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Os moluscos são o segundo maior grupo de animais em número de espécies (cerca de 100.000
espécies), sendo suplantado apenas pelos artrópodes. Apresentam uma disparidade morfológica
sem comparação dentre os demais filos de animais, reunindo os familiares caracóis (reptantes),
ostras e mariscos (sésseis) e lulas e polvos (livre-natantes), assim como formas pouco
conhecidas, como os quítons, conchas dente-de-elefante (Scaphopoda) e espécies vermiformes
(Caudofoveata e Solenogastres).
Os moluscos invadiram quase todos os ambientes; costuma-se dizer que só não há moluscos
voando. Ocorrem das fossas abissais até as mais altas montanhas; das geleiras da Antártica até
desertos tórridos. Vários grupos de bivalves e gastrópodes saíram do mar e invadiram a água doce
e, no caso dos gastrópodes, o ambiente terrestre. Existem moluscos predadores (até mesmo de
vertebrados), herbívoros, ecto e endoparasitas, filtradores, comensais, sésseis, vágeis, pelágicos,
neustônicos etc. Em certos ambientes representam grande biomassa e podem ser importantes na
reciclagem de nutrientes.
Morfologia
O pé é a estrutura muscular mais desenvolvida dos moluscos. Com ele, podem se deslocar,
cavar, nadar ou capturar suas presas. O restante dos órgãos está na massa visceral. Nela, estão
os sistemas digestivo, excretor, nervoso e reprodutor. Ao redor da massa visceral, está o manto,
responsável pela produção da concha. Entre a massa visceral e o manto, há uma câmara chamada
cavidade do manto. Nos moluscos aquáticos, essa cavidade é ocupada pela água que banha as
brânquias; nos terrestres, é cheia de ar e ricamente vascularizada, funcionando como órgão de
trocas gasosas, análoga a um pulmão.
Uma característica marcante da maioria dos moluscos é a presença da concha. Trata-se de uma
carapaça calcária, que garante boa proteção ao animal. Nas lesmas e nos polvos, ela está
ausente; nas lulas, é pequena e interna.
Organização Básica
Os moluscos são enterozoários (que têm cavidade digestiva) completos. Muitos deles possuem
uma estrutura raladora chamada rádula. Com ela, podem raspar pedaços de alimentos,
fragmentando-os em pequenas porções. A digestão dos alimentos se processa quase totalmente
no interior do tubo digestivo (digestão extracelular). Algumas macromoléculas só completam a sua
fragmentação no interior das células de revestimento do intestino (digestão intracelular).
A maioria dos moluscos apresentam sistema circulatório aberto ou lacunar, no qual o sangue
é impulsionado pelo coração, passa pelo interior de alguns vasos e depois alcança lacunas
dispostas entre os vários tecidos, nas quais circula lentamente, sob baixa pressão, deixando
nutrientes e oxigênio, e recolhendo gás carbônico e outros resíduos metabólicos. Essas lacunas
são as hemoceles. Os cefalópodos constituem uma exceção, pois têm sistema circulatório
fechado.
O sistema nervoso dos moluscos é ganglionar, com três partes de gânglios nervosos de onde
partem nervos para as diversas partes do corpo. Os cefalópodos possuem um grande gânglio
cerebróide, semelhante ao encéfalo dos vertebrados o que permite a execução de atividades
altamente elaboradas.
A locomoção da maioria dos representantes é lenta devida ao pé musculoso. Os que são rápidos,
como as lulas e os polvos, locomovem-se graças à expulsão de jatos de água que saem através de
um sifão. Muitos, porém, são fixos ao substrato, como as ostras e os mariscos na fase adulta.
Reprodução
Classificação
Classe Polyplacophora ("muitas placas"): a superfície dorsal desses moluscos apresenta uma
armadura calcária composta por placas parcialmente sobrepostas. Um representante é o quíton.
São todos marinhos.
Classe Scaphopoda ("pé em forma de canoa"): pequenos animais dotados de uma concha cônica
e alongada. São marinhos, e vivem parcialmente enterrados na areia. Conhecidos, em geral, por
dentálios.
Dentalium (dentálio ou dente-de-elefante)
Classe Gastropoda ("estômago nos pés"): corresponde ao maior grupo de moluscos, marinhos, de
água doce e de ambientes terrestres. São os conhecidos caramujos, os caracóis e as lesmas. A
concha, quando presente, tem formato helicoidal.
Classe Bivalvia (duas metades de concha): também são encontrados em água doce ou salgada.
Sua concha possui duas partes que encerram completamente o corpo do animal. Os exemplos
mais familiares são as ostras, os mexilhões e os mariscos. Apresentam as brânquias recobertas
por uma camada de muco; ao passar pelas brânquias, partículas alimentares ficam aderidas ao
muco e são levadas para a boca.
Os bivalos são os responsáveis pela produção das pérolas de valor comercial, embora qualquer
molusco dotado de concha possa fabricá-las. As pérolas são formadas pela deposição de nácar ao
redor de uma partícula estranha que penetra entre o manto e a concha.
Classe Cephalopoda ("pés na cabeça"): moluscos sem concha externa, que apresentam uma
estrutura interna e uma morfologia bastante diferentes dos demais. São o polvo, a lula, o náutilo e
o calamar, animais exclusivamente marinhos. O pé dos cefalópodes é dividido em tentáculos.
Na lula, existem 10 tentáculos e dois deles são mais desenvolvidos que os demais. No
polvo, oo tentáculos são oito e todos iguais. Em cada tentáculo existem ventosas que aderem ao
substrato, o que favorece a locomoção do polvo sobre rochas. As ventosas também são úteis na
apreensão do alimento que, depois, é conduzido à boca pelos tentáculos.
Entre os órgãos que compõe a massa viceral, a lula possui uma bolsa de tinta. Esta é comprimida
toda vez que o animal se sente ameaçado por algum inimigo, o que provoca a liberação de tinta
que sai em jatos pelo sifão. A mancha que a tinta deixa na água confunde o predador, enquanto a
lula escapa rapidamente.
Quando um navio está descarregado, ou seja, sem carga, fica muito leve. Para que não haja
perigo de flutuação, os seus tanques recebem água de lastro para manter a estabilidade, o
balanço e a integridade estrutural. Quando o navio é carregado e fica mais pesado, a água deixa
de ser necessária e é lançada ao mar. Um sério problema ambiental surge quando a água dos
lastros contém vida marinha.
Um navio, por exemplo, enche seus porões com água do mar e um porto brasileiro, no oceano
Atlântico, e viaja até Hong Kong, na China. Lá ele recebe carga e despeja o lastro no oceano
Pacífico. Ao fazer isso, esse navio provavelmente introduz espécies de um ecossistema em outro
diferente; porque, com a água do mar, entram e saem do navio milhares de espécies marinhas,
tais como bactérias e outros micróbios, pequenos invertebrados e ovos, cistos e larvas de diversas
espécies.
Que efeitos isso pode provocar nas cadeias e teias alimentares do local onde essa espécies
estão sendo introduzidas?
Essas são apenas algumas das perguntas a serem feitas em relação a essa questão.
Estima-se que o movimento de água de lastro proporcione o transporte diário de pelo menos 7 mil
espécies entre diferentes regiões do globo. A grande maioria das espécies levadas na água de
lastro não sobrevivem à viagem por conta do ciclo de enchimento e despejo do lastro, bem como
das condições internas do tanques, hostis à sobrevivência dos organismos.
Mesmo para aqueles que continuam vivendo depois da jornada e são jogadas no mar, as chances
de sobrevivência em novas condições ambientais, incluindo ações predatórias e/ou competições
com as espécies nativas - são bastante reduzidas.
No entanto, quando todos os fatores são favoráveis, uma espécie introduzida, ao sobreviver e
estabelecer uma população reprodutora no ambiente hospedeiro, pode tornar-se invasora,
competindo com as espécies nativas e se multiplicando em grandes proporções.
Além dos desequilíbrios ambientais, bactérias causadoras de doenças podem ser introduzidas e
provocar a contaminação de moluscos filtradores, como a ostra e o mexilhão, utilizados na
alimentação humana, causando paralisia e até mesmo a morte.
A lista segue com centenas de exemplos de importantes impactos econômicos e ecológicos, que
afetam a saúde do ser humano em todo o mundo. Teme-se, inclusive, que doenças, como o
cólera, possam ser transportadas na água de lastro.
Solução à vista!
O governo brasileiro assinou, em 2005, em Londres, a Convenção Internacional sobre Controle e
Gestão de Água de Lastro e Sedimentos de Navio. A Convenção, aprovada em fevereiro do ano
passado pela Organização Marítima Internacional (IMO, sigla em inglês), tem por objetivo reduzir
a introdução de espécies exóticas por meio da água de lastro dos navios. A adoção de uma nova
convenção sobre água de lastro vinha sendo discutida há 10 anos, por causa das grandes
implicações econômicas e ambientais. O Brasil foi o segundo país a assinar o acordo que depende
da adesão de 30 países, que representem 35% da tonelagem da frota mundial, para entrar em
vigor.
Para antecipar a convenção internacional, que pode demorar até 20 anos para entrar em vigor, a
Marinha do Brasil está discutindo a publicação de uma Norma de Autoridade Marítima (Normam),
determinando que todos os navios que se destinarem aos portos brasileiros troquem a água de
lastro, ao menos, a 200 milhas da costa e a 200 metros de profundidade.