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12 • Brasília, quarta-feira, 12 de novembro de 2008 • CORREIO BRAZILIENSE

REFÉNS DO ABANDONO

Todos contra
a violência
Monique Renne/CB/D.A Press

GRUPO DE TEATRO EM CAPIM, NA PARAÍBA, ENCENA


A HISTÓRIA DE GENI. ASSIM COMO NA MÚSICA DE
CHICO, PERSONAGEM É APEDREJADA PORQUE FAZ
SEXO COM ESTRANGEIRO

Uma infância de sorrisos e brincadeiras, uma adolescência com Em Capim, na Paraíba, estudantes criaram uma peça teatral para
sonhos e projetos, uma família que apóia e protege. Essa fórmula alertar sobre as armadilhas da violência sexual. Com essas
simples pode evitar casos de violência sexual e garantir o bem-estar iniciativas simples, meninos e meninas ficam menos vulneráveis e
de crianças e jovens. Em dois pequenos municípios brasileiros, traçam um futuro sem agressões, abusos ou exploração.
projetos que apostam na valorização da infância e no protagonismo A importância do protagonismo é um dos temas da 3ª edição do
juvenil fazem diferença na luta contra o abuso e a exploração sexual. Congresso Mundial de Enfrentamento da Exploração Sexual contra
Quem antes corria o risco de se tornar vítima ajuda Crianças e Adolescentes, que será realizado de 25 a 28 deste mês, no
a escrever uma nova história para a comunidade. Rio de Janeiro. Os jovens participarão diretamente da organização e
Em Itaobim, Minas Gerais, a Casa da Juventude — ONG criada por estarão lado a lado com os especialistas nos debates. Serão peça-
religiosos católicos - tirou meninas exploradas da beira das rodovias. chave na criação de políticas públicas em favor de toda a infância.

Ronaldo de Oliveira/CB/D.A Press


PROJETOS QUE cidade de Itaobim, em Mi- da Casa. Aprendem habilidades são exploradas e as que não anos, se transforma em Geni.

VALORIZAM A INFÂNCIA
E A ADOLESCÊNCIA SÃO
A nas Gerais, já foi conheci-
da como o paraíso dos ca-
minhoneiros à procura de
sexo pago. Dezenas de meninas fi-
cavam à beira da BR-116 à dispo-
que possam reforçar o orçamen-
to doméstico e ajudam a cuidar
das crianças mais novas e a man-
ter o espaço organizado. “A Casa é
de todo mundo. Então, todos têm
são”, acredita a socióloga Amé-
rica Ungaretti.
No interior da Paraíba, escola,
conselho tutelar e Ministério Pú-
blico se aliaram para encabeçar
Mesmo sem nunca ter feito curso
de teatro, a menina interpreta o
drama da personagem com mui-
ta emoção e realismo. “Conheço
muitas garotas que sofreram o
UMA ARMA PODEROSA sição dos motoristas de passa- responsabilidade aqui dentro”, um projeto que combate a vio- mesmo problema mostrado na
gem. Com o tempo, a situação se afirma Flávio de Oliveira, de 28 lência sexual por meio da arte e peça. Quando tive essa oportuni-
CONTRA O ABUSO tornou constrangedora até para anos, que entrou no projeto aos da informação. Os alunos da Es- dade de ajudar a acabar com a
SEXUAL. GRUPOS E os moradores da cidade. Há uma 17 anos e é um dos líderes. cola Estadual Olho d'Água, no violência, resolvi me dedicar de
década, entretanto, religiosos ca- A relação entre o projeto e o pequeno município de Capim, verdade”, explica Lígia, com um
INSTITUIÇÕES tólicos iniciaram uma bem-suce- combate à violência sexual é a participam de uma peça de tea- enorme sorriso no rosto.
dida intervenção nessa realidade. promoção da auto-estima das tro que discute a exploração se- A pedido do Correio, o grupo
PROMOVEM No bairro mais pobre e vio- crianças, adolescentes e de suas xual. A história de uma menina da Escola de Olho d'Água apre-
lento do município, abriram um famílias. Ao oferecer oportunida- que faz programas e sai com tu- sentou a peça Menina Abusada
ATIVIDADES LÚDICAS E espaço de educação e lazer — a des de geração de renda, a Casa ristas estrangeiros é parte do pro- em 29 de setembro. A comunida-
Casa da Juventude. Lá, a regra contribui para diminuir a vulne- jeto Menina Abusada. A iniciativa de do distrito se aglomerou em
CAMPANHAS são as portas abertas. “Aqui, en- rabilidade dos participantes. é voltada para a prevenção de volta do colégio para assistir a
tra quem quer, à hora que quer”, Protagonista da Casa da Ju- uma realidade comum na região. mais uma apresentação. Sem di-
EDUCATIVAS PARA explica Maria Aparecida Quei- ventude, Daniele da Silva, de 15 O texto, criado pelo Ministério nheiro e sem estudar, a persona-
AFASTAR CRIANÇAS E roz, conhecida como Lia. “Apos- anos, participa de um grupo de Público da Paraíba, já foi encena- gem começa a fazer programas,
tamos na educação com liber- jovens que discute o abuso e a ex- do pelos jovens de Capim em vá- influenciada por garotas que já
JOVENS DO PESADELO dade. É mais difícil, mas é a ma- ploração sexual. Junto com os rios municípios da região. estavam na exploração sexual.
neira que encontramos para companheiros, já elaborou carti- No final da peça, Geni deixa de
DA EXPLORAÇÃO reunir as pessoas e conciliar as lha e peça de teatro sobre o tema. História de Geni ser explorada e volta para a esco-
diferenças”, completa ela, que “A mensagem é que a vítima deve O grupo de teatro tem 15 estu- la. Em meio às músicas de axé e
faz parte da comunidade Papa dizer não. Ela tem caminhos para dantes, de 14 a 21 anos. Eles cria- funk, os atores apresentam, ao fi- CASA DA JUVENTUDE EM MINAS:
João XXIII. fazer isso”, comenta Daniele, que ram o figurino colorido e todo o nal, um jingle criado pela própria INICIATIVA DE RELIGIOSOS
A Casa da Juventude funciona nunca vendeu o corpo, mas co- cenário da peça. Por onde pas- equipe sobre a importância de CATÓLICOS ATENDE 500 FAMÍLIAS
em um galpão que já foi fábrica nhece meninas que já o fizeram. sam, os jovens atores atraem denunciar casos de abuso e ex-
de laticínios. Atende a 500 famí- “Elas vão para a pista porque crianças, adolescentes e adultos, ploração sexual pelo telefone dis-
lias. As crianças recebem reforço querem dinheiro. A gente tenta que assistem atentos à história de que 100. “Ninguém conhecia o
escolar e freqüentam oficinas de mostrar que o corpo e a vontade Geni. Assim como na música de telefone para fazer denúncias.
música e aulas de esporte. Os dela são coisas que não devem Chico Buarque, a personagem é Com a peça, a gente conseguiu
mais velhos vão para cursos de ser vendidas”. apedrejada pelos vizinhos. As divulgar o serviço e mobilizar to- correiobraziliense.com.br
informática, teatro, artesanato e A receita da ONG de Itaobim agressões começam quando os da a comunidade em torno desse Vídeo:
Trecho da peça Menina Abusada e
atividades profissionalizantes. é aprovada por especialistas. conhecidos descobrem que a me- tema”, explica a conselheira tute- reunião de fim de tarde na Casa da
“Eles experimentam e escolhem “Não é tanto a condição de po- nina é explorada sexualmente. lar de Capim Marinez Trajano. No Juventude
o que preferem”, comenta Lia. breza, mas sim a auto-estima e Com uma coroa de margari- interior da Paraíba e de Minas
As mães também são incenti- a proteção familiar que fazem a das sobre os longos cabelos escu- Gerais, há esperança contra a Veja mais na internet:
vadas a participar do cotidiano diferença entre as meninas que ros, Lígia Lopes dos Santos, 14 realidade da exploração. Programação completa do Congresso
Mundial de Enfrentamento da
Exploração Sexual contra Crianças e
Adolescentes

Disque 100
para denunciar casos de violência sexual

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