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PENSAR E APLICAR NO MERCADO: O PROJETO 24 HORAS

Rabelo, Daniela1 e Souza, Bruno Carvalho Castro2

GT ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO

RESUMO

Refletir sobre o mundo e o mercado e contextualizar essas ações na prática, com situações reais.
Esse é o desafio proposto para o atual aluno de Jornalismo: praticar o Jornalismo ainda na
Universidade. O presente estudo tem por objetivo apresentar uma proposta diferenciada que alia
o pensar e o aplicar no mercado: o projeto 24 horas de comunicação. A iniciativa é dos cursos
de Comunicação Social da Faculdade Juscelino Kubitschek (JK)/Anhanguera que visa valorizar
a produção técnica-profissional nas áreas de Jornalismo, Publicidade e Propaganda e Relações
Públicas. Trata-se de um evento, realizado anualmente durante um final de semana, com
duração de 24h. Os alunos vivem uma situação profissional, com clientes e tarefas reais,
ambiente competitivo e que premia o melhor trabalho em cada área. Processo decisório,
criatividade, estética, competência e ética - necessidades do devir jornalístico - são
desenvolvidos pelos alunos com o auxílio de professor-tutor e o estímulo da atividade prática
real de mercado.

Palavras-chave: Jornalismo; Comunicação; mercado; projeto 24 horas.

O estímulo à curiosidade do aluno é uma necessidade que permeia todo o


processo de aprendizagem. A instituição do ensino superior (IES) – principalmente
gestores e professores - é responsável por manter a inquietação desse aluno, cultivá-la e
direcioná-la. Segundo Paulo Freire (1999), é fundamental transformar a curiosidade
espontânea desse importante ator educacional para a curiosidade epistemológica. E toda
comunidade acadêmica deve ter esse compromisso.

Nesse contexto, possibilitar a reflexão do mundo e mercado faz parte da proposta


de toda a IES. E a concretização dessa proposta em atividades práticas e aplicáveis não
apenas prepara o estudante para o mercado, mas também permite confirmá-lo enquanto
indivíduo e (futuro) jornalista.

1
Professora dos cursos de Jornalismo, Publicidade e Propaganda e Relações Públicas da Faculdade
Juscelino Kubitschek (JK)/Anhanguera, daniela.a.rabelo@gmail.com.
2
Coordenador dos cursos de Jornalismo, Publicidade e Propaganda e Relações Públicas da Faculdade
Juscelino Kubitschek (JK)/Anhanguera, brunocpt@gmail.com.
A base oficial do Ministério da Educação (MEC) revela que no Brasil há 314
cursos de Jornalismo (2006). A pesquisa de Caldas et all ainda salienta que

Na década de 90 observou-se um crescimento de 26,8% dos cursos,


com a criação de 84 cursos novos e que, de 2000 até hoje, este
crescimento praticamente duplicou, passando para 53,5%, com o
surgimento de 168 cursos de Jornalismo (2006).

Aliado a essas estatísticas há outros dois fatores determinantes da qualidade de


ensino e aprendizagem: o tempo disponível para os estudos, que vem diminuindo a cada
ano letivo, especialmente para alunos de instituições privadas; e a maior autonomia na
recepção paralela e acréscimo de informações. Esses fatores demandam um repensar
sobre os processos educativos na Comunicação Social (HERNANDÉZ 1998, 2000). Daí
surge à importância de projetos que aliem o pensar ao fazer.

Tal afirmação é suportada também pelo matemático e educador Seymour Papert,


que defende que a inovação e a aprendizagem raramente brotam somente dos livros e
dos conhecimentos ou aulas tradicionais, mas sim que necessitam de experimentação e
utilidade:

Vision does not mean prophesy or blueprint. Nor does it mean hand-
waving assertions that being connected will change everything. Vision
is a mindset with two characteristics: it refuses to be bound by
assumptions that what has been always will be; and it is willing to
bring hard work and rigorous, tough-minded thinking to bear on
elaborating alternatives. (s/d)

O projeto 24 horas traduz o pensar e aplicar para o campo da Comunicação Social


e das Ciências Sociais Aplicadas. Iniciativa dos cursos de Comunicação Social da
Faculdade Juscelino Kubitschek (JK)/Anhanguera, visa valorizar a produção técnica-
profissional nas áreas de jornalismo, publicidade e propaganda e relações públicas.
Trata-se de um evento com periodicidade anual e duração de 24h, durante um final de
semana. A idéia é colocar os alunos em uma situação profissional, com clientes e tarefas
reais, em um ambiente competitivo e que premie o melhor trabalho em cada área. Ou
seja: pensar e aplicar os conhecimentos, as habilidades e as competências profissionais
no mercado.
Seus objetivos são: 1) Proporcionar aos alunos uma experiência muito semelhante
ao ambiente de mercado; 2) Promover a competitividade saudável e a experimentação
produtiva junto aos alunos; 3) Estreitar o relacionamento com o mercado nas áreas de
Jornalismo, Publicidade e Propaganda e Relações Públicas; 4) Possibilitar aos
participantes uma oportunidade para testar seus conhecimentos por meio de atividades
práticas, onde o aprendizado acontece de maneira vivencial; 5) Promover o uso de
novas tecnologias para o aprendizado; 6) Modernizar modos de fazer educação; 7)
Desenvolver capacidades cognitivas de ordem superior; 8) Transformar informações
ativamente; 9) Incentivar os seus participantes a terem uma postura ativa na busca pelo
conhecimento e 10) Desenvolver a capacidade de compreensão, cooperação, processo
decisório e criatividade na resolução de problemas.

Ele está dividido em três categorias – Jornalismo, Publicidade e Propaganda e


Relações Públicas – correspondentes às principais áreas da comunicação. Cada
categoria possui características próprias, destinadas a testar os conhecimentos,
habilidades e competências dos alunos na solução de problemas e situações do dia-a-dia
profissional de cada área.

Na categoria de Jornalismo, há o que se decidiu batizar de Pulitzer 24h. O Pulitzer


é conhecido mundialmente por ser a maior premiação para profissionais de jornalismo
nos Estados Unidos. Jornalistas de todo o país inscrevem matérias em diversos
segmentos, e a melhor em cada área leva o prêmio, considerado um Oscar no meio
jornalístico. De forma semelhante, no Pulitzer 24h os alunos participarão de uma
competição na qual a melhor cobertura de determinada pauta – comunicada aos inscritos
somente no dia do evento – será premiada. A avaliação das matérias será feita por
profissionais do mercado, que trarão suas experiências e competências para enriquecer
as dos alunos.

Para organizar a competição, os alunos organizam-se em equipes com três a cinco


integrantes, podendo cada equipe contar com o apoio de um professor-tutor. As equipes
concorrem entre si pela produção da melhor reportagem em profundidade sobre tema a
ser divulgado no dia de abertura do evento, utilizando no mínimo três meios de
comunicação dentre os seguintes: 1) Televisão, 2) Rádio, 3) Jornalismo on-line, 4)
Jornal impresso e 4) Revista. Para os meios eletrônicos, foram determinados os critérios
de adequação da linguagem ao meio, duração da matéria, técnica e criatividade. Para os
impressos, além desses critérios, contam também a objetividade, qualidade das fontes,
profundidade da matéria, destaques e acessórios.

Por ser realizado em grupos, o trabalho permite desenvolver a união, a


organização coletiva e análise de culturas. Além disso, são incorporados elementos
essenciais para o devir jornalístico, como o processo decisório, criatividade, estética,
competência e ética. Essas características permitem, tanto ao educador quanto ao
educando, uma visão crítica das práticas cotidianas, além do aperfeiçoamento das
habilidades necessárias à profissão.

Há ainda outro aspecto que favorece a formação e o aprendizado, que é a


integração dos educandos do curso, uma vez que é favorecida a equipe que possui
integrantes de vários períodos letivos distintos. Esse favorecimento deve-se à variedade
de meios de comunicação abordados e à necessidade de cada equipa em trabalhar
simultaneamente em diversas frentes – cobertura, gravações, filmagem, edição,
editoração, fotografia etc. Embora possível, alunos de um mesmo período letivo tendem
a possuir certa homogeneidade em seu comportamento e em suas preferências, causada
em grande parcela por possuírem os mesmos professores e, por conseguinte, as mesmas
referências pedagógicas. Por outro lado, ao misturar integrantes de vários períodos
letivos, o grupo ganha em heterogeneidade e em criatividade, devido à existência de
modelos e referências diferentes.

Essa abordagem já demonstrou bons resultados práticos: até o momento em que


esse relato foi finalizado, as expectativas de inscrições de equipes no 24h já haviam
sido superadas em 60%, isso somente na categoria Jornalismo.

Por todos esses aspectos, a dialogicidade freiriana, essência da prática da


liberdade nos processos educacionais, é consolidada, tanto no que tange a um refletir de
mundo quanto a sua prática – essencial na segurança e visibilidade de mercado por parte
dos alunos de Jornalismo. O estudante torna-se, assim, sujeito de sua própria destinação
histórica.
Referências

Livros

FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1978.

________________________. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática


educativa. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1999.

__________________________. Pedagogia da esperança. Rio de Janeiro, Paz e Terra,


1998.

__________________________. Educação como prática da liberdade. Rio de Janeiro,


Paz e Terra, 1996.

HERNANDÉZ, Fernando, VENTURA, Montserrat. A organização do currículo por


projetos de trabalho. Porto Alegre: Artes Médicas, 1998.

HERNANDÉZ, Fernando. Transgressão e mudanças na educação: os projetos de


trabalho. Porto Alegre: ArtMed, 1998.

________________________. Cultura visual, mudança educativa e projeto de


trabalho. Trad. Jussara H. Rodrigues. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 2000.

Artigos

CALDAS, G., GONÇALVES, E., CAPRINO, M., SANTOS, M. Ensino de


Jornalismo: cenário e perspectivas. In: ENDECOM 2006 – Fórum Nacional em
Defesa da Qualidade do Ensino de Comunicação, 2006. ECA/USP, São Paulo.

PAPERT, Seymour M., CAVALLO, David. Entry point to twenty first century
learning: a call for action at the local and global level. s/d. Disponível em:
http://learning.media.mit.edu/learninghub.html. Acesso em 15/10/2008.

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