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A atividade pesqueira na cidade de São José de Ribamar vem desde sua fundação. A
tendência para esse ramo de atividade ainda resiste ao tempo, fato que ficou comprovado mediante
pesquisa realizada com as famílias dos educandos em 2004 quando da elaboração da nossa
dissertação, onde constatamos que a maioria dos pais dos alunos tem na atividade pesqueira sua
principal fonte de renda. Para esse estudo, partimos do pressuposto de que os saberes geográficos
dos filhos dos pescadores são resultantes dos diálogos entre pais e filhos no dia-a-dia da atividade
pesqueira, quanto às referenciais geográficos, optamos por estudar os conteúdos que tem como
referências a orientação, situação, localização, movimentos das marés, direção dos ventos,
produção e comercialização do pescado por entendermos que esses parâmetros são fundamentais
nesse diálogo. A pesquisa divide-se em duas etapas: na primeira pretendemos estabelecer um
diálogo com os pais dos alunos a respeito de suas atividades pesqueiras diárias e as conversas
efetivadas no meio familiar com seus filhos. Na segunda etapa estaremos visitando as escolas onde
esses alunos freqüentam no sentido de identificar os conteúdos que são ministrados nas aulas de
Geografia, e qual relação com os saberes geográficos trazidos de casa por esses alunos. Daí a
relevância de nossa proposta, pois, analisaremos de que forma estão sendo transmitidos os
conteúdos geográficos nas salas de aulas? Qual a conexão didática entre o saber cotidiano familiar
e o saber escolar? Como está ocorrendo o processo de aprendizagem dos educandos com os
conteúdos que dizem respeito a, orientação, situação, localização, movimentos das marés, direção
dos ventos, produção e comercialização do pescado, reconhecendo a importância dos educadores
como agentes transformadores da sociedade. As informações preliminares elencadas possibilitam
o encaminhamento de algumas questões para compreensão da proposta deste projeto, entender,
portanto: Como se dá à construção dos saberes repassados de pais para filhos nas conversas
informais sobre movimentos de marés, orientação pelo sol e local da pescaria? Quais as
singularidades da prática da pesca artesanal e o deslocamento diário do pai desses educandos?
Como se estrutura o processo de comercialização desse pescado? Como são ensinados na escola os
conteúdos geográficos que tratam de orientação, localização e situação? Assim, estudaremos as
geografias dos filhos dos pescadores de São José de Ribamar e sua relação com os conteúdos
geográficos ministrados em salas de aulas a partir do Método Dialético, por entendermos que os
fenômenos não acontecem isoladamente e sim interdependentes, e o Estruturalista, que parte do
princípio que os fenômenos podem ser estudados tendo como referencial o concreto. Busco na fase
atual, ampliar as leituras a partir do entendimento do olhar que emergem dos saberes cotidianos da
comunidade pesqueira, não esquecendo as relações que esse homem tem com o equilíbrio da
natureza, em contraposição com aqueles que simplesmente exploram os recursos naturais.
1 – INTRODUÇÃO
A atividade pesqueira na cidade de São José de Ribamar vem desde sua fundação. A
tendência para esse ramo de atividade ainda resiste ao tempo, fato que ficou comprovado mediante
pesquisa realizada com as famílias dos educandos em 2004 quando da elaboração da nossa
dissertação, onde constatamos que a maioria dos pais dos alunos tem na atividade pesqueira sua
principal fonte de renda.
O município retira da pesca artesanal boa parte de sua receita. Segundo “seu Riba”,
presidente da colônia de pescadores, existe cerca de 2.680 pescadores registrados na colônia, o que
daria, segundo o presidente, uma produção equivalente a oito toneladas de pescado por dia,
comercializados no próprio município e exportados para as cidades vizinhas, principalmente para a
capital do estado São Luís. Contudo, essa produção e receita não podem ser contabilizadas devido
à pulverização do desembarque do pescado ao longo da faixa litorânea do município.
1
Professor do Departamento de Geociências da Universidade Federal do Maranhão
2
Professora do Departamento de Geografia da Universidade de São Paulo
Considerando os aspectos educacionais e as atividades pesqueiras no município,
resolvemos estudar os saberes geográficos dos filhos desses pescadores e que diálogo é
estabelecido entre esses saberes e os conteúdos geográficos que são sistematizados nas escolas
municipais onde esses educandos estudam.
Para esse estudo, partimos do pressuposto de que os saberes geográficos dos filhos dos
pescadores são resultantes dos diálogos entre pais e filhos no dia-a-dia da atividade pesqueira,
quanto às referenciais geográficos optamos por estudar os conteúdos que tem como referências a
orientação, situação, localização, movimentos das marés, direção dos ventos, produção e
comercialização do pescado por entendermos que esses parâmetros são fundamentais nesse
diálogo.
Estudar os saberes geográficos dos alunos que são filhos de pescadores no seio familiar e
conhecer a realidade concreta de seus afazeres diários envolve antes de tudo conhecimentos do
lugar entendido como o ambiente onde acontece às relações de socialização dos conhecimentos
adquiridos na labuta diária.
Essas relações sociais no nosso entendimento aplicados à pesquisa vão permitir que
tenhamos um diálogo permanente entre escola e a casa dos educandos uma vez que os atores
desse processo são os mesmos.
Para Callai e Zarth (1997, p. 37) “As experiências no dia-a-dia das crianças também são
recursos possíveis e interessantes de se aproveitar em sala de aula. Elas observam caminhos,
construções, reformas, têm acesso às conversas diárias da família, assistem TV, ouvem rádio
[...]”. Nesse sentido, o professor deverá destinar um tempo durante as aulas para depoimentos no
sentido da valorização da vivência diária dos educandos.
Com base nas conversas informais que se dá no interior das residências dos pescadores da
cidade de São José de Ribamar onde são comentados o vai e vem diário da labuta pesqueira em
condições às vezes adversas, isso por que o processo acontece hora sob forte sol, hora sob chuva
intensa, às vezes com ventos fortes às vezes com calmaria.
Nesse contexto, urge a necessidade da realização de pesquisa que possa subsidiar a rede
pública municipal ribamarense de ensino básico, no tocante ao uso dos saberes geográficos
cotidiano como recurso didático, na medida em que proporciona aos educandos variadas tarefas,
entre as quais orientação, localização, deslocamentos e leitura de espaços geográficos.
Os espaços que são identificados nas conversas diárias no seio familiar após uma jornada
diária de aproximadamente dez horas de trabalho nas condições já citadas anteriormente. São
espaços que promovem o desenvolvimento de uma série de articulações mentais que resultarão
certamente em autonomia intelectual não apenas como melhoria da aprendizagem dos conteúdos
geográficos, mas, também na formação de leitores críticos e conscientes das questões sociais.
O ensino da Geografia tem buscado continuamente, ao longo dos anos, através de uma
parcela considerável de docentes e pesquisadores, métodos e técnicas capazes de subsidiar e
compreender melhor a espacialização social cartografada nos mapas, cartas entre outros
documentos. No entanto percebe-se a ocorrência de certo descompasso entre os conteúdos que são
ministrados pela Geografia e os conteúdos que efetivamente são utilizados no dia-a-dia do
educando no ensino básico.
O espaço geográfico é entendido, pela maioria dos geógrafos, como o resultado das
relações e interferências do homem sobre o ambiente, nesse contexto a cartografia como forma
didática de representar essa relação se faz presente com uma linguagem própria identificada por
pontos, linhas e manchas.
Peq. Comerciante 4
Carpinteiro 4
Serv. Gerais 9
Outras 22
FONTE: PESQUISA DE CAMPO/2003
QUADRO 02 – CATEGORIAS SÓCIO-CULTURAIS - ESCOLARIDADE DOS PAIS, RENDA FAMILIAR E
PROFISSÃO DO PAI / UNIDADE INTEGRADA PROFª LEDA TAJRA CHAVES – CONTROLE
Os percentuais foram arredondados
A partir dos resultados obtidos com a pesquisa, é que estamos propondo o estudo em tela
por entendermos que, sendo a profissão predominante no município e também segundo a
pesquisa os menos remunerados e com menores índices de escolaridade, os pais desses
educandos vem ao longo dos anos passando por sérios problemas econômicos e sociais.
Justifica-se a procura dos pais pela pesca em primeiro lugar, pela proximidade com o
litoral, pois a cidade está situada de frente para uma baía (Baía de São José) e em segundo lugar
a falta de qualificação profissional, uma vez que o trabalho não exige grau de instrução, isso fica
claro nos índices de escolaridade nos quadros 01 e 02.
O uso das direções cardeais exercidas no dia-a-dia da labuta dos pais através das feições
dos ventos (leste, nordeste, sudeste entre outras) no comando ou não das embarcações, uma vez
que uma porção considerável das canoas ainda veleja sob a força dos ventos, nas suas idas e
vindas para os pesqueiros, esse processo gera um conhecimento ímpar e que não deve ser
perdido ao longo do tempo.
Por outro lado o uso das direções cardeais pelos pais são repassados aos seus filhos através
do convívio familiar, uma vez que a maioria dos educandos vivem essa realidade, ou estão
próximo dela.
Para Cavalcante (1998, p. 148)
Nesse sentido, o uso de orientação geográfica exercida pelos pais desses educandos no
cotidiano vai proporcionar uma conexão mais interessante entre o que são conversados no dia-a-
dia no convívio familiar com as tarefas escolares propostas, uma vez que, o processo de orientação
observado na escola pode ser transferido para o interior das residências dos educandos ou vice
versa.
Pretende-se pensar a relação entre o conhecimento dos pescadores e suas conversas em
suas residências após um dia de trabalho, levando em consideração o seu itinerário de ida e volta
ao local de trabalho (pesqueiro), as direções percorridas pelos seus barcos ou canoas, à vela ou
com uso de motores, o tempo necessário para ir e vir, os movimentos das marés (enchentes e
vazante) e por fim o resultado desse trabalho diário o peixe.
O estudo do cotidiano termina por envolver práticas que “[...] possibilitam a compreensão
das relações sociais expressas no cotidiano escolar, num enfoque dialético homem-sociedade nos
diversos momentos dessa relação”. (ANDRÉ, 2001, p.40).
A escolha dos conteúdos não é tarefa fácil para os professores, principalmente para os
docentes de Geografia, quando se tem como meta o “estudo do mundo”. Isto significa fazer opção
no momento do planejamento por uma seleção de conteúdos que vão efetivamente dotar o
educando de informações que levem à construção do conhecimento geográfico.
Para Avancini (1986, p.36) devem ser “[...] conteúdos que cumpram a importante função
social da escola: conteúdos que elevem a capacidade intelectual dos alunos, que estejam
permanentemente referidos à vida dos mesmos, que sejam instrumento para o entendimento da
dinâmica social”. Nesse sentido, a definição e escolha dos conteúdos devem ser tarefa do
professor. Pois é ele, que tem o conhecimento da vivência de seu alunado, das características
sociais e culturais do espaço, onde o aluno está inserido, assim como certas particularidades locais,
que devem ser levadas em consideração na hora do planejamento na escolha dos conteúdos
escolares.
É de fundamental importância que os conteúdos tenham como ponto de partida o espaço
vivido pelos alunos. Nesse caso é imprescindível o contato direto do educador com o seu educando
no sentido de que juntos possam desenvolver um pensamento crítico da realidade local. Nesse
contexto, é essencial que seja valorizada a vivência do educando, no sentido de que ele perceba
que a Geografia faz parte do seu cotidiano e que ele possa trazer para a sala de aula sua
experiência de vida.
Na mesma linha de raciocínio os eixos propostos pelos Parâmetros Curriculares Nacionais
(PCNs) significam um avanço, quando propõem conteúdos sintonizados com as dimensões
conceituais, procedimentais e atitudinais, os quais são considerados como fundamentais na
definição das capacidades desse segmento escolar.
¾ Que o estudo da Geografia deve criar as oportunidades para que, com esses temas
e conteúdos, o aluno possa conhecer e transcender de seu lugar como forma de existência para
outros lugares, e saber operar com as mediações necessárias para compreender a diversidade do
mundo cada vez mais integrado;
Por outro lado, a sistematização em apenas um eixo dos conteúdos cartográficos elencados
nos PCNs nos parece pouco, dada a importância dos mesmos no dia-a-dia do educando. Partindo-
se do pressuposto que essa realidade é muito mais complexa do que parece, não podemos explicá-
la de forma fragmentada, principalmente hoje quando a sociedade está a exigir um educando que
realmente reflita sobre os problemas de seu meio social.
4. A PROPOSTA DE ESTUDO
Daí a relevância de nossa proposta, pois analisaremos de que forma estão sendo
transmitidos os conteúdos geográficos nas salas de aulas, qual a conexão didática entre o saber
cotidiano familiar e o saber escolar, como está ocorrendo à aprendizagem dos educandos com os
conteúdos geográficos que dizem respeito a, orientação, situação, localização, movimentos das
marés, direção dos ventos, produção e comercialização do pescado, além de reconhecermos a
importância dos educadores como agentes transformadores da sociedade.
Assim o propósito traçado para este projeto, num plano de investigação, interessa
contextualizar os conteúdos geográficos ministrados nas salas de aula que dizem respeito a,
orientação, (DEETZ, 1948), (BOCZKO, 1984), (ALMEIDA; PASSINI, 1992), (OLIVEIRA,
1993) situação, localização, (UZÊDA, 1963), (OLIVEIRA, 1993), PAGANELLI, (1995),
(BORGES, 1999), (SIMIELLI,1999), (SANTOS, 2002), entre outros.
Dessa forma, é possível identificar quais os principais delineamentos metodológicos que
se pretende pensar a realidade estudada. As questões como movimento de marés, direção dos
ventos, produção e comercialização do pescado, deverão ser estudados com o apoio de:
(SANTOS, 2002), (FONSÊCA, 2004), (DA SILVA, 2004), (IBGE, 2008), entre outros.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Venho desde ano de 2003 pesquisando sobre a realidade dos pescadores de São José de
Ribamar e seus filhos, analisando o processo produtivo, a política de comercialização do pescado
no município, o processo de ensino e aprendizagem nas escolas freqüentadas por essas crianças
que na sua maioria estudam na rede pública municipal.
Por essa razão, busco na fase atual dar prosseguimento nas leituras já realizadas e ampliar
essas leituras a partir do entendimento do olhar que emergem dos saberes cotidianos da
comunidade pesqueira, não esquecendo das relações que esse homem tem com o equilíbrio da
natureza, em contraposição com aqueles que simplesmente exploram os recursos naturais.
O cronograma de pesquisa contempla, a participação em colóquios, em grupo de estudos,
em laboratórios de ensino e cartografia aplicada, assim como a realização de disciplinas,
participação em eventos em especial com os relacionados com a pesquisa e que possam contribuir
com seu desenvolvimento.
Durante o ano de 2009, além das disciplinas ministradas, realizarei levantamento
bibliográfico. No ano de 2010, realizarei trabalhos de campo na cidade de São José de
Ribamar/MA para processamento posterior. Nos anos seguintes a preparação do texto de
qualificação e a programação de outras etapas após o alcance de alguns objetivos. Por fim,
juntamente com a orientadora, cumprir o programa semestralmente discutido e avaliado, durante
as etapas da pesquisa.
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BORGES, A. de C. Topografia aplicada à engenharia civil. São Paulo: Edgar Blücher, 1999.