Professional Documents
Culture Documents
Abstract
This article seeks to introduce the debate on the announced “knowledge society”
and to reflect on the origin of its contradictions, taking as theoretical and metho-
dological references the categories of Italian Marxist thinker, Antonio Gramsci.
It is founded on the basic economic, political, and ideological contradictions
of the globalized world. It is understood that in the condition of a dependent
country, it is fundamental to reflect on the contradictions of this globalized
world and their impacts on the historical specificity of Brazilian society in order
to find elements for an effective action to overcome those contradictions.
Keywords: Knowledge Society, Human Capital, Gramsci.
“...a observação mais importante a ser de telecomunicações, microeletrônica, a “cibercultura” (cultura digital e
feita sobre qualquer análise concreta biotecnologia, informática e robótica, tecnologias inteligentes) e vislumbra
das relações de força é a seguinte: tais entre outros, transformou as matrizes a possibilidade de se elaborar um
análises não podem e não devem ser produtivas básicas e ampliou as projeto de “inteligência coletiva”,
fins em si mesmas (...), mas só adquirem possibilidades de produzir bens e global.
um significado se servem para justificar serviços. Ampliaram-se, também, os Já Frigotto (2001)2 alerta sobre
uma atividade prática, uma iniciativa da sistemas de base democrática e o o ideário conservador que vem
vontade” (Gramsci). movimento em direção à constituição sendo difundido frente às poderosas
de formas novas e mais ativas de redes de informação: “o de que
INTRODUÇÃO organização da sociedade civil. Por estamos iniciando um novo tempo
outro, constatam-se o aumento da para o qual devemos nos ajustar
No cenário mundial do final do desigualdade entre países e regiões irreversivelmente – o tempo da
século XX, constata-se, de um lado, e da pobreza mundial, taxas elevadas globalização, da moder nidade
os enormes progressos alcançados de desemprego e a precarização do competitiva, de reestruturação
nos campos do conhecimento trabalho, com perdas substantivas dos produtiva e de reengenharia –, do
e tecnológico. A expansão sem diretos sociais conquistados. qual estamos defasados e devemos
precedentes das inovações nas áreas Em relação às novas tecnologias nos ajustar”.
da comunicação e informação, alguns Trata-se, segundo Nogueira
* Professora Assistente da Universidade Santa “otimistas” enfatizam a capacidade de (2002)3, das contradições existentes
Úrsula. Doutoranda em Serviço Social – Po- produção e difusão do conhecimento na “cibercultura” ou na “sociedade
líticas Sociais, pela Universidade Federal do que essas “ferramentas” possibilitam. do conhecimento”. Para o autor:
Rio de Janeiro - UFRJ. Mestre em Educação Pierre Lévy (1998)1, por exemplo, “Ainda que seja evidente, hoje, o
– Movimentos Sociais e Políticas Públicas,
pela Universidade Federal Fluminense – UFF.
anuncia uma mutação nos modos crescimento das possibilidades de uma
E-mail: vcmotta@superig.com.br. de comunicação, de acesso ao saber, maior comunicação entre povos e
de pensamento e de trabalho com indivíduos graças à rápida difusão da
Recebido para publicação em: 04/04/06.
O décadas.
Sobre o acesso à internet:
- os 20% mais ricos da população
ultimamente vem se configurando
uma forte exclusão dos países
mais pobres ao acesso a pesquisa -
conhecimento mundial possuem 93,3% dos acessos à “geração, processamento, transmissão
internet, os 20% mais pobres, apenas e apropriação do conhecimento
mais elevado 0,2% e os 60% intermediários, apenas e das informações necessárias a
6,5%. esse conhecimento”, colocado por
é privilégio de Sobre a apropriação de redes Rouanet - e à condição de influir nas
telefônicas: linhas de pesquisa que atentam as
poucos, de uma - 20% da população mundial que suas necessidades básicas.
vive nos países mais ricos possui 74% Há profundas disparidades
pequena parcela, das linhas telefônicas do mundo, existentes entre os avanços
enquanto os 20% mais pobres têm tecnológicos e as condições de vida
e a produção do apenas 1,5%. da maioria da humanidade. Conforme
Considerando que a concepção dados do Banco Mundial (1998):10
conhecimento é da “sociedade do conhecimento” está - quase 1,3 bilhão de pessoas
privilégio de um diretamente relacionada ao contexto
da globalização da economia e que
ganham menos de um dólar por dia,
vivendo na pobreza extrema;
grupo restrito, a base dos avanços tecnológicos é a
pesquisa e o desenvolvimento para o
- 3 bilhões de pessoas, metade
da população mundial, recebe uma
cada vez mais aumento da produtividade, verifica-se
que há também uma enorme distância
renda que não excede os dois dólares
diários, encontrando-se em situação
restrito. nas oportunidades tecnológicas entre
países centrais e periféricos, uma
de pobreza;
- 3 bilhões de pessoas não possuem
vez que os gastos ou investimentos serviços de saneamento básico;
em pesquisa estão concentrados nos - 2 bilhões carecem de eletri-
países ricos: cidade;
- em 1993, 84% do gasto mundial - 1,4 bilhão de pessoas não tem
de apropriação do conhecimento, em pesquisa e desenvolvimento água potável.
até então, não são para todos. era realizado em apenas dez países As condições extremas de pobreza
No Brasil, assim como na maioria que, com isso, eram os principais e as carências de condições mínimas
dos países periféricos, os veículos orientadores de prioridades e das na prevenção em saúde afetam outro
de comunicação e de informação agendas de pesquisa. campo fundamental, a nutrição.
permanecem na direção de uma - 95% das patentes eram Segundo dados da Organização
minoria. O conhecimento mais controladas por esses países. E 80% Mundial da Saúde (1998)11:
elevado é privilégio de poucos, de das patentes outorgadas em países - 828 milhões de pessoas dos
uma pequena parcela, e a produção em desenvolvimento foram dadas países em desenvolvimento padecem
do conhecimento é privilégio de a residentes
um grupo restrito, cada vez mais de países
restrito.
Ao tentar compreender a “sociedade
do conhecimento” enquanto utopia,
Rouanet nos instiga a observar as
condições concretas para a realização
desta utopia, principalmente nos
países dependentes.
Analisando alguns dados em
relação ao acesso aos veículos de
comunicação e de informação no
âmbito global, segundo os dados
levantados pelo Informe sobre
Desenvolvimento Humano do PNUD
(1999)8, constata-se que há uma
brecha enorme entre países ricos e
pobres, e que, segundo o próprio