipo que a vida a bordo trazia,
e recebia com satisfação as respeitosas homenagens de
alguns passageiros do sexo masculino. Sobretudo um
barão alemão, que esperava encontrar no mar a cura de
uma enfermidade crônica dos pulmões, ficava tão
freqüentemente próximo de Elise como seria possível
sem chegar a ser importuno; e Alfred teria até se
convencido de que o comportamento encorajador que
Elise dispensava a este, o mais amável de seus
admiradores, era o sinal bem-vindo do florescimento de
uma nova inclinação. Mas quando, certa vez, fingindo
irritação com sua chocante amabilidade, Alfred tentou
pedir uma explicação a Elise, ela lhe declarou sorridente
que toda sua recente espontaneidade diante de outros
não tinha tido nenhuma outra finalidade senão
despertar os ciúmes do amante, e que ela se alegrava
de forma indizível pelo êxito de seu ardil. Dessa vez,
Alfred não conseguiu mais esconder sua impaciência,
sua decepção. Replicou à sua confissão, mediante a
qual Elise pensava tê-lo tranqüilizado e alegrado, com
palavras de uma dureza desconhecida para ela; em
meio a uma sombria perplexidade, ela resistiu àquelas
12 / 30
162831.doc