Professional Documents
Culture Documents
Objetivos
Neste trabalho procuramos definir o perfil dos municípios saudáveis e alguns de seus focos de
maior importância. Através de sua definição, contexto histórico, legislação envolvida e exemplo
de um município saudável brasileiro (Curitiba - PR), pretendemos estabelecer um panorama
deste projeto, permitindo um entendimento de sua aplicação na promoção de saúde e
qualidade de vida; não apenas na forma de projetos sociais, mas como uma filosofia de
integração da população e seus dirigentes municipais, enfatizando a saúde dentro de uma ótica
ampliada de qualidade de vida.
4
Introdução
5
Definição
Desde o século XIX, a saúde pública tem sido motivo de preocupação para os estados. Nesse
período houve um aumento de trabalhadores nas fábricas, onde as pessoas se aglomeravam
em qualquer lugar e de qualquer maneira, havendo um crescimento súbito de pobreza, crimes,
mortalidade, doenças, sujeira.
Para diminuir a pobreza, acreditava-se ser necessário sanear o meio ambiente. Tornava-se
econômico adotar medidas preventivas. Legislações e departamentos de saúde foram criados,
se sustentando por mais de 50 anos e a saúde pública continuou investindo nas cidades.
Nesse nosso século, assistimos a importantes mudanças da saúde pública e a importantes
crises que estão relacionadas às transformações históricas, as pessoas passaram a viver mais,
os níveis de urbanização cresceram, doenças foram descobertas.
É um período em que se evidenciaram as diferenças, os ricos cada vez mais ricos e as
desigualdades vão aumentando, era preciso repensar o interesse pela saúde pública pelo
preventivo.
Para a melhora da saúde seria necessário um incremento da disponibilidade de alimentos, em
um ambiente saudável.
Para se alcançar a saúde são sugeridas e implementadas as chamadas estratégias de
promoção, ou seja, para melhorar as condições de vida e saúde não basta apenas curar as
doenças, é necessário atuar sobre as condições sociais.
É com esta preocupação que começam os primeiros indícios de iniciativas por cidades
saudáveis, este é um movimento que tem origem nos países desenvolvidos.
Apesar de suas bases serem universais, a implementação de uma cidade saudável guarda
diferenças e significados. Nos países ricos os principais determinantes da má qualidade de vida
estão em boa parte solucionados: as pessoas têm acesso à educação, saúde, saneamento
básico e renda. Enquanto isso, nos países pobres a economia é mal distribuída e isso reflete a
crise em que vivemos, que se reflete no crescimento da pobreza e de doenças.
Portanto, podemos verificar que a filosofia e as diretrizes do movimento por cidades saudáveis
no primeiro mundo não são suficientes para atender às necessidades dos países pobres e dos
países em desenvolvimento.
6
Como poderíamos definir uma cidade saudável frente à nossa realidade?
1 – A primeira constatação que podemos fazer é a de que uma cidade não se transforma em
saudável “por decreto”;
2 – Em segundo lugar, “saudável” não faz referência a um estado, porque qualquer que seja o
estado de saúde que se alcance, sempre poderá melhorar;
3 – Uma cidade também não é “saudável” porque ali se realizam ações de saúde;
7
Contexto histórico
No século XIX o mundo todo sofreu um crescimento estrondoso na parte demográfica. Contudo
não se fez um planejamento para acompanhar esse desenvolvimento; a resposta para essa
transformação é observada hoje através da situação de abandono em que municípios e seus
centros de saúde se encontram.
Nessa época surgiram preocupações semelhantes ao Movimento Cidades Saudáveis presentes
no Brasil e mundialmente. Em 1840, iniciou-se um importante processo de urbanização na
Europa, conseqüente da alta natalidade, causando a deteriorização nas condições de vida das
populações carentes que se tornaram vulneráveis à epidemias por doenças infecto contagiosas.
Para conter essas crises surge então as Associações pela Saúde das Cidades, exigindo
reformas que o governo se recusava em realizar. Essa luta tinha como objetivo mudanças nas
leis para melhoria da situação física das cidades representada por mudança nos padrões de
habitação, regulações higiênicas, pavimentação nas ruas, sistema de abastecimento de água e
de eliminação de dejetos. Esse movimento teve grande influência na política pública dos países
desenvolvidos, porém com a era bacteriológica, a descoberta da insulina e sulfamidas este
ficou em segundo plano.
Foi então que a prevenção pessoal ganhou ênfase, impulsionando a “era terapêutica” que não
tinha uma posição favorável e nem bem desenvolvida. O impacto foi tal que podia se afirmar em
um novo conceito de interesse social e político pela saúde pública devido, também, a algumas
pesquisas, como a de Mckeown (1982), na Inglaterra, e o Informe Lalonde (1996);
caracterizando essa fase de “Novas perspectivas de saúde dos canadenses”, onde
questionaram o poder da medicina para resolução independente dos problemas de saúde.
Para estabelecer medidas sobre o novo movimento que surgiu a OMS criou a conhecida
Declaração de Alma Ata sobre atenção primaria à saúde em 1977.
Os elementos principais de todas essas iniciativas, segundo Ashton (1992), foram o interesse
pela pobreza, necessidade de reorientação dos serviços de saúde, a importância da
participação comunitária e o desenvolvimento de coalizões entre o setor público, setor privado e
o voluntariado. O conceito de promoção de saúde, que reforça a importância da ação ambiental
e da ação política, bem como a mudança do estilo de vida, foram muito importantes como
referências para o movimento. Entende-se promoção de saúde como um processo através do
qual a população se capacita e busca os meios para conseguir controlar fatores que favorecem
8
seu bem-estar e o da comunidade ou que podem estar pondo-a em risco, tornando-a vulnerável
ao adoecimento e prejudicando sua qualidade de vida (Ministério da Saúde, 1996).
Até essa fase, foram apenas intenções e iniciativas de projetos que surgiram. Após o congresso
“Para Além da Assistência à Saúde” em Toronto, que discutiu ideário de Cidades Saudáveis, é
que realmente se lançou o Projeto Cidades Saudáveis, pioneira que se desenvolve hoje no
Brasil.
A proposta do projeto citado foi elaborado pela OMS/Escritório Europeu, sua data oficial deu-se
em março de 1986, Lisboa, e deveria durar cinco anos. As cidades selecionadas adotaram os
princípios definidos da OMS e os adaptaram conforme a carência de cada município,
transformando-os em programas locais de saúde e desenvolvimento urbano com a articulação
entre setor público, privado e voluntariado para enfrentar os problemas de saúde, já que esse
projeto envolve não só área hospitalar, mas de saneamento, engenharia civil, etc, ampliando as
bases. Existem projetos em desenvolvimento em todas as regiões do mundo, alguns bastante
solidificados, outros ainda bastante fragilizados pela diversidade dos problemas, má distribuição
de rendas e muitos outros.
9
Legislações dos Municípios Saudáveis
IDENTIFICAÇÃO:
- Nome da entidade executora;
- Nome dos membros ou equipe técnica responsável pela elaboração;
- Data da elaboração;
10
- Período de abrangência do plano (gestão).
I – INTRODUÇÃO:
Apresentar os aspectos técnicos, administrativos e políticos que motivaram a elaboração do
Plano.
II – OBJETIVOS:
1) Geral – Descrever a proposta geral do plano;
2) Específicos – Detalhar o objetivo geral com a finalidade de cumprir as propostas e metas
traçadas.
III – DIAGNÓSTICO:
1. Características Gerais do Município:
- Histórico (origem e formação);
- Estado / Região / Município (acrescentar mapa);
- Limites, localização, divisões territoriais (Linhas e Distritos);
- Principais Rodovias;
- Municípios Abrangentes (regional);
- Distância média dos municípios vizinhos, do centro de referência da região e da capital.
2. Aspectos Demográficos:
- População total: Distribuição por sexo, faixa etária, rural e urbana;
- Dinâmica populacional: Análise de pirâmide e curva de crescimento populacional, migração,
população flutuante, eventos populacionais típicos (festas comemorativas, festas folclóricas e
anuais, etc) e atípicos (congressos, seminários, eventos em geral, etc);
- Densidade Demográfica (número de habitantes por Km2).
• Educação:
- Rede de Ensino Pública e Privada de 1º e 2º Graus;
- Número de alunos matriculados por faixa etária;
- Número de escolas existentes (1º, 2º e 3º Graus, e profissionalizantes);
- Taxa de alfabetização (percentagem);
- Taxa e principais causas de evasão escolar;
- Número de creches e vagas.
4. Diagnóstico Epidemiológico:
Os dados deverão ser analisados por profissionais de nível superior, com base em uma série
de cinco (05) anos. Descrever e analisar os dados resultantes dos serviços de saúde coletiva.
4.1. Vigilância Epidemiológica: especificar a organização do Serviço de Epidemiologia (em
nível central e na rede de assistência).
- Descrição e análise do perfil da mortalidade geral, proporcional por faixa etária, sexo e grupos
de causas mais freqüentes;
- Descrição e análise do perfil da mortalidade infantil e por causas específicas;
- Descrição e análise da mortalidade materna;
- Descrição e análise do número de casos e incidências das doenças transmissíveis e de
notificação compulsória;
- Descrição e análise do serviço de imunização;
12
- Descrição e análise do perfil da morbidade ambulatorial, hospital e das urgências /
emergências.
- Tipo de Unidades (posto de saúde, centro de saúde, PAM, clínicas, laboratórios, unidades
mista / integrada de saúde e hospitais);
- Propriedade (Rede Pública, Privada e Contratada);
- Localização das unidades de saúde;
- Estado de conservação das unidades de saúde (edificações e equipamentos) e entidade
mantenedora;
- Funcionamento dos Serviços (sistema de referência e contra-referência, horário de
atendimento e atividades desenvolvidas);
- Número de consultórios médicos e odontológicos por unidade de saúde e número de
laboratórios;
- Número de leitos (ativados e desativados) distribuídos por clínicas, UTI, Pronto Socorro, etc;
- Equipamentos especializados e de maior complexidade por unidade de saúde (Rx, ultra-som,
microscópio, equipamento odontológico, aparelho de eletrocardiograma, endoscopia, etc).
13
5.3. Produção dos Serviços: Deve ser informada e analisada a média mensal (em percentual)
de cobertura dos serviços dos últimos três (03) anos. Não é necessário enviar cópias dos
boletins mensais das Unidades de Saúde. Estas informações devem estar contidas na análise
global da produção de serviços com inclusão da descrição e análise dos dados sobre:
atendimento odontológico, exames laboratoriais (rotina e especializado), cobertura vacinal,
percentagem de investigação epidemiológica, palestras educativas, visitas domiciliares,
atendimento de enfermagem, atividades coletivas e/ou de grupos, consulta médica, consulta de
outros profissionais de nível superior, etc.
V – PROGRAMAÇÃO:
Com base na descrição e situação atual apresentada no tópico III (Diagnóstico), onde foram
identificados e caracterizados os problemas e necessidades de saúde, deve-se apresentar,
neste tópico, a programação e orçamento global de ações e serviços para o período de
Governo. A cada ano efetua-se a revisão e adequação da programação e reprograma-se as
ações e serviços conforme a avaliação do Sistema de Saúde Municipal.
14
A programação global para o período de Governo e as programações anuais encaminhadas
para cada exercício devem conter:
- A definição das PRIORIDADES e dos OBJETIVOS – (o que fazer, a partir da identificação dos
problemas, suas causalidades e levantamento das alternativas de interação);
- A definição das ESTRATÉGIAS DE AÇÃO – (como fazer, observando a coerência, a
consistência e a viabilidade de execução das metas e alternativas propostas).
VI – CONTROLE E AVALIAÇÃO:
O sistema de controle e avaliação tem o objetivo de apreender em que medida as metas estão
sendo alcançadas, a que custo, e reorientar o curso das ações e serviços programados. Cada
município deverá criar o seu sistema de controle e avaliação. Sugerem-se como recursos
operacionais para o sistema de controle e avaliação:
15
O Sistema de controle e avaliação deve abordar os seguintes aspectos:
16
Exemplo de Cidade Saudável e seus Focos – Curitiba (PR)
Neste trecho do trabalho será exibido um panorama da situação e das ações que levaram a
cidade de Curitiba (capital do Estado do Paraná) a se tornar um município saudável. Dessa
forma, será possível identificar o alguns dos focos de maior importância para a integração de
uma cidade no movimento por municípios saudáveis.
1) Participação: envolver, de uma maneira apropriada, em cada estágio, todos aqueles que
têm interesse legítimo na iniciativa sendo avaliada;
17
2) Múltiplos métodos: buscar um delineamento que utilize elementos de vários campos
disciplinares, lançando mão de vários procedimentos para coletar dados;
Esses aspectos devem servir como norteadores das propostas de avaliação na área da
Promoção da Saúde para preservar sua singularidade. Contudo, como foi indagado por
(Francisco & Butterfoss, 2003), como poderemos sabe se estamos fazendo alguma diferença
com nossas iniciativas de Promoção de Saúde nas comunidades que se tornam alvo de
implementação das mesmas? Questões relacionadas com a escolha das questões avaliativas,
ou a relevância dos dados utilizados para responder tais questões ou, ainda, o rigor com que
tais respostas podem ser avaliadas e generalizadas para outros contextos populacionais devem
ser objeto de nossa preocupação constante.
A primeira dificuldade na avaliação de iniciativa de implementação de Promoção da Saúde e,
em última instância, de cidades / comunidades saudáveis ocorre porque geralmente há forte
dependência do contexto comunitário da intervenção, bem como normalmente se apresenta
uma grande diversidade de questões sociais e de saúde, utilizando-se de vasta gama de
estratégias.
Tal complexidade, desafiadora em si mesma, é ampliada pela necessidade de se usar com
freqüência a avaliação de processo, ou seja, uma mensuração qualitativa de mudanças
intermediárias na realidade sob intervenção – se não diretamente, ao menos com o recurso de
construtos teórico – metodológicos que façam algum sentido ou mantenha alguma relação
consistente com o fenômeno estudado.
A literatura sugere alguns níveis de construção teórica – metodológica a serem considerados: a)
individual, especialmente quanto à participação cívica; b) organizacional; c) intersetorial; d)
comunitário. Tal abordagem inclui conceitos advindos da teorização sobre a construção de
capacidade (ou competência) comunitária, ecologia sócio-ambiental e planejamento urbano.
Respeitando-se as advertências anteriores e buscando-se preservar o postulado de coerência
paradigmática, o que inclui a noção de complexidade, discute-se a experiência de Curitiba, com
18
particular ênfase na avaliação de processo que vem ocorrendo simultaneamente à
implementação gradual e sistemática de ações de Promoção da Saúde, com vistas a uma
cidade saudável.
Curitiba vem construindo uma experiência de gestão pública que centraliza esforços na
organização de espaço urbano, valorizando a responsabilidade social na construção de uma
cidade mais justa e democrática para todos.
A participação social tem sido uma estratégia de “empoderamento”, criando oportunidades de
educação para cidadania, socialização de informações, envolvimento no diagnóstico e na
tomada de decisões e execução dos projetos sociais, resultando no compartilhamento de
responsabilidade na gestão da cidade.
A implementação de políticas saudáveis impõe uma agenda de gestão que implica a ações
intersetoriais. Entre os grupos de atores interessados na questão da saúde humana, na cidade,
há um reconhecimento que a forma hegemônica, biomédica, de intervenção do setor saúde
apresenta baixo impacto sobre os graves e complexos problemas de saúde do mundo
moderno. Agravos de gênese complexa, como a violência, tornam evidente esta posição. O
conhecimento especializado e fragmentado não tem capacidade de explicar os problemas e
nem ação setorial estrita capacidade de resolvê-los.
A concepção ampliada de saúde exige que profissionais e instituições, com campo de ações ou
de interesses ligados à saúde, assumam a responsabilidade de atuar como mediadores entre
estes diversos interesses que atravessam a produção da saúde. Assim, a intersetorialidade
surge como proposta de uma nova forma de trabalhar, de governar e de construir políticas
públicas voltadas para a promoção da saúde e melhoria da qualidade de vida.
No caso curitibano, a intersetorialidade foi, muito cedo, traduzida pelo estabelecimento de
alianças estratégicas. Estas são compreendidas como relações e acordos estabelecidos entre
os diferentes interlocutores, representados por setores e organizações, com o objetivo de
alcançar as metas almejadas. As alianças estratégicas mais comuns se estabelecem com
agências governamentais, instituições de saúde e outros setores tais como educação, justiça,
legislação, transporte, cultura e esportes, organizações não-governamentais (ONGs), escolas,
agentes de comunicação, grupos religiosos e organizações públicas e privadas. Conforme
19
salienta uma publicação recente da Organização Pan-Americana de Saúde, todos estes atores
vêm provando serem parceiros potenciais.
Intersetorialidade é a articulação entre sujeitos de setores sociais diversos e, portanto, com
saberes, poderes e vontades diversos, para enfrentar problemas complexos. Desta forma, a
abordagem intersetorial da promoção da saúde ou o processo de construção da
intersetorialidade não está isento de conflitos, contradições e problemas. A experiência concreta
de intervenção na cidade demonstra claramente a necessidade de criar espaços de
compartilhamento de saber e poder, construir novas linguagens e novos conceitos, desenvolver
capacidade de escuta e negociação. É preciso reconhecer que nenhum setor tem poder
suficiente para dar conta do problema sozinho que ação intersetorial pode possibilitar uma ação
mais potente e resolutiva.
Dificuldades apontadas na literatura vêm sendo vivenciadas cotidianamente na gestão da
saúde pela via da intersetorialidade, tais como a ausência de cultura de ação intersetorial e
dificuldade de financiamento de ações intersetoriais. A dificuldade de romper as relações
tradicionais de trabalho, em que o segmento que detém o poder acaba prevalecendo nos
processos de decisão, aliada a dificuldade de profissionais de saúde em olhar para além do
objeto especifico de sua atuação, muitas vezes em situação contaminadas pelo corporativismo
profissional, caracterizam aspectos da cultura institucional geral do setor publico. Além disso, as
rubricas dos orçamentos públicos são predominantemente setorizadas, o que reforça a
dificuldade de compartilhamento de poder entre os atores envolvidos e dificulta a agilização e
resolutividade das ações.
Como argumentam Feuerwerker & Costa, para facilitar o processo é preciso desenvolver
instrumentos de planejamento e avaliação de projetos intersetoriais e capacitar os diversos
atores envolvido no trabalho intersetorial, principalmente para o desenvolvimento de habilidades
de articulação e negociação. Esta é, portanto, a primeira grande estratégia, essencial para o
desenvolvimento de ações intersetoriais na cidade, que será explorada como exemplo de
avaliação de processo e de implementabilidade.
O projeto Vida Saudável é uma política pública desenvolvida pela Prefeitura de Curitiba à partir
de 2000. A articulação dos participantes é feita pela Secretaria Municipal da Saúde em parceria
com as secretarias municipais da área social, como a de Educação, Esporte e Lazer,
Abastecimento, a Fundação de Ação Social e a Fundação Cultural de Curitiba, além da
Diretoria de Trânsito, recebendo apoio da Secretaria Municipal de Administração.
O objetivo é acolher as demandas e reconhecer as necessidades expressas por comunidades
dos oito distritos e 75 bairros da cidade e, em interlocução horizontal com as mesmas, discutir
caminhos sustentáveis para o enfrentamento de seus problemas. Com visão ampliada dos
atores envolvidos, o que inclui a formação recíproca de competências entre os técnicos e os
cidadãos para promover a saúde individual e coletiva, definem-se ações direcionadas para a
população e para o ambiente onde esta população vive.
Espaços públicos como parques e espaços comunitários são transformados em áreas de
democratização da educação em saúde, e de estímulo à atividade física, adoção de hábitos
alimentares saudáveis, atividades culturais e de lazer, educação ambiental, entre outros,
22
criando oportunidades de participação que favorecem o “empoderamento” e aquisição de
habilidades da população para uma vida mais saudável.
Entre os anos de 2001 e 2003, em torno de 500 mil pessoas participaram dos 285 eventos
realizados nos vários espaços públicos da cidade, conduzidos com a participação de
funcionários municipais, comunidade acadêmica, ONGs, organizações de classe, instituições
privadas e atores voluntários da comunidade. A demanda crescente por materiais educativos, o
interesse da mídia em divulgar as atividades realizadas e o número de solicitações para
realização de eventos em comunidades e instituições reafirmaram a necessidade e a busca das
pessoas por suporte a práticas saudáveis.
Contudo, não bastam a intenção e a visão bem-intencionadas, delegando à sociedade civil a
responsabilidade pela manutenção de tais práticas saudáveis. É preciso firme investimento
público, com uma ação consistente e estruturada na afirmação de responsabilidades do poder
público, menos em ações voluntariosas e isoladas e mais em políticas intersetoriais articuladas.
À partir de 2002, novos desafios apontavam para a necessidade de direcionar ações e
investimentos para fortalecer o suporte ao desenvolvimento de espaços sociais saudáveis que
garantissem a possibilidade de escolhas saudáveis.
A criação de ambientes saudáveis surge como campo de ação prioritário na área de promoção
de saúde. O termo “ambiente” incorpora não apenas a dimensão “física ou natural” mas
também cultural, social, política e econômica.
O envolvimento de universidades, empresas e escolas da cidade foram se delineando
simultaneamente ao processo de estabelecimento de uma política de alianças, voltada para
construção de caminhos de participação, responsabilização e reconhecimento institucional na
gestão pública da promoção de saúde na cidade. Este cenário reforça a responsabilidade do
setor público, em conjunto com a sociedade, de dar suporte e garantia de uma vida saudável
aos cidadãos que vivem em Curitiba.
Os seguintes objetivos vêm sendo perseguidos na operacionalização da proposta:
5) Criação, à partir desta experiência, das bases para integração gradativa de outras
instituições na cidade, apoiando a criação de uma Rede Curitibana de Ambientes
Saudáveis, composta pelas instituições comprometidas com a implementação e
sustentação do projeto;
• Sua contribuição para a saúde pode ser caracterizada pela atuação sobre três áreas
distintas: a) criação de ambientes de trabalho, aprendizagem e vivências saudáveis para
estudantes e funcionários; b) ampliação da importância da saúde, promoção de saúde e
da saúde pública no ensino e na pesquisa; c) desenvolvimento de alianças para a
promoção de saúde e atuação comunitária.
27
SUBPROJETO ESCOLA SAUDÁVEL
O reconhecimento da importância do trabalho para a saúde tem avançado para além das
tradicionais doenças ocupacionais. A discussão sobre o impacto da atividade física no trabalho,
da exposição a substâncias físicas e químicas, da influência sobre estilos de vida e
comportamentos tais como o fumo, dieta, atividade física, e mais recentemente, a contribuição de
fatores psicossociais no trabalho para o gradiente de saúde e doença, tem influenciado
significativamente o conceito e as práticas de promoção de saúde em locais de trabalho.
Promoção de saúde em locais de trabalho compreende todas as medidas assumidas por
empregadores, empregados e pela sociedade para melhorar a saúde e o bem-estar de pessoas
no trabalho. Suas ações envolvem comportamentos individuais e condições de trabalho.
Ações de promoção de saúde combinadas com saúde ocupacional e práticas de segurança no
trabalho têm demonstrado um aumento na produtividade, na qualidade de produtos e processos
e no controle de custos. Além disto, o aumento do nível de conscientização individual sobre
29
saúde e comportamentos positivos em saúde têm sido evidenciados como resultados positivos de
práticas de promoção de saúde efetivas.
Com base na experiência desenvolvida localmente e no conhecimento disponibilizado na
literatura, os seguintes fatores podem ser identificados como essenciais para efetividade de
ações de promoção de saúde em locais de trabalho:
ADOLESCENTE SAUDÁVEL
Esta intervenção foi lançada em 30 de novembro de 2002, para todas as Unidades de Saúde da
Secretaria Municipal da Saúde de Curitiba, preenchendo uma lacuna da atenção voltada aos
adolescentes entre 10 e 20 anos.
Busca levar o acolhimento solidário e a atenção integral à saúde do adolescente, de maneira
descentralizada, sensibilizando e capacitando a equipe multi-profissional de todas as Unidades
de Saúde, em consonância com as diretrizes do Sistema Integrado de Saúde de Curitiba e do
SUS. A atenção integral incorpora ações realizadas pela área da saúde e em parceria com
organizações governamentais e não-governamentais, sempre pelo viés do protagonismo juvenil.
Isto induz o adolescente a desenvolver sua autonomia e responsabilidade, indispensáveis para a
construção de um adulto saudável.
Inicialmente 400 adolescentes multiplicadores foram capacitados por técnicos das Secretarias de
Educação e Saúde. Em 2004 o projeto Sexualidade-Prazer em conhecer será implantado em
parceria entre a Prefeitura Municipal de Curitiba, através da Secretaria da Saúde e da Educação,
30
Unimed e Fundação Roberto Marinho. É prevista a capacitação de professores das 11 escolas
municipais e 10 unidades de Saúde envolvidas com estas escolas.
MULHER DE VERDADE
A violência contra mulher constitui violação dos direitos humanos e liberdades fundamentais e se
trata de um fenômeno que atinge mulheres de diferentes etnias, religiões, níveis de escolaridade
e classes sociais.
Em março de 2002 a Secretaria Municipal de Saúde de Curitiba lançou o Programa de
Atendimento à Mulher Vitima de Violência, com o enfoque principal na estruturação da proposta
teve como princípios básicos: o atendimento humanizado, a atenção integral e a integração entre
os serviços de saúde, de segurança pública, a área social e jurídica e a sociedade civil
organizada.
Nesta perspectiva, estruturam-se no município três hospitais de referência para o atendimento e
acompanhamento das vitimas de violência sexual. Formulou-se, também, um Protocolo de
Atendimento que contempla ao diferentes aspectos pertinentes a questão. Ou seja: estabelece
um fluxo de atendimento desde as Unidades de Saúde até os serviços de referência, com
orientações detalhadas dos procedimentos que os serviços devem adotar e as informações
importantes a serem repassadas para a vítima.
Parceria estabelecida entre as Secretarias de Estado da Saúde e da Segurança proporcionou um
trabalho integrado entre as equipes dos hospitais e dos médicos peritos, fazendo com que a
vítima passasse a ser atendida de modo integrado no próprio hospital.
Currículo, ensino e aprendizagem: o currículo formal e informal (ou o currículo “oculto”) favorece
a aquisição de informações e desenvolvimento de atitudes que capacitam a comunidade
universitária (ou escolar) a tornar-se mais autônoma e responsável em questões relativas à
saúde individual e coletiva. Ou seja:
Organização universitária (ou escolar), ethos e ambiente: a universidade (ou escola) desenvolve
políticas internas voltadas para a saúde que definem princípios, regras e expectativas
desenhadas para encorajar ambientes saudáveis e comportamentos positivos em saúde. Isto
inclui:
32
• A existência de programas de saúde e segurança no trabalho;
33
• a universidade (ou escola) estabelece parcerias com instituições comunitárias para
desenvolvimento de projetos voltados para a melhoria da qualidade de vida da
população;
• a empresa desenvolve políticas internas voltadas para a saúde que definem princípios,
regras e expectativas desenhadas para encorajar ambientes saudáveis e
comportamentos positivos em saúde;
35
Considerações Finais
Dentro do que foi mostrado até agora, é possível constatar que o Movimento por Cidades
Saudáveis não se trata apenas de uma iniciativa louvável no sentido de uma tentativa da melhora
da qualidade de vida de um município, mas sim de um ideal de extrema importância e que
compõe uma peça vital para o alcance da saúde em todos os sentidos da palavra.
Desde seu passado, no início do século XIX, passando pela Declaração de Alma Ata e até os
dias de hoje; o Movimento por Cidades Saudáveis vem provando, nas localidades onde foi
implantado com êxito, que sua realização só traz benefícios, não apenas no que se refere à
saúde propriamente dita, mas no campo da eqüidade social, cultural e individual da população.
Se pudesse haver em todos os lugares, uma integração entre a população, as autoridades e os
diversos setores de uma cidade, como as de um município saudável (como no caso de Curitiba-
PR), não somente o Brasil, como diversos locais do mundo seriam imensamente melhores para
se viver, trabalhar e desenvolver.
36
Referências Bibliográficas
Textos da Internet
- MOYSÉS, Samuel Jorge; Simone Tetu Moysés; Márcia Cristina Krempel. Avaliando o processo
de construção de políticas públicas de promoção de saúde: a experiência de Curitiba.
Disponível em www.abrasco.org.br. Acessado em 23/05/05.
37