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Afinal, como entender os evangelhos apócrifos?

A palavra apócrifo tem sua origem no idioma grego e significa

“oculto, escondido”, algo “sem autoridade”, “de autor falso”, e

relacionada às obras de artes – livros, poemas, pinturas, esculturas –

adquire uma conotação negativa: trabalho “sem autoria comprovada”.

Este conceito de apócrifo, aplicado aos textos sagrados, refere-se

aos livros não reconhecidos pelas Igrejas – Católica, Protestantes,

Ortodoxas - como verdadeiros. Obras sem autores comprovados e

revestidas de inúmeras fantasias, repletas de hipóteses sobre a vida e

hábitos de importantes personagens bíblicos.

Sabemos da existência de textos apócrifos ligadas ao Antigo e ao

Novo Testamento. Para os sábios judeus existem, pelos menos, vinte e

três livros, tidos como não inspirados. Estes textos foram escritos entre o

III a.C ao século I da nossa era, e ficou sobre a responsabilidade da

pequena comunidade de sábios judeus, após a segunda grande guerra

contra os romanos, conhecida como a revolta de Bar Kosba (135 d.C.),

incluí-los ou não no cânon (na ordem, na seleção) dos Livros Sagrados.

Do Antigo Testamento destacam-se, entre os livros apócrifos: os quatro

livros dos Macabeus, Judite, Tobias, o quarto livro de Esdras e os

testamentos dos Doze Patriarcas.

Em relação ao cristianismo e aos textos do Novo Testamento, o

debate entre “livros canônicos” e “livros apócrifos” marcou os primeiros

séculos do cristianismo. O ponto final aos debates só aconteceu em 1546,

durante o Concílio de Trento, época em que estabeleceram a quantidade


dos livros que, hoje, conhecemos como sendo de inspiração divina,

mantidos em nossas bíblias (73 livros). Os primeiros autores cristãos

enfrentaram inúmeros problemas diante de uma enorme quantidade de

textos apócrifos que circulavam na época.

Textos sempre estudados nas Igrejas

Declarar que uma obra de literatura é apócrifa não significa que

sua leitura foi proibida. Muito menos pensar que a Igreja procurou

escondê-las, guardando-as debaixo de sete chaves, com medo de provocar

mudanças nos dogmas ensinados pela tradição crista.

Com a morte de Pedro (64 d.C) e Paulo (67 d.C), em Roma,

termina, praticamente, a primeira geração dos apóstolos. Caberá aos

primeiros estudiosos cristãos a tarefa de ler, interpretar e ensinar as

verdades sobre Jesus e os evangelhos, em meio a vários livros e textos

apócrifos. Santo Ireneu (130-208 d.C) já alertava aos incrédulos que

abandonavam as Sagradas Escrituras, escrevendo “se alguém não aceita

seus ensinamentos, despreza o próprio Cristo Senhor, despreza o Pai e

condena a si mesmo”. Escritores como: Tertuliano (150-222?), Orígenes

(185-254), Santo Agostinho (354-430), São Jerônimo (347-420) chegam a

fazer sérias denuncias contra pessoas ou grupos ávidos em confundir a fé

em Jesus Cristo e os ensinamentos transmitidos pelos apóstolos.

A lista mais extensa de escritos considerados falsificados foi

divulgada pelo papa Gelásio, falecido em 496, contendo o número de

sessenta obras não inspiradas e não escritas pelos apóstolos ou pelos

evangelistas. Na lista, destacam os evangelhos de Tomé, de Felipe, de


Matias, de Bernabé, de Estevão, além do livro sobre o nascimento do

Jesus envolvendo Maria e a parteira.

Valor histórico

Uma leitura sobre o universo cultural refletida nos livros apócrifos

tem colaborado, em muito, na compreensão da história do

desenvolvimento do cristianismo nos seis primeiros séculos. Favorece

compreender a importância e ensinamentos dos primeiros padres da

Igreja, além de oferecer elementos valiosos no entendimento dos dogmas

validos, até nossos dias, pela Igreja Católica.

A partir dos anos sessenta, inúmeros centros de estudos bíblicos,

sobretudo, alemães e italianos, redescobriram o valor histórico e a

riqueza contida na literatura apócrifa. No Brasil, destaca os estudos

realizados pelo professor Jacir de Freitas Faria, autor do livro Origens

Apócrifas do Cristianismo, pela editora Paulinas, 2007.

Pe. An toni o Carl os Fri zzo , 50,

profes s or no Depart am ent o de Teol ogi a Bí bl i ca

na facul dade Dehoni ana, Taubat é, S ão P aul o.

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