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Conteúdo

Lista de Figuras 8

Resumo 9

Abstract 10

1 Introdução 11

2 Introdução ao eletromagnetismo 14
2.1 Ação para a partı́cula livre . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14
2.2 Interação partı́cula-campo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
2.3 Quadri-corrente . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18
2.4 Equações de movimento de uma carga em um campo . . . . . . . 19
2.5 Equações de Maxwell . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22
2.6 Transformação de calibre . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27

3 Algumas formas para os potenciais e quantização semi-clássica 28


3.1 Formas de potenciais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28
3.1.1 Singularidade do potencial vetor . . . . . . . . . . . . . . . 28
3.1.2 A corda de Dirac . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33
3.2 Quantização semi-clássica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35
3.2.1 Análise da condição de quantização de Dirac . . . . . . . . 35

4 Formulações com dois potenciais 41


4.1 Eletromagnetismo com carga magnética e dois potenciais . . . . . 42
4.1.1 Força de Lorentz a partir de um princı́pio variacional . . . 45
2

4.1.2 Momento angular e condição de quantização . . . . . . . . 52


4.2 Uma ação para a eletrodinâmica com 2 potenciais . . . . . . . . . 54

5 Condição de quantização 60

6 Equações de Maxwell e a redução para 2+1 D 72


6.1 Uma nova visão para a dualidade de Hea-
viside . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 72
6.1.1 A dualidade revisitada . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 73
6.2 Magnetodinâmica em 2+1 D . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 75
6.2.1 Redução dimensional . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 76
6.3 Análise do 1o setor com e sem CS. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 80
6.4 Introdução de um termo de Chern-Simons no 2o setor . . . . . . . 82

7 Conclusão 83

A Notação 85

B Formulação tipo férmion 87


B.1 Definição . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 87

C Solução clássica para uma carga elétrica em interação com um


monopolo magnético 92

D Carga elétrica na presença de um dipolo magnético 98

Bibliografia 103
Lista de Figuras

3.1 Fluxo magnético através de uma área hachurada . . . . . . . . . . 29


3.2 Corda de Dirac . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30
3.3 Regiões de contorno do monopolo . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32
3.4 Representações de um monopolo. O primeiro como uma linha de
dipolos e o segundo como um solenóide. . . . . . . . . . . . . . . . 33
3.5 Duas cordas diferentes L e L ’, fornecendo potenciais vetores diferindo
por uma transformação de calibre. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35
3.6 Carga e passando por um monopolo magnético g. . . . . . . . . . 36
3.7 Dipolo de Thomson (cargas elétrica e e magnética g em repouso). 37

C.1 Energia em função da coordenada r. . . . . . . . . . . . . . . . . . 95


C.2 Trajetória da partı́cula na presença de um monopolo. . . . . . . . 96
9

PEIXOTO, B. Aspectos do Eletromagnetismo em 3+1 e 2+1 Dimensões


com Quebra da Identidade de Bianchi.
Guaratinguetá, 2002, 105p. Dissertação (Mestrado em Física) - Facul-
dade de Engenharia, Campus de Guaratinguetá, Universidade Estadual Paulista.

Resumo

Nesta dissertação estudamos algumas caracterı́sticas dos aspectos do


eletromagnetismo em 3+1 e 2+1 dimensões com quebra da identidade de Bianchi.
Particularmente analisamos como obter a condição de quantização de Dirac.
Damos atenção à formulação de dois fótons para o eletromagnetismo com monopo-
los magnéticos a partir das diversas abordagens da formulação dada na literatura
em 3+1 dimensões (3+1 D). Esta formulação se caracteriza pela duplicação de
potenciais para os campos, evitando a utilização de variáveis singulares (cordas
de Dirac) na eletrodinâmica clássica. A introdução de um novo potencial não
aumenta o número de variáveis independentes. Além de evitar a singularidade
existente no potencial, esta formulação tem a vantagem de permitir a implemen-
tação da rotação dual para os potenciais, o que não é possı́vel na formulação
usual.
Fazemos uma crı́tica da condição de quantização feita por abordagem
semi-clássica, e procuramos obter a condição de quantização de Dirac de uma
forma simples utilizando a álgebra su(2) para o momento angular total (eletro-
magnético + mecânico) da partı́cula de carga e em interação com um monopolo
magnético, bem como a representação unitária das rotações.
Além disso, através de uma redução dimensional, conseguimos escrever
uma formulação para o caso de 2+1 dimensões (2+1 D), com fontes magnéticas,
sem a necessidade da quebra da identidade de Bianchi.

PALAVRAS-CHAVE: Eletromagnetismo; Quantização de Dirac; Monopo-


lo magnético; Duplicação de potenciais; Rotação dual; Identidade de Bianchi.
10

PEIXOTO, B. Aspects of the electromagnetism in 3+1 and 2+1 dimen-


sions with the breaking of Bianchi Identity.
Guaratinguetá, 2002, 105p. Dissertação (Mestrado em Física) - Facul-
dade de Engenharia, Campus de Guaratinguetá, Universidade Estadual Paulista.

Abstract

Here we have studied some aspects of the electromagnetism in 3+1 and


2+1 dimensions with the breaking of Bianchi Identity. Particularly we analyze
how to obtain the Dirac quantization condition. We give special attention to
the “two-photons” formulation for the electromagnetism according to the sever-
al approaches found in the literature. The main feature of this formulation is
the duplication of the potentials - from which we obtain the fields strengths -,
avoiding singular variables (Dirac strings) in the Classical Electrodynamics. The
introduction of a new potential does not increase the number of degrees of free-
dom. Besides this formulation allows the dual notation for the potentials what is
not possible in the usual formulation. We criticize the semi-classical quantization
condition and look for a way of obtain the Dirac quantization condition by using
the su(2) algebra of angular momentum (electromagnetic + mechanical) of the
particle of charge e interacting with a magnetic monopole.
Besides we get a formulation in 2+1 dimensions with magnetic source
without breaking the Bianchi identity. This is obtained by means of a dimensional
reduction.

Key-Words: Electromagnetism; Dirac quantization; Magnetic monopole;


Potential duplication; Dual rotation; Bianchi Identity.
Capı́tulo 1

Introdução

Há muito tempo, vem sendo estudada a questão da dualidade no eletromag-


netismo. Provavelmente, estes estudos já vêm sendo feitos desde a época de
Maxwell. De fato, as equações de Maxwell no vácuo apresentam simetrias. Pos-
suindo invariançia sob transformação de Lorentz e sob dualidade eletromagnética.
A invariância de Lorentz pode ser verificada ao se escrever as equações de Maxwell
em função do tensor de intensidade de campo, que mesmo com a presença de
fontes elétrica e magnética, a dualidade é preservada. O que relaciona o tensor
de intensidade de campo com o seu dual é uma transformação de dualidade, a
qual também pode ser implementada para as fontes.
A simetria de dualidade presente nas equações de Maxwell livres de fontes
[12] tem recebido bastante atenção nos últimos anos, pois constitui um laboratório
para entender o comportamento das soluções e por causa de sua relação com
as simetrias de dualidade presentes em teoria de cordas [25] e em teorias de
dimensões espaço-temporais. Um dos objetivos principais é construir uma ação
simétrica sob dualidade e que seja manifestamente invariante de Lorentz, uma
vez que a ação de Maxwell usual, embora respeite a última, não é invariante sob
a primeira. De fato, a lagrangeana que nos conduz às equações de Maxwell é
impar sob tal transformação. Existem algumas maneiras de se construir ações
que apresentam simetria de dualidade [3, 16, 20, 28, 30] sendo que algumas delas
necessitam duplicar o número de potenciais [24], [34], [35] e outras têm como
variáveis independentes os próprios campos eletromagnéticos [19], [32]. Um dos
12

nossos objetivos é a introdução de fontes para o campo eletromagnético para duas


lagrangianas propostas na literatura e que usam os campos eletromagnéticos como
variáveis independentes procurando generalizar os resultados das referências [19]
e [32]. A tentativa de generalizar os trabalhos contidos nestas duas referências,
se encontra no apêndice B. Uma das propostas mais estudadas na literatura é
aquela de Schwarz e Sen [24] que, embora não seja manifestamente covariante
é invariante de Poincaré. Recentemente foi proposta uma versão generalizada
da ação de Schwarz-Sen que não só inclui a extensão da simetria de dualidade,
tratando-a como um caso particular de uma simetria contı́nua, como também
promove a simetria contı́nua para local [31].
A introdução do monopolo magnético aparece como uma necessidade
quando se deseja introduzir a dualidade no eletromagnetismo com fontes [12],
por outro lado a manutenção da mesma estrutura de potenciais, como é feito
usualmente no eletromagnetismo, implica em singularidades no potencial vetor.
Para evitar tais singularidades, Cabibbo e Ferrari propuseram o eletromagnetismo
com um potencial adicional [6]. Estudos da dualidade e conseqüências da intro-
dução de um potencial extra (duplicação de potenciais) têm sido conduzidos por
Naón e colaboradores [37], [34] e por Singleton [26]. Pretendemos analisar como
esta proposta se traduziria no eletromagnetismo em 2+1 dimensões. Embora não
haja a simetria de dualidade em 2+1 dimensões, podemos introduzir o monopolo
magnético através da quebra da identidade de Bianchi, implicando também em
singularidades nos potenciais. Conseqüências da quebra da identidade de Bianchi
têm sido analisadas recentemente [3], [16-18], [24], [26], [27-32].
O sistema de unidades escolhido é o de Heaviside-Lorentz.
No Capı́tulo 2, apresentamos uma breve introdução ao eletromagnetismo
usual, com as equações de movimento da interação partı́cula-campo. Escrevemos
as equações de Maxwell e analisamos a invariância dos campos sob uma transfor-
mação de calibre dos potenciais. No Capı́tulo 3 faremos uma análise da condição
de quantização de Dirac utilizando várias abordagens diferentes. Para a quanti-
zação semi-clássica, consideramos primeiramente a interação entre uma partı́cula
carregada eletricamente com o camo de um monopolo magnético estacionário e
13

obtivemos, da dependência do momento angular da partı́cula com o produto das


cargas elétrica e magnética, a condição de quantização de Dirac. Em outra abor-
dagem, obtivemos a tal condição pela interação da partı́cula elétrica com o campo
de um dipolo de Thomson, onde observamos que o momento angular do campo
eletromagnético é dependente apenas do produto das cargas elétrica e magnética
e não da distância entre elas esta abordagem está feita no apêndice D. Uma outra
abordagem foi feita para uma carga elétrica interagindo classicamente com o cam-
po magnético de um monopolo magnético. Aqui, partindo-se da hamiltoniana das
interações e da invariância da equação de Schrödinger sob uma transformação de
calibre e da condição para que a função de onda seja unı́voca, tiramos a condição
de quantização de Dirac. No Capı́tulo 4, discutimos os vários tipos de formal-
ismos de dois potenciais, em que escrevemos a condição de quantização para o
momento angular, procurando por uma ação que descrevesse a eletrodinâmica
usual neste formalismo. No Capı́tulo 5, escrevemos sobre a condição de quan-
tização utilizando um formalismo de operadores da Mecânica Quântica para a
interação de uma partı́cula de carga elétrica se movimentando em um campo ger-
ado por um monopolo magnético. A abordagem que fizemos neste capı́tulo, em
princípio não levou em consideração a forma explicita do potencial vetor. Além
do mais, tratamos também neste capı́tulo, do momento angular total do sistema,
que foi importante para a obtenção da condição de quantização, impondo-se uma
condição de mı́nimo, conseguiu-se a posteriori, as representações para estes po-
tenciais, cujas formas foram do tipo do monopolo de Wu-Yang. Concluı́mos, no
Capı́tulo 6, fazendo uma redução de 3+1 dimensões para 2+1 dimensões do for-
malismo tratado até o momento e conseguimos analisar a questão da dualidade e
do monopolo magnético sem a necessidade de se quebrar a identidade de Bianchi.
Dissertamos também sobre soluções planares para os campos e para o potencial
pseudo-escalar. Além do mais, propusemos uma ação para o caso de 2+1 D e
escrevemos como seria a magnetodinâmica neste espaço-tempo, inclusive quando
da introdução de um termo de Chern-Simons.
Capı́tulo 2

Introdução ao eletromagnetismo

2.1 Ação para a partı́cula livre


Nesta seção, vamos escrever uma ação para a partı́cula livre, e utilizando as
equações de Euler-Lagrange, vamos escrever a equação de movimento para a
partı́cula.
O princı́pio de Hamilton fornece as equações de Euler-Lagrange,
· ¸
d ∂L
− ∂ α L = 0,
ds ∂ (Uα )

em que (ds)2 = dxα dxα é o elemento infinitesimal de comprimento no espaço


quadri-dimensional.
A ação para a partı́cula livre de massa m pode ser escrita em função do
tempo próprio τ da partı́cula

Z τb p
S = −mc Uα U α dτ , (2.1)
τa

e a integral se dá ao longo da linha de universo da partı́cula,


r
p dxα dxα
Uα U α dτ = dτ
dτ dτ

p
dxα dxα = ds

sendo que ds se relaciona com o tempo próprio da partı́cula


15

ds = cdτ .

O quadri-vetor velocidade da partı́cula pode ser escrito como

dxα dxα
Uα = =
ds cdτ

assim, a ação fica sendo escrita em função de xα ,

Z bp Z b
S = −mc dxα dxα = −mc U α dxα (2.2)
a a

e a variação da ação é tal que

Z b Z b
α α dU α
δS = −mc U dδxα = −mcU δxα |ba +mc δxα dτ (2.3)
a a dτ

com a variação do caminho nos extremos δ (xα )a = δ (xα )b = 0, e tornando-a um


extremo δS = 0. Dessa forma, tem-se

dU α d2 xα
m = 0; m = 0.
dτ dτ 2

que é o esperado para o movimento de uma partı́cula livre.


Mas uma partı́cula se movendo em um campo eletromagnético também
pode interagir com ele, e a ação agora terá duas partes. Uma referente à partı́cula
livre e outra referente à interação da partı́cula com o campo. Isto será visto na
seção seguinte.

2.2 Interação partı́cula-campo


Nesta seção e nas duas seguintes, discutiremos o eletromagnetismo usual como é
tratado na literatura [12].
Para uma partı́cula movendo-se em um campo eletromagnético, a ação
³ Rb ´
se dá sob duas partes: a ação S para a partı́cula livre, que é igual a −mc a ds
e mais um termo possuindo caracterı́sticas da partı́cula e do campo, que descreve
a interação da partı́cula com o campo.
16

A carga e da partı́cula interage com o campo eletromagnético, que possui


propriedades caracterizadas por um quadri-vetor potencial Aµ , cujas componentes
são funções das coordenadas e do tempo.
A ação de uma carga em um campo eletromagnético possui a seguinte
forma:

Z b³ ´
e
S= −mcds − Aµ dxµ . (2.4)
a c
O quadri-vetor Aµ é decomposto em duas partes, uma parte temporal,
para µ = 0 usualmente chamada de potencial escalar φ e em uma outra parte,
~
para µ = 1, 2, 3 chamada de vetor potencial do campo A.

³ ´
~ .
Aµ = φ, A (2.5)

As equações de Maxwell na forma covariante podem ser escritas usando-


se o tensor de campo eletromagnético Fµν = ∂µ Aν − ∂ν Aµ , em que Fµν e seu dual

F µν são dois tensores covariantes de ordem dois, formados por seis quantidades
cada um. Dessa forma, as equações de Maxwell escritas na forma covariante

aparecem como: ∂ µ Fµν = Jνe , assim como as equações homogêneas ∂ µ F µν = 0
A ação é descrita como

Z b³ ´
e~
S= −mcds + A · d~r − eφdt . (2.6)
a c
Com o vetor velocidade da partı́cula ~v e o tempo próprio para este ob-
jeto, é possı́vel reescrever a ação para esta partı́cula sobre influência do campo
eletromagnético.
µ ¶ 21
d~r v2
= ~v e ds = cdt 1 − 2 ,
dt c

Z " µ ¶1 #
t2
v2 2 e ~
2
S= −mc 1 − 2 + A · ~v − eφ dt (2.7)
t1 c c
O integrando é a lagrangiana para uma carga em um campo eletro-
magnético:
17

µ ¶ 12
2 v2
e~
L = −mc 1− 2
+ A · ~v − eφ. (2.8)
c
c
· ³ ´1 ¸
2 v2 2
Esta função difere da lagrangiana para uma partı́cula livre L = −mc 1 − c2
~ · ~v − eφ.
pelo termo ec A
Com a lagrangiana já pronta, escreveremos a hamiltoniana H para este
sistema em questão.
A derivada ∂L
∂~v
é o momento generalizado da partı́cula, denotada por P~ ,
tal que:

m~v e~ e~
P~ = ¡ ¢ 1 + A = p~ + A. (2.9)
2
1 − vc2 2 c c

onde p~ é o momento ordinário da partı́cula, ou simplesmente seu momento.


A partir da lagrangiana (2.8) encontra-se a função hamiltoniana H para
uma partı́cula em um campo.

∂L
H = ~v · −L
∂~v

µ ¶2 ³
H − eφ e ~ ´2
= m2 c2 + P~ − A . (2.10)
c c
Para baixas velocidades, isto é, para a mecânica clássica não relativı́stica,
a lagrangiana (2.8) reduz-se a

mv 2 e ~
L= + A · ~v − eφ. (2.11)
2 c
Nesta aproximação, p~ = m~v = P~ −eA,
~ e encontra-se para a hamiltoniana:

1 ³ ~ e ~ ´2
H= P − A + eφ, (2.12)
2m c
que é a hamiltoniana da interação carga-campo.
Na próxima seção mostraremos a corrente escrita no espaço-tempo quadri-
dimensional, com sua parte temporal e sua parte espacial.
18

2.3 Quadri-corrente
Considerando uma distribuição contı́nua de carga por todo o espaço, tem-se que
um elemento de volume dV possui uma quantidade de carga ea .
A densidade de carga ρ pode ser expressada através de funções delta δ
da seguinte forma:

X
ρ= ea δ (~r − ~ra ) (2.13)
a

onde vê-se que a densidade de carga é nula em quase todo lugar que se olhe,
mesmo somando sobre todas as cargas, exceto nos pontos em que ~r = ~ra . Tem-
se que ~ra é o raio vetor da quantidade invariante que é a carga ea . A carga é
invariante porque não depende do sistema de referência.
Em geral, a densidade de carga varia conforme a escolha do sistema
de referência. Mas a carga contida no volume dV dada pelo produto, é uma
quantidade invariante. Dessa forma, tem-se que

dxµ
de dxµ = ρ dV dxµ = ρ dV dt . (2.14)
dt
Como de é um escalar e dxµ é um quadri-vetor, o lado direito de (2.14)
também precisa ser um quadri-vetor, dessa forma, a quantidade deve ser um
quadri-vetor corrente Jeµ , já que dV dt é um escalar.

dxµ
Jeµ = ρ (2.15)
dt
que pode ser separada em componentes temporal e espacial. A componente tem-
poral J 0 é a própria densidade de carga, e a componente espacial ~j é o vetor
densidade de corrente ρ~v , sendo que ~v é a velocidade da carga em um dado pon-
to.

³ ´
Jeµ = cρ, ~j . (2.16)

Pode-se encontrar a carga que ocupa o espaço integrando ρ dV sobre


todo o espaço, ou
19

Z Z Z
1 0 1
ρdV = J dV = Jeµ dSµ (2.17)
c c
A integral é tomada sobre todo o hiperplano quadri-dimensional perpendicular
ao eixo t.
Agora, colocaremos uma carga na presença de um campo, e estudaremos
como as equações de movimento para este sistema carga-campo são escritas.

2.4 Equações de movimento de uma carga em


um campo
Uma carga localizada em um campo está sujeita à ação de uma força exercida
pelo campo e também ela interage com o campo alterando-o. A carga e pode
ser pequena o suficiente para não afetar o campo, dessa forma, sua ação sobre
o campo pode ser desprezada. Nesse caso, quando se considera o movimento
da carga em um dado campo, é possı́vel supor que o campo não depende das
coordenadas ou da velocidade da carga.
A variação da ação permite encontrar as equações de movimento. Das
equações de Lagrange

µ ¶
d ∂L ∂L
= , (2.18)
dt ∂~v ∂~r
³ ´ 21
onde L = −mc2 1 − v2 ~ v −eφ,
+ ec A·~ ∂L
é o momento generalizado da partı́cula
c2 ∂~v

e
∂L ³ ´
~ = e∇
= ∇L ~ A~ · ~v − e∇φ
~
∂~r c
³ ´
~ A
Aplicando a fórmula da análise vetorial para ∇ ~ · ~v , encontra-se

∂L e³ ~´ ~ e ~ ×A
~ − e∇φ.
~
= ~v · ∇ A + ~v × ∇
∂~r c c
Dessa forma, a equação de Euler-Lagrange toma a forma:

d ³ e ~´ e ³ ~ ´ ~ e ~ ×A
~ − e∇φ,
~
p~ + A = ~v · ∇ A + ~v × ∇ (2.19)
dt c c c
20

~
dA ~
∂A
mas a diferencial total dt
dt consiste de duas partes: ∂t
dt do potencial vetor
com o tempo em um ponto fixo no espaço e a carga devido ao movimento de um
ponto no espaço para outro em uma distância d~r. Esta segunda parte é igual a
³ ´
~ A.
d~r · ∇ ~

~
dA ~ ³
∂A ´
= ~
+ ~v · ∇ A.~
dt ∂t

Substituindo na derivada do momento

d~p ~
e ∂A e ³ ´
=− ~ ~ ~
− e∇ φ + ~v × ∇× A . (2.20)
dt c ∂t c
Esta equação descreve o movimento de uma partı́cula sob a ação de um
campo eletromagnético. Ela mostra a taxa de variação do momento da partı́cula
com o tempo, e que em um campo eletromagnético, a carga está sob a ação
de uma força composta de duas quantidades independentes da velocidade da
~ e de uma quantidade
partı́cula, uma chamada de intensidade de campo elétrico E
que depende da velocidade da partı́cula, sendo perpendicular a ela, denotada de
~
intensidade de campo magnético B.

~
~ = − 1 ∂A − ∇
E ~ φe ; (2.21)
c ∂t

~ = ∇×
B ~ A.
~ (2.22)

Um campo eletromagnético é em geral uma superposição dos campos


elétrico e magnético podendo ser do tipo elétrico ou do tipo magnético, se respec-
~ = ~0 ou E
tivamente, B ~ = ~0.

Escrita em função dos campos elétrico e magnético, a equação de movi-


mento fornece uma expressão chamada de força de Lorentz:

d~p ~ + e ~v × B.
~
= eE (2.23)
dt c
A força que o campo elétrico exerce sobre a carga é independente da
velocidade da carga tendo a direção do campo elétrico e a força exercida pelo
21

campo magnético sobre a carga é proporcional à velocidade e perpendicular em


relação à velocidade e ao campo magnético.
Para velocidades baixas comparadas com a velocidade de propagação da
luz no vácuo, o momento da partı́cula tende para a expressão não relativı́stica
m~v e a equação de movimento (2.9) se torna

µ ¶
d~v ~
v ~ .
~ + ×B
m =e E (2.24)
dt c
Ao achar a variação da energia cinética K da partı́cula com relação ao
tempo, encontra-se uma igualdade

dK dP~
= ~v · ,
dt dt

a qual pode ser escrita como


 
dK d  m .
=
dt dt 1 − v2 ¢ 12
¡
c2

Sendo o momento ordinário da partı́cula, denotada por p~

m~v
p~ = ¡ ¢ 21 (2.25)
v2
1− c2

d~p m d~v
~v · =¡ ¢ 3 ~
v· . (2.26)
dt 2
1 − vc2 2 dt
dK d~
p
Portanto, tem-se a igualdade dt
= ~v · dt
.
³ ´
Trocando d~
p ~
de (2.23) e lembrando que ~v × B · ~v = 0, tem-se que
dt

dK ~ · ~v .
= eE (2.27)
dt
A variação da energia cinética com o tempo, descrita como uma função
do produto da velocidade da partı́cula pela força elétrica, é o trabalho realizado
pelo campo elétrico sobre a partı́cula a cada instante de tempo. E durante um
~ · d~r. O trabalho
certo deslocamento d~r da carga, este trabalho é dado por eE
realizado sobre a carga se dá em função da ação do campo elétrico sobre a carga
22

e não da ação do campo magnético em uma carga em movimento, pois a força


que o campo magnético atua sobre a carga é perpendicular à velocidade da carga.
A seguir, escreveremos as equações de Maxwell para o eletromagnetismo
usual.

2.5 Equações de Maxwell


As equações usuais para os campos do eletromagnetismo clássico possuem duas
equações não homogêneas dadas por1 :

~
~ ·E
∇ ~ = ρe , ∇ ~ = ∂ E + J~e ,
~ ×B (2.28)
∂t
e duas equações homogêneas

~
~ ·B
∇ ~ = 0, ∇ ~ + ∂ B = 0.
~ ×E (2.29)
∂t

As equações de campo para o vácuo, em que ρe = 0 e J e = 0, evidenciam
~ →B
uma simetria ao se fazer a transformação dual de E ~ eB ~ → −E, ~ em que

as duas equações de cima (2.28) se transformam nas duas de baixo (2.29) e vice-
versa. Este tipo de simetria se chama simetria dual do eletromagnetismo.
Os campos elétrico e magnético podem ser escritos em função dos poten-
³ ´
~
ciais φe , A , sendo dados pelas equações (2.21) e (2.22), devido à divergência do
rotacional e do rotacional do gradiente serem iguais a zero.
A fonte obedece a uma equação da conservação, conhecida como equação
da continuidade:

∂ρe ~ ~
+ ∇.Je = 0. (2.30)
∂t
A equação da conservação da corrente pode ser escrita como:

∂µ Jeµ = 0 (2.31)

onde Jeµ é dado por (2.16).


1
( A partir desta seção fazemos c = 1.)
23

Para escrever as equações de Maxwell, tem-se o tensor de campo eletro-


magnético

Fµν = ∂µ Aν − ∂ν Aµ .

e seu dual F̃µν .

1
F̃µν = εµνρσ F ρσ
2
onde εµνρσ é o tensor antissimétrico de ordem quatro, com εµνρσ = −εµνρσ .


 +1 para µ = 0, ν = 1, ρ = 2, σ = 3,




 e qualquer permutação par
µνρσ
ε =

 −1 para qualquer permutação ı́mpar




 0 se dois ı́ndices forem iguais

O tensor εµνρσ é um pseudo tensor sob inversões espaciais. O tensor de intensi-


dades de campo F µν e seu dual F̃µν são definidos como
 
0 −Ex −Ey −Ez
 
 
 Ex 0 −Bz By 
F µν = 

;
 (2.32)
 Ey Bz 0 −Bx 
 
Ez −By Bx 0

e o dual  
0 −Bx −By −Bz
 
 
 Bx 0 Ez −Ey 
F̃µν =

.
 (2.33)
 By −Ez 0 Ex 
 
Bz Ey Bx 0
Podemos derivar as equações de Maxwell escrevendo a densidade de la-
grangiana

1 1 ³ ~ 2 ~ 2´
L = − Fµν F µν = E −B . (2.34)
4 2
É possı́vel mostrar que a hamiltoniana para o campo magnético livre,
sendo a soma da energia elétrica e magnética é dada por
1 ³ ~ 2 ~ 2´
H= E +B . (2.35)
2
24

As equações de Maxwell escritas na forma covariante são derivadas de:

∂ µ Fµν = Jνe (2.36)

de onde se tiram as equações (2.28) .


assim como de

∂ µ F̃µν = 0, (2.37)

se tiram as equações homogêneas (2.29) .


Finalizando este capı́tulo, é possı́vel mostrar, entretanto que recuperamos
a simetria dual se introduzimos fontes magnéticas [3].


 ~ ·E
∇ ~ = ρe




 ~ ·B
∇ ~ = ρm
→ . (2.38)

 ~ ×B
∇ ~ = ∂ E~ + J e

 ∂t

 →
 ∇
~ ×E~ = − ∂ B~ − J m
∂t

As densidades magnéticas e elétricas obedecem à equação da continuidade,


ou seja (2.30) e

∂ρm →
~ Jm
= −∇· (2.39)
∂t
Assim, as equações de Maxwell com fontes (2.38) são invariantes sob as
rotações duais:

 E~ →E~ cos θ + Bsenθ
~
(2.40)
 B
~ → −Esenθ
~ +B ~ cos θ

 ρ → ρ cos θ + ρ senθ
e e m
(2.41)
 ρ → −ρ senθ + ρ cos θ
m e m
 → → →
 J e → J e cos θ+ J m senθ
→ → → , (2.42)
 J
m → − J e senθ+ J m cos θ
³ ´
~
neste caso, não há como implementar a rotação dual para os potenciais φe , A .
25

Os campos E ~ eB~ diferem entre si por uma inversão espacial ou transfor-


³ ´ ³ ´
~ J~e ; pseudo-vetores B,
mação de paridade (~r → −~r) , sendo vetores: E, ~ J~m ;

escalar ρe e pseudo-escalar ρm . Para θ = − π2 :

~ → −B;
E ~ ~ → E;
B ~ ρe → −ρm ;

ρm → ρe ; J~e → −J~m ; J~m → J~e .

Escrevendo as equações na forma covariante, define-se Eµ = F 0µ ; Jeµ =


³ ´ ³ ´
~ µ ~
ρ, J ; Jm = ρm , Jm , dessa forma, as equações de Maxwell ficam sendo

∂µ F µν = J ν (2.43)

∼ µν
ν
∂µ F = Jm . (2.44)

A densidade de lagrangiana (2.34) não é invariante sob transformação


de dualidade, mas a hamiltoniana (2.35) sim. Há várias tentativas de se con-
struir uma ação para o eletromagnetismo que seja invariante sob transformação
de dualidade e que forneça tanto as equações para os campos quanto para as
partı́culas.
A força de Lorentz para uma partı́cula elétrica carregada sob ação de um
campo externo é dada em função dos campos, das cargas e da velocidade como
se vê na equação (2.24)
Com a transformação dual, é possı́vel obter a força de Lorentz para a
partı́cula magnética carregada g, de massa M, sob ação de um campo externo
dado por [26]

·

³ ´
~ →
M u= g B− ~
u ×E (2.45)

Na forma covariante, as equações (2.24) e (2.45) , sendo vν a quadri-


velocidade da carga e e sendo uν a quadri-velocidade da carga g, são respectiva-
mente
26

·µ
m v = eF µν vν (2.46)

∼ µν
M u̇µ = g F uν (2.47)

nas quais o ponto se refere à diferencial com respeito ao tempo próprio. Quando
as cargas e e g atuam como fontes de um campo, fica evidenciada a conexão entre
as equações para as partı́culas e as equações para os campos assim como Rohrlich
apresenta em seu trabalho [8].
Fizemos algumas tentativas de inserir fontes em lagrangianas escritas em
função dos campos elétrico e magnético, sem muito sucesso, pois numa tentativa
perdemos as duas leis de Gauss com fontes, noutra tentativa, tı́nhamos uma
densidade de lagrangiana que era invariante sob transformação de calibre, mas não
fornecia as equações de campo corretamente e numa terceira tentativa, seguindo
a sugestão de Sudbery [19], conseguimos uma lagrangiana que fornecesse as equaç
ões de Maxwell corretamente, mas com quebra da identidade de Bianchi. Estas
tentativas estão comentadas no Apêndice B.
Mas ao se introduzir as cargas magnéticas, surgem quantidades mal
~ deverá possuir algum tipo de singularidade. Pois se
definidas. O potencial vetor A
analisarmos o fluxo magnético através de uma esfera S 2 que contorna o monopo-
R R ³ ´
lo com carga magnética g, teremos S 2 B.d~ S~ = 2 ∇ ~ ×A ~ .dS~ = 0, embora,
S

devido ao monopolo, tenhamos fluxo igual a 4πg.


Desta forma, a ação para o eletromagnetismo usual é dada por

Z · q ¸
1
S=− Fµν F µν + m α
g αβ uα uβ + euα A ds (2.48)
4
sendo uα a quadri-velocidade da carga e m sua massa.
A seguir, veremos que os campos elétrico (2.21) e magnético (2.22) per-
~
manecem invariantes ao se fazer uma transformação nos potenciais φ e A.
27

2.6 Transformação de calibre


~ estes determinam de forma unı́voca os
Dados os potenciais escalar φ e vetor A,
~ e magnético B
campos elétrico E ~ dados por (2.21) e (2.22). Isto é mostrado ao
∂χ
se acrescentar para cada componente do potencial a quantidade − ∂x µ em que χ

é uma função arbitrária das coordenadas espaciais e do tempo. Dessa forma, o


potencial Aµ se transforma como

∂χ
A0µ = Aµ − . (2.49)
∂xµ

Como conseqüencia desta mudança, aparececrá na integral da ação (2.4) mais um


termo escrito como

∂χ µ
e dx = d(eχ). (2.50)
dxµ
Esta é uma diferencial total e não faz efeito sobre as equações de movimento.
Escrevendo (2.49) na forma

~0 = A
~+∇
~ χ ∂χ
A e φ0 = φ − , (2.51)
∂t

vê-se que os campos elétrico e magnético determinados pelas equações (2.21) e


~ por φ0 e A
(2.22) permanecen invariantes ao se trocar φ e A, ~ 0 , definidos por (2.51).

Dessa forma, os campos não são alterados pela transformação dos potenciais, e
os potenciais não são definidos de forma unı́voca.
~ de (2.51) difere de A
O potencial A ~ 0 por uma transformação de cali-

bre, assim como o potencial φ de (2.51) difere de φ0 por uma transformação de


calibre. As quantidades que possuem significado fı́sico são invariantes sob esta
transformação dos potenciais, e essa invariância é chamada de invariânca de cal-
ibre. Como χ é uma função arbitrária, é possı́vel escolher potenciais φ = 0, ou
~ = 0.
A
No capı́tulo seguinte, escreveremos algumas formas para estes potenciais
e usaremos argumentos semi-clássicos para mostrar a quantização de Dirac.
Capı́tulo 3

Algumas formas para os


potenciais e quantização
semi-clássica

Neste capı́tulo é feito um estudo de algumas formas de solução para os potenci-


ais, tanto do potencial vetor magnético usual com sua singularidade, quanto do
potencial escalar elétrico e das soluções tipo Wu-Yang e Schwinger. Estuda-se
também a condição de quantização clássica do tipo Dirac.
Em princı́pio, parte-se da interação entre uma carga elétrica e um campo
magnético gerado por um monopolo magnético.

3.1 Formas de potenciais

3.1.1 Singularidade do potencial vetor

O monopolo de Dirac pode ser expresso como uma generalização do monopo-


~ = e ~r3 de uma carga
lo elétrico. Por analogia, a forma do campo elétrico E r

elétrica pontual pode ser generalizado para o campo magnético de um monopolo


magnético pontual:

~ = g ~r
B (3.1)
r3
29

Da mesma forma que o campo elétrico, o campo magnético é radial e


possui a forma da lei de Coulomb. O campo pode ser escrito em função de um
¡ ¢
gradiente: B~ = −g ∇
~ 1 . Como o laplaciano da função 1 pode ser escrito em
r r

função de uma delta expressa por −e δ 3 (~r) tem-se que as equações de Maxwell
podem ser generalizadas a fim de se incluir um divergente do campo magnético:

∇.E = eδ (~r) 
~ ~ 3
(3.2)
~ B
∇. ~ = gδ 3 (~r) 

correspondendo a cargas elétricas e magnéticas pontuais. Assim como o fluxo do


campo elétrico, uma vez que o campo magnético seja radial, o fluxo magnético
total atravessando uma casca esférica que contorna a origem é igual a g.

Figura˜3.1: Fluxo magnético através de uma área hachurada

Haverá uma contradição ao se expressar os campos em função dos po-


tenciais.

E = −∇φ, 
~ ~
. (3.3)
~ =∇
B ~ ×A~ 

Usualmente o campo magnético pode ser escrito em função do rotacional


~ ∇
do potencial vetor devido a não existência de fontes, sendo assim ∇. ~ ×A
~ = 0.

É possı́vel evitar essa identidade se houver uma função delta com um


~ Para visualizar esta situação, presume–se
tipo de singularidade no campo A.
uma casca esférica que contorna o ponto do monopolo (figura (3.1)). Em sua
parte superior, há um pequeno cı́rculo centrado em torno do polo norte. O fluxo
do campo magnético através desta superfı́cie:
30

Z I
~ S
B.d ~= ~ ~l.
A.d (3.4)

é tal que a sua variação nessa superfı́cie se dá de acordo com a variação do
ângulo θ representado na referida figura. Como Φ (r, θ) para r > 0, é igual ao
fluxo magnético através de uma superfı́cie esférica, área hachurada da figura
(3.1), contornada por uma curva, ou seja, Φ (r, θ) = 12 4πg(1 − cos θ). Para θ =
0, Φ (r, 0) = 0. À medida em que o ângulo θ vai aumentando, o fluxo que atravessa
a superfı́cie hachurada também vai aumentando, até que para θ = π, Φ (r, π) =
4πg. Mas, para θ = π, o contorno retoma novamente a forma de um ponto.
Contudo, Φ (r, π) = 0.
Resultando assim na exigência de vı́nculos finitos relacionados ao fluxo
~ é singular em θ = π.
Φ (r, θ) . Com essas considerações, o potencial vetor A

Figura˜3.2: Corda de Dirac

Portanto, uma singularidade não fı́sica se estende abaixo do polo sul a


partir da origem chamada de corda de Dirac. O mesmo argumento pode ser usado
para a escolha de θ = 0, e a singularidade se extendendo acima do polo norte
(figura (3.2)).
Pode-se tentar escrever uma função para o potencial vetor de tal forma
que ela tenha singularidade em −z.

Ax = −y
g r(r+z) 



x
Ay = g r(r+z) . (3.5)




Az = 0
31

Em coordenadas esféricas, as componentes do potencial vetor podem ser


escritas como

Ar = 0 



Aθ = 0 (3.6)




Aφ = ±g 1∓cos
r senθ
θ

A Figura (3.3) representa uma região de contorno do monopolo de Wu-


Yang [14]. Considere um monopolo magnético estático de intensidade g 6= 0 na
origem ~r = 0 e a região R do espaço-tempo em consideração sendo todo espaço-
tempo menos a origem ~r = 0. Dividamos R em duas regiões de contorno R+ ,
representando a região norte e R− representando a região sul. Desta forma é
~+ e A
possı́vel definir A ~ − , cada um livre de singularidades em suas regiões re-

spectivas, tal que seus rotacionais são iguais ao campo magnético, e que estão
relacionados por uma transformação de calibre na região de contorno. As regiões
de contorno podem ser:

π
R+ : 0 ≤ θ < r > 0, 0 ≤ φ < 2π, ∀ t (3.7)
2+δ

π
R− : <θ≤π r > 0, 0 ≤ φ < 2π, ∀ t (3.8)
2−δ
π π
sendo que a região de contorno se extende por 2−δ
<θ < 2+δ
. Assumindo que
0 < δ ≤ π2 .
Incluindo os dois semi-hemisférios tem-se que

A~ + (~r) = g 1 − cos θ ebφ ; A~ − (~r) = −g 1 + cos θ ebφ (3.9)


r senθ r senθ
sendo compatı́vel com o B ~ da equação (3.1) pois ∇ ~ ×A ~ + = g ~r3 em toda região
r
~ + é singular, e ∇
menos para θ = π onde A ~ ×A
~ − = g ~r3 em toda região menos para
r
~ − é singular . A casca esférica possui duas regiões de contorno, que
θ = 0 onde A
em parte se sobrepõem (figura (3.3)) [14], sendo que uma exclui o polo norte e a
outra o polo sul, conforme a escolha para a corda de Dirac.
~ possa obedecer a relação B
De tal forma que o potencial vetor A ~ = ∇×
~ A.
~
~ ×A
Assim tem-se que ∇ ~+ = B
~ em toda parte, exceto no eixo z negativo onde
32

Figura˜3.3: Regiões de contorno do monopolo

~ + é singular. Da mesma forma, tem-se que ∇


θ = π e portanto A ~ ×A
~− = B
~ em
~ − é singular.
toda parte, exceto no eixo z positivo onde θ = 0 e portanto A
³ ´
~
Portanto, espera-se que ∇× ~+ − A
A ~ − = 0, pois deve haver uma função
~+ − A
χ tal que A ~ − = ∇χ.
~ Mas o complemento do eixo z não possui uma conexão
π
simples, e χ precisa ser definido localmente. Considerando θ = 2
, e fazendo a
subtração

~+ − A
A ~− = ∇
~ (2gφ) = ∇χ
~ (3.10)

Note que desde que φ seja um ângulo, a função χ não é contı́nua, pois
se ela fosse contı́nua, não haveria fluxo. De fato, se f denota a esfera unitária no
R3 , com f ± os hemisférios superior e inferior respectivamente e Eq o equador, o
fluxo pode ser dado por
Z Z ³ ´ Z ³ ´
~ S
B.d ~= ~ ~ ~
∇ × A+ .dS + ~ ×A
∇ ~ − .dS
~
f f+ f−

Z Z Z
= ~ + .d~l −
A ~ − .d~l =
A ~
∇χ.d~l = 4πg.
Eq Eq Eq

Na sub-seção seguinte, tendo em mente a questão da singularidade do


potencial vetor tratada nesta seção, vamos abordar a corda de Dirac e escrever a
razão dela não ser um observável fı́sico.
33

3.1.2 A corda de Dirac

Imagina-se a carga magnética g estando no fim de uma linha de dipolos ou de


~ para
um solenóide de espiras delgadas infinitas. O vetor potencial elementar dA
~ em ~x0 é
um elemento de dipolo magnético dM

µ ¶
~ x) = −d M
~ ×∇
~ 1
dA(~ (3.11)
|~x−~x0 |
Para uma linha de dipolos ou solenóide cuja loclização é dada pela corda L o
vetor potencial é

Z µ ¶
1
~ L (~x) = −g
A d ~l×∇
~ (3.12)
L |~x−~x0 |
Exceto sobre a corda, esse vetor potencial possui um rotacional dirigido radial-
mente para fora no final da corda, varia com o inverso do quadrado da distância,
~ do monopolo
com fluxo total da ordem de g, como já esperado para o campo B
g. Na corda, o vetor potencial é singular. Esse comportamento singular é equi-
~ 0 dentro do solenóide e ocasionando uma contribuição de
valente a um campo B
retorno de fluxo (−g) ao longo da corda para cancelar o fluxo do polo para fora.

Figura˜3.4: Representações de um monopolo. O primeiro como uma linha de


dipolos e o segundo como um solenóide.

Para exibir o campo de um monopolo, escreve-se

~ monopolo = ∇
B ~ ×A
~−B
~0

~ 0 existe apenas sobre a corda (ou dentro do solenóide).


sendo que B
34

Dirac sustentava que para descrever a interação do eletron com o monopo-


~ 0 singular. A
lo magnético, era obrigatório que o elétron nunca visse o campo B
função de onda vai a zero ao longo da corda.
Os observáveis fı́sicos não podem depender da posição da corda. A escolha
de posições diferentes para a corda, equivalem a diferentes escolhas de calibre
na equação de Schrödinger e da estimativa da função de onda, implicando na
condição de quantização. Considerando duas cordas diferentes L e L0 , como
mostrado na figura (3.5). A diferença dos dois vetores potenciais é dado por
(3.12) com a integral tomada ao longo do caminho fechado C = L0 − L em torno
da área S.
·Z µ ¶ Z µ ¶¸
1 1
~L − A
A ~ L0 = −g d ~l0 ×∇
~ − d ~l0 ×∇
~
L |~x−~x0 | L0 |~x−~x0 |

que fornecerá I µ ¶
1
= −g d ~l0 ×∇
~
C |~x−~x0 |
0
em que C é o contorno de L + L , resultando em
I µ ¶
~0 ~x−~x0
= −g dl× . (3.13)
C |~x−~x0 |3

Esta integral, não é exatamente, mas possui a forma de um gradiente de ângulo


sólido formado pelo elemento de área dS de uma curva fechada C contornando a
superfı́cie S:
Z
~ C= d~l × ~r
∇Ω .
r3
Assim,

~ L0 (~x) =A
A ~ L (~x) +g ∇Ω
~ C (~x) (3.14)

onde ΩC é o ângulo sólido compreendido pelo contorno C no ponto de observação


~x.
Assim comparando com a transformação de calibre vemos que a variação
da corda L da equação (2.51) para L0 é equivalente a uma transformação de
calibre com χ = g ΩC .
35

Figura˜3.5: Duas cordas diferentes L e L ’, fornecendo potenciais vetores diferindo


por uma transformação de calibre.

Nesta seção, vimos algumas formas de potenciais, a corda de Dirac e


transformação de calibre dos potenciais. Agora, vamos abordar a quantização
semi-clássica para o nosso formalismo.

3.2 Quantização semi-clássica

3.2.1 Análise da condição de quantização de Dirac

Nesta parte, são utilizadas considerações semiclássicas para analisar a condição


de quantização de Dirac dada na literatura [12]. Considera-se a deflexão de uma
partı́cula pelo campo de um monopolo magnético estacionário de carga magnética
g (figura (3.6)). Para um parâmetro de impacto grande, a variação do estado
do movimento da partı́cula carregada pode ser determinada através da força
de impulso. A partı́cula incide paralelamente ao eixo z com um parâmetro de
impacto b a uma velocidade v e está sob ação do campo magnético do monopolo
~ = 0.
dado pela equação (3.1) de acordo com a força de Lorentz (2.24), para E
Na aproximação da partı́cula, a força atuando sobre a partı́cula possui apenas a
componente y, dada por

vb
Fy = evBx = eg 3 . (3.15)
(b2 + v 2 t2 ) 2
Considerando a deflexão instantânea de uma carga elétrica por um monopolo
muito pesado situado na origem,
36

Figura˜3.6: Carga e passando por um monopolo magnético g.

o impulso 4py transmitido pela força Fy é dado por

Z ∞
dt 2eg
4py = egvb 3 = . (3.16)
−∞ (b2 + v 2 t2 ) 2 b
Como o impulso é na direção do eixo y, a partı́cula é defletida para fora do
plano da (figura (3.6)). Na deflexão, o momento angular da partı́cula é alterado,
ficando independente do parâmetro de impacto b e da velocidade v da partı́cula
carregada

4Lz = b4py = 2eg (3.17)

o momento angular da partı́cula depende apenas do produto eg, sendo um valor


universal para uma partı́cula carregada passando por um monopolo estacionário.
Supondo que o momento angular é quantizado em múltiplos inteiros de ~, tem-se
a condição de quantização de Dirac [3] 2eg = n~, ou

eg = n(~/2). (3.18)

Em uma outra abordagem, usamos o momento angular do campo eletro-


magnético de um dipolo de Thomson [12] que é formado por um monopolo
~
magnético e por uma carga elétrica. Se o monopolo g é localizado em ~x = R
e a carga e em ~x = ~0, como na figura (3.7), os campos elétrico e magnético em
todo o espaço são
37

Figura˜3.7: Dipolo de Thomson (cargas elétrica e e magnética g em repouso).

0
~ = g ~n
B (3.19)
r02

~ = e ~n
E (3.20)
r2
¯ ¯
¯ ~¯ ~ e ~n é o
em que r0 = ¯~x−R ¯ , r = |~x|, ~n0 é o vetor unitário na direção de ~x−R,
vetor unitário na direção de ~x.
O momento angular é dado pela integral

Z ³ ´
~ em =
L ~ ~
~x× E×B d3 x (3.21)

Fazendo a substituição do campo elétrico da equação (3.20) e da propriedade da


~ em como sendo
identidade vetorial, pode-se asim expressar a função L
Z ³ ´
~ em = −e
L ~ ∇
B· ~ ~nd3 x

Integrando por partes,


Z ³ ´ Z ³ ´
~ em = −e
L ~ B
~n ∇· ~ d x − e ~n B·~
3 ~ ns da
s

onde a segunda integral é sobre uma superfı́cie S no infinito e ~ns é a normal exte-
~ da equação (3.19), esta integral de superfı́cie
rior àquela superfı́cie. Tomando B
R
se reduz a g ~ndΩ = 0, desde que ~n tenha direção radial e valor médio angular
zero. Desde que B ~ seja causado por um monopolo pontual localizado em ~x=~r,
³ ´
~ B=g
seu divergente será ∇· ~ ~ . Portanto, o momento angular do campo é
δ ~x−R
38

~
~ em = −eg ¯R¯ ,
L (3.22)
¯~¯
¯R¯
que é a solução encontrada por Thomson [1]. A direção é da linha que vai da carga
elétrica para a carga magnética, com magnitude igual ao produto das cargas.
Este resultado é usado para tirar a condição de quantização de Dirac
entre cargas elétrica e magnética por argumentos semi-clássicos. Requerendo que
o momento angular do campo na equação (3.22) seja um múltiplo inteiro de ~/2,
tira-se a condição de quantização de Dirac

eg = n(~/2). (3.23)

o fato de ter n/2 ao invés de n é devido a se considerar apenas o momento angular


~ em este argumento
do campo e a necessidade de se postular quantização n/2 de L
foi usado por Saha [2] e Wilson [4] para derivar a condição de quantização de
Dirac.
Outro ponto importante a ser visto na equação (3.22) é que o momento
angular do campo depende das cargas e e g mas não da distância entre elas.
Até agora escrevemos a condição de quantização de Dirac a partir de
uma carga elétrica que passa pelo campo de um monopolo magnético estático
e do campo eletromagnético de um dipolo tipo Thomson. Em uma outra abor-
dagem, vamos derivar a relação da condição de quantização de Dirac [3] para uma
partı́cula de carga elétrica e interagindo classicamente com o campo magnético
de um monopolo g.
Partimos da hamiltoniana das interações H, equação (2.12) em que φe
~ são os potenciais escalar e vetor das fontes externas.
eA
É bem sabido na mecânica quântica, que uma variação de calibre do
potencial eletromagnético, faz com que a forma da equação de Schrödinger seja
invariante se a função de onda é transformada de acordo com

ψ → ψ 0 = ψeieχ/~

~2 ~ 2 ∂ψ
− ∇ ψ = i~
2m ∂t
39

em que e é a carga da partı́cula e χ é a função de calibre. Uma mudança na


localização da corda de L para L0 (figura (3.5)), necessita ser acompanhada por
uma modificação da fase da função de onda do elétron,

ψ → ψ 0 = ψeiegΩC /~ (3.24)

as funções de onda ψ e ψ 0 são monovalentes, mas se fazemos uma rotaçãocompleta


da carga, o ângulo sólido ΩC varia de 4π, como queremos a função de onda
monovalente, devemos ter
eg∆ΩC
= n2π
~
como ∆ΩC = 4π, temos

n~
eg = , (n = 0, ±1, ±2, ±3, ...) (3.25)
2
que é a condição de quantização de Dirac. Ela vem da necessidade geral da
invariância de calibre e da estimativa da função de onda, independente da local-
ização da corda do monopolo.
A condição de quantização de Dirac tem a seginte imperpretação fı́sica:
Classicamente, não há muita diferença entre um monopolo magnético e
um solenóide muito longo e fino. O campo dentro do solenoide é diferente, mas
no limite em que o solenoide se torna infinitamente longo e infinitamente fino,
de tal forma que dentro do solenóide não seja possı́vel realizar um experimento
clássico, o campo no final do solenoide é indistinguı́vel do campo de um monopolo
magnético.
Quanticamente, pode-se a princı́pio detectar o solenóide por um modelo
de interferência quântica predita pelo efeito Aharanov-Bohm. A condição para a
ausência da interferência é a condição de quantização de Dirac.
Até aqui, estudamos alguns aspectos do eletromagnetismo clássico, es-
crevemos as equações de Maxwell, vimos que podemos escrever algumas formas
para os potenciais que descrevem os campos, a questão da singularidade do vetor
potencial. Estudamos também algumas abordagens para a quantização semi-
clássica. Agora vamos introduzir em nossa formulação um segundo potencial e
40

descrever o eletromagnetismo e as novas implicações deste formalismo.


Capı́tulo 4

Formulações com dois potenciais

Neste capı́tulo, vamos inserir um novo potencial no eletromagnetismo usual de-


scrito nos capı́tulos anteriores. Esta formulação com dois potenciais possui a
vantagem sobre a abordagem usual de não se necessitar trabalhar com o conceito
da corda de Dirac. Também é possı́vel estabelecermos a covariancia de Lorentz e
a simetria de dualidade su(2) da teoria clássica de campos para cargas elétrica e
magnética.
Vários autores trabalharam com este tipo de formulação, introduzido por
Cabibbo e Ferrari [6], que mostraram que a introdução de um segundo potencial
não altera o número de graus de libedade, ou de variáveis independentes que
descreve o campo livre devido às transformações da calibre extras misturadas.
O potencial adicional implica em uma compensação dos graus de liberdade pelo
aumento do grupo de transformações de calibre. Não demonstraremos aqui que
o segundo potencial não aumenta o número de graus de liberdade, nem este
cálculo encontra-se explı́cito na literatura. A duplicação de potenciais também é
estudada por Li, Naón e colaboradores [37], [34], que tratam de uma formulação
dual clássica. Mignaco e Galvão, em seus trabalhos [35], [30] abordam a simetria
de dualidade de Heaviside, encontrando uma hamiltoniana canônica para seu
sistema. Outro pesquisador que trabalhou com este formalismo foi Singleton [26],
que simplifica o tratamento de cargas elétricas e magnéticas, tratando-as como
cargas de calibre. Também há os trabalhos de Rörlich [8] que obteve equações
de campo e de partı́culas pela teoria clássica de monopolos magnéticos, Mello-
42

Carneiro-Nemes [27], que formulam uma lagrangiana não-local que fornece as


equações locais para a eletrodinâmica dual.

4.1 Eletromagnetismo com carga magnética e


dois potenciais
Esta seção consiste de uma revisão do trabalho de Dirac, tratado primeiramente
por Cabibbo-Ferrari [6]. É feito um estudo da simetria das equações de Maxwell
após a adição de cargas e correntes magnéticas. Essa simetria, como foi vista na
seção (2.4), relacionando cargas elétricas e magnéticas é chamada de simetria de
dualidade do eletromagnetismo.
Os objetivos desta seção são, a partir do trabalho de revisão feito por
Singleton [26], onde é abordado o problema de dois fótons no eletromagnetismo,
apresentar um formalismo para o fóton dual e a lagrangiana covariante do eletro-
magnetismo com carga magnética, expor as equações da força de Lorentz e o
tensor de energia-momento, e subseqüentes condições de quantização do momen-
to angular.
A técnica utilizada neste estudo é a da duplicação de potenciais tratado
~ e B,
por vários autores [24], [26], [37] e [35] para os campos E ~ evitando a utilização

de variáveis singulares não locais (cordas de Dirac), na eletrodinâmica clássica,


examinando as simetrias no tratamento de cargas elétrica e magnética.
Dessa forma, as equações de campo, em função dos dois potenciais, po-
dem ser derivadas da lagrangiana encontrada; as equações de Lorentz podem ser
obtidas a partir da quadri-divergência do tensor de energia-momento, proveniente
de uma lagrangiana modificada.
Discutimos o monopolo de Dirac, a questão da duplicação de potenciais
para se evitar a singularidade do potencial vetor ao se introduzir fonte de cargas
magnéticas nas equações de Maxwell e uma análise da condição de quantização
da carga no eletromagnetismo clássico. Com a introdução das cargas elétrica e
magnética, as equações de Maxwell se tornam mais simétricas.
³ ´
Introduzindo dois potenciais quadrivetores : Aµ = ~ e Cµ =
φe , A
43

³ →´
φm , C e redefine-se o tensor de intensidade de campo como

Fµν = ∂µ Aν − ∂ν Aµ − ²µναβ ∂ α C β , (4.1)

e o seu dual
1
F̃µν = ²µναβ F αβ .
2
Note que neste caso, a rotação dual também pode ser introduzida para os poten-
ciais

Aµ → Aµ cos θ + Cµ senθ (4.2)

Cµ → −Aµ senθ + Cµ cos θ, (4.3)

que é compatı́vel com a rotação. O mesmo procedimento pode ser feito para as
cargas e para as correntes.
Espressando as novas definições para os campos em função destes novos
potenciais

~
~ e − ∂ A − ∇×

~ = −∇φ
E ~ C, (4.4)
∂t

B ~ m− ∂ C +∇
~ = −∇φ ~ × A.
~ (4.5)
∂t

Note que φm se comporta como um pseudo-escalar e C é um pseudo-vetor.
A técnica de duplicação de potenciais de Cabibbo e Ferrari [6], permite
a eliminação da singularidade nos potenciais. E Fµν dado por ( 4.1) é invariante
sob as transformações

Aµ → Aµ + ∂µ Λ (4.6)

Cµ → Cµ + ∂µ Γ (4.7)

Aµ → Aµ + A0µ (4.8)
44

Cµ → Cµ + Cµ0 (4.9)

tal que seja respeitada a seguinte condição

∂µ A0ν − ∂ν A0µ − ²µναβ ∂ α C β0 = 0. (4.10)

Cabibbo e Ferrari mencionam que a introdução destes campos extras Cµ


de fato não leva a um aumento no número de graus de liberdade independentes.
Analisando os campos livres em termos de fótons ainda teremos dois fótons para
cada valor do momento linear. A função de onda de um dado fóton dependerá
do calibre adotado [6]. Mas de fato ainda falta, até onde vimos um tratamento
formal da quantização do campo eletromagnético desdta formulação e que mostre
os graus de liberdade resultante físicos.
Empregando a condição do calibre de Lorentz (∂µ Aµ = ∂µ C µ = 0) para
os potenciais, então tem-se que

∂µ ∂ µ Aν = Jeν (4.11)

e que

∂µ ∂ µ C ν = Jm
ν
(4.12)

Nesta aproximação para carga magnética, Aµ se transforma como um


quadri-vetor e Cµ como um pseudo quadri-vetor [26].
A densidade da lagrangiana em questão, que fornece (4.11) e (4.12) pode
ser escrita a partir do princı́pio variacional como

1 µ
LM = − Fµν F µν − Jeµ Aµ + Jm Cµ . (4.13)
4
Uma das vantagens deste formalismo é que devido à invariância de ca-
libre na duplicação de potenciais é que podemos introduzir um potencial escalar
magnético para o monopolo magnético estático. Neste caso temos

~ ×B
∇ ~ =0 (4.14)
45

~ ·B
∇ ~ = ρm = gδ 3 (~r) (4.15)

ou seja

~ = g r̂.
B (4.16)
r2
Lembrando das identidades vetoriais apropriadas, temos que o campo de um
monopolo estático pode ser escrito como

~ = −∇φ
B ~ m (4.17)

onde
g
φm = (4.18)
r
o que elimina a singularidade do potencial.
Após a integração por partes, a densidade de lagrangiana fica

1
L= [Aµ (2g µν − ∂ µ ∂ ν ) Aν − Cµ (2g µν − ∂ µ ∂ ν ) Cν ] − Jeν Aν + Jm
ν
Cν (4.19)
2
sendo que a lagrangiana da interação é

Lint = −Jeν Aν − Jm
ν
Cν . (4.20)

Esta lagrangiana é invariante sob as transformações (4.2), (4.3), (2.41) e


(2.42) .
Além de eliminar a singularidade existente no potencial esta formulação
tem a vantagem de permitir a implementação da rotação dual, mas a densidade
de lagrangiana não possui a simetria de dualidade das equações de movimento, e
um dos desejos seria obter esta simetria da lagrangiana.

4.1.1 Força de Lorentz a partir de um princı́pio varia-


cional

Nesta sub-seção vamos escrever a força de Lorentz e o tensor de energia momento


na forma vetorial e quadri-vetorial [26]. A força de Lorentz é escrita a partir
46

da energia mecânica de uma carga elétrica se movendo em um campo eletro-


magnético depois será escrita na forma covariante e mostraremos uma conexão
entre o momento mecânico das partı́culas e as componentes do tensor de energia
momento para os campos. Procuraremos escrever o tensor de energia momento
na forma covariante. Lembramos também que a formulação completa deveria
obter todas as equações de movimento não só as de Maxwell.
Usando as equações de Euler-Lagrange para a lagrangiana da partı́cula
eletricamente carregada na presença de um campo elétrico obtemos

d~p h ³ ´i
~ ~ ~ ~
= e −∇φe − ∂t A + ~v × ∇ × A
dt

~ C
se comparamos com (4.4) e (4.5) vemos que está faltando a expressão −∇×
³ →´
~ m − ∂t C dentro do colchetes. Um termo (J µ Cµ ) não geraria os
+~v × −∇φ e

termos que faltam corretamente. Entretanto podemos introduzir um termo de


interação Jeµ Nµ , onde Nµ é um campo auxiliar, tal termo implicaria na seguinte
equação para a partı́cula

d~p h ³ ´ ³ ´i
~ e − ∇N
= e −∇φ ~ 0 − ∂t A
~ − ∂t N
~ + ~v × ∇~ ×A
~ + ~v × ∇~ ×N
~
dt

Se Nµ for tal que


~ 0 + ∂t N
∇N ~ = ∇×
~ C


~ ×N
∇ ~ = −∇φ
~ m − ∂t C

ou seja

1
∂µ Nν = − ²µναβ ∂ α C β . (4.21)
2
Se tomarmos (4.19) como ponto de partida para construir a lagrangiana
para esta partı́cula na presença de um campo eletromagnético, terı́amos
µ ¶
1 2

L=− M~vm − gφm + g~v · C .
2
47

o sinal de (-) global, em relação à lagrangeana da partícula carregada não está em


conflito com as equações de movimento, desde que consideraamos que a ação seja
um extremo. Infelizmente esta lagrangiana não fornece (2.47), o que obtemos é

d~pm h → ³ →´i
~ m − ∂t C +~vm × ∇×
= g −∇φ ~ C
dt
faltando a expressão
³ ´
~ ~ ~ ×A
~v × ∇φe + ∂t A + ∇ ~

dentro dos colchetes para reproduzir (2.47).


µ
Podemos então proceder como anteriormente introduzindo o termo Jm Hµ
na lagrangiana (4.19), onde Hµ é também um campo auxiliar. Desta forma,
terı́amos para a partı́cula magneticamente carregada

d~pm h → → ³ → → ´i
~ m − ∇H
= g −∇φ ~ 0 − ∂t C −∂t H +~v × ∇×
~ C +∇×
~ H .
dt
Se admitirmos que Hµ está relacionado a Aµ através da equação

1
∂µ Hν = ²µναβ ∂ α Aβ , (4.22)
2
obtemos (2.47).
Se introduzirmos ambos os termos de interação na lagrangiana obtemos

1
L = − Fµν F µν − Jeµ (Aµ + Nµ ) − Jmµ
(Cµ + Hµ ) + (4.23)
4
+ termos cinéticos para as cargas

com as condições (4.21) e (4.22). Neste caso as equações de Euler-Lagrange para


os campos auxiliares nos dariam

Jeµ = Jm
µ
= 0.

Também podemos verificar esta inconsistência de outra forma. A equação


(4.21) pode ser reescrita como

∂ µ C ν − ∂ ν C µ = ²µναβ ∂α Nβ , (4.24)
48

conseqüentemente

∂µ (∂ µ C ν − ∂ ν C µ ) = (2g µν − ∂ µ ∂ ν ) Cµ = 0,

o que é incompatı́vel com as equações de Maxwell quando fontes magnéticas estão


presentes. Temos situação similar para a condição (4.22). A compatibilidade das
condições subsidiárias (4.21) e (4.22) com as equações (4.12) e (4.11) respectiva-
mente só aconteceria se Hµ e Nµ apresentassem singularidades, o que tiraria uma
das vantagens da formulação de dois fótons que é a eliminação da singularidade.
A equação (4.23) foi obtida por Li e Naón, mas a formulação lagrangiana traz
os problemas acima mencionados. Estamos investigando possibilidades de ainda
recuperar esta formulação mesmo com condições subsidiárias e analisar sua com-
patibilidade em conexão com a transformação de calibre dados nas equações (4.8)
a (4.10).
Tem-se que para uma partı́cula com carga elétrica e em movimento num
campo eletromagnético, a equação para a variação da energia mecânica é dada
por

dEe ~
= e~ve · E. (4.25)
dt
A força de Lorentz pela qual a partı́cula está sujeita é

d~pe ³ ´
=e E~ + ~ve × B
~ . (4.26)
dt
Combinando estas duas equações em uma forma covariante, tem-se que

dpµe dU µ
=m
dτ dτ
dxµ
em que U µ é a quadri-velocidade da partı́cula dτ

dU µ
m = eF µν Uν (4.27)

e τ é o tempo próprio da partı́cula.
As equações de Lorentz generalizadas podem satisfazer à simetria dual
das equações para os campos ou para os potenciais. Por isso, e pelas equações
49

(4.25) − (4.27). chega-se às equações de Lorentz para uma partı́cula carregada
magneticamente. Pela rotação dual, em que θ = 900 tal que E → B, B → −E,
Jeµ → Jm
µ
ou seja e → g e e~ve → g~vm . Dessa forma, a variação da energia e a
força de Lorentz se tornam

dpµm
= g F̃ µν Uν . (4.28)

Levando em consideração as densidades de corrente, tem-se que
Z
e~ve → J~e d3 x

e
Z
g~vm → J~m d3 x.

Como nesse sistema a energia é uma quantidade conservada, pode-se


escrever a variação da energia mecânica (K) de um sistema formado por partı́culas
e campos como sendo

Z ³ ´
dK
= J~e · E
~ + J~m · B
~ d3 x. (4.29)
dt
~ e magnético
Das equações de Maxwell em função dos campos elétrico (E)
~ fazendo a substituição de J~e e J~m , observando que daqui para frente, os
(B),
~ eB
campos E ~ não são campos externos,

~
J~e = ∇ ~ − ∂E
~ ×B
∂t

~
J~m = −∇ ~ − ∂B
~ ×E
∂t

assim, rearranjando os termos da equação da variação da energia mecânica,


³ ´
³ ´ ∂ E ~ ·E ~
J~e · E
~ = ∇~ ×B
~ ·E ~− ,
∂t

³ ´
³ ´ ~
∂ B·B ~
J~m · B
~ =− ∇~ ×E
~ ·B~− .
∂t
50

Utilizando as identidades vetoriais apropriadas, reescreve-se a variação


da energia como sendo

Z
dK ∂ 1 ³ ~ 2 ~ 2´ 3
=− E + B d x− (4.30)
dt ∂t 2
Z ³ ´
− ~ · E
∇ ~ ×B
~ d3 x.

Da definição do tensor de energia-momento:

1
T 00 = −F 0i F 0 i + Fil F il
4

1 ³ ~ 2 ~ 2´
= E +B (4.31)
2

³ ´
T i0 = E~ ×B
~ (4.32)
i

1 ³ ~ 2 ~ 2´
T ij = Ei Ej + Bi Bj − δ ij E +B (4.33)
2
dessa forma, a variação da energia mecânica é reescrita em termos do tensor de
energia-momento

Z Z
dK ∂T 00 3
=− d x− ∂i T i0 d3 x (4.34)
dt ∂t
mostrando que há uma conexão evidente entre a energia mecânica das partı́culas
e as componentes do tensor de energia-momento para os campos. Movendo T 00
para o lado esquerdo da equação, ela pode ser interpretada como a densidade
de energia dos campos elétrico e magnético e T i0 como um fluxo de energia,
representando o vetor de Poynting.
Observando as componentes espaciais das equações (4.27) e (4.28) é
possı́vel obter uma equação para a conservação do momento de um sistema de
partı́culas que interage com campos externos.
Z ³ ´
d P~ ~ ~
= E × B d3 x +
dt
51

Z h ³ ´ ³ ´ ³ ´ ³ ´i
+ ~ ∇
E ~ ·E
~ −E~× ∇~ ×E
~ +B~ ∇~ ·B
~ −B~× ∇~ ×B
~ d3 x (4.35)

em que P~ é o momento mecânico das partı́culas.


A equação para a conservação do momento será:

Z Z
dPi d i0 3 ∂Tij 3
+ T d x= dx (4.36)
dt dt ∂xj
mostrando a relação que há entre as componentes do tensor de energia-momento
para os campos e o momento mecânico das partı́culas. A equação para a conser-
vação do momento tem a mesma forma da equação da teoria com carga elétrica
somente. O tensor T 0i representa o momento transportado pelos campos. O
termo do lado direito pode ser escrito como uma integral de superfı́cie:

I
Tκξ nξ da (4.37)

sendo que nξ é a ξ-ésima componente da normal à superfı́cie. Assim, Tκξ nξ re-


presenta a κ-ésima componente do fluxo por unidade de área do momento através
da superfı́cie.

00 1 ³ ~ 2 ~ 2´
T = E +B
2

³ ´
T κ0 = T 0κ = E~ ×B
~ (4.38)
κ
1 ³ ´
T κξ = Eκ Eξ + Bκ Bξ − δ κξ E~2 + B
~2
2
que possui a mesma forma do tensor de energia-momento da eletrodinâmica.
Mas a expressão covariante do tensor de energia-momento, escrito em função
dos potenciais de calibre, possui termos cruzados a mais entre os potenciais Aµ e
Cµ .
~ e B
Inserindo as definições expandidas dos campos E ~ em termos dos

potenciais Aµ e Cµ nas expressões das equações (4.31), (4.32), e (4.33), juntando


os resultados, tem-se a forma covariante do tensor de energia-momento.
52

1
T αβ = Fγα F γβ + g αβ Fµν F µν (4.39)
4
que é simétrica nos ı́ndices α e β. Agora, partindo da equação do tensor de
energia-momento equação (4.39) e revertendo a ordem dos argumentos, chega às
equações de Lorentz.
Tomando o quadri-divergente de Tµν e a forma covariante das equações
de Maxwell, tem-se que

∂µ T µν = −F νρ Jρe − F̃ νρ Jρm . (4.40)

Na ausência de fontes externas, o tensor de energia-momento tem diver-


gente zero e na presença de fontes, a equação acima dá a forma covariante da
força de Lorentz generalizada equações (4.27) e (4.28) se for incluido o tensor de
energia momento para as partı́culas.
Na sub-seção seguinte, estudaremos a quantização do momento angular
nesta formulação.

4.1.2 Momento angular e condição de quantização

Nesta seção, examinamos o momento angular dos campos produzidos pelas partı́culas
de carga elétrica e magnética, a questão da condição de quantização entre os dois
tipos de carga nesta formulação de dois fótons e do ponto de vista de Singleton
[26].
A covariancia de Lorentz para o tensor de energia-momento é mantida, o
momento angular do campo eletromagnético provém de e e g, tendo sido estudado
por Singleton. O momento angular é dado por M κξ

Z Z
ij 0ij 3
¡ 0i ¢
M = M d x= T xJ − T 0j xi d3 x (4.41)
Z ³ ´
= ~r × E~ ×B
~ d3 x. (4.42)

Consideramos a configuração de duas partı́culas, uma de carga elétrica e


e outra de carga magnética g, os potenciais destas partı́culas podem ser:
53

e−mr
φm = g (4.43)
r
em que m é a massa do fóton associado ao setor magnético. Isto é possível devido
o uso do mecanismo de Higgs.

e
φe = . (4.44)
r0
O fóton associado ao setor elétrico permanece não massivo.
A partir destes potenciais e dos campos

~ = −e ~r0 ,
E (4.45)
r3

−mr
µ ¶
~ = −g e
B
1
+ m ~r. (4.46)
r2 r
escreve-se

8πeg £ ¤
Lz = − 2 2
1 − (1 + md) e−md nz . (4.47)
md
O momento angular do sistema depende além das cargas e e g, da massa
m do fóton associado ao setor magnético e da distândia d entre as partı́culas.
Na análise usual, do sistema carga-monopolo, o momento angular independe da
distância entre as duas partı́culas.
Tomando o limite m → 0, faz-se a conexão com o momento angular usual.
2 2 3 3
Expandindo e−md até termos de segunda ordem, e−md = 1 − md + m 2d − m 6d + ...
é possı́vel perceber que a condição de quantização de Dirac usual não é única.
Parece que ela também pode depender da distância entre as partı́culas.
A magnitude da condição de quantização de Dirac

n~
eg = , (4.48)
2
comparando com (4.47), que fornece a direção do momento angular provém do
fato da função de onda de uma partı́cula na presença da corda de Dirac ser
unı́voca. Lembrando que o momento angular da configuração do campo de cargas
54

elétrica e magnética precisa ser quantizado em múltiplos inteiros de ~/2. Já no


formalismo de dois potenciais, substituiu-se a corda singular e não local por um
campo de calibre não singular e local. E tirando a condição de quantização a
partir de (4.47)

8πeg £ ¤ n~
2 2
1 − (1 + md) e−md = , (4.49)
md 2
onde n é inteiro, e comparando (4.48) com (4.49), observa-se que a magnitude da
carga magnética g, precisará ser sempre maior para a segunda condição. Pois para
o fóton magnético massivo, o campo de Yukawa da partı́cula magnética cai mais
rapidamente que o do equivalente caso Coulombiano. Assim, para a configuração
manter um momento angular de 1/2, a carga g deve ser maior.
A seguir, procuraremos por uma ação neste formalismo de dois fótons,
que nos descreva a eletrodinâmica usual.

4.2 Uma ação para a eletrodinâmica com 2 po-


tenciais
Nesta seção, baseados no trabalho de Mello-Carneiro-Nemes [27], abordamos a
questão da quantização da carga elétrica a partir de uma formulação lagrangiana
não local que fornece as equações de Maxwell generalizadas, pela simetria dual e
as equações de movimento para as partı́culas.
A função ação S para a eletrodinâmica usual é constituida de três partes,
uma ação que depende apenas das propriedades das partı́culas, uma ação que
depende da interação entre as partı́culas e o campo e outra ação que depende
apenas das propriedades dos campos, isto é, livre da ação das partı́culas.
Primeiramente, constrói-se uma densidade de lagrangiana, em função de
potenciais não locais, onde uma partı́cula de carga elétrica e uma partı́cula de
carga magnética interagem com o campo eletromagnético.

1
L = Le0 + Lg0 − Fµν F µν − Jeµ Aµ + Jm
µ
Cµ , (4.50)
4
55

onde Le0 é a densidade de lagrangiana de uma partı́cula livre de carga elétrica e


massa m dada por (2.1) , que fornece a equação de movimento para esta partı́cula
e Lg0 é a densidade de lagrangiana de uma partı́cula livre de carga magnética e
massa M, que fornece a equação de movimento para ela. Desta forma, a ação
completa é

R h1 p p
S=− F F µν + m
4 µν
g αβ Uα Uβ − M g αβ Vα Vβ +
(4.51)
+eUα Aα − gVα C α ] ds
e a lagrangiana
" r r
1 duα duβ dvα dvβ
L = − Fµν F µν + m g αβ −M g αβ
4 ds ds ds ds

¸
duα α dvα α
+e A −g C (4.52)
ds ds
sendo Uα e Vα as quadri-velocidades da carga e do monopolo e m e M
suas massas. Introduz-se o tensor de campo generalizado proposto por Cabibbo-
Ferrari [6] e os potenciais não locais. Aµ e C µ são de Mello-Carneiro-Nemes [27]

Z x
1
A = A + ²µγαβ
µ µ
∂α Cβ dξ γ (4.53)
2 P

Z x
1
C = C − ²µγαβ
µ µ
∂α Aβ dξ γ (4.54)
2 ∼
P

em que Aµ e C µ são os potenciais da formulação de Cabibbo-Ferrari, onde P



e P representam integrações sobre as linhas de universo das cargas elétrica e
magnética respectivamente.
Mello-Carneiro-Nemes [27] não fizeram uso de condições subsidiárias e
trataram quantidades não locais. Embora Carneiro [28] tenha conseguido tratar
a questão do espalhamento carga-monopolo de uma forma local, até onde vimos,
isto não parece fornecer a condição de quantização de Dirac com esta formulação.
∼ µν
O tensor de campo eletromagnético F µν e seu dual F .

F µν = ∂ µ Aν − ∂ ν Aµ , (4.55)
56

∼ µν
µ ν ν µ
F =∂ C −∂ C , (4.56)

e as equações de Maxwell ficam simplesmente dadas por (4.11) e (4.12) pois


Rx
segundo Saulo [28], os termos extras como 12 Jµ ²µγαβ P ∂α Cβ dξ γ que aparecem no
desenvolvimento das derivadas, se anulam, não contribuindo para as equações.
Tem-se que A e C, são invariantes de calibre segundo Cabibbo e Ferrari [6].
Aplicando o princı́pio de Hamilton na Equação (4.52) tem-se

d2 uα dAα duβ α β
m 2 +e −e ∂ A =0
dτ dτ dτ

d2 v α dC α dvβ α β
M − g − g ∂ C =0
dτ 2 dτ dτ
dAα duβ β α dC α dvβ β α
desde que dτ
= dτ
∂ A e dτ
= dτ
∂ C , obtemos as equações de movimento
para a carga elétrica e o monopolo magnético respectivamente

d2 uα duβ
m 2
= eF βα (4.57)
dτ dτ
e

d2 v α ∼ βα dvβ
M = g F . (4.58)
dτ 2 dτ
Variações dos potenciais locais conduzem a variações dos potenciais não
locais, e usando (4.55), (4.56) além da identidade Fµν F µν = −F̃µν F̃ µν , a con-
dição extrema para a ação sob tais variações corresponde às equações de Maxwell
generalizadas

R n1
δS = − 2
Fµν ∂ µ δAν − 21 Fµν ∂ ν δAµ − 12 F̃µν ∂ µ δC ν +
o (4.59)
+ 12 F̃µν ∂ ν δC µ + Jµ δAµ − gµ δC µ ds = 0

Z n o
=− −Fµν ∂ ν δAµ + Jµ δAµ + F̃µν ∂ ν δC µ − gµ δC µ ds
57

Z
=− (Jµ + ∂ ν Fµν ) δAµ ds + Fµν δAµ |+∞
−∞ −

Z ³ ´
− −gµ − ∂ ν F̃µν δC µ ds − F̃µν δC µ |+∞
−∞ .

Dessa forma, tem-se

∂β F αβ = −Jeα , (4.60)

∂β F̃ αβ = −Jm
α
. (4.61)

A fim de reproduzir a condição de quantização de Dirac nesta abordagem,


verificamos que a lagrangiana da partícula de carga e na presença do campo
eletromagnético

~
L = Le0 − eA0 + e ~v .A (4.62)

admite a construção de uma hamiltoniana cujo limite não relativístico é dado por

1 ³ ´2
~ + eA0
He = p~ − eA (4.63)
2m
onde
Z µ ¶ Z µ ¶
~ = A
~+ 1 ∧ ∧ 1 ∧ ∧
A ∂y k −∂z j φm dx + ∂z i −∂x k φm dy +
2 2
Z µ ∧ ¶
1 ∧
+ ∂x j −∂y i φm dz (4.64)
2

em que ∂y = ∂y
. Embora não local, vamos analisar o caso da partícula na presença
de um monopolo pontual massivo (M >> m), e verificar a quantização para
~ 6= 0 e A0 = 0, ou seja
A

Z x
1
Ai (x) = ²ijk dyk ∂j φm + Ai (4.65)
2
onde φm = − gr .
A equação de Schrödinger correspondente é:
58

1 ³ ~ − eA
´2
~ ψ = Eψ.
−i~ ∇ (4.66)
2m
Definindo uma outra função de onda

R ~r
ie ~ r0
ψ̃ (~r; P ) = ψ (~r) e− ~ P A.d~
(4.67)

vemos que

· ´2 ¸ ie R ~r
~2 ~ 2 1 ³ ~ ~ ~ 0
− ∇ ψ̃ (~r; P ) = −i~ ∇ − eA ψ e− ~ P A.d~r . (4.68)
2m 2m

Embora ψ̃ (~r; P ) dependa do caminho de integração no fator de fase, este


~ produzido pelo monopolo
pode ser escrito em termos da intensidade do campo B
magnético. Para isto definimos

R ~r
ie ~ r0
ψ̃ (x : P 0 ) = ψ (~r) e− ~ P0 A.d~
. (4.69a)

De 4.67 e 4.69a podemos escrever

H
ie ~ r0
ψ̃ (x : P 0 ) = ψ̃ (x : P ) e− ~ A.d~

R
ie ~ a0
= ψ̃ (x : P ) e− ~ S B.d~
(4.70)

onde S é uma área delimitada pelos dois camunhos P e P 0 . Qualquer que seja a
área delimitada entre os dois caminhos ψ̃ (x : P 0 ) deve ser o mesmo.

R R
− ie ~ a0 − ie ~ a0
ψ̃ (x : P ) e ~ S1 B.d~
= ψ̃ (x : P ) e ~ S2 B.d~
.

Então concluimos que

H
ie ~ a0
e− ~ S B.d~
=1 (4.71)

onde S é a superfície fechada por S1 e S2 (S = S1 − S2 ). Se S não contém o


monopolo magnético, o fluxo será nulo e 4.71 é satisfeita. Se S contém o monopolo
devemos ter
59

ie
− (4πg) = −i (2πn) n∈Z
~

n~
eg = (4.72)
2
que é a condição de quantização de Dirac.
Nesta seção, vimos que a ação que encontramos para o formalismo de
dois potenciais, não somente fornece as equações para a eletrodinâmica usual,
quanto as equações de Maxwell generalizadas.
A seguir, procuramos obter uma condição de quantização que não levasse
em conta a forma do potencial vetor.
Capı́tulo 5

Condição de quantização

Embora existam muitos trabalhos tratando a interação de uma carga elétrica


na presença de um monopolo, muitos deles procuram resolver o problema por
completo analisando as simetrias e soluções das equações de Schrödinger e Dirac.
Nós procuramos uma abordagem mais simples para se obter a condição de quan-
tização de Dirac. A maioria dos trabalhos partem de uma forma do potencial,
enquanto nós supomos que esta forma existe, mas nós não a explicitamos e na
condição de quantização obtemos a forma do potencial.
Neste capı́tulo, utilizando o formalismo de operadores da mecânica quântica,
vamos obter a conservação do momento angular para o sistema formado por uma
partı́cula de carga elétrica em movimento no campo de um monopolo magnético.
Tentaremos obter um conjunto completo de operadores comutantes e a condição
de quantização de Dirac. Verificamos que nestas condições, a partı́cula é espa-
lhada devido a ação do campo do monopolo (e esta verificação está contida no
Apêndice C.) Verificamos também o comportamento desta carga sob à ação do
campo de um dipolo magnético, que consta do Apêndice D.
Vimos no capı́tulo anterior que, a princı́pio é possı́vel ter uma hamiltoni-
ana H para uma partı́cula de carga elétrica e em um campo magnético gerado por
um monopolo g, e descrito por um potencial vetor Ai , que não sabemos a forma
mas que pode ser aquele proposto no trabalho de Cardoso de Mello-Carneiro-
Nemes [27], dado pela equação (4.53) .
61

1 2
H= Π, Πi = pi − eAi . (5.1)
2m i
Utilizando as relações de comutação

[ri , pj ] = i~δ ij ; [ri , rj ] = [pi , pj ] = 0, (5.2)

e a relação
[Πi , Πj ] = ieFij (5.3)

temos

. i Π
ri = − [ri , H] = i (5.4)
~ m

. i e
Πi = − [Πi , H] = Fij Πj (5.5)
~ µ

[Fij , Πj ] = 0 (5.6)

já que o campo do monopolo é dado por

rk
Fij = gεijk (5.7)
r3

Fij = εijk Bk (5.8)

temos que
.
.. Π
ri = i
m

.. e
m ri = Fij Πj (5.9)
µ

dΠ2 i£ ¤
= − Π2 , H = 0
dt ~

Π2 (t) = Π2 (0) = constante (5.10)


62

.
tendo-se que Πi e Πi são perpendiculares entre si, e que o escalar χ(t) é igual ao
produto escalar x.Π, sendo

Π2
χ(t) = t + χ0 . (5.11)
m
O operador momento angular mecânico da partı́cula de carga elétrica
movendo-se no campo de um monopolo magnético é dado por

Li = εijk rj Πk (5.12)

que com isso, determina-se o valor do torque sobre o sistema formado pela
partı́cula carregada em movimento no campo de um monopolo magnético.

i
L̇i = − [Li , H]
~

i~e e e
L̇i = Bi + rBΠi − Bi χ. (5.13)
m m m
ri
Como a ordem de derivação dos fatores do vetor unitário r
pode influir
no resultado da derivada, tivemos que usar a seguinte propriedade:
µ ¶
. d ³ ri ´ 1 d 1 1
r̂i = = ri + ri
dt r 2 dt r r
a qual simplifica o cálculo das relações de comutação entre o operador de posição
da partı́cula r e o operador hamiltoniano H.

. i ¡£ −1 ¤ £ ¤¢ 1 ¡ −1 ¢
r̂i = − r , H ri + ri r−1 , H + r Πi + Πi r−1 (5.14)
2~ 2m
i~ −3 1 1 ri
= r ri + Πi − χ. (5.15)
m mr m r3
Dessa forma, é possı́vel determinar que a conservação do momento angu-
lar nesta representação é diretamente proporcional ao produto das cargas elétrica
e magnética envolvidas:
.
L̇i = eg r̂i

d
(Li − egr̂i ) = 0 (5.16)
dt
63

em que o argumento da derivada é igual ao momento angular li .

li = Li − egr̂i

em que li é o momento angular total do sistema e que é uma quantidade conser-


vada, formada pelo momento angular orbital e pelo momento angular do campo
eletromagnético.
Observa-se também que o torque pode ser escrito em função do campo
magnético

e e .
L̇i = (r.B) Πi − Bi (χ − i~) = eg r̂i . (5.17)
m m
Além disso, o produto escalar do vetor unitário r̂i por li é uma constante de
movimento:

r̂i li = eg. (5.18)

Uma expressão para o quadrado da posição em função do tempo é escrita


a partir da derivada temporal do produto xi xi .

dr2
= ẋi xi + xi ẋi
dt

Π2 2 1
r2 (t) = t + (2χ0 − 3i~) t + r02 . (5.19)
m m
Algumas regras de comutação entre os operadores são analisados para se
verificar o fechamento da álgebra.

[Πj , li ] = i~εijk Πk (5.20)

[rj , li ] = i~εijk rk (5.21)

[Li , Lj ] = i~εijk (Lk + egr̂k ) (5.22)

[Li , r̂j ] = i~εijk r̂k (5.23)


64

[li , lj ] = i~εijk lk . (5.24)

O operador de Casimir da álgebra de momento angular (5.24) é l2 .

£ ¤
l2 , lj = li [li , lj ] + [li , lj ] li = i~ (εijk li lk − εijk li lk ) = 0 (5.25)

³ ri ri ´
l = li li = εijk rj Πk εilm rl Πm − egεijk rj Πk + rj Πk + e2 g 2
2
r r

da mesma forma, as componentes de li são dispostas como:

x
lx = yΠz − zΠy − eg ,
r

y
ly = zΠx − xΠz − eg ,
r

z
lz = xΠy − yΠx − eg .
r

O momento angular total formado pelo momento angular mecânico da


partı́cula mais o do campo eletromagnético, é que obedece a álgebra de momento
angular e que portanto seria o ideal para se quantizar, não o momento angular
eletromagnético sozinho.
Como Singleton observou na referência [29], o momento angular eletro-
magnético de uma partı́cula carregada na presença de um dipolo magnético (dois
monopolos) também não obedece a álgebra e sim o momento total. Neste caso o
momento angular que obedece a álgebra so(3) (ou su(2)) como em (5.24) é o mo-
mento total levando em consideração o torque que o campo magnético criado pela
carga e faz sobre o dipolo magnético. Como é um caso particular, mostramos o
seu desenvolvimento e suas particularidades comparados com o caso tratado aqui,
no apêndice (E) .
Para obter a condição de quantização de Dirac vamos tomar o conjunto
completo de operadores comutantes H, l2 e lz e supor que existem auto-estados
para eles. Particularmente temos que o operador lz possui auto valor m~, com m
sendo um número inteiro, temos:
65

· ¸

lz |ψ (~r)i = −i~ − er sen θ Aϕ − eg cos θ |ψ (~r)i = m~ |ψ (~r)i . (5.26)
∂ϕ

Impomos uma condição mı́nima que

−er sen θ Aϕ − eg cos θ = ∓eg. (5.27)

Desta forma de (5.26) fica,


· ¸

lz |ψ (~r)i = −i~ ∓ eg |ψ (~r)i = m~ |ψ (~r)i . (5.28)
∂ϕ

e a condição (5.27) leva ao potencial Aϕ do monopolo de Wu-Yang [14].

1 ∓ cos θ
Aϕ = ±g . (5.29)
r sen θ
Vimos que os componentes de ~l satisfazem à álgebra usual de momento
angular so(3) e que comuta com a hamiltoniana. Agora precisamos averiguar mais
o comportamento das componentes de ~l e do operador de Casimir da álgebra ~l2 ,
como é usualmente feito [36], [5] .
Escolhemos ~l2 e lz como dois operadores que admitem auto-funções simul-
taneamente uma vez que eles comutam e assumir que estas autofunções existem
e são não singulares em todo o domı́nio das variáveis angulares θ e ϕ é possı́vel
baseado nos estudos das referências [9] e [40].
Analisamos o problema de auto-valores de ~l2 e lz primeiramente.
Constroi-se os operadores l+ = lx + ily e l− = lx − ily .
Uma possı́vel realização de auto-funções de ~l2 e lz que pode ser sugerida
seria
Y (θ, ϕ) = ei(m ~ )ϕ χ (θ) .
eg
±
(5.30)

Desta forma

lz Y (θ, ϕ) = m~Y (θ, ϕ) (5.31)

ou seja Y (θ, ϕ) é auto-função de lz com auto-valor m~.


66

O fato de que ei(m ± ~ )ϕ seja monovalente (identificação de ϕ e ϕ + 2π)


eg

¡ ¢
nos leva a m ± eg~ ∈ Z+ explicitamente.
Mesmo não tratando da equação de autovalor

~l2 Y (θ, ϕ) = λ~2 Y (θ, ϕ) (5.32)

admitiremos que χ (θ) existe e é bem comportado para qualquer valor de θ.


É possı́vel demonstrar, utilizando a álgebra so(3) obedecida pelas com-
ponentes de ~l, que m pode ser inteiro ou semi-inteiro. Isto pode ser feito como
no Merzbacher por exemplo [5] quanto trata dos operadores de rotação.
Construindo os operadores

l+ = lx + ily e l− = lx − ily (5.33)

obtemos as relações de comutação

[lz , l± ] = ±~l± (5.34)

[l+ , l− ] = 2~lz (5.35)

e a seguinte identidade
~l2 − l2 ± ~lz = l± l∓ (5.36)
z

Utilizando a relação (5.34) obtemos

lz l± |m, λi = (m ± 1) ~l± |m, λi (5.37)

além disso temos

~l2 l± |m, λi = λ~2 l± |m, λi . (5.38)

As equações (5.37) e (5.38) mostram que l± |m, λi são também auto-


vetores de lz com autovalores (m ± 1) ~ e de ~l2 com autovalor λ~2 , ou seja, pode-
mos escrever
l± |m, λi = C± (m, λ) ~ |m ± 1, λi (5.39)
67

onde C± (m, λ) são números que precisam ser determinados. Desta forma l±
podem ser caracterizados como operadores escada da álgebra; l+ levanta um
auto-estado de |m, λi para outro e l− abaixa para |m − 1, λi.
É possível mostrar que para um dado λ existe um valor máximo de m = l
em que
l+ |l, λi = 0 (5.40)

ou seja existe um limite superior para os auto-estados possíveis, com um λ fixo.


Isto pode ser mostrado da seguinte forma

hm, λ| ~l2 − lz2 |m, λi = hm, λ| lx2 + ly2 |m, λi

1
= hm, λ| (l+ l− + l− l+ ) |m, λi
2
1 ³ ´
† †
= hm, λ| l+ l+ + l+ l+ |m, λi
2

onde utilizamos l− = l+ .
Desde que é um operador definido positivo temos
¡ ¢
hm, λ| ~l2 − lz2 |m, λi = λ2 − m2 ~2 > 0

onde assumimos que os auto-estados estão normalizados.


Assim
m2 6 λ2

ou seja, existe um limite superior para (k = l). Da mesma forma pode-se provar
que existe um valor mínimo (k = l0 ) para o qual,

¯ E
¯0
l− ¯l , λ = 0 (5.41)

para um dado λ.
Além disto se aplicarmos em (5.40) temos
³ ´
~2 2
l− l+ |l, λi = l − lz − ~lz |l, λi

³ ´
= λ − ~l2 − l ~2 |l, λi = 0
68

onde utilizamos (5.36). Assim concluimos que

λ = l(l + 1). (5.42)

Da mesma forma, aplicando l+ em (5.41) obtemos

λ = l0 (l0 + 1). (5.43)

Equações (5.42) e (5.43) nos levam a concluir que

l0 = −l. (5.44)

Como |l, λi e |l0 , λi são auto-estados de lz e ~l2 com auto-valores(l, λ) e


(l0 , λ), podemos alcançar |l0 , λi a partir de |l, λi após sucessivas aplicações do
operadorl− (l+ ). Lembrando que cada passo para cima (para baixo) decresce
(cresce) o valor de l de uma unidade e são necessários l − l0 = 2l passos con-
cluímos que l é um inteiro ou semi-inteiro positivo. Além disto, da equação
(5.42) concluímos que λ pode ser escrito como λ = l(l + 1) e que, para um dado
l, m pode assumir os valores dentro do intervalo −l 6 m 6 l variando de um em
um.
Da equação(5.31) e do fato que (m ± eg
~ ) ∈ Z+ temos que

n~
eg = , n ∈ Z+ (5.45)
2
que é a condição de quantização de Dirac.
Com a imposição da condição mı́nima (5.27), também conseguimos tirar
as formas dos campos Ax e Ay :

z
−e (xAy − yAx ) − eg = eg
r

sendo que
g (r − z) ¡ 2 ¢
(xAy − yAx ) (r + z) r = r − z2
(r − z)
resultando na expressão

g (x2 + y 2 )
xAy − yAx =
r (r + z)
69

se a função é bem comportada para y = 0 :

gx
Ay = , (5.46)
r (r + z)

se a função é bem comportada para x = 0 :

gy
Ax = − . (5.47)
r (r + z)

As quais são as mesmas equações (3.5) para o potencial com singularidade em


−z.
Uma outra abordagem seria: escolher como operadores comutantes H,
~l2 e n̂.~l onde n é um unitário.

Note que
³ ´
~ − eg n̂.~r .
n̂.~l = n̂. (~r × p~) − e n̂. ~r × A
|~r|

Supondo que

~ = f1 (r)r̂ + f2 (r)n̂ + f3 (r)n̂ × ~r


A

temos

~ = f2 ~r × n̂ + f3~r × (n̂ × ~r)


~r × A

= f2 ~r × n̂ + f3 r2 n̂ − f3 (~r.n̂) ~r

implicando em
³ ´ £ ¤
~ = −ef3 r2 − (n̂.~r)2
−e n̂. ~r × A

se impomos que
³ ´
~ − eg n̂.~r = 0
−e n̂. ~r × A
|~r|
temos
£ ¤ n̂.~r
f3 r2 − (n̂.~r)2 = −g
|~r|

implicando que
n̂.~r 1
f3 = −g
|~r| r2 − (n̂.~r)2
70

como f1 e f2 dão contribuição nula, um calibre particular que podemos escolher


é µ ¶
~= g
A
1

1
n̂ × ~r (5.48)
2 |~r| |~r| + n̂.~r ~r − n̂.~r
que é a forma do potencial vetor para um monopolo estático dada por Schwinger
[7] que implica uma linha de singularidade ao longo de n̂ e correndo em ambos
os lados do monopolo.
Se impomos
³ ´
~ − g n̂.~r = ±g
− n̂. ~r × A
|~r|
obtemos
g |~r| ± n̂.~r
f3 (r) = ∓
r r2 − (n̂.~r)2
desta forma, tem-se que

~=+g
A
n̂ × ~r
|~r| |~r| + (n̂.~r)
e

~=−g
A
n̂ × ~r
|~r| |~r| − (n̂.~r)
que corresponde as soluções de Schwinger, porém somente com singularidades
correndo na direção de n̂, mas semi-infinitas, as quais podem ser usadas na escolha
de n̂.~l, l2 e H como conjunto de operadores comutantes e que, com o mesmo
argumento, leva à quantização de Dirac.
Ainda estamos investigando a possibilidade de obter a forma do potencial
da equação (4.53) como conseqüência da condição de quantização. Talvez também
tenhamos que lançar mão da representação não unitária do operador de rotação.
Esta última abordagem também foram consideradas em [9] e [40].
Uma outra forma para o potencial, a saber

g
Ar = 0; Aθ = − φ sen θ; Aφ = 0 (5.49)
r
foi sugerido recentemente na literatura [41], nós o descartamos pois, como argu-
mentam os autores, numa abordagem semi-clássica a fase adquirida pela função
de onda deve ser quantizada, ou seja
71

H
i ~
e ~ eg d ~
r.A
= ein2π (5.50)

e este potencial não é unı́voco para definir a fase.


Capı́tulo 6

Equações de Maxwell e a redução


para 2+1 D

6.1 Uma nova visão para a dualidade de Hea-


viside
Em seu trabalho, Mignaco [35] propôs uma visão diferente para o eletromag-
netismo clássico e a dualidade de Heaviside. Como em nosso mundo atual, as
partı́culas de carga magnética, diferentemente das partı́culas de carga elétrica, são
muito difı́ceis de serem detectadas, então supõe-se que para serem, é necessário
se alcançar energias muito mais altas que as atuais já atingidas.
A transformação de dualidade de Heaviside é a mesma transformação
dual usual.
Apesar do eletromagnetismo usual possuir equações de movimento simé-
³ ´
tricas em relação a uma transformação de Heaviside E~ → −B,
~ B ~ →E~ , a den-

sidade de lagrangiana que gera estas equações de movimento, ganha um sinal


global quando submetida a essa transformação.
Com o intuito de conseguir escrever uma densidade de lagrangiana que se-
ja simétrica sob uma transformação dual satisfatória, Mignaco e Galvão [30] visu-
alisaram um mundo diferente, de altas energias, em que os monopolos magnéticos
fossem abundantes e os monopolos elétricos escassos. Esse novo sistema seria
73

descrito por uma nova teoria dual à eletrodinâmica usual, chamada de magne-
→ →
todinâmica clássica com campos elétrico E 0 e magnético B 0 diferentes dos campos
~ eB
E ~ do mundo real. Entre a antiga e a nova teoria, haveria uma ligação, uma

transformação do tipo Heaviside, onde seria possı́vel escrever essa lagrangiana.


Essa nova visão para a dualidade na teoria eletromagnética clássica, é própria de
Mignaco e Galvão [30], a qual é baseada nas propriedades fı́sicas de uma teoria
dual. Dessa forma são eliminadas os problemas de se trabalhar com as cordas de
Dirac e a duplicação de potenciais, embora seja de certa forma inspirada nesta
última.
Essa mesma idéia é generalizada para a rotação dual.

6.1.1 A dualidade revisitada

Nesta sub-seção, vamos escrever como seriam as equações de Maxwell no formal-


ismo desta seção, uma densidade de lagrangiana que seja simétrica sob dualidade
e que forneça as equações de movimento.
A magnetodinâmica poderia ser:

~ ·E
∇ ~0 = 0 





~ ·B
∇ ~ 0 = ρm 
→ 0 (6.1)
~ ×E
∇ ~ 0 = − J µ − ∂ B~ 
m ∂t  
0 

~
∇×B = ~ 0 ~
∂E 
∂t

em que os campos não satisfazem às mesmas equações que aparecem na teoria
clássica da eletrodinâmica usual.
Os campos dessa nova formulação podem ser escritos em função dos
potenciais, utilizando os mesmos argumentos do caso usual, um potencial vetor
~ e um potencial magnético φ0m pseudo-escalar
elétrico C

~0 = ∇
E ~ ×C
~ 
(6.2)
~ 0 = −∇φ
B ~ m− ~
∂C 
∂t

que são uma parte das equações (4.4) e (4.5) da formulação de 2 potenciais.
74

Com estes campos é possı́vel construir uma lagrangiana de segunda or-


dem que fornece as equações de movimento.

Z ³ 0 ´
1
d3 x B 2 − E 2 − ρm φm − J~m · C
~
0 0 0 0
L{B , E } = (6.3)
2
na forma covariante quadri-dimensional, essa lagrangiana envolveria um tensor
Gµν anti-simétrico de segunda ordem, cujas componentes espaciais seriam as com-
~ e as componentes temporais G0k seriam as componentes de B
ponentes de E ~0 e
³ ´
Cµ = φm , −C~ .

Gµν = ∂µ Cν − ∂ν Cµ

Desta forma a densidade da lagrangiana que gera as equações para os


campos na presença de matéria é dada por:

1
L = − Gµν Gµν − Jm
µ

4
Fazendo agora uma transformação de dualidade correspondente para os
campos e para as fontes,

~ → −B
E ~ 0, ~ →E
B ~ 0, ρm → ρe ,

φ0m → φe , J~m → J~e , ~ → A,


C ~ (6.4)

tem-se Z
1 ¡ ¢
L{E, B} = d3 x E 2 − B 2 − ρe φe − J~e · A
~
2
É possível construir uma densidade de lagrangiana tanto para a eletro-
dinâmica usual quanto para a magnetodinâmica.

1 1
L = − F µν Fµν − Gµν Gµν − Jeµ Aµ − Jm µ 0
Cµ +
4 4
+ (termos de fixação de calibre) (6.5)

a qual é simétrica sob transformação de dualidade e poder-se-ia tentar construir


um cenário onde esta simetria é quebrada levando-nos ao cenário da eletrodinâmica
como a conhecemos.
75

Da lagrangiana pode ser obtido o momento correspondente aos potenciais


Aµ e C 0µ

∂L
= −Ek δ kµ 
∂(∂ 0 Aµ )
. (6.6)
∂L
∂(∂ 0 C 0µ )
= −Bk0 δ kµ 
Em termos dos campos e de seus momenta, as transformações, parametri-
zadas pela rotação dual fica escrita na forma

E = E cos θ − B senθ 
~ ~ ~ 0

. (6.7)
~ =E
B ~ cos θ 
~ 0 senθ − B

Esta rotação dual comparando com a obtida em (2.40), permite fazer a ponte
entre a antiga e a nova teoria.
As propriedades fı́sicas do sistema dual tratado acima, precisam ser
ampliadas corretamente se quisermos preservar a localidade e a invariança de
Lorentz.
A seguir, veremos que fazendo uma redução dimensional das equações de
Maxwell em dimensões 3 + 1 D para 2 + 1 D, utilizando a formulação de dois
potenciais estaremos estudando um caso particular da realização da dualidade
em 2 + 1 D proposta por Galvão e Mignaco.

6.2 Magnetodinâmica em 2+1 D


Seguindo o formalismo proposto pelos trabalhos de Helayël-Abreu-Hott-Moura
Melo [38], Helayël-Moura Melo [33] e da tese de doutorado de Moura Melo [39],
os quais tratam da natureza escalar de objetos planares tipo Dirac, fizemos um
estudo do comportamento destes objetos em um plano especı́fico, aquele que é
perpendicular ao campo elétrico.
É feita uma redução de 3+1 dimensões para 2+1 dimensões para se estu-
dar a natureza planar da corrente magnética. Feita esta redução, e trabalhando
no plano escolhido, a lei de Gauss magnética aparece naturalmente das equações
escritas na forma covariante.
76

Na referência [38] encontrou-se após a redução dois formalismos tipo


eletrodinâmico independentes em 2+1 dimensões, cada um com suas próprias
fontes elétrica e magnética, com a necessária quebra da identidade de Bianchi.
Já em nossa abordagem, a identidade de Bianchi, por conveniência, pode ser
preservada ao se estudar a questão do monopolo magnético e a Lei de Gauss
magnética e a Lei de Indução de Faraday viram equações de movimento.
Adicionamos um termo de Chern-Simons ao nosso formalismo, fizemos
o caso geral baseado nas idéias de Heneaux e Teitelboim [20] e de Pisarski [21],
conseguimos escrever uma lagrangiana que fornece as equações de movimento
para o nosso formalismo, que permanece em estudo.

6.2.1 Redução dimensional

Partindo do tensor de campo F µν e de seu dual F̃ µν em 3+1 dimensões é feita a


redução dos potenciais e das correntes em 3+1D para as respectivas quantidades
2+1 dimensionais. Vamos partir do pressuposto de que o tensor de intensidade
de campo em 3+1D é escrito em termos de dois potenciais (formulação Cabibbo-
Ferrari).
Começamos de

∂µ̂ F µ̂ν̂ = Jeν̂ e ∂µ̂ Feµ̂ν̂ = Jm


ν̂
(6.8)

com

1
F µ̂ν̂ = ∂ µ̂ Aν̂ − ∂ ν̂ Aµ̂ − εµ̂ν̂ α̂β̂ ∂α̂ Cβ̂ e F̃ µ̂ν̂ = εµ̂ν̂ κ̂λ̂ Fκ̂λ̂ . (6.9)
2

Na redução vamos reescrever as componentes dos potenciais como

³ ´ ³ ´
Aµ̂ → Aµ , A3̂ ≡ S ; C µ̂ → C µ , C 3̂ ≡ V (6.10)

³ ´ ³ ´
Jeµ̂ → Jeµ , Je3̂ ≡ λ ; µ̂
Jm µ
→ Jm 3̂
, Jm ≡χ . (6.11)

Índices com (ˆ) significam quantidades tomadas em 3+1 D e sem (ˆ)


significam componentes de 2+1 D.
77

De tal forma que Aµ = (A0 , A1 , A2 ) é um vetor 2+1 D e A3 ≡ S é um


potencial escalar extra. O mesmo segue para C µ , C 3 ≡ V e para as correntes
elétrica e magnética respectivamente Jeµ e Jm
µ
.
Os tensores de intensidade de campo após a redução, tomam a forma de

³ ´
F µ̂ν̂ → F µν ; F µ̂3̂ ≡ f˜µ (6.12)

³ ´
F̃ µ̂ν̂ → F̃ µν ≡ f µν ; F̃ µ̂3̂ = F̃ µ (6.13)

onde os novos tensores de intensidade de campo ficam definidos como

F µν = ∂ µ Aν − ∂ ν Aµ − εµνα ∂α V ,

∼µ
µνk µ
F = ε ∂ν Ak − ∂ V

f µν = εµνα ∂α S + ∂ µ C ν − ∂ ν C µ (6.14)

f˜µ = ∂ µ S − εµνα ∂ν Cα . (6.15)

Na redução não há dependência das quantidades (campos, potenciais e


correntes) com a terceira componente espacial advinda das 3+1 dimensões, ou
seja, ∂3̂ f = 0.
Pode ser observado que os usuais campos elétrico e magnético planares
estão contidos no tensor de intensidade de campo

¡ ¢
F µν F 01 = −Ex , F 02 = −Ey , F 12 = −B

³ ´
µ 0 1 2
F̃ F̃ = −B, F̃ = −Ey , F̃ = Ex .

Por outro lado


¡ ¢
f µν f 01 = bx , f 02 = by , f 12 = −e

e
78

³ ´
f˜µ F̃ 0 = −e, f˜1 = by , f˜2 = −bx (6.16)

Desta forma, os campos f˜µ = ∂ µ S −εµνα ∂ν Cαµ e f µν = ²µνκ f˜κ aparentam


um segundo setor magnetodinâmico como segue abaixo.
Pelas relações (6.11) - (6.13) e expressões de (6.8), temos as duas séries
de equações para os dois setores:
Para o 1o temos

∂µ F µν = Jeν e ∂µ Feµ = χ,

o primeiro conjunto de equações são escritas explicitamente como



ij i
² ∂ B = ∂t E + j
Jej , 




∇. E = Je0 = ρ, (6.17)



∂t B + ²ij ∂ i E j = χ, 
que representa o primeiro setor, o qual é o eletromagnetismo usual em 2+1 D [39]
A quebra da identidade de Bianchi em 2+1 dimensões no primeiro setor
(3a equação acima), devido a fonte magnética, e a sua interação no mundo pla-
nar é a manifestação tridimensional da terceira componente da quadri-corrente
magnética.
A diferença com o eletromagnetismo usual são duas: em vez dos campos
serem escritos em função dos potenciais como

E i = −∂ i φe − ∂t Ai (6.18)

B = ²ij ∂ i Aj

temos aqui a introdução de um potencial extra, desta forma as componentes dos


campos elétrico e magnético ficam

E i = −∂ i φe − ∂t Ai -²ij ∂ j V (6.19)

B = ²ij ∂ i Aj − ∂t V

Já para o segundo setor, escolhemos um plano em que o campo magnético


tenha duas componentes e um campo elérico perpendicular a eles. Assim, o
79

segundo setor está definido a partir das componentes de f˜µ com as seguintes
equações

∂µ f µν = Jm
ν
, (6.20)

∂µ f˜µ = λ. (6.21)

De (6.20) tira-se as equações de movimento



∂t bi + εij ∂j e = Jmi , 



~ ~b = −ρm ,
∇. (6.22)



ε ∂ b = ∂ e + λ. 
ij i j t

Observa-se que o monopolo magnético sai naturalmente deste tipo de


formalismo.
De (6.21), tem-se uma reprodução da lei de Ampère-Maxwell.
A identidade de Bianchi não é necessariamente quebrada neste segundo
setor. Pois se tivermos interessados apenas no estudo do monopolo magnético,
podemos fazer λ = 0, sendo que as equações de movimento saem de (6.20) . E
assim (6.21) pode por conveniência ser feita igual a zero, preservando assim a
identidade de Bianchi.
Neste novo formalismo, temos apenas uma componente para o campo
eléteico e, ou seja, ele é um pseudo-escalar no plano em que estamos trabalhando.
Já o campo magnético ~b é um vetor que possui duas componentes bx e by , estando
contido no plano (x, y).
O vetor campo magnético ~b e o pseudo-escalar campo elétrico e, escritos
em função dos potenciais ficam sendo

~b = −∂t C
~ − ∇φ
~ − εij ∂ j S (6.23)

e = −∂t S + εij ∂ i C j . (6.24)

A partir de (6.14) e (6.16), escreve-se a matriz do tensor f µν em função


das componentes dos campos e e ~b.
80

 
0 bx by
 
 
f µν =  −bx 0 −e . (6.25)
 
−by e 0
Verifica-se que por uma transformação de dualidade, as equações de um
setor se tornam as equações do outro setor.
Uma tentativa de densidade de lagrangiana geral para os dois setores
pode ser escrita como uma soma das lagrangianas de cada setor, mas deve-se
tomar cuidado com o fato que esta não fornece as equações de Maxwell não
homogêneas para cada setor

1 1
L = − Fµν F µν − fµν f µν − Jeµ Aµ − Jm
µ
Cµ . (6.26)
4 4

6.3 Análise do 1o setor com e sem CS.


Objetos tipo Dirac ocorrem por quebrar a identidade de Bianchi. Em 3+1 di-
mensões, quando nós considerarmos a electrodinâmica de Maxwell com fontes
magnéticas, segundo [38], temos as equações

∂µ̂ F µ̂ν̂ = Jeν̂ e ∂µ̂ F̃ µ̂ν̂ = Jm


ν̂
.

~ = χ0 , quando tomado uma fonte pontual


A lei de Gauss magnética, ∇· B
χ0 = gδ 3 (~x), nos conduz ao conceito do monopolo magnético genuíno desde que
~ = g~x/4π |~x|3 , em analogia ao campo elétrico produzido por uma carga elétrica
B
pontual.
Em 2+1 dimensões, a identidade de Bianchi é quebrada.

∂ µ F̃µ = ∂t B + ²ij ∂ i E j = χ.

Como não há lei de Gauss para o campo magnético, não há o monoplo
magnético do tipo encontrado em 3+1 dimensões.
81

Para o caso não massivo, a quebra da identidade de Bianchi não causa


nenhum efeito sobre as equações de movimento, isto é, a corrente elétrica é con-
servada,
∂ν ∂µ F µν = ∂ν j ν = 0 .

Contudo, quando se adiciona o termo de Chern-Simons, LCS = mAµ F̃ µ ,


as equações de movimento adquirem um termo de corrente (topológica) extra,

∂µ F µν = j ν + mF̃ ν , (6.27)

que fornece

~ = ρ + mB
∇·E

e
²ij ∂ i B = ∂t E j + Jej + m²ij E i .

Se agora, introduzirmos objetos tipo Dirac, ∂ µ F̃µ = χ, então a corrente não será
conservada,
∂ν ∂µ F µν = m χ , (6.28)

e a simetria de calibre é perdida. Dessa forma, para restabelecer a simetria,


supõe-se que a aparência de objetos tipo Dirac induz uma corrente elétrica extra,

ν
JM = −mF̃ ν , (6.29)

tal que a equação (6.27) é modificada para

∂µ F µν = J ν + mF̃ ν (6.30)

e agora é conservada

∂ν ∂µ F µν = ∂ν J ν + m∂ν F̃ ν = 0 , (6.31)

ν
onde J ν = Jeν + jM é a corrente elétrica total (usual mais a topologicamente
induzida) como é tratada por Pisarski [21].
82

6.4 Introdução de um termo de Chern-Simons


no 2o setor
Tomando parte do formalismo proposto por Henneaux e Teitelboim [20], e por
Pisarski [21], é formulada uma lagrangiana que fornecerá as equações de movi-
mento.
A lagrangiana encontrada é para o caso onde λ = 0, fazendo com que a
identidade de Bianchi seja preservada.
Assim,

∂µ f µν + mf˜ν = Jm
ν
(6.32)

∂ν ∂µ f µν + m∂ν f˜ν = ∂ν Jm
ν
,

dessa forma recupera-se a expressão (6.21) .


As equações de campo são geradas pela ação

Z · ¸
1 m
S= d x − fµν f µν + εµνλ Cµ ∂ν Cλ + Jm
3 µ
Cµ − m∂ µ SCµ (6.33)
4 2

com

∂L m
∂µ = ∂µ f µν − ενµα ∂µ Cα (6.34)
∂ (∂µ Cν ) 2
e

∂L µ
= Jm − mεµνλ ∂ν Cλ − m∂ µ S (6.35)
∂Cµ
Este formalismo ainda está sendo estudado.
Para a densidade de lagrangiana reproduzir corretamente as equações
de movimento propostas pelo formalismo em estudo, sem a necesidade de se
introduzir condições subsidiárias, talvez tenhamos que utilizar a formulação não
local como proposto no trabalho de Cardoso de Mello, Carneiro e Nemes [27].
Capı́tulo 7

Conclusão

Nesta dissertação apresentamos uma discussão da condição de quantização de


Dirac na formulação de dois fótons para o eletromagnetismo com monopolos
magnéticos a partir das diversas abordagens da formulação dada na literatura
em 3+1 D. A técnica utilizada neste estudo é a da duplicação de potenciais para
os campos, evitando a utilização de variáveis singulares não locais (cordas de
Dirac), na eletrodinâmica clássica, examinando as simetrias no tratamento de
cargas elétricas e magnéticas.
A introdução de um novo potencial não aumenta o número de variáveis
independentes. Esta afirmativa não está explicitamente demonstrada na literatu-
ra.
Além de evitar a singularidade existente no potencial, esta formulação
tem a vantagem de permitir a implementação da rotação dual para os potenciais,
o que não é possı́vel na formulação usual.
Concluimos também que é possı́vel escrever uma ação integral que de-
screva tanto as equações para os campos quanto para as partı́culas, em uma
formulação que leve em consideração potenciais não-locais.
Fazemos uma crı́tica da quantização semi-clássica, pois um sistema de
uma carga elétrica movendo-se no campo de um dipolo magnético porta um
momento angular, que com o argumento semi-clássico para a quantização do
dipolo-carga, gera um conflito com a mecânica quântica.
Concluimos que para a condição de quantização de Dirac, é necessário
84

levar em consideração não somente o momento angular do campo eletromagnético,


mas também o momento angular orbital, fazendo com que o momento angular
total do sistema seja uma quantidade conservada.
Aplicamos estas abordagens em 2+1 dimensões na análise da quantização
do coeficiente do termo de CS. Concluimos que dependendo do setor escolhido,
podemos descrever o eletromagnetismo com fonte magnética sem quebrar a iden-
tidade de Bianchi, e que em uma transformação de dualidade podemos voltar ao
setor planar eletromagnético usual e vice-versa. Comparamos nossas abordagens
com outras da literatura.
Apêndice A

Notação

Quantidades tri-dimensionais

Elemento de comprimento: dx
Elemento de área: d2 x
Elemento de volume: d3 x
~
Potencial vetor: B
~
Intensidade de campo elétrico: E
Densidade de carga: J~
Momento: p~
Energia: E
Hamiltoniana: H
Potencial elétrico escalar: φe
Potencial magnético pseudo-escalar: φm
~
Intensidade de campo magnético: B
Densidade de corrente: ρ
ı́ndices tensoriais: µ, ν, ... = 0, 1, 2
Métrica diag η µν = (+, −, −)
Tensor unitário antissimétrico de ordem três: ²012 = ²012 = +1
86

Quantidades quadri dimensionais

ı́ndices tensoriais: µ, ν, ... = 0, 1, 2, 3


Métrica diag η µν = (+, −, −, −)
Tensor unitário antissimétrico de ordem quatro: ²0123 = −²0123 = +1
Elemento de hipersuperfı́cie: dSµ
Elemento de quadri-volume: dΩ
³´ ³ ´
ν ~ ~
Quadri-potencial do campo eletromagnético: A = φ, A ; Aν = φ, −A
Quadri tensor de energia-momento: T µν
Apêndice B

Formulação tipo férmion

B.1 Definição
Utilizando o formalismo tipo férmion, fizemos uma tentativa de inserir fontes na
lagrangiana. Partindo pela inserção de termos em função das correntes e dos
~ e ~jm .B.
campos elétrico e magnético do tipo ~je .E ~
~ ~jm e B
A densidade de lagrangiana L escrita em termos de ~je , E, ~ fica:

· . . ³ ´ ³ ´
~† E
L = α iE ~ +iB
~† B
~ −E
~ † ~s.∇
~ B ~ +B
~ † ~s.∇
~ E+~ (B.1)
i
+i J~e E
~ † + i J~e E
~ + J~m iB
~ † + J~m iB
~

em que a quantidade α tem dimensão inversamente proporcional à massa e não


³ ´
~
altera as equações de movimento para os campos, e a quantidade ~s.∇ B ~ =
jk
(si ) ∂j Bk e ~s são três matrizes 3 × 3 definidas por (si )jk = −iεijk .
As equações para os campos podem ser obtidas das equações de Euler-
Lagrange.

∂L ∂L ∂L
− ∂t − ∂j =0
∂Ei ∂ Ėi ∂ (∂j Ei )

sendo

∂E~† 1 ³ ~ ´ ~†
−i = ~s.∇ iB − i J~e (B.2)
∂t i
e
88

∂L ∂L ∂L
− ∂t − ∂j =0
∂Bi ∂ Ḃi ∂ (∂j Bi )

sendo

~†
1 ∂iB 1 ³ ~ ´ ~† 1 ~
− = ~s.∇ E − i Jm . (B.3)
i ∂t i i
As equações de movimento para E~ eB
~ provém de

∂L ~ ³
∂E ´
=i ~
− ~s.∇ B ~ + i J~e = 0
~†
∂E ∂t

e de

∂L ~ ³
∂B ´
=i ~ E
+ ~s.∇ ~ + i J~m = 0
~†
∂B ∂t

dando

~
∇ ~ = ∂ E + J~e
~ ×B (B.4)
∂t

~
∇ ~ = − ∂ B − J~m
~ ×E (B.5)
∂t
Esta lagrangiana não nos fornece as duas leis de Gauss com fontes

~ E
∇. ~ = ρe (B.6)

~ B
∇. ~ = ρm (B.7)

Da mesma forma, na tentativa de inserir as fontes na lagrangiana em


questão, utilizamos a transformação

ψ → eiθ(x) ψ (B.8)

em que ψ é a função de onda para o fóton do tipo


µ ~ ¶ ³ ´
E ~† ~ †
ψ= ~ e ψ̄ = E iB .
iB
89

Vimos que a densidade de lagrangiana L não é invariante sob esta trans-


formação (B.8) .

L = ψ̄ (iΓµ ∂µ ) ψ − ψ̄ (Γµ ∂µ θ) ψ. (B.9)

Incluimos um termo de interação do tipo g ψ̄Γµ Jµ ψ. Tal que

Jµ → Jµ + ∂µ θ

sob a transformação de calibre, e a densidade de lagrangiana L fica invariante


sob a transformação.

L = ψ̄ (iΓµ ∂µ ) ψ + g ψ̄Γµ Jµ ψ. (B.10)

Fizemos o mesmo procedimento acima para

ψ → eiα(x)Γ5 ψ. (B.11a)

Incluimos um termo de interação do tipo g ψ̄Γµ Γ5 Jµ ψ. Tal que

Jµ → Jµ + ∂µ α.

A densidade de lagrangiana invariante sob a transformação,

L = ψ̄ (iΓµ ∂µ ) ψ + g ψ̄Γµ Γ5 Jµ ψ. (B.12)

Utilizamos as definições para as matrizes 6 × 6,

     
I 0 0 s 0 I
Γ0 =  , ~Γ =  , Γ5 =   (B.13)
0 −I −s 0 I 0

e
 
0 s
~=
S  (B.14)
s 0
onde I é a matriz identidade 3 × 3.
A função de onda para o fóton ψ é do tipo
90

 
~
E ³ ´
ψ=  e ψ̄ = ~ † iB
E ~† . (B.15)
~
iB
Para o primeiro caso, as equações para os campos saem de

∂L
= (iΓµ ∂µ ) ψ + gΓµ Jµ ψ = 0 (B.16)
∂ ψ̄
em que
  
∂t − (si )jk ∂j Ek
i  +
jk
(si ) ∂J −∂t iBk
    
J0 − (si )jk Jj −Ek 0
+g   = .
jk
(si ) Jj −J0 iBk 0
De onde tiramos as equações

~
∇ ~ − ∂ E = −igJ0 E
~ ×B ~ + ig J~ × B
~ (B.17)
∂t
e

~
∇ ~ + ∂ B = igJ0 B
~ ×E ~ + ig J~ × E.
~ (B.18)
∂t
Para o segundo caso, o procedimento é o mesmo. Da densidade de la-
grangiana (B.12) , tira-se as equações.

~
∇ ~ − ∂ E = gJ0 B
~ ×B ~ + g J~ × E
~ (B.19)
∂t
e

~
∇ ~ + ∂ B = igJ0 E
~ ×E ~ − g J~ × B.
~ (B.20)
∂t
Em seu artigo, Sudbery [19], encontrou uma densidade de lagrangiana
para as equações de Maxwell sem fontes magnéticas: ∂µ .F µν = J ν , ∂µ .F̃ µν = 0.
O que fizemos foi introduzir a fonte magnética na lagrangiana, obtendo como
conseqüência a quebra da identidade de Bianchi.
Escrevemos a densidade de lagrangiana como
91

³ ´ ³ ´ ³ ´ ³ ´
~ = E
L ~× ∇~ ×B
~ −B~× ∇~ ×E
~ + ∇.~ E
~ B ~ − ∇.
~ B
~ E ~−
~
∂B ~

−B ~ × ∂ E + J~e × E
−E ~ + J~m × B
~ − ρe B ~ + ρm E
~ (B.21)
∂t ∂t

que com o princı́pio variacional para a integral de L fornece as equações de Euler-


Lagrange

µ ¶ ³ ´
∂Ek ~ ~
εijk + Jke + ∂j Bi − ∂i Bj + ∇.B − ρm δ ij = 0; (B.22)
∂t

µ ¶ ³ ´
∂Bk m ~ ~
εijk + Jk + ∂i Ej − ∂j Bi − ∇.E − ρe δ ij = 0; (B.23)
∂t

cujas partes simétrica e antissimétrica fornecem as quatro equações de Maxwell


com fontes, equações (B.4) , (B.5) , (B.6) e (B.7) .
Apêndice C

Solução clássica para uma carga


elétrica em interação com um
monopolo magnético

Uma partı́cula elétrica carregada e de massa m movendo-se com uma velocidade


~v no campo de um monopolo magnético sentirá a ação de uma força de Lorentz.
Neste sistema interativo, a energia cinética é uma constante de movimento e o
momento angular total define uma direção no espaço e também é uma constante
de movimento. As órbitas descritas pela partı́cula na direção definida são to-
das abertas, em um movimento espiralado dentro do vórtice resultante de seu
movimento.
~ da partı́cula em interação com o campo
O momento angular orbital L
magnético do monopolo, para o caso estático é dado por:

~ = m ~r × ~v
L (C.1)

a partı́cula neste campo magnético está sob a ação de um torque ~τ proporcional


à força de Lorentz F~ .

~τ = ~r × F~ (C.2)

esta força interage com a partı́cula que se move no campo magnético.


93

F~ = e ~v × B
~ (C.3)

e dela se tira a aceleração ~a que partı́cula sofre neste processo de espalhamento.

e ~
~a = ~v × B (C.4)
m
~ é dado em função da carga do monopolo:
em que o campo magnético B

~ = g ~r .
B (C.5)
r3
A substituição das equações (C.3) e (C.5) na expressão do torque (C.2)
implica em
eg £ 2 ¤
~τ = r ~
v − (~
r .~
v ) ~
r . (C.6)
r3
³ ´
A partı́cula será livre ~τ = 0 e F~ = 0 se ~v0 = v0 r̂. O torque também pode ser
escrito como
. .
~ m ~r× ~v
~τ =L=

com
. .
~v =~r= ṙ r̂ + r r̂

e o momento angular total do sistema ~l será identificado como uma constante de


movimento, de tal forma que:

. .
~ eg r̂
L= (C.7)

ou seja

d ³~ ´
L − e g r̂ = 0 (C.8)
dt
o momento angular total do sistema ~l é formado pelo momento angular orbital L
~

e pelo momento angular do campo eletromagnético −e g r̂.

~l = L
~ − e g r̂. (C.9)

A energia cinética K também é conservada


94

1
K = mv 2
2

dK
= m ~v . ~a.
dt

Da equação (C.4) vê-se claramente que a velocidade e a aceleração são


perpendiculares entre si, implicando na conservação da energia cinética.
Pode-se utilizar o escalar l2 para escrever a expressão para a energia
cinética em um movimento unidimensional.

¡ ¢
l2 = m2 r2 v 2 − r2 ṙ2 + e2 g 2 (C.10)

1 1 ¡2 ¢
K = m ṙ2 + l − e 2 2
g (C.11)
2 2mr2
em que a energia eficaz Uef resulta em

1 ¡2 2 2
¢
Uef = l − e g (C.12)
2mr2
a qual implica na inexistência de órbitas fechadas para a partı́cula, pois como
K > 0 somente poderı́amos ter o movimento sob ~l2 > e2 g 2 . De fato
~l2 − e2 g 2 = L
~ 2 > 0.

Das equações (C.4) e (C.5) também temos

~a . ~r = 0 (C.13)

com
d ³ .´
~r . ~r = ~v 2
dt
e
.
~r . ~r= ~v 2 t + (~r . ~v )0 (C.14)

de tal forma que


r2 (t) = v 2 t2 + 2 (~r . ~v )0 t + r02 . (C.15)
95

Figura˜C.1: Energia em função da coordenada r.

Da expressão do momento angular total do sistema é possı́vel escrever o


vetor l2 e mostrar que ~l é conservado.

l2 = m2 r2 v02 sen2 γ + e2 g 2

sendo que
l2 − e2 g 2
sen2 γ = , (C.16)
m2 v02 [v02 t2 + 2 (~r . ~v )0 t + r02 ]
com (γ 0 6= 0) .
Das equações (C.14) e (C.15) tem-se uma expressão para o cosseno de
γ:

v0 t + r0 cos γ 0
cos γ = p ,
v02 t2 + 2r0 v0 cos γ 0 t + r02

o movimento será livre quando γ 0 for igual a zero ou π.

~ = 0
L

r(t) = r0 ± v0 t. (C.17)

O vetor momento angular total do sistema ~l é conservado e define uma


direção no espaço, podemos escrever ~l apontando no sentido negativo do eixo-z.
96

¯¯
¯¯
É importante notar também que o produto escalar r̂.~l = − eg implica ¯~l¯ cos α =
− eg, ou seja, o ângulo formado entre o vetor posição e ~l é constante.

eg
cos α = − ¯¯ ¯¯ = (π − θ) ,
¯~l¯

para ~l = −l k̂.

Figura˜C.2: Trajetória da partı́cula na presença de um monopolo.

A direção de ~l depende das condições iniciais.


Como lz = −m r2 ϕ̇, temos

l
ϕ̇ = , (C.18)
m r2
fazendo a integração em função de t :

Z t
l £ ¤−1
ϕ= v 2 t2 + 2 (~r . ~v )0 t + r02 dt, (C.19)
m 0

ou
l [v02 t + (~r . ~v )0 ]
ϕ= arctan + ϕ0 , (C.20)
m v0 r0 sen γ 0 v0 r0 sen γ 0
que é válida para os valores de (γ 0 6= 0, π), pois para (γ 0 = 0, π) temos ϕ = ϕ0
onde foi utilizada a equação (C.14). Isso implica que:
97

l [v 2 t + (~r . ~v )0 ] m
ϕ = ϕ0 + ¯¯ ¯¯ arctan 0 ¯ ¯
¯~ ¯ .
~
L
¯ ¯ L
¯ ¯
Apêndice D

Carga elétrica na presença de um


dipolo magnético

Neste apêndice, fazemos com que uma carga elétrica esteja sujeita a ação de um
campo magnético produzido por um dipolo magnético. Tendo em vista a abor-
dagem proposta por Singleton, verificamos se o momento angular generalizado
fecha uma álgebra e procuramos ir além da análise de Singleton mostrando como
pode ser visto o problema comparação com aquele proposto no capı́tulo 5.
O operador hamiltoniano H formado por uma partı́cula de carga elétrica
e um campo magnético gerado por um dipolo magnético mi e descrito por um
quadri vetor potencial Ai é dado por (5.1), em que Πi = pi − eAi .
O campo do dipolo é dado por

Fij = εijk Bk (D.1)

sendo que Bk é

(rl ml ) mk
Bk = 3rk − 3. (D.2)
r5 r
Utilizando as equações (5.1) a (5.4) , as quais também são válidas aqui, encon-
tramos

· ¸
(rl ml ) mk
Π̇i = eεijk 3rk 5 − 3 ṙj . (D.3)
r r
99

Dessa forma, a força µ r̈i atuando sobre a partı́cula pode ser escrita como

µ r̈i = e εijk Bk ṙj . (D.4)

A partir do momento angular do campo eletromagnético Li em formado


pelo sistema carga-dipolo, é possı́vel mostrar o torque L̇i em associado a este
momento angular.

Li em = e mi r−1 − e mi rk mk r−3 (D.5)

i
L̇i em = − [Li em , H] ,
~

que será verificado com a ajuda das seguintes relações de comutação

£ ¤ 1 £ −1 ¤ ΠJ £ −1 ¤
r−1 , H = r , ΠJ ΠJ + r , ΠJ ; (D.6)
2µ 2µ

£ ¤
r−1 , ΠJ = r−2 (−i~∂J r) ;

1 1
[ri , H] = [ri , ΠJ ] ΠJ + ΠJ [ri , ΠJ ] ;
2µ 2µ

[ri , ΠJ ] = i~δ ij ;

£ ¤ 1 £ −3 ¤ 1 £ ¤
r−3 , H = r , ΠJ ΠJ + ΠJ r−3 , ΠJ ;
2µ 2µ

£ ¤
r−3 , ΠJ = 3r−4 (−i~∂J r) .

em que

i e ¡ £ −1 ¤ ¢
L̇i em = − mi r , ΠJ ΠJ + mi ΠJ [ri , ΠJ ] +
~ 2µ
i e ¡
+ [ri , ΠJ ] ΠJ rk mk r−3 + ΠJ [ri , ΠJ ] rk mk r−3
~ 2µ
100

+ri [rk , ΠJ ] ΠJ mk r−3 + ri ΠJ [rk , ΠJ ] mk r−3

£ ¤ £ ¤¢
+ri rk mk r−3 , ΠJ ΠJ + ri rk mk ΠJ r−3 , ΠJ

dando

·
1 1 1
L̇i em = e −mi r J ṙJ − ṙ i rk m k − r i ṙk m k (D.7a)
r3 r3 r3

¸
1
+3ri rk mk 5 rJ ṙj .
r

O momento angular mecânico associado à carga Lmec


i em movimento no
campo do dipolo é dado por

Lmec
i = εilm rl Πm (D.8)

Com isso determina-se o torque L̇mc


i associado a este momento angular

i
L̇mec
i = − [Lmec , H]
~ i

= e (rl Bl ṙi − rl Bi ṙl )

· ¸
1 1 (rl ṙl )
= e 2ṙi (rk mk ) 3 − 3ri (rk mk ) 5 (rl ṙl ) + mk 3
r r r

A conservação do momento angular canônico da carga L̇cc


i , pode ser tirada de
· ¸
1 1
L̇mec
i + L̇i em = e ṙi (rk mk ) 3 − ri (ṙk mk ) 3 .
r r
.
~ em associado ao seu momento angular es-
É possı́vel mostrar o torque L
~ que descreve campo magnético gerado por um dipolo
crevendo o vetor potencial A
magnético m
~ como

~=m
A
~ × ~r
(D.9)
r3
101

. ³ ´
~ em = e d ~r × A
L ~ , (D.10)
dt
~ e realizar as derivadas corre-
que, após fazer a substituicão do vetor potencial A
spondentes, chega-se à expressão vetorial para (D.7a) .
 ³. ´ ³. ´ ³. ´
. m
~ ~r . ~r ~r ~r .m
~ ~r (~r . m)
~ ~r . ~r
~ em = e −
L − + 3 
r3 r3 r3

verificando-se a identidade (D.10) .


Da mesma forma com que anteriormente fora feita para o caso da equação
para a conservação do momento angular canônico da carga L̇cc
i , este será para o

caso vetorial:

. . mc . cc
~ em + L
L ~ =L
~ (D.11)

~ mc é dado por
Sabendo que o momento angular mecânico da carga L

~ mc = ~r × p~ − e ~r × A,
L ~ (D.12)

com
. mc . .
~ = ~r × p~ + ~r× p~ −
L
 ³. ´ ³. ´ ³. ´
.
m
~ ~r . ~r ~r ~r .m
~ ~r (~r.m)
~ ~r (~r . m)
~ ~r . ~r
− e − − − + 3 ,
r3 r3 r3 r5
. cc
~
a equação para a conservação do momento angular canônico da carga L será
dado por
. cc
~ = d (~r × p~)
L
dt
ou seja, como  ³. ´ . ³. ´ 
. cc ~r ~r .m
~ ~r ~r .m~
~ = −e 
L −  (D.13)
r3 r3

cujas componentes são


· ¸
. cc m z ż ż m z
Lz = −e − =0
r3 r3
102

. cc em
Lx = − [x ż − z ẋ]
r3

e
. cc em
Ly = − [y ż − z ẏ]
r3
ou seja

d ³ cc ´
k̂.Lz = 0.
dt
~ cc é paralela à direção de k̂ escolhida para o dipolo magnético
A componente z de L
e o momento angular canônico da carga é conservado.
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