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Há já uns bons anos, em conversa corrente com um conjunto de alunos do primeiro ano de certo curso
de licenciatura em Gestão, no âmbito da actividade escolar de certa instituição de ensino superior, foi
possível ouvir a um desses alunos esta dúvida: qual é a razão de se chamar a estes casos
indeterminações?
Quando se pretende calcular o limite para que tende certa função, que aqui se considera como real de
variável real, à medida que a respectiva variável independente se aproxima de certo ponto do seu domínio,
ou cresce indefinidamente em módulo, pode ser-se conduzido a uma expressão que, no imediato, não terá
um significado conhecido. Uma tal situação toma o nome de indeterminação.
Quando tal sucede, procede-se ao levantamento dessa indeterminação, para tal deitando mão de
instrumentos matemáticos diversos, adequados ao caso que se pretende estudar.
Vão, pois, tratar-se aqui as diversas indeterminações que podem surgir no cálculo de limites de
funções reais de varíavel real, deitando mão de exemplos diversos que sirvam para ilustrar que certa
indeterminação pode, afinal, representar, de facto, coisas matemáticas distintas, em cenários igualmente
diferentes.
Para ilustrar este tipo de indeterminação considere-se o cálculo do limite da função que se trata no
seguinte
x
f ( x) =
1− ex
x
lim+ f ( x ) = lim+ .
x →0 x →0 1− ex
Procedendo ao cálculo do limite, nos termos conhecidos, virá:
x 0
lim+ x =
x →0 1− e 0
caindo-se, pois, numa indeterminação. Recorrendo à Regra de Hospital, com a finalidade de levantar esta
indeterminação, ter-se-á:
x 1
lim+ x = lim+ x = −1.
x →0 1− e x →0 − e
Pôde, deste modo, ficar a saber-se que a função considerada se aproxima de −1 quando a variável
independente se aproxima de 0 por valores maiores que 0, ou seja, pela direita deste valor. •
x2
lim
x →0+ 1 − e
x
onde a função de encontra também definida em em R/{0}. Ora, tal como no caso tratado no exemplo
anterior, também aqui se está perante uma indeterminação do mesmo tipo, dado ter-se:
x2 0
lim+ x = ⋅
x →0 1 − e 0
Recorrendo, mais uma vez, à Regra de Hospital, virá:
x2 2x
•
lim+ x = lim+ x = 0.
x →0 1− e x →0 − e
EXEMPLO. Seja, desta vez, a função definida em R/{0}, para a qual se pretende calcular:
ex − 1
lim+ ⋅
x →0 x2
Dado que se tem:
ex − 1 0
lim =
x →0+ x2 0
poderá recorrer-se à propriedade anteriormente utilizada, obtendo-se, então:
ex −1 ex
lim+ = lim = +∞. •
x →0 x2 x →0+ 2 x
Para se proceder à ilustração deste tipo de indeterminação comece-se pelo cálculo do limite da função
que se trata no seguinte
x2 + x + 1
f ( x) =
x+7
definida em R/{−7}. Pretende aqui calcular-se:
x2 + x + 1 + ∞
lim =
x →+∞ x+7 +∞
dado que a aplicação das regras correntes conduz à nova indeterminação que pode ver-se. Ora, neste
caso, pode levantar-se a indeterminação através de um artifício:
1 1 1 1
x 2 1 + + 2 1 + +
x + x +1
2
x x x x2 1+ 0 + 0
lim = lim = lim x ⋅ = +∞ ⋅ = +∞ ⋅
x →+∞ x+7 x →+∞ 7 x →+∞
7 1+ 0
x 1 + 1+
x x
Pôde assim perceber-se que a função estudada cresce indefinidamente quando o mesmo se dá com a
variável independente. •
x−3
f ( x) =
x − 3x + 2
2
x−3 +∞
lim = .
x →+∞ x − 3x + 2
2
+∞
Voltando a deitar mão do anterior artifício, virá:
3 3
x 1 − 1 −
x 1 x 1− 0
lim = lim ⋅ = 0⋅ =0
x →+∞ 3 2 x →+∞ x 3 2 1− 0 + 0
x 2 1 − + 2 1− + 2
x x x x
ficando assim a saber-se que, quando a variável independente cresce indefinidamente no semi-eixo
positivo das abcissas, a função aproxima-se de zero, embora por valores maiores que zero. Ou seja, a
função tem no eixo das abcissas uma assímptota horizontal. •
2x 2 − 7x + 1 + ∞
lim = ⋅
x →+∞ 3x + x − 7
2
+∞
Mais uma vez pode recorrer-se ao anterior artifício, vindo:
7 1 7 1
x 2 2 − + 2 2− +
2x − 7x + 1
2
x x x x2 = 2 − 0 + 0 = 2
lim = lim = lim
x →+∞ 3x + x − 7
2
x →∞ 1 7 x →+∞ 1 7 3+ 0− 0 3
x 2 3 + − 2 3+ − 2
x x x x
o que mostra que, também aqui, a função estudada apresenta uma assímptota horizontal, que é a recta de
nível de ordenada igual ao limite encontrado. •
INDETERMINAÇÃO DO TIPO 0 0
Para facilmente se entender o que está em jogo neste caso, ilustra-se o mesmo com o estudo de duas
funções, a primeira das quais se apresenta com o seguinte
x
f ( x ) = x 1−e
x
lim+ x 1− e = 01−1 = 0 0 .
x→0
Para se levantar esta indeterminação, começa por tomar-se o logaritmo da função em estudo,
obtendo-se:
ln( x )
ln f ( x ) = ( 1 − e x ) ln( x ) =
( 1 − e x ) −1
vindo então:
1
ln( x ) x (1 − ex ) 2
− 2( 1 − e x ) e x − 2( 1 − e x )
lim = lim+ = lim+ = lim+ = lim+ =0
x →0+ 1 x →0 ex x →0 x. e x x →0 e x + x. e x x →0 1+ x
1− ex (1 − e x ) 2
pelo que se tem:
lim ln f ( x ) = 0 ⇒ lim f ( x ) = e 0 = 1. •
x →0+ x →0+
3
f ( x ) = ( senx ) ln x
3( ln x ) −1
lim+ ( senx ) = 00 .
x →0
Aplicando logaritmos à função dada, virá:
3( ln x ) − 1 3 ln( senx )
ln( senx ) =
ln x
pelo que se terá:
cos x
3 ln( senx ) x
lim+ = 3. lim+ senx = 3 lim+ ( cos x ) lim+ = 3.
x →0 ln x x →0 1 x →0 x → 0 ( senx )
x
Nestes termos, ter-se-á:
3( ln x ) −1 3( ln x ) −1
lim+ ln( senx ) =3 ⇒ lim+ ( senx ) = e3. •
x →0 x→0
INDETERMINAÇÃO DO TIPO 1 ∞
Para se entender de um modo simples o que está em jogo com este tipo de indeterminação, ilustra-se
o mesmo com o estudo de duas novas funções, a primeira das quais se apresenta com o seguinte
x
x + 8
f ( x) =
x − 2
x lim x
x + 8 x + 8 x → +∞
lim = lim = 1∞ .
x →+∞ x − 2 x →+∞ x − 2
Neste caso a indeterminação surgida pode levantar-se de um modo simples e já conhecido do ensino
secundário, tendo-se, assim:
x x
x x ( x −2 ) ( x − 2 ) lim
x + 8 10 10 ( x −2 ) 10
= ( e 10 ) = e 10 .
x → +∞ x − 2 1
lim = lim 1 + = lim 1 + = lim 1 +
x →+∞ x − 2 x →+∞ x − 2 x →+∞ x − 2 x →+∞ x − 2
•
Veja-se, agora, o segundo caso deste tipo de indeterminação, através da função estudada no seguinte
1
x x −2
f ( x) =
2
1
x x − 2 ln( x ) − ln(2)
ln =
2 x−2
1
ln( x ) − ln(2) −0 1 1
x
lim+ = lim+ = lim+ =
x →2 x−2 x→2 1 − 0 x →2 x 2
pelo se virá:
1
1
lim+ ln( f ( x )) = ⇒ lim+ f ( x ) = e 2 = e . •
x →2 2 x →2
1 6
f ( x) = − 2
x−3 x −9
1 6
lim+ − 2 = ∞ − ∞.
x →3 x − 3 x − 9
x + 3− 6 x−3 1
f ( x) = = 2 =
x −9
2
x −9 x+3
pelo que virá:
1 1
lim+ = ⋅•
x →3 x+3 6
EXEMPLO. Considere-se a função:
1 1
f ( x) = − 2
x−3 x −9
definida em ]3,+∞[, e para a qual se tem a indeterminação:
1 1
lim+ − 2 = ∞ −∞.
x →3 x − 3 x − 9
x+2
f ( x) =
x2 − 9
pelo que virá:
x+2 5
lim+ = + = +∞
x →3 x −9 0
2
f ( x) = x 2 − 4x + 3 − x 2 − 4x + 4
lim
x →+∞
[ x 2 − 4 x + 3 − x 2 − 4 x + 4 = ∞ − ∞. ]
Tem-se, então:
lim
[ x 2 − 4x + 3 − x 2 − 4x + 4 ][ x2 − 4x + 3 + x2 − 4x + 4 ]=
x →+∞
x 2 − 4x + 3 + x 2 − 4x + 4
−1 −1
lim = = −∞ ⋅ •
x →+∞
x 2 − 4x + 3 + x 2 − 4x + 4 +∞
EXEMPLO. Por fim, a quarta função que ilustra este tipo de indeterminação:
f ( x ) = ch( x ) − sh( x )
e x + e−x e x − e−x
f ( x ) = [ ch( x ) − sh( x )] = − = e−x
2 2
virá, por fim:
lim [ ch( x ) − sh( x )] = lim e − x = 0. •
x →+∞ x →+∞
A fim de se compreender facilmente este tipo de indeterminação, ilustra-se o mesmo com o estudo de
quatro funções, a primeira das quais se apresenta com o seguinte
1
f ( x ) = ( x − 2) e x − 2
1
lim+ ( x − 2) e x − 2 = 0 ⋅ ∞.
x →2
1
1
1
− e x −2
1
e x −2
( x − 2) 2 1
lim ( x − 2) e x −2
= lim+ = lim+ = lim+ e x −2
= +∞. •
x →2 + x →2 1 x→ 2 1 x →2
−
x−2 ( x − 2) 2
EXEMPLO. Considere-se a função:
f ( x) = x ln( x )
lim
x →0+
[ ]
x ln( x ) = 0. ( − ∞) .
Virá, então:
1
lim
x →0+
[ ] ln( x )
x ln( x ) = lim+ − 0,5 = lim+
x →0 x
x
x → 0 − 0,5x
−1,5 = −2 lim+
x →0
x = 0.
•
f ( x ) = e − x +3 . e x −4
lim [ e − x + 3 . e x −4 ] = 0 ⋅ ∞.
x →+∞
Acontece que a função dada pode escrever-se, de um modo equivalente e simplificado, na forma:
1
f ( x ) = e − x + 3 . e x − 4 = e −1 =
e
ou seja, a função dada é uma função constante, pelo que se tem:
1 1
lim = ⋅•
x →+∞ e e
INDETERMINAÇÃO DO TIPO ∞ 0
Finalmente, o último tipo de indeterminação, para o qual se mostram aqui duas funções, a primeira das
quais se apresenta com o seguinte
1
x + 2 x + 1
2 x
f ( x) =
x−3
1
x 2 + 2 x + 1 x
=∞ ⋅
0
lim
x →+∞
x − 3
x 2 + 2 x + 1
ln
1
x−3
x 2 + 2 x + 1 x
ln =
x−3 x
( 2 x + 2) ( x − 3) − ( x 2 + 2 x + 1)
( x − 3) 2
x 2 + 2 x + 1 x 2 + 2x + 1
ln
x−3 x−3
lim = lim = 0.
x →+∞ x x →+∞ 1
A obtenção deste valor só na aparência é complicada, dependendo apenas de simplificações
algébricas bastante elementares. Assim, ter-se-á:
1
f ( x ) = [ e x + 7] x
definida em ]0,+∞[, e para a qual se tem a indeterminação:
1
lim [ e x + 7] x = ∞ 0 .
x →+∞
Acontece que a função dada pode assumir a forma equivalente que se mostra de seguida:
1 1 1
ex
1
7 x 7 x 7
[e + 7]
xe x
x x = e x 1 + x = e 1 + x = e 1 + x
e e e
1
e x lim
1
7
lim [ e + 7] = e( e 7 ) = e. •
x → +∞ xe x 0
x x = e lim 1 + x
x →+∞ x →+∞ e
O conjunto de exemplos que se apresentou anteriormente, pensa-se, terá ilustrado os diversos tipos de
indeterminação que se apresentam quando procuram calcular-se limites de funções reais de variável real,
ou simplesmente de sucessões de termos reais, mas também o modo de operar o seu levantamento.