Orgasmo: Este delicioso vilão
por Alessandro Ezabella
Você, leitora ou leitor, já encarou o orgasmo como
um vilão? Alguma vez pensou que algo capaz de
proporcionar um prazer tão intenso pode atrapalhar a
satisfação sexual do casal?
O grande problema não é o orgasmo em si, mas o
tratamento dado a ele. Parte da mídia, alguns
cientistas e a própria sociedade elegeram o orgasmo
como termômetro das relações sexuais. Com isso, esse
nobre visitante transforma-se em vilão e, nessa
condição, a capacidade de homens e mulheres de
darem e sentirem prazer é colocada em xeque.
Outro desdobramento deste tratamento negativo: as
mulheres sentem-se pressionadas a expressar algo que
muitas vezes não é verdadeiro, seja para satisfazer o
ego do parceiro, terminar logo a relação ou por medo
de ser taxada de ‘fria’. Isso sem falar dos orgasmos
múltiplos, simultâneos, das últimas técnicas orientais
e malabarismo sexuais diversos que prometem
prolongar o prazer infinitamente.
Talvez algumas(ns) leitoras(es) achem que estou
fazendo apologia ao não-orgasmo. Mas a questão é
outra: estou pensando nas inúmeras mulheres aflitas
Texto publicado originalmente na seção Sexo sem Dúvidas da Revista Uma (julho/09, ed. 103). Este documento
foi produzido pelo Psic. Alessandro Ezabella e está registrado sob uma licença Creative Commons Atribuição-Uso
Não-Comercial-Vedada a Criação de Obras Derivadas 2.5 Brasil.
Escrito em: junho/2009
e angustiadas que reclamam por causa do orgasmo,
seja pela ausência dele, por ouvir relatos fantásticos
da vida sexual de amigas ou simplesmente por
quererem mais.
E eis que surge uma pergunta que vale uma boa
reflexão: Qual a real importância do orgasmo? Será
que ele é mais importante do que toda a intimidade e
cumplicidade que cercam um relacionamento afetivo-
sexual? E mais: que cobrança é esta que as mulheres
fazem a si próprias que devem ter orgasmos sempre,
de preferência múltiplos e simultâneos? Esse ideal de
orgasmo está tão longe de corresponder à realidade
dos relacionamentos afetivo-sexuais quanto às
‘mulheres-frutas’ de corresponder a um ideal de
mulher no sentido amplo da questão, mesmo porque
a grande maioria de nós sente-se obrigada a mostrar
aos amigos, à família e demais pessoas que somos
bem-sucedidas/os financeiramente, que temos uma
vida afetiva-sexual plena e satisfatória, que somos
ótimos pais e mães, que somos socialmente
responsáveis e politicamente corretos.
E com tantas cobranças não sobra espaço para algo
que considero importantíssimo hoje: encarar as coisas
com mais naturalidade ou espontaneidade e, quem
sabe, uma dose de bom humor. A proposta que faço
aos casais é a seguinte: que tal encarar o orgasmo com
esta naturalidade a que me refiro e deixar certas
cobranças de lado? Será que não estamos perdendo
algo precioso do relacionamento focando toda a
atenção no orgasmo quando temos um/a parceiro/a
diante de nós compartilhando um momento tão
mágico e sublime?
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Alessandro Ezabella é psicólogo e psicoterapeuta sexual
(CRP 06/55363-3). Mestrando em Psicologia Social pela
PUC-SP. Acesse o site: www.osexonu.com.br.