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2.

0 CONCEITOS E MEDIDAS DE CONSTRUÇÃO


SUSTENTÁVEL - MAIS QUANTIFICÁVEIS
A DIMENSÃO DO DESEMPENHO ENERGÉTICO-AMBIENTAL a descentralização e diversificação da oferta de energia / água,
No capítulo antecedente foram abordados, com a profundidade recorrendo, em primeira linha, a recursos naturais renováveis
possível, os conceitos e medidas da Construção Sustentável (ou renovados), para tornar mais eficientes as fontes de energia
que são menos quantificáveis. Neste capítulo desenvolvem- / água / materiais que utilizamos e para salvaguardar o direito
se os conceitos e as medidas da construção sustentável mais das gerações vindouras a usufruírem dos recursos naturais
quantificáveis. finitos;
> O terceiro passo deve ser dado no sentido de promovermos
O facto dos conceitos e medidas, de seguida desenvolvidos, a harmonização entre a procura e a oferta dos recursos
serem quantificáveis, torna-os mais propícios a consensos naturais, renováveis e não-renováveis, sem prejudicarmos a
técnicos e científicos. É, também, por este motivo que foi qualidade do serviço energia / água prestado, através de redes
definida e aprovada, pela Comissão Europeia, a Directiva de distribuição inteligentes, que permitam minimizar as perdas
2002/91/CE, entretanto transposta para lei nacional com o que resultam do actual sobredimensionamento da oferta.
DL78/06 de 4 de Abril (ver capítulo Certificação Energética),
que obriga todos os edifícios à aplicação do sistema de Todos estes passos são determinados, sobretudo, pelo Dono
Certificação Energética. de Obra, que - da mesma forma que define o programa do
projecto que encomenda (quantos quartos devem existir numa
Com este novo contexto extremamente exigente, torna-se casa ou quantos edifícios num empreendimento) - hoje tem
imprescindível o conhecimento aprofundado das melhores também a responsabilidade de definir e de garantir ao utilizador
tecnologias disponíveis para que se torne prática comum uma final a optimização do desempenho energético-ambiental dos
construção conduzir a um muito melhor desempenho edifícios que promove (sejam estes novos ou reabilitados). E,
energético-ambiental do edifício. Para que tal aconteça são, no momento em que o Dono de Obra define as metas de
seguidamente, descritas as melhores tecnologias disponíveis desempenho para o projecto está a partilhar esta nova
e aplicáveis ao contexto cultural e climático de Portugal. responsabilidade com os actores relevantes que lhe prestam
A abordagem é objectiva e o desempenho energético-ambiental serviços devendo estes, por sua vez, tornar-se solidários com
dos edifícios é quantificável - podendo os seguintes parâmetros a responsabilidade assumida pelo Dono de Obra, nas áreas
ser desagregados e medidos: em que lhes compete contribuir para as metas definidas.
> O conforto térmico, acústico, visual, olfactivo e palatal; A equipa de projecto toma, assim, a responsabilidade de se
> O consumo de energia primária utilizada para operar os tornar conhecedora das melhores tecnologias disponíveis e
edifícios; solidária para desenvolver, em conjunto, um projecto que
> As emissões de CO2 para a atmosfera; responda, de forma eficiente e económica, ao programa
> O consumo de água potável e de águas da chuva ou apresentado pelo Dono de Obra. A complexidade e a quantidade
cinzentas recicladas; de informação que é necessária processar para abraçar o
> A produção de efluentes líquidos; desafio de projectar um edifício com um excelente desempenho
> Os materiais utilizados na construção e na manutenção energético-ambiental faz com que hoje seja impossível que,
dos edifícios; no acto da sua concepção, qualquer dos elementos da equipa
> Os resíduos sólidos eliminados e a facilitação em separá- de projecto se possa isentar. Nas páginas seguintes deste
los. livro, a necessidade de envolver os especialistas nas áreas
técnicas relevantes do desempenho energético-ambiental de
Na óptica do consumo, e partindo dos valores estratégicos edifícios, ao longo de todo o processo conceptual de um
determinantes estão, em primeiro lugar, a saúde e o bem- projecto, é reflectida nos comentários que estes fazem aos
estar das pessoas, seguidos da utilização racional dos recursos conceitos e medidas descritos. Para facilitar o acesso a estes
e da preservação dos ecossistemas - existe uma hierarquia especialistas, os respectivos contactos são disponibilizados
ética (e de bom senso) que é essencial ser respeitada, ao no livro e na página da Internet www.construcaosustentavel.pt.
implementarmos os conceitos e medidas da construção É ainda importante envolver os fornecedores de sistemas e
sustentável, seguidamente descritos. É esta hierarquia que de componentes construtivos tão cedo quanto possível no
determina a sequência dos passos a dar no acto de projectar processo de concepção, exigindo-lhes que apresentem
e na mudança de práticas: soluções integradas para o projecto e que não se tornem
> O primeiro passo deve ser dado no sentido de reduzirmos apenas fornecedores de materiais. Foram seleccionados os
ao mínimo a procura de recursos naturais não-renováveis, fornecedores dos mais relevantes sistemas construtivos para
embora através de uma maior eficiência que, à partida, conduz a construção sustentável, com gabinetes técnicos capazes de
à minimização de todos os eventuais impactos negativos para responder às questões colocadas, tanto em relação a projectos
o ambiente, seja simultaneamente aumentado o conforto que para edifícios novos, como para obras de reabilitação, quando
o edifício deve oferecer aos seus utilizadores; o objectivo é a optimização do desempenho energético-
> O segundo passo deve ser dado no sentido de promovermos ambiental. Para facilitar o acesso a estes gabinetes técnicos,
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no livro vêm indicados os seus contactos, conjuntamente com senso) que é essencial respeitarmos; também esta determina
a medida em que as suas soluções se integram. Para além a sequência dos passos a dar no acto de projectar uma
da equipa de projecto e dos fornecedores, é importante envolver construção mais sustentável e a mudança de práticas.
as concessionárias que prestam os serviços de energia / água, Se, no âmbito das medidas de prevenção e de racionalização
para se atingir as metas definidas. Como Cliente, deve-se do consumo, já à partida forem dados todos os passos
exercer todo o poder para com as concessionárias, para que relevantes, as emissões, os efluentes líquidos e os resíduos
melhorem os serviços que prestam e reduzam sólidos são minimizados. A forma como, no meio edificado,
sistematicamente o respectivo impacto ambiental. Por exemplo, se pode potenciar a mitigação do impacto que resulta de
a instalação de sistemas que utilizam recursos renováveis emissões, efluentes e resíduos, é abordada na perspectiva da
(energia ou água) para prestar um serviço, tanto pode ser respectiva valorização - reintegrando, nomeadamente, estes
encomendada tanto pelos Promotores (Dono de Obra), como fluxos, sempre que possível, nos ciclos produtivos.
pelas Concessionárias, como também pelos Utilizadores
Finais.

Para garantir o seu bom funcionamento, o sistema deverá,


contudo, ser operado por uma entidade competente. Se hoje
as concessionárias possuem a competência para fornecer
energia, o passo já anunciado que se preparam para dar, no
sentido de passarem à prestação do serviço energia e de água,
deverá incluir a instalação, gestão e operação de sistemas
re n ov á ve i s d e s ce n t ra l i z a d o s . N o u t ra s p a l a v ra s ,
independentemente de quem instala o sistema que utiliza
recursos renováveis para produzir serviços de energia / água,
deverão ser entidades competentes e credenciadas a explorar
Homem à Máquina| Parque Expo
esses sistemas - ora porque não as concessionárias?
Apesar de não ser ainda uso corrente, pode resultar num
enorme benefício para o edifício a construir, se o empreiteiro Não existem ainda tecnologias disponíveis, à escala doméstica,
geral for, ele também, envolvido no processo de concepção. para sequestrar as emissões de CO2 resultantes do consumo
O objectivo deste envolvimento é torná-lo conhecedor das de energia. Mas existem sistemas de reciclagem das águas
soluções que lhe cabe orçamentar e, de seguida, possivelmente cinzentas produzidas à escala doméstica para serem
implementar, principalmente para eliminar o que ele poderá reutilizadas em rega, lavagem de espaços exteriores, em
considerar como um risco e que, como tal, acrescentará nos descargas das sanitas e, eventualmente, em máquinas de
custos para o Dono de Obra. Quanto menores as dúvidas do lavar roupa e loiça. Quanto à valorização dos resíduos sólidos
empreiteiro geral, menos inflacionado, mais justo será o valor domésticos existem contributos importantes, que dependem
da obra e menos surpresas aparecerão ao longo do intenso de infra-estruturas no meio edificado e do comportamento
processo da sua realização. Um aspecto que também não dos utilizadores finais.
deve ser subestimado é a experiência do empreiteiro geral -
que constitui uma mais-valia importante quando se consegue Os conceitos e as medidas, de seguida descritos em pormenor,
incorporá-la na definição das soluções construtivas. partem sobretudo de casos reais, testados e comprovados
por utilizadores finais; em alguns casos foram também
Na óptica do pós-consumo, os valores estratégicos e monitorizados (sendo, no caso, referido no texto de forma
determinantes a proteger são os mesmos: a saúde e o bem- clara qual foi o motivo pelo qual a medida descrita não foi
estar das pessoas, a utilização racional dos recursos e a implementada). A descrição não é exaustiva, existindo um
preservação dos ecossistemas. Também nesta etapa dos leque significativo de medidas e conceitos a explorar em
fluxos que geramos existe uma hierarquia ética (e de bom publicações futuras.

O empreiteiro geral Edificadora Luz e Alves tem experiência na implementação de todos os aspectos relacionados com a construção
sustentável descritos no âmbito deste capítulo. Para obter mais informação especifica do gabinete de informação e apoio técnico:
EDIFICADORA LUZ E ALVES, LDA
Av. 5 de Outubro 115 – 8, 1069-202 Lisboa
Tel: +351 217 936 012 | www.luzalves.pt

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2.1 CONFORTO AMBIENTAL
OS SENTIDOS EM PAZ COM O ESPAÇO
Consciente ou inconscientemente, os nossos sentidos (a percepção de conforto térmico, visual, acústico, olfactivo e palatal)
são o meio como nos apercebemos do espaço e como medimos o grau de satisfação que este nos proporciona.
Os nossos sentidos são solicitados pelas características do espaço que ocupamos e com o qual somos levados a interagir,
dependendo do estímulo. A ausência de conforto produz sofrimento e é, por isso, um grande motivador de actuação - tanto
no sentido de nos induzir a interagir de forma mais coerente com a natureza e com o clima (ao abrirmos uma janela ou
fecharmos uma porta), como no sentido de nos induzir a consumir energia (ao ligarmos o aquecimento).

O conforto ambiental é, simultaneamente, um estado físico e psicológico. A dimensão física do conforto tem sido investigada
de forma científica há largas décadas sendo medida da seguinte forma:

> Conforto térmico: medindo a temperatura de bolbo seco (ºC) e a humidade relativa;
> Conforto visual: medindo a intensidade da luz (Lux);
> Conforto acústico: medindo o ruído (dB);
> Conforto olfactivo e palatal: medindo a composição química do ar interior.

A dimensão psicológica, conforme se desenvolveu recentemente na consciência de todos os que procuram compreender
o fenómeno do conforto, veio explicar muitos dos comportamentos de pessoas em busca de conforto. A realidade é que a
nossa psique (consciente e subconsciente) determina fortemente a nossa sensação de conforto. Dizem-nos, por exemplo,
os especialistas do Martin Centre da Universidade de Cambridge que as pessoas são muito mais tolerantes com diferenças
de temperatura e de humidade relativa, quando sabem que, por iniciativa própria, podem alterar as condições atmosféricas
em que se encontram, por exemplo, se sabem que podem abrir ou fechar uma janela, baixar um estore, mudar-se para
outro local que lhes ofereça melhores condições de conforto… Sabemos também que o ser humano é capaz de sobreviver
em condições climáticas extremamente adversas.

O conforto é um estado extremamente atractivo e motivador, que leva as pessoas a agir, podendo a acção que resulta deste
estímulo significar consumir energia, enquanto se aquece ou arrefece, ilumina ou ventila artificialmente, ou pode significar
uma maior interacção com a natureza, enquanto se abre um estore ou uma janela. O que é certo é que as pessoas vão
sempre procurar o grau de conforto que os seus sentidos lhes pedem, e, por este motivo, o recurso ao consumo de energia
para esse fim será minimizado em edifícios que, à partida, já oferecem condições de conforto.

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SE PRETENDE AFERIR DA IMPLEMENTAÇÃO DAS MEDIDAS DE OPTIMIZAÇÃO DO CONFORTO AMBIENTAL DEVE
SELECCIONAR AS PERGUNTAS COM AS QUAIS MAIS SE IDENTIFICA E COLOCÁ-LAS AO INTERLOCUTOR MAIS RESPONSÁVEL
QUE ENCONTRAR, QUANDO FOR VISITAR A HABITAÇÃO QUE TENCIONA ARRENDAR OU COMPRAR: SIM | NÃ0

1: A TEMPERATURA QUE SENTE AO ENTRAR NO ESPAÇO É CONFORTÁVEL ?

2: O ODOR QUE SENTE AO ENTRAR NA HABITAÇÃO É NEUTRO ?

3: COM AS JANELAS FECHADAS EXISTE CONFORTO ACÚSTICO (QUER EM RELAÇÃO A RUÍDOS PROVENIENTES DO EXTERIOR
QUER EM RELAÇÃO A RUÍDOS PROVENIENTES DE HABITAÇÕES CONTÍGUAS) ?

4: A LUMINOSIDADE NATURAL É ADEQUADA ?

5: NO CASO DA LUMINOSIDADE NATURAL SER EXCESSÍVA, EXISTEM SISTEMAS DE SOMBREAMENTO QUE POSSIBILITAM
CONTROLAR A ENTRADA DE LUZ NATURAL ?

SE AS RESPOSTAS FOREM TODAS OU NA SUA MAIORIA SIM, TERÁ ENCONTRADO UMA HABITAÇÃO EM QUE O CONFORTO
AMBIENTAL CONTRIBUI PARA AUMENTAR A SUA QUALIDADE DE VIDA.

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2.1.1 CONFORTO TÉRMICO

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O conforto térmico nas nossas casas é uma condição QUANTIFICAÇÃO DO CONFORTO TÉRMICO
importante a alcançar para o bem-estar, para a saúde e, O conforto térmico pode ser medido. E, como tal, é possível
consequentemente, para a nossa longevidade. Mas a nossa geri-lo ou mesmo exigi-lo. O Regulamento das Características
produtividade também é condicionada pelo conforto térmico. de Comportamento Térmico apresenta o conforto térmico
O desconforto é um indicador importante para a saúde, porque como um direito das pessoas e estabelece um patamar mínimo
é o primeiro sintoma que nos alerta para o facto das condições que deve ser atingido em todos os edifícios habitacionais. Este
em que nos encontramos não serem adequadas ao que patamar tornou-se recentemente mais exigente no âmbito de
precisamos, pelo que devemos actuar (fechar janela, abrir um pacote legislativo que, abrangendo os edifícios novos e
janela, mudar de sítio…) para criar condições mais confortáveis. aqueles por reabilitar, introduz também a certificação
energética dos edifícios. Associado ao conforto térmico será
Quando estamos a trabalhar em casa, no nosso Small Office também quantificado o consumo de energia que é necessário
Home Office (SOHO - ver Medidas de Valorização Espacial), para garantir esse conforto, existindo um valor máximo
precisamos de sentir conforto para conseguirmos concentrar- autorizado.
nos, porque todo o desconforto significa uma distracção e
interrompe o nosso raciocínio. Mas a realidade do nosso país, O consultor na área do comportamento térmico e energético
onde “as casas se comportam pior do que o clima” (citando é um parceiro essencial no processo de concepção de um
o arquitecto espanhol Rafael Serra), é pouco favorável à edifício. É este que, tomando em consideração as
concentração e, sem concentração, nem nasce criatividade, características exactas do edifício em projecto, possibilita à
nem, tão pouco, conseguimos dar o nosso melhor ao trabalho equipa de projecto optimizar o desempenho energético-
que temos em mãos. Portanto, quanto à produtividade, não ambiental do edifício, antes da sua construção. Utiliza métodos
há dúvidas que o conforto térmico se torna uma pré-condição de cálculo universalmente respeitados que permitem antever,
essencial. na fase de projecto (pela via da simulação e do cálculo),
mediante as características do edifício, qual o grau de conforto
Para podermos viver em paz com a nossa família, o conforto térmico e o consumo de energia necessários para alcançar
é importante, embora não seja soberano - ao chegarmos a esse conforto.
casa depois de um longo dia de trabalho, por vezes frustrante
(ou de uma viagem de carro que poderia ter demorado 10
minutos mas que demorou 1 hora). Uma tal frustração pode
sobrepor-se até ao mais extremo conforto térmico com o qual
nos recebem as casas bioclimáticas e sustentáveis… Estas
disfunções da nossa sociedade terão que ser abordadas a
montante da arquitectura.

Trocas de calor entre o corpo e a atmosfera envolvente - perdas térmicas. Trocas de calor entre a atmosfera envolvente e o corpo - ganhos térmicos.
Estas perdas deverão ser evitadas no Inverno e favorecidas durante o Estes ganhos térmicos são fontes úteis no Inverno e deverão ser evitadas
Verão. durante o Verão.

“O corpo humano é um organismo extremamente eficiente na gestão de temperaturas, variando em apenas 2ºC durante toda a vida.
É a capacidade do corpo humano de induzir processos físicos de troca de calor como a radiação (45%), a convecção (35%) e a evaporação
(20%), que lhe permitem criar um equilíbrio estável com o contexto climático que habita.”
Fonte: Prof. Nick Baker - Martin Centre Cambridge University

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A ASHRAE (American Society of Heating, Refrigerating and Conforto térmico em espaços interiores - Existem áreas
Air-Conditioning Engineers www.ashrae.org) desenvolveu um geográficas neste planeta azul onde existe conforto térmico
sistema para quantificar o conforto onde, tendo em de forma natural e, praticamente, durante todo o ano. Na
consideração a temperatura (bolbo seco) e a humidade relativa, grande maioria dos climas da Europa, no entanto, as
ficou definido o 'espaço climático' no qual 80% das pessoas amplitudes térmicas naturais vão para além dos limites de
se sentem confortáveis 100% do tempo. Este método tem sido tolerância das pessoas, resultando na necessidade de nos
especialmente útil para projectistas e fornecedores de sistemas protegermos do clima (e das intempéries) para conseguirmos
de ar condicionado para edifícios e permitiu, durante muitos sobreviver.
anos, dimensionar correctamente os sistemas.
Portugal tem condições climáticas excepcionais - as suas
No entanto, e com base em inúmeras investigações nesta temperaturas médias correspondem exactamente àquelas
área, os especialistas chegaram à conclusão que o conforto consideradas confortáveis pelas pessoas (18 a 26ºC). Criamos
térmico não é tão linear, uma vez que as mesmas pessoas se espaços interiores apenas para nos protegermos da chuva e
podem sentir confortáveis em condições térmicas diferentes, dos extremos de temperatura, que se aproximam dos 0ºC no
consoante as características do edifício: num edifício de Inverno e dos 40ºC no Verão.
serviços que depende de sistemas artificiais para criar as
condições de conforto (o que, em Portugal, é o caso na grande Mas esta realidade - o clima ameno e simpático que nos é
maioria dos edifícios de serviços, construídos para esse fim, proporcionado pela natureza e pelo planeta - não é
desde os anos 90), a tolerância das pessoas às amplitudes transformada em mais-valia real para as pessoas, porque a
térmicas é muito menor do que se as mesmas pessoas se nossa construção é de péssima qualidade - como refere o
encontrarem num espaço interior 'passivo' que não dependa arquitecto Espanhol Rafael Serra: “os nossos edifícios
de sistemas artificiais para alcançar condições de conforto comportam-se pior do que o clima e oferecem, no seu interior,
térmico. Estas investigações provaram que a nossa sensação condições adversas: quando está calor os interiores são mais
de conforto térmico não é absoluta, mas sim adaptativa - e quentes, quando está frio, são mais frios...”. E há estudos
essa capacidade de nos adaptarmos às condições climáticas internacionais que comprovaram ser Portugal o país na Europa
do contexto em que estamos torna-se mais ampla, mais no qual mais se morre de frio.
tolerante, quando o clima em causa resulta de um contexto
natural (ao contrário de um artificial). As tecnologias de construção descritas em “Medidas de
Optimização da Procura de Energia” contribuem para dotar
As investigações revelaram ainda outro resultado: a de conforto os edifícios, trazendo para o seu interior o melhor
temperatura e a humidade relativa que nos fazem sentir que o clima oferece - no interior, as temperaturas médias
confortáveis em espaços interiores é variável e possui uma numa casa bioclimática encontram-se, durante todo o ano,
forte relação com a temperatura média no exterior. entre os 18 e os 28ºC, sem que se façam sentir extremos
desconfortáveis.

Representa as leituras de temperatura e de humidade relativa respectivas O gráfico representa a monitorização das condições climáticas interiores
às condições climáticas exteriores e o polígono de conforto interior do apartamento 5B do edifício Torre Verde com a sobreposição do polígono
segundo a ASHRAE1, durante a monitorização dos apartamentos do de conforto. Neste apartamento não foi nunca instalado sistema de
edifício Torre Verde em Janeiro de 2001. aquecimento central e foram no entanto alcançadas condições de conforto
excelentes, tendo em consideração as condições climáticas exteriores
ilustradas no gráfico à esquerda.

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CONFORTO TÉRMICO EM ESPAÇOS SEMI-EXTERIORES CONFORTO TÉRMICO EM ESPAÇOS EXTERIORES
Sempre que possível, deve ser explorado o relacionamento Apesar das pessoas, hoje em dia, passarem em média apenas
entre espaços interiores e exteriores. A atractividade dos 10% do seu tempo em espaços exteriores, é muito importante
espaços semi-exteriores ou semi-interiores, porque que, na cidade, estes ofereçam também um grau de conforto
enriquecem a qualidade de vida dos habitantes, pode ser térmico elevado.
explorada a muitos níveis como uma mais-valia. Estes espaços
de transição entre o interior e o exterior são um elemento Trata-se de um desafio fascinante - impedir que as envolventes
importante para optimizar o comportamento térmico dos se tornem barreiras às condições de conforto, para as pessoas
edifícios, porque constituem mais uma camada de protecção se poderem sentir bem em espaços exteriores - o que foi
entre o interior e os extremos do clima exterior, como uma muito bem explorado pela Universidade de Sevilha, que
bolsa de clima intermédio. Atenuadas as intempéries, concebeu e realizou, no âmbito da Feira Internacional EXPO
encontramos nestes espaços de transição as condições para '92, um conjunto de espaços exteriores extremamente
serem utilizados durante uma considerável parte do ano. atractivos, com um desempenho extraordinário em termos
Possuem ainda, como espaços de transição, uma identidade de conforto - em alguns espaços e em pleno Verão, foi, por
libertadora que os marca. Estas duas identidades, (a interior exemplo, possível reduzir a temperatura em 10ºC, quando
e a exterior), que nestes espaços se anulam ou se sobrepõem, comparada com a temperatura exterior local.
libertam o utilizador das condicionantes que normalmente
restringem a sua perspectiva existencial e a sua imaginação. Também a Universidade de Cambridge, mais precisamente o
À escala da cidade, os espaços de transição entre o interior Martin Centre, tem desenvolvido estudos e programas
e o exterior, integrados nas fachadas de edifícios, representam ambiciosos, alguns dos quais em parceria com o Instituto
também um enriquecimento estético porque, ao criarem Superior Técnico, aprofundando os nossos conhecimentos de
profundidade nas fachadas, revelam mais informação sobre conforto em espaços exteriores.
os espaços encobertos pela envolvente, do que uma fachada
plana consegue revelar. Interagir efectiva e alargadamente entre o exterior e o interior,
explorando o potencial de espaços de transição ou de
atenuação climática (“buffer zones”), permite enriquecer a
qualidade de vida de qualquer pessoa, pelo facto de lhe oferecer
a possibilidade de usufruir do espaço exterior, sem sofrer os
efeitos menos confortáveis do respectivo clima.

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2.1.2 CONFORTO AOS ODORES E SABORES

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O SABOR DO ESPAÇO Cabe à equipa projectista, ao definir os materiais que revestem
Quando entramos num espaço, o cheiro ou sabor que sentimos as superfícies que estarão em contacto com o ar interior,
são indicadores dos ingredientes que se encontram suspensos acompanhar também o desenvolvimento tecnológico, no intuito
no ar e vão determinar fortemente a nossa sensação de de conseguir que estas superfícies possam vir a contribuir
conforto e de bem-estar. Determinam também o grau de para “limpar” o ar interior.
salubridade e da qualidade do ar, nesse mesmo espaço.
De uma forma subtil, isto já acontece com paredes estucadas
Durante as últimas 3 décadas, a qualidade do ar interior é e pintadas com tintas de água bem permeáveis aos vapores,
tema que ganhou importância à escala internacional, porque podem atenuar muito mais ou fazer desaparecer do
especialmente devido ao aumento exponencial das doenças interior um cheiro agressivo que se sinta no exterior da
do foro respiratório e das alergias, que se propagam em todas habitação, mesmo que as janelas se encontrem abertas.
as classes etárias e sociais. Sabemos que os materiais emitem
para o ar substâncias que inspiramos e que causam um O que é verdade é que qualquer tinta, verniz ou cola que esteja
conjunto de reacções no nosso corpo que, nos casos menos em contacto com o ar e tenha componentes voláteis activos
graves, provocam, no mínimo, desconforto, enfraquecem as e nocivos pode marcar o odor de um espaço durante anos e
nossas defesas e podem, nos casos mais extremos, causar afecta também a saúde dos utilizadores.
doenças crónicas. Em edifícios que, para criar condições de
conforto, dependem de sistemas artificiais, está comprovado
que uma das principais fontes de contaminação da qualidade
do ar interior é a libertação de componentes nocivos,
provenientes dos próprios sistemas de ar condicionado. As
principais causas são a falta de manutenção dos respectivos
filtros e outros focos de contaminação nos sistemas, além de,
muitas vezes, o dimensionamento dos sistemas não ser
adequado à intensidade da sua utilização nos edifícios.
Seguro é, no entanto, que a indústria de ar condicionado,
relativamente recente, que hoje chega a ter maior expressão
no mercado do que a indústria automóvel, não irá desistir do
seu negócio que assenta no mau desempenho dos edifícios.

Está nas mãos da equipa que projecta os edifícios, conceber


edifícios que minimizem a necessidade de sistemas para
atingirem as condições necessárias de habitabilidade e, caso
se tornem necessários sistemas, é importante que estes
sejam adequadamente dimensionados, careçam de baixíssima
manutenção e promovam uma melhor qualidade do ar interior.

Outro factor importante de contaminação da qualidade do ar


interior é a libertação de componentes nocivos, provenientes
dos materiais que revestem as principais superfícies, que
estão em contacto com esse ar interior. Está nas mãos da
equipa que projecta os edifícios, especificar materiais que
promovam uma melhor qualidade do ar interior.

Apontamento:
O cheiro que sentimos quando entramos num espaço exprime o grau de salubridade do mesmo. Quando existem humidades por consequência
de infiltrações ou de condensações, resulta o crescimento de fungos e emanam cheiros que designamos por mofo. Se nos acabamentos
do espaço foram aplicadas colas, vernizes ou tintas nas superfícies que contactam com o ar interior, nas quais contêm agentes agressivos
e nocivos para a nossa saúde, resultam cheiros que nos alertam para essa realidade.

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2.1.3 CONFORTO ACÚSTICO

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OS SONS QUE QUEREMOS OUVIR Sempre que possível, é importante orientar os edifícios
O conforto acústico nas nossas casas é uma condição habitacionais para espaços públicos nos quais o nível de ruído
importante a procurar alcançar para o nosso bem-estar, a seja menos intenso. Como exemplo serve um edifício que faz
nossa saúde e, consequentemente, para a nossa longevidade. parte do Plano de Pormenor Projecto Urbano Parque Oriente
O desconforto acústico tem uma enorme influência sobre a o qual, dividido na vertical longitudinal, tem todos os
nossa capacidade de concentração, condicionando, apartamentos orientados a Sul e os escritórios orientados a
consequentemente, a nossa produtividade, tornando-se Norte - encontrando-se a avenida do lado Norte e a praça
também um forte motivador de acção. pública e pedonal do lado Sul. Para minimizar as áreas de
circulação comuns, colocou-se apartamentos duplex, com
O engenheiro acústico, especialista ou consultor, constitui um acessos desencontrados dos escritórios, também duplex.
elemento essencial a integrar na equipa de projecto. A fase
de projecto em que o diálogo deve ser iniciado com este Desta forma, os espaços de escritórios protegem o uso
especialista é a fase de anteprojecto - ou ainda mais cedo, habitacional das fontes de ruído da via com tráfego intenso.
nos casos em que faltem metas pré-definidas de desempenho Na atenuação e redução do ruído proveniente do exterior, o
na área do conforto acústico. No processo conceptual do papel da envolvente do edifício contínua, sem dúvida, importante
edifício existem dois momentos que determinam fortemente sem poderem ser esquecidas as características do clima local
o conforto acústico: o primeiro quando se decide a localização que permitam às pessoas ter contacto directo com o exterior
e a orientação do edifício, (sendo esta a escala do planeamento durante uma parte considerável do ano, donde a importância
em que é possível evitar a exposição ao ruído e prevenir o seu que, também com janelas abertas, se mantenham reunidas
impacto sobre os utilizadores finais); o segundo momento condições razoáveis de conforto acústico.
quando se definem as características de construção de toda
a envolvente, pois através dela pode reduzir-se o impacto do Existem outros factores que podem atenuar os ruídos
ruído nos utilizadores finais. provenientes da envolvente, como as texturas presentes na
“pele” dos edifícios e a vegetação existente. Assim, é possível
MEDIDAS PARA AUMENTAR O CONFORTO ACÚSTICO À criar espaços de lazer exteriores que ofereçam aos ocupantes
ESCALA DO PLANEAMENTO URBANO algum conforto acústico, apesar da envolvente ser ruidosa.
As actividades humanas - especialmente nas cidades onde Outros ruídos que associamos profundamente com a natureza
são mais intensas - são caracterizadas por elevados níveis de - como o da água em movimento - são utilizados para camuflar
ruído, provenientes de uma vasta diversidade de fontes, mas, os ruídos de trânsito em espaços públicos centrais.
na sua grande maioria, o ruído na cidade é causado pelo
tráfego (um dos principais causadores de ruído urbano). A MEDIDAS PARA AUMENTAR O CONFORTO ACÚSTICO À
forma dos edifícios, os materiais e as texturas que os revestem, ESCALA DO EDIFÍCIO
a relação volumétrica entre eles, a proximidade de arruamentos Quando a equipa projectista é confrontada com um espaço
e outros canais de tráfego urbano amplificam ou atenuam o pré-condicionado num contexto urbano consolidado, podem
ruído. Quem planeia o espaço urbano define automaticamente ser tomadas as seguintes medidas para optimizar o conforto
muitos dos parâmetros que determinam a qualidade acústica acústico dos utilizadores dos espaços habitacionais,
que este, depois, proporciona aos seus utilizadores. nomeadamente a redução do ruído proveniente do exterior:
É certo que há áreas na cidade, em que os usos dominantes A envolvente do edifício, quando as janelas estão fechadas,
toleram níveis mais elevados de ruído do que outras. Em deve atingir uma redução de 35 dB(A) entre o exterior e o
contextos urbanos destinados também ao uso habitacional, interior. Para tal, contribuem algumas componentes que têm
é essencial que o ruído seja menos intenso, porque os também a função de isolar termicamente - é o caso dos vidros
utilizadores dos edifícios carecem de condições de conforto duplos e das paredes maciças com isolamento térmico aplicado
acústico que promovam saúde e bem-estar e que lhes pelo exterior (isolamento este que também tem uma função
permitam desenvolver as suas actividades de uma forma digna acústica). Pode ser necessário ultrapassar as especificações
e confortável. exigidas para um bom desempenho térmico e responder,

Comentário de: Luís Conde Santos


Evitar: Conceber máquinas, equipamentos e processos mais silenciosos e promover atitudes e comportamentos cívicos de respeito pelo descanso
alheio, na estrada, em casa e no local de trabalho. Prevenir: Planear a ocupação do território, tendo em conta que o ruído se atenua com a distância
e com obstáculos, e construir edifícios que minimizem a transmissão de ruído entre espaços potencialmente conflituais e entre interior e exterior.
Reduzir: Planos de redução de ruído em áreas urbanas e em redor de fontes de ruído importantes (infra-estruturas de transporte, zonas industriais),
reforço de isolamento acústico em edifícios e aplicação de soluções de controlo de ruído em máquinas e outros equipamentos geradores de ruído.

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simultaneamente, a um melhor desempenho acústico. Por
exemplo, especificando um vidro duplo com 6 e 8 mm de
espessura para, deste modo, responder de uma forma mais
completa às várias exigências porque resulta num melhor
desempenho global do edifício.

Em edifícios habitacionais, é importante que os pavimentos


nos apartamentos sejam verdadeiramente flutuantes, para
evitar que os ruídos de percussão que resultam do bater dos
saltos de sapatos no pavimento sejam transmitidos para
outros apartamentos. Um pavimento flutuante pode ter
qualquer tipo de acabamento, desde que se garanta que a
camada resiliente com as respectivas características técnicas
relevantes seja aplicada de forma contínua, eliminando todos
os pontos de contacto entre o pavimento sobre o qual se anda,
as paredes e a laje (ver pormenor construtivo). É esta camada
contínua resiliente que absorve grande parte dos ruídos de
impacto que, noutras condições, seriam transmitidos para os
vizinhos. A sua instalação durante a obra tem de ser
cuidadosamente acompanhada para evitar que todo o seu
efeito se perca e deverá ser preferivelmente composta por
um material que, para além de ter as características relevantes
para o isolamento acústico, seja reciclável, como no caso da
borracha.

Para cumprir o regulamento do ruído e para optimizar o


isolamento acústico entre fracções autónomas e entre estas
e as áreas de utilização colectiva, para além dos acabamentos
interiores, devem ser construídas duas paredes de tijolo de
11 cm, com 5 cm de lã de rocha entre os dois panos de tijolo,
sendo uma das paredes rebocada pelo lado interior (ver
pormenor construtivo). A fixação elástica e o corte perimetral
nos elementos de duplicação em tectos e paredes permitem
obter um reforço no isolamento acústico entre partições,
quando estas existem.

É importante que em todos os equipamentos que emitem


ruídos, como é o caso de sistemas mecânicos de ventilação
e extracção nas casas de banho e nas cozinhas, sejam
instalados silenciadores nas saídas do ar. Naqueles
equipamentos que, para além de ruído, emitem vibrações, é
essencial instalar apoios anti-vibráticos em todos os
equipamentos susceptíveis de emitirem vibrações (como, por
exemplo, elevadores, transformadores eléctricos, portas
automáticas de garagem, piscinas, banheiras de
hidromassagem ...).
Nota: O cuidado na execução deverá ser na inclusão das tubagens na betonilha de regularização para garantir a continuidade do elemento resiliente
e evitar que o soalho flutuante toque em qualquer elemento estrutural. Apenas através da eliminação de qualquer contacto directo entre os
materiais condutores será possível reduzir a transmissão de ruído entre fracções autónomas. O soalho não deverá encostar ao rodapé garantindo
a flutuação do mesmo.

O fornecedor de sistemas de isolamento de vibração e ruído contempla todos os aspectos relacionados com a construção sustentável
descritos no âmbito desta medida. Para obter mais informação especifica do gabinete de informação e apoio técnico:
CDM Sistemas de isolamento de vibração de ruído
Azinhaga da Torre do Fato, Nº 33B, Escritório A, 1600 – 774 Lisboa
Tel: +351 217 110 430 | Fax: +351 217 110 439
E-mail: geral@cdmportugal.pt | www.cdmportugal.pt

114
Anabela Trindade

2.1.4 CONFORTO VISUAL

115
LUZ NATURAL À MEDIDA penetração de radiação solar benéfica para os utilizadores.
O conforto visual nas nossas casas é uma condição importante Numa habitação, o conforto visual carece de um sistema de
a alcançar para promover o nosso bem-estar, a saúde e, controlo operável pelos utilizadores, uma vez que o
também, para aumentar a nossa produtividade. O desconforto dimensionamento das áreas envidraçadas contempla a
visual é um forte motivador para actuarmos no sentido de iluminação natural necessária em dias encobertos, quando
alterar as condições em que nos encontramos, quando estas a radiação disponível à superfície da terra é muito inferior
não são adequadas ao que nos faz falta. àquela que existe em dias de céu limpo e, nestes, a radiação
solar que atravessa as mesmas áreas envidraçadas poderá
Em parte, o conforto visual é determinado pelo panorama da ser muito superior à pretendida. Assim, é importante poder
nossa casa para o exterior, vista esta que tem extrema orientar as lâminas do estore exterior de forma a olhar a
relevância para o nosso bem-estar e é o tema de uma das paisagem sem fazer entrar a radiação solar indesejada.
medidas desenvolvidas no sub-capítulo dedicado ao conforto
ambiental. Mas, para além da intensidade da luminosidade como factor
que varia e que ocorre controlar, o ângulo em que os raios
O conforto visual é também determinado pela iluminação solares batem na terra também varia e condiciona o nosso
natural que captamos com os nossos olhos, receptores conforto visual. Em Portugal, varia entre os ângulos médios
extremamente sensíveis e complexos que precisam de conforto de 28º no dia 21 de Dezembro e de 75º no dia 21 de Junho,
para funcionarem de forma eficiente. Apesar de nem toda a resultantes da inclinação do eixo da terra em relação ao plano
radiação solar ser benéfica para o ser humano, a luz natural orbital e da sua localização geográfica.
emitida pelo sol, com o seu largo espectro de tipos de radiação
(nem todos visíveis pelo olho humano), é a que melhor Também esta variação precisa de ser controlada pelos
assimilamos e que menos cansaço nos causa quando utilizadores, dando-lhes liberdade para decidirem o que
trabalhamos. pretendem: por vezes moderar, por vezes eliminar e, por
vezes, potenciar os extremos da iluminação natural. Num dia
As áreas envidraçadas, cujos vidros respeitem as especificações frio de Inverno é imaginável que, se o sol brilha durante alguns
técnicas adequadas, no sentido de contribuírem para a momentos de céu limpo, queiramos inundar a casa de luz,
optimização do desempenho energético-ambiental do edifício mas num dia quente de Verão é provável que queiramos
(ver a medida “Proporção adequada das áreas envidraçadas, sombra e frescura no interior do espaço em que nos
tendo em consideração a orientação solar”), permitem uma encontramos.

Luís Calixto Luís Calixto

Duas fotografias idênticas, tiradas sobre o mesmo espaço orientado a Nascente na Torre Verde no Verão, demonstram o impacte da radiação
solar directa e difusa na iluminação de um espaço e a importância dos sombreamentos no controlo da mesma.
O Sistema de sombreamento exterior está na posição descida, e as O sistema de sombreamento exterior está na posição recolhida, permitindo
lâminas estão orientadas de forma a prevenir a entrada directa da luz, a radiação solar directa e o consequente aumento do contraste entre
sem, com isto, restringir o campo visual para o exterior. A iluminação áreas inundadas com iluminação natural e áreas interiores menos
natural, por efeito de difusão nos sombreamentos espalha-se de modo iluminadas, criando, com o elevado contraste de luminosidade, uma
mais equilibrado por todo o espaço, diminuindo os contrastes e menor qualidade visual.
aumentando a qualidade visual em todo o espaço.
116
Quando falamos de sistemas de controlo - sendo os VISTAS PARA O EXTERIOR
sombreamentos exteriores uma das medidas desenvolvida É muito importante para o nosso bem-estar psíquico
neste livro (ver Sombreamentos Exteriores) - somos desafiados mantermos, de forma regular, o contacto visual com os
a, por um lado, determinar a quantidade de luz natural que elementos naturais, porque reforçam a nossa sensação de
entra em nossa casa e nos permite desempenhar as diversas serenidade e de confiança quando restabelecemos a relação
actividades e funções, por outro lado, encontramo-nos perante com a Natureza. Assim, uma superfície ampla com água, que
o desafio de determinar a quantidade e qualidade da luz possamos ver da janela da sala ou do quarto, é um aspecto
natural que deixamos entrar e que vai determinar a atmosfera positivo a considerar na concepção de espaços habitacionais
do espaço que ocupamos. Os sistemas de sombreamento e de serviços e que acrescenta valor de mercado.
exteriores que existem no mercado são extremamente
diversificados e algumas das suas características são Uma superfície ampla com vegetação e, preferivelmente,
determinantes para o conforto visual. árvores de grande porte, que possamos ver da janela da sala
ou do quarto, são aspectos positivos a considerar na concepção
Numa tipologia com fachadas principais orientadas a Sul e a de espaços habitacionais e de serviços e que acrescentam
Norte, mas em que a vista para Sul não é a mais nobre, a sala valor de mercado.
de estar pode ficar orientada a Norte e os quartos de dormir
a Sul, desde que o desenho da tipologia permita manter o Numa cidade compacta são muito procuradas as habitações
contacto visual directo da sala para o alçado Sul, onde os raios que têm vista para o Horizonte - sinónimo do Infinito - não
solares invadem a casa, especialmente durante os meses de apenas porque existem em menor número - situando-se no
Inverno. Esta permeabilidade à iluminação solar é possível perímetro exterior da área urbanizada ou em edifícios com
através da criação de uma abertura ampla que atravessa e grande altura - mas também porque o Horizonte é, por si só,
permite a presença da iluminação solar no apartamento na uma dimensão que dá escala a todas as experiências em
sua totalidade, podendo ainda ser reforçada por cores claras espaços urbanos. Os significados que damos ao Horizonte
de materiais no revestimento das superfícies deste espaço são inúmeros e o grau como este acrescenta valor, a qualquer
que atravessa o apartamento e o tornam mais reflector. propriedade da qual se avista, é inquestionável.

117
2.2. CERTIFICAÇÃO ENERGÉTICA
EM PORTUGAL
A Certificação Energética e Ar Interior dos Edifícios é, uma medida promovida pela Comissão Europeia com o objectivo de
motivar a mudança de práticas construtivas na Europa, aumentando a informação que se encontra ao dispor do utilizador final
bem como o seu poder de escolha. A publicação da directiva 2002/91/CE surge por consequência do grande sucesso que teve
na Europa a certificação energética dos electrodomésticos porque, tornou visível para o utilizador final a informação relevante
sobre o desempenho energético do electrodoméstico individual, reduziu a produção de equipamentos de classes inferiores.

Com a publicação da referida directiva, a Comissão Europeia mandata os Estados Membros a aplicar o sistema de certificação
energética nos seus edifícios. O objectivo desta directiva é promover a melhoria do desempenho energético dos edifícios na
Comunidade Europeia, tendo em conta as condições climáticas externas e as condições locais, bem como as exigências em
matéria de clima interior e de rentabilidade económica. Através da directiva são estabelecidos requisitos em matéria de:

> Enquadramento geral para uma metodologia de cálculo do desempenho energético integrado dos edifícios;
> Aplicação de requisitos mínimos para o desempenho energético dos novos edifícios;
> Aplicação de requisitos mínimos para o desempenho energético dos grandes edifícios existentes sujeitos a importantes
obras de renovação;
> Certificação energética dos edifícios;
> Inspecção regular de caldeiras e de instalações de ar condicionado nos edifícios.

Com a transposição desta directiva torna-se possível comparar o desempenho energético de edifícios em diferentes Estados
Membros da Europa, com base em parâmetros mutuamente estabelecidos.

118
CLASSE ENERGÉTICA

A A+ A

B- B

119
Em que casos se aplica a obrigatoriedade do Sistema Nacional de Certificação Energética e daQualidade do Ar Interior nos
Edifícios (SCE)?

A partir de 1 de Julho de 2007, todos os edifícios novos de habitação ou serviços e as grandes reabilitações (> 25% custo
edifício s/terreno), com áreas superiores a 1.000 m2, devem apresentar, no acto dos pedidos de licenciamento ou autorização
de edificação, o documento de certificação energética.

A partir de 1 de Julho de 2008 todos os edifícios novos de habitação ou serviços e as grandes reabilitações, independentemente
da sua área ou finalidade, devem apresentar, no acto dos pedidos de licenciamento ou autorização de edificação, o documento
de certificação energética.

A partir de 1 de Janeiro de 2009 o sistema abrange ainda todos os edifícios no acto da celebração de contratos de venda e
de locação, bem como os edifícios de serviços existentes, sujeitos periodicamente a auditorias, conforme especificado no
RSECE.

O certificado energético deve ser apresentado pelo proprietário ao potencial comprador, locatário ou arrendatário, aquando
da celebração de contratos de venda e/ou de locação, incluindo o arrendamento.

A partir de 2009, a certificação energética em Portugal aplica-se a todas as fracções autónomas no âmbito do SCE e tem
duas funções distintas:
A primeira é certificar e classificar o desempenho energético da fracção autónoma e a segunda é identificar medidas que,
ao serem implementadas, permitem melhorar esse desempenho energético.

Para que a certificação energética possa contribuir para a qualificação do meio edificado, é muito importante que seja
utilizada como ferramenta de verificação e de definição das medidas que optimizam o desempenho energético dos edifícios,
e atempadamente encomendada por parte de quem promove as intervenções no meio edificado.

120
00
A Directiva da Certificação Energética foi transposta para obrigatórios para qualquer imóvel ou fracção objecto de
Portugal, integrando um conjunto de três diplomas que transacção, para arrendamento ou venda.
contemplam alterações legislativas importantes com
implicações nas práticas comuns de projectar e de construir No certificado energético aparece claramente indicado, para
edifícios: além da referida classe de desempenho energético, o nível
de emissões de CO2 equivalente, o que permite ao utilizador
> D.L. n.º 78/2006 - Criação do Sistema Nacional de final comparar este com outros edifícios, aquando da compra
Certificação Energética e da Qualidade do Ar Interior nos ou aluguer de um imóvel, permitindo, desta forma, aferir a
Edifícios; qualidade do mesmo no que diz respeito à eficiência energética,
às emissões e à qualidade do ar interior. No mesmo certificado
> D.L. n.º 79/2006 - Regulamento dos Sistemas Energéticos aparece também o elenco das medidas a implementar para
de Climatização dos Edifícios (RSECE) que se aplica a grandes melhorar o desempenho energético do edifício, cada qual
edifícios de serviços ou a pequenos edifícios de serviços ou associada a um custo de realização aproximado e a uma
habitação que disponham de sistemas de climatização superior estimativa de retorno do investimento.
a 25kW de potência instalada;
Em Portugal foi possível reunir as condições para tornar
> D.L. n.º 80/2006 - Regulamento das Características do obrigatória a instalação de sistemas solares térmicos em
Comportamento Térmico de Edifícios (RCCTE) que se aplica edifícios novos de uso habitacional, com base no facto do
a edifícios de habitação ou a pequenos edifícios de serviços investimento necessário ter um período de retorno curto e do
sem sistemas de climatização, ou com sistemas de potência país ser extremamente rico em horas de sol – podendo
instalada inferiores a 25kW. satisfazer em 70% as necessidades de aquecimento das águas
quentes domésticas com, em média, 1m2 de área de colector
Os novos regulamentos que definem o desempenho energético- por habitante.
ambiental dos edifícios, englobando a certificação energética
dos mesmos, constituem, para o mercado, uma excelente O facto do sistema de certificação energética dos edifícios
oportunidade de intervenção no meio edificado, porque partir de uma abordagem baseada no desempenho, e não de
englobam, de forma transversal, a melhoria do desempenho uma abordagem prescritiva, foi outra decisão estratégica que
energético dos edifícios. A certificação energética é uma favoreceu o sucesso e a aceitação desta directiva no meio
medida política extremamente inteligente porque proporciona profissional, porque qualquer arquitecto ou engenheiro encara
de uma forma didáctica e transparente, para quem tem o uma medida prescritiva como limitadora da sua criatividade.
poder da escolha, o acesso à informação relevante. É o
utilizador final que escolhe onde quer habitar e, por isso, é Em Portugal, a Agência para a Energia (ADENE) é a entidade
ele quem tem o poder de direccionar a economia e quem está gestora do Sistema Nacional de Certificação Energética e da
mais motivado para o fazer, porque revertem a seu favor os Qualidade do Ar Interior nos Edifícios.
principais benefícios de todas as medidas que resultem em
melhorar o desempenho energético-ambiental dos edifícios: A ADENE desenvolve e gere o portal informático da certificação,
o conforto, a salubridade e a redução da factura energética. coordenando a formação dos Peritos Qualificados que irão
emitir os certificados. Promove campanhas de informação e
Todos os novos edifícios ou reabilitações passam a ser comunicação e fiscaliza a boa implementação do Sistema
obrigados a possuir um certificado energético onde cada Nacional de Certificação Energética e da Qualidade do Ar
fracção é classificada em termos de classe de desempenho Interior nos Edifícios.
energético, também designada pela “etiqueta de eficiência
energética”, variando entre A+ (alta eficiência) e G (baixa
eficiência). Os novos edifícios passam, deste modo, à
obrigatoriedade de se situarem energeticamente nas classes
de desempenho mais eficientes, as classes A+, A, B ou B-.
Os certificados posteriores a 2009 passam a ser igualmente

Comentário de: Alexandre Fernandes (Director-Geral da Agência para a Energia)


A Certificação Energética e do Ar Interior nos Edifícios tem uma meta muito simples, informar o cidadão que habita ou desenvolve a
sua actividade profissional num edifício, qual a sua classe energética, como se desagregam as suas necessidades de energia e, por
fim, quais as medidas de melhoria para melhorar o seu desempenho. Se conseguirmos comunicar de um modo simples e directo com
este cidadão, então a batalha energética certamente que estará ganha. Portugal agradece.

121
Para ilustrar este tema, são aqui apresentados os certificados energéticos de duas fracções autónomas no mesmo edifício:

122
123
Certificado energético do apartamento Torre Verde 8A:

124
125
Apesar de se situarem no mesmo edifício, de terem uma 1. ETIQUETA DE DESEMPENHO ENERGÉTICO
envolvente construtiva idêntica e até orientações muito A etiqueta mostra a classificação da fracção autónoma no
similares, um dos apartamentos é classe A e o outro é classe âmbito do sistema nacional de certificação energética.
B. Isto deve-se principalmente ao facto de o apartamento Para determinação da classe, o valor das necessidades globais
Torre Verde 12 estar situado no último piso, imediatamente anuais nominais de energia primária (Ntc) é comparado com
por baixo da cobertura que, apesar de muito bem isolada, o respectivo valor limite (Nt), sendo ambos específicos para
contribui com uma área mais extensa de envolvente opaca cada fracção em estudo. Se o valor das necessidades nominais
em contacto com o exterior, em comparação com qualquer for inferior a 25% do valor limite, então a fracção será da
um dos pisos inferiores. classe A+. Se for entre 25 e 50%, será da classe A. Entre 50%
e 75%, será da B e se for entre 75 e 100%, será da classe B-
Observando estes certificados verificamos que possuem 10 . Como nos edifícios novos, o valor de Ntc deverá ser sempre
áreas distintas com informação relevante para o proprietário maior ou igual a Nt, as respectivas fracções serão sempre de
da fracção: classe igual ou superior a B-. Nos edifícios existentes, toda
a escala (entre A+ e G) está disponível, sendo as classes
inferiores a B- correspondentes a intervalos de 50% em relação
ao valor limite (Nt).

Importa referir que esta classificação do imóvel é sempre feita


para condições nominais de utilização, como única forma para
tornar as fracções comparáveis entre si. Os consumos efectivos
poderão, assim, diferir dos calculados em função do
comportamento dos utilizadores.

O grande objectivo da certificação energética é melhorar o


desempenho energético e a qualidade do ar em edifícios em
Portugal – e a forma mais eficaz de atingir este objectivo é
tornar a dimensão do desempenho energético e da qualidade
do ar visíveis e palpáveis para o utilizador final o qual, por sua
vez, exerce o seu poder de escolha sobre o mercado, dando
preferência às fracções autónomas com o melhor desempenho
energético-ambiental.

126
2. DESAGREGAÇÃO DAS NECESSIDADES NOMINAIS DE ENERGIA ÚTIL

3. DESCRIÇÃO SUCINTA DA FRACÇÃO AUTÓNOMA


Na descrição sucinta da fracção autónoma são destacados
os seguintes dados: a área útil de pavimento, o pé-direito e
o ano de construção. Outros aspectos relacionados com as
características do edifício (nº de pisos, orientação, zona
climática, etc.) e do seu enquadramento na envolvente/
(edifícios anexos ou próximos, ambiente urbano ou rural, etc.)
deverão também ser indicados neste campo.

127
4.MEDIDAS PROPOSTAS DE PARA MELHORIA
DO DESEMPENHO ENERGÉTICO
E PARA A QUALIDADE DO AR INTERIOR
Aqui aparece a lista de medidas que devem ser implementadas
para melhorar o desempenho energético da fracção autónoma,
associadas ao respectivo custo e ao período de retorno do
investimento. Trata-se de uma área extremamente importante
da certificação energética, porque permite ao proprietário da
fracção (que pode ser o próprio promotor) implementar as
medidas que permitem uma optimização do desempenho da
mesma, já na fase de projecto.

128
5.PAREDES, COBERTURAS, PAVIMENTOS
E PONTES TÉRMICAS PLANAS
A envolvente construída é uma componente relevante para o
desempenho energético dos edifícios. São indicados os valores
de transmissão térmica superficial (U-Value) em W/m2.ºC
das soluções adoptadas e os valores máximos regulamentares.

129
6. VÃOS ENVIDRAÇADOS
São descritas as características da caixilharia e do vidro,
incluindo o factor solar, o coeficiente de transmissão térmica
(U-Value), a transmissão energética directa, a reflexão
energética e a absorção energética.

130
7. CLIMATIZAÇÃO 8. PREPARAÇÃO DE ÁGUAS QUENTES SANITÁRIAS
São descritos os sistemas de aquecimento e de arrefecimento É descrito o sistema através do qual a água é aquecida para
(quando existem) no edifício ou na fracção autónoma. São uso doméstico.
descritos a potência calorífica e o rendimento dos
equipamentos mecânicos.

131
9. SISTEMAS DE APROVEITAMENTO DE ENERGIAS
RENOVÁVEIS
É descrito o sistema solar térmico e quantificada a energia
fornecida pelo sistema em kWhora/ano para a produção de
águas quentes sanitárias. São também descritos outros tipos
de sistemas de aproveitamento de energia renovável que
estejam previstos ou instalados.

132
10. VENTILAÇÃO
É descrita a forma como se processa a ventilação na fracção
autónoma, se a mesma tem origem natural ou mecânica e
qual o valor de renovações horárias de ar novo do espaço,
como forma de melhorar a qualidade do ar interior.

133
2.3 CERTIFICAÇÃO AMBIENTAL
EM PORTUGAL
O LiderA, acrónimo de “Liderar pelo Ambiente” para a construção sustentável, é a designação de um sistema de avaliação
e reconhecimento voluntário da construção sustentável e do ambiente construído, que está disponível em sistema voluntário.

O sistema LiderA foi desenvolvido por Manuel Duarte Pinheiro, Engenheiro do Ambiente, docente convidado do Departamento
de Engenharia Civil e Arquitectura do Instituto Superior Técnico e Director da IPA - Inovação e Projectos em Ambiente, como
resultado dos trabalhos de investigação sobre sustentabilidade na construção e ambientes construídos, efectuados desde
2000, que levaram à publicação, em 2005, do protótipo deste sistema e, em 2007, às primeiras certificações segundo a
versão 1.02.

134
00
CLASSES DE EFICIÊNCIA AMBIENTAL

A A+ A+ + A

B-

135
SE PRETENDE AFERIR DA IMPLEMENTAÇÃO DAS MEDIDAS DE OPTIMIZAÇÃO DO CONFORTO AMBIENTAL DEVE
SELECCIONAR AS PERGUNTAS COM AS QUAIS MAIS SE IDENTIFICA E COLOCÁ-LAS AO INTERLOCUTOR MAIS RESPONSÁVEL
QUE ENCONTRAR, QUANDO FOR VISITAR A HABITAÇÃO QUE TENCIONA ARRENDAR OU COMPRAR: SIM | NÃ0

1: AS TINTAS E VERNIZES UTILIZADOS NAS SUPERFÍCIES QUE ESTÃO EM CONTACTO COM O AR INTERIOR
(NO INTERIOR DA HABITAÇÃO) SÃO ECOLÓGICOS OU NÃO-TÓXICOS ?

2: EXISTE UM CERTIFICADO PARA AS TINTAS E VERNIZES APLICADOS QUE GARANTE QUE SÃO ECOLÓGICOS
OU NÃO-TÓXICOS ?

3: AS MADEIRAS (EM PAVIMENTOS) SÃO PROVENIENTES DE FLORESTAS REPLANTADAS ?

4: EXISTE UM CERTIFICADO PARA AS MADEIRAS QUE GARANTE A REPLANTAÇÃO DAS FLORESTAS ?

5: A HABITAÇÃO É CONFORTÁVEL SEM A UTILIZAÇÃO DE UM SISTEMA DE ARREFECIMENTO ARTIFICIAL


(AR CONDICIONADO) ?

SE AS RESPOSTAS FOREM TODAS OU NA SUA MAIORIA SIM, TERÁ ENCONTRADO UMA HABITAÇÃO EM QUE O CONFORTO
AMBIENTAL CONTRIBUI PARA AUMENTAR A SUA QUALIDADE DE VIDA.

136
O LiderA é o sistema de certificação ambiental adaptado ao PRINCÍPIO 4 - Assegurar a Qualidade do Ambiente Interior -
contexto climático, económico e sócio-cultural de Portugal e fomentar o conforto, envolver a qualidade do ar interior,
consiste num conjunto de critérios que permitem comparar conforto térmico, acústica e iluminação;
níveis de desempenho ambiental da construção numa óptica
de sustentabilidade. Para alcançar um elevado grau de PRINCÍPIO 5 - Assegurar a Qualidade do Serviço Perspectiva
desempenho neste sistema de certificação voluntário, os Ambiental - promover a Durabilidade e a Acessibilidade, a
valores aferidos devem ser melhores do que as práticas Gestão Ambiental e a Inovação, interligando as perspectivas
existentes, fornecendo o sistema LiderA uma avaliação final económicas e sociais, que, por agora, não estão explicitas no
da sustentabilidade da construção e dos ambientes construídos. sistema;
O LiderA evidencia os aspectos ambientais a considerar para
o bom desempenho do edificado no sentido da sustentabilidade, PRINCÍPIO 6 - Assegurar a Gestão Ambiental e a Inovação -
bem como os mecanismos que permitem avaliar, reconhecer promover a informação ambiental, a melhoria contínua
e certificar este desempenho ambiental. Para o efeito, dispõe (sistema de gestão ambiental) e dar saltos qualitativos
de três níveis: princípios orientadores (estratégico), requisitos (inovação).
para a sustentabilidade (táctico) e a aplicação operacional e
gestão no ciclo de vida, todos com base em princípios que O sistema assenta neste conjunto de 6 princípios de bom
resultam na definição de uma política ambiental, tendo em desempenho ambiental (local e integração, recursos, cargas,
vista permitir o acompanhamento e a avaliação nas diferentes ambiente interior, durabilidade e acessibilidade, gestão
fases de desenvolvimento do ciclo de vida do empreendimento. ambiental e inovação), traduzidos para 22 áreas e 50 critérios,
As especificações do sistema e do seu desenvolvimento são nos quais se avalia o edificado em função do seu desempenho
referenciadas quer para os princípios, quer para os diferentes no caminho para a sustentabilidade.
requisitos, aplicabilidade e certificação, sendo os pormenores
e especificações apresentados mais pormenorizadamente na Os diferentes valores de desempenho (limiares) decorrem do
página oficial do sistema: www.lidera.info nível atingido e do tipo de uso. O sistema classifica o
desempenho de A a G, sendo que o nível E representa a prática
A nível estratégico são evidenciados os princípios da abordagem actual e o nível A, em muitos critérios, corresponde a um
que devem ser definidos numa lógica de Política Ambiental. desempenho cerca de 50% superior ao nível E. Embora seja
Como referenciais de comparação neste nível foram tidas em um sistema voluntário, cada projecto deve respeitar um
consideração a Agenda 21 e as orientações de sustentabilidade, conjunto de pré-requisitos.
presentes no regulamento geral das edificações, traduzidos
em princípios. Estes princípios, estabelecidos ao nível da O empreendimento deve procurar adoptar soluções que
política do empreendimento, aplicam-se desde a fase inicial tenham um desempenho ambiental superior à prática existente
da concepção e entendem o desempenho como um (nos critérios considerados apropriados), bem como dispor
compromisso para os atingir; compromisso que deve ser de meios para os atingir.
formalizado para poder fazer parte dos empreendimentos
como uma estratégia de sustentabilidade. Os seis grandes A certificação ou o reconhecimento do desempenho ambiental,
princípios a promover são: segundo o Sistema Lidera, tem a função de apoiar os
promotores, projectistas, construtores e gestores na
PRINCÍPIO 1 - Respeitar a dinâmica local e potenciar os implementação das soluções de melhor desempenho
impactos positivos - localizá-los, potenciando as características ambiental e na obtenção das evidências que, após validação
do solo, valorizando-os ecologicamente, ajustando-os à pela equipa de verificadores do LiderA, atribuem a certificação
mobilidade, integrando-os a nível paisagístico e valorizando a empreendimentos construídos (ou o reconhecimento
as amenidades; ambiental em fase de projecto) pelo LiderA, sempre que
obtenham valores de desempenho nos critérios superiores
PRINCÍPIO 2 - Eficiência no Consumo dos Recursos - fomentar ao nível C.
a eficiência dos consumos de recursos, nomeadamente da
água, energia e materiais;

PRINCÍPIO 3 - Reduzir o Impacto das Cargas (quer em valores,


quer em toxicidade) - atenuando os impactos dos efluentes,
emissões e resíduos;

137

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