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NÚCLEOS INTEGRALISTAS DO

ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Alphiete de Araújo Corrêa


NÚCLEOS INTEGRALISTAS DO
ESTADO DO RIO DE JANEIRO

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Depoimento de Alphiete
de Araújo Corrêa.
Documento cedido pela UFF

UNIVERSIDADE FEDERAL E FILOSOFIA FLUMINENSE


INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA
LABORATÓRIO DE HISTÓRIA ORAL E ICONOGRAFIA

Projeto: Militância Política - Integralismo

Transcrição da entrevista de Alphiete de Araújo Corrêa (E 119)

Entrevistadores: Márcia Carneiro*, Valdir Porto** e Rachel***

1a.. Sessão
Data: 26 de setembro de 1996

Fita 1
Duração: 1:00

Lado A

Márcia: Estamos aqui, hoje, na casa do Senhor Alphiete de Araújo Corrêa, no dia 26 de
setembro de 1996. Os entrevistadores são: Márcia, Valdir e Rachel. Nós estamos aqui na
casa do senhor Alphiete, São Gonçalo, para fazer uma entrevista sobre o Integralismo, já
que ele participou deste movimento na década de 30, no Brasil.
Alphiete: De 1935 em diante.
Márcia: Sr. Alphiete, eu queria que o senhor nos dissesse o seu nome todo.
Alphiete: Alphiete de Araújo Corrêa
Márcia: A data de seu nascimento.
Alphiete: Dois de outubro de 1912.

*
Aluna do Curso de Graduação em História/UFF.
**
Professor de História na Universidade Salgado de Oliveira (UNIVERSO).
***
Rachel é sobrinha do entrevistado e aluna do Prof. Valdir na UNIVERSO.
Rachel: Tio, eu quero fazer uma pergunta sobre isso: esse 2 de outubro, ele é a data de
nascimento em que o senhor foi registrado. Mas será que coincide realmente com a data do
ano em que o senhor nasceu? A gente sabe que, lá na roça, tinha esse negócio, nem todo
mundo era registrado na hora em que nascia, às vezes levava um tempo.
Alphiete: Eu não tenho certeza, mas eu acho... Eu vou dizer uma coisa para você: eu não
tenho bem certeza neste caso aí, porque eu fui registrado por um turco, que era como se
fosse um pai. Eu fui registrado em Grumari, onde eu me criei, passei quase que uma
temporada muito grande. Quase que tenho um segundo pai, esse turco. Ele que me registrou
depois que me perguntou quando é que eu nasci. Eu falei: “Eu nasci em 1912, 2 de
outubro.” Ele foi em São Fidélis e me registrou, que eu não tinha registro, não tinha nada.
Foi esse registro, que foi feito em São Fidélis, no Cartório de “Seu” Navega, no 2º Distrito
de São Fidélis, ali da ponte. Ali eu fui registrado, quer dizer, que ele me registrou que eu
nasci em 2 de outubro de 1912. Mas quando ele me registrou eu já tinha uns 13 ou 14 anos.
Rachel: Porque tio Paulo também é de 1912. O senhor é mais velho que ele.
Alphiete: Pois é, eu sou mais velho que ele.
Rachel: Então o senhor não pode ser de 1912.
Alphiete: Outro dia eu estava discutindo isso com Paulo. Ele teimou ... (Ri) Eu fui
registrado muito depois, por um segundo pai, não era da minha família.
Rachel: Então o senhor deve ser lá de 1909.
Alphiete: É, devo ser. Mas eu fui registrado duas vezes e saí com 12. Eu vou “tocando” 12.
Rachel: Não, está certo, é o que o senhor tem de documento.
Alphiete: Eu tenho documento ali como 12, eu vou fazer o quê?
Rachel: Era só uma dúvida que eu queria tirar.
Márcia: Eu queria que o senhor nos dissesse o local de nascimento do senhor.
Alphiete: Eu nasci em Três Irmãos mesmo. Na fazenda de meu avô, o velho Gonzaga.
Márcia: Que antes era Itaocara e agora é Cambuci.
Alphiete: Agora é Cambuci.
Márcia: Os nomes dos pais do senhor.
Alphiete: Constantino de Araújo Corrêa.
Márcia: E a mãe?
Alphiete: Alcira de Carvalho Araújo.
Márcia: O senhor lembra-se da data de nascimento dos pais do senhor?
Alphiete: Meu pai nasceu em 1888, 25 de dezembro. Eunice sabe mais do que eu. Eunice
tem um retrato dos meu pai lá, tudo, da minha mãe, de casamento e tal, casamento deles e
tudo. Eunice tem tudo.tenho nada disso ...
Rachel: Eu tenho.
Alphiete: Você tem, até do casamento de meu pai, retrato que Eunice tem. eu não tenho
nada disso, que eu...
Rachel: Eu vou pedir para escanear
Alphiete: Depois você acaba de ver... Vê com Eunice a data certinha.
Rachel: Tá, eu converso com ela.
Márcia: A mãe do senhor nasceu em que ano?
Alphiete: Eu sei que minha mãe nasceu em 1892.
Márcia: E o local de nascimento do pai do senhor?
Alphiete: É Três Irmãos mesmo. Na fazenda no município de Itaocara.
Márcia: E a sua mãe? Onde nasceu?
Alphiete: É no município de São Fidélis, Colônia.
Márcia: E o senhor tem irmãos?
Alphiete: Tenho uma porção de irmãos. Tem o Paulo, tem Arnóbio, Armando...
Márcia: O senhor poderia dizer quem nasceu primeiro...?
Alphiete: Tem Cleonice... tenho muitas irmãs também.
Rachel: O senhor sabe dizer assim na ordem de nascimento? Tem a Catita, que era a
primeira...
Alphiete: É, Clotilde.
Rachel: Que era a Clotilde.
Alphiete: Depois, Armando de Araújo Corrêa, depois Francisco Paulo de Araújo Corrêa
(que Paulo, era Francisco Paulo de Araújo Corrêa), depois tem Arnóbio de Araújo Corrêa,
depois Cleonice de Araújo Corrêa, avó dela ali ...
Rachel: Não é Cleonice, é Cleonides. É uma confusão...
Alphiete: É Cleonides? (Risos)
Rachel: É Cleonides, pelos documentos está isso.
Alphiete: Depois de Cleonides tem Rides, que faleceu, depois tem Ester, que tem a fazenda
lá no município de Itaocara.
Márcia: E Lico?
Alphiete: Lico também faleceu no Rio. Antes de Ester é Lico.
Rachel: É Linconl.
Alphiete: Deixa eu ver... Chama-se Linconl de Araújo Corrêa.
Márcia: Então Linconl nasceu antes de Ester.
Alphiete: Ester foi a última. Depois minha mãe morreu.
Márcia: Seu pai casou-se só uma vez?
Alphiete: Não, depois casou-se uma segunda vez. Tem mais quatro filhos do segundo
matrimônio. Casou na família Coimbra, [incompreensível] da ponte. Casou-se com Dona
Ana Coimbra, segundo matrimônio, quando minha mãe morreu.
Márcia O senhor lembra-se dos nomes dos filhos dele?
Alphiete: Lembro tudo. Até na casa de Paulo tem uma filha do meu pai do segundo
matrimônio que é a chefe da casa lá, porque Paulo ficou viúvo. Chama-se Penha. Maria da
Penha de Araújo. Mas ela tem que assinar Coimbra: Maria da Penha de Araújo Coimbra. O
segundo matrimônio de meu pai é Coimbra. E tem Maria da Glória de Araújo Coimbra.
Rachel: Já morreu?
Alphiete: Morreu também, lá em Itaperuna, agora, há pouco tempo. E tem a outra: Maria
Aparecida de Araújo Coimbra.
Rachel: Morreu também?
Alphiete: Morreu também. Só tem Penha viva, do meu pai, e Antônio. Tem Antônio...
Rachel: Antônio é o mais novo.
Alphiete: É o mais novo: Antônio de Araújo Coimbra. Ele... é só isso.
Márcia Eu queria que o senhor falasse um pouco da infância do senhor, agora.
Alphiete: A minha infância é meio perigosa. Eu tenho que fazer um relatório, falar do
Integralismo de novo.
Márcia: Fala assim, como o senhor falou agora...
Alphiete: Fui garoto assim, muito levado. Meu pai era homem assim, pacato, muito calmo,
não queria se contrariar com nada. Só queria viver aquela ... Era um alto comerciante, tinha
uma casa de negócio grande na fazenda do meu avô. E eu era garoto muito levado, e
andava assim brincando muita coisa, aquelas artes. Era tudo aquela estripulia, e chegava
toda hora uma queixa de mim: chegava um vizinho lá dizendo que eu bati no filho dele,
chegava um e dizia que eu fiz isso e aquilo outro, chegava outro que eu quebrei a árvore.
Era tanta coisa que meu pai não me agüentou, sabe? Disse que ia fazer eu sumir no mundo.
Chegou então um homem na minha casa, que foi criado com meu pai, que se chamava
Tomazinho Queiroz. Tratava ele por “Mazinho Careca” porque ele era careca. Esse disse
assim: “Eu vou levar o garoto! O senhor não está podendo com ele não? Eu vou levar ele!”
Me trouxe para Grumari. Onde eu levei muitos anos na casa desse turco. Aonde que eu
estou dizendo que esse turco foi me registrar de novo, porque eu não tinha nada, sobre
quando eu nasci. Fui parar na casa desse turco, chamado Zé Aires. Eu quero que Deus
tenha ele na Santa Glória, foi meu pai de verdade. Me dava tudo, eu tinha roupa bonita,
tinha cavalo novo para andar, tinha revolver novo na cintura para dar tiro nos outros e tinha
bicicleta boa. Tinha tudo, eu ficava conforme queria. Eu queria ser bravo. Assim, quando
minha mãe morreu logo... Eu passei por um detalhe aí: antes de ir para o turco, minha mãe
morreu, meu tio Bibi, que tem até o Hotel Bibi, ainda, com o nome desse meu tio lá em
Itaocara. Foi um hotel muito falado, esse pessoal que vinha do Rio para viajar para o
interior, vai lá, no Hotel Bibi, em Itaocara.

Interrupção: a esposa de “Seu” Alphiete trouxe o retrato dos seus pais.

Alphiete: O tio Bibi me trouxe para o Rio, deu um mês depois que minha mãe morreu, ele
me trouxe para o Rio, para a casa dele. Na Rua Santana, no 11, no Rio. E ali tinha um genro
dele, que era casado com minha prima com nome Dalila que era chefe do cigarro Souza
Cruz, da Companhia Souza Cruz, chefe de venda da Companhia Souza Cruz. Eu garoto,
assim, com meus 12 anos, ele me levou para lá, no outro dia logo: “Eu vou levar o garoto
para a fábrica de cigarro, para ver se ele dá para alguma coisa.” Na casa do meu tio. Até, eu
cheguei no Rio no dia 6 de agosto, quando foi no dia 7 de setembro, era “Parada” no Rio,
eu nunca tinha ouvido falar em “Parada”, não sabia o que era isso. Meu tio falou assim:
“Meu filho, vou te levar na Avenida Rio Branco para você ver uma coisa bonita: ‘Parada’,
no Rio e tal...” Fazia um mês e dois dias que eu estava no Rio. Fomos lá assistir a “Parada”,
ficamos lá, passaram umas dez cavalarias, aquilo tudo... Fiquei todo entusiasmado vendo
toda aquela coisa, passou aquilo tudo. Depois, fomos embora, quando foi lá pelo meio-dia,
fomos embora, fomos almoçar. Quando foi no dia seguinte, dia 8 de setembro, foi que
Ricardo Fraga me levou para a Fábrica de Cigarro Souza Cruz. Eu peguei a trabalhar na
Fábrica de Cigarro Souza Cruz. Naquele tempo não tinha carro para entregar cigarro na rua,
como hoje em dia, tudo moderno, nem nada disso. Tinha uns garotos para carregar
embrulho de cigarro na cabeça, para levar para tal lugar: Rua Mém de Sá, Rua Camerinos,
Campo de ... para lá..., Rua Estácio de Sá. Levava aquele embrulho... e um bocado de
coisa. Pegava aquele embrulho botava na cabeça e ia por aí a fora, ia levar aquilo. Daí um
bocado, voltava, outro embrulho, para outro lugar. Levava o dia inteiro com aquele
embrulho na cabeça. Só parava na hora de vir almoçar, na casa de meu tio, e levar comida
para Ricardo Fraga, que era nosso chefe lá. Vinha o bonde, aquele bonde Praça XV –
Riachuelo – Rua de Santana, terminava até o final, esperava rodar de novo, ia lá, pegava
aquele bonde, vinha em casa, almoçava, levava o almoço para ele e continuava minha vida
de burro, Catumbi, tudo quanto é canto do Rio. E levei mais de um ano no Rio trabalhando
assim, e quando foi lá uma certa ocasião eu resolvi voltar em casa, para ver como é que
estava Portela, aquele pessoal lá. Meu pai já tinha acabado com aquele negócio na fazenda
do velho Gonzaga e tinha apanhado uma grande casa de negócio dentro de Portela. Foi
quando eu vim passear em casa. Cheguei em Portela e tal, meu pai com comércio grande,
fiquei de ir para o Rio, queria ficar por ali, mas ele passou a não gostar de mim mesmo não.
Logo ficou dando um jeito de me empurrar para fora de novo. Foi aí nessa época que eu
fiquei casa um mês, mais ou menos, mas ele ficou me expulsando de novo. Então, nesse
mês que eu fiquei em casa, você acredita que eu... Tinha um rapaz de nome Edinho
Macedo, família Macedo, que até tem artista no Rio que é Macedo, é da família de Portela.
Então, Edinho era muito levado como eu. Aí, já estava com meus 14 anos e tal. Nós
entrávamos no cinema lá pelos fundos, pulávamos muro ...
Valdir: Tinha que ir ao cinema de qualquer maneira.
Alphiete: Não tinha dinheiro para assistir os filmes... E naquele tempo eu gostava muito
daqueles filmes, daqueles homens bravos lá, só filme americano.
Márcia: De Cowboy?
Alphiete: Tom Mix , Buck Jones ...
Valdir: Mocinho?
Alphiete: É isso aí.
Valdir: Mocinho e bandido.
Alphiete: Mocinho perseguindo bandido com laço na garupa, aquele lenço no pescoço,
com chapéu grande, daquilo que a gente gostava. Nós tínhamos que assistir aquele filme de
qualquer maneira, não tinha dinheiro, entrava pelos fundos do cinema. De qualquer maneira
eu tinha que ir ao cinema, eu e Edinho Macedo. A gente fazia aquele leilão de pernas, tinha
uma pessoa meio assim encostada, assim em qualquer lugar, nós dávamos um jeito de
passar por ele para derrubar aquela pessoa. Só fazendo arte. Chegamos assim, no bar de
“Seu” Garcia lá em Portela também, ele vivia com chapéu de palha, chegamos lá, botamos
o chapéu na cabeça saímos para a rua. Fazíamos tudo coisa que não deve fazer, que garoto
não deve fazer. Fazíamos tudo errado. A gente só fazia tudo errado. Um garoto lá discutiu
comigo no balcão, eu falei com ele: “Olha, logo à noite tem um leilão lá em cima, eu vou lá
e nos encontramos. Ou você me bate ou eu te bato.” Na Casa de meu pai tinha canivete para
vender. Eu peguei um canivete e enfiei no bolso. Aí que fez tornar-me um “bicho ruim”.
Peguei o canivete que custava 10 reais. Botei o canivete no bolso e fui para rua quando
chegou certa hora o garoto veio lá, de folia, ele era maior que eu e tal, abri o canivete, o
garoto chegou: “É você disse que ia me bater mas agora...” Fui, meti o canivete na barriga
do garoto, abri a barriga do garoto. O garoto: “Ah!” Botou a mão e sentou lá pelo chão,
cheio de sangue. Corri para casa. Cheguei em casa, pulei a janela, que eu saí escondido.
Abri a janela, que eu saí escondido, pulei a janela. Abri um negócio de madeira de um lado
para outro, entrei para dentro de novo. Fui lá deitei na esteira e fiquei quietinho. Daí um
bocado veio um soldado de nome Cidoca chamando na porta: “Oh ‘Seu’ Constantino! Oh
‘Seu’ Constantino!”. “É Cidoca que está chamando aí!”. Eu fiquei lá deitado na esteira
roncando [imita barulho de ronco]. Fazendo que estava dormindo. E o Cidoca falou com
meu pai: “Seu filho fez arte na rua. E ele fica fazendo arte, quebrando tudo, e já deu uma
canivetada na barriga de um garoto, o garoto está lá no Pronto Socorro e você vai ser
intimado para prestar declaração disso aí. E cadê seu garoto?”. Aí: “Vou ver se ele está
dormindo.” Chegou lá eu fiquei roncando, fazia que estava dormindo. Ele disse, meu pai
disse: “Ele está ali, roncando, dormindo...” [interrupção e posterior retomada à entrevista] E
aí, chamou meu pai. No outro dia meu pai foi intimado para ir na delegacia. E o garoto
tinha se cortado mesmo, não foi tão grave, não morreu nem nada. Fizeram curativo, ele
melhorou, depois ficou bom. Mas aí, nessa época, então, meu pai ficou irritado: “Você não
pode ficar em casa, você tem que sumir! Você está me botando cada vez mais perdido, sem
ver aqui em casa a minha situação, que eu sou comerciante, você briga com todo mundo...”
aí chegou o tal Tomazinho Careca, que acabei de falar, Tomaz Queiroz: “Eu vou levar o
garoto comigo lá para Grumari.” Aí me levou para Grumari para casa desse turco, José
Aires. Esse turco foi uma beleza para mim, foi o homem que me deu tudo qual foi valor,
me deu tudo que gostava de ter: eu queria uma cavalo bonito, eu queria uma bicicleta boa,
eu queria um bom revólver, eu queria tudo isso que, aproximando meus 15 anos, o turco foi
me dando tudo isso. Eu viajava muito para tudo quanto era lugar, porque tinha uma Casa
grande dessas, de comércio, em Grumari, uma casa de comércio muito boa, mas abriu umas
dez filiais pelo interior afora: Padúa, Boa Hora, Retiro Saudoso, aqueles cantos tudo para
dentro de Grumari, para dentro, tudo é município de São Fidélis. Ele abriu umas dez casas,
e os cunhados deles, ele colocou cada cunhado dele em uma casa dele. Eram da família dos
Maia. Que ele casou com uma da família Maia. Naquele lado de São Fidélis, a família Maia
é a mais conceituada que existe naquele município de São Fidélis. Então ele era casado na
família Maia. A minha mãe da criação, que era a mulher dele, chamava Maria Maia,
“Dona” Mariquinha, minha mãe de criação. É só fui falar no nome dela me arrepia, fiquei
emocionado [fala com lágrimas nos olhos], mas deixa estar... O turco me criou com muito
carinho, me dava tudo. Então, num dia de domingo, ele me botou tomando conta de outra
Casa, assim, quando estava com 15 anos, tomando conta de uma Casa grande na fazenda do
Major Elias Antônio Miranda. Uma fazenda grande que tinha lá, ele tinha uma casa para
comércio. Então, nessa Casa ele me botou tomando conta de um comércio. Foi chegar
domingo, ele ia a cavalo, lá tudo era sempre a cavalo. Naquele tempo não tinha ônibus nem
para aqui nem para acolá. Ele ia domingo para a minha casa, chegava lá: “Ah, minha filha,
já arrumou o cavalo. Vai com seu pai. Vamos lá em Padúa, vamos buscar dinheiro por aí,
minha filha, dinheiro está ruim!” Turco, sabe como é, tudo é dinheiro. “Vamos buscar
dinheiro, minha filha, para sua pai pagar as contas dos outros. Segunda-feira tem que pagar
praça, minha filha, o pessoal de praça chega, a gente de praça chega.”
Rachel: Esse José Aires tinha outros filhos?
Alphiete: Tinha, mas era tudo garoto pequeno, não tomava conta de casa de negócios dele
não. Era Nassif, Ielf. Mas tudo era garoto ainda, não tinha condições de tomar conta de
negócios, não. Tudo mais novo do que eu, ainda. Então ele tinha que lançar mão dos
cunhados, de mim, que me criou... Então, eu tomando conta dessa Casa, dessa fazenda, saía
domingo com ele e ia para as filiais, para ele catar dinheiro. Aí, trazia o dinheiro, apanhava
dinheiro num lugar e no outro, trazia aquele dinheiro para segunda-feira para ele estar não
estar descoberto, no outro dia chegavam os cacheiros viajantes para receber as faturas, meu
Deus! E assim fui levando a vida. Eu tinha tudo. Era tudo bom o turco que eu vivia feliz.
Foi a maior felicidade da minha vida conviver com esse turco. Mas esse turco
[incompreensível]. Então, do ano 1922 até o ano de 1930, eu vivi oito anos feliz. Parecia
que estava no céu, tinha tudo, eu fazia minhas estrepolias... Mas, aí, tinha na fazenda, que
eu tomava conta da casa de negócios, tinha um tal de Major Elias, que era um homem
terrível, um homem que tinha um filho que tinha trinta e tantas mortes no Estado do Rio,
em tudo que era lugar. Ele era capanga de uns prefeitos de São Fidélis: Barros Gomes,
Coronel Barros Gomes, Coronel Picanço. Ele era capanga dessa gente para eliminar fulano
de tal, senão ele não era eleito. Para ser eleito, o político, tinha que ter esses homens.
Valdir: Era Coronel.
Alphiete: Era Coronel. Coronel Barros, Coronel Picanço. Ele que ser prefeito no lugar, mas
ele para ser prefeito tinha que eliminar algum, algum que tinha muita influência que podia
ficar contra ele. Então, Antônio Elias de Miranda, Miranda, que fazia essa passadas, matou
30 e tantas pessoas. E eu garoto por ali, na fazenda, olhando essas coisas. Então, Antônio
Elias de Miranda, Major Elias, só tinha dois filhos: Antônio de Miranda e Adélio Elias de
Miranda e ele era Major Antônio Elias de Miranda. Mandava bilhete para governador do
Estado, escrito até de carvão e era atendido imediatamente. Porque esses governadores de
Estado, para serem eleitos, tinham que depender de Coronel, Major Elias de Miranda,
Coronel Picanço, Barros Gomes. Se não ele não era eleito, tinha que ser eleito com essa
gente mesmo. Então, tinha um nome danado, o Major Elias.
Rachel: Eu não entendi. Então, o senhor era empregado na fazenda dos Miranda, lá em
Grumari?
Alphiete: Eu estava trabalhando para o turco.
Rachel: O turco tinha uma casa de comércio dentro da fazenda dos Miranda.
Alphiete: Dentro da fazenda dos Miranda.
Rachel: Agora eu compreendi.
Alphiete: Entendeu agora? Não tem nada a ver com os Miranda, por enquanto. Eu vou
chegar na fazenda dos Miranda, que depois eu entrei na família dos Miranda. Eu entrei na
família dos Miranda. Mas eu, quando era garoto assim, conforme já contei, trabalhava na
casa do turco e tal e tal. Na minha folga eu tinha uma porção de namoradinhas por ali, com
meus 16 anos, 17 anos, namorando uma ou outra aqui, outra dali... Você sabe, quando a
gente é novo, é assim, cheio de vaidade. Eu, então, já tinha ido do Rio para lá para o
interior, trabalhara em fábrica de cigarro, já tinha conhecido coisas mais importantes...
Valdir: Mais esperto...
Alphiete: Não era um otário lá da roça, conforme os outros. Os garotos da roça, o pessoal
diz assim: “Olha lá aquele otário, aquele bobo!” Que não sabe se vestir bem, não sabe se
preparar direitinho. Passa por otário por causa dos outros. Mas eu já não era aquele otário.
Eu já sou um garotão sabidão. E tinha tudo quanto era bom na mão, só tinha que ser o
melhor. Quando eu chegava num baile eu era o [incompreensível] Qualquer festa que eu
chegasse: “Chegou o Alphiete, as garotas ficavam tudo em cima. E eu por aí dando corda.
Foi indo, foi indo, foi indo que na própria fazenda do Major Elias surgiu uma neta dele. Foi
aonde o meu transtorno de vida começou. Me interessei pela garota também conforme me
interessava por todas que aparecia pela frente. Me interessei por esta garota também. Ela
era bonitinha e tal. E fiquei em cima. E a garota, o pai dela que era irmão de Antônio
Miranda, era [incompreensível] Miranda já tinham matado ele em São Fidélis. Ficou só
existindo Antônio Miranda, que era os dois valentes filho do Major Emílio. Só ficou
existindo Antônio Miranda. Antônio Miranda estava fugido para Minas. Desde que eu nasci
tinha 50 soldados a procura dele para prender ou matar ou cortar a cabeça. Deu até no
Jornal Fluminense. Desde que eu nasci tinha 50 soldados embalados pra prender Antônio
Elias de Miranda, mas prender ou matar. Leva carta branca pra fazer o que quiser. Assim
como fizeram com Lampião lá no Norte. Então desde que eu nasci tinha 50 soldados
embalados pra prender ou matar Antônio Elias de Miranda, vulgo Lampião da Baixada
Fluminense. Em São Fidélis. Ele fugiu para Minas para a fazenda do Sr. Elias
[incompreensível]. Fazenda do Barão. E nessa época calhou de eu namorar a sobrinha dele,
aquele namoro de garoto, perturbado como eu era. Ah! Parece que eu pulei o sinal. Sabe
como é que é. Avancei o sinal porque a viúva que já era viúva, Dona Ester que era mãe da
garota e deixou a garota a vontade comigo, você sabe... nos meus 18 anos, ia completar 18
anos nessa época. Largou a garota a vontade com a gente, você sabe como é? Eu pulei o
sinal e no outro dia [incompreensível] corre para o Major Elias e conta: "Major Elias esse
Seu Alphiete que toma conta da casa [incompreensível] tá fazendo isso assim e assim com
sua neta." O Major Elias mandou me chamar. "Vai lá e chama o Seu ´Alfinete`". Aquele
não trata pelo nome dos outros direito, fala tudo errado. Esse Major do tempo antigo.
"Chama o Seu ´Alfinete´ aqui pra Fazenda que eu preciso falar com ele". Eu fui lá na
fazenda, [incompreensível]. Seu Alphiete, Major Elias disse que é para o senhor dar um
pulo lá, quer falar com o senhor. Está bem, fui lá na Fazenda subi a escada. Cheguei lá em
cima. “Ô, seu ´Alfinete´... o senhor abusou...” A garota que eu fiquei namorando ela. O
nome dela era Rosa com apelido “Maxixe”, porque antigamente tinha aquele rosa maxixe,
aquela flor rosa maxixe. O nome dela era Rosa e ficou com o apelido de "Maxixe". Então o
Major Elias disse: "O senhor abusou da minha neta Maxixe, então o senhor vai ficar
sabendo desde agora... Tem 30 dias para você casar. Se você não casar... Seu Alphiete eu
vou te matar... Onde você for... Não adianta fugir..., que o Antônio, meu filho, está por aí
rodando. Vai buscar você debaixo da cama..., aonde você estiver..., ele vai te buscar e te
mata. Você vai casar ou não vai?” Eu gostava da garota, falei que sim.
Valdir: Não falasse não pra ver...
Alphiete: Se eu não falasse..., eu estava perdido. "Caso sim senhor, mas só que tem Major,
eu vou dizer uma coisa ao senhor, eu não tenho nada. Eu sou criado ali na casa de
[incompreensível], que é o meu pai de criação. Mas eu não tenho nada pra casar. Eu só
tenho o meu cavalo e o meu revólver que está aqui a minha bicicleta. Agora o senhor quer
que eu case, como é que eu vou casar? Eu não tenho nada. "Então eu vou te dar tudo...
Amanhã mesmo você tem uma carta para o Seu [incompreensível], de São Fidélis. Lá no
armazém tem de tudo. De roupa de cama, cama pra vender, móveis. E tudo. Vai lá no
alfaiate Ceci. Ainda lembro disso tudo quando eu tinha 18 anos. “Vai lá, manda fazer seu
terno. Compra seus sapatos lá na Casa Cíntia. Compra tudo quanto é móvel que precisar. E
bota naquele sobrado que está vazio lá no [incompreensível]. E tem 30 dias de prazo. O
escrivão vem aqui na fazenda. O senhor dê seus documentos. Ah! Eu nem documento eu
não tenho. [incompreensível], Tirei sua certidão, tá aqui, me deram. Certidão
[incompreensível]. Cadê o Major Elias, Major Elias foi lá no Navega, E tratou o casamento
todo por lá levou a certidão da neta dele, me chamou no dia de casar. Não fiquei nem
sabendo da notícia. Entreguei a casa para [incompreensível]. Agora meu pai eu já estou por
conta do Major Elias, eu vou morar naquele sobrado..., comprara as coisas para botar lá, o
Zé ficou triste ,chorou... , vou fazer o que? Eu tive que tratar da minha vida. Fiquei como
[incompreensível] do Ipiranga, cuidava de cavalo, daquelas mulas bravas. Tinha umas
mulas largadas lá no pasto.., a mais de cinco anos, que ninguém botava pra dentro, pegar
aquilo tudo a laço, amarrar no pau. Botava um arreio em cima montava, deixava o bicho
soltar. Eu montei numa mula boa que tinha largada no pasto a quatro anos, e fui lá na
minha terra. [incompreensível]. A mula era brava, mas eu fiz ela ficar mansa. Cheguei lá
tinha um turco com o nome de nome de Zé Jonas, o turco gostava de um animal bom, e
dava qualquer valor, mas aí, tinha meu tio da fazenda, do velho Gonzaga. Mas já tinham
morrido meus, avós, Velho Gonzaga, velha [incompreensível], já tinham morrido. Eu
cheguei lá encontrei meu tio Miguel, oi Miguel. Eu vim numa mula boa para vender para
você, e a mula é boa, já foi brava, mas agora está uma mula boa, ele montou gostou, falou o
seguinte: “Alphiete eu não posso comprar a sua mula, hoje não, que eu tenho muito animal
aí, mas você vai [incompreensível], ao Zé Jonas, te dá todo dinheiro, nessa mula, o turco é
doido por uma mula igual a essa. Eu toquei para [incompreensível], quando passei em
frente a loja de fazenda do turco, prá lá e prá cá assim, o turco saltou do balcão, veio cá
[incompreensível] da porta..., olhando, passei para lá, passei para cá. Parei a mula, joguei
lá, joguei cá, o turco disse: “ Chega cá o mineiro". Joguei a mula lá, ele disse: "isso é para
vender?" Eu falei, é sim senhor, "quanto é uma mula daquela?" Três Contos, naquele
tempo, três contos era dinheiro! Isso foi lá pra 1930, naquele tempo três Contos comprava
uma fazenda, comprava um sítio muito bom. Eu quero três conto na mula. " - Olha te dou
três Contos na mula, mas tem uma coisa. Você leva um Conto em dinheiro e dois em
fazenda." Falei tá feito o negócio.
Valdir: Fazenda que ele tinha para vender no balcão.
Alphiete - Fui escolhendo na prateleira dele, tire aquela peça lá, tire essa peça aqui, enchi
uns dois sacos desses [incompreensível] de peça de pano, cada peça de pano tem quarenta
metros, fechada então esses quarenta metros aqui, eu quero esse pano xadrez aqui, quero
também aqui, quero esse, quero esse cáqui especial aqui, [incompreensível] é esse que eu
quero também essa peça, [incompreensível] até inteirar dois Contos, era muito dinheiro
naquele dois Contos, enchi uma porção de sacos de pano, muito pano e peguei o arreio da
mula, e botei também no saco. Cheguei na estação Despachei tudo para Grumari. Uns três
ou quatro sacos de pano, e o dinheiro no bolso, peguei o trem e fui para Grumari. Cheguei
lá... Daí mais uns oito ou dez dias, eu estou lá no pasto, estou trabalhando, chegou um
crioulo, seu Antônio, disse: "Oh! Seu Alphiete, Seu Alphiete, [incompreensível], mandou
dizer para o senhor ir lá". Mas que negócio de vai lá toda hora. Eu fui lá falar com a moça,
chega lá tem um jipe, lá com uns peões para casar. Nem sabia que tinha que casar. Eu fui e
cheguei bem assim, o que que há? [incompreensível], eu estou com revólver, carregava
revólver desde novo. O que que há aí? Estão querendo fazer de min de palhaço? O que que
há! " Não rapaz, você vai casar hoje conforme eu falei com você, se você não casar, você já
sabe!” Está bem, então pronto. "Então senta aí!" Sentei, e já trouxeram a [incompreensível]
para acertar todos os dados, ela nem escrever sabia, nem ler. Aí, Assinou ela assinou, não
sei de que maneira, foi que seguraram a mão dela, ela assinou, e eu vesti o
[incompreensível], assinei..., estou casando para ver no que vai dar. [incompreensível] de
dia e de noite, escondido da polícia, daqui e de acolá, e chegou na fazenda e ouviu falar
que a sobrinha dele tinha casado, com um rapaz que era perigoso, que dava tiro atoa, e
matava atoa também. Ele já ficou meio com a pulga atrás da orelha, comigo, ficou
[incompreensível] comigo, e se tornou meu amigo. Antônio Miranda. Ele queria, tinha que
fugir de novo, [incompreensível], está em cima, prende aqui prende ali, tinha que fugir
para o estado de Minas. Já me pediu para min levar ele para o estado de Minas, para nós
viajar só de noite à cavalo, de dia tinha que ficar escondido e alguma Fazenda por aí a fora.
Durante o caminho todo que nós passamos. Saímos de Grumari para São Fidélis
atravessamos a ponte..., de Itaocara para Aperibé. De noite, quando chegou lá em Aperibé,
tem um homem que tem uma fábrica de cachaça lá, que esqueci qual é o nome dele agora.
[incompreensível], era amigo de Antônio Miranda, lá passou um dia na fazenda dele,
acompanhou lá [incompreensível], e agente ficou ali fazendo aquela comida, tudo quanto
era comida, que nós comemos naquele dia que você ficou horrorizada, a sopa que veio na
mesa, eu tava com tanta fome...

Lado B
Alphiete: (...) Estava boiando, assim, com feijão, comia sem ver ... De tanta fome!
Valdir: É a fome, não é?
Alphiete: Fome! viajava, viajando por lá por aqueles cantos todos, sem comer, nem nada.
Eu estava com fome comia aquilo tudo, se ver, que estava gostoso. Quando foi à noitinha
vem chegando arrancamos os cavalos de novo. Fizemos a cidade, ali de Pádua que se
chama: Arraial do Divino, dia de São Sebastião, Arraial do Divino em dia de São Sebastião,
e passamos dentro de Pádua era meia-noite. Duas carabinas na cabeça do arreio,
[incompreensível], cheio de balas, Eu com dois revólveres cheios de bala... E fomos
embora... Passamos fomos até, Faroqueiro, Faroqueiro é no Estado de Minas, quando foi o
dia rompendo nós estávamos na Fazenda do senhor [incompreensível], Fazenda do Barão,
no Estado de Minas. Lá levamos trinta dias por lá, na Fazenda do Barão, escondido por lá e
a perseguição por cá... Quando foi por lá uns trinta dias, eu falei: “Oh ‘Seu’ Antônio, eu
vou em casa. Minha mulher..., eu casado de novo, não faziam nem três meses de casado, eu
vou lá pro sertão de Minas, e eu para lá e a mulher pra cá, eu vou em casa.” ele disse:
"Então você vai." Ele falava fino que nem mulher..., mas muito cabeludo, aquilo nasceu
mesmo para ser bandido, o lugar dele era na gaiola, cabelo todo vermelho: “Você vai...,
rapaz. Você vai..., e volta." Sim senhor Antônio eu volto. Mas eu tenho que ir em casa ver
as coisas, como que está por lá. Eu fui em casa. Depois de uns dias sem eu voltar, ele
viajou de noite e veio para a fazenda de novo. Quando chegou lá na Fazenda tinha um
sobrado velho, e ele entrou no sobrado, estava escondido no sobrado. Aí, ele chegou e
comunicou comigo: “Eu voltei, que você demorou, eu tinha que vir aqui para ver o gado,
meu pai morreu, o Major Elias morreu. Eu fiquei agindo na Fazenda, fazendo aquilo tudo,
para ele. Aí, estava um soldado lá escondido e eu fui lá de manhã cedo, ver a minha sogra
e a velha Ester, ferveu um leite. Eu estou, batendo o leite na panela, para dar a ele. E ele
pegou uma febre desgraçada, chegou e pegou uma febre de impaludismo, estava fervendo
de febre. Botamos o termômetro nele..., nem usava termômetro naquele tempo apertava
assim e dizia assim deve estar com uns quarenta graus de febre. Termômetro era a pessoa
que era a pessoa... Dona Ester. Minha sogra: “Ih! Está com muita febre, deve estar com uns
quarenta graus de febre!” [incompreensível] encontrei um caminhão bem na porta do
sobrado, chegou cheio de polícia [incompreensível] cinqüenta soldados [incompreensível].
“Pam!..., fechou o sobrado todo, carabina tudo em cima de mim e dele. Na cabeceira dele
assim, eu falei: “Ele está quase morto!” Você vai matar defunto? "É mas nós temos ordens
do Governador do Estado." “É um absurdo! Isso é uma covardia matar um homem que está
morrendo!” [incompreensível]. Eu tinha servido o exército também nessa época toda,
passada depois de casado dois anos, passei essas coisas todas, ainda vim aqui para o 3º RI, e
servi um. Então... Eles sabiam... Tenente, o homem está morrendo, como é que vai matar o
homem que está morrendo?” Ele disse: “Nós vamos fazer o seguinte, vamos regressar a São
Fidélis com você preso. Você é um bandido mais procurado pela polícia também, que é um
capanga dele, vai conosco e ele, a gente volta daqui a uns três dias para ver o estado dele,
para a gente ver o que eu posso fazer com ele.” Me levaram para São Fidélis
incomunicável, de São Fidélis me mandaram aqui para a central. Foram na minha casa
primeiro e encheram o carro de armas, que o armamento de Antônio Miranda era todo
guardado na minha casa, encheram com mais de três quatro carabinas, uma espingarda de
[incompreensível] dessa boa, três, quatro espingardas, 10, 20 revólveres, encheu o carro de
armas. Vim parar aqui na Detenção. Aqui, Macário de Lemos Picanço, que ultimamente
agora, acho que já morreu. Mas ele era advogado do Banco do Brasil, um grande advogado.
Da família Picanço é lá de São Fidélis. Criado e sempre protegendo a família Miranda.
Com esse negócio de eu misturado à família dos Miranda, é Coronel Barros Gomes, é
Coronel Picanço, todo mundo não sabia o que fazer com a família Miranda, por causa
daquele entrosamento para ser eleito, tinha que depender da família Miranda.. Aí, eu
cheguei aqui, aí, uma pessoa de São Fidélis comunicou com o Macário de Lemos Picanço.
Foi uma pessoa da família. Então procura ver que você pode fazer pelo Alphiete aí, procure
inocentá-lo. O Macário de Lemos foi na detenção, eu estava incomunicável já uns 3 dias,
chegou lá e falou com o delegado: “Eu quero falar com esse preso aí.”. “Mas ele está
incomunicável.” “Mas eu sou advogado.” "Então [incompreensível] e foi lá falar comigo.
“Alphiete, escuta uma coisa, você..., já falou alguma coisa?” “Nada, ninguém me inquiriu
nada, aqui, ninguém me pergunto nada” “Então você vai dizer isso, isso, assim, assim." Me
disse tudo que eu tinha que fazer. "Você não sabe de nada, você apenas saiu com seu tio,
viajando, mas você não sabe de nada, que ele fez, se ele matou beltrano, sicrano, toda coisa
que disser, você não sabe de nada disso.” E de fato eu estava meio por fora daquelas
coisas, andei dando uns tiros com ele lá e coisa, [incompreensível]. Eu tenho que falar o
que o Dr. Macário de Lemos Picanço. Passando dois três dias tive que falar aquilo tudo.
Para não ser processado, aí eu falei tudo direitinho, a cadeia entrou com recurso favorável
que eu não tinha culpa, toda culpa era de Antônio Miranda. Antônio Miranda foge naquele
dia que [incompreensível] me deixa me levaram, aqui para detenção. Antônio Miranda
foge de noite numa mula assim mesmo cambaleando, foi até Pádua, chegou em Pádua ele
parou na casa de um amigo, com o nome Moreno Marro que era boiadeiro, tudo isso eu
lembro. Moreno Marro, que era boiadeiro, acoitou ele em casa, naquele estado que ele
estava. No outro dia de manhã cedo, ele amanheceu morto. Ele morreu naquela febre de
quarenta graus. Dizem que saía sangue até pelo nariz dele, porque febre muito grande
estoura o fígado, então sai sangue por tudo quanto é pólo do corpo. No outro dia ele
amanheceu morrendo saindo sangue pela boca, pelo ouvido, pelo nariz, por tudo quanto é
lugar aí, morreu, morreu mal. Fez o enterro dele acabou. Acabou Antônio Miranda, fiquei
Macário Lemos me soltou. Mas mesmo assim, para Macário Lemos me soltar, porque era
tanta complicação para gente que eu ainda levei três meses e 15 dias nesse processo, em
três meses e 15 dias fui solto, aí voltei lá na Fazenda para ver minha situação, e tal, vendi
aquilo lá, [incompreensível], tinha minhas cunhadas. Vendemos aquilo lá para Manoel
Siqueira, que é até padrinho de um filho meu. Aí vendemos aquela Fazenda por qualquer
coisa. Ficou falando: “Eu tomo conta desses canaviais aí, quando Usina Pureza eu sou
candidato a comprar a fazenda”. Conversou comigo. Conversei com as outras pessoas
também lá, é está certo, entregar para o Manoel Siqueira que eu não entendo nada de
Fazenda. Fui criado sempre no comércio, Para que eu vou tomar conta de fazenda que eu
não entendo nada disso. Entreguei para Manoel Siqueira por qualquer coisa. Cinco contos
cada um, toma lá, assina aí, foi no cartório, cá em São Fidélis cada um assinou, pronto eis
que ele é o dono da Fazenda.
Márcia: Quantos anos o senhor tinha quando vendeu a fazenda.
Alphiete: Eu vendi a fazenda em 1940.
Márcia: 1940?
Alphiete: Estava com 28 anos.
Márcia: Então quando o senhor estava na fazenda já tinha havido o Integralismo.
Alphiete: Já tinha o integralismo, agora estou largando esse negocio de integralismo para
trás, não espere aí.
Márcia: Quando é que o senhor começou?
Alphiete: Não eu vendi a Fazenda foi em 35, foi quando abri a grande casa, de negócios
em Grumari que comprei... Agora vou entrar nessa fase aí agora vou acabar com esse
negócio para trás, acabou a Fazenda.
Márcia: O senhor vendeu a Fazenda em 1935.
Alphiete: Em 35.
Márcia: O senhor tinha quantos anos?
Alphiete: Eu tinha 27 anos... eu era garotão, com 28 minha mulher morreu. Quando eu
estava com 28 a minha mulher morreu, fiquei viúvo. Com 28 anos eu fiquei viúvo. Em
Grumari mesmo.
Márcia: Então, enquanto o senhor estava na fazenda, ainda não se interessava pelo
Integralismo?
Alphiete: Não, ali em 35, no ano de 34 eu estava pensando... Quando eu entrei em 35
dentro de Grumari,
Márcia: Dentro de Grumari.
Alphiete: Dentro de Grumari que eu estava na Fazenda, vendi a Fazenda, e apanhei uma
casa em negócio em Grumari, dentro de Grumari, um sobrado em frente a estação. Que
pertencia a um rapaz com o nome de Salvador Maiolino, que foi embora para Cardoso
Moreira, Município de Campos. Ele era o integralista do lugar e me meteu na cabeça o
integralismo. Batizou um filho meu que se chama Plínio, por causa de Plínio Salgado. Eu
tenho um filho que se chama Plínio por esse motivo, nessa época já em 36, nasceu um filho
meu batizei Plínio, eu já estou entrando em 36, mas primeiro vou contar como foi o negócio
da casa agora. Salvador Maiolino, Eu tinha vendido a Fazenda e queria ficar em Grumari, e
ele que tomava conta do núcleo Integralista dentro de Grumari, no sobrado.
Márcia: O Senhor pode repetir o nome dele? Sebastião?
Alphiete: Não, é Salvador Maiolino.
Márcia: Salvador ...
Alphiete: Ele era o chefe do Núcleo Integralista de Grumari.
Márcia: Salvador?
Alphiete: Salvador Maiolino.
Márcia: Maiolino.
Alphiete: Maiolino. Ele era italiano, filho de italiano.
Márcia: Está... Italiano, entendi.
Alphiete: Mas ele era brasileiro, nasceu aqui, o pai dele que veio da Itália. A descendência
Maiolino que é italiana
Márcia: Salvador Maiolino, italiano.
Alphiete: Ele foi disse assim... “Seu” Vicente tinha mudado para Cardoso Moreira, pai de
Salvador, que tratava ele de Dodô. O pai dele tinha ido embora para Cardoso Moreira e
estava se dando bem lá que estava um comércio muito bom, Cardoso Moreira, município de
Campos, estava um progresso danado! Falou com o filho: “Dodô, vende isso aí e vem para
cá, que o comércio aqui está empolgado, dá para ganhar muito dinheiro!” Que estava
melhor lá para negócio que cá em Grumari. Aí, Salvador volta e falou comigo: “Alphiete,
você vai ficar com minha casa de negócio aí, eu vou ceder para você, você quer comércio e
você dentro da casa tem tudo que precisa para lavoura, até enxada, foice, machado, fazenda
de todo tipo, uma loja. Fizemos o cálculo lá ele disse: “ - Vou te dar por 15 contos, você me
paga conforme você quiser”.
Rachel: O senhor, quando chegou a Grumari, lá com o dinheiro para comprar casa e
negócio o senhor, comprou uma casa menor e depois comprou a casa do Salvador, ou o
senhor chegou sem comprar nada e foi logo comprando a casa do Salvador.
Alphiete: Eu já estava com uma casinha pequena. Eu já havia mudado para Grumari, já
estava com uma casinha menor. Já tinha vendido a fazenda e estava comercializando, já em
uma casinha menor. Mas aí deu na cabeça de ir embora, para Cardoso Moreira porque...e
falou comigo: "Você fica com a minha casa, de depósito que eu vou embora, para Cardoso
Moreira e eu faço qualquer negócio com você, você me paga, devagar..., da maneira que
você quiser." Eu falei, está bem então vamos ver quanto dá isso? Ele somou lá e me disse:
"Me dá quinze Contos nisso tudo aí". Naquela tempo, quinze Contos compravam,
[incompreensível], o sobrado em frente a Estação que tem até hoje lá em Grumari. Aquele
sobrado tinha um salão grande. Que ele fazia a reunião integralista e eu já estava com as
idéias integralistas, já acompanhando as idéias dele. Eu vou entrar no Integralismo agora.
Rachel: Esse sobrado, como ele aparece na história, o senhor comprou, do Salvador?
Alphiete: Eu comprei o comércio dele.
Rachel: O comércio.
Alphiete: O sobrado é num lugar lá, do senhor Manoel Soares.
Rachel: O senhor Manoel Soares também era Integralista?
Alphiete: Não, esse é por fora. Esse aí deixa para o lado. Esse era apenas os dono dos
prédios. Era dono de todos os prédios que tinham esse comércio pertencia a “Seu” Manoel
Soares. Pegando a casa de Salvador Maiolino, eu já passo a ser inquilino do “Seu” Manoel
Soares. Mas tinha um salão grande que fazia reunião todos os sábados e domingos, reunião
integralista. Salvador me entregou aquilo tudo: “Olha, você vai ficar no meu lugar, vou
chamar aqui o nosso chefe daqui da 9ª Região, que é Dr. Antônio Gachet dos Santos Reis,
que é médico, vou chamar ele para transferir para você. Você recebe e aí toma conta de
tudo...”
Márcia: Era o chefe regional, o Antônio Gachet é o chefe regional?
Alphiete: É, ele era o chefe regional da 9ª Região do Integralismo, dali daquela zona toda,
dali até Itaocara todo núcleo Integralista dentro de Grumari, tudo dava obediência a esse.
Rachel: O senhor lembra de quais eram os Distritos, que ele era responsável?...Itaocara?
Alphiete: Itaocara, Três Irmãos, Cambuci, Pureza, Grumari e São Fidélis. Tudo isso era
debaixo das ordens do Doutor Antônio Gachet dos Santos Reis, ele era médico e era chefe
do Integralismo dessa zona toda e cada núcleo que tinha nestes lugares assim como eu
assumi esse núcleo, outros mais e outros mais, mais de trintas ou quarenta núcleos, existiam
na zona dele, ele que era o chefe nosso Dr. Antônio Gachet dos Santos Reis. Continuei ali,
[incompreensível], eu não tenho estudo, não fui criado no mundo, só tive dois anos de
colégio, mas assim andando pelo mundo aprendi a falar, com os outros, aprendi a falar
alguma coisa, o índio aprendeu, o índio aprende com eles. Eu aprendi alguma coisa eu
estou falando aqui com o senhor tudo errado, mas vou falando. O senhor já estudou, e é
formado fica anotando todas as minhas palavras, todas erradas mas o senhor já sabe qual é
minha procedência. Mas então eu fiquei fazendo reuniões todo sábado e domingo, falava
para aquele pessoal, chegava o pessoal, todos simpáticos ao Integralismo. chegava no
Domingo tinham 50, 100, 200 pessoas no salão, iam lá na minha frente, na mesinha, falava
com todo mundo. Integralismo é isso meus companheiros, olha nós temos que ser
Integralistas, nós temos que salvar esse Brasil, que o Brasil está assim, assim está nas mãos
de qualquer pessoa que não está dirigindo bem. "Nosso chefe é Plínio Salgado. O homem
que ainda vai marcar o Brasil."
Márcia: Então diz para gente, o que o senhor falava o que era o Integralismo? O que que é
o Integralismo?
Alphiete: Eu falava que o Integralismo era a única, organização que foi criada nesse País
para salvar do comunismo de Luís Carlos Prestes, e de outros governos que não estavam
governando meu País, eu falava por aí a fora eu ia falando minhas besteiras.
Márcia: O senho lembra mais?
Valdir: Falava da corrupção, também!
Alphiete: É, eu falava disso tudo, naquele tempo eu falava de muita coisa, eu falava que
nem um deputado, falava para aquele pessoal atrasado, o senhor sabe que quem tem... É
como diz o ditado. " A pessoa num lugar atrasado, cheio de gente atrasada uma palavra
dele... Errada, vale por duzentas palavras certas de gente, lá coitado, porque eles são todos
errados.
Márcia: As reuniões, que horas que eram?
Alphiete: Eu fazia sempre reunião todo dia, de quatro horas da tarde Domingo, de quatro
as sete da noite, eram três horas de reunião, todos os domingos, enchia minha sala.
Márcia: É?
Alphiete: Eu falava bonito para eles..., eu nem vou falar.
Valdir: Não, mais vai..., fala!
Alphiete: Eu falava que, Plínio Salgado era o único homem capaz de salvar o nosso Brasil.
Porque se não fosse, um homem como esse aparecer, meus companheiros nós estávamos
perdidos, o comunismo vem aí Luís Carlos Prestes, tomou conta do Brasil, e vai nos
chicotear amanhã, vai nos degolar até nossas cabeças, que o comunismo vem aí, meu filho,
e nós não queremos queimar, nós temos que nos salvar. Essa é a barca de Noé que vem
salvar a nós todos! Vamos nos reunir todos, e vamos nos salvar, e falava...(risos).
Márcia: Então, as reuniões eram de quatro as dezenove horas, Domingo?
Alphiete: Tinham três horas de reunião todo Domingo.
Márcia: Então só Domingo?
Alphiete: É!
Márcia: Então, durante a semana não tinha reunião?
Alphiete: Não, só Domingo.
Márcia: A sede ficava fachada, ou tinha alguma atividade na sede?
Alphiete: Não, eu estava morando em parte o salão em cima que era a sede. E ela também
morava, e eu morava na casa em cima, mas tinha esse salão grande que o Doutor já me
entregou como sede mesmo do Integralismo e ali fiquei obedecendo até... Então fui
seguindo essa vida aí, então agora vou contar o final.
Márcia: Só um pouquinho, antes de contar o final. Como que eram as reuniões?
Alphiete: Tinha Domingo que eu tinha que levar o pessoal todo para Pureza, para assistir o
maior orador do Integralismo. Que era Raimundo Padilha, nós íamos para Pureza, eu levava
o povo todo comigo.
Valdir: Ia a caravana, não é?
Alphiete: É, ia a caravana para Pureza no dia que tinha..., que o Raimundo Padilha ia falar
para nós em Pureza, aí era o grande orador que ia falar para nós, então eu levava minha
caravana, apanhava o caminhão com Antônio Soares ele emprestava o caminhão botava
aquele povo todo no caminhão, um caminhão não dava, ia gente à pé a cavalo de qualquer
maneira todo mundo tinha que estar em Pureza. Naquele Domingo, Raimundo Padilha
estava em Pureza para falar para nós. Então chegava em Pureza Raimundo Padilha. Ficava
em cima do vagão. Trepava em cima do vagão. Que era tanta gente, porque era tanta gente
que reunia assim na praça, que se ele fosse falar num lugar baixo ele não via ninguém,
então ele subia em cima do vagão e falava para nós era o maior orador do Integralismo que
eu já vi no mundo. Raimundo Padilha, mais tarde foi governador do Estado.
Valdir: E o que, que ele dizia?
Alphiete: Ih!..., mas ele falava muito..., falava bonito para chuchu! Nós ficávamos todos
entusiasmados, porque não sabíamos falar bonito, ele estudou é Doutor formado....
Valdir: Exato, mas o senhor lembra?
Alphiete: Lembro, só que ele falava essas coisas sobre o Integralismo. Que o Integralismo
era o caminho da..., o único caminho.
Valdir: Para salvar o Brasil.
Alphiete: Plínio Salgado, e que queria salvar o Brasil. Se não fosse o Plínio Salgado, se
não fosse o Integralismo, nós iríamos... O Brasil estava acabado.... E falava as coisas.
Valdir: E o povo?
Alphiete: E o povo, aplaudia, batia palmas, fazia salva. E gostava e falava outro trecho, o
povo caía de palmas, estavam muito entusiasmados.
Valdir: O povo ficava entusiasmado.
Alphiete: O povo estava entusiasmado mesmo, naquele tempo o negócio estava fervendo
mesmo.
Valdir: E lá no seu núcleo, o pessoal usava aquela camisa-verde?
Alphiete: Todo mundo! O pessoal da caravana, mesmo aqueles mais..., era todo mundo que
todo mundo tinha camisa-verde, prá mais de 50 pessoas que saíam comigo, todo mundo já
tinha suas camisa-verde, seu [incompreensível], aqui no braço.
Márcia: O senhor é quem arregimentava todo mundo, ficava, ficava todo mundo...
Alphiete: Aquele que não tem camisa-verde, faça essa semana! A caravana Domingo, vão
tudo pronto.
Márcia: Mulheres, homens e crianças também?
Alphiete: Criança não, não tinha.
Márcia: Não iam vestidas não.
Alphiete: Só mulher e homem, aí, nos íamos. Para Pureza, aquela caravana e fazíamos
aquela [incompreensível], passeata. Assistir o grande comício de Raimundo Padilha, e no
outro dia aí de noite cada um agarrar o seu [incompreensível] e ir embora de novo, e todo
mundo no outro dia estava todo mundo satisfeito, Integralismo não tem grandes
[incompreensível] e todos satisfeitos, no Domingo que não tinha lá eu fazia minha
reuniãozinha cá no salão. Mas dava graças a Deus que a reunião de Raimundo Padilha, os
caras corriam todos para lá, e juntava de povo assim. Agora eu vou contar a passagem que
veio a perseguição...
Valdir: Antes da perseguição, os contras, eles chamavam vocês de "galinhas-verdes"?
Alphiete: Eles chamavam. Era mesmo nós tínhamos nome de "galinhas-verdes".
Márcia: O senhor sabe por que tem esse nome de "galinhas-verdes"?
Alphiete: Não.
Márcia: Não sabe?
Alphiete: Não.
Márcia: Porque lá na Alemanha o pessoal desfilava e tinha o passo de ganso. Então para os
brasileiros eles chamavam de galinha, "galinhas-verdes".
Alphiete: Então fui tocando essa vida assim, conforme eu estou contando.
Márcia: Antes do senhor contar, eu queria dissesse como eram as reuniões? Como o
senhor organizava essa reunião? Como é que começava?
Alphiete: Antes de sair já sabiam todos que domingo tinham que estar quatro horas no
meu salão, para assistir...
Valdir: Era um compromisso?
Alphiete: Era um compromisso que eles tinham. Então vestiam as "camisas-verdes",
vinham todos no Domingo, e entravam no salão, sentavam todos e eu dali um bocado
manifestava a falar sobre qualquer coisa.
Márcia: Cantava o Hino Nacional antes?
Alphiete: Cantava o Hino Nacional. Só parava naquele "trecho."
Márcia: Não podia cantar: "Deitado eternamente..."
Alphiete: É, "Deitado eternamente..." Isso aí, não!
Valdir: Era censurado?
Alphiete: Era censurado, aquilo ali.
Márcia: O senhor sabe porque era censurado?
Alphiete: Isso não ficou bem na minha cabeça. Eu fui bem orientado pelo meu chefe para
não usar aquilo e eu não usava. Agora eu não fiquei bem orientado assim. Porque tem
muitas coisas que não passou pela minha memória.
Márcia: O senhor lia livros?
Alphiete: Eu tinha livros de Plínio Salgado.
Márcia: O senhor lia?
Alphiete: Lia.
Márcia: As pessoas liam também lá?
Alphiete: Liam, tinha livros em cima da mesa para vender. Dava até livros a alguns. Mas
era muito feia a pregação que ele tinha. Vamos passar agora para minha perseguição. Então
parece aquele, Levante que houve no Rio, para entrar no Palácio de Getúlio Vargas.
Márcia: Em 1938.
Alphiete: Aquilo foi muito apressado, aquilo não podia ser naquela época, tinha que levar
mais um ano ou dois acabar de aperfeiçoar tudo, depois dava o golpe, era [incompreensível]
Plínio Salgado era eleito. Mas deram o golpe muito adiantado. Alvoroçaram um
mucadinho e deram o golpe lá no Rio, entraram no palácio de Getúlio Vargas... Não
puderam...
Valdir: No Catete?
Alphiete: No Catete, entraram no palácio do Catete. Pronto, aí botou tudo por água abaixo.
Foi por esse caso que acabou com a porcaria toda por isso. Aí então pegou a perseguição. O
Levante foi abafado, Getúlio mandou perseguir. Até então Getúlio não estava ligando para
o Integralismo. Porque o Integralismo estava combatendo o comunismo. Não estava nem
se falando contra Getúlio. Nós estávamos combatendo o comunismo de Luís Carlos Prestes.
Falava tudo sobre a salvação do Brasil, para tirar o Brasil jogo comunista que vinha aí para
tomar conta do Brasil. Nós estávamos trabalhando até junto com Getúlio, fazendo
propaganda. Vamos combater todos, mas combater o comunismo. E nasceu o Integralismo
para acabar o comunismo. Não foi para acabar com o Getúlio. Não nasceu o Integralismo
para combater o presidente da república. Você sabe que o Integralismo nasceu para
combater o comunismo? Foi ou não foi? Nossos livros estão todos aí. Não temos com o
governo. O governo sai um entra outro e nós queremos botar o Plínio Salgado lá para que o
comunismo não fosse avante. Então é por este motivo que nós estávamos batalhando. Mas
veio a perseguição porque foram entrar no palácio de Getúlio, aí Getúlio mandou perseguir.
Aí lançou um delegado de comissão para cada cidade para prender tudo que é chefe
Integralista. Veio para São Fidélis um tal de Dr. Osvaldo e parou no Hotel, em São Fidélis.
E eu estou sabendo de tudo. Eu fugi para uma ilha de um grande amigo meu, que é meu
compadre, integralista mesmo de chapa [incompreensível] seguro, que se chamava
Francisco Malta, Sr. Chico Malta, meu compadre, meu amigo. E é uma ilha que tem entre
Pureza e Grumari. Uma ilha grande que tem até lavoura de café e cana, tudo isso aí. Eu
fugi para lá para ilha dele. Eu vou ficar escondido aqui porque a perseguição está feia pro
lado de São Fidélis. Vou ficar por aqui [incompreensível] . Para vim na minha ilha tem que
buscar de canoa. Eu não vou dar minha canoa pra ninguém pra vir aqui prender o homem.
Se prender ele... tem os dois filhos dele que também são integralistas, a mulher dele... tudo
integralista. Estão todos na ilha, tudo camisa verde escondido na ilha. E eu peguei a
espingardinha dele e estava caçando no mato, então aquele mosquito dos matos, aquele
mosquito que dá impaludismo me picou e eu peguei a febre de impaludismo. Passou alguns
dias, estou lá na ilha escondido, chegava duas horas me dava uma febre... aquela friagem.
Não tinha apetite para comer, nem nada, tremendo de frio. A febre me pegou. Ele disse:
"Ih! Compadre, você está com febre mesmo. Esse mosquito te mordeu. Agora tem que dar
um jeito pra tratar de você." Falei: "Agora como é que a gente vai fazer, eu não posso sair
daqui." Mais eu fiz o seguinte, eu falei com ele. O meu compadre vou fazer o seguinte, eu
vou sair de noite vou encontrar [incompreensível] a passagem tem aí... O telefone na casa
dele em São Fidélis era 10 - 15 minutos, estava na Fazenda do Coronel Bráulio Gomes eu
cheguei lá de noite aí bati palmas, aí veio um empregado lá: "Quem é?" Fale com o Coronel
Bráulio, que quem está aqui é Alphiete. "Alphiete?" É Alphiete Alves Corrêa. Ele sabe
quem é. O Coronel me protegia por que eu era correligionário dele da política, tanto que
por fora assim eu uns dois três anos do integralismo, mas ele não estava nem notando nada
disso. O Coronel... para elite ser sempre a nossa... Campanha Eleitoral e tal. Aí sabia que
toda a família Miranda era tudo dele, era do Coronel Bráulio para ser eleito dependia de nós
todos. Eu fui e o Coronel Bráulio mandou eu entrar. Mas ele é muito precavido, tinha muita
questão com um e questão com outro. E ficava num quarto escuro do corredor que é para o
lado da cozinha, ficava num quarto escuro olhando só pela greta e mandava um empregado
levar a gente para a cozinha: “Leva o rapaz para a cozinha! O rapaz quer falar comigo, leva
ele para a cozinha!" E ficou no quarto escuro olhando se era eu mesmo. Eu passei no
corredor, ele viu que era eu mesmo e aí correspondeu. Saiu me acompanhou, chegou lá na
cozinha, sentou no mesão dele. Veio café, pão, broa. Estamos comendo tudo ali e bebendo.
O Coronel veio aqui, meu caso é meio melindroso "Eu levei uns tempos fora do senhor,
mas sou amigo do senhor toda vida. Sempre fui desde garoto e serei até hoje e serei para
sempre. Você sabe eu entrei para esse negócio de Integralismo, mas agora pegou esse
negócio de perseguição, aí Coronel e eu estou com o senhor de novo. E quero me salvar
porque diz que tem um homem em São Fidélis mandando buscar meus colegas todos por aí
Tá com ordem de degolar mesmo. Está fazendo o que quer." "Tá mesmo rapaz, o negócio
está perigoso. E como é que você foi entrar nesse troço?" "Pois é Coronel, você sabe como
é que é? As vezes a gente varia um pouco e eu caí lá. De repente caí da ponte embaixo. Mas
agora eu quero que o senhor me salve." "Vou te salvar, rapaz, mas você não me larga mais
não!" "Não... Eu gosto do senhor. Eu voltei Coronel." Ele disse: "Só tem um caminho pra
eu te salvar, vou mandar chamar esse homem agora. Eu telefono e ele vem aqui na minha
fazendo agora. Vou apresentar você a ele. E ele vai tirar o seu nome da lista agora." "Será
Coronel?" "É agora!" Aí o Coronel foi no telefone e chamou para o Hotel: "Quero falar
com o Dr. Osvaldo que está aí, com o delegado que está aí, de comissão. Fala que é o
Coronel Bráulio Barros quer falar com ele. Toma um carro aí e venha para a fazenda
agora!” O delegado pegou o carro e foi na fazenda do Coronel Bráulio. Chegou, está aí o
homem. O Coronel Bráulio foi lá na porta recebeu ele e foi e levou ele lá para cozinha:
"Entra para a cozinha, vamos comer um pedaço de broa aqui com o Coronel Bráulio." Foi
lá para a cozinha, eu estou sentado lá na frente, a senhora do Coronel Bráulio, Dona Neuza,
todo mundo lá. Sentou todo mundo, ele me apresentou. Não falou o meu nome primeiro.
“O Doutor, esse aqui é um amigo, pessoal da minha cozinha. O senhor está vendo ele aqui
na minha cozinha, porque é gente minha. Vou te apresentar porque é gente boa.” Aí
cumprimentou e sentamos de novo. Ele disse: "Olha, O Dr. Osvaldo, mas existe nesse meio
aí um caso meio melindroso. O senhor agora vai resolver. O senhor tem na sua lista um
nome de um chefe de Integralista, que o nome Alphiete Araújo Correa. Pega na lista do
senhor e veja que tem aí." Ele meteu a mão no bolso. “Tenho, está aqui mesmo. Já prendi
alguns, mas está faltando esse Alphiete Araújo Correa." "Pois é, o caso é esse: Alphiete
Araújo Correa é esse aí." Ele bateu os olhos em mim, ele chegou até a mudar de cor (risos).
"Mas é ele?" Eu falei: "É, esse mesmo." 'É, doutor, é esse mesmo. Só que ele é membro da
minha cozinha. O senhor para levar ele tem que levar eu também." "Não, a gente acaba com
isso agora." Me riscou da lista na mesma hora. Fiquei fora do Integralismo. Já sou do
Coronel Bráulio. Mas então, o homem me riscou fora. No outro dia fui trabalhar sossegado
no meu comércio. Já não tinham mais nada contra mim. E fiquei tocando o meu comércio.
Já não sou mais integralista. Juntei tudo que tinha e o Coronel Bráulio falou comigo; "Você
pega tudo quanto é coisa do Integralismo camisa [incompreensível] e joga tudo no rio." Eu
joguei tudo lá, fazer o que. Eu vou ficar sozinho para entrar no cano. Joguei tudo dentro do
Rio Paraíba. Amarrei tudo numa trouxa, coloquei uma pedra e joguei no Rio Paraíba. Aí
ficamos por fora. E o meu amigo também da ilha, eu salvei ele também, ficou tudo certo.
Aí ficamos seguindo o meu [incompreensível] político. Mas aí, foi chegando a política, lá
em Grumari, aí veio que apareceu o Eduardo Gomes. Foi a época que veio Hilário Gomes.
Passei de Plínio Salgado, agora sou Eduardo Gomes.
Valdir: Mas antes de Eduardo Gomes, o pessoal que ia lá na reunião dos integralistas com
o senhor?
Alphiete: Nunca mexiam comigo, são fregueses de balcão. São todos membros
[incompreensível], pessoas de outra roça. Sr. Ari que está comigo todos os dias. Tem Seu
Joãozinho pra vender pra mim. E eu estou organizando eles. "Meu filho, você não liga pra
integralismo mais não. Esquece disso que a situação está brava. Eu estou aqui solto por
Deus até. E você também faz de conta que não existiu nada.
Valdir: O senhor orientou o pessoal?
Alphiete: Fui orientando todo mundo.

Fita 2
Duração: 0:30 h.
Lado A
Márcia: Então, Bráulio Gomes protegia o senhor, em 1938.
Alphiete: É, 38, 39, 40 ele me protegia.
Márcia: De 38 a 40 ele te protegia.
Alphiete: Aí em 40 eu vim pra dentro de São Fidélis. Mudei de Grumari para dentro de São
Fidélis. [incompreensível] Aí, veio essa firma [incompreensível] do Rio, uma grande
firma, chegando lá me nomearam como chefe de compras da Companhia [incompreensível]
do Rio, me fizeram um salário mensal. Naquele tempo duzentos reis... Eu como
comerciante que era, já tive um comerciozinho lá quando eu era moço lá em São Fidélis
fiquei sendo o maior comprador de aves e ovos, daquela região toda, desde 40, 41, 42.
Trabalhei comprando aves e ovos. E seguindo esta política nova de ...
Márcia: De Vargas?
Alfhiete: Não, Eduardo Gomes.
Márcia: Ah, isso em 41.
Alphiete: Isso em 41, em diante eu peguei seguir Eduardo Gomes. Mas só que tem que eu
peguei de fazer coisa que não devia fazer. Vou contar coisas que eu fiz que o senhor não
acredita. Tenho minha casa de São José largada. Quando foi em 48 tive que fugir, de São
Fidélis. Uma noite apareci aqui em Niterói pra ficar por aqui. As besteiras que eu fiz de
novo. Aí eu entrei com Eduardo Gomes. Só tinha o dono da casa de vidro Sr. Manuel
[incompreensível]. Comigo o Eduardo Gomes e um primo meu que também tinha também
um comércio, Altamiro Aguiar, que é primo do seu avô [refere-se à sobrinha
entrevistadora] e meu primo também, é nosso parente. E nós fazendo aquela pregação
política... [incompreensível]. Então fiquei tão entusiasmado com Eduardo Gomes que eu
sempre nunca larguei o revólver. Então eu saí para rua, aí Getúlio foi deposto. Na época
Getúlio tinha, foi quando se candidatou o Gaspar Dutra. Então cheguei na rua, o Getúlio foi
deposto, eu cheguei na rua, tinha retrato na rua de Getúlio e eu derrubava... porque Getúlio
foi deposto. Eu cheguei no comércio, o banco [incompreensível] me deu de presente. Então
o meu envolvimento comercial, vivia no meio das casas de aves e ovos... Eu cheguei,
estava o retrato assim: Getúlio Vargas e o chefe [incompreensível] , lá dele lá. Eu falei:
"Seu Valter, manda tirar aquele retrato lá senão eu arranco aquilo a bala." Meti a mão no
revólver.. Todo mundo tinha um medo de mim danado. Eu chegava na rua assim no
botequim assim... Eu fiquei sendo o bravo do lugar. Chegava em São Fidélis em qualquer
botequim que eu entrava assim, tinha sinuca, eu entrava pra jogar sinuca não tinha com
quem jogar, todo mundo largava o taco e saia, um a um. Cada um saia nas portas lá. O dono
do botequim, Antenor Cruz, falou comigo: "Ah! Alphiete, você chega aqui os fregueses
correm tudo." Eu falei: "Corre por quê?" "Não sei, ficam tudo com medo do senhor. O
senhor dá tiro atoa dentro de casa. Eu fui e falei: "Seu Valter, tira aquele retrato de Getúlio
senão eu tiro ele a bala." "Não, vai tirar ele agora filho, pode deixar. Bota a escada, tira o
retrato de Getúlio que está aí." Tirou. Eu fui cheguei lá na loja da frente, de um turco com
nome de seu Jorge. Aí Seu Jorge não estava. "Cadê o Seu Jorge?" Estava o retrato do
turco assim e o retrato de Getúlio Vargas. Naqueles tempo os comerciantes puxavam o
saco, eles tinham o retrato de Getúlio Vargas, tudo puxador de saco. Ainda mais turco que
é danado pra puxar saco. Aí, Seu Zito Simão. O nome dele era Jorge Simão, o pai dele.
Jorge Simão não estava. “O ‘Seu’ Zito, o senhor quer mandar descer aquele retrato agora.
Ou quer que eu tire a bala agora?" "Não senhor! Pode deixar que eu tiro agora. Tira aí,
chamou o empregado para tirar o retrato. Fui na outra loja, tira esse retrato de Getúlio, tira
fora. Tudo quanto era loja que tinha retrato de Getúlio, naquele dia eu resolvi mandar tirar
tudo. No dia que Getúlio foi deposto. No outro dia eu catei tudo. Tudo quanto era casa que
tinha o retrato de Getúlio a disposição assim eu mandei tirar tudo. Na rua aonde tinha o
nome de Getúlio eu mandei raspar. Botava só outros nome. Getúlio eu não quero! Quando
foi uns 4 ou 5 dias houve aquela ação na Praça de São Fidélis, atrás da estação, Praça
Amaral Peixoto. Porque Amaral Peixoto, o genro de Getúlio, foi dado o nome a praça, que
Amaral Peixoto já era governador do Estado do Rio. Então, ia haver uma grande festa de
inauguração da Praça Amaral Peixoto. Eu sou contra Amaral Peixoto e Getúlio! Não quero
essa gente aqui de jeito nenhum! Derrubo tudo! Eu fui pra lá de bicicleta e parei cá do lado.
Todo mundo na festa. Tinha uma banda de música tocando. E fazendo aquela festa toda. E
nos quatros cantos da praça, botou aquela "Praça Amaral Peixoto" Colaram aquilo tudo lá,
a banda tocando, eu do lado de bicicleta olhando. Quando acabou a festa toda ali que eu fui
lá pro centro, lá pro hotel, [incompreensível] , eu fui naquelas placas que estavam pregadas
de novo com cimento, arranquei assim com esse negócio do esgoto, de ferro do esgoto, e
fui pra lá e arranquei aquela porcaria toda e joguei no brejo. Quebrei os quatros cantos e
joguei tudo fora. Eu sozinho, era maluco mesmo. Só doido faz a senhor não faz.
Valdir: E aí?
Alphiete: Aí, quando foi no dia que, Tenente Emídio que passou a ser Tenente, porque fez
a Revolução de Getúlio, de 30 veio junto com Getúlio, trazendo Getúlio para fora para ser...
Porque o Getúlio não ganhou nenhuma eleição, Getúlio veio por... Assim...
Valdir: Golpe?
Alphiete: Deu o golpe, você sabe de 30, ele deu golpe e veio por aí e foi eleito. Então tinha
um rapaz, um senhor com o nome de Tenente Emílio que se tornou Tenente por isso,
porque fez aquilo... O Tenente Emídio era metido a brabinho, veio da revolução de Getúlio.
Quando foi no outro dia, Tenente Emídio era muito influente, em São Fidélis, por causa de
Getúlio, era Tenente, aí, mandou um filho dele, que hoje é funcionário meu
[incompreensível], mandou um filho dele me dizer no meu comércio. Que ia botar eu na
frente, com a banda de música tocando atrás, para colocar as quatro placas de Amaral
Peixoto que eu tinha quebrado toda. O filho dele veio falar comigo. O filho dele, o filho do
Tenente. Eu falei, Washington, ele se chama Washington, você fala com seu pai, que para
min ele é muito merda! Eu quero que ele seja homem para vim na frente da banda de
música, que o primeiro que eu vou alvejar meu revólver na cara é na cara dele. Vou um
tiro em cada um e no teu pai. Se ele é macho eu quero ver se ele é macho mesmo! Você
diga ao seu pai: quero ver se ele homem mesmo. Porque eu sou. Sou homem pra chuchu,
quero ver se ele é.
Valdir: E ele?
Alphiete: Você chega lá e conta pro teu pai. Ele chegou em casa e contou pro pai: "Pai, não
se perde nisso agora não pai. Alphiete disse que dá um tiro no senhor [incompreensível].
Disse se você for homem pra tu ir na frente da banda de música. Aí o pai dele botou uma
pedra em cima, ficou quieto e não tocou mais no assunto. E eu fazendo cada vez pior. Todo
retrato de Getúlio eu botava abaixo, fazia aquelas merdas todas. Ele botou a pedra em cima
e ninguém falou mais nada. Ficou tudo quieto. Aí eu tinha uma mula que ele apanhou na
roça, quando foi no outro dia de manhã cedo, num dia lá qualquer, no pasto lá abriu a
porteira, a mula apareceu no quintal, no jardim do Seu [incompreensível]. Comeu lá tudo.
Aí o fiscal da prefeitura prendeu a minha mula lá no curral do Conselho. O curral do
Conselho [incompreensível]. Aí prendeu a minha mula no curral do Conselho. De manhã
cedo, vou apanhar as mulas pra sair para apanhar ave e ovos e não encontrou as mulas. Aí
veio a notícia que as mulas estão todas presas no curral do Conselho. Seu José Pinto,
mandou prender as mulas todas. Estava tudo no curral do Conselho. Eu fui peguei a
bicicleta e fui lá pro curral do Conselho. Chegando lá o portão estava fechado assim com a
tranca, meti pé no portão, quebrei o portão lá. Meti o pé, quebrei o portão, joguei os
pedaços no chão. Fui lá dentro toquei as mulas par fora e fui atrás de 4, 5 mulas lá na frente
pela rua afora e eu atrás de bicicleta. Fui embora... Aí, aquilo tudo me botaram uma pedra
em cima, com medo de mim. O povo tinha um medo de mim desgraçado. Não houve nada.
Seu José Pinto não mandou me prender, fui lá quebrei aquela porcaria, soltei minhas mulas
e outras mulas que tinham, soltei também. Mas ninguém procura por mim nem nada. Fui
ficando assim, fazendo essas besteiras todas. Mas aí, aquilo tudo foi para no ouvido do
delegado de São Fidélis. O delegado por qualquer coisinha mandava me intimar. Ah! Isso
assim, assim... Eu disse Ah! Doutor chega isso pra lá. E eu discutindo com o delegado. E o
delegado: "Tu vai ficar trancafiado." "Em xadrez nada eu não matei ninguém." "Todo
mundo sabe que o senhor é um bandido." "Sim, mas o senhor não prova isso." Discuti com
o delegado. Foi lá botou uma pedra em cima. Aí o juiz pegou de me perseguir também.
Uma perseguição desgraçada. Eu fiquei de uma tal maneira, que foi em 1948 não pude
mais ficar em São Fidélis. Eu não podia mais sair na rua por qualquer discussãozinha com
freguês já recebia uma intimação. Aí o juiz mandou decretar, disse que eu ia ser preso. Por
caso de que ele inventou um troço lá. Eu ia pegar..., ia me meter na cadeia 4 anos de cadeia.
Eu fui e falei assim: "Eu tenho que fugir daqui par fora porque eu não tenho mais como
viver aqui. Agora eu estou perdido, estou acuado de tudo quanto é lado." Aí Getúlio volta e
é eleito de novo.
Valdir: Em 50?
Alphiete: Não, mas eu vim pra aqui em 48. Getúlio não era eleito ainda não. Quem estava
governando era o Dutra. Eu saí a meia-noite com o carro cheio de aves e ovos de Grumari,
num caminhão. E vim pro mercado. Cheguei aqui no mercado. Aluguei uma barraca, botei
minha mercadoria e passei a negociar aqui no mercado. O mercado antigo de Niterói. Que
hoje o mercado é aqui no Barreto. Mas primeiro era lá embaixo, em Niterói. Aquele
mercado grande lá. Eu cheguei lá, aluguei uma sala grande na rua A n.º 26. Botei meu
comércio de aves e ovos. Tinha um tio meu lá dentro do mercado que guardava de tudo, me
arrumou um galinheiro pra eu botar as galinhas. Balcão, balança, me acertou aquilo tudo e
no outro dia já comecei dentro do mercado. Larguei em São Fidélis casa, está por lá até
hoje. Tenho minha casa em São Fidélis até hoje largada. Larguei tudo pra trás e comecei
nova vida aqui no mercado. Cheguei aqui, fui ser comerciante ali. Trabalhei um ano ali.
Quando foi o ano de 49 vendi o comércio pra um rapaz de Cambuci. Comprei por 3 Contos
a barraca do rapaz e no rolo vendi por 30 Contos e tal. Eu vendi o comércio das galinhas e
olhei no jornal assim: "preciso de um auxiliar de escritório para contador." Eu falei: "Agora
vou pegar um emprego desse porque 30 contos não dá pra fazer quase nada. Eu vou ser
apontador nesse fábrica de sardinha. Entrei a primeira vez na rua[incompreensível] que
tem..., a fábrica de sardinha lá perto.
Valdir: Perto do cemitério.
Alphiete: A primeira vez eu entrei naquela rua, fui por ali afora. Quando eu cheguei lá
dentro, falei: "Eu quero falar com o dono da fábrica." Veio filho dele e disse: "Vou chamar
o meu pai!" Chamou o velho português, veio lá o velho português o Sr. Marino. "O que,
que há!" O seu Marino eu vim aqui, conversar com o senhor, precisa de uma pessoa para
ser apontador. "E o senhor foi o que até agora." Eu fui comerciante, mas fracassei qualquer
coisa aí, estou meio fracassado, e agora quero trabalhar mesmo de apontador, ou qualquer
coisa, eu quero é trabalhar. Ele disse: "Se o senhor é trabalhador e quer trabalhar, se o
senhor foi comerciante, é o que eu quero aqui, eu quero um comércio aqui para o pessoal da
fábrica. Tem um salão ali eu vou botar aqui uma cantina, e o senho vai tomar conta da
cantina para o pessoal da fábrica." É isso que eu quero, aí pronto, me iluminou com o
negócio da cantina, [incompreensível], na Rua São Lourenço, tinha aquela grande firma,
antigamente. [incompreensível], a cantina e fui trabalhar, aí pronto começou a minha vida
por ali, depois montei aquela padaria que tem lá no Buraco do Boi aquele sobrado fiz
aquilo tudo, pronto começei minha vida. Até ficar velho, aposentei pronto acabou...,
acabou a zoeira toda de homem, brabo dando tiro, fazendo tudo.
Márcia: Depois que a sua esposa morre, em 1939, o que acontece..., o senhor fracassa de
novo?
Alphiete: Não, em 39 tinha uma senhora, conforme eu falei com você ali, tinha uma
senhora que era sobrinha do Madureira amigo de Pureza, que o marido tinha largado ela,
tinha vindo para o Rio, uma senhora que eu trato ela de Zizinha, mas o nome dela é Luiza
Pinto Machado, então ela havia ficado na casa do tio dela em Pureza, com um garotinho
assim. E eu saia para passear em Pureza todo Domingo, lá para o lado de Grumari, mas eu
gostava muito de Pureza, aí eu estou indo lá em Pureza passear todo Domingo, cinema e
tudo ali, e vi aquela senhora assim, achei bonita, e tal..., gostei... [incompreensível], e ela
foi viver comigo, ela já estava com o filho, aí foi viver comigo no lugar da minha mulher
que morreu. Em 39 mesmo. No mesmo ano, em Grumari ainda. Quando vim para São
Fidélis já veio comigo, quando foi em 42, nasceu uma garota minha, que é chefe do
laboratório Tostes, de Niterói. Ela é professora mas, chega lá procura Dona Elza Correa,
que é a chefe do laboratório Tostes, a quinze anos que toma conta disso, ela que manda em
tudo, é minha filha, filha dessa Dona Zizinha, e nasceu depois de 45 um filho, Paulo
Correa. Engenheiro da Companhia Brasileira. Em Alcântara, chega ali na Companhia
Brasileira, eu queria falar com Engenheiro, senhor Paulo Correa, é meu filho também
Então, eu tive esse casal de filhos com essa senhora, nasceu em 42 e ele em 45. Lá em São
Fidélis. Então eu formei eles, hoje ele é Engenheiro da Companhia Brasileira e ela é
Professora, mas é chefe no laboratório Tostes. Quando eu venho para aqui em 48, deixei
tudo aqui em São Fidélis, mas depois que eles ficaram por lá passando dificuldade, eu
paguei um caminhão para trazer eles, vieram depois, um ano, vieram para uma casa que
tem aqui na Casa que tem aqui na Covanca, na travessa Pio Borges, comprei uma casinha
ali fui morar ali. Até hoje..., mas chegando aqui..., eu..., isso é um negócio particular, de
família, meu pai que cheguei a citar naquele dia. Cita.
Márcia: Se o senhor quiser falar, fala mais...
Alphiete: Isso aqui vai escutar...
Márcia: Não, se o senhor quiser pular..., o senhor pode dizer quando é que separou dela.
Alphiete: Eu não vou falar o que ela fez. Que eu..., eu vou falar logo... Falaram comigo que
ale estava tendo uma [incompreensível], com o primo dela [incompreensível], então eu
tendo descoberto isso, em 48, quando trouxe ela para cá. Eu comprei uma casinha, e botei
ela mas logo arrumei outra. Que essa senhora que está aqui, comigo em 50, de 50 está
comigo até hoje. Hoje é velha comigo aí, tenho a minha filha que é subgerente do Banco
Itaú. Tenho meu genro casado com minha filha. Aí, encontrei outra família. Aquela
senhora, que eu vivia aquela dúvida..., qualquer coisa que estava me fazendo de qualquer
coisa... Eu então, deixei para trás. Mas nunca desamparei, dando tudo para eles conviverem,
dei a casinha da Covanca, que está lá na travessa Pio Borges, dali ficou para eles mesmo.
Para ela com os dois filhos dela, que é Paulo e Elza, formei eles dois hoje são formados,
continuam no mesmo lugar, só que ela foi para Icaraí. Eu dei a casa para eles, eles fizeram
um sobrado, o sobrado na travessa Pio Borges, 101. Isso aí pertence a vocês agora. E a
Velhinha está lá até hoje. Muito mais velha do que eu, cabecinha branca. Quando eu a
apanhei para morar comigo ela já era mais velha uns 6 ou 8 anos. Está viva ainda, os dois
filhos. Meus filhos, eles não passam fome. Estão lá na casa que comprei para eles até hoje a
casa é deles.
Márcia: E quando o senhor, casou com essa senhora?
Alphiete: Não, com essa senhora eu nunca casei.
Márcia: Então, quando o senhor começou a morar com ela?
Alphiete: Eu comecei a viver com ela em 51.
Márcia: Em 51..., o senhor já havia?
Alphiete: Em 51, na fábrica de Sardinha. Eu abri a cooperativazinha na fábrica de sardinha.
E fui viver com essa senhora que estava trabalhando na fábrica de sardinha. Era separada
do marido dela, foi empregada da fábrica de sardinha, aí conheci ela, eu precisava de uma
companheira, estou morando com ela até hoje.
Márcia: Qual é o nome dela?
Alphiete: Noêmia dos Santos Coutinho.
Márcia: O senhor tem quantos filhos com ela?
Alphiete: Eu tenho só a minha filha, a Regina. Pronto acabou a história.
Márcia: Sr. Alphiete, a gente agradece a sua entrevista. O senhor tem alguma coisa a dizer,
uma mensagem? Se o senhor faria tudo..., se o senhor se arrepende..., se o senhor gostou de
ter sido integralista?
Alphiete: Não me arrependo de nada. Tudo que eu fiz tenho prazer de contar hoje, de peito
folgado. Conto aqui, conto ao Presidente da República, se ele estiver aí, que eu tenho prazer
de ser tudo que fui. Que todas as pessoas tem que passar, por tudo isso na vida. Até, uma
história que eu tenho, e conto, assim com toda..., eu tenho prazer até de contar. Eu conto
sempre, a certos amigos por aí, de vez em quando, passa um advogado qualquer... Até
aquele Paulinho, filho do farmacêutico ali da rua igreja, um dia ele disse que queria escutar
a minha história, ele se formou advogado, quando contei isso tudo para ele, ele ficou
empolgado. Eu conto e tenho prazer de contar. Não tenho nenhum arrependimento de ser
integralista. E digo outra: o Integralismo é a única coisa que está dentro do Brasil
governando. Não está com o nome integralismo, mas esses grandes presidentes que estão
aí, todos foram integralistas. Você sabe o que é isso? Eu digo outra: esses chefes que estão
aí hoje governando, Presidente da República, tudo, tudo isso tem dedo de integralista hoje.
Se não for positivamente integralista, são filhos de integralistas, são netos de integralistas,
são tudo gente integralista. Quem está mandando no país é gente integralista. Já digo isso
rasgado, pode confirmar.
Márcia: Por que o senhor diz isso? Por que o senhor acha que eles são integralistas?
Alphiete: Por causa do modo como eles estão governando é aquele nosso regime, que
Plínio Salgado pregava. É a mesma coisa que vocês estão vendo hoje, mais ou menos. Esse
Fernando Henrique Cardoso, no governo dele é ali naquele estilo que era o integralismo.
Estou fazendo propaganda do que estou vendo ele fazer: estão batendo no que está errado,
fazendo tudo que é preciso para o Brasil, combate o comunismo, que aparece aí, também dá
a sua força para combater... Ele vem fazendo o que nós fazíamos. O que o integralismo
fazia, ele está fazendo aí. Então, continuo dizendo: o integralismo está aí. Não está com o
nome integralismo, mas está aí. O que o senhor acha? Estou falando errado ou verdade?
Valdir: Não, tem muita gente aí.
Alphiete: Tem muita gente governando que foi integralista.
Valdir: É, foi integralista.
Alphiete: Foi tudo integralista. É como você, filha de integralista. Aquele que não foi ele é
filho de integralista.
Márcia: Vocês querem perguntar alguma coisa? Muito obrigada, então, Sr. Alphiete, por
isso entrevista. E a gente queria perguntar...
Alphiete: Eu não tenho fingimento, não! Falo em qualquer lugar! Falo sempre até
satisfeito, eu falo empolgado! Fiz mesmo e está acabado. Fiz tudo isso, fiz, tenho satisfação
de ter feito porque eu não tinha muito juízo, fazia mesmo. Agora, hoje em dia eu sou uma
pessoa mas grilada... Não me meto mais nessas coisas... Venho tratando da minha vida
sossegado, e pronto acabou, acabou. Agora quero viver o resto da minha velhice. Ninguém
me matando até hoje, nunca mais arrumei briga até hoje estou aí. Não puderam acabar
comigo porque eu tenho uma passagem na minha infância, que eu não contei aí não. Porque
não conseguiram acabar comigo até hoje, e tem uma coisa muita gente não acredita, você
não acredita no que eu vou dizer, nem ele, nem ele, mas eu creio, porque eu passei. Quando
estava na Fazenda Ipiranga com 16 anos. Esse tal Mazinho Careca, me levou num Centro.
Que tinha lá na montanha, da [incompreensível], no município de Campos, lá perto de
Cardoso Moreira, num Centro brabo, dum homem que virou bicho, que era um camarada
que andava arrastado no chão. Chamado Joaquim Jovem, eu lembro de tudo isso, eu tinha
16 anos, foi antes de me casar. Já estava Sexta-feira da Paixão a meia-noite, em ponto
fechar o corpo. Para nunca morrer de tiro, nem de facada nem nada. Eu já levei muita
tocaia, já deram tiro em min, de cara a cara no meu comércio em Buraco do Boi. Chegaram
assim arrancaram o revólver pra min. E eu acabei derrubando um cara lá fora. Estou aí vivo
e são. Encontro até com o chefe da [incompreensível], que seu Renato, de vez em quando
na feira. Ele me trata Correa. "Correa, você um cara danado. Você saiu do Buraco do Boi
vivo, são, e está aí forte. Nego não pode com você." Eu falei: Você sabe como é que é.
Valdir: É isso aqui..., também?
Alphiete: Hein?
Valdir: Me dê, licença.
Alphiete: Essas coisas foram feitas, lá.
Valdir: Foi lá?
Márcia: Naquela época?
Alphiete: É, foi, nesse Centro Espírita. Eu tinha 16 anos..., eu fiquei todo cortado. Aí veja
aí esta é a Estrela do Oriente.
Márcia: No braço esquerdo: Estrela do Oriente e no braço direito, um coração.
Alphiete: Para nunca ser atingido.
Márcia: Duas tatuagens.
Rachel: E o que tem dentro desse coração?
Alphiete: São as tatuagens que estão nas costas , aqui no peito tem um coração também...
Valdir: É a inicial do senhor?
Alphiete: São minhas iniciais. Alphiete Alves Correa. AAC.
Rachel: No peito também tem uma?
Alphiete: Tem, só que aqui não tem meu nome, tem o nome de uma garota, tem Ceci aqui,
o nome de uma garota que eu gostei, no tempo que eu era homem..., botei o nome da garota
no meu peito, meu nome ali. Então esse Mazinho Careca que me levou para esse Centro.
Fui 3 anos, mas só pregando o integralismo do meu jeito, não estudei quase nada. Só na
hora de abrir a sessão nós contávamos o Hino Nacional, e eu fazia minhas orações, para o
pessoal todo.
Márcia: Orações católicas?
Alphiete: É, fazia minhas orações. Vocês tem que ter, primeiro nosso Hino, é Deus, Deus e
depois Plínio Salgado, para combater o comunismo.
Márcia: Falava de “Deus, Pátria e Família”?
Alphiete: Justamente, “Deus, Pátria e Família”. A primeira coisa que nós somos no Brasil.
Somos isso e, "Anauê!", todo mondo cumprimentava "Anauê!", "Anauê!".
Márcia: Erguendo o braço direito?
Alphiete: É, erguendo o braço direito. "Anauê!". “Deus, Pátria e Família” era a principal
coisa, era o nosso emblema. Então é tudo isso que eu sei. Estudar mesmo, não estudei quase
nada, porque não tinha tempo, eu era comerciante só vivia correndo, pra lá e pra cá, à
cavalo, sobre vendas e comércio, estudar mesmo, dizendo no livro o que está escrito para
você, sobre livro integralista, eu não vou dizer nada para você.
Márcia: Vou perguntar só mais uma coisa para o senhor. Qual tipo de gente que chegava
lá, assistia as reuniões? Se era o pessoal da roça.
Alphiete: Era roceiro e pessoal do comércio, tudo ali. Eu já tinha feito a cabeça daquele
povo de Grumari todo Eram umas 500 pessoas já em Grumari que já estavam tudo debaixo
do meu domínio. Era, ali, eu já tinha um núcleo ali de umas 500 pessoas já dominadas por
mim. Então, o que eu dizia para eles fazerem, eles faziam.
Márcia: O senhor ia nas fazendas chamar o pessoal?
Alphiete: Não, ali todo mundo negociava comigo. Eu era comerciante. Todo mundo
que chegava no balcão, eu falava com eles: “Olha, domingo, a reunião!” Eles iam: “Eu
vou trazer minha família!”, Eles traziam mulher, filho, trazia tudo para assistir a reunião.
Quando chegava domingo, estava fervendo de gente. Domingo, de 2 horas em diante
pegava a chegar gente. Iam subindo tudo para o salão, depois eu fechava o comércio em
baixo, meio-dia, almoçava e ia fazer a reunião.
Márcia: Era gente pobre..., gente rica?
Alphiete: Era tudo, era tudo misturado, tinha rico, tinha tudo, tinha até sitiante, Fazendeiro
da roça, com forme o tal de seu..., por exemplo esse meu compadre da ilha é Fazendeiro
tinha vida boa, bem de vida Francisco Malta. Era meu secretario. Tinha seu Joaquim Pinto,
tinha uma Fazenda na roça, trazia os colonos deles tudo. Vinham todos da roça para assistir
o comício da gente.
Márcia: E tinha branco, negro todos misturados?
Alphiete: Todos misturados.
Márcia: E sentavam juntos, ou tinha lugar separado?
Alphiete: Não, não separávamos nada, tinha um banco grande lá outro cá, todo mundo
sentava lá tudo junto, não tinha esse negócio de ter separação.
Márcia: Os bancos eram arrumados, assim..., um atrás do outro?
Alphiete: Lá atras tinham dois bancos, um lá outro cá e lá na frente da minha mesa tinham
mais uns dez banquinhos, eu fiz assim. Cuidava daquilo tudo, mas não dava para todo
mundo, ficavam abafado tudo em pé, se acomodavam por ali. Todo mundo queria ver eu
falar.
Márcia: Então, homens, mulheres todo mundo participava?
Alphiete: É, homens, mulheres, velhos. Quando eu falava, um mocadinho que eles
gostavam..., quando eu falava bem, um mucadinho que eles gostavam batiam palmas, e eu
estou aqui e cheio de firmeza é "Anauê" e vamos embora é Deus e mais nada.
Márcia: E quando terminava a reunião, terminava com algum hino, também?
Alphiete: Cantávamos o Hino Nacional, outra vez.
Márcia: De novo.
Alphiete: Cantava para começar e cantava para terminar.
Rachel: E rezava só início.
Alphiete: E rezava para Deus e seguia a doutrina de Deus. Até hoje sou muito devoto de
Deus. Ali seguia a devoção mesmo de Deus. E sou da Igreja Católica, [incompreensível],
ela segue a dela que eu sigo a minha, eu sou é Católico, fervoroso sou grande devoto de
Nossa Senhora de Sant'ana. Minha protetora, cheia de flores, olha só. [incompreensível]
Agora você me olha com boa vista, com bons olhos?
Valdir: Olho, claro.
Rachel: E com todo restante também.
Alphiete: Essa parte aí o senhor me olha com bons olhos.
Valdir: Claro, claro.
Alphiete: Porque hoje não sou mais aquele bandido, aquele perverso...
Valdir: Mas isso é experiência que a gente tem com a vida.
Alphiete: Depois de passar por tudo isso, sofri tanta coisa, hoje sou uma pessoa humilde.
Um grande católico de Deus. Rezando... Daqui a pouco dá seis horas [incompreensível],
Não tenho mais nem arma.
Márcia: Sr. Alphiete, gostaria de agradecer ao senhor por essa entrevista, que foi muito
produtiva, para nosso trabalho, para as nossas Universidades e agradecer ao senhor, porque
realmente é importante, foi importante o seu depoimento e vai ser importante daqui para
frente, para o futuro para outros trabalhos, nossos trabalhos, daqui por diante vai ficar em
acervo. Muito obrigada ao senhor por esta entrevista.

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