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A educação sexual e D.

Afonso Henriques *
* aos nossos irmãos não portugueses esclareço que D. Afonso Henriques foi o primeiro Rei de
Portugal

A questão pode parecer peregrina, mas não é. Com


efeito, foi precisamente neste ano, em que se
festejam os novecentos anos do primeiro Rei de
Portugal, que se implementou no nosso país a
educação sexual obrigatória. Uma tão feliz
coincidência não pode ser mero acaso, pelo que
parece ser pertinente questionar a relação entre
aquela efeméride e esta nova vertente da educação
em Portugal.
É certo e sabido que D. Afonso Henriques não teve
qualquer tipo de educação sexual, muito embora
uma tal carência não tenha significado para o nosso
primeiro monarca nenhuma especial inaptidão, pois
não só foi pai da nação como, também, de onze
filhos! Mais ainda: todos os seus contemporâneos
que geraram descendentes, fossem eles nobres,
burgueses ou filhos do povo, todos, sem excepção,
fizeram-no sem que lhes tivesse sido dada nenhuma
educação sexual. É incrível, mas é verdade.
E, não obstante esta ignorância sexual generalizada,
o país não se extinguiu! É caso para dizer: milagre!
Era de esperar que os portugueses tivessem
desaparecido do mapa, por desconhecimento da
ciência da reprodução, acintosamente omitida pela
Igreja e pelo Estado, nos seus respectivos
estabelecimentos de ensino. Mas não! De forma
absolutamente prodigiosa, os portugueses, sabe-se
lá a que custo, lograram trazer filhos ao mundo!
Filhos das trevas e da falta da educação sexual!
Filhos da iliteracia sexual que o nosso país sofreu
durante oito séculos!
Temo que seja esta a ancestral razão pela qual
muito se gaba, e com razão, a proverbial
capacidade lusitana de improvisar: não havia aulas,
os homens e as mulheres não sabiam educação
sexual e, contudo, apareciam filhos, tantos filhos
que se espalharam pelas sete partidas do mundo!
Se a ignorância sexual foi tão prolífica para
Portugal, será que a educação sexual esterilizará o
nosso país? Será que o que se pretende, com a
nova disciplina curricular, é que os portugueses
mirrem e se extingam, em vez de se expandirem e
multiplicarem?!
Seja como for, a verdade é que o governo entendeu
por bem pôr termo a esta atávica falta de educação
sexual nacional. Mas, se pega a moda do Estado
pretender ensinar o que é óbvio e natural, em vez
do que é elevado e racional, é de esperar que a
reforma educativa não se fique pela sexualidade.
Falta, por exemplo, uma disciplina de educação
respiratória, porque há quem não saiba inspirar e
expirar em condições. O mesmo se diga da
educação digestiva e de todas as outras expressões
das mais básicas necessidades do nosso organismo.
Em suma: a introdução da educação sexual não é
uma simples alteração cosmética da política
educativa, mas o início de uma nova era, a
vanguarda de uma autêntica revolução. Abaixo o
português e a matemática e viva a educação sexual!
Abaixo a cultura e viva a educação animal! Abaixo a
educação humanista e viva a educação «bestial»!
A propósito, não será por falta de educação sexual
que o lince ibérico está em vias de se extinção?! Se
os homens, que em princípio são animais racionais,
têm necessidade, no sábio e prudente entendimento
dos nossos governantes, de uma aprendizagem que
assegure a sua reprodução, com mais razão os
animais irracionais precisam de uma formação
específica que os ensine a procriar. Crie-se, pois,
sem mais demora, a Escola C+S da Malcata e
imponha-se aos linces a frequência obrigatória das
respectivas aulas de educação sexual: é a única
solução capaz de impedir o seu dramático
desaparecimento.

P. G on ça lo Po rtoc ar re ro de Al mada
In Público – edição de 30.08.2009

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