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Alguns atos psíquicos só podem ser explicados por outros atos, os quais a
consciências não pode provar. Estes atos incluem as parapraxias e sonhos em
pessoas sadias, mas também tudo o que é descrito como sintoma psíquico ou
obsessão nas doenças mentais.
Freud vai nos falar de uma consciência inconsciente, ou atos psíquicos que
carecem de consciência.
Assim como Kant nos advertiu para não desprezarmos o fato de que as nossas
percepções estão subjetivamente condicionadas, não devendo ser consideradas
como idênticas ao que, embora incognoscível, é percebido, assim também a
psicanálise nos adverte para não estabelecermos uma equivalência entre as
percepções adquiridas por meio da consciência e os processos mentais
inconscientes que constituem seu objeto.
Freud iniciou pensando que quando um ato psíquico ou uma idéia ´que esteja no
sistema Ics é transposto para o sistema Cs essa transição acarreta um novo
registro ou seja um segundo registro situado no Cs. A questão é saber se quando
transposta a idéia para o consciente ela ainda permanece no inconsciente? Ou a
transposição faz apenas uma mudança no estado da idéia ou seja o mesmo
material só que em outra localidade?
Freud nos adverte porém que a identidade entre a informação dada ao paciente e
sua lembrança reprimida é apenas aparente, ouvir algo e experimentar algo são
coisas distintas, embora o conteúdo de ambas seja o mesmo.
No inconsciente um instinto não pode ser representado a não ser por uma idéia,
se o instinto não se prende a uma idéia ou não se manifestou como um estado
afetivo nada poderemos conhecer sobre ele, logo um impulso instintual é uma
representação ideacional sempre inconsciente.
Mas como ficam os sentimentos, as emoções e os afetos inconscientes.? Faz
parte das emoções que estejamos conscientes delas, assim pensar em uma
emoção inconsciente seria uma negação das emoções , dos sentimentos e afetos
porém muitas vezes falamos em amor inconsciente e ansiedade inconsciente o
que é paradoxal.
De fato, os dois casos não são idênticos. Em primeiro lugar, pode ocorrer que um
impulso afetivo ou emocional seja sentido mas mal interpretado.
É interessante lembrar que o que a repressão quer não é suprimir a idéia mas a
quota de afeto que decorreu dela e senão conseguir suprimir o afeto, sua
finalidade não será alcançada.
A rigor, então, e ainda que não se possa criticar o uso lingüístico, não existem
afetos inconscientes da mesma forma que existem idéias inconscientes.
Pode, porém, muito bem haver estruturas afetivas no sistema Ics., que, como
outras, se tornam conscientes. A diferença toda decorre do fato de que idéias são
catexias — basicamente de traços de memória —, enquanto que os afetos e as
emoções correspondem a processos de descarga, cujas manifestações finais são
percebidas como sentimentos.
Com freqüência, contudo, o impulso instintual tem de esperar até que encontre
uma idéia substitutiva no sistema Cs. O desenvolvimento do afeto pode então
provir desse substituto consciente e a natureza desse substituto determina o
caráter qualitativo do afeto.
A repressão faz com que ocorra uma ruptura entre o afeto e a idéia e cada um
deles sofrerá vicissitudes isoladas, o afeto porém na maioria dos casos não se
apresenta até que se cole a uma nova apresentação no sistema Cs.
Podemos pensar então que a repressão retira a catexia da idéia, mas em que
sistema ocorre a retirada da catexia e a qual sistema pertence a catexia retirada?
Devemos lembrar que a idéia reprimida permanece no Ics e continua agindo, logo
deve ter conservado sua catexia, assim o que lhe foi retirado não deve ter sido a
catexia mas outra coisa. Que outra coisa?
Notemos, além disso, que baseamos essas reflexões (por assim dizer,
intencionalmente) na suposição de que a transição do sistema Ics. para o sistema
seguinte não se processa pela efetuação de um novo registro, mas por uma
modificação em seu estado, uma alteração em sua catexia. Aqui, a hipótese
funcional anulou facilmente a topográfica.
Porém a repressão primeira ( recalque) não tem catexia pré-consciente para ser
retirada pois esta idéia inconsciente não recebeu qualquer catexia do Pcs, logo
não pode ter essa catexia retirada dela.
Ponto de vista econômico – Neste caso o aparelho psíquico seria levado devido
às quantidades de excitação a chegar a alguma forma de descarga.
Na histeria da ansiedade – Surge uma ansiedade sem que o indivíduo saiba o que
teme, logo supomos que determinado impulso amoroso se encontra presente no
Ics exigindo ser transposto para o sistema Pcs, mas a catexia a ele dirigido pelo
sistema Pcs retrai seu impulso e a catexia libidinal inconsciente da idéia rejeitada
é descarregada sob a forma de ansiedade.
A observação clínica revela, por exemplo, que uma criança que sofre de uma fobia
animal experimenta ansiedade sob duas condições: em primeiro lugar, quando seu
impulso amoroso reprimido se intensifica e, em segundo, quando percebe o
animal que teme. A idéia substitutiva atua, no primeiro caso, como um ponto em
que há uma passagem através do sistema Ics. para o sistema Cs., e, no outro,
como uma fonte auto-suficiente para liberação da ansiedade.
As intensidades catexiais [no Ics.] são muito mais móveis. Pelo processo de
deslocamento uma idéia pode ceder a outra toda a sua quota de catexia; pelo
processo de condensação pode apropriar-se de toda a catexia de várias outras
idéias.
Seria não obstante errôneo imaginar que o Ics. permanece em repouso enquanto
todo o trabalho da mente é realizado pelo Pcs. — que o Ics. é algo liquidado, um
órgão vestigial, um resíduo do processo de desenvolvimento. Também é errôneo
supor que a comunicação entre os dois sistemas se acha confinada ao ato de
repressão, com o Pcs. lançando tudo que lhe parece perturbador no abismo do
Ics. Pelo contrário, o Ics. permanece vivo e capaz de desenvolvimento, mantendo
grande número de outras relações com o Pcs., entre as quais a da cooperação.
Em suma, deve-se dizer que o Ics. continua naquilo que conhecemos como
derivados, que é acessível às impressões da vida, que influencia constantemente
o Pcs., e que, por sua vez, está inclusive sujeito à influência do Pcs.
O conteúdo do sistema Pcs. (ou Cs.) deriva em parte da vida instintual (por
intermédio do Ics.) e em parte da percepção. Desconhecemos até que ponto os
processos desse sistema podem exercer influência direta sobre o Ics.; o exame de
casos patológicos muitas vezes revela uma incrível independência e uma falta de
suscetibilidade à influência por parte do Ics. Uma completa divergência de suas
tendências, uma total separação dos dois sistemas, é o que acima de tudo
caracteriza uma condição de doença. Não obstante, o tratamento psicanalítico se
baseia numa influência do Ics. a partir da direção do Cs., e pelo menos demonstra
que, embora se trate de uma tarefa laboriosa, não é impossível.