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DEPARTAMENTO DE LETRAS
LITERATURA PORTUGUESA 3
PROF. JOSÉ RODRIGUES
ALUNA: PRISCILA MILANEZ
AMOR DE PERDIÇÃO
Uma breve reflexão sobre o romance de Camilo Castelo Branco
Amor de Perdição foi escrito quando Camilo tinha 36 anos e estava na prisão é
cronologicamente o seu décimo quinto romance, nele podemos encontrar um escritor
artisticamente mais maduro. Posso dizer que o texto de Camilo é uma literatura de
entretenimento, sem grandes ideais literários, obrigado a escrever para sobreviver, ele
escreve para um público burguês que buscava uma literatura de prazer, o que não tira o
brilho da obra camiliana, pois ele o se texto é de qualidade.
Quando Simão volta para Coimbra, eles começam a se comunicarem apenas por
cartas. Cartas de amor intenso, arrebatador e secreto, o pai de Teresa ameaça o tempo
todo colocá-la em um convento, o pai de Teresa jamais consentiria num casamento entre
os dois e, pobre dos dois amantes! Teresa, da janela, aproxima-se de Rita, irmã mais
amada de Simão. Um dia, ambas são surpreendidas numa conversa. Tadeu Albuquerque
acredita na filha, adverte-a suavemente. Mas havia um motivo maior para essa
suavidade inusitada: o pai pretendia casá-la com um primo, Baltazar Coutinho, também
fidalgo.
O pai de Teresa começa a ameaçá-la, ele quer casá-la com seu primo Baltazar,
caso contrário, afirma que a colocará em um convento. Por conta das ameaças, Simão
parte para o Viseu e hospeda-se em casa de um ferreiro, nas proximidades da cidade, a
fim de que ninguém ali soubesse dele. E manda, através da mendiga, uma carta a Teresa.
A resposta é melhor do que esperava: ela o verá às 11h em ponto, vai abrir a portão para
ele. Na fantasia do rapaz, haveria de beijá-la, abraçá-la, tocar-lhe o rosto... Baltazar
desconfia do plano do casal ele e Simão se vêem no escuro, ameaçam-se, mas o
enamorado Botelho prefere retornar à casa do ferrador. Teresa, que passa a noite
acordada, escreve-lhe uma carta contando os fatos e não desmarca o encontro que
ambos tinham acertado.
João da Cruz, o ferreiro, conta ao rapaz que deve muito a Domingos Botelho,
que o havia livrado da forca. Revela mais: fora criado na casa dos Castro-Daire ( casa
de Baltazar) e que, há bem pouco tempo Baltazar o chamara a fim de oferecer-lhe um
"serviço": tirar a vida de um homem e que esse homem era Simão.
Conta também, que ao tomar ciência disso procurou o corregedor, pai de Simão,
e que aquele, ao tomar conhecimento dos motivos, disse que jamais consentiria num
casamento entre ambos. João da Cruz oferece-se para raptar Teresa, mas o rapaz quer
apenas sua ajuda para vê-la no fim da noite. Mariana, ao saber que ele teima em ir ver
Teresa, apesar dos perigos, chora.
Baltazar contrata dois homens para matar Simão, que se escondem à distância, e
vêem quando João da Cruz se aproxima, logo aparecem o arrieiro e Simão. João avisa
ao rapaz que dois homens estão perto da igreja e que neles reconheceu os criados de
Baltazar. Houve um tumulto, Simão entrou na porta do quintal, apertou convulsamente a
mão de Teresa e foram embora, receosos de que os criados pudessem estar esperando na
saída da cidade. Foi o que aconteceu e, no encontro, um criado de Baltazar caiu morto.
João da Cruz pede que o rapaz vá à frente; volta e mata o outro criado que havia
quebrado a perna e que, há poucos instantes implorava, de joelhos, pela vida. Simão
também saiu ferido.
Tadeu Albuquerque toma uma decisão extrema: vai internar a filha num
convento. Escolhera Monchique, onde a prioresa era uma parenta dos Albuquerque, e,
ao enviar os papéis para que ela os receba, determina que a filha fique de passagem num
convento no Viseu. É muito interessante a visão nada “romântica” que Camilo apresenta
sobre o convento, um lugar de fofocas, discórdia, intrigas, falsidade e hipocrisia.
Mariana assume os cuidados com Simão como se fosse seu próprio marido,
cuida com desvelo de seus ferimentos, prepara-lhe comida, faz companhia. Quando ele
fica sem economias, ela oferece do seu próprio dinheiro ao rapaz, fazendo com que ele
acredite que aquele dinheiro foi sido enviado pela mãe para ele.
Simão e Teresa continuam trocando correspondências, com juras de amor eterno, de
saudades e consolo através da esperança um do outro. Mariana apesar do amor que
sente por Simão, passa por cima de seus próprios sentimentos para ajudar o amado e se
propõe a entregar cartas dele a Teresa no convento. Simão fica sabendo que Teresa vai
ser transferida de convento, Mariana, ao ver o amigo desolado, chora e diz que é a
última vez que porá a mesa para ele. Pede a Simão que não saia aquela noite, nem no
dia seguinte e fica sabendo que ele deseja ver Teresa partir. Conta ao pai, que decide
acompanhá-lo. Mas Simão, em meio à noite, levanta-se e parte só. Mariana estava
velando e despede-se do rapaz. Simão chega ao convento à uma da manhã e espera até
às quatro, quando, então, ouve o barulho das liteiras.Vê Baltazar e o velho pai, que
parece alquebrado. As religiosas saem do convento e encontram Simão encostado à
parede. Teresa também o vê. Há discussão entre ele e Baltazar, e Simào o mata com um
tiro na cabeça. Apesar de João da Cruz, recém-chegado, o instar para fugir, Simão
entrega-se. Teresa vai com os criados para o Porto.
Parentes intervêm e Domingos Botelho cede, indo a Lisboa, para onde o rapaz,
posteriormente, foi levado. Intercedeu pelo filho a contragosto. O julgamento de Simão
confirmou a notícia: seria enforcado. Mariana, que estava assistindo ao julgamento,
grita desesperada depois da sentença. Mariana foi encontrada à saída do tribunal, pelo
pai, ferida e demente. Levou-a amarrada para casa, mas deixou a cargo de outra pessoa
as refeições do condenado. Em casa, Mariana sentava-se à banca e escrevia o nome de
Simão centenas de vezes, enquanto chorava, enquanto imaginava que seu sofrimento era
igual ao de Teresa.
Simão relê as cartas da amada. O ferreiro João da Cruz o visita e diz que
Mariana está curada, que vem visitá-lo em breve. Simão pede que não deixe a filha em
Lisboa, ao que o ferreiro retruca e informa ao amigo que ele tem em Viseu uma cunhada
velha que dele cuida. O homem vai entregar uma carta do fidalgo a Teresa e fala com
ela, oferece-lhe a vida de companhia. E relata, na volta, a Simão, o que falou com
Teresa, que lhe pareceu forte.
Manuel, irmão de Simão, volta a Portugal e vai visitar o irmão, ocasião em que
conhece Mariana. O corregedor fica enfurecido quando descobre que o filho está no
Porto com a concubina. Enfurecido, faz mais: dá um jeito para que a mulher de Simão
torne de volta à sua terra, o que é feito.
João da Cruz é morto pelo filho do homem que assassinara que vai procurá-lo
em casa e se vinga da morte antiga. Cabe a Simão dar a notícia a Mariana, que quase
enlouquece outra vez. Mas o rapaz a adverte que precisa dela para continuar vivendo.
Um pouco mais tarde, pede a Constança que a leve ao mirante e ficou ali, a
mirar a nau que levaria os degredados para a Índia. Quando Simão saiu, a claridade de
seus olhos apagou-se; Simão a viu nesse instante. Uma mendiga o entregou um pacote
de cartas, as cartas que eles trocaram.Ainda pôde abanar para ele um lenço branco, em
despedida. Simão pressentiu que Teresa morrera e, recolhido ao beliche, começa por ter
febres que vão, aos poucos, consumi-lo.Recomenda Mariana ao capitão do
navio,fazendo-o prometer que, em caso de sua morte, traria Mariana de volta a Portugal.
O capitão promete. Pôs- se a ler a carta de Teresa, a última entre todas.
"É já o meu espírito que te fala Simão. A tua amiga morreu. A tua pobre Teresa, à
hora em que leres esta carta, se Deus não me engana, está em descanso. Eu devia
poupar-te a esta última tortura; não devia escrever-te; mas perdoa à tua esposa do
céu a culpa, pela consolação que sinto em conversar contigo a esta hora, hora final
da noite da minha vida.Quem te diria que eu morri, se não fosse eu mesma,
Simão?Daqui a pouco, perderás de vista este mosteiro; correrás milhares de
léguas, e não acharás, em parte alguma do mundo, e pede ao Senhor que te
resgate.Se te pudesses iludir, meu amigo, quererias antes pensar que eu ficava com
vida e com esperança de ver-te de volta do degredo? Assim pode ser, mas, ainda
agora, neste solene momento, não podia viver. Parece que a mesma infelicidade
tem às vezes vaidade de mostrar que o é, até não podê-lo ser mais! Quero que
digas: - Está morta, e morreu quando eu lhe tirei a última esperança. (...)Rompe a
manhã. Vou ver a minha última aurora... a última dos meus dezoito
anos!Abençoado sejas, Simão! Deus te proteja, e te livre de uma agonia longa.
Todas as minhas angústias Lhe ofereço em desconto das tuas culpas. Se algumas
impaciências a justiça divina me condena, oferece tu a Deus, meu amigo, os teus
padecimentos, para que eu seja perdoada.Adeus! À luz da eternidade parece-me
que já te vejo, Simão!"
Após ler a carta, Simão ergueu-se. Mariana e o comandante o acompanham ao
convés, para onde ele leva o maço de cartas. O capitão teme que ele cometa suicídio, o
que Simão nega. Vieram às febres, um médico o examina e diz que está condenado. Era
27 de março, o nono dia da doença de Simão. Mariana parecia ter envelhecido, Simão
delirava, repetindo trechos das cartas de Teresa. Simão morre, em meio a convulsões e o
capitão joga-lhe o corpo ao mar. Mariana também se atira ao mar, morrendo abraçada ao
cadáver do fidalgo.
Um final mais que esperado tendo em vista o estilo do romance. Afinal amores
que não acontecem, nunca terminam, são eternos, não passam pelo peso da rotina do
casamento, não enfrentam mau humor, falta de paciência, brigas pela educação dos
filhos, crises financeiras, ou qualquer outro problema, certamente enfrentado por casais
comuns, que amam, são amados e podem concretizar este amor , nem por isso os
“amores comuns” são menos belos que o amor de Simão por Teresa e mais ainda de
Mariana por Simão, esse sim um amor de Perdição.