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Processo nº 020.08.

00150071-0 – Ação de Cobrança


Comarca de Criciúma – SC
Juízo Especial Cívil
Autor: VIANTIM- COMÉRCIO E SERVIÇOS LTDA
Réu: JÓ FERNANDES
Juiz de Direito: JAILTON DOS SANTOS TROMBIM VOLPATO
Data: 02 de Julho de 2009

Vistos, etc.

I – Cuida-se de ação de cobrança, pelo procedimento sumário, em que figura,


como autor, VICKRON- COMÈRCIO E SERVIÇOS LTDA, e, como réu,
ANTÕNIO FERNANDES, já qualificados nos autos, onde a primeira pretende a
prestação jurisdicional, aduzindo ser credora da importância de R$500,00,
advinda do débito referente a compra de mercadorias acostadas na inicial.
O réu foi citado, sendo advertido do prazo para o oferecimento de defesa e das
conseqüências de seu silêncio. O prazo de resposta, contudo, transcorreu sem
qualquer manifestação.
Realizada audiência preliminar, foi declarada a revelia da parte requerida.
Os autos vieram-me conclusos.
Breve relato. Decido.
II - Julgo antecipadamente a lide, na forma do art. 330, II, do Código de
Processo Civil, porquanto o deslinde da presente questão cinge-se ao direito
que disciplina a matéria e especialmente porque a parte ré é revel.
Neste sentido, cito Humberto Teodoro1 Jr.(2000, p. 350): “Diante da
revelia, torna-se desnecessária, portanto, a prova dos fatos em se baseou o
pedido de modo a permitir o julgamento antecipado da lide, dispensando-se,
desde logo, a audiência de instrução e julgamento.“
Saliente-se, que o réu incorreu nos efeitos da revelia, uma vez que,
devidamente citado, não apresentou defesa, o artigo 319 do CPC, in verbis:“Se
o réu não contestar a ação, reputar-se-ão verdadeiros os fatos afirmados pelo
autor”

1
JUNIOR, Humberto Teodoro. Curso de Direito Processual Civil.34ªed, Rio de Janeiro:Forense, 2000.
Mesmo diante da revelia, entendo ser crucial verificar as condições da
ação e os pressupostos processuais conforme o artigo 301, § 4º, do CPC.
Humberto Teodoro Júnior ( 200, p. 350) nos ensina que:

Isto, porém, não quer dizer que a revelia importe a automático


julgamento de procedência do pedido. Pode muito bem estar a
relação processual viciada por defeito que torne impraticável o
julgamento de mérito, e ao juiz compete conhecer de ofício as
preliminares relativas aos pressupostos e condições da ação.

As condições da ação são três: possibilidade jurídica do pedido,


interesse de agir e legitimidade da parte, o artigo 3º do CPC, in verbis:“Para
propor a ação ou contestar é necessário ter interesse e legitimidade.” O artigo
267,inciso VI, também diz: “[...] quando não concorrer qualquer das condições
da ação, como a possibilidade jurídica, a legitimação das partes e o interesse
processual”. Quanto aos pressupostos processuais a doutrina nos esclarece
que existem os objetivos e os subjetivos, Humberto Teodoro Jr.(200, p. 53) nos
ensina que:
Os subjetivos relacionam-se com os sujeitos do processo: juiz e
partes. Compreendem: a) competência do juiz para a causa;b)
capacidade civil das partes; c) representação por advogado. [...] Os
objetivos relacionam-se a forma procedimental e como a ausência de
fatos que impeçam a regular constituição do processo[...]que
compreendem: a observância da forma processual adequada à
pretensão;b) a existência nos autos de instrumento de mandato
conferido ao advogado e c) a inexistência de litispendência, coisa
julgada, compromisso, ou inépcia da petição inicial.

Analiso os pressupostos processuais subjetivos, este juízo é


competente para processar e julgar as causas relativas à ação de cobrança de
cheque, em relação à cobrança dos títulos extrajudiciais a CESCHIN2(2009)
nos traz que serão processados “perante o juízo do foro da praça de
pagamento do título, se outro não houver sido eleito; se o título não indicar a
praça de pagamento, a execução deverá ser ajuizada no foro do domicílio do
devedor.”
As partes, como se pode observar nos autos , documentos (fls. 06), tem
capacidade civil para serem partes no processo e, quanto à representação por

2
CESCHIN,Roberto. DIREITO PROCESSUAL CIVIL - PROCESSO DE EXECUÇÃO. Disponível em:
http://www.scribd.com/doc/7085573/Direito-Processual-Civil-Processo-de-ExecuCAo. Acessado em 02
Jul 2009.
advogado, verificou-se a existência de capacidade postulatória (fls. 06), deve-
se observar que é um dos pressupostos de existência da relação jurídica
processual, em regra é materializada através da representação da parte por
advogado do autor devidamente habilitado, mediante a outorga de procuração,
o que foi demonstrado nos autos (fls. 06).
Os pressupostos objetivos não padecem de vícios, verificado a forma
processual, é adequada, inexistem litispendência e coisa julgada conforme
certidão (fls. 07) e a petição inicial preenche todos os requisitos em lei.
A preliminar de possibilidade do pedido em relação ao autor, acolhe boa
messe, pois a existe a possibilidade da ação de cobrança de cheque, quando
ocorre enriquecimento ilícito do emitente, o artigo 61 da lei 7357/85 esclarece:

A ação de enriquecimento contra o emitente ou outros obrigado, que


se locupletaram com o não-pagamento do cheque, prescreve em
2(dois) anos, contados do dia em que se consumar a prescrição
prevista no artigo 59 e seu parágrafo desta lei.3

O Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul neste sentido decidiu em


26/11/2008:

AÇÃO DE COBRANÇA. CHEQUE. PRESCRIÇÃO DA EXECUÇÃO.


LOCUPLETAMENTO INDEVIDO. ARTIGO 61 DA LEI DO CHEQUE.
DESNECESSÁRIA A COMPROVAÇÃO DA CAUSA SUBJACENTE,
POR SE TRATAR DE AÇÃO DE ENRIQUECIMENTO INDEVIDO.
PAGAMENTO DEVIDO COM BASE NOS PRINCÍPIOS
CAMBIÁRIOS DA AUTONOMIA E ABSTRAÇÃO DO TÍTULO. 1.
Prescrito o cheque, perde ele sua força executiva. Ao tomador resta
a ação de locupletamento, prevista no art. 61 da Lei do Cheque, sem
embargo da cobrança posterior a isso, com base no art. 62 do
mesmo diploma legal. 2. Em se tratando de ação de locupletamento
ilícito, aforada contra o emitente do título, dentro do prazo legal de
dois anos subseqüentes à prescrição da ação executiva, não há
necessidade de declinação da causa debendi. 3. No cálculo do
débito apresentado pelo autor há incidência de juros de 1% ao mês
entre o período de 20.12.2006 a 25.07.2007 e multa 10% sobre o
valor total. Exclusão da multa. Juros a contar da citação e correção a
partir da data de emissão de cada um dos cheques. SENTENÇA
REFORMADA. RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO. (Recurso
Cível Nº 71001597103, Segunda Turma Recursal Cível, Turmas
Recursais, Relator: Hilbert Maximiliano Akihito Obara, Julgado em
4
26/11/2008)

3
BULGARELLI. Waldirio. Títulos de Crédito.7ª.ed. São Paulo: Atlas, 1989.
4
RIO GRANDE DO SUL. Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul. AÇÃO DE COBRANÇA.
CHEQUE.[...] Julgado em 26/11/2008. Disponível em :
http://www.tjrs.jus.br/site_php/jprud2/ementa.php. Acessado em: 02 Jul 2009.
O interesse de agir verifica-se no interesse de obter a providência
jurisdicional, segundo Moacir Amaral do Santos (1992, pag. 166) “[...] há o
interesse de agir, de reclamar a atividade jurisdicional do Estado, para que este
tutele o interesse primário, que de outra forma não seria protegido”.5
A legitimação verificou-se regularidade no pólo ativo e passivo da
relação processual. O autor está legitimado para propor a ação, pois verificou-
se ser ele o Credor conforme a nota fiscal e o cheque (fls.05 e 06) e réu da
ação de cobrança é o devedor conforme anotação de seus dados na nota fiscal
e o cheque emitido(fls.05 e 06).
No entanto, é forçoso destacar que, decretada a revelia, o juiz não está
obrigado a julgar procedente o pedido, isto porque a presunção de que trata a
lei respeita, tão somente, à questão fática. As matérias de direito, por certo,
podem ser decididas em desfavor da parte demandante.
No caso dos autos, a autor mencionou a origem da dívida – compra de
mercadorias - e instruiu o feito com a nota fiscal (fls.05) e o cheque (fls.06)
devolvido por carência de fundos.
Destarte, considerando-se o contrato entabulado com devedor, aliados à
revelia, conclui-se pela veracidade dos fatos alegados na inicial, ou seja, que
as mercadorias foram efetivamente entregues pelo autor, tendo ocorrido a
inadimplência do réu, impondo-se, pois, a procedência do pedido.
Cumpre ressaltar, no entanto, que a correção monetária incide a partir
do efetivo prejuízo, in casu, o vencimento da dívida. Os juros moratórios,
contudo, incorrerão somente após a citação.
Nesse sentido o Tribunal do Rio Grande do Sul em 17/12/2008, decidiu:
APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO PRIVADO NÃO ESPECIFICADO.
AÇÃO DE COBRANÇA. CHEQUES DEVOLVIDOS POR
INSUFICIÊNCIA DE FUNDOS. SENTENÇA PARCIALMENTE
PROCEDENTE. TERMO INICIAL DE INCIDÊNCIA DA CORREÇÃO
MONETÁRIA E DOS JUROS DE MORA. A correção monetária
incide a partir da data da apresentação do cheque, já que a emissão
de cheque sem a suficiente provisão de fundos constitui ato ilícito,
assim, o prejuízo ocorre a partir da data da apresentação do título,
por se tratar o cheque de uma ordem de pagamento à vista.
Aplicação do Enunciado da Súmula 43 do STJ. Da mesma forma, os
juros de mora incidem a partir do vencimento da dívida, ou seja, da
apresentação do cheque ao banco (aplicação do artigo 397 do
Código Civil). Precedentes desta Câmara e desta Corte. APELAÇÃO
PROVIDA. (Apelação Cível Nº 70020756821, Vigésima Câmara

5
SANTOS. Moacir Amaral.Primeiras linhas de Direito Processual Civil. 15ªed.São Paulo: Saraiva, v.1.
Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Glênio José Wasserstein
6
Hekman, Julgado em 17/12/2008)
Aplicação, in casu, ainda, do disposto na Súmula nº 437 do STJ que
assim refere: “Súmula 43. Incide correção monetária sobre dívida por ato ilícito
a partir da data do efetivo prejuízo.”

III – Ante o exposto, julgo PROCEDENTE (art. 269, I, CPC) o pedido formulado
na inicial, e condeno o réu ao pagamento da quantia R$ 500,00 (quinhentos
reais), equivalente ao valor da nota fiscal apresentados às fls. 5, devidamente
corrigida monetariamente pelo INPC, partir da data da apresentação do
cheque, acrescida de juros de lei, a partir da citação. A correção monetária e os
juros moratórios incidirão até o efetivo pagamento.
O réu suportará ainda o pagamento das custas processuais e verba honorária
arbitrada em 10% sobre o valor da condenação.

Publique-se, Registre-se, Intime-se

Criciúma SC. 02 de Julho de 2009

JAILTON DOS SANTOS TROMBIM VOLPATO


JUIZ DE DIREITO

6
RIO GRANDE DO SUL. Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul. APELAÇÃO[...]Julgado em
17/12/2008.Disponível em: http://www.tjrs.jus.br/site_php/jprud2/ementa.php. Acessado em 02
Jul 2009.
7
ABREU FILHO. Nylson Paim de(organizador). Constituição Federal, Código Civil e Código de
Processo Civil. 8ªed. Porto Alegre: Verbo Jurídico. 2007.

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