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LIÇÃO 5
Nas duas lições anteriores estu- Vimos, desta forma, que a tabela 0 1 1 = 3
damos as famílias lógicas CMOS e verdade para uma função AND de 1 0 0 = 4
TTL, analisando suas características duas entradas, como a representada 1 0 1 = 5
elétricas principais e a maneira como na figura 1, pode ser dada por: 1 1 0 = 6
os componentes são fabricados atra- 1 1 1 = 7
vés de alguns circuitos típicos. A B S
Nesta lição continuaremos a es- 0 0 0 O conhecimento da contagem bi-
tudar as funções lógicas, agora de 0 1 0 nária facilita bastante a elaboração de
uma forma mais completa. Analisare- 1 0 0 tabelas verdades, quando todas as
mos o que ocorre quando juntamos 1 1 1 combinações possíveis de níveis ló-
diversas funções lógicas, prevendo o gicos em 2, 3 ou 4 entradas devam
que acontece com suas saídas. Os Veja que nas colunas de entrada ser estudadas.
circuitos complexos, como os usados (A e B) para termos todas as combi- Assim, uma vez que o leitor conhe-
nos computadores, por exemplo, se nações possíveis, fazemos o equiva- ça o comportamento das principais
aproveitam das operações complica- lente à numeração binária de 0 a 3, já funções, sabendo o que ocorre na
das que muitas portas lógicas podem que: saída de cada uma quando temos
realizar em conjunto. Assim, é de fun- determinadas entradas e sabendo
damental importância para nosso es- 0 0 = 0 elaborar tabelas verdades, fica fácil
tudo saber analisar estas funções. 0 1 = 1 combinar funções e saber o que acon-
1 0 = 2 tece em suas saídas.
1 1 = 3
5.1 - As tabelas verdade 5.2 - Lógica Combinacional
Os diversos sinais de entrada apli- Para uma tabela verdade feita para Vamos partir de um exemplo sim-
cados a uma função lógica, com to- uma porta AND de 3 entradas tere- ples de lógica combinacional usando
das as suas combinações possíveis, mos: tabelas verdades para saber o que
e a saída correspondente podem ser ocorre na sua saída, com o circuito
colocados numa tabela. A B C S da figura 2.
Nas colunas de entradas coloca- 0 0 0 0 Este circuito faz uso de uma porta
mos todas as combinações possíveis 0 0 1 0 AND, um inversor e uma porta OR. O
de níveis lógicos que as entradas po- 0 1 0 0 resultado desta configuração é uma
dem assumir. Na coluna correspon- 0 1 1 0 função combinacional com três entra-
dente à saída colocamos os valores 1 0 0 0 das e uma saída.
que esta saída assume em função 1 0 1 0
dos níveis lógicos correspondentes na 1 1 0 0
entrada. 1 1 1 1
0 0 0 = 0
Figura 1 - Funções ou porta 0 0 1 = 1 Figura 2 - Circuito combinacional
AND (E) de duas entradas. 0 1 0 = 2 simples com três entradas.
Para elaborar a tabela verdade Sabemos que a tabela verdade Resultando na seguinte tabela:
para este circuito e assim determinar- para o inversor é:
mos todas as saídas possíveis em A B C S1 S2 S
função das entradas, devemos levar A S 0 0 0 1 0 1
em conta que ele é formado por duas 0 1 0 0 1 1 0 1
etapas. 1 0 0 1 0 1 0 1
Na primeira etapa temos a porta 0 1 1 1 1 1
AND e o inversor, enquanto que na Ora, como em nosso caso A é a 1 0 0 0 0 0
segunda etapa temos a porta OR. Isso entrada do inversor e S1 é sua saída, 1 0 1 0 0 0
significa que as saídas dos circuitos podemos partir para a determinação 1 1 0 0 0 0
da primeira etapa, que chamaremos de toda a coluna S1 simplesmente in- 1 1 1 0 1 1
de S1 e S2 são a entrada da segunda vertendo os valores de A, da seguin-
etapa. te forma: Trata-se de uma função bastante
Temos então de levar em conta interessante que pode ser definida
estas saídas na elaboração da tabe- A B C S1 S2 S como “a que fornece uma saída alta
la verdade que terá no seu topo as 0 0 0 1 somente quando a entrada A estiver
seguintes variáveis: 0 0 1 1 no nível baixo, não importando as
0 1 0 1 demais entradas ou ainda quando as
A B C S1 S2 S 0 1 1 1 três entradas estiverem no nível alto”.
1 0 0 0
A,B e C são as entradas dos cir- 1 0 1 0
cuitos. S1 e S2 são pontos intermediá- 1 1 0 0 5.3 - Como Projetar Um Circuito
rios do circuito que precisam ser ana- 1 1 1 0 Combinacional
lisados para a obtenção de S, que é O problema de saber o que acon-
a saída final do circuito. Para encontrar os valores da co- tece com a saída de um circuito for-
Começamos por colocar em A, B luna S2 devemos observar que ela mado por muitas funções lógicas
e C todas as suas condições possí- corresponde à tabela verdade da fun- quando suas entradas recebem diver-
veis, ou todas as combinações de ní- ção AND onde as entradas são B e C sas combinações de sinais não é o
veis lógicos que podem ser aplicadas e a saída é S2. mais importante para o projetista de
ao circuito: equipamentos digitais. Na verdade,
B C S2 muito mais importante que este pro-
A B C S1 S2 S 0 0 0 cedimento é justamente fazer o con-
0 0 0 0 1 0 trário, ou seja, projetar um circuito
0 0 1 1 0 0 que, em função de determinados si-
0 1 0 1 1 1 nais de entrada, forneça exatamente
0 1 1 na saída o que se deseja.
1 0 0 Temos então: O projeto de um circuito que te-
1 0 1 nha uma determinada função envol-
1 1 0 A B C S1 S2 S ve um procedimento de síntese em
1 1 1 0 0 0 1 0 algumas etapas.
0 0 1 1 0 Na primeira etapa deve ser defini-
O passo seguinte é colocar os va- 0 1 0 1 0 do o problema, estabelecendo-se exa-
lores possíveis de S1, que corres- 0 1 1 1 1 tamente qual a função a ser executa-
ponde à saída do inversor. 1 0 0 0 0 da, ou seja, quais as entradas e quais
1 0 1 0 0 as saídas.
1 1 0 0 0 Numa segunda etapa, coloca-se
1 1 1 0 1 o problema numa tabela verdade ou
ainda na forma de equações lógicas.
Finalmente, levando em conta O procedimento que abordaremos
que S1 e S2 são entradas de uma por- neste curso será basicamente o da
ta OR de duas entradas cuja saída é obtenção das funções a partir das ta-
S, podemos elaborar a coluna final de belas verdade e das equações lógi-
saídas (S) cas.
Finalmente, numa terceira etapa,
S1 S2 S obtemos o circuito que exercerá as
0 0 0 funções desejadas.
0 1 1 Na terceira etapa, um ponto impor-
Figura 3 - Duas formas de se 1 0 1 tante consiste na minimização do cir-
obter a mesma função.
1 1 1 cuito, já que na maioria dos casos
30 SABER ELETRÔNICA ESPECIAL Nº 8 - 2002
CURSO DE ELETRÔNICA DIGITAL
pode-se implementar a mesma fun- Vamos tomar como exemplo a ta- Substituindo pelos valores encon-
ção de muitas formas diferentes como bela verdade abaixo para determinar trados teremos:
atesta o circuito simples apresentado a função lógica correspondente: __ _ _ _
na figura 3. S = A.B.C + A.B.C + A.B.C + A.B.C
Veja que podemos ter o mesmo A B C Y linha
circuito com quantidades de portas 0 0 0 0 1 Esta é então a função lógica que
diferentes, na prática devemos sem- 1 0 0 1 2 representa a tabela verdade que pro-
pre levar este fato em conta. Não é 0 1 0 1 3 pusemos como parte inicial do pro-
apenas o número de portas que de- 1 1 0 0 4 blema e para a qual devemos encon-
terminará a configuração final, mas 0 0 1 1 5 trar um circuito equivalente.
sim, seu custo e a eventual utilização 1 0 1 0 6
em outras partes do circuito. 0 1 1 0 7 Passo 2 - Implementação dos
Por exemplo, se o circuito já esti- 1 1 1 1 8 Circuitos Combinacionais
ver usando dois inversores dos seis Conforme estudamos em lições
disponíveis num circuito integrado e Indicamos a linha na última colu- anteriores, é possível usar as portas
a nossa função tiver uma solução um na de modo a facilitar as explicações NAND e NOR como blocos lógicos
pouco maior, mas que use estes in- seguintes. universais a partir dos quais podemos
versores, será interessante adotá-la Observamos que temos saídas no elaborar qualquer outra função ou
para aproveitar os inversores ociosos. nível 0 para as linhas 0, 3, 5 e 6, en- mesmo funções mais complexas.
A seguir daremos um exemplo de quanto para as linhas 1, 2, 4 e 7 te- Para exemplificar vamos analisar
como obter os circuitos a partir de mos saídas 1. uma função um pouco mais simples
uma tabela verdade. Isso quer dizer que teremos a fun- do que a obtida no passo anterior.
ção OU para as linhas cuja saída é 1 Tomemos a expressão:
a) Passo 1 - Determinação das que podem ser encaradas como ope- _ _ _
equações lógicas rações OR com tabelas que teriam 1 S=A.B.C + A.B.C
Lembramos que para as funções na saída apenas nas linhas 1, 2, 4 e Podemos tentar implementá-la
estudadas temos as seguintes repre- 7, conforme mostrado a seguir: usando portas NAND e eventualmen-
sentações: ABC Y A B C S1 A B C S2 A B C S3 A B C S4
Função E (AND) 00 0 0 00 0 0 00 0 0 00 0 0 00 0 0
00 1 1 00 0 1 00 1 0 00 1 0 00 1 0
Y=A.B 01 0 1 01 0 0 01 0 1 01 0 0 01 0 0
01 1 0 = 01 1 0 + 01 1 0 + 01 1 0 + 01 1 0
Função Não E (NAND) 10 0 1 10 0 0 10 0 0 10 0 1 10 0 0
___ 10 1 0 10 1 0 10 1 0 10 1 0 10 1 0
Y=A.B 11 0 0 11 0 0 11 0 0 11 0 0 11 0 0
11 1 1 11 1 0 11 1 0 11 1 0 11 1 1
Função OU (OR)
Isso nos permite escrever as equa- te inversores, já que a barra sobre
Y=A+B cada letra indica sua negativa, con-
ções lógicas para cada uma das qua-
tro tabelas da seguinte forma: forme estudamos.
Função Não OU (NOR) A operação (.) pode ser realizada
_ _
____ utilizando-se uma porta NAND que li-
S1 = A . B . C que
Y=A+B gada a um inversor nos fornece uma
corresponde a A=0, B=0 e C=1
_ porta AND.
Função Não (NOT) ou inversor Assim, conforme a figura 4, po-
S2 = A . B . C que
__ demos implementar A.B.C usando
corresponde a A=0, B=1 e A=0
Y=A uma porta NAND de 3 entradas e um
_ _
S3 = A . B . C que inversor.
Função ou exclusivo Veja na figura 5 como a opera-
corresponde a A=1, B=0 e C=0
(Exclusive OR) ção A.B.C pode ser implementada.
S4 = A . B . C que A soma (+) pode ser implementa-
Y=A(+)B da com uma porta OR ligada a dois
corresponde a A=1, B=1 e C=1
inversores, figura 6.
Como a saída S é a combinação
das quatro funções temos:
S = S1 + S2 + S3 + S4
Figura 4 - A função A.B.C implementada. Figura 5 - Implementação da função A.B.C
5.5 - DIAGRAMAS DE
KARNAUGH
Um processo bastante interessan-
te para representar uma tabela ver-
dade e a partir dela obter uma simpli-
ficação dos circuitos utilizados para
sua implementação é o que faz uso
Figura 13 - O mesmo circuito
dos chamados diagramas ou mapas
Figura 12 - Dois tipos diferentes de usando um único tipo de porta.
de Karnaugh.
portas são usados neste circuito.
O diagrama de Karnaugh consis- cada quadro difere do adjacente em
casos em que podemos trabalhar com te numa tabela retangular com núme- apenas um dígito.
funções NAND ou NOR. ro de quadros que corresponde a 2 Dizemos que são adjacentes os
Como as duas soluções levam aos elevado ao expoente N, onde N é o termos que estão à direita e à esquer-
mesmos resultados, num projeto prá- número de variáveis do circuito. da de cada quadro e também os que
tico é interessante analisar as confi- Cada variável lógica ocupa no grá- estão acima e abaixo. Também são
gurações obtidas para um problema fico metade da sua extensão e seu adjacentes os que estiverem na mes-
nos dois casos. Adota-se então a so- complemento ocupa a outra metade. ma fila, mas um na primeira coluna e
lução que utilizar menos circuitos ou Na figura 13 temos o modo como outro na última.
que for mais conveniente, por exem- são elaborados os diagramas de Na figura 16 temos um mapa com
plo, aproveitando portas ociosas de Karnaugh para 1, 2 e 3 variáveis, com a identificação das adjacências.
um circuito integrado já utilizado no as expressões lógicas corresponden- Assim, o que fazemos é plotar a
mesmo projeto com outras finalida- tes a cada caso. tabela verdade da função que dese-
des. Estas expressões são obtidas de jamos implementar num mapa de
uma forma muito semelhante à usa- Karnaugh com o que será possível
5.4 - SIMPLIFICANDO E da no conhecido joguinho de “bata- identificar melhor as adjacências e
MINIMIZANDO lha naval” onde a posição de cada assim fazer as simplificações.
Uma consequência da possibilida- “tiro” é dada por duas coordenadas, Para que o leitor entenda como
de de construir funções complexas a uma correspondente às linhas e ou- “funciona” o mapa de Karnaugh numa
partir de portas básicas como OR e tra às colunas. simplificação de uma função, vamos
AND (OU e E) é a otimização de um Na figura 15 mostramos, como tomar como exemplo a função que é
projeto aproveitando poucos tipos de exemplo, de que modo um diagrama dada pela seguinte tabela verdade:
circuitos integrados básicos. de Karnaugh de 4 variáveis pode ser
Assim, se tivermos uma função obtido com a inclusão dentro de cada A B S
que seja obtida utilizando-se portas quadro da expressão corresponden- 0 0 1
AND e OR como a mostrada na figu- te. No diagrama (b) da figura 14 os 0 1 1
ra 12, ela terá o inconveniente de pre- quadros foram preenchidos com os 1 0 0
cisar de dois tipos diferentes de cir- valores 0 e 1 correspondentes às en- 1 1 1
cuitos integrados. tradas. Este diagrama é chamado
Se quisermos esta função com cir- também de diagrama de Veitch. Uma Desejamos expressar esta tabela
cuitos TTL, por exemplo, aproveitare- observação importante em relação a como a soma de produtos, o que sig-
mos três das três portas de três en- esta representação por 0 e 1 é que nifica que os valores adjacentes que
tradas de um circuito 7411 e também
precisaremos aproveitar uma das qua-
tro portas OR de duas entradas de um
circuito integrado 7432.
Evidentemente, estaremos usan-
do dois circuitos integrados, desper-
diçando 1/3 de um e 3/4 do outro.
Podemos simplificar consideravel-
mente este circuito se usarmos ape-
nas portas NAND com a configuração
equivalente mostrada na figura 13.
Este circuito, que apresenta a
mesma função do anterior, usa as três
portas de um circuito integrado 7410.
Utilizamos apenas um circuito inte-
grado que é totalmente aproveitado, Figura 14 - Diagrama de Karnaugh para uma (a) duas (b) e três (c) variáveis.
Figura 16 - Adjacências
no mapa de Karnaugh
para 4 variáveis. Figura 17 - A tabela verdade é
plotada no Mapa de Karnaugh.