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TECNOLOGIA DA

INFORMAÇÃO JURÍDICA

Hugo Cesar Hoeschl, Dr


Organizador
A tecnologia da informação Jurídica
Hugo Cesar Hoeschl, Dr (org)

A TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO
JURÍDICA
Sumário:

APRESENTAÇÃO

1.ELEMENTOS PARA APLICAÇÃO DE INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL NO DIREITO

Hugo Cesar Hoeschl

2.PROTEÇÃO DOS DIREITOS AUTORAIS NA INTERNET: UMA QUESTÃO


JURÍDICA OU TECNOLÓGICA?

Lourdes de Costa Remor

3.DIREITO, TECNOLOGIA E QUALIDADE

Tânia Cristina D`Agostini Bueno

4.SIGILO, PRIVACIDADE E INTERCEPTAÇÃO NAS COMUNICAÇÕES DE DADOS.

Orly Miguel Schweitzer

5.GOVERNO ELETRÔNICO (GOVERNO ON-LINE) - ASPECTOS DE VIABILIZAÇÃO


E OTIMIZAÇÃO DOS SERVIÇOS PÚBLICOS

Eduardo Marcelo Castella

6.O ENSINO DO DIREITO À CRIANÇA E AO ADOLESCENTE COMO


PRESSUPOSTOS DE CIDADANIA COM USO DE TECNOLOGIAS DA EDUCAÇÃO
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Lúcio Eduardo Darelli

7.RESOLUÇÕES ALTERNATIVAS DE CONFLITOS FRENTE ÀS NOVAS


TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO.

Marco Antonio Machado Ferreira de Mello

8. FUNDAMENTOS JURÍDICOS PARA O ENSINO POR TELEPRESENÇA

Hugo Cesar Hoeschl e Ricardo Miranda Barcia

9.E-GOVERNO

Walter Felix Cardoso Junior

10.GOVERNO ON LINE COMO PRESSUPOSTO DO EXERCÍCIO DA CIDADANIA

Fábio André Chedid Silvestre

11. DO DESRESPEITO À AUTORIDADE CONSTITUÍDA À DESOBEDIÊNCIA CIVIL


COM VILIPÊNDIO ÀS INSTITUIÇÕES

Antonio Carlos Facioli Chedid

12. A TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO JURÍDICA E O ENSINO A DISTÂNCIA


COMO FERRAMENTAS PARA A MODERNIZAÇÃO DA ADUANA EM TEMPO DE E-
GOVERNO

Ione Maria Garrido Andreta Lanziani

13. CONCEITOS DE REPRESENTAÇÃO JURÍDICO-POLÍTICA DIGITAL

Marcio Humberto Bragaglia

14. Documentação da disciplina "Tecnologia da informação jurídica"


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Apresentação

Se você está lendo este texto é porque gosta da associação entre direito e
tecnologia. E nós lhe parabenizamos por isso. Este livro traz consigo uma
discussão inicial: o que é tecnologia da informação jurídica, e para que ela
serve. O tema é oriundo de um fenômeno multidisciplinar, fruto da
aproximação de pesquisadores e profissionais de áreas como a informática, a
ciência jurídica, a psicologia, a sociologia, a biblioteconomia, a administração,
a economia, a pedagogia, a engenharia e outras. As pesquisas estão se
materializando e as discussões estão cada vez mais frequentes e intensas.
Os debates sobre a autonomia epistemológica de qualquer ramo da ciência
sempre são muito interessantes, mas geralmente estão restritos ao círculo
acadêmico, e não atingem o público em geral. Se a tecnologia da informação
jurídica possui ou não tal capacidade, saberemos no futuro. Por ora nos
interessa saber que o fenômeno está ocorrendo, e que a contextualização
operada entre Lei e Justiça, de um lado, e Realidade Virtual, Inteligência
Artificial e Internet, de outro, materializa excitantes temas a serem debatidos.

Tentamos resumir um pouco disso tudo para você, neste livro eletrônico,
através do esforço conjunto do IJURIS – Instituto Jurídico de Inteligência e
Sistemas (www.digesto.net/ijuris), e do PPGEP - Programa de Pós-
Graduação em Engenharia de Produção e Sistemas da Universidade Federal
de Santa Catarina (www.eps.ufsc.br).

Este texto possui algumas características:


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Hugo Cesar Hoeschl, Dr (org)

• Foi concebido, desde sua primeira cogitação, para ser lançado no


mundo digital. Nunca se pensou nele como um livro de "átomos", mas
sempre como de "bits";

• É fruto de intensas discussões científicas travadas durante as aulas do


curso com o mesmo nome, ministrado na pós-graduação da
Universidade Federal de Santa Catarina, nas áreas de concentração
"inteligência aplicada" e "mídia e conhecimento";

• Possui em certo descompromisso com a metodologia tradicional de


apresentação de obras, em razão de ter sido pensado e realizado em
meio digital. Como os endereços eletrônicos dos autores constam dos
textos, qualquer dúvida de ordem metodológica, referente a fontes de
pesquisa e assuntos similares, pode ser dirimida diretamente com os
mesmos, que são responsáveis pelo conteúdo dos respectivos textos;

• Possui um perfil multidisciplinar, pois as discussões foram travadas em


ambiente com tal característica, em grupos de pesquisa que nunca
estiveram restritos aos círculos do mundo jurídico. Isso ocorreu porque
o tema central não pode, e nunca poderá, ser considerado como
propriedade acadêmica de um único e específico ramo da ciência, seja
ele o direito, a engenharia ou a computação. As soluções científicas
para a sociedade hipercomplexa do novo milênio virão da
multidisciplinariedade;

• Os textos aqui reunidos tratam de aspectos técnicos sobre o


desenvolvimento de ferramentas para a tecnologia da informação
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jurídica, bem como das implicações jurídicas, éticas e políticas delas


decorrentes.

E se você está lendo estes "bits", é porque está engajado no mundo digital.
De nossa parte, escolhemos este caminho porque temos apreço pela vida
digital e pela facilidade que ela apresenta para este simples ato de divulgação
científica.

Hugo Cesar Hoeschl, Dr - Organizador

Tania Cristina D`Agostini Bueno, Msc, Marcilio Dias dos Santos, Msc, Lourdes
da Costa Remor, Fábio André Chedid Silvestre, Eduardo Marcelo Castela,
Orly Miguel Scheitzer, Marco Antonio Machado Ferreira de Mello, Walter Felix
Cardoso Junior, Antonio Carlos Facioli Chedid, Ione Maria Garrido Lanziani e
Márcio Humberto Bragaglia e Ricardo Miranda Barcia – Autores.
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ELEMENTOS PARA APLICAÇÃO DE INTELIGÊNCIA


ARTIFICIAL NO DIREITO
Hugo Cesar Hoeschl, Dr

digesto@digesto.net

1. Introdução

As técnicas que constituem a tecnologia da informação, principalmente a


telemática e a internet, a inteligência artificial e a realidade virtual, oferecem a
possibilidade de desenvolvimento de diversas ferramentas que vão facilitar as
tarefas diárias de formação e aplicação do direito. A instalação de redes, a
emissão de sinais, a comunicação a distância, o desenvolvimento de
"softwares" específicos, a aplicação da telepresença, entre outras atividades,
estão entre as muitas a serem desenvolvidas no cotidiano dos trabalhos
jurídicos.

Serão dedicadas algumas linhas aqui às possibilidades oferecidas pela


inteligência artificial e algumas de suas técnicas, comparando-as, quando
possível, a figuras tradicionais do raciocínio jurídico, como, por exemplo, a
analogia.

Veja-se, então, uma visão, introdutória e superficial, sobre como possa ser
definida a inteligência artificial (1):
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" Inteligência artificial - artificial intelligence

O campo da ciência da computação que busca


aperfeiçoar os computadores dotando-os de algumas
características peculiares da inteligência humana, como
a capacidade de entender a linguagem natural e simular
o raciocínio em condições de incerteza.

Muitos pesquisadores da inteligência artificial admitem


que a IA falhou em alcançar seus objetivos, e os
problemas que impedem seu avanço são tão complexos
que as soluções podem demorar décadas - ou até
séculos. Ironicamente, as aplicações da Inteligência
artificial que, antes, eram consideradas as mais difíceis
(como programar um computador para jogar xadrex ao
nível dos grandes mestres) acabaram sendo produzidas
com razoável facilidade, e as aplicações consideradas, a
princípio, como mais tranqüilas (como a tradução de
Idiomas) têm-se mostrado extremamente complicadas.

Contudo, as tentativas de dotar os computadores de


inteligência foram, sob certos aspectos, compensadoras:
elas comprovaram a quantidade inacreditável de
conhecimentos que os seres humanos utilizam em suas
atividades cotidianas, como decodificar o significado de
uma frase falada. Douglas Lenat, pesquisador de
inteligência artificial que está tentando transportar para o
computador uma boa parte de seus conhecimentos de
vida, assinala que o computador não consegue
decodificar plenamente nem trabalhar com frases como
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'Sr. Almeida está em São Paulo' sem antes registrar uma


infinidade de informações como 'Quando uma pessoa
está numa cidade, seu pé esquerdo também está na
cidade'. Se, algum dia, você já acordou preocupado com
a possibilidade de que os computadores estivessem
ficando mais Inteligentes que os seres humanos, este
exemplo servirá para tranquilizá-lo".

Fazer uso dessa técnica e tentar desenvolver uma ferramentas


computacionais dotadas de lógica, para auxiliar na tarefa do estudo de dados
jurídicos, envolve um trabalho dificultoso, qual seja, analisar a forma
escolhida pelo homem para se comunicar e materializar suas normas: a
codificação da palavra em símbolos abstratos e rigorosas regras gramaticais.

Tal sistemática é relativamente recente, levando-se em conta a existência


humana, e, até a idade média, ainda estava limitada aos padres e eruditos.
Eles entendiam a codificação, e a maioria das pessoas era analfabeta (2).
Nos dias de hoje, o número de analfabetos ainda é grande e ainda é
relativamente restrito - embora não tanto quanto antes - o universo daqueles
que realmente dominam a técnica da escrita.

Vale lembrar que "a invenção e a difusão da técnica da escritura, somada à


compilação de costumes tradicionais, proporcionam os primeiros códigos da
Antiguidade, como o de Hamurábi, o de Manu, o de Sólon e a Lei das XII
Tábuas"(3).

Naqueles tempos, no surgimento das primeiras codificações, estava em curso


a maior mudança do direito ao longo de sua história, quando se passou a
considerar a escrita um mecanismo superior à memória das pessoas para a
armazenagem das normas(4), pelo simples fato de ser uma técnica mais
segura. Isso modificou profundamente o direito e as formas de organização
social, e os grandes sábios, líderes e tiranos deixaram de ser a fonte do
direito, passando a ser intérpretes.
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Ou seja, o surgimento de uma nova técnica de comunicação e registro de


informações foi o responsável pela maior mudança até então registrada no
universo jurídico, e não, ao contrário do que se possa imaginar inicialmente, a
discussão de novos temas que foram surgindo com o passar dos anos.

Então, dada a posição atual da escrita nas formas de estruturação e


armazenagem dos comandos do direito, o estudo e desenvolvimento de
qualquer sistemática de tratamento automático e inteligente das informações
jurídicas envolve, basicamente, duas tarefas: 1. O TRATAMENTO DA
LINGUAGEM NATURAL; 2. A BUSCA DE NOVAS TÉCNICAS DE
ARMAZENAGEM.

Na primeira, é necessária a estruturação de um mecanismo que faça uma


leitura de textos e, devidamente orientado, identifique uma série de
características relevantes para o utilizador, em algumas etapas específicas.
Deve buscar referências superficiais e estáticas, como datas, nomes,
números, etc. Deve identificar assuntos, temas e subtemas. Deve,
igualmente, detectar conclusões e lições, destacando-as. Além, é claro, de
outras funções.

Na segunda tarefa, cabe indagar sobre o retorno às origens da linguagem.


Explicando: as primeiras formas de escrita eram pictográficas, e, no âmbito
computacional, o desenvolvimento de linguagens e interfaces está nos
permitindo o uso de ícones (formas pictográficas) (5), um meio de
comunicação mais confortável e prático do que a ortografia.

Isso está nos permitindo idealizar um avanço significativo na comunicação,


segundo o qual "textos escritos vão dar lugar a imagens mentais que
apresentam tanto objetos reais quanto simbólicos e enfatizam a interação e a
experiência em detrimento do aprendizado passivo." (6) (Destacado do
original).

2. Inteligência artificial X inteligência natural


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No sentido de se buscar, no plano prático, essa evolução anunciada, tem-se


um poderoso referencial: a interseção entre a inteligência natural - IN - e a
inteligência artificial - IA -, onde é possível tentar conciliar a velocidade de
processamento da segunda e a sofisticação da primeira, como apontou
EPSTEIN (7).

A inteligência artificial, dentro do contexto ora delimitado - sem prejuízo da


definição já apresentada - pode ser entendida também, em uma ótica ainda
bastante primária, como "o conjunto de técnicas utilizadas para tentar realizar
autômatos adotando comportamentos semelhantes aos do pensamento
humano", como apontou MORVAN (8).

Sabemos que a IN perde para a artificial na capacidade de busca e exame de


opções, mas é superior em tarefas refinadas e perceptivas, como fazer
analogias e criar metáforas.

Assim, um mecanismo que combine técnicas de IN e IA, buscando uma


adequada manipulação da linguagem natural, permite a identificação de
idéias dentro de um texto jurídico.

Porém, é importante enfatizar que um passo no sentido de se buscar, no


corpo de um escrito, aquilo que uma pessoa "pensou", ou seja, suas idéias e
conclusões, está teleologicamente ligado ao desejo de se buscar aquilo que
uma pessoa realmente "sentiu" ao analisar o tema sobre o qual escreveu.

3. Figuras de raciocínio

Vale frisar que a inteligência artificial é uma figura típica da tecnologia da


informação, praticamente moldada por ela. Para o delineamento da
interseção apontada, vamos destinar breve atenção a algumas figuras ligadas
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à inteligência natural, como o raciocínio analógico, pré-existente aos


computadores (9):

Raciocínio analógico – analogical reasoning

Uma forma de conhecimento na qual a dinâmica de um fenômeno do mundo


real – como a aerodinâmica de um avião que se pretende construir – é
compreendida a partir do estudo de um modelo do fenômeno. Uma das
maiores contribuições da informática foi reduzir o custo (e aumentar a
conveniência) do raciocínio analógico.

"O raciocínio analógico era comum antes do


cumputador, conforme atesta o uso de maquetes de
aviões em túneis de vento. Como reduzem muito o
custo do raciocínio analógico, os computadores
provocaram uma verdadeira explosão de
descobertas analógicas – e, a propósito, no tempo
certo. Os cientistas admitem, cada vez mais, que a
maioria dos fenômenos do universo não se
caracteriza pelas simples relações do tipo f=ma que
distinguem as grandes descobertas da física; pelo
contrário, os sitemas complexos – como o sistema
imunológico humano, as sociedades humanas, a
ecologia, o clima do mundo e a interação das
estruturas cosmológicas de grande escala – se
caracterizam por um comportamento não-linera e
caótico, que não pode ser descrito por equações
simples. Esses sistemas não podem ser entendidos
por outros meios que não o raciocínio analógico. Ao
permitir que a humanidade crie modelos analógicos
de abrangência sem precedentes, os computadores
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possibilitaram o surgimento de uma nova ciência: a


ciência da complexidade".

Esse instituto, anterior aos computadores - como já dito - foi adequadamente


incorporado pela tecnologia da informação, assim como o raciocínio baseado
em casos. É claro, sabemos, o raciocínio baseado em algum caso é algo
quase tão velho quanto o hábito humano de "andar para a frente". Porém,
aqui se trata de uma nova ferramenta da inteligência artificial que utiliza tal
nomeclatura, podendo ser definida como uma "metodologia", que tem como
característica básica buscar em experiências passadas a melhor solução para
uma situação atual, aplicando o conhecimento já consolidado e cuja eficácia
já foi validada.

Tais procedimentos, derivados da tecnologia da informação, possuem


semelhança evidente com uma tradicional figura do raciocínio jurídico, a
analogia, um dos mais eficazes e pertinentes instrumentos de integração dos
comandos do direito.

Segundo Bobbio (10):

"Entende-se por ‘analogia’ o procedimento pelo qual


se atribui a um caso não-regulamentado a mesma
disciplina que a um caso regulamentado
semelhante. .

...............

"A analogia é certamente o mais típico e o mais


importante dos procedimentos interpretativos de um
determinado sistema, normativo: é o procedimento
mediante o qual se explica a assim chamada
tendência de cada ordenamento jurídico a expandir-
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se além dos casos expressamente


regulamentados." (Destacado do original) .

A noção é de utilidade indubitável, e a delimitação da análise da semelhança,


ponto de contato entre os casos, é necessária (11):

"Para que se possa tirar a conclusão, quer dizer,


para fazer a atribuição ao caso não-regulamentado
das mesmas conseqüências jurídicas atribuídas ao
caso regulamentado semelhante, é preciso que
entre os dois casos exista não uma semelhança
qualquer, mas uma semelhança relevante, é preciso
ascender dos dois casos a uma qualidade comum a
ambos, que seja ao mesmo tempo a razão
suficiente pela qual ao caso regulamentado foram
atribuídas aquelas e não outras conseqüências."
(Destacado do original).

Outras figuras assemelham-se ao contexto apresentado, como a


interpretação extensiva e o silogismo., com as quais não pode ser confundida.
O silogismo possui um mecanismo vertical de obtenção de conclusões,
enquanto a analogia e a interpretação extensiva se valem de um recurso
horizontal. Mas, mesmo que próximas e horizontalizadas, analogia e
interpretação extensiva possuem significativa diferença entre si, apontada
pelo mesmo autor (12):

"Mas qual é a diferença entre analogia propriamente


dita e interpretação extensiva? Foram elaborados
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vários critérios para justificar a distinção. Creio que


o único critério aceitável seja aquele que busca
colher a diferença com respeito aos diversos efeitos,
respectivamente, da extensão analógica e da
interpretação extensiva: o efeito da primeira é a
criação de uma nova norma jurídica; o efeito da
segunda é a extensão de uma norma para casos
não previstos por esta".

Esta sutil diferença provoca um forte impacto sobre a atividade de construção


e modelagem de sistemas inteligentes na área jurídica, visto que a proposta
não é a construção de sistemas que gerem normas, mas que facilitem a sua
aplicação (por enquanto...).

A comparação dos institutos nos demonstra a importância da análise dos


processos lógicos estruturados em torno do raciocínio de uma área
específica, e nos demonstra, também, que a lógica tem muita contribuição a
oferecer à inteligência artificial, residindo justamente aí um dos mais fortes
aspectos favoráveis da interseção apontada entre IA e IN.

4. Conclusão

O somatório dos instrumentos, espera-se, produzirá bons resultados, e o


comparativo tem a finalidade de demonstrar tal possibilidade, bem como a
viabilidade das interseções, tando da IA com a IN, como das figuras de
raciocínio derivadas da tecnologia da informação com aquelas particulares ao
universo jurídico.

Por fim, é certa a necessidade de atenção à produção de ferramentas,


enfatizando que tal atividade - que gerará novos métodos e técnicas de
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armazenamento e manipulação de informações - embora não seja


diretamente ligada à ciência jurídica, vai provocar fortes reflexos sobre o
direito e a justiça, como a escrita o fez.

Referências:
1.-PFAFFENBERGER, Bryan. Dicionário dos usuários de micro computadores, p.
347.

2.-Conforme afirmação de Francis HAMIT, in "Realidade virtual e a exploração do


espaço cibernético", p. 36.

3.-A assertiva é de WOLKMER, in "Fundamentos de história do direito", p. 20.

4.-Cf. SUMMER MAINE, citado por WOLKMER, ob. Cit., p. 20.

5.-Segundo constatação de HAMIT, ob. cit., p. 36.

6.-HAMIT, ob. cit., p. 226.

7.- IN "Cibernética", p. 81.

8.-Citado por EPSTEIN, ob. cit., p. 66.

9.-PFAFFENBERGER, Bryan.Ob. cit., p. 572.

10.-BOBBIO, Norberto. Teoria do ordenamento jurídico, p. 151.

11.-BOBBIO, Norberto. Teoria do ordenamento jurídico, p. 151.

12.-BOBBIO, Norberto. Teoria do ordenamento jurídico, p. 151.


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Proteção dos Direitos Autorais na Internet: uma questão


jurídica ou tecnológica?

Lourdes de Costa Remor

lu@saude.sc.gov.br

Universidade Federal de Santa Catarina

Estrutura:

1 - A Internet e a internacionalização dos direitos autorais

2 - Histórico

3 - Proteção legal dos Direitos autorais na Internet: a difícil aplicabilidade

4 - Proteção Tecnológica dos Direitos Autorais na Internet: a difícil


aplicabilidade

Exemplos de países que possuem proteção legal e tecnológica

5 - O futuro do direito autoral na internet - uma questão legal

6 - Conclusão

7 - Bibliografia
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1 - A Internet e a internacionalização

dos direitos autorais

A experiência tem nos mostrado que a mudança ou a necessidade de


mudanças gera não só desconforto, mas quase o pânico. Hoje, um dos meios
que está propiciando e acelerando a mudança ou a passagem do mundo pós
industrial para o mundo da informação é essa rede, chamada internet. A
internet ou o ciberespaço derrubou fronteiras territoriais com suas
características peculiares, sem dono, sem espaço, sem bandeira, sem
controle, até num certo anonimato. Tais características têm gerado
preocupações relativas aos direitos autorais, devido aos atributos da
virtualidade da rede e também de seus usuários.

A inexistência de controle da rede, se por um lado, parece prejudicial ao


autor, por outro, pode ser-lhe benéfica, na medida em que consiste numa
divulgação das obras com rapidez, abrangência e baixo custo. Pode-se
pensar que o aparente prejuízo seria, em muito, compensado pelas
vantagens da propaganda.

A internet nasceu sem pai e leva consigo as marcas desse parto, como a
essência mesma de seu processo. Um arranhão aí poderia descaracterizar,
ou mesmo impossibilitar o uso da rede, pois o usuário já está habituado a
essa relativa liberdade, e o seu sucesso talvez dependa disso.

Contudo, essa relativa liberdade proporcionada pela virtualidade e um certo


anonimato, não foi a causa das violações relativas aos direitos autorais, visto
que, a pirataria (atividade de copiar sem nenhuma autorização nem
pagamento) praticada, hoje, não é privilégio ou malefício único da internet.
Ela existe tanto dentro quanto, fora da internet.

Sabe-se que o prejuízo patrimonial, referente à infração do direito


autoral, nos casos de pirataria, é muito maior para o atravessador do que
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para o autor. Nessa discussão, o direito moral da propriedade parece não ser
muito considerado.

O plágio, outra preocupação relativa à difusão de obras na internet é


considerado também uma violação do direito autoral. Tanto o plágio como a
pirataria não são frutos da internet. Combatê-los, preservando o direito do
autor, deveria ser uma preocupação de longo tempo e não somente
direcionado à internet

Henrique Gandelmann, cita que "vários estudiosos de literatura


confirmam que Shakespeare, em sua dramaturgia, utilizava temas e
personagens e até mesmo a linguagem expressa nos diálogos, de outros
autores, alterando seus textos, criando os personagens que já existiam."
[Gandelmann, 1997, p.48]

"Pesquisas recentes comprovam que Galileu utilizou, em seus trabalhos,


anotações provenientes de seus professores do Colégio Romano, que ele
freqüentou."[Gandelmann, 1997, p.48.]

Como pensar o conceito de criação atribuído ao autor? O autor é quem criou,


inventou ou descobriu? Jacques Lacan, em seu seminário 23, trata da criação
como sendo a "chamada divina". É senso comum entre os psicólogos que o
que se chama criatividade, não passa de uma imprecisão fraseológica, de
que, a rigor, a criatividade não existe. Aurélio Buarque de Holanda Ferreira,
traz no verbete criador, como substantivo masculino: aquele que criou; Deus,
entre outras. Portanto esse conceito parece mais ligado a ordem do divino do
que a do humano. Assim, na impossibilidade de considerar o autor como
criador, pode se pensar que tamanho rigor com relação ao plágio, deveria
merecer maior atenção, visto que, supostamente, na natureza nada se cria,
conforme o célebre dito de Lavoisier.

Com referência à contrafação, ou seja, a falsificação de produtos, de valores,


assinaturas, ela já existe e é combatida legalmente fora da internet. O delito
aqui citado continua sendo o mesmo, o que mudou foi o meio em que ele é
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praticado, ou seja, o meio virtual, que dificultou a sua localização,


identificação e conseqüente aplicação da lei.

Há legislações, brasileira e internacional, os chamados Tratados


Internacionais, que tratam exclusivamente dos direitos autorais. Criar outras
leis ou acordos não acrescentariam maior proteção aos direitos autorais. A
questão não é falta de legislação é aplicabilidade destas leis na virtualidade
dos meios.

A Lei Brasileira do Direito Autoral, Lei 9.610 de 19 de fevereiro de


1998, concede proteção legal ao direito autoral, independente de registro,
bastando para tal, a obra ser fruto de capacidade criativa e tenha o requisito
da originalidade.

Quanto aos Tratados Internacionais, "A legislação autoral cobre qualquer


meio de comunicação, existente ou que venha a ser inventado, ressalvando
assim o aspecto legal dos direitos autorais. Ela tem como referência e objeto
as obras de espírito, seja qual for o meio de fixação e transmissão, tendo
vocação universal, amparada em convenções que envolvem todos os paises
do mundo."[Plínio Cabral, 1999]

O Brasil faz parte de importantes Tratados Internacionais. E, por esse motivo,


os direitos autorais, no Brasil, do ponto de vista legal, teoricamente não
esbarrariam com o ilimitado espaço territorial alcançado pela internet.

2 - Histórico

O surgimento de problemas ou preocupações relativos aos direitos autorais é


bastante antigo.

Nos tempos romanos as obras eram reproduzidas por meio de


manuscritos, e apenas os copistas eram remunerados pelo seu trabalho. Aos
autores só lhe eram reconhecidas honras e glórias quando lhe respeitavam a
paternidade e a fidelidade do texto original. Havia o direito natural referente as
obras.
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Com a invenção da impressão gráfica, no século XV, surge o problema


da proteção jurídica do direito autoral, principalmente no que se refere a
remuneração.[Gandelmann, 1997, p.28.]

Na Inglaterra, desde 1662, com Licensing ACT, era proibida a


impressão de qualquer livro não registrado devidamente. Era uma forma de
censura.

O copyright começa a ser reconhecido na Inglaterra com o "Copyright


ACT", de 1709, da rainha Ana. A coroa protegia por 21 anos, as cópias
impressas e por 14 anos as cópias não impressas. O prazo de proteção
contava da data da impressão.[Gandelmann, 1997, p.29.]

Na França, a revolução francesa de 1789, acrescenta a primazia do


autor sobre a obra. A Proteção se estende por toda a vida do autor, e até
mesmo após a sua morte, transferindo-se todos os direitos para seus
herdeiros. [Gandelmann, 1997, p.30.]

No Brasil, a primeira manifestação a respeito encontra-se na Lei de 11


de agosto de 1827, que instituiu os cursos jurídicos no Brasil.

Em 1830, com a promulgação do direito criminal, surgiu a primeira


regulamentação geral da matéria , no Brasil.[Gandelmann, 1997, p.31.]

Tratados Internacionais: "A dramática e dinâmica explosão tecnológica


dos meios de comunicação do mundo moderno, com a difusão das obras
intelectuais cada vez mais internacionalizada, criou a necessidade de se
proteger o direito autoral em todos os territórios do planeta. Tal fato deu
origem aos tratados internacionais, nos quais se busca dar aos autores e
titulares dos paises aderentes aos convênios a mesma proteção legal que
cada país dá a seu autor ou titular nacional." [Gandelmann, 1997, p.33.]

3 - Proteção legal dos Direitos autorais na Internet:

a difícil aplicabilidade
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A veiculação e divulgação de informação de alcances territoriais


ilimitados chegou com a criação da internet. Com ela também chegaram
alguns problemas. Um deles seria a garantia dos direitos autorais num veículo
sem território.

Para Stuber "A territorialidade sempre foi um dos elementos essenciais


para a aplicação do Direito, sendo um dos princípios da Soberania dos
Estados contemporâneos, o reconhecimento do poder de aplicação do direito
nacional de um Estado, dentro de seu próprio território."

A descentralização é uma das características da internet, já que não


existe um órgão que controle o fluxo, nem o conteúdo das informações que
circulam pela rede. A informação pode ser lançada na rede, passar por vários
servidores e percorrer vários paises até chegar no destinatário final.[ Stuber,
1998]

Daí surgem as dúvidas sobre a responsabilidade das violações dos


direitos autorais na internet, tais como: a responsabilidade das violações é do
servidor de acesso, ou de quem incorpora conteúdo e os transmite? É
possível que o servidor, no qual o conteúdo pirateado esteja armazenado, se
localize em determinado país; o servidor por cujo intermédio ele é anunciado,
em outro; e o vendedor, num terceiro. [Gandelmann, 1997, p.162.]

Na Web, a identificação só é possível para o provedor e seus clientes,


mas o usuário mesmo pode ser qualquer pessoa física ou jurídica, em
qualquer lugar do mundo. A Compuserve, talvez o maior provedor de acesso
do mundo, foi obrigada a desconectar cerca de 200 clientes da rede porque
veiculavam matéria pornográfica, por decisão de um tribunal alemão.
[Gandelmann, 2000]

Ainda que não garantam a proteção dos direitos autorais, devido as


características da internet, existem os tratados internacionais que tratam de
legislação específica no esforço de cobrir o maior espaço territorial possível.

"A adesão de vários paises aos tratados internacionais sobre a


proteção dos direitos intelectuais, dentre eles, os mais importantes, a
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Convenção de Berna de 1886 (obras literárias e artísticas) e a Convenção


Universal dos Direitos do Autor (Convenção de Genebra), os direitos autorais
recebem um tratamento mais ou menos homogêneo em todo o mundo."
[STUBER, 1998]

"É necessário, no entanto, que os paises aderentes aos tratados


internacionais, além das adaptações que os mesmos estão a exigir, façam
também alterações nas suas legislações internas. Só assim os titulares de
direitos autorais de um determinado país terão os seus direitos assegurados
nos outros, e vice-versa." [GANDELMAN, 1997, p.164.]

No Brasil, a proteção legal aos direitos autorais é abrangente - basta


que a obra tenha o requisito da originalidade, que seja produto da capacidade
criativa do artista, para merecer a proteção dos direitos autorais. Por exemplo,
nos Estados Unidos, há a exigência do registro da obra para que ela tenha
proteção jurídica.[Stuber, 1998]

A não exigência de registro da obra para a concessão do direito autoral


no Brasil é de certa maneira, uma medida inteligente e que vale pensar para a
proteção na internet.

O fato da ausência do registro da obra, nunca tirou do autor a primazia


de seu direito, visto que, mesmo das obras antigas, conhecemos seu autor,
ainda que criadas antes da impressão gráfica.

A disponibilização de obras, na forma digitalizada, não retira o direito da


sua autoria, ela continua a ter vigência no mundo on line da mesma maneira
que no mundo físico, embora o autor levanta um aspecto sobre a definição
jurídica da transmissão eletrônica de obras protegidas pelos direitos autorais,
se ela é uma reprodução ou distribuição? [Gandelmann, 1997, p.154 e 162]

4 - Proteção Tecnológica dos Direitos Autorais na Internet:

a difícil aplicabilidade
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Hugo Cesar Hoeschl, Dr (org)

Além das leis existentes e em vigor, existem outras formas de proteger


o direito autoral, na internet. São medidas tecnológicas, que dificultariam o
acesso do usuário às informações. Uma delas seria a "utilização de
'tatuagens' do objeto digital, um tipo de marca ou sinal que acompanhe o
objeto digital e seu conteúdo de forma a permitir a verificação de novas
cópias, adaptações, transmissões, etc."[Santos, 1999]

A Elaboração de códigos de acesso às informações, as chamadas


"chaves" eletrônicas, sem as quais o receptor não poderá ler ou reproduzir, é
uma outra forma.

Criptografia, uma escrita enigmática, permite codificar uma informação


de forma a tornar difícil sua decodificação sem a chave adequada.

Uma outra medida seria, inserir no material disponível na rede,


mensagens evidenciando a necessidade do pagamento dos direitos autorais,
no caso de uso e reprodução (acordo de cavalheiros).[Stuber, 1998]

Levantam-se questões: essas medidas tecnológicas não atentam


contra a liberdade de informação? A essência mesma da internet não estaria
na característica da liberdade individual mais do que na do controle, já que
não tem dono, nem patrões, nem controladores?

Se reproduções sem permissões acontecem fora da internet, porque


acreditaríamos que ela funcionaria para a internet?

Podemos perguntar sobre a legalidade da exigência de que todo


usuário de criações intelectuais disponibilizadas no ambiente digital, seja
obrigado a se identificar, e que os objetos digitais assim fornecidos, possam
ser posteriormente localizados, sem se ferir o direito à privacidade do
cidadão? [Santos, 1999]

Manoel Pereira dos Santos cita a sustentação de alguns sobre a


inexistência de tecnologia segura que permita associar aos arquivos digitais,
licenças e condições de uso que subsistam após a disponibilização digital da
obra, de forma a controlar usos derivados posteriores. Acrescenta ainda que
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há uma tendência no sentido de priorizar as medidas legais como a melhor


forma de combater os usos não autorizados, na rede. [Santos, 1999]

Exemplos de países que possuem proteção legal e tecnológica

(Comércio eletrônico)

Irlanda : Existe proteção legal e tecnológica, no comércio eletrônico

Legal: O regime de comércio eletrônico da Irlanda é muito flexível e


orientado para o consumidor doméstico tanto quanto as empresa. A
abordagem utilizada na legislação e regulação das atividades de comércio
eletrônico foi pautada por um critério de "neutralidade tecnológica", ou seja,
um regime que permitisse a rápida adoção das transações comerciais via
internet através da validação de assinaturas eletrônicas. Contratos e
assinaturas realizadas via internet, são cobertos por legislação formal que dá
plena garantia aos termos firmados, assegurando os negócios conduzidos
pelas empresas do ramo.

Tecnológica: Através da criptografia. A orientação adotada foi balançar


4 elementos cruciais na questão da privacidade da informação.

1 - A preservação dos direitos individuais à privacidade

2 - A necessidade de garantir a segurança nas comunicações

3 - As exigências das Agências governamentais

4 - O desenvolvimento da indústria criptográfica na Irlanda.

Assim, a regulação irlandesa garantiu aos indivíduos a capacidade de


escolherem o método de criptografia preferido, permitindo a produção,
implantação e o uso de produtos criptográficos sem quaisquer restrições
legais.

A exportação de produtos criptográficos é regulada por sua vez, de


acordo com a legislação da união européia, de modo que o regime jurídico
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adotado na Irlanda segue o chamado "Acordo de Wasenaar", que regula a


proteção da privacidade nas transações eletrônicas em toda a
Europa.[Camarero, 2000]

Alemanha: Nos Estados Unidos, a assinatura digital já foi reconhecida,


agora a Alemanha reconhece a validade jurídica das assinaturas eletrônicas
na internet, 16/08/2000 - Berlim. Os contratos firmados no comércio
eletrônico, através da internet, terão a mesma validade legal na Alemanha
que os contratos comerciais impressos, segundo um projeto de lei aprovado
esta quarta- feira, pelo governo. (Esta notícia circulou no UOL, em
16/08/2000)

5 - O futuro do direito autoral na internet - uma questão legal

O futuro sempre é desconhecido. Entretanto, é de se pensar no que


houve com a invenção da fotocópia. Falava-se, à época, que o comércio dos
livros seriam prejudicados, ou até que a maioria das obras seriam apenas
reproduzidas, sendo que os direitos autorais estariam correndo grave perigo.
A situação da fotocópia, por baixos preços, se instalou, proliferou e, hoje foi
superada pelo computador, antes mesmo de ser resolvida. Será este também
o destino dos direitos autorais na internet?

Outro fato, levantado por alguns autores, é de que a cópia ou a


reprodução de obras acessadas gratuitamente, via internet, poderá diminuir a
produção intelectual. Isso não parece fazer sentido, posto que a reprodução
intelectual já era possível por outros meios e nunca desfavoreceu a produção.
Uma talvez menor margem de lucro poderia ser compensada pela
propaganda. Vale lembrar que o conhecimento difundido se reproduz, e não
diminui.

Quanto à proteção do direito autoral, a aplicação da legislação


existente, parece, no momento, não ser suficiente, contudo ela seria a mais
adequada visto que a aplicação de mecanismos tecnológicos que propiciem
um alto grau de segurança podem traduzir também um alto custo. Isto posto,
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o encarecimento do processo, inviabilizaria a difusão da informação e


descaracterizaria a essência da internet.

6 - Conclusão

O homem, diferentemente dos animais, é dotado de razão, mas em


situações conflitantes age de maneira irracional, às vezes imprevisível. O
surgimento das questões do direito autoral na internet tem levado o homem a
pensar nas diversas maneiras de proteger esse direito, esquecendo de
priorizar a legislação existente, que já concede ao autor essa proteção.

Essa preocupação exacerbada em controlar, mais do que uma defesa


de direitos, mostra-se uma imposição de poder. É mesmo de se estranhar,
que o homem no seu narcisismo, suportasse por um período de tempo
significativo uma rede de comunicação na qual não houvesse hierarquia
vertical, onde não houvesse comandantes e comandados subordinados. Por
isso a caricata preocupação de saber quem controla, de não entender que o
mundo virtual não está em nenhum lugar e ao mesmo tempo está em todos
os lugares, é realmente conflitante com a sua soberba. O homem parece não
conviver bem com enigmas e abstrações, é avesso ao que não compreende,
por não admitir que existam coisas além da sua capacidade de compreensão.

Se o mundo do Direito concede proteção ao autor, das obras difundidas


na internet, porque o bloqueio tecnológico, que descaracterizaria a rede?
Segundo Domenico De Masi, há perigos no progresso tecnológico, porém
pesam mais os seus aspectos positivos.[De Masi, 2000, p.77.]

A grande incógnita relativa aos direitos autorais é se ela emana dos


autores ou do chamado atravessador, que deixaria de ter grandes margens
de lucro, por intermediar as vendas.

A história mostrou que, independente de registro, proteção legal ou


tecnológica, o reconhecimento moral do direito autoral sempre existiu. Parece
que a preocupação em proteger os direitos autorais é meramente comercial.
Outras vantagens, outros meios haverão de ser reconhecidos que
compensarão a aparente perda causada pela internet.
A tecnologia da informação Jurídica
Hugo Cesar Hoeschl, Dr (org)

Não seremos nós, a nossa geração, o retrocesso da tecnologia.

7 - Bibliografia

1. CABRAL, Plínio. "Problemas relativos a direitos autorais na obra


multimídia". In: Revista da ABPI, nº 42, set/out/99. p.38-47.

2. CAMARERO, Erik. "Todo mundo fala em internet, mas a Irlanda faz".


www.revistadigital.com.br/radar/06012000.htm, 06/01/2000, em 10/07/2000.

3. DE MASI, Domenico. O Ócio Criativo. Rio de Janeiro: Sextante, 2000.

4. GANDELMAN, Henrique. De Gutemberg à Internet: direitos autorais na era


digital. Rio de Janeiro: Record, 1997.

5. GANDELMAN, Sílvia Regina Dain. A Propriedade intelectual na era digital -


a difícil relação entre a internet e a lei. In:
WWW.gilbertogil.com.br/humus/hu_sg.htm, em 18/08/2000.

6. LACAN, Jacques. Seminário 23. El Sinthoma. "El sínthoma y el padre".


Classe 1, de 18/11/75. Inédito.

7. SANTOS, Manoel J. Pereira. "A proteção e o exercício dos direitos autorais


sobre obras intelectuais e fonogramas no comércio eletrônico". In: Revista da
ABPI, nº 42, set/out/1999. p.48-59.

8. STUBER, Walter Douglas e FRANCO, Ana Cristina de Paiva. "A Internet


sob a ótica jurídica". In: RT 749. v. 749, mar/98. p. 60-81.
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Direito, Tecnologia e Qualidade

Tânia Cristina D'Agostini Bueno


bueno@eps.ufsc.br

"O nosso universo intelectual


comum entrou num processo de
fuga, de rejeição do mundo
romântico e irracional do homem
pré- histórico. Desde antes de
Sócrates foi necessário rejeitar as
paixões, as emoções, para liberar
o raciocínio, com o objetivo de
compreender a ordem da
natureza, até o momento
desconhecido. Agora é tempo de
aprofundar o conhecimento sobre
a ordem natural, através da
recuperação daquelas paixões,
originalmente rejeitadas. As
paixões, as emoções, e o universo
afetivo da consciência humana
também fazem parte da ordem
natural. Aliás, são o cerne dessa
ordem". Robert Pirsig
A tecnologia da informação Jurídica
Hugo Cesar Hoeschl, Dr (org)

Resumo
A perfeição atingida pelos cérebros eletrônicos a muito tempo saiu das páginas da
ficção científica e está sendo absorvida pela realidade. Banco de dados, sistemas
especialistas e principalmente a inteligência artificial estão contribuindo para a
formação de um Poder Judiciário mais célere, eficiente e, seguramente mais justo.
Entretanto, somente a informatização não será capaz de provocar as mudanças a
muito requeridas pela sociedade. É necessário uma atuação mais efetiva que
substituir a máquina de escrever pelo computador, é necessário reestruturar a Justiça
utilizando-se dos novos parâmetros da sociedade tecnológica. O presente estudo
procura apenas apresentar aspectos da questão tecnológica sobre a mente humana e
suas conseqüências para o mundo jurídico, sob a ótica da conclusão atingida por
Robert M. Pirsig, em seu livro "Zen e a Arte da Manutenção de Motocicletas". Nele o
autor joga o impasse filosófico que existe entre a mente e a matéria para cima daquilo
que ele denomina qualidade: "um evento que torna possível a inter-relação sujeito-
objeto, uma ferramenta do pensamento indispensável para a compreensão do
verdadeiro papel da tecnologia na vida do homem" e, deduz que a visão que o homem
tem do mundo - realidade - não é obtida pelo desenvolvimento do método científico,
mas pela visão dessa "qualidade", que é um "a priori" do qual deriva a mente e a
matéria.

Introdução

Existe uma incompatibilidade entre razão e sentimento, que revela algo


profundamente arraigado na mentalidade do homem ocidental, refletindo de
uma maneira negativa no relacionamento entre o homem e a tecnologia, algo
que o esta destruindo lentamente. Descobrir a origem, ou melhor os
fundamentos filosóficos desta crise, é um modo de eliminar aquilo de podre
que ainda constitui a mentalidade do chamado homem "moderno".

Na busca de uma orientação filosófica para a questão e empurrados pelo


trabalho recente na neurociência e na inteligência artificial, filósofos tentam
como nunca, resolver a antiga questão da dualidade corpo e mente,
perguntando se há realmente uma distinção entre ambos e como se processa
a interação. A perspectiva materialista está enraizada na filosofia naturalista:
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como parte da natureza, os homens são objetos da ciência e cada fenômeno


humano, incluindo a experiência subjetiva, tem uma causa material. Filósofos
como Paul Churchland e Mr. Dennett, freqüentemente anunciam que o
mistério da consciência está resolvido: o cérebro é para mente, como um
computador é para o processamento [The economist, (1996)]. Inobstante,
talvez por respeito a mente, esta perspectiva ainda é um projeto não um
resultado, pois mesmo se a computação prever um bom modelo de
pensamento, poderia ser ele o certo para o sentimento e experiência? Como
poderia a atividade cerebral ser tudo o que existe nos sentimentos de
remorso ou nas sensações de cor? Questões como essas devem ser
colocadas com nova veemência, ou cruéis versões do materialismo serão
redescobertas. O objetivismo da ciência já não serve para resolver questões
que o homem sabe serem reais. É tão falho como qualquer outro processo do
conhecimento.

O raciocínio dualista (objetivismo) dominou o homem civilizado de maneira


tal, que quase eliminou as outras opções. E essa é a origem de todas as
queixas.

No direito, a visão positivista, ou seja, o direito como ciência jurídica, nos


legou um poder judiciário distante e ineficiente. Este fato que nos levou a
conclusão que a justiça não é simplesmente a aplicação da lei e o juiz não é
imparcial na sua decisão. O universo afetivo que envolve o caso acaba se
manifestando, seja na forma da ideologia dominante, seja em forma de
discursos retóricos que podem ou não ser decisões justas. Então, torna-se
primordial reconhecer que para atingirmos a tão esperada justiça - que muitos
buscam nos tribunais, é necessário dar atenção a este universo afetivo que
envolve os casos. Pois, partindo deste reconhecimento, será possível utilizar
as tecnologias necessárias para a aproximação das pessoas envolvidas na
relação jurídica e tornar o judiciário mais efetivo e eficiente. Este é o primeiro
passo para uma visão de qualidade como resposta para o equilíbrio das
relações no universo jurídico, onde justiça poderá ser sinônimo desta
qualidade.
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A seguir, veremos como Pirsig busca a "qualidade" e como ela pode trazer
soluções para a estruturação de um papel real e efetivo do direito e da
tecnologia na sociedade.

Razão x sentimento

A lógica tradicional, imposta pela racionalidade do homem ocidental como


único modo para se conhecer a realidade, revelou uma certa
incompatibilidade entre razão e sentimento (corpo e mente), que refletiu de
uma maneira direta no relacionamento do homem com a máquina, impedindo-
o de compreender integralmente o que seja essa tecnologia - não uma
exploração da natureza, mas uma fusão entre a natureza e o espírito
humano, numa criação que transcende a ambos.

Quando a lógica tradicional divide o mundo em sujeitos e objetos , está


expulsando dele a qualidade. Então, ao romper com as barreiras do
pensamento dualista para preencher esse vácuo racionalista, Pirsig procurou
destruir a base da estrutura do conhecimento ocidental, construindo um
pensamento antiaristotélico. E é aí, através de uma importante ligação entre
as filosofias ocidentais e orientais, entre o misticismo religioso e o positivismo
científico, que ele encontra uma saída para esse estilo de vida tenso,
supermoderno, individualista e egoísta, que pensa ter dominado o mundo.

Então, utilizando a motocicleta apriorística de Kant - filósofo que ele


considera, entre os montanhistas modernos, aquele que atingiu um dos mais
altos cumes das montanhas do pensamento - Pirsig inicia a sua busca ao
conceito de qualidade, principalmente porque para Kant, a racionalidade de
um conhecimento não reside no objeto que se estuda, mas no modo como se
tenta conhecê-lo [Warat, (1995)].

Na sua tese, Kant considerou os pensamentos apriorísticos independentes


dos dados sensoriais. Infelizmente, Pirsig considera este pensamento dualista
a razão da atual crise social, uma prisão intelectual da qual o raciocínio de
Kant também faz parte, resultado de um defeito genético da razão. Razão que
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o homem moderno descobriu ser cada vez mais inadequado para lidar com
suas experiências cotidianas, pois a satisfação de seus desejos não
funcionavam de acordo com as leis da lógica.

Tal relação entre a Qualidade e o mundo objetivo poderia parecer misteriosa,


mas não é o que ocorre, ao colocar a qualidade como a essência da
realidade, desencadeou-se, para Pirsig, uma nova sequência de analogias
filosóficas. Hegel já havia se referido a isso com o seu conceito de Espírito
Absoluto, que também era independente da objetividade quanto da
subjetividade, era a origem de tudo, mas excluiu a experiência romântica
desse tudo. A partir daí nada mudou, e tudo mudou, isto é, mudou-se a visão
apriorística, os fatos eram os mesmos, mas os resultados não. Como
aconteceu com a revolução copernicana.

Na busca deste conceito de Qualidade, o autor descobriu vários caminhos


que partiam da vereda principal, levando a um mesmo ponto. Desembocou na
Grécia Antiga.

A grande questão é como adentrar nos universos ultra-racionais, sem o medo


de cair no finisterra, como eliminar a analogia existente entre a razão
moderna e o pensamento medieval da terra chata .

O retorno ao pensamento mítico e a origem da qualidade

Existem questões que preocupam o homem "moderno" mais que outras.


Notamos a incrível evolução tecnológica que surpreende a humanidade,
superando aquilo que é o maior motivo de orgulho do homem, ou seja, a sua
racionalidade. Por outro lado, essa mesma racionalidade se torna cada vez
mais inadequada para lidar com nossas experiências cotidianas, e isso está
gerando um ingresso em áreas irracionais do pensamento - ocultismo,
misticismo, experiências com drogas e coisas semelhantes.

Na sociedade moderna, cada vez mais a tecnologia faz parte do nosso


cotidiano, ela amarra nossas relações e torna-se parte indispensável da
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nossa vida. No entanto, subexiste um grande desconforto em relação a essa


mesma tecnologia, ao ponto de gerar um certas pessoas uma completa
aversão a qualquer mecanismo um pouco mais complexo.

Mas, retornemos à Grécia Antiga, ponto no qual encontraremos a base do


pensamento racionalista ocidental, onde iniciou o processo de desligamento
entre a filosofia e o pensamento mítico [Aranha et al, (1993)].

O argumento da preponderância do mythos sobre o logos afirma que a nossa


racionalidade é moldada por lendas, que o conhecimento atual está para
essas lendas assim como uma árvore está para o pequeno broto que já foi. A
diferença não está no tipo, nem na identidade; está apenas nas dimensões.

A Qualidade que Pirsig fala se situa além dos limite do mythos . É a


Qualidade que gera o mythos. "A Qualidade é o estímulo contínuo que nos
faz criar o mundo em que vivemos, na sua integridade, nos mínimos detalhes.
O homem inventa respostas à Qualidade, e entre essas respostas está a
compreensão do que ele mesmo é. Sabe-se alguma coisa, vem o estímulo da
Qualidade, a gente tenta trabalhar com aquilo que já sabe. O estímulo é uma
correspondência daquilo que já se sabe.

A pergunta "o que é qualidade?" havia sido lançada na filosofia sistemática,


abrindo um segundo caminho rumo à Grécia Antiga. A filosofia sistemática é
grega, as origens da dúvida sobre a autenticidade da qualidade tinham que
estar localizadas em algum ponto da Antigüidade grega.

O mundo nem sempre acreditou na superioridade do espírito. A idéia de que


a mente é uma questão de segunda categoria é muito antiga. A crença que a
matéria é a base e a mente veio posteriormente ou sobre o topo era a favorita
dos primeiros gregos. Isto cansou Platão que insistia que aquelas pessoas
tinham almas que sobreviviam à morte do corpo. Aristóteles opôs-se a esta
separação entre mente e corpo, impondo uma potente imagem de uma mente
com forma e estrutura, retornando ao atomismo de Demócrito, que sustentou
que a alma era feita de matéria.
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Platão desprezava os retóricos. Ao estudar a razão de tal abominação, Pirsig,


chegou a conclusão de que o ódio que Platão voltava aos retóricos fazia parte
de um conflito muito mais amplo, no qual a realidade do Bem, representada
pelos sofistas, e a realidade da Verdade, representada pelos dialéticos,
lutavam sem tréguas pela posse da mente humana. Como a Verdade venceu
o Bem, hoje podemos facilmente aceitar a realidade da Verdade e dificilmente
aceitar a da Qualidade.

Quando se vai apresentar uma idéia nova num ambiente acadêmico, age-se
objetivamente, sem se envolver com ela. Mas a idéia de Qualidade
questionava justamente essa objetividade e esse desinteresse, maneirismos
apropriados apenas à razão dualista. Alcança-se a qualidade dualista através
da objetividade; mas com a qualidade criativa, é diferente.

A voz analítica da razão dualista

Na tradição aristotélica, interpretada pela escolástica medieval, o homem é


considerado um animal racional, capaz de buscar e definir uma vida
adequada, e também de vivê-la . Ao ler Aristóteles, Pirsig concluiu que o
mesmo estava incrivelmente satisfeito com a proeza de identificar e classificar
tudo. O mundo aristotélico começava e terminava com tal proeza. Pirsig
adverte: se você entrar em uma das centenas de milhares de salas de aula de
hoje e ouvir os professores fazerem divisões, subdivisões, estabelecerem
relações e princípios e estudarem "métodos", será o mesmo que escutar o
fantasma de Aristóteles, que fala através dos séculos - voz analítica da razão
dualista.

A substância não muda. O método não permanece. Um sistema complexo


pode ser descrito de forma adequada primeiro em termos de suas
substâncias: seus subsistemas e peças que o compõem. Depois, ele é
descrito em termo dos métodos: das funções que desempenha, em ordem.
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Hugo Cesar Hoeschl, Dr (org)

A qualidade não é uma substância. Tampouco um método. É o objetivo que o


método visa alcançar. Quando tudo se divide em substância e método, assim
como em sujeito e objeto, já não há mais lugar para a Qualidade.

O Direito tornou-se ciência, perdeu-se o sentido da Justiça, o objetivo é a lei.


O juiz não decide mais sobre a vida de pessoas, mas se uma norma se aplica
ou não num determinado caso. Usar recursos tecnológicos onde não há lugar
para sentimentos, é caminhar para as previsões mais cruéis sobre uma
sociedade tecnológica.

O papel da qualidade criativa será criar um ambiente jurídico onde a


tecnologia será utilizada para valorizar o seu humano, diminuindo os entraves
burocráticos, a corrupção e principalmente a incompetência.

Conclusão

Importantes transformações, antes impensáveis pelos teóricos do direito,


estão ocorrendo no mundo jurídico. A tecnologia informática está provocando
mudanças estruturais no ensino do direito, na organização judiciária e,
principalmente, em alguns princípios fundamentais da teoria jurídica, pois os
velhos conceitos jurídicos não serem suficientes para compreender os novos
fatos que o complexo mundo cibernético começam a provocar.

No entanto, a evolução só será possível se a tecnologia informática


empregada for orientada para a busca da qualidade criativa, pois, senão
tivermos uma orientação teórica neste inevitável envolvimento do Direito com
a informática, num futuro não muito distante estaremos a mercê de sistemas
informáticos mal estruturados, no qual os sentimentos de uma sociedade
serão considerado de pouca relevância na elaboração final das leis,
sentenças e destino de toda humanidade.

A "qualidade" poderá ser a ponte de ligação entre o direito e a tecnologia,


pois sem qualidade a tecnologia nada mais é que um amontoado de bits
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dentro de um amontoado de peças mecânicas, coisa que, substâncialmente,


para quem busca a Justiça pouco significa.

Bibliografia

PIRSIG, Robert M. Zen e a arte da Manutenção de Motocicletas : uma


investigação sobre valores. Tradução de Celina Cardim Cavalcanti. Rio de
Janeiro: Paz e Terra, 1984.

Science does it with feeling. The economist. july 20th 1996,. p.71 a 73

WARAT, Luis Alberto. O Direito e sua Linguagem.. 2a versão. 2ª ed. Sergio


Antonio Fabris Editor. Porto Alegre. 1995.

ARANHA, Maria Lúcia de Arruda e MARTINS, Maria Helena . Filosofando:


introdução à filosofia. 2ª ed. rev.. SãoPaulo : Moderna, 1993, p.67.
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SIGILO, PRIVACIDADE E INTERCEPTAÇÃO NAS


COMUNICAÇÕES DE DADOS.

Orly Miguel Schweitzer

orlyms@zaz.com.br

RESUMO

A intensa evolução das comunicações de dados vem apresentando uma


constante necessidade de regulamentação ou de adaptação às normas legais
já existentes em todo o universo, à respeito do sigilo, privacidade,
interceptação e ética nas comunicações de dados. Este artigo aborda como
estas questões estão sendo tratadas no Brasil e em outros países.

INTRODUÇÃO

As comunicações de dados, notadamente pela Internet, avançaram fronteiras


entre os países caracterizando a mundialização das informações virtuais,
implicando na necessidade de medidas regulatórias em cooperação
internacional e em organismos de caráter supranacional. No entanto,
considerada a globalização da informação virtual torna-se difícil a
possibilidade de ser conseguido um sistema que substitua a necessidade de
educação, pedagogia e informação dos cidadãos tanto em relação às
implicações de seus atos como em relação aos seus deveres, e ainda sobre a
necessidade de garantir a uns e de observar a outros.
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Para tanto, a administração pública federal, estadual, e municipal deverá


oferecer condições de acesso e métodos de obtenção de informações bem
como a garantia do sigilo e privacidade naquelas prestadas aos órgãos
públicos pelas pessoas - naturais e jurídicas - nas informações
administrativas pela via eletrônica, nos procedimentos já existentes. A
exemplo de outros países, no Brasil, a legislação tributária já obriga, ou
possibilita em alguns casos, que um grande número de procedimentos de
natureza fiscal e tributária sejam prestados via Internet, tanto a nível federal
como estadual, a exemplo da declaração ao imposto de renda das pessoas
jurídicas e das pessoas físicas, obtenção de certidão negativa federal,
informações econômico-fiscais estaduais, etc.

A interligação entre os diversos órgãos da administração pública através da


Internet que assegure a prestação de informações com as empresas e os
cidadãos deverá garantir o respeito pela privacidade individual, pelos direitos
das empresas e instituições privadas e pela própria segurança do Estado.

Surge então, a necessidade de se criar meios que possibilitem a segurança


da informação, a garantia da privacidade e a possibilidade de cobrança de
serviços, a exemplo, neste último caso, dos cartões bancários. No entanto, há
que se assegurar de que tais medidas não venham se caracterizar em
censura.

PROTEÇÃO DO SIGILO E DA PRIVACIDADE NAS COMUNICAÇÕES DE


DADOS DOS INDIVÍDUOS, DAS EMPRESAS E DAS INSTITUIÇÕES, SEM
IMPOSIÇÃO DE CENSURA.

O direito à privacidade, no Brasil, está assegurado na Constituição Federal,


em seu artigo 5°, incisos X e XII, que expressam:

"Inciso X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem


das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral
decorrente da sua violação;"

"Inciso XII - é inviolável o sigilo da correspondência e das comunicações


telegráficas, de dados, e das comunicações telefônicas, salvo, no último caso,
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por ordem judicial, nas hipóteses e na forma que a lei estabelecer para fins de
investigação criminal e instrução processual penal;" (o destaque não consta
do texto legal).

No entanto, o mesmo dispositivo legal, expressa outros direitos, que a


primeira vista se contradizem àqueles citados anteriormente, porém, após
pequenas considerações constata-se que não se contrapõem. O mesmo
artigo 5° do texto constitucional, também garante:

"IV - é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o


anonimato;"

"IX- é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica, e


de comunicação, independentemente de censura ou licença;"

Verifica-se que a Constituição Federal, do Brasil, ao garantir direitos impõe


responsabilidades, expressando assim, o consagrado princípio democrático
no qual "o direito de uma pessoa só termina quando inicia o direito de
outrem".

A respeito argumenta Gomes Júnior: "Se a vida privada do indivíduo é


inviolável, como admitir que mensagens na Internet possam atingir a honra
alheia impunemente?" 1

O doutrinador português JJ. Gomes de Canotilho, ressalta: "não há conflito


entre liberdade de expressão e o direito ao bom nome em caso de
difamação". 2

O dispositivo constitucional não inclui em liberdade de expressão (Inciso IV) o


direito à difamação ou injúria (Inciso X).

Os Incisos IV e IX-CF não têm caráter absoluto e irrestrito. Existe a


possibilidade de o Poder Judiciário coibir abusos, inclusive com a proibição de
lançamento de mensagens ofensivas à honra e a imagem de terceiros, sem
que caracterize a censura, porém, deverá haver a iniciativa do ofendido ou de
órgãos de proteção à coletividade como é o caso no Ministério Público.
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(Inciso "XXXV- a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito
e a coisa julgada;")

O poder do Estado que se fará representar pelo Judiciário, interferirá, então,


para evitar abusos praticados nas comunicações virtuais, como: Propaganda
de racismo; instigação a crimes; ameaças de seqüestro em listas de
discussão; receitas de fabricação de bombas em home pages; pornografia
infantil; propaganda anti-negra ou anti-semita; propaganda enganosa
entre outras ilegalidades. Há que ressaltar que a interferência do Estado se
fará exercer, como se afirmou, pelo Poder Judiciário em processo legal.
Nunca sob a forma de censura e sim, sob a forma de responsabilização.

A censura é a proibição de certos atos e muito usada em regimes


governamentais onde não está evidenciada a democracia. É o exemplo de
necessidade de autorização prévia do órgão censor para publicação de
determinada matéria ou exibição de peças teatrais ou cinematográficas. A
responsabilização se faz presente, atualmente, no Brasil e de forma
democrática: A publicação por meios de comunicação como jornais, revistas e
televisão é totalmente livre, porém, os autores responderão pelos abusos que
cometerem em contrariedade com a legislação já existente (CF, Código Penal
Brasileiro, Lei de Imprensa, Código de Defesa do Consumidor, Estatuto da
Criança e do Adolescente e outras).

Sobre a censura na Internet são vários os juristas e doutrinadores que se


expressam totalmente contrários:

a) Opina Georges Charles Fischer: "Não obstante a inegável importância que


desperta, a Internet não pode estar acima da lei, mas a censura não é
desejável, pois no mais das vezes constitui instrumento abominável que
serve, quando muito, aos propósitos políticos e ideológicos dos que a
impõem." 3

b) Luis Carlos Cancelier de Olivo (obra já citada), assim se expressa: "Para o


Procurador da Fazenda Nacional e especialista em Informática Jurídica pela
Univali (SC), Hugo Cesar Hoeschel, a liberdade de comunicação, sob
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qualquer forma, são mais protegidas pelo direito brasileiro. Isso significa
poder publicar qualquer coisa que se queira. No caso dos veículos de
comunicação de massa, há cautelas e restrições estabelecidas nas esferas
constitucional, legal e regulamentar, principalmente no tocante à proteção da
infância e da juventude. Porém, elas, - as restrições cauteladas - não incidem
sobre a Internet, o que vale dizer que pode ser veiculada qualquer coisa,
independente de seu conteúdo, inclusive a tão discutida pornografia. Na
defesa desta posição Hoeschel utiliza três argumentos: a rede é mundial e
nenhuma censura tem seu alcance; o usuário tem opção de visitar o site que
quiser, prevalece a sua vontade; e a ética que impera na Internet é a da
liberdade. Daí que o mecanismo hábil à redução dos abusos, como
pornografia infantil, calúnias e facismo é a responsabilização e não a censura.
A divulgação de material pornográfico, pela Internet, não pode nem ser
capitulada como ofensa ao art. 17 da lei n° 5.250/67 (ofender a moral pública
e os bons costumes), visto que a infração deveria ser cometida "através dos
meios de comunicação e divulgação". A Internet não é definida como uma
das figuras descritas pelo parágrafo único do art. 12 - "são meios de
informação e divulgação, para os efeitos deste artigo, os jornais e outras
publicações periódicas, os serviços de radiodifusão e os serviços noticiosos -
hipótese na qual ela simplesmente não insere-se, argumenta para concluir
que "a censura, a qualquer título e de qualquer tipo, é simplesmente incabível
na Internet... diante da escolha entre censura e pornografia, devemos ficar
com a segunda, pois a primeira prejudicou muito mais a humanidade, ao
longo de sua história."

CENSURA NO E-MAIL

Conforme visto anteriormente, as comunicações virtuais deverão gozar de


privacidade. A Internet é protegida pela maior parte dos países do mundo. No
entanto as mensagens que circulam nas redes corporativas são consideradas
de propriedade das empresas. É considerado crime grampear telefones ou
abrir correspondências de funcionários das empresas e no entanto é
permitido ler as mensagens do correio eletrônico nas empresas. É que ditas
mensagens circulam dentro da empresa, nos aparelhos da empresas e entre
funcionários por ela pagos e em horário de trabalho. Em vários países, estão
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ocorrendo demissões de funcionários que fizeram uso indevido de e-mail na


empresa, com mensagens contrárias ao direito, como propaganda racista,
textos obscenos piadas preconceituosas, correntes religiosas, fotos pessoais,
cartões virtuais, currículo ao concorrente, comentários sobre a empresa,
comentários sobre os chefes, cantadas a colega de trabalho, assuntos de
futebol e tantos outros. Em outros países, como a Alemanha, a lei proíbe a
violação de correspondência eletrônica corporativa. Se a empresa quiser
espionar terá de obter ordem judicial. Há também uma tolerância em relação
à utilização do e-mail para assuntos particulares, determinando um número
máximo. A tendência é de que os funcionários passem a ser avisados de que
seus e-mail serão lidos pela empresa. Legislação neste sentido, foi proposta
em julho do ano 2000, nos Estados Unidos.

São várias as notícias que se tem sobre o assunto, na atualidade:

21/07/2000 : Proposta apresentada ao Congresso dos EUA a LEI DE AVISO


DE MONITORAÇÃO ELETRÔNICA: As empresas deverão informar a seus
funcionários se monitoram ligações telefônicas, uso de computadores e e-
mails.

BRASIL: Na falta de legislação específica, o mesmo vale para o Brasil.4

ALEMANHA: Lá, a situação é diferente. Conforme Roland Huegel,


coordenador de Internet da Siemens a lei proíbe a violação de
correspondência eletrônica corporativa. Se a empresa quiser espionar terá de
obter ordem judicial. Porém, existe uma tolerância em relação à utilização do
e-mail para assuntos particulares.5

INGLATERRA: Aprovada pelo Parlamento Inglês, a lei de Regulamentação de


Poderes Investigatórios (RIP). Falta a assinatura da rainha, para vigência a
partir de 05/10/2000. Concede ao Governo poderes para acessar e-mails e
outras comunicações codificadas na Internet
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01/08/2000. O jornal alemão Volkskrant: O serviço secreto de espionagem


alemão, o BVD estaria interceptando e monitorando o tráfego de e-mails entre
uma companhia de software da Alemanha e uma empresa purificadora de
água Iraniana, que estaria envolvida em projetos de energia nuclear.

INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA E DE DADOS NO BRASIL.

A Lei n° 9.296, de 25/07/96, veio regulamentar o inciso XII em sua parte final,
do art. 5° da Constituição Federal, dispondo sobre a interceptação das
comunicações telefônicas para fins de investigação criminal e instrução em
processo penal.

O seu artigo primeiro assim se expressa:

Lei n° 9.296/96

Art. 1° A interceptação de comunicações telefônicas, de qualquer natureza,


para prova em investigação criminal e em instrução processual penal,
observará o disposto nesta Lei e dependerá de ordem do juiz competente da
ação principal, sob segredo de justiça.

Parágrafo único: O disposto nesta Lei aplica-se à interceptação do fluxo de


comunicações em sistemas de informática e telemática.

O dispositivo constitucional (art. 5°, XII) determinou a inviolabilidade:

1. absoluta:

1.1 do sigilo da correspondência;

1.2 do sigilo das comunicações telegráficas;

1.3 do sigilo de dados.

2. relativa:
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2.1 sigilo da comunicação telefônica. Ocorreu uma vedação parcial, ou seja,


permitiu que em casos de investigação criminal e instrução em processo
penal pudesse ser violada, porém, mediante ordem judicial e na forma que a
lei viesse a estabelecer.

Trata-se de uma lei de grande importância no combate ao crime, quando na


atualidade é muito grande o uso das comunicações telefônicas, tanto para as
práticas lícitas como para aquelas consideradas ilícitas, ou sejam, as práticas
criminosas onde os delitos são praticados, articulados com planejados pela
via em questão. Daí, a necessidade de uma regulamentação legal que
possibilitasse e regulamentasse a forma em que pudesse ser concedida
autorização judicial para a escuta das comunicações telefônicas, permitidas
no texto constitucional, já descrito inicialmente.

A legislação ordinária concebeu uma abrangência que não esta prevista na


Constituição Federal, ou muito ao contrário, está determinantemente proibida,
quando determina: "É inviolável o sigilo ...de dados". Em decorrência desse
preceito constitucional, o legislador ordinário deveria restringir-se a
regulamentar tão somente a escuta telefônica, que no nosso entendimento
foi, ali, definida e permitida. No entanto, a interceptação do fluxo de
comunicações em sistemas de informática e telemática foi recepcionado no
parágrafo único do art. 1° da referida lei.

Daí, é grande o número de juristas, doutrinadores e especialistas em


informática jurídica que consideram ser inconstitucional esse disposito:

• O jurista Vicente Greco Filho, (citado por Olivo) define: "Em nosso
entendimento é inconstitucional o parágrafo único do art. 1° da lei comentada,
porque não poderia estender a possibilidade de interceptação do fluxo de
comunicações em sistemas de informática e telemática. Não se trata aqui de
aventar a possível conveniência de fazer interceptação nesses sistemas, mas
sim de interpretar a Constituição e os limites por ela estabelecidos à quebra
do sigilo".
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• Especialista em Informática Jurídica: HUGO CÉSAR HOESCHEL, em


sua dissertação de Mestrado em Direito na UFSC, sobre "O relacionamento
da telemática com o Direito e seu tratamento jurídico no Brasil" , defende a
idéia de que "a comunicação de dados não pode ser interceptada; o
parágrafo único do artigo 1° da Lei 9.296/96 é absolutamente
inconstitucional".

• O advogado José Henrique B. M. Lima Neto (citar n° para a obra no


rodapé) opina pela inconstitucionalidade do dispositivo em estudo e afirma:
"Toda e qualquer prova obsoluta através da violação de comunicações em
sistemas de informática ou telemática - nos quais existe tráfego de dados de
computador - deve ser considerada prova ilícita."

CONCLUSÃO

O assunto tratado é bastante controverso. Várias leis já existem no Brasil e


no mundo, que poderão ser aplicadas à Internet e outras haverão de ser
editadas. Deve-se considerar a grande dificuldade se ser alcançada essa
regulamentação, eis que são constantes as transformações das tecnologias e
meios de comunicação e informação. É importante ressaltar que o esforço de
legislação de aspectos do mundo virtual em um país deve obedecer ao
conjunto de premissas e diretrizes que pauta a tradição do direito do país. Há
por exemplo clara distinção entre as abordagens dos EUA e da União
Européia face ao desafio da legislação da Internet. Enquanto nos EUA há
uma tendência de "liberdade", na União Européia a tendência dominante
aponta no sentido oposto, criando controles mais rígidos. Cabe ao Brasil,
definir sua política de regulamentação, objetivando sua inserção na
Sociedade da Informação.

BIBLIOGRAFIA

* Livro Verde - A Sociedade da Informação no Brasil. Grupo de implantação


da SocInfo. Agosto de 2000.

* Livro Verde para a Sociedade da Informação em Portugal. Disponível em:


http://www.missao-si.mct.pt
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* Olivo, Luis Carlos Cancellier. Direito e internet: a regulamentação do


ciberespaço. Ed. Da UFSC, 1999.
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Governo Eletrônico (Governo on-line) - Aspectos De


Viabilização E Otimização Dos Serviços Públicos

Eduardo Marcelo Castella

ragalodu@bol.com.br

Resumo:

No mundo pós moderno não há mais lugar para governantes que trabalham
de portas fechadas. Há a imperiosa necessidade de exercer a cidadania no
seu mais amplo espectro. Coincidentemente ou não, as inovações
tecnológicas vêm de encontro a este anseio, possibilitando fiscalizar, acionar
e participar das atuações governamentais de maneira antes inimaginável. A
Internet é dinâmica, veloz, tudo que vai a Web vai ao mundo. Se o governo
precisa mostrar que é capaz de produzir bons resultados, assim deve fazer
também na rede mundial de computadores. Investimentos precisam ser
alocados para o desenvolvimento de "sites" que não sejam puro "marketing",
mas que visem dar atendimento ao público alvo, o cidadão. Construir meios
que possam tornar a vida mais simples. Podendo, de outro lado, aumentar a
arrecadação de taxas e emolumentos através de serviços on-line, como no
caso já utilizado pela Receita Federal em relação ao IR (imposto de renda),
bem como incrementar e agilizar as relações comerciais e diplomáticas
estatais, são o "g to c" (governo para cidadão), "g to b" (governo para
empresas) e o "g to g" (governo para governo). O que este trabalho propõe é
apontar por onde deve o Estado começar, com o objetivo de evitar a criação
de sistemas oficiais que não correspondam as expectativas dos destinatários,
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seja frustrando-lhes em não oferecer eficiência, seja por não possuir atrativos
ou por não ter sido colocado em funcionamento há mais tempo.

Introdução:

Para alguns trata-se de assunto que não deve receber grande atenção, vez
que os problemas sociais são imensos e não foram solucionados, sendo eles
reais e não virtuais, podendo-se relegar a um segundo plano a parte
eletrônica de um governo. Porém, os avanços tecnológicos estão abrangendo
cada vez mais as ações governamentais não havendo possibilidade de não
se atender ao que está sendo pesquisado nas universidades e empresas,
com repercussão direta nas atividades oficiais do Estado.

Dentre as inovações tecnológicas, certamente, o que mais vem se


destacando é o uso da Internet para atividades comerciais, pessoais e
oficiais, dada a sua grande mobilidade e poder de penetração, atingindo os
grandes centros populacionais até os mais distantes rincões, do país e do
mundo, até mesmo em alto mar, bastando para isso estarem conectados a
uma linha telefônica, forma mais comum de acesso. A conseqüência disto é a
possibilidade de disseminação de informações em tempo real e para um
maior número de pessoas, bem como proporcionar, no caso de um "site"
governamental, a facilidade de acesso também para serviços.

Evidentemente para que sejam implantados serviços e informações em todo o


âmbito governamental há um longo caminho a percorrer, vez que as
atividades são várias e disseminadas em múltiplos órgãos (previdência social,
segurança pública, saúde, etc., no âmbito do Executivo) e esferas (federal ,
estadual, municipal), mas, como disse o poeta, o caminho se faz ao caminhar.
E sob esta ótica destacamos alguns pontos que julgamos importantes.

Implantação:

Para disponibilizar uma página na WEB o governo precisa dimensionar o que


e para que vai montar esta página, especificando quais as informações e
serviços manterá ao alcance dos internautas. Deverá realizar um projeto que
vislumbre as necessidades imediatas e mediatas. Neste aspecto acreditamos
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que a melhor maneira de se pensar seja a de Jay Nussbaum, da Oracle, para


quem o governo on-line, governo eletrônico ou "e-government", deve seguir a
linha do " Start small. scale fast, deliver value." Para que não ocorram
atropelos e falhas em um projeto que não venha a atingir todas as
possibilidades de uso da tecnologia. Portanto, um plano bem pensado vale
muito mais do que um realizado a "toque de caixa" apenas para satisfazer
uma determinada situação ou momento política.

Dentro desta área deve-se prever a instalação da área física, com a alocação
de equipamentos de informática que atendam eficientemente a demanda,
bem como a extensão da mesma. Se queremos uma rede Federal, devemos
estar preparados para investir em todo o território nacional. Em alguns países
isto, de certo modo, é bem mais fácil, seja porque tratam-se de países "ricos",
seja porque possuem dimensões reduzidas, comparadas às nossas.
Exemplos são Singapura e Inglaterra. Ambos possuem condições financeiras
e territoriais propícias ao excelente desenvolvimento do e-governo. Tanto
assim que Singapura está muito avançada nesta área implementando
serviços e atividades governamentais, nas mais diversas áreas, como
governo para cidadão (g. to c.), governo para governo(g. to g.) e governo para
empresa (g. to b.), extraindo o máximo de proveito que a Internet pode
fornecer, implementando continuamente programas de expansão da rede e
facilitação do acesso. Na Inglaterra o primeiro ministro Tony Blair, desenvolve
projeto no sentido de implementar o e-governo, disponibilizando para toda a
população da ilha, com um forte apelo para a previdência social. Como
representante das classes trabalhistas inglesas, acredita Blair que a Internet
pode democratizar e facilitar a vida da população menos favorecida da
Inglaterra. Países da Comunidade Européia, de modo geral, já dispõem de
infra estrutura para a demanda criada, bem como regulamentação sobre
transações comerciais e delitos, havendo legislação semelhante para os
Estados integrantes, fazendo-se mesmo o reconhecimento e validação da
assinatura digital, caso da Alemanha. No mesmo diapasão os Estados
Unidos, onde reconheceram a validade da assinatura digital, anterior a
Europa, e proporcionam serviços e informações na Web.
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Tratando-se de uma organização gigantesca, apontam os especialistas que a


evolução das redes no serviço público devem progredir passo a passo.
Primeiro um site com um panorama geral, do governo e das suas atividades e
serviços. Num segundo momento comunicação de uma via (one way), onde o
usuário já poderá requerer serviços mas recebe as respostas posteriormente,
e.g. via e-mail. E, a terceira, ao oferecer serviços on-line em tempo real. Tudo
isto com sites cada vez mais objetivos e práticos, não ficando o internauta
pesquisando e navegando pelas páginas até encontrar o link que resolva o
problema que o levou a acessar a rede. Estaríamos apenas retirando-o da fila
física e empurrando para a digital. Deverão prover o site com sistemas de
inteligência artificial onde bastará a explanação da situação e o link indicará a
página com a melhor solução.

As iniciativas tanto do governo federal quanto dos governos municipais vêm


obtendo excepcionais resultados. Estes, por serem regionalizados, tem
condições de medir aonde podem ser mais eficientes no atendimento ao
cidadão. No mesmo sentido o governo Federal brasileiro vêm agindo ao
implantar páginas de previdência social e da receita federal, oferecendo
informações e serviços que redundem em maior comodidade para a
população, esta última inclusive obtendo índices extremamente altos para a
entrega de declarações de IR via Web.

Manutenção:

A instalação da estrutura física deve obedecer a critérios bastante objetivos,


não perdendo de vista a necessidade de expansão da rede na mesma
proporção que aumenta a demanda. Como corolário temos a manutenção do
sistema. Este não pode ser relegado a um segundo plano ou considerado
menos importante. Tudo que for disponibilizado estará sendo acessado por
milhares de pessoas, empresas e governos. O sistema não pode cometer
falhas, vendo-se aí a questão da segurança. Todo o sistema deve trabalhar
integrado ao mesmo tempo que não pode oferecer riscos aos usuários, seja
quanto a invasão por "hackers" seja em razão de "quedas" ou panes ou
mesmo má administração dos equipamentos. Ninguém quer ver seus dados
trafegando pela rede de forma aberta, muito menos saber que eles foram
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Hugo Cesar Hoeschl, Dr (org)

conseguidos através de um "site" oficial do governo. Mesmo que os serviços


e informações oferecidos oficialmente não proporcionem o retorno financeiro
desejado para o governo, até porque não tem como objetivo o lucro, deverá
investir muito para que não ocorram falhas no sistema eletrônico. Afinal ter a
imagem arranhada pode custar muito mais que o investimento para ver
funcionar adequadamente.

Descontinuidade:

As políticas em inovação tecnológica (IT) não podem ficar restritas a este ou


aquele administrador. Quando falamos em políticas para o desenvolvimento
da tecnologia e para sua implementação, em especial quando já estão em
funcionamento, não podemos ser iconoclastas. Muito fácil é criticar e destruir
o que está feito, sem avaliar as conseqüências que isto trará para o futuro, é
a típica visão torpe do míope que se recusa a usar óculos, enxergando pouco
além do próprio nariz. As inovações tecnológicas continuam e continuarão a
avançar e permitir que uma pessoa ou grupo político, que assuma o poder,
em nome de uma suposta readequação de critérios e ações, venha a
desconsiderar o trabalho já realizado pode ser catastrófico.

Recentemente, na 4ª Conferência Internacional em Política Tecnológica e


Inovação (4ª ICTPI), realizada em Curitiba/Pr no período de 29 a 31 de
agosto de 2.000, foram apresentadas diversos trabalhos no quais evidenciou-
se que políticas sólidas e postas em prática trazem excelentes benefícios. Isto
nas mais diversas áreas, tanto na informática quanto no campo (agro
negócios). Em Curitiba, por exemplo, a prefeitura municipal investiu em
programas informatizados nas áreas de saúde e educação. Através de
cartões eletrônicos os usuários do sistema municipal de saúde não precisam
carregar vários documentos, ficando todo o prontuário e dados pessoais
armazenados na rede informatizada. Desta forma facilita-se o atendimento ao
agilizar procedimentos, não ficando o usuário, consequentemente, restrito a
um único posto de saúde. Na parte da educação a prefeitura de Curitiba
montou bibliotecas públicas, chamadas de Farol do Saber, equipando-as com
computadores para acesso a Internet, possibilitando que as classes menos
favorecidas tenham a disposição, não apenas o equipamento, mas também
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cursos onde aprendem a navegar pela Web, no mesmo sentido na rede


municipal de escolas.

Normalmente o que se vê é a oportunidade em se deixar uma marca, um


logotipo, quer-se preencher um espaço que eventualmente tenha sido
deixado aberto, inserindo um "slogan" que é identificação daquele
administrador o qual, ao perder a função, acaba vendo tudo o que foi feito ser
modificado para atender à nova gestão. Não se pode olvidar que realmente
cada governo procura deixar em suas obras sinais e marcas que os
identifiquem, até para que se possa saber quem fez o que. Mas em hipótese
alguma deve ocorrer rompimento nos serviços ofertados, sejam eles apenas
informações sejam transações "on-line" com emissão de documentos.

O que se apresenta é a possibilidade de muitos aproveitarem a alta da


Internet para criarem páginas que possam ser ligadas a seus nomes sem a
preocupação, efetiva, com uma política que venha a dar sustentação e
continuidade para a mesma. Deve ocorrer um intenso comprometimento entre
o que for planejado/executado e a política a ser implementada.

Recursos Humanos:

As novas tecnologias necessitam de mão de obra especializada. Cada vez


mais as empresas necessitam de pessoas com conhecimentos específicos,
exigindo qualificação. Aqueles que não desejam ficar apenas no mercado
mas na vanguarda, absorvem os melhores trabalhadores existentes. Para que
se tenha uma página na Web é importante que todos aqueles que trabalhem
na elaboração, manutenção e que dela irão se servir, tenham recursos para
acessar e, principalmente, que saibam como operar adequadamente os
equipamentos.

E aí o e-governo pode encontrar uma significativa barreira.

A tecnologia para o governo pode e deve ser usada de forma muito eficiente,
para tanto tem-se que aprimorar os recursos humanos existentes. O que não
pode ser admitido é a inexistência de uma postura que mantenha as ações já
elaboradas, removendo-se pessoas de setores chave para outros e,
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colocando, muitas vezes, alguém despreparado para exercer determinada


função técnica, perdendo-se todo o investimento realizado naquele(s)
funcionário(s).

A massa de servidores públicos é imensa em todas as esferas e pensar em


capacitá-los para as novas tecnologias num único momento pode ser inviável.
Criar centros de capacitação e treinamento para grupos que irão gerenciar os
bancos de dados seria o melhor caminho, mas não abandonando aqueles
que estão hoje atrás dos balcões, atendendo direta e pessoalmente o
cidadão, estes também precisarão entender, acessar e fornecer informações
por meio eletrônico.

O governo eletrônico também precisa definir quem vai estar diante da


máquina atualizando seus dados e serviços. Mesmo que possua um órgão
gestor das informações, como um banco de dados central, as comunicações
entre este e os demais órgãos não podem ocorrem de forma lenta,
burocrática, devem se dar on-line, em intranet, para que se torne eficiente. E
para isto implica em ter mão de obra qualificada.

Para treinar e preparar não basta que sejam montados cursos e oferecidos a
todos os servidores indiscriminadamente, até porque há aqueles que não tem
interesse ou motivação, possuem mesmo aversão a computadores ou
equipamentos eletrônicos. Mas montar equipes, nos diferentes órgãos para
que possam, em seus setores específicos, estarem habilitados a enfrentar os
problemas que possam surgir e poder melhorar o que for realizado.

E, esta equipe não poderá ser simplesmente dissolvida ao ocorrerem


mudanças administrativas, senão por critérios técnicos e devidamente
fundamentados. Desta forma preserva-se o investimento realizado no material
humano, procurando mesmo protege-lo de eventuais retaliações políticas que
possam redundar em perda de capacitação técnica.

Com tais medidas podem ser reduzidos os elevados custos com treinamento
de todos os servidores da administração pública, podendo, ao revés, elevar o
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nível de informação e conhecimento daqueles que efetivamente estarão na


linha de frente deste novo serviço, agora virtual.

O Estado enfrenta além da escassez de capacitação técnica também a de


funcionários. Decorre tal da estrutura jurídica do Estado, vez que a
administração pública não pode contratar e demitir servidores livremente.
Para tanto deve realizar concursos públicos, os quais são dispendiosos e
lentos e, para demitir, criar processos administrativo disciplinares, que
igualmente costumam arrastar-se por longos períodos.

Uma empresa, regida pela CLT (Consolidação das Leis Trabalhistas), possui
maior facilidade em movimentar seus empregados, assumindo prejuízos, com
a contratação/demissão, mas otimizando custos na produção que retornam
em forma de lucro. O governo é administrado não para ter lucro, mas para
cumprir com suas obrigações perante a nação, promovendo o bem estar
social. O calcanhar de Aquiles estatal está justamente no engessamento do
funcionalismo, onde um servidor estável pode significar um salário pago para
alguém não trabalhar, trazendo conseqüências desastrosas para o bom
atendimento ao cidadão.

Políticas que facilitem o trânsito na admissão e demissão de funcionários


também deveria estar na pauta do Congresso. Iniciativas foram tomadas, pela
então Ministra Cláudia Costim, mas muito ainda deve ser feito para que os
servidores públicos, federais, estaduais e municipais, venham a atingir os
níveis de qualidade de padrão internacional, a ISO , para que realmente o
Estado torne-se eficiente.

Burocracia:

A administração pública torna-se inoperante não por incompetência mas por


excesso de burocracia. Veja-se esta como sinônimo de lentidão, exatamente
o que não deve ocorrer com quem quer estar na Internet, na vanguarda da
informação e tecnologia, pouco importando se é grande ou pequeno, mas sim
o tempo que se leva para demonstrar eficiência.
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O Estado por natureza é burocrático. Dividido em inúmeras áreas,


secretarias, assessorias, departamentos, etc., etc. Transforma-se num
labirinto sem fim, onde o cidadão que procura por determinada informação
tranqüilamente percorrerá diversos guiches para chegar ao objetivo. E,
internamente, a preocupação com a forma não é muito diferente. Os órgãos
do próprio governo para se comunicarem também dependem de vários
procedimentos; protocolando documentos e submetendo certos assuntos a
análises de vários funcionários.

Resultado disto é a apatia e o descrédito do cliente para com o prestador de


serviços, "c to g".

O que vemos hoje são secretarias de governo desenvolvendo trabalhos na


área de Internet, com "sites" bem elaborados, mas que não cruzam as
informações. Seja por motivo de segurança, seja por total falta de política na
área. Temos então a situação onde alguns avançam muito, porque seus
administradores acreditam nas soluções tecnológicas e apostam nos
resultados e benefícios que isto traz. E do outro lado aquele que não enxerga
como bons olhos, seja porque não os tem seja porque não quer ver, e relega
a segundo plano a possibilidade de aproximar-se daquele que é justamente a
razão dele existir, que é o cidadão para quem presta atendimento.

Tem-se, ainda, os problemas corporativos, decorrentes da verticalidade


estrutural do Estado, fazendo com que seus órgãos sejam estanques. Por
exemplo, polícias Militar e Civil, embora pertençam a mesma pasta, secretaria
de segurança pública, não conversam no mesmo diapasão. Seja por
possuírem funções constitucionais divergentes, seja por não abrirem mão de
suas corporações, apesar de ambas serem polícias. Repetindo-se nas esfera
Federal, entre as Forças Armadas, nas secretarias estaduais e municipais.

Tais divergências e burocracias tornam-se especialmente maiores quando há


oposição política, os partidos que estão no comando não são aliados.
Impondo-se, novamente, a definição e efetiva aplicação de protocolos que
subsistam ao momento, que transponham a barreira das eleições.
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Mais precisamente, há a necessidade de que exista um procedimento


uniforme e uma mesma linguagem para todo o sistema público funcionar de
maneira rápida e ágil, tornando-se menos burocrático e mais efetivo.

Segurança:

Ao tratar com informações de milhares de pessoas, gerenciando dados,


recebendo e fornecendo informações, emitindo documentos, tudo deve estar
funcionando com sistemas de segurança que sejam, no mínimo, confiáveis.

Em casa como no trabalho privacidade e sigilo nas comunicações é direito


protegido constitucionalmente, o que torna uma obrigação governamental
proporcionar esta tranqüilidade àqueles que irão dela usufruir. Representando
uma significativa parcela de investimentos, vez que exige tecnologia de ponta
e, a nosso ver, não poderia ser entregue integralmente a empresas do setor
privado, devendo o próprio Estado desenvolver os sistemas a serem
utilizados, como garantia de inviolabilidade. Com efeito, tal alicerça-se nas
instituições de ensino e pesquisa existentes, Universidades e Centros
Tecnológicos públicos, que já desenvolvem trabalhos capazes de atender as
necessidades oficiais. Faz-se projetos sob encomenda, com "softwares" que
atendam as diferentes necessidades dos órgãos a um custo muito menor,
reforçando a soberania nacional, ao evitar que sistemas "alienígenas" rodem
nas máquinas estatais.

Acesso

Por outro lado o acesso à Web também tem que ser facilitado, onde não
apenas o computador torna-se um empecilho, mas também as tarifas de
ligação telefônica e dos provedores. Países como o Brasil, onde as
disparidades sociais são gritantes, os partidários da desnecessidade do e-
governo, alegam que o acesso ficaria restrito às classes mais elitizadas da
sociedade. Para combater tal argumento alguns Bancos, tais como Caixa
Econômica Federal e Banco do Brasil, bem como outros do setor privado,
estão abrindo linhas de crédito para aquisição de equipamentos de
informática. Nos Estados Unidos empresas provedoras de Internet criaram
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um sistema de fidelidade, onde o cliente assina o contrato com o provedor por


um prazo mínimo de 03 (três) anos, em média, e ganha o computador. A idéia
colheu bons resultados na medida que expandiu o número de usuários e
incrementou o comércio.

Como a informação deve ser livre, se não é possível que todos tenham
acesso a Web neste momento, que seja então, ao menos, disponibilizada
esta para que, a pouco e pouco, através de ações conjuntas,
governo/população/empresas, sejam produzidos novos equipamentos com
preços acessíveis à todos que se interessem pela rede. Ultrapassando a
barreira atual dos 5% (cinco por cento) da população que acessa a Internet.

Concomitante a isto espera-se que o Congresso Nacional aprove legislação


que regulamente as comunicações via computador, fornecendo meios para
que posam ser combatidas as fraudes e delitos que estão sendo praticados
bem como fomentando as negociações e transações comerciais.

Conclusão:

O governo eletrônico, embora esteja iniciando com vários anos de atraso, é


um fato consumado, não há que descartar a sua necessidade. Cada dia que
passa mais e mais pessoas acessam a rede atrás de informações, lazer e
conhecimentos. Vários órgãos estatais já testaram e aprovaram a utilidade da
Web como meio para agilizar ações oficiais. São justamente as obrigações
que o poder público tem para com o cidadão que devem nortear os projetos
de e-governo; proporcionando qualidade e eficiência nos serviços oferecidos,
divulgando e promovendo eventos públicos que realmente façam a diferença,
para que todos possam se sentir não meros administrados, vivendo sob o
jugo de um poder central, mas parte ativa no sistema de governo,
acompanhando as ações, resultados e buscando melhorias.

Chegará o dia em que não será necessário deslocarmos de casa ou do


trabalho para obter uma certidão, requerer uma autorização, fazer uma
comunicação de delito. O acesso ao governo será on-line, em tempo real,
tanto o que se procura como a resposta que buscamos, através de um
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Hugo Cesar Hoeschl, Dr (org)

crescimento contínuo, gradual e sem interrupção dos sistemas informatizados


oficiais.
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Hugo Cesar Hoeschl, Dr (org)

O ENSINO DO DIREITO À CRIANÇA E AO


ADOLESCENTE COMO PRESSUPOSTOS DE
CIDADANIA COM USO DE TECNOLOGIAS DA
EDUCAÇÃO
Lúcio Eduardo DARELLI

Abstract:

Desde a promulgação da Constituição de 1988, pouco, ou quase nada se fez


em termos de educação cidadã, ou seja, a escola permaneceu omissa à
formação e ao ensino da cidadania. Em nenhum momento, do
desenvolvimento estudantil da criança ou do adolescente, encontraremos
qualquer menção sobre a Constituição Brasileira inseridos nos currículos. A
precariedade da divulgação e do ensino aos níveis pré-escolares, do primeiro,
e do segundo graus, não são compensados, nem de longe, no nível
universitário, haja vista, inexistirem disciplinas específicas que abordem a
matéria, ou mesmo, inclusas como ementas em disciplinas congêneres. Este
trabalho, aborda a necessária introdução da consciência de cidadania através
do estudo da Constituição Brasileira, utilizando-se como meios, as
tecnologias de ponta em ensino a distância e educação com tecnologia
aplicada, como forma de disseminação em massa da educação cidadã.

1. INTRODUÇÃO

"Votar é um direito e um ato de cidadania, pois através de um processo


democrático, escolher-se-á aqueles que irão representá-lo na esfera política
em nome do bem comum."
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Hugo Cesar Hoeschl, Dr (org)

Esta frase, talvez tenha sido a mais usada nos países democráticos em todos
os tempos em épocas de campanha eleitoral. Usada e ousada!

Usada, porque somente em épocas de campanha eleitoral, aparentemente,


se descobrem os brasileiros como cidadãos, vivendo na plenitude de um
Brasil livre e democrático. Terminada a campanha, não somente os discursos
parecem ser descartáveis, como também o próprio eleitor, ou seja, seu voto.

Ousada, porque votar, nunca foi um ato de cidadania. Enganam-se, e ajudam


a enganar, aqueles que assim o dizem. Votar pois, nada mais é, do que um
ato obrigacional, previsto pela Constituição, e que por esse único motivo, tem,
na esfera do direito, seu argumento maior de cunho meramente
"cidadanesco".

Cidadania é antes um exercício, é certo, é uma constante atividade. O


homem, ser social que é, precisa de movimento, precisa produzir sua história,
necessita "fazer e acontecer' para se sentir integrado e participante. É através
do outro, que a "pessoa" - ser social, encontra-se e revela-se como ser social.
A "venda" da imagem de completude no simples ato de votar, é o maior
engodo que alguém pode impingir a outrem. Não há completude no ato de
votar, mas, há completude na solidariedade, que também é ato, e como tal,
necessita de atores. É antes a solidariedade, que impulsiona o ser social a
identificar-se com os problemas que afligem o seu igual. Esta sensação de
semelhança, vincula um certo grau de confiança entre as partes, a
solidariedade aproxima e é compreensiva. A compreensão leva a um certo
estado de consciência do fato, assim, há completude, pois os elementos
envolvidos no ato buscam a interação social.

Deste ponto em diante entendemos que o ato de votar, representado por um


pequeno pedaço de papel, ou por simples apertar de botões, é a sutil
demonstração da confiança de um em relação ao outro. Neste caso, do eleitor
e seu candidato. O voto é a corporificação simbólica da confiança, e nada
mais. Esta representação seria ainda mais significativa não fosse obrigatório
o ato de votar.
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Hugo Cesar Hoeschl, Dr (org)

Resta-nos uma pergunta então: - O que é de fato exercer cidadania?

A resposta, embora possa parecer simplista, está carregada de pressupostos


históricos: - Exercer cidadania é "conhecer e aplicar a Constituição brasileira".
Conhecer, para exercitar diuturnicamente as diretrizes político-sociais
afirmadas, garantidas e conquistadas na Constituição. Este é, o verdadeiro
exercício de cidadania no seu mais alto grau. Como nos diria o "Betinho", que
outra coisa não fazia senão, cidadania, servindo de exemplo vivo em palavras
e obras. Agora, servindo de exemplo memorável.

Os pressupostos são encontrados na história das constituições brasileiras,


que foram, nada menos que oito, desde de D. Pedro I, que nos outorgou a
primeira Constituição, em 1824. Todas, sem exceção, de 1824 à 1988,
contam a saga do povo brasileiro. Nas entrelinhas destas (histórias)
constituições, vamos encontrar, demonstrado e positivado: o jogo político, os
interesses de governo, os anseios populares, as reservas, os medos, as
impossibilidades, as impunidades, os cerceamentos de direitos, as
conquistas, a liberdade, a liberalidade, a ineficácia, o abuso, o desleixo, a
inoperância, a manipulação, e, o descontentamento. A tudo isso, elas próprias
autodenominaram ao povo, impingindo-nos como "Direitos e Deveres"
Constitucionais.

Entramos, ou estamos entrando, no século 21 com uma das mais belas


constituições que o mundo livre e democrático já produziu, a Constituição da
República Federativa do Brasil de 1988.

Afirmam os constitucionalistas, que a nossa Constituição é completa, pois foi


legitimamente gerada, gestada e promulgada segundo a vontade do povo
brasileiro, que, em um processo Constituinte democrático, participou
ativamente na engenharia e arquitetura, do instrumento que seria mais tarde
o legítimo diploma de toda sociedade.

Outras questões, importantes e preocupantes vêm com as considerações que


se fez:

- Quantos de nós, conhece realmente a Constituição brasileira?


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Hugo Cesar Hoeschl, Dr (org)

- Se, ser cidadão, é exercer cidadania, como posso sê-lo, se não conheço o
instrumento do exercício?

- Como posso aprender, se a escola não me ensinou?

São por estas questões, e embasado na certeza que possuímos um dos


maiores instrumentos democráticos para o exercício da cidadania, que a
propositura deste trabalho, encaminha-se no sentido de ofertar um modelo de
ensino da cidadania, à criança e ao adolescente, utilizando como veículo e
instrumental didático-pedagógico, as tecnologias de ensino a distância, ou, as
tecnologias de educação.

2. A ESCOLA OMISSA E A FORMAÇÃO PRECÁRIA DA CIDADANIA

Os filósofos entendem que o ser social, a "pessoa" é na realidade uma


abstração, parte do indivíduo, este sim, um ente real, feito de células,
músculos, órgão, matéria enfim.

A pessoa, ao contrário, somente pode ser compreendida na esfera social. É


através da existência do outro que o ser individual encontra-se como pessoa,
pois no ambiente social, lá está o outro para afirmar as existências que se
cruzam no cotidiano da vida. O ser humano percebe-se em grupo, entre
iguais, e percebe-se fazendo e agindo, de acordo com determinados modos e
costumes. É Albert Jacquard que nos ensina a lógica desta constatação:

"(...) A qualidade das interações que são capazes de instalar graças a seus
meios de comunicação é tal que seu conjunto, ou seja, a comunidade
humana, tem poderes muito estranhos e, essencialmente o poder de
despertar a consciência em cada um dos indivíduos, transformá-lo em uma
pessoa." (JACQUARD, Filosofia para não filósofos, pg. 121)

Jacquard nos coloca de forma clara, do ponto de vista filosófico, que a


comunidade humana possui poderes que muitas vezes são incontestes.
Porém, o maior dos poderes sociais é a capacidade de despertar a
consciência, uns aos outros, em atividades, em obras, em palavras e ações.
Podemos perceber este despertar em todos os níveis por onde atua o ser
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Hugo Cesar Hoeschl, Dr (org)

humano. Assim, se falamos da consciência ecológica, se falamos da


consciência cosmológica, da consciência do preconceito, da consciência
urbana, da consciência da própria consciência enfim, estamos falando em
"formas" de convivência humana, por onde as pessoas ou os grupos
humanos buscam identificar-se, crescer e evoluir como pessoas, fazendo da
epopéia das civilizações por onde o homem trilhou, um conjunto de ações
única, que resume a saga da própria aventura humana, de cada um como
indivíduo, como peça absolutamente fundamental no jogo da evolução da
espécie.

Com isso, pode-se inferir que a pessoa é uma invenção das mais poderosas,
uma vez que, o conjunto de pessoas formam a sociedade, e esta, a Nação. É
precisamente deste ponto, de onde passamos a analisar a grande
importância que tem o Estado nas relações sociais, sendo este mesmo
Estado, abstração, uma outra invenção a serviço de uma Nação. Precisamos
ter claro quem exerce o "poder", e, se em uma sociedade democrática, esse
"poder" pode perder-se para além das pessoas. Com efeito, em uma
sociedade democrática, a exemplo dos ensinamentos (invenção) herdado dos
gregos, o exercício do poder pelo povo, nada mais é, que o ditame das regras
para o convívio social. No contexto do convívio, a sociedade busca organizar-
se para desfrutar das relações sociais. No contexto da aplicação das regras, a
sociedade elege o Estado, para de forma neutra operar a igualdade e a
justiça, ambas, necessitam administração. O poder se faz presente em
esferas de atuação, com reflexos sociais distintos - Legisla, Executa
(administra) e Julga.

Exatamente neste contexto, cremos que a escola tornou-se omissa, pois


desde o advento da Constituição de 19888, nada se engendrou, ao nível dos
currículos educacionais qualquer tentativa de resgatar os verdadeiros valores
de cidadania. Ensinar e aplicar, ensinado a ser cidadão. Buscando fórmulas
de cumplicidade na descoberta maior da consciência dos atos, dos direitos e
deveres do "Ser Cidadão". A escola esteve a margem desde rito, nada
ensinou, embora algumas vezes, tenha tentado cobrar. Não se cobra o que
não se tem, não se ensina o que não se aprendeu.
A tecnologia da informação Jurídica
Hugo Cesar Hoeschl, Dr (org)

Como então podemos esperar que um país possa sobreviver à sua própria
corrupção, se a maior delas é omitir informações, vedar os olhos do futuro
com o véu da ignorância, apostando no "controle" das leis e na centralização
do poder, que embora corrupto, ainda é poder? Que tirania maior pode haver
em esconder-se o maior dos tesouros - o conhecimento?

Embora tenha se passado 12 anos, não é tarde demais. E tudo pode ser
resgatado a tempo, pois a nosso dispor temos as tecnologias da informação,
temos os serviços informatizados, e temos as tecnologias da educação. É
com base nelas, e com novas metodologias, que poderemos resgatar o
tempo perdido. E embora esteja perdido o tempo, não está ainda, a
esperança, pois esta nação é criança, são os nossos filhos, que nos
emprestaram esta terra, e para os quais devemos a responsabilidade de lhes
entregar. Propor medidas e inventar soluções para que eles a perpetuem, é
nossa sina, e nossa maior obrigação.

3. PROPOSTA PARA UMA DISSEMINAÇÃO EM MASSA

Vamos encontrar nos laboratórios de ensino a distância - LED da


Universidade Federal de Santa Catarina, departamento de Engenharia de
Produção e Sistemas, nosso referencial tecnológico de ponta, de onde
afluem, para o uso destas tecnologias, grandes empresas e universidades do
mundo inteiro.

Como referencial de cidadania, o foco deste trabalho não poderia ser outro a
não ser as cláusulas constitucionais garantidoras do pleno exercício da
cidadania. Os artigos 1º ao 7º, e notadamente, o artigo 5º, que trata dos
direito e deveres individuais e coletivos, e, o artigo 7º, que trata dos direito e
deveres sociais. Nestas cláusulas constitucionais introdutórias, encontramos
a síntese do verdadeiro exercício da cidadania, que cada brasileiro deveria
conhecer e aplicar.

Se nos parece "in gloria" estender a todos os brasileiros, tais ensinamentos,


que o façamos pelo menos àqueles nossos cidadãos do futuro, nossas
crianças e adolescentes.
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Hugo Cesar Hoeschl, Dr (org)

Desta forma, acreditamos que a proposta de ensino e a abordagem


pedagógica do laboratório de ensino a distância da Universidade federal de
Santa Catarina, o LED, como é conhecido, pode e deve ser utilizado para a
massificação dos ensinamentos de cidadania. A princípio através dos
currículos normais nas escolas de primeiro e segundo graus. Posteriormente,
embora não necessariamente nesta ordem, as empresas que contratarem
serviços do LED, poderiam aderir a uma espécie de programa, que poderia
ser dado como brinde extra, na forma de horas/aula de cidadania.

Os módulos podem ser elaborados de tal forma que não sejam superiores a
20 h/aula por módulo, em no mínimo três módulos independentes mas
complementares:

Módulo básico - ementa: Conhecendo a Constituição da república Federativa


do Brasil. Conceitos básico sobre lei. Formas de criação das leis. A
Constituição como fonte de direito. Os direitos individuais e coletivos,
centrado nos artigos 1º ao 7º. Cláusulas Pétreas. Elaboração do "ABC" da
Constituição para repasse do aprendizado.

Módulo intermediário - ementa: Constituição Brasileira, conhecendo as


divisões internas da Constituição, tópicos avançados. Legislação trabalhista.
Relação entre os códigos, leis complementares, medidas provisórias e a
Constituição. Aspectos econômicos e de ordem tributária nacional.
Elaboração do "ABC" da Constituição para repasse do aprendizado.

Módulo Avançado - ementa: Estudo e análise das emendas constitucionais.


Interação dos poderes e reflexos constitucionais na sociedade. Legislação
político/partidária e as previsões constitucionais. As relações internacionais,
soberania, e divisas. Estudo comparado de aspectos da constituição de 67.
Elaboração do "ABC" da Constituição para repasse do aprendizado.

Todos os módulos deverão ter o chamado "ABC" da Constituição, que será o


trabalho de final de curso, consistindo em uma espécie de cartilha com os
dados principais e assuntos mais interessantes que foram abordados nas
aulas. Esta cartilha será reproduzida contendo o nome dos participantes
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Hugo Cesar Hoeschl, Dr (org)

daquele módulo e os mesmos deverão distribuir a todos quantos se


interessarem. É uma forma de disseminar os conhecimentos.

4. Experiência e criatividade - a importância do voto

Foi na disciplina de "Tecnologias da Informação Jurídica" que se pode


redescobrir uma didática, que a muito era aplicada nas escolas pelo Brasil
afora, sem contudo, suscitar o verdadeiro entusiasmo que era sempre
esperado, mas, muito pouco alcançado. Refiro-me ao tedioso método do
"debate".

A experiência vivida nesta disciplina, graças a criatividade dos professores


Hugo César Hoeschl e Tânia Cristina Bueno, trouxe-nos uma reflexão
extremamente profunda sobre a eficiência e a eficácia dos métodos
pedagógicos e sua didática, além de constatar algo que foi surpreendente,
votar é excitante. E essa experiência trouxe-nos um grande aprendizado,
"que nem sempre precisamos utilizar de recursos tecnicistas para inserir
novos conceitos pedagógicos". Muito pelo contrário, a experiência mostrou
claramente, como devemos e podemos repensar posturas pedagógicas a
partir de novas imposições, ou disposições sociais. Tratamos o tempo todo de
conceitos de tecnologia e suas aplicações para o direito com ressonância à
vida do cidadão. A metodologia aplicada nos debates propostos tiveram um
dado que incrementou e modificou por completo a motivação, que, de tediosa
passou a ser excitante, de inerte passou a ser participativa, de apática para
ardorosa defesa de teses.

A metodologia é a seguinte:

É proposto vários temas à escolha. Duas equipes escolhem o mesmo tema,


sendo que uma irá defender a idéia central do assunto, enquanto que a outra,
deverá atacar ou refutar a validade da idéia central do tema.

Arma-se assim um cenário bastante interessante que lembra um julgamento,


onde há uma turma para a defesa, e, outra para a acusação. As regras para
apresentação são livres, cada equipe pode se utilizar dos recursos que bem
entenderem, não podendo porém, extrapolar o tempo. Aliás, as únicas regras
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Hugo Cesar Hoeschl, Dr (org)

rígidas são os tempos. No caso de uma equipe citar a outra, nominalmente ou


pelo conteúdo abordado, dá direito ao citado à réplica, para sustentação ou
esclarecimento do exposto.

O seminário tem início, uma equipe se pronuncia, pode começar a defesa, e


logo depois o ataque. Após a exposição de ambos, e terminadas as réplicas
devidas, abre-se o debate ao público, que deve formular perguntas objetivas
a qualquer das equipes. O debate nesta altura já está com grupos divididos
também na platéia. O debate leva em média trinta minutos, podendo ser mais
elástico dependendo do tema em discussão.

A conclusão do debate, é o dado metodológico modificado. Tendo sido


encerrado o debate pelo moderador, a platéia, transforma-se nesse momento
em grande júri, e terá a missão de VOTAR, pelo melhor argumento. Ou seja,
o debate tem uma conclusão formal e válida, e é surpreendente, porque
mesmo as opiniões estando divididas, há uma votação que culmina em
resultado do debate. Quem conseguir os melhores argumentos, as melhores
provas, os melhores recursos didáticos de apresentação, etc... etc...,
demoverá o "grande júri". O resultado final passou a ser o grande motivador
para todos os participantes. Aqueles que defendem as teses, querem fazer o
melhor, portanto, pesquisam e elaboram, armam-se de informações capazes
de satisfazerem até o mais crítico dos membros do grande júri. O público que
assiste, e depois se transforma em jurado, precisa não perder nenhum
momento da exposição e das réplicas, porque do seu entendimento e
compreensão do tema, dependerá seu juízo de valor para votar.

Impressionantemente, o ato de votar, foi o dado metodológico que


transformou a didática do ex-enfadonho debate. E nisso estão de parabéns os
jovens mestres professores Hugo e Tânia, pela criatividade e pelo empenho
de tentar o novo.

4.1. SEGUINDO O EXEMPLO

O exemplo de nada vale se não for para ser seguido. Sou professor já a
quinze anos, tenho formação em pedagogia, e em minha época o que mais
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se fez foi aprender métodos de ensino-aprendizagem. O método do seminário


com debate era uma das opções comuns. Inclusive, como acadêmico
pedagogo, em épocas de estágio, éramos obrigados a elaborar planos de
ensino contemplando os debates. Para mim pessoalmente, o debate, sempre
foi uma verdadeira "via crucies" pois os debates esvaziavam-se em si
mesmos, e o papel do moderador era muito mais apartar os "bate-bocas" do
que conduzir o aprendizado. Aliás, pouco aprendizado havia, uma vez que
não havia consenso. Depois que conheci a criatividade do Hugo e da Tânia
mudei de opinião!

Com muita satisfação, adotei em minhas aulas na Universidade do Vale do


Itajaí - UNIVALI, nas disciplinas que leciono: Filosofia e Sociologia Jurídica no
curso de Direito, Informática e Sociologia no curso de Computação e
Legislação Social no curso de Automação de escritórios e Secretariado.
Basicamente os mesmos princípios da metodologia aplicada à disciplina
"Tecnologias da Informação Jurídica" no curso de Mestrado da UFSC, foram
adotados em minhas aulas.

Com efeito, o entusiasmo na apresentação comprovou a metodologia como


aplicável e eficaz. E é visível o grau de interesse pela pesquisa, uma vez que
ao final é cobrado um "paper" das equipes, onde constam as anotações de
pesquisa, tais como: recortes, jornais, revistas, xerox, citações, etc... que
serviram para embasamento da apresentação no debate. A conclusão do
trabalho nada mais é do que contar a história do que ali sucedeu-se, e, qual
foi a votação, ou seja, qual dos argumentos tornou-se vencedor. Ao rescrever
as histórias que foram vivenciadas pelos mesmos atores da pesquisa, o
aluno, não só apreende mas compreende da utilidade e da necessidade da
pesquisa elaborada. A metodologia atinge, pois, os objetivos pedagógicos da
pesquisa, exposição, reelaboração e aprendizado concreto. Passei a adotar
esta ferramenta didática que a muito tempo havia abandonado.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Parece bastante claro, que a solução para os problemas do ensino não se


esgota apenas em ensinar nas escolas, mas, principalmente como ensinar, e
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em que locais. Educadores por todo país, também precisam ser inseridos
nesse contexto de cidadania que passa, como vimos, pelo aprendizado
consciente ao estudo da Constituição Brasileira. Não se ensina o que não se
sabe, por isso mesmo, é preciso aprender para transmitir o conhecimento. E
não é por menos que centramos nossa proposta no público infantil e
adolescente, a quem mais interessa um país de oportunidades senão aos
nossos jovens. Serão eles a garantia do nosso futuro como Nação, ou somos
nós, que lhes devemos garantir os conhecimentos para que queiram estar
nesta Nação?

Podemos e devemos utilizar das tecnologias que aí estão. Elas operam um


milagre, o da multiplicação instantânea das informações. Também pode
operar o milagre da multiplicação do aprendizado. Não precisamos ficar
apenas nas escolas, podemos utilizar meios como a internet, o telefone, o
WAP, etc... . Com módulos didaticamente elaborados para o contexto
telemático, a disciplina de cidadania pode tornar-se uma das disciplinas mais
atrativas de todo e qualquer currículo educativo, mesmo porque, a avaliação
não é outra senão a própria aplicação dos conhecimentos adquiridos. O
exercício da cidadania será a nota que cada um irá tirar, e esta não terá
limites máximos, simplesmente porque, exercer cidadania nunca será demais.

Iniciei este artigo com uma reflexão sobre "votar", e deixamos patente que o
ato de votar em ocasião de campanha eleitoral, de forma inconsciente, como
ocorre hoje em dia com a grande maioria das pessoas, não é sinônimo de
exercício de cidadania, como de fato não o é. Porém, este mesmo ato,
executado em trabalhos didáticos nas aulas, de muitos "Hugos" e "Tânias"
por este País afora, são, com certeza, a mais nobre expressão de cidadania,
porque o conhecimento se completa com a consciência, e esta completude,
transforma o cidadão.

6. BIBLIOGRAFIA:

1. JACQUARD, Albert. Filosofia para não filósofos. Trad. Guilherme João de


Freitas Teixeira. Rio de Janeiro: Campus, 1998.
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2. CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL de outubro


de 1988.

3. BRUNAZO FILHO, Amilcar. Artigo apresentado no ITA/CTA, durante o


SSI'99.

4. CAMARÃO, Paulo César Bhering. O Voto Informatizado: Legitimidade

Democrática. - São Paulo: Empresa das Artes, 1997.

5. LEGISLAÇÃO ELEITORAL E PARTIDÁRIA- lei 4737/65

6. JAMES, Jennifer. Pensando o futuro. São Paulo: Futura, 1998.


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O impacto das novas tecnologias da informação e o


papel da mediação no mundo pós-moderno.

Marco Antônio Machado Ferreira de Melo

marcofm@iaccess.com.br

"Há conflitos porque as pessoas


pensam diferente, desejam
diferentemente as mesmas
coisas; agem diferente numa
mesma situação. Lidar com as
diferenças é o grande segredo
da Mediação. Minimizar as
diferenças, o grande objetivo.
Terminar com as diferenças,
jamais. Posto que as pessoas
são eternamente diferentes."

1. Justiça: fornecer respostas tão rápidas quanto a evolução das novas


tecnologias.

Não podemos negar que o desenvolvimento tecnológico tem


trazido à humanidade constantes transformações, marcadas por inúmeros
acontecimentos no mundo social, jurídico, institucional, econômico e político
dos Estados-Nação. Nestas transformações, modelos universalmente
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seguidos são substituídos por novos paradigmas(1). Em toda nova


transformação, a sociedade passa a exigir novas respostas e soluções para
os problemas emergentes diante dos desafios trazidos pela inserção de
tecnologias paradigmáticas. Novos desafios são colocados frente a muitas
das ciências, principalmente das humanísticas, chamadas a absorver e
oferecer respostas às mudanças sócio-político-culturais. O Direito e a Ciência
Jurídica estão constantemente colocados diante de novos e cada vez mais
complexos desafios. São chamados a encontrarem, dentro do sistema
jurídico, soluções adequadas aos novos conflitos, às novas demandas. Se
formos rapidamente verificar a evolução do Direito através do tempo,
poderemos entender melhor porque cada vez mais este sistema jurídico custa
a se reorganizar e dar respostas mais rápidas às questões emergentes deste
findar de século. O poder jurisdicional do Estado-Nação parece combalido
diante da velocidade das transformações de agora e da necessidade de
reproduzir tão rapidamente, quantas possíveis, normas capazes de refletir a
necessidade normativa da sociedade. Primeiramente, deveremos entender
porque, no sistema jurídico, há posição distinta entre a Função de Legislar e a
de Jurisdicionar, ou seja, legislador de um lado e Juiz de outro. Esta distinção
autodisciplina o sistema jurídico, impedindo que todas as questões jurídicas
possam ser decididas a partir de um único ponto. Esta separação da função
legisladora da judicante impede que de um único centro as decisões jurídicas
pudessem interferir nos interesses sociais. Há que se ter normas que reflitam
o estágio atual da sociedade. Normas que serão interpretadas pelo Estado.
No mundo antigo, não era bem assim. Este princípio da diferenciação
inexistia. O poder de execução, legislação e jurisdição era concentrado nas
mãos de poucos. Na Idade Média esta forma de diferenciação tinha, ainda,
um significado muito limitado, porque qualquer separação mais profunda
entre Legislar e Jurisdicionar estaria, certamente, pondo em perigo a unidade
do Estado Territorial Político e juridicamente autônomo, governado pelo
Príncipe. No século XVI esta forma de diferenciação do sistema jurídico aceita
a idéia de que qualquer Direito é direito positivo segundo a substância das
normas e sua efetividade. O Direito Natural e o Direito da Razão servem
como referência em questões de justificação, como elemento de
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argumentação. Há a redução do Sistema Jurídico onde se aplica somente o


Direito Positivo, ou seja, normatizado.

No século XVII e nas primeiras décadas do século XVIII vive-se a ética


estritamente utilitarista, rompendo-se a superestrutura do Jus-naturalismo,
onde a vontade de Deus era fonte fundamentadora de toda e qualquer moral,
para dar lugar ao aparecimento de uma ruptura. A sociedade passa a ser o
viés e fonte produtora das normas. Na Segunda metade do Século XVIII o
sistema jurídico assume o papel de ser autoconstituinte, uma Lei
Constitucional, incluindo fundamentos de vigência do Direito. Passa a ter
importância a positividade da Lei Constitucional como fundamentadora do
Direito e do Poder Estatal. Desta forma a legislação constitucional em sua
reorganização passa a ter uma importante referência externa, "o povo" como
uma solução desta reorganização do Direito, não estando mais nas "mãos de
Deus" ou do despótico Monarca, que o representava aqui na Terra. Há um
processo de codificação legal. No fim do Século XVIII o modelo sofre nova
revisão, passando para um modelo de ordem/obediência, onde há alteração
com vistas à relação legislação e jurisprudência, ou seja, a exegese ou
interpretação da norma. A função jurisdicional do Estado passa a ter a
reserva da interpretação da norma produzida pela função legislativa do
Estado. No Século XIX fica bem caracterizado o espaço público e o privado,
tanto na produção quanto na interpretação da norma. De um lado temos a
vontade política, legislação e de outro a vontade privada, jurisprudência,
reconhecida pelos Tribunais. O grande paradoxo é que o Juiz, fica vinculado
à Lei. A norma Constitucional nos diz que os Juízes são independentes e
estão sujeitos à Lei. São independentes sim, mas nem tanto, estão adstritos
aos ditames da Norma Jurídica. Significando que a separação de legislação e
jurisprudência, na prática, trata de uma não-separação, uma vez que o Juiz,
no sistema jurídico, vincula-se à Lei. Este aspecto da diferenciação das
funções manifesta-se enquanto relacionada, materializada e observada do
ponto de vista sistêmico. Por exemplo, ninguém irá solicitar divórcio ao
parlamento ou requerer modificação de Lei ao juízo cível. Esta diferenciação
é importante sim, frente às estruturas do sistema e da sociedade. Conforme
vimos acima que da diferenciação do ponto de vista organizacional vale como
pressuposto de tarefas, por exemplo: legislativa, justiça, saúde, educação e
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outras. Por sua vez, a diferenciação do ponto de vista social importa como
unidade, ou seja, "sistema social jurídico", que é operativamente fechado e
reproduz suas próprias operações, abrigando, na sua periferia, o legislador
(faz as leis) e, no centro, o Juiz, aquele a quem cabe compreender e aplicar a
norma jurídica dentro de uma certa discricionariedade.

A modernidade(2), oferece uma visão de mundo própria em que o sistema


social, político, econômico, cultural, jurídico constantemente se inter-
relacionam, cabendo à função legisladora captar, acomodar e positivar as
normas, permitindo, assim, no que se chamou de autopoiesis do sistema
jurídico, o filtramento das irritações vindas do mundo circundante. Isto nos
remete à abordagem da "Teoria della societá" luhmaniana, no sistema jurídico
como funcionalmente autopoiético, autônomo porque produz novos
elementos, complexo, dinâmico e operativamente fechado, porque entra em
contato consigo mesmo a cada nova operação. Que em sua periferia, está
relacionando-se com o mundo circundante, numa forte relação de
dependência recíproca, sofrendo "interferências", "irritações" de outros
sistemas. Na metade do século XX, a modernidade dá lugar à mudança de
paradigma. Começa a vigorar nova visão de mundo macro-econômica, geo-
política, cultural, social. O novo paradigma da pós-modernidade(3), determina
a falência da Modernidade. A sociedade torna-se cada vez mais complexa,
diferenciada internamente, onde cada subsistema a constroe segundo
perspectivas próprias. Assim subsistemas tais como economia, família, moral,
ensino, política, direito, saúde, entre outros, estão funcionalmente
diferenciados, organizados e, é claro, estruturados dentro de suas
peculiaridades. O capitalismo financeiro toma importância cada vez maior na
diferenciação das sociedades que passam de uma sociedade de massa para
uma sociedade cibernética, cuja seiva é o intercâmbio de informações. Há
deterioração das ideologias, não há mais sentimento. Capital não tem ética.
Cada vez mais há fortalecimento das grandes corporações econômicas,
transnacionais e um enfraquecimento do Estado-Nação, com conseqüente
fortalecimento do Direito Comunitário. Mudam-se as relações internacionais e
o poder econômico passa a concentrar-se nos que detêm a tecnologia da
informação. Novos valores aparecem ou são reforçados nesta nova
sociedade, como o sentimento de cidadania, resgate dos direitos humanos,
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Hugo Cesar Hoeschl, Dr (org)

preocupação ecológica, entre outros. Em todas estas transformações,


existem descompassos gigantescos. Um dos quais e que mais nos tem
chamado a atenção é a do sistema jurídico, que não acompanha a rapidez
das mudanças dos outros sistemas. O caminho do legislar é longo e penoso.
Até que a função legislativa perceba as "interferências" advindas de outros
sistemas e sub-sistemas, positivando-as para que a função judicante
interprete e jurisprudência o percurso, é complexo em processos morosos.
"Se é verdade que a solução jurídica precede a solução tecnológica, também
não é menos verdade de que a solução jurídica para as questões das novas
tecnologias, que evoluem rapidamente, não pode depender de um processo
legislativo arcaico, moroso por natureza, concebido num outro tipo de
sociedade. É óbvio que não está mais atendendo às necessidades da
sociedade pós-moderna. O derrame intermitente de tantas Medidas
Provisórias vem, também, denunciar a falência de todo o processo jurídico-
normativo vigente. Há que se encontrar mecanismos de legislação mais
ágeis, caso contrário a nova sociedade terá um modelo tecnológico que não
pára de evoluir e um modelo jurídico envelhecido."(4) Outra questão passa
pelas soluções esdrúxulas encontrada pelos Poderes Executivo e Legislativo,
aqui no Brasil. Assim é que, no intuito de acelerar importantes votações, de
celerizar o processo legislativo e de retirar dos representantes do povo e dos
Estados-Membros sua conciência de opinião, implanta-se o famigerado Voto
de Liderança e do conceito distorcido, maquiavelicamente, de "Fidelidade
Pardidária". Ambos usurpam a liberdade de consciência individual dos
parlamentares que aceitam e se prestam a papéis anti-democráticos, tirados
de decisões dos chamados líderes do governo, que seduzidos por tais ações
impositivas do Poder Executivo, decidem em nome da maioria amordaçada.
Sinais dos novos tempos. Nada mais do que soluções de atalhos,
infelizmente, utilizados em grande escala. Mais importante do que estas
observações é ter em mente de que todas estas medidas destroem a
capacidade de formação política e institucional de nossas representações,
deixando muito a desejar a qualidade de nossas normas. Normas, regras
legais, que deveriam dar o suporte necessário ao sustentamento dos anseios
da nova sociedade e, por conseqüência, aprofundarão o agravamento das
crises a longo prazo nos mais diversos setores da economia, saúde,
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educação, segurança, dentre outros. Tais ações, com certeza, não fortalecem
o processo democrático-legislativo. Tais práticas desvirtuam suas funções ao
sabor dos interesses e da interferência de outros Poderes. Na pós-
modernidade, na prática, o Estado perde o conceito real de ser tripartide. A
nova sociedade vem exigir respostas mais rápidas deste sistema jurídico,
emergido em crise na pós-modernidade.

Está cada vez mais patente que, contemporaneamente, a evolução


tecnológica muda velhos paradigmas, erigindo outros modelos de
comportamento, criando novas técnicas, surgindo novas Ciências. Por estas
razões está a se exigir, numa velocidade cada vez maior, a adequação de
novas regras que dêem guarida à sociedade. Percebe-se que aquele modelo
do Sistema Jurídico fechado e hierarquizado não consegue responder, na
mesma velocidade, às necessidades normativas de uma sociedade
extremamente afetada pelo desenvolvimento tecnológico exacerbado. Há que
se buscar por um direito mais dinâmico, mesmo que alimentado pelos
inúmeros sistemas contemporâneos, de realidade pós-moderna, onde uma
verdadeira teia de micro-sistemas legais, admitidos no sistema jurídico,
possam construir, nas suas inter-relações, a nova realidade técnico-político-
juridídico-cultural-social.

Este novo contexto traz a idéia de Justiça Privada que toma importância cada
vez maior por ser mais ágil, menos burocratizada, sem hierarquização,
podendo oferecer respostas mais adequadas aos interessados, a um custo
muito mais baixo. Neste contexto pós-moderno o princípio da diferenciação
toma outra conotação: o poder de execução e jurisdição será
desconcentrado. Nesta visão, não cabe somente ao poder do Juiz a
jurisdicionalização e execução da justiça. Novas técnicas e novos meios
produzirão justiça e levarão seus efeitos ao Poder Jurídico Estatal, eliminando
etapas processualísticas complicadas e morosas, permitindo deixando que as
partes decidam, resolvendo o conflito utilizando-se da Mediação(5) . Na
Arbitragem(6), o processo é litigante e ao final é produzida uma sentença
arbitral dizendo com quem está a razão. Será, sem dúvida alguma, o
desafogo dos nossos Fóruns e Tribunais formais, bem como a
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democratização da justiça àqueles que têm dificuldades no acesso à justiça


estatal.

Não temos dúvida de que a Justiça Estatal irá aos poucos facilitar a
Justiça Privada, principalmente por tratar-se de um sistema ágil, dinâmico,
verdadeiro e mais próximo da sociedade. Com certeza, a Mediação e a
Arbitragem encontrarão neste mundo Globalizado o espaço ideal para a
solução de interesses diversos e adversos, principalmente para as novas
questões trazidas pelas novas tecnologias, pelas novas ciências, pelos novos
Direitos. Terão mais liberdade e estarão mais próximos da realidade social, a
lhes oferecer os meios necessários na formulação de respostas hábeis e
velozes aos seus anseios por justiça.

2. Mediação não é uma solução. Uma necessidade.

Neste contexto, há que se redefinir os papéis de uma e de outra


Justiça. Há que se dar espaço para que a Mediação possa cumprir o papel de
levar a justiça nas questões que lhes cabe, democratizando seu acesso a
todas as camadas sociais. No modelo atual do Direito, a resolução de
conflitos dá-se na forma do poder do Juiz, que decide o litígio.De outro lado, a
Mediação não pode ser reduzida à prática jurídica. É uma técnica de
resolução de conflitos.

Há conflitos porque as pessoas pensam diferente, desejam


diferentemente as mesmas coisas; agem diferente numa mesma situação.
Lidar com as diferenças é o grande segredo da Mediação. Minimizar as
diferenças, o grande objetivo. Terminar com as diferenças, jamais. Posto que
as pessoas são eternamente diferentes.

Estamos atravessando um período de turbulência globalizada,


comandadas por novos paradigmas, onde modelos da modernidade vão
mostrando sua falência, dando lugar a novos modelos político-social-
econômicos que impulsionando os Estados-Nação. Novos modelos de
prestação de justiça, menos onerosos e democráticos ressurgem com muita
força diante da necessidade que a sociedade possui de dar respostas às suas
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necessidades com maior celeridade. A Mediação torna-se, na atualidade, um


modelo de justiça privada necessária.

Trata-se de um procedimento de criatividade interativo que


requer pelo menos duas pessoas físicas ou jurídicas, podendo ser uma física
e outra jurídica, que estejam em conflito, denominadas de partes(7). Para
ajudá-las na resolução do conflito, elegem pelo menos uma terceira pessoa, o
mediador(8).

A Mediação é um processo de resolução de conflitos autônomo e


não heterônimo, ou seja, não necessita de uma terceira pessoa para resolver
ou decidir o conflito. Assim, o poder de busca da justiça passa a ser
autônomo, transferindo este poder para as partes em conflito. O desafio é
juntar as pessoas conflitantes e torná-las parceiras neste processo. Na
Mediação não há culpados, há que se buscar incessantemente o
entendimento entre as partes para que resolvam total ou parcialmente o
conflito.

Decidir por si mesmo, este é um princípio regulador da Mediação.


As partes tem que ter autonomia, interesse e solidariedade na solução do
conflito.

A mediação tem por objeto principal a minimização do conflito,


ajudando a convivência das pessoas e podendo, inclusive, fortalecer os seus
vínculos, na medida em que cada qual, através do diálogo, reconhece no
outro seus limites, possibilitando acordos que tragam benefícios desejáveis,
eficazes e duradouros por excelência, evitando, com isso, o penoso
enfrentamento dos trâmites da Justiça Estatal.

Trata, portanto, de um processo célere, cercado da confiabilidade


e da informalidade, que não pode se reduzido à prática jurídica.

A Mediação poderá ser Obrigatória(9) ou Voluntária(10). As


diferenças aqui são mais de cunho processuais. Por exemplo: na Mediação
Obrigatória os mediadores, inscritos em um Centro de Mediação, são
sorteados para garantir a neutralidade. O acordo vincula as partes e tem força
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de sentença, podendo ser executada. Na mediação voluntária as partes


escolhem o Mediador. O melhor tipo de mediação, sem dúvida, é a voluntária,
pois as partes vão predispostas a se aproximarem de uma solução
satisfatória.

O Direito é ciência. A Mediação não é ciência. É uma técnica e


como tal utiliza-se de regras e estratégias na condução de suas sessões. É
muito mais a interpretação de sentimentos do que de normas. Todavia, não
pode ultrapassar os limites éticos e normativos vigentes.

A nova sociedade informatizada está a demonstrar cada vez


mais que as mudanças tecnológicas vêm ocorrendo em passos cada vez
mais acelerados, interferindo na vida de toda a sociedade e, por conseguinte,
de todos os cidadãos.

As crises sociais decorrentes das mudanças tecnológica têm


demonstrado que o atual modelo de prestação jurisdicional estatal enfrenta
séria crise. Não consegue acompanhar a necessidade de resolução de
problemas na mesma velocidades com que são gerados. Cada vez mais a
justiça estatal fica assoberbada de processos que, diante de um sistema
processualístico moroso, deixa de dar respostas em tempo compatível. As
mudanças tecnológicas que se processam diante de nós nos permite viver o
maior e mais formidável acontecimento de nossa época. Não há dúvida de
que seremos todos afetados de forma direta ou indireta, integrados ou
excluídos nesta nova tecnologia. Há uma nova configuração da atual ordem
social.

Cada vez mais a consciência humana globalizada indica-nos a


importância do respeito aos direitos do homem e do cidadão, a preservação
ambiental, a constante necessidade de capacitação, a interdisciplinaridade, o
aparecimento de novas ciências, a mudanção nas relações internacionais,
nas relações de emprego e assim por diante.

A Mediação, com sua técnica de resolução de conflitos, é capaz


de oferecer respostas às mais diversas demandas. Está capacitada a permitir
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acesso à justiça a todas as camadas sociais. É célere e altamente


democrática. Esta plenamente inserida neste novo contexto, nesta nova
ordem social.

A Mediação não é somente uma solução para os reclamos de


justiça, mas uma necessidade diante da velocidade de mudanças sociais.
Tem condições de desempenhar seu papel, servindo de equilíbrio e
mantenedora das liberdades e dos direitos fundamentais do cidadão, como
por exemplo o acesso à justiça. Tem toda condição de ser instrumento de
resolução de conflitos ambientais, tecnológicos, informáticos, bem como das
novas questões trazida pela ciências emergentes, tais como a biotecnologia,
cibernética, telemática, entre outras. Sem dúvida, a Mediação, neste contexto
da sociedade informatizada diante do embate entre o novo e o antigo, tem
nas partes conflitantes o caminho para o entendimento e a melhora da
qualidade de vida de cada um e, por conseguinte, de nosso planeta. Não está
nas mãos de nenhum magistrado, está nas mãos dos maiores interessados,
os cidadãos comum.

3. Mediador, facilitador da comunicação entre as partes

Mediador - pessoa com formação técnica especializada,


treinada e preparada para, com a máxima imparcialidade coordenar
sessões de mediação

Escuta atentamente as partes. O Mediador deve ter todo o tempo


do mundo para escutar. Ter paciência e Ter sempre em mente que se
há uma mediação é porque falhou a comunicação entre as partes. O
Mediador possibilita que esta comunicação seja restaurada. Que as
partes tenham o máximo de oportunidade para dialogarem entre si. É
importante que sintam-se escutadas e compreendidas, o que lhes dará
maior confiança no processo. Desta forma, o Mediador dirige a sessão,
conduzindo-a imparcialmente, sem julgar, nem decidir. Sua função é
informal e de aproximação das partes. Controla o processo da
mediação sem interferir no seu mérito. Parafraseia cada parte para
demonstrar que entendeu, sem no entanto expor o seu ponto de vista
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do conflito. Técnica que serve para simplificar e ordenar, jamais para


decidir ou orientar decisões. O parafraseamento não é obrigatório,
porque o relato da parte pode ser conciso e claro. Todavia, se for
necessário, deve ser realizado com cautela. Não para fazer uma
repetição exata do que foi dito e nem colocar a sua interpretação. Deve
assumir o caráter de um resumo, digamos mais humanizado, onde o
mediador deve procurar retirar da fala os pontos negativos, palavras
chulas, ofensivas.

E se o conflito esquentar, as partes passarem a se ofender, deve


o Mediador interromper?

O papel do Mediador, como já frisamos, é o de facilitar a


comunicação entre as partes. Nem toda interrupção é negativa. Deve
saber discernir o momento adequado. Todavia, tomar cuidado ao fazer
esta interrupção. Nunca entrar no clima das partes, discutir com elas.
Lembrar que a Mediação é um diálogo. Que no diálogo alguém fala e
outra escuta. Que a oportunidade será dada igualitariamente. Poderá
utilizar-se da Sessão Privada(11) com a parte mais agressiva e dar a
mesma oportunidade à outra parte. Porém, observar sempre a regra do
sigilo e trabalhar no sentido de que tudo o que seja tratado nesta
sessão, seja trazido à sessão conjunta pela própria parte. Fundamental
para firmar a confiabilidade no Mediador.

É fundamental que o Mediador saiba as razões do conflito.


Por isso tem que trabalhá-lo, lidando com os receios e as expectativas.
Lidar com os segredos que estão por detrás do conflito.

Se o jurista deve interpretar o segredo da norma, cabe ao


mediador interpretar o segredo do conflito. Interpretar os segredos de
cada participante, bem como os segredos que envolvem as relações.
Neste aspecto a mediação é cercada de infinitos detalhes para os quais
o Mediador tem que estar atento. Atentando para estes aspectos
poderá, através de perguntas, abrir novos caminhos não descobertos
pelas partes, escondidos pelas questões mais fortes que os levaram à
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mediação. Ter em mente de que tudo faz parte do conflito, incluindo as


questões sócio-econômico-culturais. Por isso é salutar que trabalhe o
conflito tendo a visão de mundo.

Podemos afirmar que o conflito vai além do normativo. No


processo jurídico o pretendido não pode ser modificado. Somente
através de novo processo, novo pedido. O Juiz não pode julgar além do
pedido. Na mediação, não há esta estrutura rígida de poder e de
processo. A pretensão pode ser modificada a qualquer tempo. Alterada
ao sabor do entendimento das partes. Ajustada à realidade de cada
um. Mas democrática e distributiva. Tudo porque muita das vezes os
interesses que envolvem o conflito não é a pretensão inicial e sim são
desejos ocultos e expressos que afloram durante a Mediação. Atrás de
cada problema, de pedidos materiais há sempre interesses em jogos.
Sejam interesses comuns, compartilhados entre as partes ou
interesses opostos que se chocam. Interesses cuja satisfação de um é
incompatível com a do outro. São interesses incompatíveis que
necessitam ser negociados. Há também interesses diferentes sobre
uma mesma questão, como por exemplo o rompimento de uma
sociedade. Um quer permanecer com o negócio o outro deseja afastar-
se. Interesse plenamente negociável. Cabe ao Mediador detectar os
interesses comuns, opostos ou diferentes e trabalhá-los, sem
influenciar, sem sugerir, sem interferir. Ou seja, ajudar as partes para
que vejam seus interesses, que na maioria das vezes nem elas sabem
quais são e como trabalhá-los. O Mediador pode ajudar através de
perguntas circulares(12), abertas(13( ou fechadas(14) . Perguntas que
devem ser formuladas com cuidado para que seja mantida a
imparcialidade do Mediador. As perguntas abertas dão melhores
condições de trabalho ao Mediador que adquire uma visão maior do
conflito e do que pensam as partes. Já a perguntas fechadas, se forem
usadas em larga escala poderão dar a impressão de que as partes
estão sendo interrogadas, criando um distanciamento entre Mediador
as partes conflitantes. Questionar é, sem dúvida, a melhor forma de
incentivar o diálogo entre as partes fazendo com que discutam, reflitam
e decidam o que fazer e o que transacionar. Pode chegar inclusive a
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conclusão de que determinados interesses não podem ser satisfeitos,


seja por questões sociais, ética, morais ou legais. É muito importante
que o Mediador trabalhe sem prever o resultado e sem querer a
qualquer custo "fazer" um acordo ou ter o acordo como um fim. O seu
desafio maior é chegar ao final da Mediação e que as partes se sintam
melhor e recompensadas. Para isso o Mediador deve ser solidário e
afetivo, colocar-se como catalisador positivo, transformador.

O pensamento do mundo jurídico é o de que tudo que não


está nos autos não existe. O que não está no processo, não está no
mundo. Se o fato não pode ser provado não existe. Na mediação não é
bem assim, nesta certeza, na plenitude do Direito moderno. A
mediação é revigorada na vivência da incerteza constante, do dito pelo
não dito. Aproximar-se pelo segredo, pelo que está atrás da própria fala
do outro. Não cabe ao Mediador o papel de procurar provas e
verdades. Talvez aqui o aspecto mais difícil da mediação, o de
permanecer eqüidistante do mérito do conflito, sem influenciar
nenhuma das partes. Neutralizar-se sem manipular a mediação e sem
oferecer soluções.

Sem dúvida estamos diante de um problema difícil. Como


evitar que inconscientemente o Mediador sutilmente possa persuadir
uma das partes ou as partes propondo soluções, para que firmem um
"acordo desejado"? Acordo este desejado por quem? Pelas partes ou a
que o Mediador julga ser? Somente com muita técnica, estudo e
experiências acumuladas permitirão que, ao longo do exercício
profissional, o Mediador desenvolva suas habilidades essenciais,
adquirindo técnicas de comunicação e de condução de sessões que
lhes dêem a imparcialidade, a empatia necessária na condução do
processo de mediação. Haverá de desenvolver cada vez mais a
criatividade, saber olhar através e além dos relatos, ter o raciocínio ágil,
flexibilidade, autoridade, segurança e cada vez mais valorizar sua
capacidade de escutar sem opinar. Ter em mente que os conflitantes
tornam-se presas fáceis e vulneráveis a receberem opiniões,
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"conselhos", por estarem, de certa forma, predispostos à resolução do


conflito.

Um outro fator ético que cerca a profissão do Mediador é o


sigilo que deve envolver todos os procedimentos da mediação. Jamais
poderá revelar às partes o que sabe sobre as mesmas ou da situações
que envolvem o conflito quando lhes passado em Sessão Privada(15),
somente se por elas autorizado. Tal procedimento proporcionará a
confiabilidade das partes seja no Mediador ou no processo de
mediação.

O Mediador tem, também, a responsabilidade ética de não


assumir os problemas de nenhuma das partes ou seja, não tomar
partido. Deverá para isso despir-se de seus preconceitos para evitar
idéias pré-concebidas do conflito ou de atitudes das partes ou de uma
das partes. Bem como fugir daqueles modelos excludentes na
sociedade, tipo modelo sexual, prestígio social, mulher ser sempre a
parte frágil e assim por diante. Na realidade é muito difícil portar-se
desta maneira tão isenta, visto que cada indivíduo está envolto por
inúmeros preconceitos que moldam a sua estrutura cultural, ética,
religiosa e moral. A luta para eliminar os preconceitos deve ser diária,
isto evitará rotular uma das partes, bem como eliminar a possibilidade
de proteger a parte que julgar ser a mais fraca no conflito, em virtude
da sua visão dos modelos e estereótipos criados pela sociedade e
absorvido durante a vida.

4. A Inter-disciplineralidade da Mediação: "Não há nada fixo nas


idéias, há um fluxo de saber"

A Mediação só terá êxito se lhe for garantida a


interdisciplinaridade de funcionamento. O de não ser privilégio de nenhuma
classe profissional. Há correntes, no entanto, que defendem o exercício
somente para Advogados. No mínimo um erro de avaliação e de
conhecimento. A destempo de pertencer a esta Classe, creio ser
destemperada tal pretensão. No mínimo uma pretensiosa e desnecessária
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reserva de mercado. A visão de conflito por parte do Advogado é


diametralmente oposta à das técnica da Mediação. O advogado vê no conflito
um litígio e como tal tenta resolvê-lo dentro de técnicas pelas quais foi
treinado durante toda sua vida universitária e profissional. Técnicas estas que
não se coadunam com as da Mediação, que não enxerga o conflito sob a
ótica litigiosa. O Advogado foi treinado para interpretar normas. O Mediador é
treinado para ver o que está por detrás dos fatos. Deve escutar sem a
preocupação com a razão jurídica e sim com os interesses em jogo. São,
pois, diferentes as técnicas de comunicação. O advogado tem por princípio
tomar as rédeas do litígio e decidir qual o caminho a trilhar, convencido de ser
o melhor para seu cliente. Trabalha num plano superior ao do cliente e do
litígio. O grande "plus" da mediação é que todos trabalhem num mesmo plano
de comunicação. Só assim poder-se-á criar ambiente propício para escutar e
escutar, entender a relação conflituosa, identificar os interesses de cada
parte, os interesses comuns e os interesses ocultos. Somente numa posição
de comunicação mais horizontal, sem interferir no processo mediatório poderá
obter algum sucesso, na vontade única das partes, solucionando total ou
parcialmente o conflito. Vejo na advocacia uma das profissões mais difíceis
de ajustar-se aos princípios e objetivos da mediação, não que seja
impossível, mas porque o advogado, no processo litigioso, está numa posição
de poder, de mando, de controle das decisões e o cliente procurando por
justiça, resignado pela confiança e crença que a capacidade do seu patrono
resolverá o litígio, mesmo este tendo, ainda, que passar por todo o moroso
processo na Justiça do Estado.

De outro lado, o advogado-mediador é de suma importância, pois


que dará, com certeza, maior segurança aos ditames dos acordos. Todavia,
para ser mediador terá que enfrentar treinamento e reformular toda sua
conduta, a começar pela visão do conflito, libertando-se da visão litigiosa, que
parte do princípio do culpado e do inocente. Diante desta dicotomia, arquiteta
suas peças jurídicas, onde muito pouco ou nada existe da participação do
cliente, a não ser pelos relato dos fatos e das provas. Na Mediação, tenta-se
diminuir o nível do conflito, aproximando-se pessoas. Isto não significa que
advogados não possam ser mediadores, como quaisquer outras profissões,
desde que todos que desejam mediarem, indistintamente da profissão que
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abracem, participem de cursos de especialização e de curta duração para


assimilarem tais técnicas. Há em certos tipos de mediação, mais específicas,
como por exemplos as familiares, a necessidade de se trabalhar com a
técnica da co-mediação(16), ou seja, com mais de um mediador, sendo que um
destes mediadores poderá ser advogado, psicólogo, assim por diante. Os
bons Centros de Mediação devem primar para possuir um quadro
interdisplinar de mediadores. Só assim o Centro terá capacidade de oferecer
mediadores mais qualificados. Necessitamos abrir as portas do próximo
milênio para que todos possam laborar em igualdade de condições,
sobressaindo-se pela melhor capacitação e técnica. Por esta razão, não
devemos nos enclausurar, impedindo a participação, neste processo célere e
democrático, de classes de profissionais. Sabemos que nesta nova Era,
liderada pelas tecnologias da informação, reinará, sem dúvida, a
interdisciplinariedade na condução das mais diversas questões do cotidiano,
num mundo globalizado, aproximando-se cada vez mais do Estado Global,
cujos verdadeiros direitos do homem e do cidadão serão universalmente
reconhecidos e tratados sob a ótica solutiva por intermédio da Justiça Privada
Supranacional ou pela Justiça Comunitária. Encastelar a mediação e
arbitragem no privilegiado exercício de uma única profissão é, também, vedar
os olhos da justiça privada, desconhecendo os anseios e necessidades da
nova sociedade da informação. É não ter a visão de mundo, certamente não
vislumbrando as oportunidades multidisciplinares existentes além de seu
quintal .

5. Mediação Transformadora, garantia de melhor qualidade de vida.

A Mediação Transformadora tem por objeto fazer com que os


conflitantes detenham o poder de buscar entre si a melhor das soluções,
minimizando o conflito e alcançando, com isto, uma melhor qualidade de vida.
Este é o aporte epistemológico da Mediação Transfomadora, a oportunidade
de transfomação do indivíduo na direção de uma melhor qualidade de vida.

A melhor qualidade de vida se obtém na medida em que as


pessoas não fiquem aprisionadas ao passado, mas que vejam, na mediação,
a possibilidade de se sentirem fortes para decidir suas vidas e, por
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conseguinte, o conflito em si mesmo. Portanto, na Mediação Transformadora


as pessoas entendem que não modificarão seus passados. A grande
transformação acontece no presente, prevendo um melhor comportamento
para o futuro. Neste prisma, existe uma importante função pedagógica na
mediação, na medida em que transforma o conflito em busca de uma melhor
qualidade de vida. Quando na Justiça Estatal o Juiz decide um conflito, não
há preocupação com a função pedagógica, ou seja, se as partes se
transformaram ou não. Na Mediação Transformadora há sempre uma
preocupação pedagógica no sentido de que as partes se transformem, de que
o conflito minimize sua intensidade ao mínimo possível, para que tenhamos
uma mediação exitosa.

A Mediação Transformadora permite trabalhar com a diferença do


outro. A parte se transforma, colocando-se no lugar da outra. Quando se
preocupa com as outras pessoas está preocupando-se consigo mesmo. Este
é um princípio em que na medida, por exemplo, que analiso e me preocupo
com a diferença, com o conflito do outro, abre-se uma enorme possibilidade
de realizar-se a minha transformação. Logo, possibilitando-me crescer
individualmente, a entender o problema do outro e obter , com isto, uma
melhora na qualidade de vida.
O Mediador tem a função primordial de atuar no sentido de que cada
parte se coloque dentro do problema do outro, no intuito de que se
modifiquem a partir desta visão alheia, não para entendê-lo, e sim para
entender-se. O objetivo é a transformação do conflito nas pessoas, realizando
a diferença, é produzir com o outro o novo, ou seja, uma nova diferença.
Portanto, o Mediador ajuda as partes a produzirem um novo através de seus
conflitos. Desta forma, o conflito é transformado por intermédio de uma
administração constante. Todavia, o Mediador não deve incorporar estas
diferenças produzidas, elas não se transferem. A confiança das partes no
Mediador é fundamental para o sucesso deste processo transformativo.

5. Mediação Ecológica, qualidade de vida universal


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O homem sempre foi o maior e mais voraz depredador da


natureza. Não tem a visão sistêmica integrada de mundo e tão pouco absorve
esta visão do Universo.

Todavia, neste findar de milênio, há uma conscientização para a


importância das questões ambientais.

Danos ambientais, em sua maioria, são irreversíveis, o que requer uma


atuação preventiva rápida e eficaz.

A Mediação tem a possibilidade de ocupar espaço em


discussões desta natureza. Com sua técnica e possibilidade de minimização
do conflito, de resolução parcial ou total, solução buscada pelas partes,
agressora ambiental e defensora do meio ambiente, é possível que todos
ganhem em qualidade de vida. Por certo tratar-se-á de Mediação
especializada e como tal requererá muito treinamento por parte do Mediador.
O Mediador deve ter bem claro o que é qualidade de vida, necessita ter a
concepção ecológica da vida. Deve deixar exposto em seu discurso inicial o
que é ecologia; ambiente e Mediação Ecológica. E, se todos estão numa
sessão de Mediação-Ecológica é porque estão preocupados com o meio
ambiente e com a qualidade de vida das pessoas.

O objetivo da Mediação-Ecológica é o princípio regulador da ecologia,


dever de cuidado; viver o máximo possível em melhores condições. A
sobrevivência é um desejo latente no ser humano. Há um desejo de viver
bem, melhor e mais. Na medida em que este desejo de sobrevivência for
trabalhado, nascerá o desejo de lutar para sobreviver. O somatório será o
nascedouro do desejo coletivo de preservação da vida e teremos uma melhor
qualidade de vida planetária. As partes devem ter a consciência, também, de
que um dos princípios da Mediação é o dever de decidir por si mesmo, ou
seja, ter autonomia para decidir, interesse em decidir e solidariedade com a
humanidade. Será também aconselhável a realização de Co-Mediação, visto
que as sessões conjuntas são muito mais complexas porque dela participam
muitas partes e estão implícitos múltiplos interesses. Também há elementos
sociais, políticos e econômicos a considerar. Por sua vez, as partes poderão
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ter assessoramento, consultores e advogados. Na Mediação-Ecológica a


ecologia pode ser vista sob a forma de um paradigma, uma nova visão de
mundo, tendo como função a de melhorar a qualidade de vida.
Epistemologicamente, consiste na oportunidade de transformação do
indivíduo, das partes, para melhorar suas qualidade de vida. A Mediação-
Ecológica tem função mais pedagógica do que punitiva. Muito mais preventiva
e de inserir uma consciência ecológica. A mediação ecológica tem muito
pouco a ver com os ditames das normas, tem a ver com o que as partes
adquiram a verdadeira consciência ecológica. Para se mediar não há que
tomar, necessariamente, o normativo, como prioridade. A norma existe para
ser cumprida, mas se o indivíduo adquirir a consciência ecológica não
necessitará da norma. É satisfatório para o Mediador Ecológico se conseguir
que as partes, ao final da mediação ou co-mediação, adquiriram um certo
grau de consciência de qualidade de vida, compreenderam, entenderam e
aprenderam a importância da ecologia.

Marco Antônio Machado Ferreira de Melo


Notas

(1) Thomas S. Kuhn, in A Estrutura das Revoluções Científicas explica que


paradigmas constituem-se nas realizaçõesuniversalmente reconhecidas que
fornecem problemas e soluções modelares para uma comunidade de
praticantes da ciência. Dois divisores de águas , dois paradigmas que
mudaram a sociedade planetária. O paradigma da modernidade:
industrialização; o paradigma da pós-modernidade: as novas tecnologias da
informação

(2) A Industrialização ou a chamada Revolução Industrial foi o grande marco,


o paradigma da modernidade. Uma visão de mundo. Uma nova concepção do
modelo econômico. Iniciada no século XVIII, na Inglaterra, quando fatores
econômicos, políticos e sociais da época lhe propiciaram estar à frente e
deflagrar um novo período fértil para a humanidade. Surge o capitalismo, a
produção em massa substitui à produção artesanal. O Estado absolutista e
arbitrário dá lugar ao Estado de Direito. O Estado Constitucionalista, prima
pelo equilíbrio dos três poderes: legislativo - produtor das leis, limitando as
tarefas do executivo; ao judiciário delega o dever de solucionar os conflitos. A
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Modernidade, no seu processo evolutivo, interferiu nas relações sócio-


econômico-político-sociais da humanidade até no final da primeira metade do
Século XX.

(3) Tem como marco a invenção do primeiro computador, em 1947, Eletronic


Integrator and Caculator-ENIAC, nos estados Unidos. A partir da invenção do
micro chip, nestas três últimas décadas, a informática, aliada às tecnologias
das telecomunicações imprime mudança radical nos modelos econômicos,
geo-políticos, culturais, científicos da humanidade. É a chamada novas
tecnologias da informação ou de revolução digital vêm dar um tom todo
especial para este findar de milênio, na formação de uma nova sociedade
estruturada além dos conceitos da modernidade, onde a velocidade das
inovações tecnológicas acontecem em espaços de tempo cada vez mais curtos
e de impacto universal.

(4) Ferreira de Melo, Marco Antônio - Spam - Lixo Eletrônico. Revista da


Informática Jurídica, 04/08/98, http://infojur.ccj.ufsc.br/revista.htm

(5) A Mediação é um processo de resolução de conflitos autônomo e não


heterônimo, ou seja, não necessita de uma terceira pessoa para que resolver ou
decidir o conflito. Assim, o poder de busca da justiça passa a ser autônomo,
transferindo este poder para as partes em conflito.

(6) Processo que requer pelo menos duas pessoas físicas ou jurídicas, ou uma
física e outra jurídica, que estejam em litígio. Para ajudá-las na solução do
litígio elegem pelo menos uma terceira pessoa, árbitro, que através de uma
sentença porá fim ao litígio na área arbitral. Na Arbitragem há um processo
que reveste-se de formalidades. Célere, cercado da confiabilidade e da
formalidade necessárias ao desenvolvimento do processo arbitral. Cabe ao
árbitro conduzir todo o processo, colhendo depoimentos das partes e de
testemunhas, provas, documentos, laudos periciais, para fundamentar sua
sentença arbitral. O árbitro tem o poder de decidir pelas partes. De sua
sentença arbitral não cabe recurso, podendo ser impugnada a chamada Ação
de Nulidade, por erro cometido na condução do processo, mas nunca sobre
questões de mérito. A arbitragem tem por objetivo principal a solução do
litígio, evitando, com isso, o penoso enfrentamento dos trâmites da Justiça
Estatal.
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Hugo Cesar Hoeschl, Dr (org)

(7) Decidem livremente se vão ou não participar da mediação. Possuem o livre


arbítrio para retirarem-se do processo de mediação a qualquer tempo.
Desobrigadas a chegarem a um acordo. O acordo poderá ser total ou parcial e
terá o mesmo valor de um acordo extrajudicial. Podem, mesmo durante o
processo da mediação, optarem por outras formas para resolver seus
problemas.

(8) Pessoas com formação especializada, treinada e preparada para, com a


máxima imparcialidade, aplicar técnicas de comunicação acurada e regras para
conduzir as sessões de mediação.

(9) Quando está estipulada em cláusula compromissória. Na sessão obrigatória


as partes podem não querer realizá-la e ir direto para a Arbitragem. De
qualquer forma é instalada a Sessão e lavrado Termo, que vai assinado por
todos.

(10) As partes escolhem como meio para derimir o seu conflito a Mediação.
Pode ser realizada sem a presença de advogados.

(11) Reunião realizada entre o Mediador e uma das partes reservadamente.


Sessão sigilosa. Mediador não pode transmitir nada do que ocorreu nesta
sessão, a não ser se autorizado expressamente pela parte. Sendo que se
realizada com uma delas, deve ser realizada uma nova sessão com a outra
parte, para manter a isenção do Mediador. É uma excepcionalidade. Poderá ser
solicitada pelas partes ou sugerida pelo Mediador. Situações em que poderá
ser solicitada pelo Mediador: quando notar que uma das partes está muito
agressiva e se puder trabalhar esta agressividade; quando perceber que uma
das partes é por demais tímida e tem dificuldade de expressar seus pontos de
vista; quando perceber que uma das partes está deliberadamente atrapalhando
o andamento da sessão; para tranqüilizar uma das partes, se esta estiver muito
nervosa; quando notar que poderá detectar interesses ocultos no conflito; para
verificar o que se chama de preço reservado, verificar qual o máximo a parte
está disposta a dar e qual o mínimo que a outra está disposta a receber; para
avaliar e fazer com que uma parte se coloque no lugar da outra; para tocar em
aspectos legais que se trabalhado em conjunto poderia ser demonstrado com
quem está a razão, mesmo porque pode uma das partes pretender direitos
indisponíveis. O Mediador tem que manter sua imparcialidade. Aqui trabalha-
se questões da seguinte forma: você consultou seu advogado sobre sua
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pretensão? O que o Advogado falou? Por que sabendo isto você reclama? Por
que não consulta um advogado? Podemos suspender a sessão. Mas nunca
dizer com quem está a razão. A Sessão Privada também pode ser realizada
com os advogados das partes, principalmente se estiverem dificultando a
sessão, interrompendo-a constantemente e solicitar-lhes colaboração ou até
mesmo para demonstrar que o advogado está tendo uma visão errônea do
conflito, querendo, por exemplo, propor acordo imediatamente. Mostrar que
as partes devem chegar às suas conclusões.

(12) São perguntas que buscam contextualizar a situação, principalmente


quando poderá ampliar o campo contextualizado. Muito utilizadas em sessões
privadas, sendo viável a aplicação da mesma pergunta a cada uma das partes.

(13) São as que buscam um maior leque de informações. Dá oportunidade


para que a parte se abra mais, saia de dentro de si. Muitas vezes são perguntas
que coloca uma parte no lugar da outra, para que enxergue o problema na
ótica do outro.

(14) São aquelas que estão mais focalizada, mais centradas no interesse ou na
questão, esperando respostas mais concretas, do tipo sim e não.

(15) Sessão Privada. Reunião em separado realizado entre uma das partes e o
Mediador. Oportunidade em que a parte envolvida no conflito poderá relatar
fatos mais íntimos ou aspectos que julga ser importantes esclarecer. O sigilo é
fundamental e o Mediador só poderá reportar-se na Sessão conjunta somente
naquilo que lhe for autorizado falar. Caso contrário terá que guardar em
absoluto segredo o que lhe for relatado e não autorizado falar.

(16) Quando mais de um Mediador trabalha em uma mediação. Além da


afinidade que deve existir entre eles, a técnicas utilizadas na co-mediação são
as mesmas da mediação, incorporadas outras para facilitar o trabalho em
conjunto, tais como: sempre que desejarem replanejar ou modificar alguma
estratégia na sessão, devem ausentar-se da sala e estabelecer em conjunto os
novos rumos; nunca discutir questões de condução da sessão na frente dos
mediados; sempre falar no plural; o trabalho é em conjunto e em igualdade de
condições. A vantagem da co-mediação é uma melhor visão do fenômeno,
bem como a possibilidade de multiplicar a visão do conflito.

BIBLIOGRAFIA
A tecnologia da informação Jurídica
Hugo Cesar Hoeschl, Dr (org)

BRASIL. Lei no 9307, de 23 de setembro de 1996. Dispõe sobre a arbitragem.

CASTELLS, Manuel. A Sociedade em Rede. Tradução: Roneide Venâncio Majer. Editora


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José Alcebíades de Oliveira Júnior (org.). Porto Alegre: Livraria do Advogado, 1997. p 89-
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Paulo Rouanet. São Paulo: Ed. Loyola, 2ª ed., 1999, 12-212 p.

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MAUBERT, Jean-François. Negociar - A Chave para o Êxito. Edições CETOP. Portugal.


1991. 272 p.
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Hugo Cesar Hoeschl, Dr (org)

Levantamento e reedições de medidas provisórias: dados atualizados em 28 de fevereiro de


1999. 8. Ed. Brasília: Senado Federal, 1999. 368p.
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Hugo Cesar Hoeschl, Dr (org)

FUNDAMENTOS JURÍDICOS PARA O ENSINO POR


TELEPRESENÇA
Hugo Cesar Hoesch

Ricardo Miranda Barcia

....................
"RECONHEÇO QUE, SE PODERIA
CAMINHAR COM O EMPREGO DA
INFORMÁTICA PARA AGILIZAR O
ANDAMENTO PROCESSUAL,
UTILIZANDO-SE A TELECONFERÊNCIA
PARA SE INTERROGAR RÉUS E
TESTEMUNHAS RESIDENTES EM
OUTRAS COMARCAS...".

....................
Jesus Costa Lima

Ministro do Superior Tribunal de Justiça

1. Introdução

A utilização da telepresença está destinada a ser uma prática comum para os


atos da vida civil. Muitos avanços positivos estão por vir, mas alguns deles já
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estão ao nosso alcance, como, por exemplo, na educação. Algumas


Universidades brasileiras já oferecem cursos regulares - devidamente
aprovados, reconhecidos e homologados nas instâncias competentes e
ministrados dentro do campus das respectivas instituições, em suas
respectivas cidades - que contam com a participação de alunos conectados
através das tecnologias da telepresença, de forma tal a que alunos participem
das aulas, interativamente, em salas previamente preparadas, mediante a
transmissão bilateral de imagens, voz e dados, como se estivessem nas salas
da respectiva instituição, configurando a chamada "presença virtual", a qual é
reconhecida como similar à "presença" pelos tribunais brasileiros.

2. Presencial virtual = Presencial.

Presença e telepresença são, juridicamente, iguais, no âmbito de seus


efeitos, para os fins aqui discutidos. O ensino realizado pelo modelo
telepresencial equivale àquele realizado pelo modelo presencial, pois
"telepresença" equivale à "presença", conforme estão decidindo os Tribunais
nacionais.

Não se restringindo a decidir sobre o assunto, o judiciário nacional está


aplicando a telepresença em atos judiciais tradicionamente solenes, como, p.
ex., interrogatórios, conforme se verá mais adiante.

A modalidade de ensino denominada como "presencial virtual" materializa


absoluta interatividade entre os participantes. Seu funcionamento é o
seguinte: câmeras e monitores posicionados nas salas onde se encontram
professores e alunos permitem que todos possam efetivar perfeita
comunicação interativa, como se presentes estivessem. Eles estão
"telepresentes entre si", como se estivessem todos no mesmo lugar.

A telepresença diferencia-se do aparendizado passivo, modelo "telecurso",


pois permite o diálogo imediato entre mestre e aluno, como se estivessem na
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mesma sala. Isto é, o aluno pode interromper o professor, a qualquer


momento, para esclarecer dúvidas e efetuar questionamentos, "olho no olho",
podendo o mestre visualisar o aluno e conferir suas ponderações em tempo
real, podendo, inclusive, avaliar seu comportamento em aula, com
tranquilidade.

3. Ensino por telepresença é diferente de ensino a distância

Telepresença e ensino a distância são conceitos diferenciados. O uso da


telepresença não pode ser erroneamente confundido com o ensino a
distância. A telepresença não é uma espécie integrante do gênero ensino a
distância. Este é normatizado pelo DECRETO N.º 2.494, DE 10 DE
FEVEREIRO DE 1998, o qual, por sua vez, regulamenta o artigo 80 da LEI
9.394/96, a LDB. O ARTIGO 1º. do referido Decreto estabelece a noção de
ensino a distância:

"Art. 1º Educação a distância é uma


forma de ensino que possibilita a
auto-aprendizagem, com a mediação
de recursos didáticos
sistematicamente organizados,
apresentados em diferentes
suportes de informação, utilizados
isoladamente ou combinados, e
veiculados pelos diversos meios de
comunicação".
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Telepresença é outra coisa, mais sofisticada e humanizada. Na telepresença,


os homens conduzem o processo, não as máquinas, eis que ela não se
restringe a uma emissão de sinais que gerarão condições para o aprendizado
passivo.

O modelo baseado na telepresença é diverso do descrito no Decreto citado,


por diversas razões. As principais são as seguintes:

I - "...auto-aprendizagem...". O modelo
telepresencial não é baseado na auto-
aprendizagem. Não há uma participação passiva do
aluno, simplesmente assistindo às aulas pelo vídeo
e respondendo questões em sua apostila. Muito
pelo contrário, o sistema baseado na telepresença é
dinâmico, como já foi enfatizado, no qual o aluno e o
professor estão se enxergando mutuamente, cada
qual em seu video, com retorno integral de áudio,
imagens e dados, em tempo real;

II - "...veiculados...". A sistemática telepresencial


não se resume à veiculação, em vídeo, do material
ditádico, pois promove a conexão, por telepresença,
entre os participantes da aula (professores, alunos e
monitores), todos ao mesmo tempo. Não se trata de
uma simples emissão de sinal, passivamente
captada pelo aluno, como se estivesse assistindo a
um canal de televisão. Pelo contrário, pois mestre e
aluno estão vendo uns aos outros todo o tempo,
enquanto estiverem conectados
telepresencialmente.
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Assim, os cursos em tela não podem ser caracterizados como "a distância",
mas sim como "presenciais", sob a modalidade da telepresença.

4. Diretriz Jurisprudencial

O emprego da telepresença é admitido pelos tribunais brasileiros como


prática válida, segura e confiável. Atos nos quais as leis exigem que as
pessoas estejam presentes diante de um magistrado estão sendo praticados
mediante a telepresença, como depoimentos e interrogatórios. Isso está
acontecendo em razão da admissão de que a presença remota, ou
telepresença, surte, juridicamente, os mesmos efeitos que a presença, em
situações como as discutidas, nas quais as pessoas necessitam ver e ouvir,
interativamente, umas às outras, podendo dialogar livremente, debater,
questionar e responder, como se estivessem presentes no mesmo local.

Os depoimentos e testemunhos judiciais são atos pessoais, que exigem a


presença da parte interessada, que será ouvida. Sobre isso, veja-se a
seguinte decisão do egrégio Superior Tribunal de Justiça:

Acórdão: RHC 7462/DF ; RECURSO ORDINARIO EM


HABEAS CORPUS (1998/0022261-8)

Fonte: DJ DATA:22/02/1999 PG:00112

Relator: Min. JOSÉ ARNALDO DA FONSECA

Data da Decisão: 16/06/1998

Orgão Julgador: QUINTA TURMA

Ementa:
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"RECURSO EM "HABEAS CORPUS". PROCESSUAL


PENAL. EXECUÇÃO. REGRESSÃO DE REGIME. FALTA
GRAVE. INQUÉRITO DISCIPLINAR. AMPLA DEFESA
DO CONDENADO. - Nos termos da Lei de Execução
Penal, faz-se imprescindível a presença física do
condenado para ser ouvido, em audiência, pelo juiz,
e desse modo o amplo direito de defesa pode e
deve ser exercitado mediante oposição técnica ao
pedido de regressão requerido a realizar-se por seu
patrono, constituído ou integrante da defensoria
pública".

- Recurso conhecido e provido.

Decisão: Por unanimidade, dar provimento ao


recurso.

Não há dúvida quanto à necessidade de presença da pessoa diante do


magistrado, conforme reitera o precedente a seguir transcrito, da mesma
Corte:

Acórdão: RHC 7459/DF ; RECURSO ORDINARIO EM


HABEAS CORPUS (1998/0022253-7)

Fonte: DJ DATA:31/08/1998 PG:00120

Relator(a): Min. VICENTE LEAL

Data da Decisão: 23/06/1998

Orgão Julgador: - SEXTA TURMA

Ementa:
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"EXECUÇÃO PENAL. FALTA GRAVE. APURAÇÃO.


REGRESSÃO. PRÉVIA AUDIÊNCIA DO CONDENADO
EM JUÍZO. INDISPENSABILIDADE. LEI Nº 7.210/84,
ART. 118, § 2º. - A Lei nº 7.210/84, que instituiu entre
nós a política de execução penal, incorporou no seu
texto dogmas de elevado conteúdo pedagógico e de
grande alcance na busca do ideal de recuperação e
ressocialização do condenado, conferindo, para
tanto, especial relevo à atuação do Juiz da Vara das
Execuções Penais. - Dentro dessa visão teleológica,
é de se emprestar rigor à regra do art. 118, § 2º, da
LEP, no sentido de se entender imprescindível a
audiência pessoal do condenado pelo Juiz, após a
apuração das ocorrências no inciso I, do citado
artigo, para fins de imposição de regressão de
regime prisional. - Recurso ordinário provido".

Porém, esta presença - imprescindível - pode ser a telepresença, conforme


decidiu o mesmo Superior Tribunal de Justiça, em decisão pontual a seguir
apresentada:

Acórdão
RHC 4788/SP ; RECURSO ORDINARIO EM HABEAS
CORPUS
(1995/0039109-0)

Fonte

DJ DATA:25/09/1995 PG:31118

Relator(a)
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Min. JESUS COSTA LIMA (0302)

Data da Decisão

23/08/1995

Orgão Julgador

QUINTA TURMA

Ementa

"PROCESSUAL PENAL. EXCESSO DE PRAZO NA


INSTRUÇÃO. PECULIARIDADES.

I. IMPETRAÇÃO ALEGANDO EXCESSO DE PRAZO


PARA CONCLUIR A INSTRUÇÃO. O TEMA IMPLICA EM
SE CONSIDERAR A ÉPOCA EM QUE FOI ELABORADO
O CÓDIGO DE PROCESSO PENAL, AS MUDANÇAS
OCORRIDAS NO PAÍS E, ESPECIALMENTE, EM SE
CUIDANDO DE PROCESSO INCLUINDO VÁRIOS
REUS, AS DIFICULDADES POR ELES OPOSTAS PARA
SEREM CITADOS OU A DEMORA

NA APRESENTAÇÃO AO JUÍZO, A FIM DE SEREM


INTERROGADOS, O QUE NÃO DEPENDE DO PODER
JUDICIÁRIO. RECONHEÇO QUE, SE PODERIA
CAMINHAR COM O EMPREGO DA INFORMÁTICA
PARA AGILIZAR O ANDAMENTO PROCESSUAL,
UTILIZANDO-SE A TELECONFERÊNCIA PARA SE
INTERROGAR REUS E TESTEMUNHAS RESIDENTES
EM OUTRAS COMARCAS, COM O QUE SE EVITARIA,
NO CASO DOS REUS, AS COMUNS FUGAS. NO CASO,
POR EVIDENTE, SE NÃO ESTA DEMONSTRADO QUE
A COAÇÃO DECORRE DE ATO PROVOCADO PELO
MINISTERIO PUBLICO E NEM PELO JUIZO DA CAUSA,
A DEMORA ENCONTRA-SE JUSTIFICADA. EM
OPORTUNIDADE ANTERIOR SALIENTEI QUE SE
TRATA DE REU DE ACENTUADA PERICULOSIDADE,
A tecnologia da informação Jurídica
Hugo Cesar Hoeschl, Dr (org)

TENDO AGIDO COM MAIS DOZE "COLEGAS",


INTERCEPTANDO UM CARRO FORTE COM RAJADAS
DE METRALHADORAS E DISPAROS DE REVOLVERES
E FUZIS SUBTRAINDO APRECIAVEL QUANTIDADE EM
DINHEIRO.

II. RECURSO CONHECIDO, MAS IMPROVIDO PELOS


PROPRIOS FUNDAMENTOS DO JULGADO.

Decisão

POR UNANIMIDADE, NEGAR PROVIMENTO AO


RECURSO"

(Destacado).

Note-se que o judiciário não está apenas reconhecendo a validade da


telepresença, mais do que isso, ele está aplicando a tecnologia em seus atos
de administração da justiça.

5. Conclusão

Assim, a admissibilidade do emprego da "presença virtual" para a prática de


atos judiciários eminentemente solenes, materializada por decisão unânime
do Superior Tribunal de Justiça, torna sólido o entendimento de que esta
tecnologia é válida e confiável para atividades que envolvam o contato "vis a
vis" entre os seres humanos, pois ela é permeada pela interatividade,
ensejando perfeita possibilidade de avaliações. Se um magistrado pode
"sentir" a segurança de um depoimento telepresencial, um professor pode
avaliar um aluno, em seu mistér pedagógico, nas mesmas condições. Muitas
são, portanto, as aplicações válidas da telepresença. Entre elas, não há
dúvida, estão as atividades pedagógicas, ora em discussão.
A tecnologia da informação Jurídica
Hugo Cesar Hoeschl, Dr (org)

Referências:

http://www.stj.gov.br

http://www.senado.gov.br

http://www.brasil.gov.br

http://www.planalto.gov.br

http://www.mct.gov.br
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Hugo Cesar Hoeschl, Dr (org)

E-governo
Walter Felix Cardoso Júnior

Na sociedade cibernética que se instala, não é mais o grande que engole o


pequeno. Agora é o veloz que devora o lerdo, e isso vale para as pessoas,
empresas, governos, nações e sistemas.

Mário Henrique Simonsen

O governo está chegando tarde à WEB, embora ela tenha sido criada por sua
inspiração, nos Estados Unidos da América, há cerca de dez anos. Mas,
apesar do atraso, a pressão para recuperar o tempo perdido é muito forte,
pois existe um papel insubstituível a ser exercido pelo governo na internet.

A lógica principal que domina a criação do governo on line, ou e-governo, é


bem simples: se é possível fazer generalizadamente comércio na internet,
certamente é possível exercer ações de governo lá de dentro da WEB.

O governo digital, como está sendo chamado, é um conceito que vem criando
cultura tanto no poder público como na cabeça das populações. Embora a
internet e suas aplicações governamentais possam ser analisadas sob a
égide de uma abordagem incremental, voltada para a melhoria de serviços ou
de relacionamentos, trata-se de ferramental que pode ser conjugado às
melhores práticas de administração, lançando perspectivas inovadoras sobre
a forma de organizar e de gerir a coisa pública.
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Hugo Cesar Hoeschl, Dr (org)

Sabe-se de antemão que essa grande aspiração de modernidade só dará


certo mesmo se o acesso dos cidadãos ao governo on line for
comprovadamente fácil, barato, descomplicado e seguro. Segurança, neste
caso, implica em manter os hackers afastados, impedindo o
congestionamento dos sites e evitando o vazamento dos dados pessoais dos
usuários.

Outro aspecto que deve ser considerado para o desenvolvimento do e-


governo é o estágio de evolução já alcançado pelos diversos grupos sociais
dentro do País. Enquanto encontramos comunidades altamente evoluídas,
em termos de tecnologia e conhecimento, subsistem aquelas parcelas da
sociedade que permanecem intelectual e materialmente atrasadas, sem falar
naqueles tantos quantos seres humanos que ainda se encontram na idade da
pedra, literalmente.

Contudo, o que há dez anos era considerado totalmente impossível, agora a


emergente TI - Tecnologia da Informação - tornou exeqüível. Como fazer para
licenciar pela internet um novo negócio, efetivar a venda de um imóvel, ou
mesmo registrar uma criança recém nascida, um óbito, um casamento? O
quanto fazer tudo isso pela internet não mudaria a própria imagem tão
desgastada do setor público?

Uma das principais causas da propalada ineficiência do governo é a


burocracia - administração dos bens públicos por funcionário sujeito a
hierarquia complexa e regulamento rígido, e a uma rotina inflexível, o que
ocasiona morosidade, ineficiência e complicações no desempenho do serviço
administrativo.

Mas há outros problemas a serem equacionados. Com repartições


historicamente organizadas verticalmente, torna-se difícil obter a colaboração
entre os próprios órgãos governamentais envolvidos em qualquer tipo de
empreendimento. Exemplo disso, são as polícias brasileiras (Federal, Civil e
Militar) que praticamente trabalham de costas umas para as outras, enquanto
a criminalidade cresce perigosamente. Neste caso, infelizmente, o que tem
sido observado até aqui é que mesmo quando existe uma sincera vontade
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Hugo Cesar Hoeschl, Dr (org)

política para reduzir o desencontro na segurança pública, misteriosas forças


internas conspiram para que tudo continue confuso e ineficaz como sempre
foi.

A WEB pode ajudar muito no equacionamento desses problemas. Nesse


sentido, ela facilita e acelera os processos de mudança. As possibilidades de
aplicação da TI na administração pública abrangem um amplo leque de
atividades que pode modernizar as estruturas existentes ou o processo de
gestão.

A diversidade de usos que podem ser facultados pela informática


compreende as dimensões da: coleta de informações; fornecimento de
informação; prestação de serviços; interação; e transações.

Dentre as vantagens que podem ser auferidas para a organização


governamental estão a agilidade, o baixo custo operacional e a redução de
intermediação. Por outro lado, para o cidadão, o e-governo poderá propiciar
ganhos em comodidade, economia de tempo, redução de burocracia e
transparência. Além disso, deve ser enfatizado o potencial de aplicação da
informática no desenvolvimento de projetos em nível local, na criação de
mecanismos de consulta ao cidadão e de revigoramento do processo
governamental, por meio da expansão das instâncias de discussão e acesso
à informação, proporcionadas pelo próprio governo.

Na terra dos idealizadores da WEB a infra-estrutura já está mais evoluída.


Uma pesquisa realizada entre os norte-americanos, apresentada pelo NIC -
órgão provedor de soluções eletrônicas para o governo, revela que os
serviços eletrônicos oferecidos pelo governo já conquistaram 65% dos
internautas adultos. Entre os serviços mais procurados estão aqueles que
permitem a emissão de carteira de motorista e votar nas principais eleições.
Outras experiências avançadas e bem sucedidas com e-governo também
estão sendo realizadas em Cingapura, na Austrália e no no Reino Unido.

No Brasil, em que pese a nossa histórica defasagem tecnológica, podemos


registrar expressivos avanços cibernéticos no setor público, o que evidencia a
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Hugo Cesar Hoeschl, Dr (org)

existência de um processo em curso de assimilação renovadora da


informática, conjugada a iniciativas de modernização institucional e de
melhoria do atendimento ao cidadão.

Algumas evidências ilustrativas dos avanços já realizados caracterizam que o


site da Rede Governo, que dá acesso instantâneo a informações e serviços
em todas as áreas da administração federal, está sendo plenamente bem
sucedido. As visitas mensais que recebe são da ordem de 40 mil. O
"Comprasnet", que divulga editais de compras governamentais e auxilia os
fornecedores do governo a participar das licitações, recebe cerca de 30 mil
acessos por mês. O site do Programa Avança Brasil, que apresenta os 365
programas que compõem o Plano Plurianual 2000-2003, já recebeu 80 mil
visitas desde o seu lançamento.

Pesquisas recentes revelam que, de uma maneira geral, a busca de


informações junto a órgãos públicos é uma das 4 maiores motivações de
utilização da internet pelos seus usuários. A expansão e a sofisticação
crescente dos serviços oferecidos ao público já avança em direção ao "e-
service concept", com a supressão da tramitação de papéis e a plena
resolutividade dos processos em meio eletrônico. Estes avanços, todavia, não
deixam de contrastar com as ainda persistentes limitações de acesso da
maioria da população aos serviços de telefonia e equipamentos de
informática.

O projeto "E-Receita", da Receita Federal, conta com expressivos resultados


na oferta de serviços por meio da internet: vejam o que ocorreu este ano,
quando as pessoas físicas entregaram cerca de 10 milhões de declarações
de Imposto de Renda, via internet. A certificação digital e o pagamento de
tributos por meio de débito em conta são projetos em fase de implantação.

Quanto à Previdência Social, por sua vez, vem ocorrendo uma experiência
assombrosa, em vista das grandezas envolvidas, representando a maior folha
de pagamentos do país, com 18 milhões de beneficiários, além de
recolhimentos mensais de 3 milhões de empresas e 5 milhões de
contribuintes individuais. O Dataprev, juntamente com o Ministério da
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Hugo Cesar Hoeschl, Dr (org)

Previdência Social - MPS e o INSS vem atuando de forma integrada na


divulgação de informações e oferta de serviços ao público, desde 1996. A
experiência teve início com a disponibilização na internet de estatísticas da
Previdência Social e da recepção eletrônica de mensagens e de serviço de
atendimento. Os serviços evoluíram com a introdução de grande volume de
informações e noticiário, culminando na oferta de serviços diretamente aos
segurados e contribuintes. Estes serviços atualmente abrangem um amplo
leque, com elevada carga de visitas diárias, dentre os quais se destacam: o
cálculo de contribuições em atraso (2.300 acessos); o recebimento de
pedidos de CND (7.900 acessos); o fornecimento de histórico de benefícios
(1.500 acessos) e o acompanhamento de processos de concessão de
benefícios (1.300 acessos). A introdução de serviços de auto-atendimento e a
unificação de serviços e informações no Portal da Previdência Social, são as
novas linhas de trabalho em desenvolvimento. O auto-atendimento está
sendo implantado por meio do chamado "Prev-Fácil", que é um quiosque de
atendimento. O Portal deverá integrar todas as informações num site único.

i. A área de Saúde é outro segmento no qual a oferta de informações de


natureza educativa ao grande público é fundamental. A disseminação de
dados dessa área teve início com a Fiocruz e as páginas na internet sobre a
AIDS. A expansão dos serviços se deu com o progressivo envolvimento de
todas as áreas do MS e da Fundação Nacional de Saúde - FNS e a
incorporação das bases de dados do Ministério, que contém informações
sobre serviços hospitalares e dados demográficos. Atualmente, esta
experiência é percebida como em plena maturidade, adotando a internet
como meio natural de relacionamento com a sociedade. Os serviços hoje
oferecidos em 8 sites na área de saúde, não computados os inúmeros sites
estaduais e municipais, contemplam as áreas de vigilância sanitária, saúde
suplementar, epidemiologia, informações em saúde, além da legislação e dos
projetos do Ministério.

No que tange aos Correios, a sua trajetória se situa de forma original entre
dois extremos: de um lado, a entrada da empresa na área de prestação de
serviços "on line", por meio de seu site na internet, e de outro, a preocupação
de atender às necessidades de sua vasta clientela popular, que não dispõe
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Hugo Cesar Hoeschl, Dr (org)

de meios para aquisição de equipamentos de informática. A solução


encontrada tem sido a conjugação de tecnologias tradicionais e de ponta num
mesmo serviço. Com essa finalidade, os Correios introduziram os serviços de
Telegrama e Carta via internet. Visando o público empresarial, foi criado
ainda o Sedex "on line". Como evidências do potencial desta nova frente de
expansão, o volume de vendas de serviços pela internet já se coloca entre as
100 maiores agências, sendo que o crescimento dos produtos de internet,
como a Carta, foi da ordem de 327%, e o Telegrama, de 675%, em 1999.

O Serpro, prestador de serviços de informática do Governo Federal, tem


procurado desbravar novas possibilidades de aplicação do conceito de "e-
service" em parceria com seus clientes, representados por órgãos e entidades
da administração pública. A atuação do Serpro está na base de diversas
iniciativas importantes da administração federal que têm explorado este
caminho, como o SIAPEnet, mantido pelo Ministério do Planejamento, que
oferece informações e serviços relacionados com a folha de pagamentos dos
servidores federais, registrando cerca de 169 mil acessos por mês. Outros
serviços representativos deste esforço são o Comprasnet, na área de
licitações, também mantido pelo MP e direcionado principalmente para os
fornecedores governamentais. Com a Receita Federal, o Serpro mantém o
Receitanet e o site da Receita, pioneiros e líderes no volume de acessos e
público alcançado, como já mencionado.

Há ainda outros setores governamentais que não podem deixar de ser


citados, como alguns órgãos de direção das Forças Armadas, que usam
regularmente a videoconferência para coordenar ações operacionais. Mas há
também as ligações on line que funcionam plenamente na gestão
orçamentária e financeira de qualquer órgão público. O SIAFI, o SIAPPES, o
CABIN (Cadastro de Inadimplentes) e outros. O Banco Central e o Ministério
do Planejamento estão completamente informatizados. Além disso, o governo
tornou-se signatário do Sistema OTAN de Catalogação e vem

cadastrando em massa os fornecedores e produtos nacionais. Muitos


sistemas corporativos vêm sendo implantados nos diversos ministérios. O
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Hugo Cesar Hoeschl, Dr (org)

RENAVAM é um exemplo, assim como o Cadastro Nacional de Segurança


Pública (INFOSEG), que já contém mais de 400.000 prontuários.

No campo das parcerias entre governo e setor empresarial, o Brasil apresenta


simultaneamente elementos extremados de avanço e de atraso, quando se
trata de avaliar o desenvolvimento do setor de informática e especificamente
da internet. São impressionantes, por exemplo, os indicadores relativos ao
porte do setor de telecomunicações no país, que responde por uma geração
de valor da ordem de US$ 45,8 bilhões, maior do que o PIB de muitos países.
Além disso, o Brasil tem avançado rapidamente no ranking mundial: o n.º de
"hosts" na internet cresceu de 215.086 em janeiro de 1999 para 446.444 um
ano depois, em janeiro de 2000. Com tal intensidade de crescimento, o país
evoluiu da 17ª para a 13ª posição neste curto período. Mas, persistem limites
e obstáculos. Considerou-se significativa barreira à expansão do setor a
dificuldade de acesso à telefonia, apesar do país contar com números não-
desprezíveis de 35 milhões de linhas telefônicas, das quais 24,5 milhões fixas
e 10,2 milhões celulares, com expressivo crescimento a partir da privatização.

Um indicador que vem suscitando grande interesse no setor privado é o fato


de o acesso à internet estar ainda restrito a percentuais entre 3% e 5% da
população, equivalente a um contingente de internautas da ordem de 5
milhões, bastante reduzido face aos 160 milhões de brasileiros. Entretanto,
estes cálculos carecem de um suporte metodológico que seja universalmente
aceito, inclusive pelo mercado. O provedor UOL, por exemplo, trabalha com
estimativas mais otimistas, da ordem de 8 milhões de usuários, supondo a
existência em média de 3 usuários por residência provida de computador.
Ainda assim, persistem dúvidas, porque a dupla contagem e o uso simultâneo
no trabalho e na residência, complicam este cálculo. Sob outros ângulos, os
dados podem ser surpreendentes, como o relativo ao registro de 35 milhões
de páginas acessadas por dia, no UOL, ou ao crescimento no número de
domínios na internet, da ordem de 1.250 por dia. Assim, estabelecer esta
metodologia deverá ser uma tarefa necessária ao amadurecimento deste
segmento no mercado.
A tecnologia da informação Jurídica
Hugo Cesar Hoeschl, Dr (org)

Para finalizar, podemos enfatizar a coragem e a determinação do governo


brasileiro em realizar as próximas eleições de forma totalmente informatizada
(votação e apuração), enquanto que, nos EUA, apesar de sua confortável
situação econômica e tecnológica, o processo ainda não foi plenamente
incorporado. Assim, entendemos que o governo está caminhando rápido
numa direção bastante promissora: a de uma tecnologia barata, agregadora,
simples de usar e efetiva do ponto de vista da gestão. Não parece haver
motivos para mudar de direção.
A tecnologia da informação Jurídica
Hugo Cesar Hoeschl, Dr (org)

GOVERNO ON LINE COMO PRESSUPOSTO DO


EXERCÍCIO DA CIDADANIA

FÁBIO ANDRÉ CHEDID SILVESTRE

1. INTRODUÇÃO

Dentro do quadro perspectivo do estudo formulado, no


módulo de Tecnologia da Informação Jurídica, julgamos valioso o tema do
Governo On Line ou Virtual como esteio técnico-constitucional capacitador de
uma efetiva qualificação das relações entre os Estado e o cidadão, tudo sob
perfil da democracia.

Num país de dimensões continentais, como o Brasil,


possuidor de enorme diversidade social, o encargo de construção de um
Estado Democrático, Republicano e Federativo, onde o equilíbrio sistêmico se
dá pela representação popular, pelo voto ou mesmo diretamente, a dimensão
da governabilidade se faz patente.

Tomar o controle do curso de um Estado, bem qualificando


as suas funções, circunscrevendo seus limites e fiscalizando sua
executabilidade, já não é tarefa simples na atualidade. A variedade das
demandas populares, acrescidas da manipulação dos poderes decisórios por
elites auto sustentadas no atrelamento histórico à máquina pública fazem
parecer relativa e insuficiente a figura estatal.
A tecnologia da informação Jurídica
Hugo Cesar Hoeschl, Dr (org)

Então quando os mecanismos tradicionais de inteligência


humana, aplicados à conformação do Estado-governo (incluam-se aqui os
três poderes estatais), a ética e a lei, já não são suficientes para o
atendimento efetivo das demandas públicas, faz-se mister a busca de
soluções em outros campos do saber. Notadamente aqueles onde a
aplicação de técnicas menos sujeitas a processos decisórios humanizáveis (
a vontade moral do governante ou a jurisdicionalidade aplicada) podem criar
um campo mais preciso e imediato de qualificação do indivíduo ou grupo
social voltado à uma interveniente e controladora participação na gestão da
"res pública", estamos a falar das novas técnologias da informação.

A relevância do tema se torna evidente na medida em que


o executivo federal, notadamente o Presidente da República e a Secretaria de
Comunicação Social (Secom), abriram debate e convidaram a sociedade para
a constituição de um grande portal do governo, onde as suas estruturas
funcionais, os procedimentos a elas afetos e a maior publicidade dos atos
administrativos serão a tônica.

Entretanto, há que se ter em conta que a adoção de


tecnologias de informação não representam apenas mais um serviço à
disposição da comunidade. É que estas novas possibilidades tecnológicas
não estão no mesmo espaço ou universo das tradicionais atividades do
Estado. E pelo que se lê (vide entrevista do Secretário da Secom, no site da
revista Meio e Mensagem de 21/01/2000) o próprio governo ainda pensa
neste processo como um inevitável comportamento geral, porém
declaradamente não conhece os limites, extensão e profundidade das
possibilidades.

O presente estudo busca demonstrar que a adoção de um


certo sistema tecnológico pode vir a se constituir numa profunda mudança
nas relações de poder entre o Estado e seus súditos, ultrapassando
efetivamente as tímidas expectativas da tecnocracia federal e depois poderá
vir a estender-se, também, para as outras esferas de governo, estadual e
municipal. Numa avaliação superficial, as tecnologias da
informação representam a possibilidade de um serviço padronizado e
A tecnologia da informação Jurídica
Hugo Cesar Hoeschl, Dr (org)

simplificado, como já se vê na declaração imposto de renda on line, na


expedição de certidões on line e até nos sites do governo onde este
apresenta seus serventuários, suas atribuições e as normas legais afetas à
operacionalidade do orgão. Só que isto é muito pouco e incipiente, não
contém dinâmica participativa.

Uma das condições históricas de continuidade soberana


dos Estados é a sua conformação aos processos tecnológicos disponíveis às
comunidades, pois que os que detiverem mais conhecimento tenderão, como
já é, a dominarem as posições de vanguarda e participação nos cenários
internacionais.

A tese proposta visa, noentanto, demonstrar que a


aplicação das tecnologias da informação poderão estabelecer novos
paradigmas no relacionamento do cidadão com o Estado, mesmo porque este
efeito já é sentido nas comunidades privadas que se apropriaram das
ferramentas de informação e comunicação, notadamente a WordWideWeb,
trafegando pela Internet.

Duas, parecem ser, as qualidades fundamentais destas


novas técnologias, a uma é que a Internet é uma linguagem em sí mesma, e
a duas é que o universo onde as informações trafegarão, o Ciberespaço, não
está sujeito a uma burocratização material como a conhecemos.

Ao convite do executivo federal, deverão atender


prioritariamente as universidades e centros de pesquisas eminentemente
brasileiros, detentores do material científico-humano necessário ao
desenvolvimento sócio-tecnológico mais apropriado destes sistemas de
informação, sobretudo em contraponto à tendência destas administrações
"neo-libertinas" em franquear acesso sem qualquer pudor às áreas mais
importantes e estratégicas do Estado ao amplo convívio de multinacionais e
governos estrangeiros, sem qualquer interesse real na solução das demandas
do Estado e afrontando continuamente a soberania nacional ainda restante.
A tecnologia da informação Jurídica
Hugo Cesar Hoeschl, Dr (org)

O que parece de curial importância é que a tomada de


postura visando uma maior tecnologização das relações informativas entre o
Estado e o indivíduo não pode adotar a conformação predatória das recentes
e ainda não cicatrizadas privatizações dos ativos estatais brasileiros. Esta
experiência, ainda viva, demonstra claramente que a adoção de modelos
imediatistas e incalculados de gestão da coisa pública, mesmo calcados nas
legalidades de ocasião, não lhes confere a legitimidade plasmada na ordem
constitucional. Por estar feito, submetemo-nos, mas não carece de repetição.

O que urge, daí o tema, é que a magnitude da


possibilidade de controle do Estado pelo cidadão através das tecnologias da
informação, pode vir a ser relegado apenas a uma simples licitação e outros
remendos, e o conteúdo da informação de governo continuará a ser aquele
vazio colorido, maquiado por publicitários, não atingindo, como não atinge a
nenhum objetivo sistêmico informativo, servindo apenas à manipulação e
relativização dos dados gerenciais do Estado.

O desconhecimento geral das atividades que "acontecem


no palácio", por parte dos súditos, e a impossibilidade de acompanhar em
tempo real o movimento da governança, aliados a um ausente debate público
sobre o que, como e o quanto cumpre-se da Constituição Federal em cada
ato administrativo, político ou não, acaba por produzir um emaranhado de
decisões incontroláveis.

Se todos os cidadão capacitados não conseguem de forma


imediata saber de tudo o quanto se passa nas administrações, as verbas
públicas e suas destinações, quem as liberou, se foram efetivamente usadas
e procederam das rubricas legais; se há controle do desperdício, com amplo
conhecimento público de onde, quanto e como poderão serem utilizados os
alimentos ensilados, os remédios estocados, as ferrovias desmontadas, e são
apenas exemplos.

É que já não se trata mais de uma luta pelo poder de


exercer o poder, para rentabilizar os próprios interesses e ocupar um
privilégio no "wellfare state". Este Estado-refugo da nova fase do processo
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Hugo Cesar Hoeschl, Dr (org)

industrial (pós-industrial!), como relata GIDDENS, comporta novas demandas,


porquanto "na sociedade industrial as lutas de classes estão centradas na
apropriação de recompensas econômicas, na sociedade pós-industrial elas
referem-se aos efeitos alienativos da subordinação às decisões
tecnocráticas".(grifamos)

A apropriação das linguagens tecnocráticas pelos sistemas


legais e complexa executabilidade procedimental do aparato de gestão
pública, cria o falacioso discurso do campo de dominação exclusiva, onde
reina o tecnocrata. Daí que o "tipo principal de oposição ao controle
tecnocrático enfatizará a 'participação' na tomada de decisões, e assumirá
com frequência uma forma cultural ou, como colocam ROSNAK e outros,
'contracultural'".(grifamos)

Modernamente não há ação sócio-política mais inteligente,


informada e principalmente contracultural do que as novas técnologias da
informação, a Internet e seus desdobramentos.

2. ESPAÇOS PARA O DESENVOLVIMENTO DA DEMOCRACIA


CONSTITUCIONAL

A democracia não é, ainda, democrática.

O aparato público como instituição, posto à disposição das comunidades,


calcado numa imensa malha legislativa e tocado por membros eleitos do
povo, sob os olhos de uma ordem constitucional, não bastam para a
efetivação de uma verdadeira democracia constitucional.

Segundo CASTORIADIS, a instituição "é uma rede simbólica, socialmente


sancionada, onde se combinam em proporções e em relações variáveis um
componente funcional e um componente imaginário".

E na feliz interpretação de COELHO, a "alienação justamente se caracteriza


pela dominância do momento imaginário na instituição, o qual se torna
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autônomo e, assim, propicia a autonomização e a dominância da instituição


relativamente à sociedade".

Daí a crise na democracia. Quem domina a instituição domina a sociedade.

É que a superestrutura burocrática criada para a legitimação dos interesses


dos grupos dominantes, o Estado, afastando-se da funcionalidade
constitucional, sua "ratio essendi", passa a ser permeada pelo elemento
imaginário, que à tentativa de justificar os discursos de certas categorias
sociais, grupos ou classes, em face de outras, encabresta a máquina pelo
elemento ideológico.

A alienação, nesta esfera de relacionamento social, no Estado, implica na


impossibilitação dos demais grupos ou classes, de se fazerem representar
efetivamente, ou mais apropriadamente, intervirem diretamente na
governabilidade para além dos interesses de tais ou quais grupos.

Então, escorando-se em BOBBIO, a evolução da democracia política para a


democracia social se dará menos pela determinação de quem vota mas
principalmente onde se vota. Por isto "quando se quer saber se houve um
desenvolvimento da democracia num dado país o certo é procurar perceber
se aumentou não o número dos que têm direito de participar nas decisões
que lhes dizem respeito, mas os espaços nos quais podem exercer este
direito."(grifamos)

A dominação ideológica do Estado burocrático cria um labirinto


propositalmente preparado para dissuadir a entrada de não iniciados ou
dificultar a percepção dos que se aventuram em contrapor-se à sua ordem.
Por obvio, a grande massa votante, mesmo supondo um livre exercício de
direito, não consegue suplantar o momento do imaginário, pois que não tendo
pleno acesso às informações gerenciais aplicadas à gestão da coisa pública
tornam-se alienadas.

Então o que se apresenta mais emergencial é a instrumentalização de


mecanismos objetivos que representem um agigantamento real na
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Hugo Cesar Hoeschl, Dr (org)

possibilidade de participação dos indivíduos e grupos, um verdadeiro espaço


para o exercício da cidadania.

O Ciberespaço.

3. O CIBERESPAÇO

O objetivo do tema não busca a discriminação de proposições técnicas


específicas, mas a apropriação constitucional das tecnologias de informação
existentes, com o objetivo de imprimir efetividade aos princípios e normas do
contrato social elementar.

Imersos num mundo de comunicações, a difusão indiscriminada de toda sorte


de informações, vagando solta e liberada pelos cabos, canais e variadas
ondas de freqüência, tem, desde o início deste século, provocado a
sensibilidade do homem. Em decorrência, difundiu-se a crítica inevitável pela
multi-pulverização dos mais amplos e diversos conceitos, deteriorando o
sistema de valores sobre o qual repousava o consenso, e com isto tem-se
quebrado os estereótipos implantados pelo ensino tradicional da história,
filosofia, matemática , literatura, religiões e etc.

Daí, as comunicações abrirem espaço para transformações radicais nas


estruturas mentais e políticas, já que sociedades inteiras se comunicam
através do que Marshall Macluhan, citado por Macel Merle chamou de
"gesticulação microscópica", e que não é o discurso como o conhecemos.
Considerada em sua onipresença universal, as comunicações representam a
base da primeira sociedade planetária.(grifamos)

A terminologia de Macluhan induz ao universo do ciberespaço, que na visão


de HOESCHL "trata-se de um ambiente gerado eletronicamente, formado
pelo homem, as máquinas, a informática e as telecomunicações, onde é
possível a prática de atos de vontade, dotado de limites diversos dos
tradicionais, norteado e dimensionado fisicamente por comprimentos de onda
e freqüências, ao invés de pesos e medidas materiais, e não constituído por
átomos, mas por correntes energéticas".
A tecnologia da informação Jurídica
Hugo Cesar Hoeschl, Dr (org)

O que parece bastante relevante é que a percepção desta "nova dimensão"


do existir consciente do homem, não foi idealizado para assim manifestar-se,
visionaria e pré-elaboradamente, o ciberespaço tornou-se, antes e de fato,
uma realidade viável.

Desta maneira, toda a orbita capitalista já planeja e executa suas tarefas,


desde as mais elementares até outras de repercução global, dentro da
geografia ciberespacial, com alto grau de efetividade, embora com certa
inconsequencia.

Então, não parece absurdo exigir-se dos Estados, vestidos


com a carapaça das atitudes capitalistas, que se ocupem da implantação de
mecanismos tecnológicos capazes de lhes atribuir a mesma dinâmica de
existência bidimensional, material e ciberespacial.

É que no ciberespaço, a tendência à manipulação dolosa


de informações terá que vencer, em tempo real, a vigilância fiscalizatória de
uma miríade de sujeitos, capacitados pela diversidade e em locais mui
distintos, dioturnamente. Então o dolo da corrupção e a indolência do
desperdício não terão como se reacomodar placidamente, logo deixarão de
serem sistêmicos.

Parece mesmo uma situação de embate político, pois é


neste ponto que se verificará quais grupos sociais tenderão à exigirem existir
de modos mais secretos, obtusos, obscuros, não participativos, impondo a
alienação aos demais grupos interessados. Esta perspectiva é encontrada em
LÉVY, quando afirma que "a defesa de poderes executivos, das rigidezes
institucionais, a inércia das mentalidades e das culturas podem
evidentemente levar a utilizações sociais das novas tecnologias muito menos
positivas, conforme critérios humanistas".

Deste momento do tema, onde os interesses sociais


devem ser sopesados, o debate torna-se constitucional.
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Hugo Cesar Hoeschl, Dr (org)

4. PERSPECTIVA CONSTITUCIONAL

O espaço reservado para o tema, dentro do escopo


constitucional é absoluto, sobretudo como foi proposto, no sentido de
demonstrar que as informações públicas pertinentes à gestão de um Estado
democrático respeitarão, necessariamente, a qualidade participativa de sua
finalidade.

Estabelecendo primazia teleológica, o Preâmbulo


Constitucional deixa claro que se está diante da instituição de um Estado
Democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos que menciona.

E fazendo leitura fria do artigo 1º. e parágrafo, da Carta


Política brasileira, poderíamos dessumir o seguinte:

A República Federativa do Brasil, constitui-se em Estado Democrático de


Direito e tem como fundamentos a soberania, cidadania e a dignidade da
pessoa humana, pois que todo o poder emana do povo que o exerce
diretamente.

Seguindo a construção Constitucional, o art. 5º. em seu inciso XXXIII, diz:

todos tem direito a receber dos orgãos públicos informações de seu interesse
particular, ou de interesse coletivo ou geral, que serão prestadas no prazo da
lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja
imprescindível à segurança da sociedade e do Estado;

Vale ressaltar que a finalidade informativa do Estado é de


tal grau de imponibilidade, que a lei não poderá limitar senão prazo, o agente
público não poderá negá-la, sob pena de sanção. O que se ressalva é a
segurança nacional, coisa de contornos relativos.

Com isto habilita-se a sociedade como um todo a exercer o


direito constante do artigo 5º. LXXIII, assim:
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Hugo Cesar Hoeschl, Dr (org)

Qualquer cidadão é parte legítima para propor ação popular que vise a anular
ato lesivo ao patrimônio público, ou entidade de que o Estado Participe, à
moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e
cultural.

O que se quer dizer com isto é que todos os cidadão


devidamente informados sobre todas as coisas do Estado, poderão fazer uso
legítimo das prerrogativas constitucionais reativas.

Como a Carta Magna é proposta em dimensão ao todo,


não se deve menosprezar a potencialidade dos princípios gerais, supondo
serem materialmente inatingíveis, porquanto, algumas vezes intangíveis.

O que se propõe, é que o princípio da moralidade


administrativa, agregado ao caráter informativo de uma democracia seja
evidentemente clarificadores das condições reais em que convivem, em certo
momento histórico, uma sociedade organizada.

E pelo que se dessume, tudo o quanto possa ser realizado


para o atingimento dos objetivos constitucionais, inclusive a aplicação das
tecnologias da informação mais pujantes, deverão assim ser procedidos, pois
se há uma forma melhor de fazer realizar-se o Estado, é a esta que devem
submeter-se os governantes.

Tudo o mais é discurso setorial de grupos.

5. CONCLUSÃO

O estado de calamidade por que passam as relações


sociais no Brasil indicam um desequilíbrio sistêmico na participação dos
grupos e classes. É bem conhecida a desigualdade implantada por
segmentos ou grupos que insistem na elitização do poder, pelo cerceamento
do saber.
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Hugo Cesar Hoeschl, Dr (org)

As atrocidades cometidas com a população mais pobre e


mesmo com a classe média produtiva, desprestigiam a continuidade do
contrato social, como se encontra.

Os desmandos das elites políticas, calcados não só na


prática profissional da corrupção, fazendo nascer a figura do "governo
paralelo" de BOBBIO, através da intervenção dos "arcana imperii", os agentes
do poder invisível, só não são piores do que sua própria incapacidade
governativo-gerencial, embora tudo nasça da mesma derrota da ética pela
vitória da estética, patrocinada pelo capitalismo.

Pensamos objetivamente na implantação de um Portal do


Estado, para todas as suas esferas, e que possa, mais do que vigiar a "mão
trêmula" do escroque, diante da verba pública indefesa, também controlar o
desperdício, o desvio de finalidade das decisões, antecipar debates públicos
sobre grandes questões nacionais, trazer mecanismos plebiscitários para
questões que afetem a sociedade com um todo. Em fim apresentar de uma
vez por todas, e com toda a parafernalha interativa, que torna o saber mais
elementar, qual a verdadeira dimensão do Estado que habitamos. Tudo em
tempo real e calcado em lei que imponha sanção ao administrador omisso,
que deixe de apresentar seus relatórios para toda a comunidade, em fim fazer
ver a moralidade administrativa pelo controle tecnologico dos agentes
públicos.

Se é caso de fazer prova do desmando, sob pena de


impunidade, melhor não deixar para terceiros, de outros grupos sociais, aquilo
que em verdade cabe a cada qual, participativamente fiscalizar e exercer o
poder da cidadania.

a. BIBLIOGRAFIA

* Antony Giddens. A Estrutura Social das Sociedades Avançadas. Zahar


Editores.1975

* Luis Fernando Coelho, em Teoría Critica do Direito, Editora Livros HDV,


Curitiba, 1987
A tecnologia da informação Jurídica
Hugo Cesar Hoeschl, Dr (org)

* Norberto Bobbio. O Futuro da Democracia,- Uma Defesa das Regras do


Jogo. Editora Paz e Terra .São Paulo. 1987.. 3º. Ed.

* Marcel Merle, Sociologia das Relações Internacionais, Brasília, Editora


Universidade de Brasília, Coleção Pensamento Político, vol. 25, 1987, p. 138.

* Hugo Cesar Hoeschl. O Ciberespaço e o Direito. No endereço da Internet -


digesto.net/ijuris - 25.06.96

* Alvim Toffler. Previsões e Premissas. Ed. Record.1983.


A tecnologia da informação Jurídica
Hugo Cesar Hoeschl, Dr (org)

Do desrespeito à autoridade constituída à


desobediência civil com vilipêndio às instituições

*Antonio Carlos Facioli Chedid

Recentes agressões verbais produzidas em nível político entre as autoridades


constituídas legítima e democraticamente, num primeiro momento, parece
que inflamaram a má-imprensa nacional e geraram na internacional
declarações desprestigiosas em relação à seriedade e educação sócio-
política de nossas autoridades.

Declarações graciosas em desfavor da moral e da dignidade das instituições


e das autoridades que as representam produziram manchetes extraordinárias
em jornais de circulação nacional e nos telejornais mais importantes,
notadamente quando dirigidas contra o Judiciário e nascidas da Presidência
do Senado Federal. Saímos assim à procura insana dos honestos e dignos,
pois apenas os agressores se arvoram em sê-lo.

Todos os dias, durante longo e infeliz período, acordávamos com


declarações, no mais das vezes panfletárias e graciosas, e acusações de
parlamentares contra magistrados, ministros, outros parlamentares e até
contra as autoridades máximas da Nação, como o Presidente da República,
da Câmara dos Deputados e, pasmem (!) pela ousadia e ineditismo, da
Suprema Corte Brasileira, ante a ausência de autoridade de plantão para ser
atacada publicamente ou à falta de outras do Executivo e do Legislativo.
Parece que vivemos em uma época em que as coisas desnecessárias são as
nossas únicas necessidades (Oscar Wilde).
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Hugo Cesar Hoeschl, Dr (org)

Ameaças e constrangimentos de toda ordem resultaram nas CPIs para apurar


o já ressabido e conhecido, com o escopo de obter publicidade e a adorável
paternidade, de filho incestuoso e extrapolamento de poder com decretação
de prisões ilegais (S.T.F. - MS-23.452-RJ- Rel. Min. Celso Mello – Informativo
162). Rolaram as CPIs como a bola no gramado, a ponta-pés, chutes,
sensacionalismo, porém sem o espírito esportivo e a fé na certeza de que a
vitória seria comemorada com a lisura de quem tem o melhor domínio e
conhecimento da arte e joga com o objetivo de elevar o nome, a dignidade, a
moralidade e o bem-estar comum da instituição a que serve e da coletividade
(o clube e a torcida).

As disputas entre as torcidas talvez decorram da falta de formação técnica e


moral e indisciplina esportiva, com desrespeito às instituições, às autoridades
e à população (time, jogadores e a própria torcida civilizada).

A agressividade nasceu, sem dúvida, da indisciplina, do afastamento dos


objetivos coletivos, da primazia dos interesses particulares e pessoais, da
arrogância e da vaidade eleitoreira, mas, fundamentalmente, do exemplo
negativo gerado pelas autoridades que tinham o dever de demonstrar
civilidade, cidadania, tranquilidade, bom-senso e equilíbrio público.

As agressões produzidas pelo MST, grevistas, grupos organizados e pela


população em geral contra as autoridades públicas, com vaias ao Presidente
da República (autoridade legítima e máxima de uma Nação democrática), e
tentativa de agressão ao Prefeito da maior cidade brasileira e ao Governador
do Estado de São Paulo, entre outras, são fruto do desrespeito e da
irreverência produzidos num primeiro momento, isolado, e ao depois por
outras autoridades constituídas, em especial, contra as instituições
democráticas e garantidas pela Constituição vigente.

Assim é que, hoje, a população nem sequer tem o respeito então devotado ao
Poder Judiciário, que se manteve historicamente sempre eqüidistante das
disputas políticas – até por força legal e constitucional - e é o único Poder em
que o povo, segundo as pesquisas e apesar de tudo, ainda crê (88% da
população acredita nos juízes – Diário Catarinense de 23.01.2000).
A tecnologia da informação Jurídica
Hugo Cesar Hoeschl, Dr (org)

Os ataques contra o Judiciário como um todo, produzidos durante as CPIs,


em face da constatação pública da prática de atos de improbidade por
magistrados, todos de longa data respondendo ao devido processo legal e
judicial, serviram apenas aos interesses daqueles que, somente com o
enfraquecimento da Justiça, poderão atingir seus desejos e desviar a
atenção, reconheço, inteligentemente para o mal, da sociedade.

O produto social foi e é o exemplo de irreverência, incúria, desídia,


desrespeito, indisciplina, falta de civilidade, permitindo que se acolha a
democracia com o estado de irresponsabilidade, disputa ignóbil de poder, e
que a insatisfação em qualquer nível de vontade ou interesse, ante a
ausência de necessidade de cumprir as normas de conduta social, como
ensinam as autoridades que não acreditam nas instituições a que deveriam
servir, leva iniludivelmente o povo insatisfeito ao desforço físico, à agressão
moral, ao desrespeito mútuo, enfim, a toda ordem de agressividade reprimida.

Apesar da produção industrializada de leis e da reforma constitucional feroz


contra um dos pilares de sustentação da democracia, com o escopo de
amordaçar os juízes, retirando da sociedade a garantia de julgamento
imparcial, com a permissão de demissão administrativa, criação de um código
criminal da magistratura, súmulas que tornaram as decisões cristalizadas pelo
ápice, certamente ainda os juízes não foram agredidos pela sociedade.
Contudo, o Judiciário está sendo agredido, como instituição, em desfavor
direto dos interesses maiores mesma da sociedade. Na verdade, o Judiciário
é o mero e fiel representante da sociedade na difícil missão de manter a
harmonia social, mediante a distribuição da justiça e a preservação dos
valores maiores do homem: o direito à vida, à liberdade e à propriedade.

A punição de parlamentares que foram cassados e de outros que estão


presos pela prática de homicídio (até com uso de moto-serra, instrumento até
então desconhecido para a finalidade), de tráfico de drogas e de fraudes
contra o erário não autoriza os magistrados, que jamais o fizeram, a declarar
que há necessidade de extinção do Congresso Nacional. Ao contrário, na
verdade, foi e é o Judiciário que está ajudando a purificar aquela instituição
A tecnologia da informação Jurídica
Hugo Cesar Hoeschl, Dr (org)

democrática, processando e condenando, quando culpados, os


parlamentares infratores.

O desrespeito e a indisciplina civil tem preocupado também a OAB e em


especial alguns advogados de nomeado, com se vê da seguinte indigação:
"Como brasileiro e advogado, gostaria mesmo de saber o porquê da
orquestração contra a magistratura nestes tempos de reforma. Que reforma
do Judiciário é essa que não sai, que se transforma na Câmara em uma
colcha de retalhos, que, mediante o estardalhaço de uma comissão, busca a
corrupção no Judiciário e descobre apenas um juiz, que já estava
respondendo judicialmente a processo, e o tiro sai pela culatra, acertando
membro do próprio Poder Legislativo?

Quantas notícias foram veiculadas contra o Poder Judiciário. Por que aquela
idéia lançada de que teria de acabar com a Justiça do Trabalho, terminar com
os direitos sociais, que os juízes têm de ser punidos por um órgão externo,
que deveria ser extinto o Superior Tribunal Militar, tudo isso agora completado
com esse ataque ao Supremo Tribunal Federal?

Deve mesmo existir algo no ar. Reflitam, o povo brasileiro, e, em especial as


autoridades que honradamente cuidam deste país. Deve haver algo de negro
no ar " ( José Alberto Couto Maciel – Correio Brasiliense).

Todo o exemplo de irreverência, desrespeito à ordem e às instituições, como


o ataque gracioso e com interesse inescondível ao Judiciário, certamente tem
o escopo maior de produzir na sociedade a sensação de falta de credibilidade
na instituição, notadamente quando é ressabido que os réus das demandas
judiciais, de regra, são os poderosos (em todo o sentido), assim como os
detentores do poder econômico, ou seja, os agressores que vilipendiam as
instituições que certamente examinaram ou examirão sua conduta social.

Sem o respeito mútuo entre os representantes da sociedade e o esforço


conjunto para o aperfeiçoamento das instituições do Estado, com a realização
do bem-comum, fim último de todos, certamente os ataques, o desrespeito, a
desordem, a indisciplina e o descaso à democracia, esta como símbolo
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Hugo Cesar Hoeschl, Dr (org)

imorredouro da liberdade com responsabilidade, não cessarão e a história


registrará mais esta passagem desarrazoada da vida pública nacional com
demonstração inequívoca de que ainda não sabemos exercitar a democracia
e realizar o Estado Democrático de Direito.

*Antonio Carlos Facioli Chedid Juiz do TRT/SC e Professor Universitário nas


disciplinas de Direito Processual Civil, Direito Civil e do Trabalho.
A tecnologia da informação Jurídica
Hugo Cesar Hoeschl, Dr (org)

A Tecnologia da Informação Jurídica e o Ensino a Distância como


ferramentas para a modernização da Aduana em tempo de e-governo

Ione Maria Garrido Andreta Lanziani

advogada

ionel@matrix.com.br

Resumo

Inicialmente a disciplina "Tecnologia da informação Jurídica" foi percebida no


sentido de aliar a moderna tecnologia da informática ao Direito "stricto sensu",
para melhor aproveitamento e disseminação do conhecimento jurídico. No
decorrer das aulas e, considerando o Governo em seu papel de responsável,
tanto na qualidade de fomentador da inovação e desenvolvimento de projetos,
como também no de disseminador desse conhecimento, descortinou-se a
possibilidade de incrementar as Aduanas de todo o País com uma nova visão
do mundo e da realidade dos dias de hoje, mediante a utilização daquele
conhecimento aliado ao ensino a distância, especialmente considerando o
leque de opções que o curso de Pós-Graduação em Engenharia de Produção
visualiza ao estudante. Além disso, em tempos de globalização, realidade
virtual e troca de informações em tempo real, a Nação cobra uma maior
agilidade e transparência nas ações governamentais: estamos em tempo de
e-governo.

1.0 INTRODUÇÃO
A tecnologia da informação Jurídica
Hugo Cesar Hoeschl, Dr (org)

Ao realizarmos uma comparação entre a estrutura governamental e a


iniciativa privada, constatamos o quanto a segunda está à frente da primeira
em termos de potencial de trabalho. Enquanto a força de trabalho da iniciativa
privada é estimulada ao aperfeiçoamento contínuo, em um processo de
permanente ampliação do saber, em especial por conhecer da concorrência a
ser enfrentada ao longo da vida profissional, os funcionários públicos, que
representam a força de trabalho governamental, com raras e honrosas
exceções, demonstram uma tendência à estagnação em seu processo de
desenvolvimento pessoal, após obterem a certificação de "aprovados" em um
concurso público com nível superior. Superada a etapa do ingresso na
carreira, o funcionário público está tão satisfeito consigo próprio que se vê
como um pequeno "deus", muito poderoso e credor de todo o respeito. Por
alguma razão somente explicável pela psicologia, esse funcionário graduado
"atingiu a sua marca e não há mais nada a fazer para superar a própria
barreira".

Isso é extremamente desastroso para a administração pública. Seu pessoal


que foi selecionado quando do ingresso na carreira, mediante rigoroso
critério, passa a ser de segunda qualidade, em decorrência do desastroso
processo de estagnação pessoal, cultural e profissional.

O problema avoluma-se e ganha destaque quando se fala em globalização,


modernização e custo "Brasil", com destaque para os funcionários da Aduana
Brasileira, órgão que cuida da fiscalização das operações advindas do
comércio exterior e que está subordinado à Secretaria da Receita Federal do
Ministério da Fazenda.

Causa impressão o desnivelamento entre os membros do órgão central


(Secretário da Receita e Coordenação do Sistema Aduaneiro) e os
funcionários "de ponta", encarregados de executar as normas. Enquanto os
primeiros participam de reuniões em nível internacional, conhecem a
legislação de outros países, especializam-se nos diversos tipos de
procedimento operacional, estudam e implementam mudanças na legislação
para adaptá-la à necessária agilidade do mundo moderno e globalizado, o
segundo grupo contesta essas mudanças, sob a pueril alegação de que as
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Hugo Cesar Hoeschl, Dr (org)

"modernidades" criam facilidades ao contrabando e prejudicam as empresas


nacionais. Ignoram o fato de que sempre houve contrabando, mesmo em
tempos da mais rigorosa fiscalização, quando estávamos em pleno e
assumido protecionismo ao mercado nacional.

Muitas vezes, por pura ignorância, esses funcionários defendem a


manutenção de esquemas antigos que impõem dificuldades para a
importação de determinados itens tarifários, pensando com isso proteger a
indústria nacional, quando, de fato, estão protegendo a manutenção da
ditadura de algumas empresas transnacionais sobre nosso país, que
sonegam informações e utilizam-se da mídia para manter seu status quo,
respaldadas na falta de informações e no despreparo que assola,
especialmente, entre aqueles que, por se julgarem "privilegiados", face à
estabilidade de seus cargos, não se esforçam em saber o que ocorre, de fato,
no mundo real.

Nesse contexto, onde prevalece a visão oblubinada dos agentes do Fisco, o


trabalho desenvolvido pelos órgãos centrais tem sido desgastante e de
resultado quase nulo, no sentido de aniquilar gargalos e reprimir os atrasos
na Aduana Brasileira. A realidade tem demonstrado que apenas o emprego
de verbas em tecnologia não é satisfatório. Não basta Siscomex, automação,
informática. É preciso mais. É preciso investir nos homens para que eles,
conhecendo e interagindo com os avanços tecnológicos, saibam explorar e
tirar vantagem de seu uso em prol da Nação. Transparência e agilidade
devem ser o norte de nossos representantes e seus agentes. É tempo de um
e-governo.

2.0 GOVERNO E INTERNET

No mundo de hoje, com a permanente necessidade de atualização para um


maior domínio sobre o conhecimento, a informática, em especial a internet, é
uma das mais importantes armas tecnológicas à disposição do homem.
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Hugo Cesar Hoeschl, Dr (org)

Apesar de, ainda tímido, o governo vai ocupando alguns espaços, criando
"sites" na internet, os quais, além de imprimir uma maior transparência à
administração, tem prestado inestimável auxílio aos usuários
(acompanhamento de processos, consultas à legislação, concursos, etc.).

Um bom exemplo são as urnas eletrônicas, que deverão garantir maior


agilidade e segurança às eleições.

A própria Receita Federal, já há alguns anos vem estimulando o contribuinte a


apresentar suas declarações e imposto de renda por meio eletrônico, além de
permitir, mais recentemente, o pagamento de impostos pela internet, o que
ajuda, entre outros, a evitar filas bancárias. Na área de Comércio Exterior, foi
implantado o Siscomex (Sistema Integrado de Comércio Exterior), que
possibilita tanto ao importador quanto ao exportador, obter licenças e
apresentar declarações para o despacho de mercadorias, a partir de seu
próprio escritório, mediante o uso de computador interligado ao sistema.

2.1 Globalização e Comércio Internacional

Apesar desse espírito de modernidade que parte da cúpula da Receita, os


fiscais e seus sindicatos permanecem contestando toda e qualquer
modernização das Aduanas. Desconhecem que essa busca por uma maior
agilidade, especialmente em se tratando de comércio exterior, é uma
necessidade dos tempos modernos diante das mudanças provocadas pela
globalização.

Por outro lado, ignoram que, a partir de um software com inteligência fiscal,
montado com base em dados simples como despesas com energia elétrica,
água e telefone, número de empregados, poderiam incrementar a fiscalização
e obter excelentes resultados, direcionando o trabalho fiscal para empresas
que apresentem indícios concretos da prática de sonegação e burla à
legislação.
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Hugo Cesar Hoeschl, Dr (org)

Assim, fica claro que não basta ao Governo projetar uma política modernista.
O Estado não se realiza apenas através de seus líderes. Necessita da
participação ativa de seus agentes, que traduzem em realidade os propósitos
governistas. Esses elementos "de ponta" como são chamados, necessitam
estar preparados para o papel que o Governo deseja imprimir à
administração.

Atualmente, a postura de alguns fiscais assemelha-se à de ferrenhos inimigos


dos empresários que atuam em comércio exterior. Acreditam que o papel da
Alfândega é dificultar as operações de importação e exportação, como se o
exercício empresarial dessas atividades se constituísse, per si, em prática
criminosa. Do mesmo modo, nota-se que os empresários vêem os fiscais
como improdutivos e pertencentes a uma categoria com elevado grau de
corrupção. Assim, as duas categorias observam-se com extremas restrições
e, absolutamente, não confiam uns nos outros.

A diferença entre essas duas categorias é que o poder está nas mãos dos
fiscais. Estes, mais ainda quando se trata da área de comércio exterior, onde
qualquer atraso provoca perdas significativas (majoração de armazenagem,
demourrage, rompimento de contrato na exportação, perda da validade de
carta de crédito, etc.), em sua maioria comportam-se como deuses
inatingíveis, por saberem-se detentores do poder.

Nesse contexto, o Governo necessita de instrumentos modernos para


melhorar a qualidade de seu quadro funcional enquanto no exercício de
atividades extremamente técnicas, além de atender à necessidade de
disseminação de leis, normas e regulamentos, de forma homogênea pelas
Aduanas de todo o País.

Para tanto, o ENSINO A DISTÂNCIA, com o respaldo da TECNOLOGIA DA


INFORMAÇÃO JURÍDICA, constituem-se em ferramentas essenciais nesse
processo, especialmente considerando a agilidade na obtenção e troca de
informações, o enorme banco de dados para pesquisa, além de, entre outros,
a possibilidade de acesso ao mercado internacional para a segurança no
exercício da atividade profissional.
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3.0 AS NOVAS TECNOLOGIAS E A MODERNIZAÇÃO DA ADUANA

A crescente expansão e a sofisticação dos serviços oferecidos pela internet


(coleta de dados, informações, prestação de serviços, múltiplas interações e
transações), permitem concluir que a informática avança no sentido de
suprimir a tramitação de papéis e a plena resolução dos processos em meio
eletrônico.

Nesse contexto, a educação é, de fato, requisito indispensável para o homem


acompanhar e interagir com o processo de evolução social em que está
inserido, provocando com isso uma intensificação em sua formação
profissional, de maneira continuada e permanente.

Considerando que os funcionários públicos que trabalham nas Aduanas estão


espalhados por todo o território nacional, geograficamente um dos maiores do
mundo, nada melhor do que recorrer a um formato de educação que pode
atender, rapidamente, a uma gama enorme dessa massa: ensino à distância
(EAD).

Sobre esse tema, escreveu Landim, em sua obra, "Educação à Distância –


Algumas Considerações" (Rio de Janeiro, [s. n.], 1997, pág. 4, 5 e 32):

"A escola, na sua concepção tradicional, não tem como


assumir sozinha o papel de propulsora do
desenvolvimento e do conhecimento humano. Faz-se
necessário que novas formas de abordagem da difusão do
saber sejam utilizadas para atender à forte demanda da
sociedade atual, cujas perspectivas sociopolíticas,
econômicas, pedagógicas e tecnológicas, entre outras,
apresentam, por sua própria dinâmica, novos enfoques.
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Hugo Cesar Hoeschl, Dr (org)

A globalização da economia intensificou a competição. As


constantes transformações culturais e tecnológicas
requerem elevação generalizada dos níveis de educação
geral e da capacitação para o trabalho.

Surge então, a necessidade real da educação


permanente, considerada uma nova fronteira da
educação e convertida, pelas Organizações Internacionais
de Educação em um tema prioritário em suas
Recomendações."

...

"A EAD surge como a modalidade educativa que pode


atender aos setores sociais não alcançados pelo ensino
presencial, que constituem um capital humano infra-
utilizado, como, por exemplo: os residentes em áreas
geográficas distantes, onde não há escolas convencionais
ou com número insuficiente de vagas para todos; os
trabalhadores adultos que, cumprindo suas jornadas de
trabalho, não podem freqüentar a escola tradicional; os
presos, os imigrantes; as pessoas que já não se
encontram na faixa etária de freqüência à escola, mas que
podem e desejam continuar seu processo educativo; os
trabalhadores que buscam qualificação ou requalificação
profissional em conseqüência das mudanças tecnológicas
e das transformações políticas e sociais."

...

"Na atualidade, não há distâncias nem fronteiras para o


acesso à informação e à cultura. Os recursos técnicos de
comunicação (impressos, áudios, vídeos, informáticos,
etc.) acessíveis à boa parte da população, têm
possibilitado o grande avanço da Educação à Distância e
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Hugo Cesar Hoeschl, Dr (org)

se convertido em propiciadores da igualdade de


oportunidades de acesso ao saber e da democratização
das possibilidades da educação e da democratização das
possibilidades da educação."

Esse tipo de ensino está hoje contemplado na Lei de Diretrizes e Bases da


Educação Nacional, especificamente em seu artigo 80 e parágrafos. Sobre
esse tema, o Ministro da Educação, Paulo Renato Souza, publicou carta na
internet (www.mec.gov.br), manifestando a necessidade e a importância do
ensino à distância, diante da realidade da educação nos dias de hoje:

"O recurso da educação a distância se faz necessário não


porque faltem cursos de formação de professores, mas
sim porque a maioria desses cursos são presenciais,
difíceis, portanto, de serem acompanhados por quem já
trabalha, ou se localizam nos centros urbanos,
impossibilitando o atendimento personalizado a
populações rurais, dispersas geograficamente. Sendo
assim, a educação a distância constitui-se em um
instrumento eficaz de democratização da educação e uma
opção de qualidade para atender a uma vasta demanda
por habilitação historicamente reprimida."

Assim, o ensino à distância é visto hoje como uma ferramenta fundamental


para desenvolver saberes num processo didático-metodológico acessível a
todo e qualquer profissional interessado em dar continuidade ao
conhecimento científico em qualquer área.

Ao Governo, que necessita preparar seus funcionários a atuarem como


agentes no processo de modernização do Estado, em caráter de urgência, o
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Hugo Cesar Hoeschl, Dr (org)

ensino à distância é ferramenta indispensável, considerando que sua


utilização vai propiciar, além do conhecimento em si, uma reprodução
homogênea desse conhecimento a todos os envolvidos, fundamental na
formação desses agentes.

Buscando os maiores conhecedores de cada tema, espalhados pelas


universidades e meios acadêmicos em geral, o Governo poderá montar um
programa de formação de excelente qualidade por preço relativamente
reduzido, se comparado com o número de pessoas que irá formar, sem que
necessite retirar essas pessoas de seus locais de trabalho.

Pode ir além e agregar a esse curso, premiações para aqueles que


apresentarem melhores resultados, como por exemplo, viagens culturais,
bônus, cursos de especialização do modelo presencial. Pode o Estado,
inclusive, buscar parcerias junto à iniciativa privada, especialmente com
associações comerciais e industriais de todo o país, como a FIESP, FIESC,
FIERGS, etc. Os resultados serão tantos e tão positivos que após um tempo
veremos, espantados, os salutares resultados.

3.1 Formação Cultural e Humanística

Partindo dessa realidade, é importante ao Fisco melhorar a formação de seus


agentes, tanto no sentido cultural como no humanístico.

Cultural, para que os agentes "de ponta" compreendam que é passado o


momento de fechar as fronteiras. Esse sistema de protecionismo que os
países subdesenvolvidos implantaram na América Latina após 1947, sob a
orientação da CEPAL, apesar de eivado de boas intenções, não deu os
resultados esperados, infelizmente. Algumas concessões às empresas
multinacionais contribuíram bastante para que os projetos de ideais
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implementados à época deixassem de atingir, em boa parte, a expectativa


aguardada. As últimas estatais nascidas dentro daquela filosofia estão sendo
agora privatizadas ou sucateadas.

Estamos em um novo tempo. É a hora da globalização. Não interessa se


gostemos ou não, se somos contra ou não. Já decidiram por nós muito antes
de agora.

Dificultar a circulação de mercadorias em nada contribui para o crescimento


de nosso País. Aos membros do governo que cuidam das fronteiras é hora de
derrubar as burocracias que somente causam entraves aos movimentos
decorrentes dessa globalização. A fiscalização necessita ser ágil,
acompanhar o preço das mercadorias no mercado internacional (valoração
aduaneira real), agir de forma a facilitar a circulação de mercadorias e cuidar
apenas para que não se pratiquem concorrências desleais em nosso
mercado.

Retardar ou dificultar o acesso de nosso empresariado ao mercado


internacional, seja comprando, seja vendendo, não traz qualquer benefício à
Nação. Num mercado globalizado é fundamental a troca, o que implica que
não iremos exportar se não importarmos, especialmente porque se ficarmos
segregados, deixaremos, ou melhor, não seremos efetivamente competitivos.
O mercado somente está evoluindo face à concorrência que se instala no
País, em que pese a miopia generalizada que ainda grassa, fazendo com que
alguns funcionários esforcem-se por manter o quadro de protecionismo
praticado há décadas, sem visualizar as mudanças já ocorridas no horizonte
internacional.

Em caso recente, tentamos fazer ver a um fiscal da Aduana, que o exportador


perderia a validade de uma carta de crédito no valor de quase um milhão de
dólares, caso não embarcasse a mercadoria objeto do contrato (300.000
camisetas), no próximo navio. Àquela altura, o fiscal tinha conhecimento de
que a mercadoria não estava pronta porque dependia da liberação de
900.000 botões que foram remetidos pelo comprador estrangeiro para serem
agregados às camisetas. O processo de admissão temporária desses botões
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estava estagnado a mais de trinta dias porque o fiscal entendia tratar-se de


hipótese normativa que exigia a apresentação de contrato de serviço entre as
partes, documento este que deveria estar chancelado pela embaixada
brasileira e ainda traduzido por tradutor juramentado.

Apresentamos "proforma" e "ordem de produção". Oferecemos a carta de


crédito. Nada convenceu o fiscal a agir com presteza no caso, pois entendia
que estes documentos não se prestavam a substituir o contrato de serviço
exigido pela norma. O empresário acabou por desistir da admissão
temporária e efetuou o pagamento dos impostos "indevidos".

Nota-se assim, que por mais que a Coordenação Central da Aduana edite
normas no sentido de agilizar os serviços aduaneiros, os fiscais não "vestem
a camisa" desses projetos de modernização. De alguma forma é necessário
que esses funcionários sejam sensibilizados para o seu papel. Comuniquem
as dúvidas à Coordenação, peçam ajuda, externem os problemas, contribuam
nas soluções de forma honesta, transparente, idônea. Busquem atender ao
espírito da lei, conscientes do papel que lhes cabe como agentes do Governo.

Humanística, para que os funcionários aduaneiros assumam seu papel de


responsáveis para com a sociedade, no sentido de que, enquanto membros
do Governo, cabe-lhes revelar o objetivo da política governamental e, para
tanto, necessitam divulgar ao contribuinte as normas legais e administrativas,
orientando-os quanto aos seus direitos e deveres em relação ao Fisco.

Essa visão não é pacífica entre os agentes do Fisco. O discurso que


predomina na atualidade é que não têm quaisquer obrigações em informar ou
prestar esclarecimentos ao empresariado. Ainda sobre o caso relatado acima,
quando ponderado de que o atraso na liberação daqueles botões poderia
gerar a quebra de um contrato de exportação no valor de quase um milhão de
dólares, o funcionário responsável disse que "nada tinha a ver com o
problema do contribuinte". No entanto, a quebra do contrato possivelmente
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representaria a "quebra" de uma empresa nacional e ainda o desemprego de


uma centena de funcionários.

3.2 Temas para estudo

Finalmente, considerando que o momento exige mudanças não apenas na


estrutura física da Aduana, mas especialmente em seus recursos humanos,
uma vez que sua formação deve estar voltada para a agilização do comércio
internacional, considerando ainda que o momento do protecionismo já está
ultrapassado, apresentamos uma lista de temas, que, apesar de não ser
exaustiva, ajuda a pensar sobre qual é, de fato, o mais grave problema da
Aduana Brasileira:

• a importância e as conseqüências da globalização;


• o reconhecimento de que a área aduaneira tem um importante papel
social e não simples arrecadadora de tributos;
• a tomada de consciência de que o momento é de trabalho, e trabalho
com responsabilidade e honestidade, compreendendo o importante
papel destinado à Aduana no processo de globalização;
• convencimento de que, assim como é reduzido o número de
funcionários desonestos, também poucos são os criminosos atuando
no comércio internacional (a exemplo do que ocorre na sociedade), não
sendo correto julgarem-se todos por poucos;
• conscientização dos prejuízos causados pela burocracia alfandegária
aos nossos empresários, e a responsabilidade de cada um nesse
processo;
• conscientização de que ao criar problemas indistintamente, estão
prejudicando especialmente os empresários brasileiros sem estrutura
jurídica de apoio, eis que os grandes conglomerados, especialmente de
multinacionais, fruem do máximo de privilégios legais concedidos pelo
Governo, até porque para serem informados e orientados não
necessitam dos fiscais de plantão;
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• a possibilidade de redução do custo-Brasil com a agilidade da Aduana:


armazenagem, capatazia, taxas, demourrage, etc
• a importância da celeridade das decisões no comércio, especialmente
no cenário internacional (prazos, validade de contratos);
• disseminação e estímulo (no sentido de boa orientação) à utilização da
legislação relativa aos regimes aduaneiros especiais e atípicos por se
constituírem em verdadeiras alavancas para o desenvolvimento de
qualquer país;
• reforço nos estudos de inglês, fundamentais a um bom profissional da
área de comércio exterior;
• compreensão das operações financeiras ligadas ao comércio
internacional, tais como: carta de crédito (tipos, características,
exigências, responsabilidades), contrato de câmbio, etc.
• transporte internacional, multimodal, agilização e redução de custos;
• a importância das negociações internacionais e as dificuldades
inerentes, especialmente em se tratando de empresas pequenas e de
médio porte;
• ética profissional;
• regras de conduta;
• o comportamento fora da repartição e seu reflexo na imagem do
funcionário;
• integridade, honestidade, orgulho de sua atividade profissional como
forma de contribuir para uma sociedade melhor e mais justa;
• importância do tratamento a ser dispensado a todos os profissionais
que atuam em contato com o Fisco (seriedade, respeito e isonomia);
• o papel do funcionário público no contexto da Sociedade e o reflexo do
próprio Governo.
• Conjunto de normas que regem o comércio exterior e a obrigação do
Fisco em orientar o usuário;
• Obrigação do Fisco em prestar informações e orientar ao contribuinte
quanto ao procedimento adequado.

4.0 CONCLUSÃO
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É evidente que a burocracia assola nosso País e pode enterrar a chance de


acompanharmos a evolução em compasso de globalização que ocorre no
mundo todo. Precisamos mudar esse cenário.

Nessa tarefa deverá ter parcela importante o próprio Governo, não só


contribuindo com a educação da população em geral, mas, especialmente,
com a formação de seus agentes,

considerando que a ignorância destes invalida quase todo o esforço por


modernização porventura intentado.

Sem dúvida, a educação é fundamental para concretizar a modernização,


pois somente ela é capaz de promover mudanças efetivas no homem. Para
tanto, vale conhecer o pensamento de um dos maiores educadores do
momento, Peter Drucker:

"Vivemos numa economia cujos recursos mais importantes


não são instalações e máquinas, mas conhecimento, e
onde os trabalhadores do conhecimento compõem a maior
força de trabalho... a educação já consome uma grande
parcela do produto nacional bruto dos Estados Unidos... o
país já está gastando cerca de 1 trilhão de dólares em
ensino e formação. Essa cifra vai aumentar rapidamente,
mas o crescimento não deve se dar nas escolas
tradicionais, que hoje consomem cerca de 10% do PNB
(do jardim da infância até o ensino médio, 6%; faculdades
e universidades, 4%). O crescimento será visto no setor da
educação contínua para adultos. O gatilho desse
crescimento é a transmissão do ensino pela Internet, mas
a demanda por educação vitalícia se deve às
transformações profundas pelas quais a sociedade está
passando. Falando em termos mais simples, está
aumentando entre as pessoas que já têm alto nível de
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instrução e ótimo desempenho profissional a percepção de


que não estão conseguido manter-se em dia com as
mudanças...a maior parte dos alunos é formada por
homens e mulheres na casa dos 40 anos, apontados por
suas respectivas empresas como pessoas de alto
potencial. Elas voltaram a estudar porque querem e
precisam encontrar novas maneiras de enxergar o mundo,
fora de suas áreas de competência. Querem aprender a
ter uma visão mais global. Muitos estão lá para refletir
sobre suas experiências e enxergá-las de uma perspectiva
mais ampla. Eles precisam dessa perspectiva para lidar
com as mudanças econômicas e tecnologias atuais, diante
das quais estão perplexos" (e-ducação – Revista Exame,
página 64, 14.06.2000, Editora Abril S/A, São Paulo).

5 BIBLIOGRAFIA:

-LANDIM, Cláudia Maria das Mercês Paes Ferreira. Educação A


Distância: Algumas Considerações. Copyright ©: Rio de Janeiro,
1997.

-DRUCKER, Peter, em artigo: e-ducação – Revista Exame,


página 64, 14.06.2000, Editora Abril S/A, São Paulo;

-MURTA, Roberto de Oliveira, in Contratos em Comércio


Exterior", São Paulo: Editora Aduaneiras, 1992;

-LUNARDI, Angelo Luiz, Professor de Pagamentos


Internacionais da Aduaneiras e Diretor da Proficam – Consultoria
e Finanças e Câmbio, em artigo intitulado "O contrato comercial
na prática", publicado no boletim "Sem Fronteiras", ano 2, nº 89,
de 07.08.2000, da Editora Aduaneiras, São Paulo.
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Hugo Cesar Hoeschl, Dr (org)
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Conceitos de Representação Jurídico-Política Digital


Márcio Umberto Bragaglia

mubby@eps.ufsc.br

Abstract

The Electronic Juridical Representation is an ambitious application of theories


and techniques of Artificial Intelligence at the Democracy’s context.

Although our constitutional norms limit the direct exercise of people’s political
power to the cases foreseen in the own Major Law, it is of important interest
the study of models of attendance and electronic procurement in a society that
develops itself into automation as improvement of the productive process, the
quality of the citizens' life and of the increment of the democracy as a stable
institution.

This article intends to present and to briefly discuss some aspects of that
polemic theme, besides introducing elementary technological concepts, with
the objective of alerting the juridical operator for the future possibilities of
integration among the technology, the Law and the organized society itself.

Resumo
A tecnologia da informação Jurídica
Hugo Cesar Hoeschl, Dr (org)

A Representação Jurídica Eletrônica é uma ambiciosa aplicação de teorias e


técnicas de Inteligência Artificial no âmbito da Democracia.

Embora nossas normas constitucionais limitem o exercício direto do poder


aos casos previstos na própria Lei Maior, é de relevante interesse o estudo de
modelos de assistência e procuração eletrônica em uma sociedade que evolui
no caminho da automação como melhoria do processo produtivo, da
qualidade de vida dos cidadãos e do incremento da própria democracia.

Esse artigo pretende apresentar e discutir brevemente alguns aspectos desse


polêmico tema, além de introduzir conceitos tecnológicos elementares, com o
objetivo de alertar o operador jurídico para as possibilidades futuras de
integração entre a tecnologia, o direito e a própria sociedade organizada.

Palavras-chave (keywords): Procuradores Digitais, Representação e


Democracia Eletrônicas, Agentes.

INTRODUÇÃO

Nos tempos atuais, a maioria expressiva das nações civilizadas opta pelos
sistemas políticos baseados na democracia, na repartição de poderes e na
expressão da vontade do cidadão através da representação. Logo no início,
nossa carta magna já consagra tal opção, no parágrafo único do art. 1o:

"Parágrafo único - Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de
representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição."
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A primeira implicação imediata que pode ser percebida é a capacidade de


outorga de mandato, ou seja, de transmissão consciente de poderes entre o
cidadão alienado da expressão direta de sua vontade e o cidadão habilitado
ao exercício coletivo desta.

A segunda é a viabilidade de exercício do poder político de forma direta.

Ignoremos inicialmente a ressalva relativa aos limites constitucionais do


exercício do poder político, já que a discussão que se pretende apresentar
não está normatizada na Constituição ou em estruturas infraconstitucionais
atuais. A ressalva não atrapalha o desenvolvimento do raciocínio que se
segue. Ao contrário, teremos sempre a possibilidade de argüir a previsão
legal futura para nossa "nova" representação por meio de emenda
constitucional.

Analisemos a expressão do poder político sob a ótica da expressão efetiva da


vontade, realizável hipoteticamente em um sistema perfeito no qual cada
cidadão expressa diretamente sua vontade política a respeito de uma questão
determinada: Recentemente, a CNBB (Confederação Nacional dos Bispos do
Brasil) promoveu um plebiscito objetivando consultar a nação interessada na
questão da dívida externa a respeito do seu pagamento. Deve ou não ser
realizado?

1. OS OBJETIVOS DA REPRESENTAÇÃO

Podemos perceber com clareza a existência de dois tipos de processos


decisórios no exercício da vontade, sua expressão direta ou através de
representação apropriada.
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Surge uma questão de caráter filosófico: sabemos que a representação


existe, à priori, em decorrência da impossibilidade prática de se consultar
cada indivíduo do grupo social para colher sua opinião pessoal. Assim, o tipo
de representação que agrega em um indivíduo faculdades de decidir "em
nome" de um grupo maior é o modelo fundamental da representação política
(um vereador, por exemplo, representa os interesses de um conjunto de
pessoas de seu município, possuindo mandato para concretizar aquilo que
julga ser a vontade política de seus eleitores).

Conclui-se então que um dos objetivos da representação é agregar vontades


políticas de orientação semelhante, em um princípio prático de economia e
viabilidade administrativa do Estado ou da organização que a suporta.

Todavia, é muito comum observarmos a representação unitária, que ocorre


quando um cidadão outorga poderes para que outro o represente. Exemplo
clássico é o do procurador em juízo (advogado), que atua postulando o direito
subjetivo de seu mandante. Aí já não cabe a conclusão de que a
representação é uma medida prática pretendendo viabilizar problemas de
ordem de grandeza. O que de fato podemos inferir é que a representação é a
transferência de poderes por motivos de capacidade restrita do mandante,
seja ela apenas formal, de conhecimento ou de especialidade, ou ainda de
interesse. Nesse último caso, podemos levantar o exemplo de uma pessoa
que seleciona um representante para decidir em seu nome sobre aplicações
financeiras de seu patrimônio. Há um interesse em sentido amplo de que o
objetivo "incremento patrimonial" seja alcançado por meio das atitudes do
representante eleito para tanto. Não há, todavia, um interesse interno,
específico, em relação aos mecanismos operacionais que irão prover tal
ganho efetivo. Não interessa saber como será feito, mas sim que será feito
segundo a vontade inicial que fundamenta e dá razão ao mandato.
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Logo, a segunda conclusão é de que a representação também objetiva a


transferência de responsabilidades operacionais, ficando reservados os
objetivos previstos.

Partindo dessas duas conclusões, podemos formular premissas que irão


fundamentar um modelo de representação eletrônica da vontade do cidadão,
cabendo o modelo proposto tanto no conceito de representação quanto no
conceito de exercício direto do poder político, positivado nos princípios
constitucionais supra-referidos.

Nosso objetivo é demonstrar que em diversas esferas ou contextos, desde a


formulação e validação de um ordenamento jurídico (legislar), quanto em sua
fiscalização e aplicação (administrar), e ainda em relação a jurisdição dos
preceitos legislados (julgar), poderíamos, munidos de devida previsão legal,
tomarmos como representantes sistemas de informação autônomos,
personalizáveis e inteligentes, os quais denominaremos Agentes Jurídico-
Políticos.

Nagib Slaibi Filho, ao tratar dos meios de integração entre o povo e o poder
apresenta a seguinte questão, que nos serve como peça de doutrina,
demonstrando que estamos em boa companhia: "somente a Constituição
pode criar mecanismos de participação direta do povo no exercício do poder,
em face da restrição aparente que se encontra no parágrafo único do art. 1º?"
– e responde considerando absurda a resposta afirmativa a tal indagação,
pois "teria a conseqüência de se considerar inconstitucionais todos os
mecanismos de democracia a ser exercida diretamente pelo titular do poder...
O próprio caput do artigo dispõe que é fundamento da atuação do Estado o
respeito à soberania (evidentemente do titular do poder) e à cidadania".

Devemos ter em mente que não se pode limitar a democracia somente ao


voto - ato mais rudimentar de participação, segundo Slaibi, pois ela deve ser
algo muito maior, nas palavras do doutrinador: "a mais ampla integração do
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indivíduo, entidades da sociedade civil e do povo no exercício do poder."


[SLAIBI1998].

Consideremos justificadas nossas premissas em face de tal percepção


ampla do conceito de organização democrática do exercício e da titularidade
do poder político.

2. EXEMPLIFICANDO

Vamos traçar situações hipotéticas que ilustrem um ambiente dessa natureza.


Após verificarmos os exemplos, descreveremos mais tecnicamente como a
Ciência Computacional e a Engenharia de Produção podem tratar da
implementação de tal modelo, munidas de ferramentas da Inteligência
Artificial Aplicada.

Caso 1: Marcos, economista, 35 anos, casado, dois filhos menores de 5


anos.

Marcos tem profundo interesse pela situação econômica e fiscal do país, pela
parte do ordenamento jurídico que diz respeito à proteção de crianças e
adolescentes, é a favor de penas mais brandas para os crimes de baixo
potencial ofensivo, é favorável a absoluta liberdade de expressão e
propaganda, é fumante, não se interessa por política internacional, acha que
as escolas deveriam preparar os adolescentes para o mercado de trabalho ao
invés de investirem em cultura geral.

Caso 2: Bete é médica, homossexual, tem uma companheira há 12 anos, é


favorável ao casamento entre pessoas do mesmo sexo. Gosta muito de
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tecnologia e acredita que seu país precisa de mais investimentos em


pesquisa e segurança, e menos em geração de empregos formais. Acredita
que a legislação penal é pouco rigorosa. Acha que toda propaganda de
bebidas deveria ser proibida. Gostaria de ver limites mais rígidos em relação
à liberdade de imprensa.

Os cidadãos hipotéticos Marcos e Bete tem posições parecidas em relação a


algumas matérias, e divergem frontalmente em relação a outras. Assim
acontece não apenas em relação às diferenças e semelhanças entre os dois,
mas praticamente entre todos os indivíduos da sociedade em que vivem. São
tantos e tão variados os interesses e desinteresses que seria impossível
agregar adequadamente os mesmos em correntes intelectuais, em definições
de "esquerda" e "direita", em partidos políticos, etc. Quem afinal será apto a
representar adequadamente (e simultaneamente) ambos?

É justo que Bete escolha seu representante (um deputado, por exemplo), só
porque ele atende a algumas de suas opiniões pessoais, mas não à todas ou
mesmo à maioria delas?

Agora imaginemos o seguinte modelo de representação:

Marcos escolhe um representante para tratar de todas as questões relativas


aos Direitos da Criança e do Adolescente. O seu procurador para esse
assunto irá mantê-lo informado a respeito de qualquer iniciativa legislativa na
área, irá acompanhar a jurisprudência e a doutrina sobre a matéria, irá
representa-lo em qualquer votação ou consulta que lhe caiba participar como
cidadão. O representante será, é claro, um especialista estudioso do assunto,
em constante contato com outros procuradores de outras pessoas. Irá
inclusive informar a Marcos como os outros cidadãos interessados na matéria
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se posicionam perante questões específicas e coloca-lo, caso deseje, em


contato com elas através de seus procuradores.

Além desse representante, Marcos também outorga mandato para que outro
procurador acompanhe o mercado de ações, auxiliando suas decisões nesse
sentido, além de acompanhar questões tributárias nos tribunais, coletando
exemplos que irão determinar sua conduta, caso venha a demandar o Estado
ou ser por este demandado.

Todavia, Marcos não instituirá representantes para cuidar da fiscalização das


verbas públicas, para acompanhar o que dizem os tribunais sobre a Boa-fé
objetiva no Direito das Obrigações, nem para votar contra medidas que
restringem a publicidade na mídia.

Bete, por sua vez, elege representantes específicos para acompanhar e


participar ativamente do desenvolvimento da legislação referente às uniões
entre homossexuais. Escolhe também um procurador para mantê-la
informada sobre o destino e a aplicação das verbas públicas em atividades
acadêmicas de pesquisa e extensão.

Impossível? Inviável do ponto de vista político (sobrecarga de representantes


especializados, superestruturas eleitorais) e econômico (ônus imenso tanto
para o representado quanto para o Estado)? Sim, desde que estejamos
tratando da representação de cidadãos por outros cidadãos. Mas
pretendemos aqui imaginar um modelo de representação por agentes
inteligentes de software, específicos para assuntos selecionados segundo os
interesses do cidadão, e tão personalizados e atados à sua personalidade e
ao seu perfil político quanto suas crenças e sua assinatura, de modo a
contribuir para a falência do famoso ditado: "No Direito, todas as novidades
tem duzentos anos".
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3. IMPLICAÇÕES

Obviamente, tal implementação requereria inúmeros investimentos de infra-


estrutura, uma vontade política praticamente impossível, já que simplesmente
não seria mais necessário o representante eleito com poderes imensos de
decisão e não restrito à vontade momentânea do eleitor, conforme o modelo
vigente, que é ótimo para o representante e terrivelmente perigoso para o
representado, já que o escopo e a garantia de postura do representante
fogem completamente do poder de sanção ou veto imediatos do
representado.

Porém, o objetivo da discussão é apresentar a possibilidade no ponto de vista


mais amplo possível (o próprio ordenamento jurídico em sua concepção
abstrata e em sua concretização prática) para, verificadas e validades as
propostas de autonomia digital da representação, portar o modelo para
estruturas mais simples (sem maiores implicações políticas e resistências
emocionais) como por exemplo a pesquisa jurisprudencial monitorada, a
formulação automática de "ordenamentos jurídicos" para sistemas
especialistas (definição das regras), além da montagem de conteúdo inicial
para sistemas inteligentes de raciocínio baseado em casos (RBC) dinâmicos,
de aplicação imediata na tomada de decisão crítica, concebidos na percepção
do problema.

Como se pode perceber, a abordagem pretensiosa se justifica em relação aos


subprodutos viáveis da abordagem utópica ampla.

Como funcionarão esses procuradores digitais, qual será seu escopo de


atuação, seus limites práticos e a segurança de suas decisões ? Tais
questões relevantes do ponto de vista prático demandam a explicação de
uma Teoria Básica de funcionamento dos procuradores, que estarão
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baseados na ligação de três grandes tecnologias de inteligência artificial:


Agentes Inteligentes, Sistemas Especialistas e Raciocínio Baseado em
Casos.

4. NOÇÕES DE TECNOLOGIAS

Já sabemos que na maioria dos casos um dos requerimentos dos agentes


será sua Especialidade.

Guizoni Teive, em tese de doutoramento (1997), estudou com maior


profundidade os Sistemas Especialistas, e trouxe com ênfase a definição de
Bar e Feigenbaum (1981), que apresentam um sucinto conceito de Sistema
Especialista:"é um programa computacional inteligente que utiliza
conhecimento e procedimentos para resolver problemas que são
suficientemente difíceis por requererem significativa experiência humana para
a sua solução". [TEIVE1997].

Logo, devemos estabelecer como pressuposto de um procurador não-


genérico um conjunto de algoritmos e procedimentos operacionais que
envolvam técnicas de Sistemas Especialistas.

Quanto aos sistemas de Raciocínio Baseado em casos, é memorável a


definição clássica (Reisbeck e Schank 1989): " A case-based reasoner solves
new problems by adapting solutions that were used to solve old problems "

Em dissertação de mestrado, Marco Koslosky apresentou conceito de


Raciocínio baseado em casos (RBC) como sendo "uma metodologia recente
de resolução de problemas cuja origem é o trabalho desenvolvido por Schank
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e Abelson em 1977. Seu desenvolvimento foi estimulado pelo desejo de


entender como as pessoas recuperam informações e que comumentemente
resolvem problemas lembrando como solucionaram problemas similares no
passado." [KOSLOSKY1999].

Podemos também agregar tal característica aos nossos procuradores digitais,


objetivando capacita-los para a otimização de suas decisões, baseadas não
somente nas peculiaridades de um caso concreto mas também no perfil de
posições tomadas em situações prévias similares.

Para a primeira das tecnologias supra-elencadas é necessária uma maior


exposição dos seus fundamentos, de modo a permitir ao operador jurídico a
concepção de um conceito técnico aplicável à solução de problemas
conhecidos.

A respeito dos Agentes Inteligentes, em excelente trabalho de doutoramento,


Marcelo da Costa compilou diversas definições de agentes, entre elas a de
Maes (1994), que reproduzimos devido à sua simplicidade:

"Agentes são componentes de softwares que atuam autonomamente de


forma a atender os interesses do usuário".

Outra definição também apresentada por Costa é a de Russel e Norvig


(1995), que introduzem exatamente a qualidade mais importante da
representação "justa" e apropriada da vontade de um cidadão:

"Agente é algo que possui a capacidade de atuar sobre um ambiente através


de sua percepção sobre esse ambiente".
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Concordamos com Costa, na seguinte conclusão: essa "percepção do


ambiente" significa a tomada de atitude que almeja "alcançar metas definidas
por alguém, dadas as crenças deste alguém.". Assim, um agente seria um
programa de computador que, portando características peculiares que
discutiremos adiante, atua no sentido de realizar um objetivo de uma pessoa,
de acordo com o pensamento e as opiniões da pessoa sobre um assunto
relacionado estritamente ao objetivo.

É porém de Nissen (1995) o mais simples e mais imediato dos conceitos


apresentados por Costa, que "cai como uma luva" para a discussão que hora
travamos: Agente é um software que "atua como um procurador com o
propósito específico de realizar ações que podem ser entendidas como
benéficas à parte representada". [COSTA1999].

Vamos aproveitar as definições escolhidas e traçar um exemplo de um agente


de software :

Bete, através de um sistema em seu computador, cria um procurador que irá


circular pelas redes e sistemas de informações governamentais, colher
informações e envia-las de volta para ela classificadas, votar em seu nome e
segundo suas convicções pessoais e se comunicar com outros agentes de
outras pessoas também interessadas sobre a questão de Empregos
Informais. O agente irá se alojar em sistemas compatíveis com a estrutura de
agentes, que estarão disponíveis em órgãos legislativos, empresas privadas,
tribunais de justiça, etc, sempre "falando" em nome de Bete.

Bete pode delegar ao agente-procurador autonomia absoluta ou relativa, isto


é, ela pode autorizar o agente a tomar posição (votar, por exemplo) por ela
sem consulta-la previamente, somente se baseando no perfil que o agente já
traçou de sua representada no momento de sua definição, ou poderá exigir
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que o agente peça sua confirmação antes de exercer qualquer ato em seu
nome.

Notamos que tal flexibilidade exclui antecipadamente a possibilidade de erros


de compreensão irrevogáveis devido à tomada imediata de posição, já que se
pode "aprender" e configurar o funcionamento do programa representante
com o decorrer de sua utilização.

5. OBSERVAÇÕES

Percebemos também mais três importantes observações:

Funcionando da forma descrita acima, o agente se comporta segundo nossa


segunda premissa de possibilidades da representação: ela é a transferência
de poderes por motivos de capacidade restrita do mandante, seja ela apenas
formal, de conhecimento ou de especialidade, ou ainda de interesse. Nesse
caso, o agente toma como base algumas considerações iniciais sobre a
postura de seu criador (posição atual sobre a questão, perfil) e o representa
de forma especializada em um interesse de sua escolha.

A segunda observação é fundamental: Como o funcionamento do agente não


exige a interatividade em tempo integral com o representado, este pode
outorgar poderes de representação para inúmeros agentes em diversos
assuntos que lhe interessam, colhendo apenas ocasionalmente a síntese
dessas matérias que lhe são interessantes, incrementando não só seu
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escopo e poder de posicionamento político direto, como também o grau de


cultura específico sobre as matérias em questão.

Finalmente, percebemos que um sistema no qual a cidadania é exercida


segundo interesses específicos e especializados tende a ser mais rica em
resultados efetivos, dado o nível de satisfação subjetiva com o sucesso e o
grau de percepção do envolvimento subjetivo no fracasso das decisões.
Ainda é possível fotografar a sociedade e sua evolução de posicionamento
perante os mais diversos assuntos, presumindo-se que haja pessoas
interessadas em participar de praticamente qualquer atividade de interesse
público. Naquelas nas quais a participação for mínima, pode-se instituir a
representação digital pública, com poderes especiais outorgados pelos
próprios agentes individuais, e revogável na mesma medida de facilidade.

Para que o leitor se situe melhor em relação as possibilidades dessa


tecnologia, faz-se mister apresentarmos sucintamente algumas das
características que diferenciam os agentes das demais categorias de
programas de computador que auxiliam a tomada de decisão por parte do
usuário.

Uma das mais importantes características dos agentes, ainda segundo Costa,
é a Autonomia, referindo-se esta ao princípio de que os agentes agem
"baseados em seus próprios princípios, sem a necessidade de serem guiados
por humanos." Tais softwares são dotados de status e objetivos internos,
agindo de maneira a atingir estes objetivos em favor de seus usuários. "O
elemento chave da autonomia é a pró-atividade, que é a sua habilidade de
tomar iniciativas, sem a necessidade de agir em virtude de uma mudança de
seu ambiente"(Wooldridge e Jennings, 1994).
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A Autonomia, para o funcionamento de agentes como procuradores jurídicos,


por exemplo, poderia envolver validação de suas técnicas de posicionamento
e tomada de decisão por entidades de classe especializadas. Poderíamos
imaginar uma "Ordem dos Advogados do Brasil- Digital" como uma entidade
certificadora da tecnologia de inteligência acoplada a tais dispositivos,
autorizando-os por meio de assinatura digital, por exemplo, à feitura de certos
atos processuais que não envolvessem a necessidade de inteligência
humana (julgamentos de valor, i.e.).

Outra importante peculiaridade dos procuradores digitais deve ser sua


mobilidade, ou seja, a capacidade de mover-se em estruturas de redes de
computadores, navegando em sistemas de informação aptos à sua
acoplagem temporária, munidos ambos (agentes e sistema de interface) de
fortes técnicas de segurança e de garantia de autenticidade e inviolabilidade,
pois podemos imaginar que se é fácil "corromper" um representante humano,
pode ser ainda mais fácil, através de meios tecnológicos apropriados, hackear
um agente e faze-lo tomar decisões incompatíveis com a vontade de quem
representam. Seria a corrupção política digital. A questão de segurança é
uma das mais críticas, que podem inviabilizar toda a tecnologia e o modelo
proposto, caso não se adotem rigorosas técnicas de criptografia, assinatura
eletrônica e protocolos de transações seguras, desde a concepção in-loco do
agente na máquina do cidadão representado até sua transmissão pela rede,
replicação, clonagem e envio de informação agente-representado e agente-
agente. Tal discussão pode se prolongar ad infinitum com argumentos contra
e a favor, fugindo do escopo original deste trabalho. Pretendemos aprofunda-
la em artigo adjacente futuro.

Além dos dotes da autonomia e da mobilidade, uma importante característica


adicional dos procuradores deve ser a comunicabilidade. Devem ser capazes
de "conversar", trocar informações entre si, cooperar (desde que para tanto
autorizados) com fins semelhantes de terceiros, e inclusive entrar em contato
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como outras entidades além de procuradores, por exemplo, sistemas de


bancos de dados, bases de conhecimento, e inclusive seres humanos.

Um procurador que investiga a situação jurisprudencial de uma lei em relação


à sua possível inconstitucionalidade pode além de verificar as informações
que outros agentes de terceiros disponibilizam, consultar bases de
conhecimento, sites da internet, e pedir por e-mail um parecer de um
advogado ou jurista, por exemplo.

Obviamente, a compreensão e o tratamento de tais dados e sua efetiva


conversão em informação e conhecimento exigem a aplicação de inúmeras
técnicas de conhecimento e inteligência artificial, modelos matemáticos,
análise semântica, compilação, estatísticas, etc. Porém, podem existir
agentes especializados em tais tarefas, que através do princípio da
Cooperação (habilidade que os agentes tem de trabalharem em conjunto para
realizarem tarefas de interesse mútuo) podem fornecer "serviços" ao
ambiente virtual no qual estão inseridos. Nasce então um mercado de troca
de informações e serviços entre procuradores pessoais e agentes de
tecnologia comercial, liberando do usuário a necessidade de dotar seus
agentes com avançadas tecnologias de inteligência. (Não procede do mesmo
modo um advogado que consulta um contador para melhor compreender um
caso, ou um juiz que manda juntar ao processo um laudo pericial, já que o
conhecimento universal foge de sua competência?)

Os agentes ainda possuem outras características que os diferenciam de


outros tipos de programas de computador, como a Aprendizagem (devem ser
capazes de avaliar seu ambiente, decidir e aprender com os erros ou acertos
ocasionados pela decisão. Aí entra a integração com a tecnologia de
Raciocínio Baseado em Casos), e a Reatividade (devem ser capazes de
reagir às alterações do ambiente. Ex: Mudou o sistema de votação em uma
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câmara legislativa digital. O agente deve perceber as alterações e se adaptar


a elas de modo a continuar operando, e caso não seja possível, informar seu
representado).

Na parte mais técnica, é necessário termos ciência de que existem diversos


modelos de comunicação para agentes, arquiteturas de várias
complexidades, protocolos e regras de funcionamento ambientais, controles
de tráfego, "federações de agentes", linguagens de mensagens, políticas de
conversação, entre outras definições.

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Obviamente, para que fosse implementada uma democracia com


representação eletrônica, além das centenas, talvez milhares de alterações
às quais nosso ordenamento jurídico deveria ser submetido, várias definições
de infra-estrutura deveriam ser protocoladas, muitas entidades de
fiscalização, segurança e controle criadas, enfim, toda uma estrutura digital e
humana voltada para a possibilitação do exercício direto do poder político
deveria ser projetada, indo de encontro a inúmeros dispositivos legais,
formais e regras práticas, o que torna o projeto de tal empreendimento
visionário ao extremo, e, por que não dizer, absolutamente romântico.

Não obstante tal adjetivação "depreciativa", cabe a lembrança de Nagib Filho,


que enumera diversas instâncias de exercício direto do poder: "O art. 14 da
Constituição de 1988 coloca como instrumentos da democracia o voto direto,
secreto e igual, o plebiscito, o referendo, a iniciativa popular, mas não esgota
aí os instrumentos democráticos, pois são previstos, também, diversos
remédios jurídicos processuais, como a ação popular, ação penal privada
subsidiária da pública (art. 5º, LIX), ação de inconstitucionalidade (art. 103,
art. 125, § 2º), bem como outras formas de participação individual ou de
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entidades da sociedade civil no processo de tomada de decisão ou de


execução da atividade estatal". [SLAIBI1998]

Entre essas formas, podemos citar o mandado de segurança coletivo,


liberdade na criação e funcionamento dos partidos políticos (art. 17),
cooperação das associações representativas no planejamento municipal (art.
29, X), iniciativa legislativa popular (arts. 29, XI, 61, § 2º), participação na
administração da justiça (art. 5º, XXXVIII, 98, 115, 116, 121, 124), gestão
democrática no ensino público (art. 206, VI), todos da Constituição Federal.

Todavia, mesmo fora do âmbito jurídico e da realidade política, o estudo de


tais modelos ideais possibilita o desenvolvimento de metodologias e
tecnologias de consulta popular e expressão da vontade normativa e
interpretativa de entidades detentoras do poder de decisão, podendo ser útil
em inúmeros domínios de aplicação, como por exemplo sistema de
determinação de perfil, teorias de coesão de bancadas, conjuntos de regras
formais em sistemas especialistas, entre outros.

Trata-se porém de possibilidade política remota, mas também de tecnologia e


ferramenta para engenharia de produção e sistemas.

7. REFEFÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

COSTA, Marcelo T. C. Uma arquitetura baseada em agentes para suporte


ao ensino à distância. Florianópolis: UFSC, 1999. (Tese de doutorado em
Engenharia de Produção)

KOSLOSKY, Marco Antônio Neiva. Aprendizagem baseada em casos – um


ambiente para ensino de lógica de programação. Florianópolis: UFSC,
1999. (Dissertação de Mestrado em Engenharia de Produção)
A tecnologia da informação Jurídica
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Maes, P. Intelligent Software: Programs That Can Act Independently Will


Ease the Burdens that Computers Put on People. IEEE Expert Systems,
Vol. 11, No. 6, December 1996, pp.62-63,.

Russell, S. e Norvig, P. Artificial Intelligence: A Modern Approach.


Englewood Cliffs, NJ: Prentice Hall, 1995.

SLAIBI FILHO, Nagib. Povo e Poder: Meios de Integração. CD de Doutrinas


– Plenum Informática, 1998.

TEIVE, Raimundo Celeste Guizoni. Planejamento da Expansão da


Transmissão de Sistemas de energia elétrica utilizando sistemas
especialistas. Florianópolis: UFSC, 1997. (Tese de doutorado em
Engenharia de Produção)

Wooldridge, M. e Jennings, N. R. Intelligent Agents: Theory and Practice.


Submitted to the Knowledge Engineering Review, 1994.
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Documentação da Disciplina: Tecnologia da Informação Jurídica

Professores:

Hugo Cesar Hoeschl, Dr

Tania Cristina D’Agostini Bueno, Msc

1. Ementa: Noções de Tecnologia da Informação Jurídica. Três partes: a)


desenvolvimento de ferramentas de tecnologia da informação no mundo de
justiça e das leis; b) procedimentos para registro e preservação de direitos
sobre os projetos e descobertas na tecnologia da informação; c)
esclarecimento sobre questoes jurídicas da tecnologia da informação, em
linguagem acessível.

2. Estratégia: Exposições, seminários, debates e estudo de casos, visando a


uma aplicação efetiva das informações abordadas. Análise de sites temáticos.
Avaliação mediante seminarios, participação e trabalho final.

3. Programa:

1. Introdução e conceitos operacionais;


2. Ferramentas de aplicação da TI na justiça. Informática Jurídica;
Sites: Findlaw (www.findlaw.com.br), Infojur (www.ccj.ufsc.br)
3. Inteligência artificial e direito, I;
Sites: Icail, Giad
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4. Inteligência artificial e direito, II;


Sites: Jurix, Enia
5. Justiça na web (avaliação dos tribunais);
Site: Tribunal de Justiça da Paraíba (www.tjpb.gov.br), Tribunal
Superior Eleitoral (www.tse.gov.br)
6. Registro de software. O que e como fazer. Pirataria e contra-
pirataria;
Site: Abes (www.abes.com.br)
7. Registro de direitos autorais, marcas e patentes. O que e como
fazer. Montando a empresa digital (ótica jurídica);
Site: INPI (www.inpi.gov.br).
8. O ciberespaço e o direito digital;
Site: Direito Digital (www.digesto.net/ddigital).
9. Censura na web e sigilo das comunicações digitais. Ética jurídica
e telemática;
Site: Direito Digital (www.digesto.net/ddigital).
10.Mediação e arbitragem na internet. Solução rápida de conflitos
jurídicos;
Site: NAM Corporation (www.clicknsettle.com).

Bibliografia on line:

Inteligência artificial e direito:

http://www.digesto.net/ddigital/inteligencia/ia1.htm

http://www.digesto.net/ddigital/inteligencia/ia2.htm

http://www.digesto.net/ddigital/inteligencia/iamed1.htm

http://www.digesto.net/ddigital/inteligencia/iamed2.htm

http://www.digesto.net/ddigital/inteligencia/iamed3.htm
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http://www.digesto.net/ddigital/inteligencia/enia99b.htm

Panorama geral:

http://www.digesto.net/ddigital/digital/Panorama1.htm

http://www.digesto.net/ddigital/digital/panorama2.htm

O Ciberesaço e o direito:

http://www.digesto.net/ddigital/digital/ciber1.htm

http://www.digesto.net/ddigital/digital/ciber1.htm

http://www.digesto.net/ddigital/digital/ciber3.htm

Ciberdemocracia:

http://www.digesto.net/ddigital/democracia/orwell1.htm

http://www.digesto.net/ddigital/democracia/orwell2.htm

http://www.digesto.net/ddigital/democracia/orwell3.htm

Direito e telemática:

http://www.digesto.net/ddigital/dt/telematica.htm

Internet e direito:

http://www.digesto.net/ddigital/internet/liberdade1.htm

http://www.digesto.net/ddigital/internet/liberdade2.htm

http://www.digesto.net/ddigital/internet/liberdade3.htm

Justiça e tecnologia da informação:


A tecnologia da informação Jurídica
Hugo Cesar Hoeschl, Dr (org)

http://www.digesto.net/ddigital/justica/direitotecnologia.htm

http://www.digesto.net/ddigital/justica/quatro1.htm

http://www.digesto.net/ddigital/justica/quatro2.htm

http://www.digesto.net/ddigital/justica/quatro3.htm

http://www.digesto.net/ddigital/justica/quatro4.htm

Sigilo de dados:

http://www.digesto.net/ddigital/sigilo/telem1.htm

http://www.digesto.net/ddigital/sigilo/telem2.htm

http://www.digesto.net/ddigital/sigilo/telem3.htm

http://www.digesto.net/ddigital/sigilo/principios1.htm

http://www.digesto.net/ddigital/sigilo/principios2.htm

http://www.digesto.net/ddigital/sigilo/principios3.htm

Contratos em sistemas de inteligência artificial:

http://www.nts.com.br/tarcisio/artigos/contratos_em_sistemas.htm

Comentários à lei 9.609 de 19/02/98 (SOFTWARE):

http://www.nts.com.br/tarcisio/artigos/direito_ciberespaco.htm

O Direito do Ciberespaço:

http://www.nts.com.br/tarcisio/artigos/direito_ciberespaco.htm

Páginas de referência:
A tecnologia da informação Jurídica
Hugo Cesar Hoeschl, Dr (org)

www.digesto.net (busca jurídica, Brasil)

www.findlaw.com (busca jurídica, EUA)

www.clicknsettle.com (mediação e arbitragem na web)

http://juris.eps.ufsc.br (inteligência artificial e direito)

Avaliação dos tribunais na web:

www.digesto.net/ijuris

Tecnologia da informação Jurídica - (sumário):

Histórico do Grupo JURIS

• Especialização
• Mestrado - Direito
• Cadeiras EPS
• Protótipo
• Trabalhos internacionais
• Criação da linha de pesquisa
• Formação do Grupo
• Prêmio 99
• Avaliação dos tribunais, 99

Abrangência

• Tecnologia da Informação Jurídica em sentido estrito;


• Procedimentos Jurídicos na internet;
• Impacto social das novas tecnologias;
• Ainda : Direito Digital e Democracia Eletrônica
A tecnologia da informação Jurídica
Hugo Cesar Hoeschl, Dr (org)

Tecnologia da Informação Jurídica

• Sitemas de informação;
• Informática Jurídica;
• Inteligência artificial e direito.

Desdobramentos

• Procedimentos jurídicos na internet:


• interação
• atos jurídicos digitais (*)
• emissão de documentos com fé pública
• Impacto social das novas tecnologias:
• exclusão
• aprendizado baseado na autonomia
• soberania, conhecimento científico
• Direito Digital
• questões jurídicas
• atos jurídicos digitais (*)
• provas digitaisv
• Democracia eletrônica
• questionamento da representatividade
• escolhas mais constantes
• participação mais efetiva

Tecnologia da informação jurídica

• Discussão teórica, apresentação de seminários baseados nos textos


web e artigos internacionais;
• Apresentação dos protótipos já desenvolvidos pelo grupo:
• Avaliação de sites
• Metajuris
• Sectra
• Jurisconsulto
• Themis
A tecnologia da informação Jurídica
Hugo Cesar Hoeschl, Dr (org)

Próxima aula:

• Apresentação do Metajuris;
• Debate: validade dos documentos públicos digitais. Assinatura
eletrônica e fé pública.
• Seleção dos textos para as proximas aulas.

Regras para o debate

• Duas pessoas para cada lado (escolhidas hoje);


• 15 min para cada debatedor, 30 min no total;
• réplica e tréplica, 5 min por debatedor, 10 min no total;
• Mediadora: Tânia;
• Pontos a serem observados na argumentação:
• Normatização (Constituição, Legislação, Jurisprudência, normas infra-
legais, Doutrina);
• Outros países;
• Aspectos éticos;
• O Futuro.
• Ao final, votação.

Resumo do Debate:

"Pesquisadores de tecnologia aprovam documento digital"


"Um grupo multidisciplinar de pesquisadores reuniu-se para debater a
validade de documentos oficiais, com fé pública, emitidos através da internet.
O exemplo típico deste tipo de documento são as certidões negativas emitidas
por orgãos públicos. O debate fez parte das atividades da cadeira "tecnologia
da informação jurídica", do curso de Pós-Graduação em Engenharia de
Produção e Sistemas da Universidade Federal de Santa Catarina. A discussão
seguiu o formato de um julgamento, semelhante a um júri, onde os
debatedores tem igual tempo para apresentar seus argumentos e replicar a tese
adversária. Depois da argumentação, o debate ficou livre entre todos os
presentes, mesmo aqueles que não fazem parte do grupo de pesquisa. Ao final,
A tecnologia da informação Jurídica
Hugo Cesar Hoeschl, Dr (org)

aconteceu uma votação direta, com voto universal. Por se tratar de um grupo
multidiciplinar, a discussão foi extremamente rica, com exemplos consistentes
a argumentação forte, tanto por parte dos debatedores como por todo o grupo,
composto por profissionais e pesquisadores das áreas de sistemas
computacionais, direito, administração, segurança, psicologia,
biblioteconomia, pedagogia e gestão da informação.

Os debatedores foram:

Lucio Eduardo Darelli e Marcio Bragalia, defendendo a validade, e

Elenice Regina Borges e e Vanessa Luiz Neumzicz, defendendo a necessidade


de maior segurança.

Dentre os argumentos apresentados, merecem destaque os seguintes: A favor:


facilidade administrativa; maior acesso à informação; maior satisfação do
interessado no serviço; possibilidade de adulteração similar ou menor do que
os documentos emitidos em papel; impossibilidade de pagamento de propina;
Contra: ausência de seguranca total; possibilidade de adulteração digital;
ausência de efetiva comprovação da validade dos métodos de criptografia e
assinatura eletrônica; falibilidade ainda não dimensionada dos procedimentos
adotados para emitir tais documentos. O resultado final da votação foi o
seguinte: 76,5% dos pesquisadores consideram válidos os documentos digitais
com fé publica, emitidos por mecanismos digitais, desde que possuam meios
de checagem e validação; 23,5% consideram que ainda não existe seguranca
suficiente para aceitar a validade de tais documentos. Ao final, prevaleceu o
entendimento no sentido de que as fraudes podem ocorrer tanto em meios
físicos como digitais, e que este tipo de problema é de ordem ética e moral, e
não pode ser resolvido pelos computadores, mas eles podem sem dúvida,
tornar a nossa vida mais fácil, desde que adotadas as cautelas necessárias.
Uma delas é que a falsificação de uma certidão digital tem as mesmas
consequências jurídicas que a falsificação de uma certidão física. A cadeira
"tecnologia da informação jurídica", da EPS/UFSC, foi criada pelo Professor
Ricardo Miranda Barcia, PhD, professor titular da UFSC. Hugo Cesar Hoeschl
e Tania Cristina D'Agostini Bueno, mestres e doutorandos, atuam como
professores colaboradores. O interessante de se realizar a discussão neste tipo
de formato é que as pessoas vivenciam a experiência de chegar a um resultado
A tecnologia da informação Jurídica
Hugo Cesar Hoeschl, Dr (org)

concreto e imediato sobre um determinado tema, o que facilita a descrição do


estado da arte em pontos polêmicos e controversos.

O grupo promete outros eventos similares em breve, e alguns dos temas a


serem futuramente debatidos serão os seguintes: "validade da mediação e
arbitragem pela internet"; "sigilo de dados e interceptação das comunicações";
e "procedimentos de proteção da propriedade intelectual no ciberespaço". Por
enquanto, resta parabenizar as entidades brasileiras que já realizam este tipo
de procedimento, oferecendo documentos pela internet."

Matéria veiculada no Estado de São Paulo (www.estadao.com.br)

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