You are on page 1of 3

1HZVJDPHVRHPEDUDOKDPHQWRGHIURQWHLUDVHQWUHMRUQDOLVPRHYLGHRJDPH



&UpGLWRGDVLPDJHQV5HSURGXomR

Yuri Almeida é jornalista, especialista em Jornalismo Contemporâneo, pesquisador do


jornalismo colaborativo e edita o blog herdeirodocaos.com sobre cibercultura, novas
tecnologias e jornalismo. Contato: hdocaos@gmail.com / twitter.com/herdeirodocaos

Historicamente, o jornalismo se apropriou da linguagem e técnicas de outros meios para


a produção de notícias. Assim foi com o cinema, na elaboração de documentários, da
narrativa literária para o exercício do QHZ MRXUQDOLVP ou jornalismo literário e,
recentemente, a utilização de componentes do vídeogame para a elaboração de conteúdo
jornalístico, prática denominada de jornalismo vídeogame, newsgames, editorial games
ou jogo noticioso.

O debate sobre qual terminologia traduz a melhor forma de se descrever/definir um


fenômeno pela ciência é marcado por polêmicas e indecisões conceituais. Por uma
questão didática, utilizarei o termo newsgames para definir jogos digitais baseados em
conteúdo jornalístico difundidos via Internet. A notícia é o LQSXW para a criação do
newsgames, que tem como característica a narrativa multimídia e a interatividade. As
notícias quentes (KDUGQHZV) não são os melhores laboratórios para a elaboração de um
newsgames, tanto por uma questão de tempo de produção como a sua baixa duração na
agenda midiática. Portanto, as notícias frias e/ou acontecimentos mais duradouros ou
relevantes (tragédias, eleições, doença) são os mais utilizados para a formulação de um
jogo baseado em notícia. Vale ressaltar também, que a linha editorial de cada veículo de
comunicação se reflete na concepção do game, na sua proposição ou até mesmo na
caricatura dos personagens envolvidos na narrativa.

8PFDPSRDLQGDHPH[SHULPHQWDomR

Tom pacifista predomina no Play Madrid


Um dos primeiros newsgames foi o Play Madrid, lançado pelo jornal ElPaís, em 2004,
que resgata o atentado terrorista na capital espanhola em 2004 e convoca o leitor a
manter as “chamas acessas” pelo pacifismo.

No Brasil, a Superinteressante lançou no ano passado alguns games baseados nas


matérias de capa da revista, como o Jogo da Máfia, onde o leitor precisa se infiltrar
neste mundo para identificar o funcionamento da máfia em localidades diferentes, a
venda de escravos entre outras “missões”. Cabe destacar que a matéria abordava a
atuação da máfia, com dados, depoimentos, investigação e o game, neste caso,
possibilitava ao leitor maior interatividade com a informação e engajamento na luta
contra a prática ilegal.

Game foi suporte para matéria de capa da revista

No campo da política, durante as eleições de 2008, o portal Uai, de Minas Gerais,


influenciado pelo Candidate Match Game, do USA Today, colocou no ar o newsgames
Eleições 2008 que teve como objetivo auxiliar o leitor na escolha do candidato à
prefeitura de Belo Horizonte. O jogo era simples, o jornal fazia uma série de perguntas
sobre diversos temas e no final indicava qual postulante estava mais concatenado aos
anseios e/ou expectativa do usuário.
Newsgame buscou auxiliar leitor na escolha candidato

Apesar de alguns autores conceituarem a relação games e notícia como uma nova forma
de se “ fazer” jornalismo, penso que atrair uma parcela da audiência, principalmente o
público jovem, e potencializar a interatividade junto aos leitores dos jornais é o foco
central das experiências jornalísticas. Isso porque, o que define o jornalismo não é o seu
formato (rádio, TV, internet, papel), mas sim, o conteúdo e as rotinas de produção.
Deste modo, utilizar a linguagem e suporte de um game significa utilizar um novo meio
para difundir informação. Além disso, a nova gama de leitores já nasceu apertando
botões, interagindo com máquinas e “ borrando” cada vez mais a fronteira do físico e do
virtual. Para este público uma simples manchete, um lead e uma foto não é um produto
atraente.

Estudo da Poynter (site especializado em ciberjornalismo) indica que a taxa de retenção


de informação, mesmo com elementos multimídia é de 50%, enquanto com os
newsgames essa taxa oscila de 70 a 80%. A pesquisa sinaliza que os newsgames podem
ser um importante aliado para atrair uma geração de leitores que há muito ameaçava
abandonar o consumo de jornais. Por fim, os números ratificam a tese que a notícia no
ciberespaço deve encarada como o princípio de algo e não um fim em si própria,
potencializando o caráter hipertextual da Web. É preciso arquitetar a notícia de uma
forma alinear e possibilitar diversas “ rotas de navegação” para o público nas páginas
dos veículos de comunicação.

*Publicado originalmente na Revista Espírito Livre, edição 4. Para download -


http://www.revista.espiritolivre.org/?p=251

You might also like