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Quem arrancou a espada das mãos da Justiça?

Somos seres humanos passíveis de erros, com fraquezas, quer sejam


elas, morais, psicológicas, físicas, de personalidade... Entretanto, desde
crianças nos ensinam através da educação familiar, escolar e social que
devemos nos abster dos atos que prejudicam o próximo e a nós mesmos.
E esse processo de aprendizado se faz custoso, à medida que na infância e
adolescência, são impostas regras, as quais de certa forma limitam a
liberdade de ir e vir, de se expressar, de se relacionar com outras pessoas.
Além disso, obrigam-nos a fazer escolhas, deixando de fora algumas
opções.
Os pais nos ensinam valores como retidão, honestidade, paciência,
maturidade, bondade, etc. A sociedade nos cobram eles no cotidiano, nos
tribunais, nas Instituições, na mídia. Aliás, a opinião pública, o juiz
anônimo de olhar agudo e judicial, nos dita o modelo que devemos seguir
para sermos aceitos por ela. E por tudo isso, qual seria o motivo dessa
cobrança? Poderia ser explicada pela velha retórica de que o “o crime não
compensa”, ou “aqui se faz, aqui se paga”?
Pois bem, em resumo, somos criados para nos tornarmos pessoas
decentes, probas, ou seja, de bem, para estudarmos, conseguirmos um
bom emprego, constituirmos família, ganhando um bom salário e
garantindo o futuro dos filhos. Parece simples, mas esse é o cerne de toda
uma vida, o que se busca do mundo. Entretanto, não é fácil assim,
sofremos para conquistarmos essas coisas, abdicamos de prazeres,
momentos felizes, amizades, relacionamentos, dentre outros, para um
futuro sólido.
Construir e manter a construção representa todo o esforço que o
homem dispende, uma vitória diária. O trabalho faz bem à saúde mental e
física. Contudo, trabalhar em excesso cansa, afeta a saúde, perturba a
mente, atrapalha os amores, as amizades, a família.
Logo após todo o sacrifício e as abdicações pessoais, espera-se a
vitória, a qual nem sempre acontece como se almejava. Sem apego ao
moralismo mórbido, mas ser honesto, estudioso, responsável,
competente, bom pai, mãe ou filho é um trabalho árduo, meticuloso,
cansativo, sofrido mesmo. Quem não alcançou esses objetivos não pagou
o preço na vida.
Aliás, esses “caloteiros” ainda têm o benefício de serem menos
cobrados. O probo trabalhador, bom pai de família, é o credor dos
“caloteiros”, porém além de não lhe cobrar os juros, nunca vê sua dívida
liquidada, pelo contrário, cada vez mais tem o dever de dar-lhes mais
crédito.
Nessa licença ilimitada para roubar, matar, estuprar, traficar, furtar,
o justo se cansa de sua justiça, o trabalhador do seu trabalho, o
competente de sua competência, o sábio de sua sabedoria. A justiça, o
trabalho, a competência e a sabedoria ao invés de se proliferarem,
aumentarem sua proporção, se imporem, são usados não para combater a
perfídia, a marginalidade, a maldade, mas para as tolerarem até o limite, o
qual ainda não se conhece, pois nunca foi estabelecido.
Deus é infinito em sua misericórdia, mas implacável em sua ira
diante até mesmo de um servo seu, se o desobedece. Se o homem é
criado à imagem e semelhança dele, porque os líderes, os quais segundo
as escrituras sagradas são autoridades constituídas por Deus, não fazem
justiça aos pobres, às viúvas, aos órfãos, aos fracos?
Quem deturpou o conceito de justiça? Qual se mostra mais correto,
poupar o criminoso do seu castigo devido ou tentar convencer a vítima
desse a perdoá-lo e compreender que seu algoz irá ter uma represália
mais leve?
Os parâmetros dos valores afastam-se cada vez mais da verdade. Os
direitos humanos gritam clemência ao Estado e à sociedade para aliviarem
a pena do marginal, o que entra na casa do honesto trabalhador e bom pai
de família e ameaça a vida de todos com uma arma de fogo, roubando-lhe
o seu sustento.
Os direitos humanos cobram da opinião pública e das Autoridades,
que sejam medianos em suas avaliações em relação àquele malfeitor,
porque afinal era apenas um jovem, o qual roubou porque gostaria de ter
tênis e roupas de marcas. O seu crime foi ser sonhador e o disparo da
arma de fogo, é pelo fato de estar com medo, pois ele é uma “vítima do
sistema”.
Quem é a vítima nessa situação? Suscitemos uma análise. De uma
maneira geral, o honesto trabalhador Jeremias, para adquirir o tênis e
roupas de marcas, passou no mínimo um mês inteiro de trabalho,
acordando cedo, muitas vezes suprindo horários devidos de alimentação,
suportando destrato de seu patrão e clientes. Antes do mês inteiro de
serviço, em sua infância recebeu castigos físicos de seus pais, para educá-
lo, deixou de jogar bola com os coleguinhas para estudar, sofreu quando
via os brinquedos novos de seu amigo rico, os quais sempre quiseram ter.
Na adolescência, deixou de freqüentar alguns lugares devido a sua
condição financeira, bem como não conseguiu conquistar o coração da
menina mais bonita do ginásio pelo mesmo motivo, porque ela não
gostaria de ir embora montada numa bicicleta. Passou a vida pensando no
amanhã, o qual seria tudo diferente, sem privações. Porém isso não
aconteceu, continua assalariado, contando os centavos e agora roubado,
sendo que vozes dissimuladas lhe dizem que isso é normal, que tolere
isso. Quando a PM foi até sua casa, após o crime, o policial lhe disse que
conforme as características, o elemento é o vulgo “Tinho”, que só por ele,
já foi preso duas vezes. Na Delegacia, o investigador lhe disse que
estavam no encalço do malandro, porém seus pertences não foram
recuperados. Compareceu ao Fórum por duas vezes, após reclamação de
seu patrão para liberá-lo, e escutou o Juiz dizer que o “Tinho” ganharia o
“sursis”. O que é isso? Perguntou pra alguém e ouviu que “a pena
privativa de liberdade foi substituída pela pena restritiva de direitos”.
Continuou não entendendo, até que viu o “Tinho” transitando pelo seu
bairro dois meses depois.
Coitado de Jeremias! Não sabia ele que agora querem proibir de
mostrar o rosto dos marginais na Imprensa, porque é atentatório contra os
direitos deles e de seus familiares. Ora, afinal está na moda lutar pela
preservação dos direitos humanos, os afinadíssimos operadores do Direito,
filósofos de seus mundinhos utópicos, aliás, os seus universos particulares,
apresentam-se como os heróis com discursos, debates e ações
“sentimentalóides”. Conhecem o crime e o criminoso dos papéis, dos
processos, das estórias que chegam a suas mesas, em suas salas com ar
condicionado e cadeiras de espuma. Os conselheiros deles para esses
assuntos são Mirabette, Damásio, Capez e não o Sr. Jeremias ou a Dona
Maria, vítimas anônimas dos caprichos desses juízes pueris. O Direito
teórico, em sua forma e substância, torna-se encantador, a ponto de
torná-lo improfícuo para o julgamento justo no caso concreto.
A Justiça dos homens, tem se tornado um mito, já que se ouve falar,
mas não se realiza, não existe. O Judiciário e Ministério Público
representam para os cidadãos dos bairros carentes, Instituições
inatingíveis, distantes demais de suas realidades. Os juízes e promotores
raramente descem de seus pedestais para ao menos visitarem as
comunidades pobres e conhecerem o mundo real em suas cores
desmaiadas, diferente do cotidiano desses profissionais, os quais recebem
tantos benefícios e regalias, que se tornaram melindrosos.
As modas, os governos, os pensamentos, os hábitos passam, porque
os tempos mudam, mas a atual legislação e postura das Autoridades
brasileiras demonstram-se anacrônicas. A atual marginalidade não é mais
somente organizada, com ramificações na política, nos órgãos públicos,
nas Autoridades, nos representantes políticos, agora ela é uma idéia, com
propagandas subliminares, apresentando o marketing implícito “o crime é
sedutor e uma aventura ou ofício que vale a pena”. O legislativo com suas
leis mornas, o Executivo com sua filosofia de direitos humanos para
bandidos e o Judiciário com suas sentenças frouxas, reproduzem um
sistema que obrigam o honesto trabalhador a tolerar o crime.
A verdade é que as Autoridades desse país não conseguem conter o
crime e ao invés de combater o criminoso, tenta promover a política dos
direitos humanos, como forma de ludibriarem os cidadãos de bem a não
se escandalizarem com a marginalidade. Afinal, tudo isso revela um
processo de dominação dos países desenvolvidos que emprestam dinheiro
ao Brasil e que exigem como um dos requisitos para tal, a atuação de
entidades dos direitos humanos no país. Essas atuam como controladoras
das polícias e do Judiciário do Estado, forças de sustentação para países
desenvolvidos e independentes, retirando-lhe a autonomia e soberania.
Militam de forma mercenária atendendo interesses de hegemonia
estrangeira.
Esses militantes tentam nos convencer de que a dor da mãe do
malfeitor morto pela polícia é maior do que aquela sentida pela mãe da
vítima de latrocínio. Para isso, acusam a polícia de violenta e opressora
dos fracos e apresenta a biografia do criminoso ilustrada pela infância
pobre, sem a figura paterna, morador da favela.
Realmente é um horror presenciar um filho bandido morto, mas essa
mãe sabe que ele mesmo procurou esse caminho, ao desconsiderar os
seus conselhos, não se empenhar nos estudos, não lutar por salário digno
de trabalho honesto. As próprias escrituras sagradas revelam a verdade de
que “o salário do pecado é a morte”. Por menores e poucas que sejam,
existiu possibilidades de esse infrator não ter se metido no crime, mas
preferiu as sedutoras ofertas de dinheiro fácil e rápido que o tráfico e
roubo lhe possibilitariam.
A segunda mãe, pergunta-se qual foi o pecado ou crime de seu filho,
ou mesmo o seu, pra merecer tamanha desgraça, pois ele não ocasionou
aquele desfecho, já que pagou o preço da vida: estudou, economizou,
trabalhou muito, abdicou de prazeres, não trapaceou, fez o bem.
Por tudo isso, o seu choro não foi enfatizado nos meios de
comunicação, nem todos se indignaram, não fizeram manifestação,
porque a mãe do criminoso ocupou o destaque da mídia, houve revolta da
população contra o policial, as manchetes transformaram o criminoso em
“jovem trabalhador morto pela polícia” e ainda morador saíram às ruas
para quebrar e incendiar carros e prédios, como represália à ação. Além
disso, o Ministério Público e as entidades dos direitos humanos se
pronunciaram publicamente, dizendo que iriam acompanhar as
investigações sobre o caso e que os culpados seriam punidos e
processados pelo Estado.
Até onde vai a compreensão e resignação do justo? Quais são os
parâmetros para se medí-las? Além de Deus quem apóia o justo? O justo
deve se compadecer pelo outro justo ou do errante? Quem arrancou a
espada das mãos da Justiça?

Valéria

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