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O LOGOS FILONIANO E O MUNDO PLATÔNICO DAS

IDÉIAS
Dax Fonseca Moraes Paes Nascimento (CNPq/PUC-Rio – 2001/2003)
Orientador: Danilo Marcondes de Souza Filho (PUC-Rio)

Resumo: Fílon de Alexandria, filósofo Abstract: Philo of Alexandria, a first


judeu do século I, surge como o primeiro century Jewish philosopher, appears as
pensador a tentar conciliar o conteúdo the first thinker who tried to conciliate bib-
bíblico à tradição filosófica ocidental. lical contents and western philosophical
Neste sentido, é mais conhecido por sua tradition. In this way, he is better known
doutrina do Logos, sobre a qual ainda se by his Doctrine of the Logos, about which
encontram à espera de solução inúmeras many controversies are still waiting to be
controvérsias. A concepção desse Logos solved. Conceiving the Logos as an intel-
enquanto mundo inteligível revela Fílon ligible world shows Philo as a forerunner
como um precursor do neoplatonismo e of neoplatonism and several metaphysi-
de diversas especulações metafísicas cal speculations deduced from it, giving a
derivadas de tal perspectiva, abordando very personal treatment to Plato’s theory
de maneira bastante peculiar a teoria of Ideas.
platônica das Idéias.
Keywords: Philo of Alexandria; plato-
Palavras-chave: Fílon de Alexandria; nism; neoplatonism.
platonismo; neoplatonismo.

I. As virtudes inteligíveis e a lei


arquetípica: Platão, Fílon e rabi-
nos

F
ílon considera todo o Gênesis
não são interpretados em termos
“uma história da alma desde da história primeira do homem e
sua formação no mundo inteli- da eleição do povo de Israel por
gível até o completo desabrochar da Deus, mas são lidos em um plano
sabedoria após sua queda e seu “mais profundo” [deeper] como
restabelecimento pelo arrependi- uma penetrante [profound] descri-
mento”, sendo o propósito do método ção da natureza da alma, seu lugar
alegórico “reencontrar sob cada per- na realidade, e as experiências por
sonagem e sob suas ações o símbolo que ela passa enquanto busca por
de uma das etapas da decadência ou sua divina origem e obtém conhe-
cimento de seu criador.2
da recuperação da alma”.1 Nos Co-
mentários Alegóricos, compostos por
Para Fílon, patriarcas e outros perso-
dezoito tratados divididos em vinte e
nagens de Gênesis – e até do res-
um livros, os dezessete primeiros ca-
tante do Pentateuco –, são modelos
pítulos de Gênesis
para as leis escritas, sendo, eles
mesmos, leis não escritas (nomous
1
Cf. BRÉHIER, “Philo Judæus”, p. 209, in 2
RUNIA, 1990a, p. 5-6.
1955, p. 207-214.

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agraphous), leis vivas (nomoi mundanas até o reino divino e espi-


empsychoi) – definição também dada ritual.”6
ao rei –, ou seja, são mais do que
homens virtuosos, mas as próprias Fílon, então, tenta justificar esta teo-
leis naturais, as virtudes inteligíveis ria por meio do título “Gênesis”,
(noetai aretai), representadas alego- “mostrando como as leis escritas por
ricamente para servirem como exem- Moisés se ligam à constituição do
plos.3 Cada patriarca corresponde a mundo”7. De fato, é notado pelos tra-
uma potência divina, e as tríades que dicionais comentadores judeus que a
compõem (Enos, Enoque e Noé; Lei (Torah), curiosamente, não se
Abraão, Isaque e Jacó) são separa- inicia com sua entrega a Israel em
das pelo Logos, o “sétimo termo”, re- Sinai, donde concluem que “toda a
presentado por Moisés, o mais per- Torah é preceito”, ou lei.8 “A lei”, por
feito.4 No entanto, deve-se ressaltar sua vez, diz Fílon, não é “nada mais
que Fílon jamais nega a historicidade do que a palavra divina ordenando o
dos personagens nem dos eventos, que devemos fazer e proibindo o que
ainda que valorize o sentido alegóri- não devemos fazer”.9 Aludindo a um
co.5 Nesse caso, temos o livro Gêne- tratado talmúdico (Sanhedrin, 56 a-b),
sis apresentado, em linhas gerais, em diz Guttmann:
si mesmo, como um paradigma para
o restante da Torah (Pentateuco), A Torah é a incorporação [embo-
que é o modelo de toda a Lei Natural. diment] da vontade divina, a ob-
“O Pentateuco inteiro pode assim ser servância de seus mandamentos é
interpretado como uma longa jornada a tarefa dada a Israel por Deus. A
universalidade do mandamento di-
desde o domínio do corpo e regiões
vino é estabelecida pela noção de
uma revelação original, pré-
3
Cf. FÍLON, 1959a, §276, p. 135; §5, p. 7; israelita, endereçada a todas as
§§99-101, p. 53/55; 1959b, I, §162, p. 359; nações e contendo os fundamen-
1958d, §1, p. 7; 1962c, §194, p. 143; HEINE- tos dos costumes.10
MANN, 1962, p. 37; BRÉHIER, 1950, p. 26-
27; v. também p. 25, 92-93, 225, 279, 309- Fora isso, correlação ainda mais di-
310. V. RUNIA, op. cit., p. 6: “ele considerava
os Patriarcas do povo judeu como ‘leis vivas’, reta é feita por Efros, desta vez, com
i.e. homens que incorporaram a Lei em seu a escola de Rabi Shammai, para
modo de vida mesmo antes que passasse a quem o Pensamento (divino) tem a
existir como a Lei de Moisés”. Sobre as leis prioridade na cosmogonia bíblica,
não escritas, v. também WOLFSON, 1982, I,
sendo seguido pelo céu, assim como
p. 188-194; HEINEMANN, 1962, p. 36-39;
GUTTMANN, 1964, p. 36-37. em Fílon temos o Logos (identificado
4
Cf. FÍLON, 1958c, §173, p. 431; 1959a, §§7- com a luz) e, em seguida, o céu. Em
59, p. 7-35; 1996b, §219, p. 391; 1953b, II, ambos os casos, o Lo-
§68, p. 114-118; BRÉHIER, op. cit., p. 91. gos/Pensamento é assimilado à pró-
Uma detida abordagem dessas tríades, a que
se seguem considerações acerca de Moisés e
pria Torah, por sua vez chamada de
do patriarcado, é encontrada na primeira
parte do De præmiis et pœnis, de exsecratio- 6
nibus (1961b, §§11-66, p. 47-75 [§§11-14, 31- RUNIA, op. cit., p. 11.
7
35, 43-46, in LEWY, 1969, p. 88-89, 90-91 e BRÉHIER, op. cit., p. 23.
8
63]). V. HEINEMANN, op. cit., p. 36; GUTT-
5
Cf. WOLFSON, op. cit., I, p. 125 et seq. MANN, op. cit., p. 32 passim.
9
1996a, §130, p. 207.
10
Op. cit., p. 32. V. também p. 41.

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“receptáculo, ou um instrumento, da
criação”, que tem a prioridade na Cri- Ainda em conformidade com a exe-
ação.11 Como Fílon, “a escola de gese judaica de que hoje dispomos,
Shammai colocou dois seres inter- antes mesmo de ter início a compila-
mediários: Pensamento e céus, e o ção do que viria a ser o Talmud de
divino Pensamento foi em seguida Jerusalém, Fílon já defende que Moi-
concebido como a Torah e como um sés, enquanto legislador, mostra,
receptáculo [vessel]”12. Na verdade, o primeiro, “o modelo das leis que es-
platonismo se mostra mais marcante creverá”, sendo seu primeiro livro
no Talmud do que em Fílon, quando concebido “como um prólogo das leis,
podemos analogizar a Torah com o que se deve aproximar”, por analogia,
Logos enquanto totalidade das Idéi- “dos prólogos que os legisladores an-
as: tigos faziam preceder suas legisla-
ções”.15
De qualquer modo, todo o caráter
demiúrgico da Torah não é ex- Desse modo, o livro Gênesis acaba
presso por ele [Rabi Judah bar se mostrando como uma “história do
Il’ai] de maneira ativa, como na Logos”, como uma descrição das coi-
Sabedoria de Salomão, mas ape- sas inteligíveis... (Seria esta a expli-
nas passivamente, pelo que so-
cação de Fílon para o fato de a Torah
mente Deus é o criador: “Deus
considerou a Torah e criou o mun- (Lei) não ter início com a narração de
do”.13 sua entrega ou com fatos diretamente
correlatos, já que isto se refere ao
A Torah é o projeto [blueprint] do mundo sensível, enquanto episódio
mundo no qual Deus olhou e criou inserido no tempo, parte da História?)
o mundo. Esta declaração é influ- Nesse caso, é sobretudo no comen-
enciada por Fílon, que considera a tário das leis que presidem a criação
Torah como o mundo inteligível, do mundo que se faz a ponte com o
após cujo modelo este mundo foi platonismo. O próprio Fílon nos obri-
criado. (...) R[abi] Hoshaiah apos-
ga a tal comparação...
sou-se deste termo [artesão, de-
miurgo], mas somente no sentido
de uma ferramenta ou instrumen- II. Platonismo e estoicismo na
to.14 cosmogonia filônica

11
Cf. 1976, p. 50-51, 54, 60-61, 69-72. V. Bréhier, após discorrer sobre a origi-
FÍLON, 1961a, §§27-37, p. 159-165. nalidade do Deus transcendente
12
Id., ibid., 1976, p. 51. postulado por Fílon, relaciona uma
13
Id., ibid., p. 60, citando o midrash Tanchu- série de passagens dispersas por
ma (ed. Buber), “B’re’shith”, 5.
14 toda sua obra que reproduzem (por
Id., ibid., p. 70. Outros, todavia, viam a To-
rah como a matéria primordial do universo. “E vezes, textualmente) os trechos mais
desde que a Torah pode ser ambos, receptá- importantes de uma vasta porção do
culo [vessel] e material para a criação, deve Timeu (de 27 c a 41 a), apesar de,
haver um poder secreto armazenado em suas muitas vezes, serem encontradas al-
letras” (p. 71); é o que, na opinião de Efros,
deduzem os hermeneutas. Sobre a identifica-
ção entre a Torah, o Logos e o “Princípio”, v. questão é tratada de maneira resumida, mas
KAHN, nota complementar nº 26 a De confu- primorosa e eficiente.
sione linguarum (1963d, p. 179-180), onde a 15
BRÉHIER, 1950, p. 24. Cf. FÍLON, 1961a,
§§1-3, p. 145 (in LEWY, 1969, p. 27).

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terações, não só de terminologia


como também de conteúdo.16 Vale observar, logo de início, que
esta “mente completa” de que fala
O objetivo de Fílon no De Opificio Fílon não é necessariamente a mes-
é mostrar que o mundo não é eter- ma coisa que a “razão comum” (koi-
no (§7) [melhor dizendo, que o nos logos) postulada pelos estóicos.
mundo é criado]. Se há algumas A totalidade da mente divina diz não
alterações no pensamento e no haver nada que lhe escape, sendo
texto de Platão, elas parecem vir
perfeita e transcendente, enquanto
exclusivamente da influência estói-
ca [Bréhier sempre retorna a este que a participação, a comunidade do
ponto em seus comentários...]. É Logos interligando todos os seres
assim que o demiurgo platônico é entre si, não diz nada além da sim-
substituído pela “causa ativa”, e ples imanência. No estoicismo tal
pelo “intelecto universal” [holon distinção não existia, mas, em Fílon,
nous] (8-10), expressões inteira- sim, e é uma de suas asserções mais
mente estóicas. (...) A forma pela fundamentais. Isto pode ser, portanto,
qual o mundo inteligível é introdu- um indício de que há uma confusão a
zido e explicado, como o pensa- respeito destes dois níveis distintos
mento de Deus criando o mundo
da totalidade do Logos. Desse modo,
[i.e., o Logos], não se parece muito
com as Idéias de Platão (16-21); o terá realmente sido o demiurgo de
mundo inteligível [em Fílon] é um Platão substituído pelo “intelecto uni-
modelo que Deus cria, em Seu versal” dos estóicos? Chegamos a ter
pensamento, para o mundo sensí- dúvidas acerca do critério segundo o
vel. Assemelha-se muito, pelo qual os comentadores recolhem es-
contrário, ao platonismo modifica- sas “expressões inteiramente” recor-
do que Sêneca nos faz conhecer rentes a tal ou qual filósofo ou siste-
[1947, VII, 65, 7: “Esses exempla- ma filosófico... Aliás, podemos ainda
res de todas as coisas, Deus os distinguir essas expressões dizendo
contém em Si, e Seu intelecto
que a “razão comum” dos estóicos é
abarca (...) a totalidade das coisas
a criar. Ele é repleto dessas figuras disseminada, enquanto que o Logos
que Platão denomina idéias”]. (...) transcendente é uma “razão completa
Podemos discernir a linguagem e composta”, diversamente da “mente
estóica, em meio mesmo às frases completa” que Fílon designa como
tomadas ao Timeu. Em vez de di- causa ativa, a qual, idêntica a Deus,
zer com Platão, em uma citação é pura, simples. Ainda neste sentido,
quase textual do Timeu (32 c), que com efeito, o comentário feito na fra-
o demiurgo emprega na totalidade, se final parece consistir em um la-
para fazer o mundo, cada um dos mentável lapso, o que julgamos ne-
quatro elementos (ton [de dè] tetta-
cessário destacar... Diz Platão:
ron en holon hekaston), Fílon diz
que ele ordenou a matéria em seu
conjunto (tèn di holon hylèn, §5); a Ora, desses quatro corpos, a or-
matéria designa aqui, como nos ganização do mundo absorveu do
estóicos, os quatro elementos mundo cada um na totalidade. Re-
confundidos, e o termo di holon é almente, é de todo o fogo, de toda
especificamente estóico.
17 a água, de todo o ar, de toda a ter-
ra, que o compôs o construtor, que
não deixou fora do mundo nenhu-
16
Cf. op. cit., p. 78, n. 2.
17
Ibid., p. 79-80.

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ma porção de nenhum elemento, tais fontes, nem mesmo pelas mes-


nem nenhuma qualidade.18 mas de Sêneca.

No entanto, entende-se que estes Mas Bréhier prossegue, sempre en-


elementos estavam, sim, confundidos fatizando o que, em Fílon, se mostra
entre si, sendo o demiurgo a separá- como uma espécie de sincretismo
los e arrumá-los, relacionando-os de estóico-platônico, que consiste em
maneira ordenada. Entretanto, a pas- expor uma doutrina bastante “estoici-
sagem de Fílon referida aqui por zada” sem abandonar o pano de fun-
Bréhier, curiosamente, não corres- do formado pelos princípios definidos
ponde em nada ao que ele diz; se- por Platão no Timeu.20 Por sua vez,
quer se fala de matéria, mas das teo- este diálogo é permeado por princípi-
rias acerca da natureza do mundo.19 os pitagóricos, muito conhecidos na
De qualquer modo, buscamos a ex- Alexandria de Fílon e, além disso,
pressão em outras partes da obra, reunidos à doutrina estóica. Isto leva
sem sucesso, até descobrirmos que, o autor a considerar que o elo entre
na verdade, trata-se do final do §5 do platonismo e estoicismo se fundaria
tratado De plantatione (1963c, 24), nas “doutrinas pitagóricas da unida-
donde se seguem as seguintes pala- de-princípio que identificam (...) a
vras de Fílon, que contradizem unidade, princípio inteligível, com o
Bréhier: “também é da terra inteira, logos”.21
de toda a água, de todo o ar, de todo
o fogo, sem que nem mesmo a me- (...) a união de epítetos tais como
nor parcela fosse deixada de fora, “o bem em si” com o caráter de
que este mundo é constituído” (25). “causa ativa”, ou de “intelecto uni-
Não há, pois, divergência aparente versal”, caracteriza bem o sincre-
entre Platão e Fílon quanto a este tismo estóico-pitagórico daquela
época. Pode-se crer então que o
detalhe tal como assinala Bréhier em
pensamento de Fílon encontra seu
prol de sua teoria do sincretismo es- ponto de ligação em uma forma
tóico-platônico. Ao que parece, Fílon dessa doutrina, desconhecida
apenas estaria dizendo o mesmo que alhures.22
Platão, porém segundo uma termi-
nologia mais “atual”, se é mesmo que Entretanto, não eram todos os plato-
podemos qualificar a expressão di nistas que aceitavam tal postura, que
holon, ou qualquer outra, como “es- já sofria críticas antes mesmo de Fí-
pecificamente estóica”. A propósito, lon, como é o caso da teoria, também
vale dizer que as “Epístolas a Lucílio” empregada por ele, de que o mundo
de Sêneca, encerradas em 65, ano inteligível, que compreende entes
de sua morte, são referências para eternos e imutáveis como números,
Bréhier, e não necessariamente para formas e medidas (tempo e espaço
Fílon, não querendo, portanto, dizer em si), também é “criado” (ou, pelo
que este haja sido influenciado por menos, concebido, ordenado, harmo-
nizado) por Deus: “Deus está então
18
1949c, p. 145.
19
Cf. 1961a, p. 144 et seq.; as demais passa- 20
Cf. 1950, p. 80-82. V. WOLFSON, 1982, I,
gens de Fílon encontram-se nas páginas 146
p. 300 et seq.
a 155. 21
Cf. op. cit., p. 90, 97.
22
Id., ibid., p. 72.

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na ordem do uno e da mônada; ou mentário, a partir do qual o Logos


antes a mônada na ordem do Deus estóico ganha sentido na doutrina
único: pois todo número é mais re- platônica.27 “Posidonius modificou a
cente que o mundo, e também o teoria de Platão sobre as Idéias, que
tempo; Deus é o mais velho e o de- ele identificou, por um lado, com as
miurgo do mundo”23. É o que diz forças ativas ou logoi espermáticos
Bréhier, ao referir o “sincretismo es- do estoicismo, e, por outro, com os
tóico-platônico de Posidonius”24. números pitagóricos.”28 Com isso,
tem-se estabelecida a identificação
Certos platonistas, como Speusi- entre o Logos filoniano e o mundo
ppo [sucessor de Platão na Aca- platônico das Idéias. A mesma chega
demia], ficavam muito escandali- a ser manifesta por Fílon em passa-
zados ao ouvir falar da geração de gens como os §§24-25 (e, indireta-
entes matemáticos, isto é, da ge-
mente, no §35) do De opificio...29
ração de seres eternos. É, ao con-
trário, um dos pontos sobre os Wolfson, por sua vez, desenvolve a
quais mais insistem Geminus e teoria de que Fílon teria uma inter-
Posidonius, a possibilidade de en- pretação particular do Timeu nortea-
gendrar pelo movimento as formas da pelo relato bíblico da Criação
geométricas.25 (1982, I, 304 et seq.), a que Gu-
ttmann apresenta sua discordância
Falando-se em Posidonius, um tanto em nota final ao seu comentário so-
anacronicamente considerado por bre Fílon (1964, 415, n. 48, cont.).
Guttmann como o fundador de uma
“versão neoplatônica do estoicis- Sobre esta questão, Wolfson ainda
mo”26, alguns comentadores vêem nota que Fílon é o primeiro a utilizar a
recair sobre Fílon uma influência denominação kosmos noètos, difun-
muito forte e presente de seu co- dida pelos neoplatônicos, e talvez
mentário ao Timeu. Embora a con- cunhada por ele mesmo. Platão, por
cepção de mundo inteligível tenha sua vez, apenas se referira a um
sido herdada de Platão, a unidade de noètos topos (1949a, VI, 20, 509 d,
princípio aí introduzida – i.e., as Idéi- 140; VII, 3, 517 b, 149), a um hype-
as passam a depender de Deus, que rouranios topos (1954, 247 c, 38), ou
é sua causa – remete àquele co- mesmo a um noètô zôon (1949c, 39
e, 154). Já o kosmos asomatos
23
FÍLON, 1962a, II, §3, p. 107; cf. também (1949b, 64 b, 88) não se refere a um
1961a, §§16 et seq., p. 150 et seq. Na verda- “mundo”, mas, literalmente, a uma
de, uma análise cuidadosa dos textos de Fí- ordem incorpórea.30 Cf. WOLFSON,
lon e Platão sobre o assunto dá a impressão 1982, I, p. 227. Efros concorda, di-
de que, realmente, de um modo geral, não há
zendo: “O mundo das Idéias de Pla-
grande divergência. Cf. BRÉHIER, op. cit., p.
71, 81-82.
24
“Posidonius d’Apamée, théoricien de la 27
Cf. BRÉHIER, 1950, p. 90, 97, 154;
géométrie”, p. 127, in 1955, p. 117-130, origi- BEVAN, “Posidonius”, in 1927, p. 93-94, 99-
nalmente publicado na Revue des études
103; Runia, verbete “Philo of Alexandria”, in
grecques, vol. XXVII, janeiro/março de 1914,
CRAIG, 1998, VII, p. 359; GUTTMANN, 1964,
p. 44-58.
25 p. 25.
Id., ibid., p. 128. 28
BRÉHIER, op. cit., p. 97.
26
1964, p. 22. Sobre a importância do plato- 29
1961a, p. 157/159, 163. V. BRÉHIER, op.
nismo e sua combinação a concepções estói-
cit., p. 112-113.
cas na obra de Fílon, v. LEWY, 1969, p. 23- 30
1982, I, p. 227.
25.

An. Filos. São João del-Rei, n. 10. p. 169-190, jul. 2003


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tão era real à custa deste mundo de só é possível à alma inteira e definiti-
reflexos e cópias, de modo que, on- vamente purificada, purificação esta
tologicamente, há somente um mun- entendida, por Fílon, como “a supres-
do; outrossim, suas idéias eram com- são da vida do corpo e das paixões e
pletamente inertes, como pinturas em de toda a parte irracional da alma, a
um sonho”. O dualismo ontológico inteligência se absorvendo então em
dos dois mundos, o físico e o metafí- seus objetos próprios, que são os in-
sico, não aparece na filosofia grega teligíveis”33, pois “o mundo inteligível
ou no paganismo, tendo sua origem só pode ser alcançado se se aban-
no Judaísmo: “na Bíblia nós temos a dona este mundo sensível e visível”34
primeira proclamação de dois mun- – em ambos os casos, trata-se de
dos ativos”.31 uma graça recebida em função e na
medida exata de desapego ao corpo,
No entanto, as distinções não se res- ao sensível. O propósito mesmo do
tringem à mera dependência do inte- homem é este “retorno à sua origem
ligível em relação ao demiurgo, pelo celestial”, idéia também “expressa
que a identificação feita por Fílon se pela noção de que a vida contempla-
nos mostra como simples aproxima- tiva é o mais elevado fim do ho-
ção, mais do que sincretismo. A mais mem”.35
marcante dessas distinções remete à
questão epistemológica, que é tam- Nesse caso, o retorno da alma ao
bém uma divergência de princípio. sensível (metempsicose) implicaria
imperfeição e, por conseguinte, inca-
III. O abismo epistemológico: pacidade mesmo de apreensão das
contemplação X revelação e as- Idéias em si mesmas, mas Fílon se
cese afasta ainda mais de Platão, e parece
rejeitar de saída a própria possibili-
Como bem nota Bréhier,32 não se in- dade de um segundo nascimento na
tui as Idéias pela razão, mas é Deus sensibilidade, uma vez que diz que
a revelá-las aos profetas, o que é “esperando aqueles que vivem à ma-
uma graça, pois são, ordinariamente, neira dos ímpios estará a morte eter-
incognoscíveis a quem vive no mun- na”36. Esse retorno ao mundo divino,
do sensível. O mundo inteligível não em Fílon como na teologia bíblica,
é um mundo de meras formas exem- consiste em uma promessa, em um
plares e noções inatas, gravadas no presente de Deus, não em uma ne-
inconsciente e passíveis de redesco- cessidade, como aparecia em Platão,
berta por meio de uma reminiscência, pelo que não encontramos explicitada
nem constituem meio de conheci-
mento das essências pela alma li- 33
Ibid., p. 190; v. também p. 204-205. V.
berta temporariamente da prisão cor- FÍLON, 1996a, §9, p. 137 (in LEWY, 1969, p.
poral, como nos diz Platão em diálo- 72); 1964, §33, p. 49.
34
FÍLON, 1962b, I, §186 (fim), p. 101.
gos como o Mênon, o Fedro, o Fédon 35
Cf. GUTTMANN, 1964, p. 27; FÍLON,
e A república. Seu acesso, fora o 1961a, §54, p. 175/177 (in LEWY, op. cit., p.
caso da espontânea revelação divina, 53-54); 1958a, §5, p. 97; 1996a, §47 (início),
p. 159; 1996b, §68, p. 317; 1953a, I, §86, p.
54; III, §11, p. 195-196.
31 36
1976, p. 8. 1958c, §39 (fim), p. 351. V. comentário de
32
Cf. op. cit., p. 152-153. Wolfson a este trecho: op. cit., I, p. 409.

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176 NASCIMENTO.Dax F. M. Paes. O Logos Filoniano e o Mundo Platônico das Idéias

em Fílon a doutrina da metempsico- sete sempre virgem” (isto é, se-


se, nem mesmo a afirmação dogmá- gundo a sabedoria). O profeta que
tica da imortalidade da alma, susten- renasce assim é oposto ao homem
tada por Platão sobre a noção de ne- terrestre (protoplastou).
Essa passagem aproxima a doutri-
cessidade e em defesa de uma tele-
na da imortalidade do mistério da
ologia. geração por Deus e pela Sabedo-
ria [donde nasce o Logos]. Mas
A imortalidade, de qualquer manei- não é mais um nascimento, e sim,
ra, não é própria às almas racio- uma regeneração, um rejuvenes-
nais por sua própria natureza; é cimento.39
uma dádiva de Deus, e Deus, que
as criou, pode também destrui-las; Não é, desse modo, uma visita “en-
por conseguinte, somente as al-
tre-vidas”, parecendo mais remeter à
mas dos justos que mereceram a
dádiva da imortalidade sobrevi-
concepção judaica de t’shuvah (arre-
vem, enquanto que as dos perver- pendimento, retorno a Deus), que só
sos podem ser destruídas.37 tem validade quando não há reinci-
dência no erro – trata-se mesmo de
Diversamente do que encontramos Salvação, Redenção, Remissão. “O
em Platão, o conhecimento das Idéi- arrependimento definitivo tem por
as corresponde, aqui, ao reconheci- efeito o perdão de Deus e a remissão
mento da natureza divina (que há em dos pecados; por ele a antiga vida foi
cada um), a ciência máxima a ser apagada e nós renascemos para uma
atingida pelo espírito humano feito vida nova.”40 Ou seja, uma alma im-
imortal, marcando o momento em perfeita não terá acesso às Idéias,
que o mesmo passa a fazer parte do sendo “necessário que a alma se
mundo inteligível. “Esse mundo é, abra ao arrependimento, irmão ca-
pois, como o lugar da imortalidade, a çula da perfeita inocência”41, que en-
morada das almas puras donde se contramos no homem inteligível.
contempla a natureza de Deus. Com-
binou-se, então, a teoria dos anjos, Fílon não parece interessar-se por
que emprestam às Idéias um pouco aquilo que, no arrependimento,
de sua personalidade.”38 estaria ligado ao homem em sua
condição precária e instável. Ele
não fala do pesar das faltas, não
Em um texto importante das
Questões sobre o Êxodo, Fílon
considera a imortalidade como um 39
BRÉHIER, op. cit., p. 242. Sobre o Logos
“renascimento” sob a forma de como filho de Deus e Sophia: ibid., p. 117. De
profeta. O primeiro nascimento do fato, embora Fílon se refira a essa nova vida
homem é carnal: ele vem de pais pelos termos “novo nascimento” (palinghene-
mortais; no segundo, simples e sian – 1963a, §114, p. 74) e “segundo nasci-
sem mistura, ele não tem mãe, mento” (deutera ghenesis – 1953b, II, §46, p.
91-92, passagem comentada por Bréhier),
mas somente um pai, o pai do uni-
não está tratando efetivamente de uma res-
verso, e este nascimento se faz surreição conforme se especulava em seu
“segundo a natureza do número tempo, senão como uma metáfora para des-
envolver sua teoria da imortalidade da alma –
37 sobre isto, cf. WOLFSON, op. cit., I, p. 404 et
WOLFSON, 1982, I, p. 416. seq., onde encontramos ampla discussão
38
BRÉHIER, 1950, p. 153. Confrontar com o sobre o tema.
que diz Wolfson: op. cit., I, p. 375; v. também 40
BRÉHIER, op. cit., p. 306-307.
p. 402-404. 41
FÍLON, 1962b, I, §91 (fim), p. 61.

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NASCIMENTO.Dax F. M. Paes. O Logos Filoniano e o Mundo Platônico das Idéias 177

diz uma palavra acerca de uma ações à sua vontade guiada pelo
meditação sobre a fraqueza hu- bem.42
mana, sobre as resoluções a to- Portanto, é como o retorno ao Paraí-
mar, sobre a gravidade daquilo so, o reencontro da própria natureza
que o Cristianismo chamará de inteligível e imortal.
pecado. O arrependimento é para
ele exatamente o que significa o Identificar o logos reto [orthos lo-
grego metanoia: é uma modifica- gos] com nous (o que parece ser
ção de espírito, é uma outra visão, bem o pensamento estóico) seria
uma visão íntegra do mundo que dar ao homem o poder de produzir
substitui uma visão corrompida. O por si mesmo toda virtude e todo
arrependimento, em seu sentido bem; é então necessário separar o
fundamental, é o reconhecimento, logos do homem como um princí-
a confissão e a reverência que o pio superior e transcendente ao
homem dedica a Deus, ao Deus qual deve ascender; o homem não
único, que é preciso adorar esque- está no logos e na sabedoria se-
cendo-se dos ídolos, ao Deus de não em potência; crer que sua in-
luz que é preciso apenas contem- teligência pode por si mesma
plar esquecendo-se das brumas contemplar os inteligíveis, sua
dos mitos imaginativos. O arre- sensação atingir os sensíveis, é
pendimento é um retorno à memó- afastar-se o mais possível da ra-
ria daquilo que é digno de ser lem- zão correta. Compreende-se então
brado (...). Além disso, sendo es- a necessidade de uma razão ideal
pecificamente humano, o arrepen- e transcendente ao homem que
dimento só é realmente uma virtu- constitui o propósito de sua ativi-
de no momento em que faz apare- dade e o fim de seu progresso.
cerem para a alma a majestade e Mas quando esse logos divino for
a bondade do Deus único, de tal atingido pelos perfeitos, não have-
maneira que a alma não pensa rá mais diferenças entre a alma
mais em sua falta, mas, sim, é in- perfeita e o logos; ela não será go-
teiramente arrebatada nessa pre- vernada pelo logos, ela mesma
sença reencontrada do Criador e será logos. Por outro lado, para
Pai de todas as coisas. É por isto tornar possível este progresso, é
que Fílon escreve que o arrepen- necessária ao homem uma facul-
dimento é o apanágio do homem dade racional (dynamis loghikè) e
sensato, ou seja, que é uma sabe- ao menos uma possibilidade de
doria. obtê-lo; é neste mais baixo grau
Compreende-se então que haja que se coloca a sabedoria huma-
um arrependimento essencial, que na, que é o germe de bem de que
comanda todos os outros, pois nenhum ser é privado, a noção
aquele que retornara a Deus, de- inata ou comum do bem que faz
sertará imediatamente do campo com que o homem não possa des-
do vício para passar àquele da culpar suas faltas por sua ignorân-
virtude; da desordem de sua vida cia; ela é um sopro leve (pnoè) e
passada, ele voltará para a mais não o sopro poderoso (pneuma)
bela ordem, a mais coerente e que anima o homem ideal; mas ela
harmoniosa, a ordem desejada por não tem sentido senão com res-
Deus. Suas palavras ajustar-se-ão
ao seu julgamento correto, suas
42
ARNALDEZ, “Introdução” a De virtutibus
(1962c, p. 22-23). O trecho desta obra dedi-
cado ao arrependimento corresponde aos
§§175-186 (p. 127-133).

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178 NASCIMENTO.Dax F. M. Paes. O Logos Filoniano e o Mundo Platônico das Idéias

peito à sua origem, o logos divi- Lá, sim, se contempla a presença di-
no.43 vina.
Por isso, como cada alma tende a Quando Abraão atingiu o estágio
progredir moralmente e tornar a ser final de realização mística marcado
pura e imortal como os logoi, como por sua aquisição de um novo
os anjos, puros e incorruptíveis por nome, ele entrou na verdadeira
natureza, cada uma também tende a Sabedoria, tornou-se o tradicional
tornar-se, por assim dizer, também Sophos, tornou-se puro “intelecto”,
uma Idéia, ou, melhor dizendo, ser às que é uma “virtude mais perfeita
do que aquela que é repartida com
Idéias incorporada.
a espécie humana”.46
Segundo a teoria do microcosmo,
Nesse caso, é tolerado o “culto” do
o mundo não é mais apenas o todo
de que o homem é uma parte, mas mundo, embora não como divindade,
o modelo que ele deve esforçar-se mas enquanto intermediário entre o
por imitar; ele não é por natureza homem e Deus, tal como eram acei-
microcosmo, mas assim se torna tos os cultos a Logos e Sophia –
pela sabedoria; então as relações mesmo porque o culto perfeito a
numéricas que constituem a ordem Deus é, para Fílon, impossível ao
do mundo se reproduzem no indi- homem (1996b, §84, 325). Não há
víduo [cf. FÍLON, 1961a, §§117- contradição, pois Logos e logoi – com
125, p. 221-225; 1962a, I, §§8-16, os quais Sophia é por vezes identifi-
p. 43-47].
cada – são como seres intramunda-
Mas assim como a alma mais ele-
vada na ascensão rumo a Deus nos, imanentes a todas as coisas.47
não mais obedece aos logoi, e sim Em síntese, temos que
os tem por companheiros de es-
trada, o sábio verdadeiro não é em Platão, é por uma dialética
mais inferior ao mundo, mas se gradual que a inteligência se eleva
torna igual a ele em dignidade [v. às Idéias; Fílon, ao contrário, des-
id., 1958d, §37, p. 25].44
também podem ser encontradas em De gi-
Nesse contexto, a emigração de gantibus, §§60-64 (1963b, p. 49-53 [§§60-61
Abrão de Ur para Canaã é entendida in LEWY, 1969, p. 36]), e De cherubim, §§3-7
como das ciências e da divinização (1963a, p. 19/21). V. também FÍLON, 1962b,
dos astros (caldeísmo) para a religião II, §§255-258, p. 225/227.
46
GOODENOUGH, 1988, p. 28, citando
verdadeira, do sensível ao inteligível, FÍLON, 1953a, III, §43 (p. 235-238). Abrão
o mundo das idéias incorruptíveis.45 tem seu nome mudado para Abraão em Gê-
nesis, 17:5, pouco após haver-lhe sido con-
43
firmada a promessa da terra de Canaã
BRÉHIER, 1950, p. 95-96. V. FÍLON, (15:18). V. também FÍLON, 1962a, III, §§83-
1962a, I, §§33 et seq., p. 57 et seq. 84, p. 217/219; 1963a, §§4 e 7, p. 21; 1963b
44
BRÉHIER, op. cit., p. 173. V. crítica de Gu- (De gigantibus, §§62-64), p. 51/53; 1964,
ttmann ao misticismo filoniano: 1964, p. 28- §§66-76, p. 63-67; 1959a, §§82-88, p. 45-49.
29. Sobre a aplicação por Fílon da teoria do 47
Cf. BRÉHIER, op. cit., p. 174; v. também p.
microcosmo no que se refere ao dualismo 95-96, 100-101. Sobre a identificação entre
mente/corpo, ou mesmo à divisão das almas Logos e Sophia, com as respectivas referên-
em racional e irracional, v. p. ex.: 1961a, §82, cias em Fílon, v. ibid., p. 113, 115 e 116. V.
p. 197, e 1996b, §§230-236, p. 397-401; v. também WOLFSON, op. cit., I, p. 255 et seq.,
também WOLFSON, 1982, I, p. 424-425. que ainda traz referências bíblicas que legiti-
45
Cf. BRÉHIER, 1950, p. 100, 173; FÍLON, mam tal assimilação, considerando mesmo
1996a, §§176-198, p. 235-249. Alusões a isto que se tratam de dois termos intercambiáveis.

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NASCIMENTO.Dax F. M. Paes. O Logos Filoniano e o Mundo Platônico das Idéias 179

creve uma metamorfose completa logoi, sendo constituído, por meio do


da inteligência ela mesma. Fílon Logos que o compreende ou encerra,
acrescenta a Platão uma distinção a partir de divisões dicotômicas entre
nova [além daquela entre sensível espécies “boas” e “más”. Por exem-
e inteligível], a das duas inteligên-
plo, o mundo inteligível também con-
cias: a inteligência terrestre, entra-
da no corpo, e a inteligência pura tém as idéias do sensível e da sen-
que ele chama também de homem sação, pelo que é possível que o
celeste ou imagem de Deus. Esta mundo visível exista, enquanto que,
distinção tem seu fundamento em no Logos, esse antagonismo e todos
um sentimento mais claro da dis- os demais se encontram unificados.50
tância intransponível entre os dois Ao falarmos do Logos, não devemos
mundos, e um colorido mais religi- imaginá-lo como sendo definido por
oso. O mundo inteligível está para seu conteúdo, tal como tendemos a
o mundo sensível como o sagrado fazer diante da expressão “mundo
para o profano, e o ser humano,
inteligível”. O Logos não se reduz a
com sua inteligência, não pode so-
nhar em penetrá-lo; as naturezas seu conteúdo: é a própria Unidade do
inteligíveis são, pois, incompreen- mesmo, seja qual for, inteligível ou
síveis ao homem. Só o profeta que não; por isso há um Logos transcen-
não é mais uma inteligência hu- dente e um Logos imanente. O Lo-
mana pode entrar lá.48 gos, portanto, poderia ser considera-
do não como um simples mundo das
IV. Logos: imagem de Deus e Idéias, mas como a Idéia por exce-
paradigma do mundo lência, a “verdade”, a “virtude genéri-
ca”, o “Arcanjo”, um “gênero supre-
Outra importante diferença: o Logos mo”, que encerra em si o mundo de
não está no mesmo nível ontológico todas as Idéias, enquanto os logoi
do mundo inteligível, que, na verda- seriam os intermediários nele unifica-
de, é formado por imitações do Logos dos, as “opiniões”, as “virtudes inteli-
sobre o modelo de Deus, o que é di- gíveis”, os “anjos”, as “espécies”.51
zer que o Logos “está entre ambos”.49 Embora cada um dos logoi também
Em outras palavras: o Logos imita o consista em uma mônada, indivisível
modelo monádico de Deus, que é su- e simples como o próprio Deus, sua
perior à própria Mônada − esta, nada
50
mais é do que a mais elevada intui- Cf. id., ibid., p. 71-74, 78, 93, 139, 155. V.
ção ou idéia possível ao homem, mas FÍLON, 1961a, §§8 (fim), 16-22 e 33-36, p.
ainda atrelada à sensibilidade, pois 147, 150-157 e 160-163; 1962a, I, §§1, 21 et
seq., p. 39, 49-53. De fato, esta unidade mo-
pode ser “representada”. Já o mundo nádica também pode ser atribuída ao mundo
inteligível agrega uma pluralidade de inteligível em sua totalidade (cf. p. ex. FÍLON,
1996b, §190, p. 379), sendo apenas por isto
48
que optamos, como formalidade, por distingui-
BRÉHIER, op. cit., p. 191-192. Esta distin- los.
ção entre inteligências, com efeito, faz lem- 51
Cf. BRÉHIER, 1950, p. 92-93, 139, 113.
brar aquela entre nous poiètikos e nous pa- Para alguns exemplos de atributos conferidos
thètikos em Aristóteles (1998, III, 5). Sobre o por Fílon ao Logos e aos logoi, v. FÍLON,
homem inteligível, criado por Deus à Sua 1963d, §§28, 81, 146, p. 57, 84, 123; 1962a,
imagem e semelhança no sexto dia (Gênesis, II, §237, p. 218; III, §177, p. 273; 1958c, §§89-
1:26-27), v. FÍLON, 1961a, §§69-88, p. 186- 92, p. 377/379; 1996b, §205, p. 385; 1962b, I,
201 (§§69-71, 77-78 in LEWY, op. cit., p. 54- §§115, 148 (fim), 239 (fim), p. 73, 87,
56). 122/123; 1953a, III, §11, p. 196; 1958a, §57,
49
Cf. BRÉHIER, op. cit., p. 157, n. 3. p. 136; 1964, §§52, 87, p. 56, 71/72/73.

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180 NASCIMENTO.Dax F. M. Paes. O Logos Filoniano e o Mundo Platônico das Idéias

combinação produz o número, e, com


isso, a multiplicidade.52 Diante disto, Bréhier termina por con-
cluir que a influência do platonismo
Pois a série completa de números sobre Fílon é bem mais – digamos –
até o infinito multiplicada pelo infi- pontual do que pretendem muitos de
nito termina, quando analisada, na seus críticos – e, na realidade, boa
unidade, e começa com a unidade parte do que vem de Platão já havia
quando ordenada em uma série sido tomada de empréstimo a Pitágo-
ilimitada. E assim, quem quer que
ras.
estude tais questões, declara que
a unidade não é de modo algum
um número, mas o elemento e a O platonismo é para ele particu-
fonte da qual o número dimana.53 larmente importante; mas não re-
colhe tudo, nem mesmo o princi-
pal. Ele vê antes de tudo o de-
A cada nível que se desce, em suma,
miurgo do Timeu que cria o mundo
devido à crescente imperfeição e a por um ato de bondade, o amor
uma multiplicidade cada vez maior de intermediário entre o homem e o
unidades substanciais que tendem a bem, e o mundo inteligível; esse
se interrelacionar produzindo com- mundo não é para ele, todavia, um
postos, temos uma maior diversifica- princípio de explicação senão na
ção do mesmo princípio único e medida em que é a morada dos
transcendente, que é Deus. Se o Lo- profetas e dos inspirados que lá vi-
gos é como a mente de Deus, o vem uma vida eterna, separados
mundo inteligível é como a mente do do corpo. Ele apenas recebe do
platonismo aquilo que implica uma
homem.
relação moral entre Deus e a alma
humana.55
Se Fílon chama esse mundo inte-
rior um mundo inteligível, quão
Por fim, no que diz respeito a essa
longe estamos nós do sentido de
Platão? Não é mais aquele pen-
doutrina da ascese, vale agora des-
samento, por assim dizer, conden- tacar uma distinção que não se en-
sado, que Platão objetivava sob o contra em Bréhier, em provável de-
nome de Idéias, é um mundo mo- trimento de sua compreensão do
ral penetrável à alma; é o lugar tema tal como o trata Fílon, mas é
mesmo do progresso moral [que é oportunamente feita por Wolfson.
interior] e da libertação definitiva; é Como vimos, há uma diferenciação
em uma só expressão a consciên- qualitativa não apenas entre Deus e
cia moral, entidade, a um só tem- Seu Logos como também entre o Lo-
po, exterior porque diferente de
gos e o mundo inteligível. Wolfson
nós, e interior porque inteiramente
unida à nossa alma.54
ainda trata os anjos como imanentes,
e não como simplesmente ideais, o
que talvez se deva ao fato de lhes
52
Cf. BRÉHIER, op. cit., p. 90. serem atribuídas “personalidades”
53
FÍLON, 1996b, §190, p. 379. diferenciadas, uma vez que são enti-
54
BRÉHIER, op. cit., p. 296-297. Em De
somniis, II, §§246-253 (1962b, p. 223/225; in dades distintas.56 Isto os coloca, de
LEWY, 1969, p. 81-82), Fílon considera a fato, em um nível qualitativamente
alma do sábio como “a residência e a cidade
de Deus” – v. também ibid., I, §149, p. 87: a
55
alma é potencialmente a residência e o tem- BRÉHIER, 1950, p. 316.
56
plo de Deus. Cf. 1982, I, p. 375-379, 396.

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NASCIMENTO.Dax F. M. Paes. O Logos Filoniano e o Mundo Platônico das Idéias 181

inferior ao das Idéias, embora sejam cial de Moisés, que (identificado por
inteligências puras,57 incorpóreas, Fílon com o próprio Logos, ou Ar-
imortais e incorruptíveis, pois já esta- canjo: 1953a, IV, §8, 282) é elevado
riam mais próximos da alma racional acima de todas as espécies e gêne-
do homem, ou inteligência humana, ros, alcançando a Presença Divina e
que se contrapõe à alma irracional, sendo posto por Deus ao Seu lado
que é composta, corpórea, mortal e como a mais pura inteligência.61
corruptível.58
Abramos, então, um parêntesis: Em
Pois bem. Haveria em Fílon três ní- última instância, essa purificação pela
veis de ascese relativos a três níveis qual se renasce para a imortalidade
de virtude. O primeiro consistiria na está ligada ao caráter monádico da-
simples libertação da alma racional, quilo tudo que Fílon se permite de-
que passaria a viver em um mundo nominar “imagem de Deus”. A unici-
divino (Céu) dentre outras almas in- dade, a simplicidade do Logos, do
corpóreas e os anjos que lhes são mundo inteligível como um todo, bem
semelhantes, à diferença de que es- como de cada Idéia separadamente,
tes últimos, por opção, jamais encar- da alma racional, da inteligência pura
naram59. Este seria o caso dos pa- e sem mistura etc., implica que haja
triarcas Abraão e Jacó, bem como do uma certa indistinção entre si. Por
profeta Elias e, provavelmente, de mais que Fílon procure hierarquizar
todas as almas justas, que passariam qualitativamente esses “modelos” e
a viver junto ao povo de Deus. En- “imitações” como tais – talvez por
tretanto, este não é o lugar de todas uma questão didática, retórica ou de
as almas imortais. Isaque – que, para organização expositiva –, tal empe-
Fílon, personifica a perfeição da nho não pode produzir nada além de
alma, pois é o filho da virtude, simbo- metáforas, uma vez que o critério le-
lizada por Sara –, o sábio autodida- gitimador de qualquer hierarquização
ta,60 não é simplesmente incorporado não pode ser aplicado com rigor aqui
ao povo de Deus, mas à sua raça ou em razão mesmo do que Fílon define
ao seu gênero (ghenos), o que Fílon como imortalidade: ausência de qua-
entende como uma descrição das lidades – obviamente, não no mesmo
Idéias, uma espécie de idéia que está sentido em que a matéria é destituída
acima de suas hipóstases; não é de qualidades, mas no sentido de
mais uma simples alma, mas a pró- que, enquanto mônadas, não podem
pria Idéia que lhe serve de modelo. ser distintas senão por contraste,
Aqui, sim, já temos a noção de incor- como sugeriremos mais à frente, haja
poração ao mundo inteligível, como visto que suas propriedades não são
Fílon diz haver acontecido com Eno- manifestas senão no plano da ima-
que. Finalmente, temos o caso espe- nência, através de suas reproduções
sensíveis, ou representações. Afinal,
57
São da mesma natureza da mente, ou in-
telecto. Cf. FÍLON, 1963b (De gigantibus, §9), 61
Cf. WOLFSON, op. cit., I, p. 400-404. Em
p. 27; WOLFSON, op. cit., I, p. 370. FÍLON: 1958a, §5-10, p. 97/99/101; 1953a, I,
58
V. FÍLON, 1962a, I, §32, p. 57; 1963b (De §86, p. 54; III, §11, p. 195-196; 1959b, II,
gigantibus, §§12-14), p. 27. §288, p. 593 (in LEWY, 1969, p. 79). Na Bí-
59
Cf. id., 1963b (De gigantibus, §12), p. 27. blia: Gênesis, 5:24; 25:8; 49:33; 35:29; Deute-
60
Cf. BRÉHIER, op. cit., p. 143, 234-235, 278, ronômio, 34:10-11 (Fílon baseia-se em 5:31);
n. 5. V. também p. 27. II Reis, 2:11.

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182 NASCIMENTO.Dax F. M. Paes. O Logos Filoniano e o Mundo Platônico das Idéias

como também dirá Fílon, nomear, postos, dotados de qualidades – e


distinguir qualidades, é algo próprio nós tomaremos nosso impulso
ao intelecto imerso na transitoriedade rumo a um novo nascimento, den-
do mundo sensível e plural. É como tre os seres incorpóreos [meta
asomaton], não-compostos
se, na eternidade, só houvessem tra-
[asynkritoi], não-dotados de quali-
ços inapreensíveis em si mesmos e dades [apoioi].63
indiscerníveis entre si.
Devemos ainda tratar da identificação
Devemos reconhecer, entretanto, que entre Deus e as Idéias, ou a conside-
nossa tentativa de explicação con- ração de Deus enquanto Idéia, o que
siste em mera sugestão a fim de que pode chegar a ser lido em Platão,
possamos prosseguir. Fílon não trata ainda que isto não apareça como
detidamente do que viria a ser esta uma constante. Trata-se de uma as-
“ausência de qualidades” na alma similação à Idéia do Bem, posto que
imortalizada, mas apenas na matéria. o bem é essencial a Deus (cf. PLA-
Simplesmente, encontramos aí um TÃO, p. ex., 1947, II, 18, 379 b-c, 83).
apoio para a conjectura de que a No entanto, Deus é também descrito
alma imortal, em seu mais elevado como causa dos bens (e apenas
estágio, possa ser como que “absor- destes) (ibid.) e produtor de Idéias
vida” por uma plenitude. De qualquer (id., 1948, X, 2, 597 b-d, 86-87). Pois,
modo, esse problema acompanha a parece que há, na verdade, não a
teologia desde seu princípio, e não identificação de Deus com a Idéia do
impede que Fílon distinga Moisés de Bem, mas, como em Fílon, com Sua
Deus, embora esteja em Sua Pre- própria bondade enquanto atributo
sença, assim como se conserva o fundamental, sendo natural que seja
enigma cristão da Santíssima Trinda- chamado tanto de “Bem” quanto de
de.62 Em que sentido a comunhão “Bom”, a exemplo do que ocorre no
com Deus permite a conservação ou Timeu. Em Fílon, isto parece ocorrer
sobrevivência da alma enquanto enti- em duas passagens: De Abrahamo,
dade distinta? A própria simplicidade §122 (1959a, 65), e De Decalogo,
que caracteriza as inteligências puras §134 (1958d, 73). No primeiro caso,
deve também fazer delas inteligên- não é Deus que é uma Idéia no sen-
cias idênticas, pois, caso contrário, tido platônico, mas Abraão a conce-
formariam compostos, o que parece bê-lo enquanto unidade, mônada, o
incompatível com a possibilidade de que significa simplesmente que o pa-
se “habitar a Presença divina”. triarca adquiriu o mais elevado co-
nhecimento a respeito de Sua exis-
É em um questionamento sobre a tência, sendo muito comum o uso do
transcendência da alma racional do termo idea nesta acepção. Segundo
homem que Fílon se refere a essa Fílon, conforme dissemos, as Idéias
sua ausência de qualidades, dizendo “não são auto-suficientes, pois são
que dependentes de Deus para sua exis-
tência”, não sendo do “mesmo grau
não seremos mais, nós que somos de simplicidade e pureza”. Na segun-
hoje providos de um corpo, com-
63
62 1963a, §114, p. 74/75; in LEWY, 1969, p.
Sobre o mistério da Una Trindade, v. FÍ- 31-32.
LON, 1953a, IV, §§2 et seq., p. 270 et seq.

An. Filos. São João del-Rei, n. 10. p. 169-190, jul. 2003


NASCIMENTO.Dax F. M. Paes. O Logos Filoniano e o Mundo Platônico das Idéias 183

da passagem, somos conduzidos ao total dependência do inteligível em


mesmo raciocínio, se delineando uma relação a Deus.66
relação entre a alma, a razão, ou in-
telecto humano, e o Logos transcen- Embora Fílon chegue a se referir às
dente e uno. O mesmo pode valer Idéias como sendo “eternas”, perce-
para o primeiro caso, na medida em bemos, como Wolfson, que isto deve
que vemos que o intelecto (ou logos) querer dizer, simplesmente, que elas
humano produz (concebe) pensa- são: (1) desde sua criação, perpé-
mentos analogamente ao intelecto tuas,67 pois não são feitas de matéria
(ou Logos) divino.64 nem formadas como os seres sensí-
veis, mas consistem em “emanações”
Desse modo, a relação entre Logos e e são, por isso, incorruptíveis – Fílon
mundo inteligível (que também é in- estaria como que tentando fugir à
terno ao homem, no que Fílon prece- concepção, muito presente em Aris-
de em muito Sto. Agostinho) somente tóteles, de que tudo o que nasce,
é possível se consideramos este úl- morre68 –; (2) ou mesmo eternas, em
timo em sua totalidade, como uma sentido próprio, mas apenas em sua
única Idéia (a do próprio mundo), en- condição originária, ou seja, anteri-
quanto unidade plural – apreendida ormente à formação do mundo inteli-
apenas enquanto “idéia de unidade” – gível – este sim, gerado –, quando
, mas sempre inferior àquela de que é ainda na mente de Deus, onde per-
imagem e que a contém, a saber, o manecem mesmo após a Criação,
Logos divino, ou intelecto de Deus.65 pois Deus jamais as ignora (e nem o
Portanto, toda Idéia é gerada assim poderia, visto que é onisciente). Mas
como gerado é o próprio mundo inte- é no primeiro sentido que Fílon utiliza
ligível, ainda que, desde então, seja a designação “Idéias”, ou seja, em
incorruptível, o que conflita com a referência aos inteligíveis criados por
doutrina platônica das idéias pree- Deus, não desejando meramente re-
xistentes. Consistentemente, diver- duzi-las aos Seus pensamentos; ao
samente do que diz Platão, para Fí- contrário, as considera entes reais,
lon, as Idéias, tal como as Potências ainda que invisíveis, enquanto para-
e o Logos, não só são modelos (pa- digmas de toda a realidade sensível.
radeigmata) como também, por sua
vez, imagens (eikona); imagens estas V. A tese de Wolfson sobre os
primárias do único modelo que não é três estágios e a criação do
imagem de coisa alguma: Deus. Em melhor mundo segundo a von-
dado momento, essas imagens pas- tade de Deus
sam a servir como modelos para cri-
ações subseqüentes. Por esta razão,
Temos aqui, pois, duas espécies de
Fílon se vê obrigado a diferenciar as “Idéias”. As assim chamadas por Fí-
imagens entre incorpóreas e visíveis,
ou sensíveis. Isto vale como uma ob-
66
servação terminológica acerca da 67
V. id., ibid., I, p. 226 passim.
Cf. ibid., I, p. 208-209, 222-223; v. também
p. 231 et seq., 321-322.
64 68
Cf. WOLFSON, 1982, I, p. 202-204. Sobre a combinação por Fílon das posições
65
Cf. id., ibid., I, p. 232-233, 236-237. de Platão e Aristóteles a respeito, em res-
posta à teoria estóica dos mundos sucessi-
vos, v. WOLFSON, ibid., I, p. 316.

An. Filos. São João del-Rei, n. 10. p. 169-190, jul. 2003


184 NASCIMENTO.Dax F. M. Paes. O Logos Filoniano e o Mundo Platônico das Idéias

lon, que são aquelas criadas, feitas las quais Fílon designa o Logos, ain-
paradigmas (Idéias, no sentido platô- da que não a considerando perfeita.70
nico) ou causas (Potências) do mun-
do sensível e constitutivas do mundo Esta distinção apresentada por Wol-
inteligível. Há também aquelas incri- fson, embora pareça extravagante no
adas, eternas, uma vez que são os sentido de parecer querer dar conta
pensamentos de Deus como um de uma contradição textual a qual-
todo, os quais, como Ele, existem quer custo, com efeito, parece explí-
desde sempre, pois seria contraditó- cita em Fílon quando este escreve
rio se o Deus de Fílon não pensasse que Deus, “havendo meditado sobre
desde a eternidade. fundar a grande cidade, concebeu
primeiramente seus tipos, [a partir]
Wolfson admite que não se trata da dos quais realizou, ajustando-os, o
interpretação comum dentre os estu- mundo inteligível, para produzir, por
diosos de Fílon, segundo os quais sua vez, o mundo sensível, servindo-
todo o inteligível existe apenas na se do primeiro [o inteligível] como
mente de Deus, ou seja, não foram modelo”71. Ou seja, Deus já pensa
objetivados, “projetados para fora” quando começa a conceber os tipos
dela. O autor atribui esse ponto de a serem hipostasiados. Estes, orde-
vista ao fato de tais estudiosos darem nados segundo Sua Vontade em um
mais atenção às concepções corren- mundo inteligível que não existia an-
tes no tempo de Fílon, como é o caso tes disto, passam a servir como pa-
de Bréhier, do que ao fato de que a radigmas ao mundo sensível.72
teoria da existência das Idéias como
seres reais apareceria posteriormen- Desse modo, o próprio termo “inteli-
te, sendo, portanto, possível que Fí- gível” adquire duas dimensões: (1) a
lon já as concebesse desse modo, e que, simplesmente, se opõe ao que é
é isto o que Wolfson procura mostrar sensível, porém passível de apreen-
com base nos próprios textos de Fí- são pela razão humana; e (2) a que
lon. Além desses dois estágios, o da escapa mesmo a este tipo de inteli-
eternidade na mente de Deus e o da gência, sendo concebível apenas
perpetuidade fora dela, ambos no pelo intelecto divino, ou que, sim-
plano da transcendência – primeiro, plesmente, consiste em objeto de
absoluta; depois, relativa –, haveria uma mente pensante (logos, como
um terceiro, que seria o da imanên- eqüivalente a nous) que precedera a
cia, já no mundo sensível criado.69 Os mente humana, ou seja, a de Deus –
três estágios de Sophia (e do Logos) o Logos –, pelo que prescinde da ra-
podem ser discernidos ainda no zão humana e do próprio mundo inte-
deuterocanônico Sabedoria de Salo- ligível.73
mão, como mostra Wolfson mais adi-
ante. Kahn é um comentador que não
só aceita como aplica a interpretação 70
Cf. nota complementar nº 26 a De confusi-
de Wolfson ao tratar das formas pe- one linguarum (1963d, p. 176-182); sobre os
três estágios das potências, nº 31, p. 184-186.
71
69 1961a, §19, p. 153/155.
Cf. ibid., I, p. 239-240, 356. 72
Cf. WOLFSON, 1982, I, p. 209-210. V. p.
223, 226 et seq.
73
Cf. id., ibid., p. 228-230. Sobre a relação
entre logos e nous, v. p. 230-231, 245-247.

An. Filos. São João del-Rei, n. 10. p. 169-190, jul. 2003


NASCIMENTO.Dax F. M. Paes. O Logos Filoniano e o Mundo Platônico das Idéias 185

As implicações disto são várias. Há Naturalmente, pois, quando dizemos


dois pressupostos, interligados em “um mundo abaixo de suas potencia-
Fílon, que são importantes nesta lidades”, estamos nos referindo às
questão que ora abrimos: são eles o potencialidades do mundo, não de
da simplicidade de Deus e o da incor- Deus, pois não há limites para Suas
ruptibilidade do mundo, ou seja, o da graças − diz Fílon −, mas estas só
impossibilidade de sua extinção ab- podem ser concedidas segundo as
soluta – teoria tida por Fílon como capacidades daqueles que as rece-
uma “monstruosidade mítica”, e bem, o que é dizer que Deus cria os
mesmo uma “atrocidade”, uma vez melhores receptores possíveis.76
fundada na indistinção entre Deus e
universo74 – ou de sua re-criação, Mas como Deus, que é simples, pode
constituindo argumento elaborado “escolher” o “melhor mundo”? Sendo
contra a tese estóica. Sendo simples simples, Seus pensamentos e Sua
e completo (dado que não há falta), mente não podem diferir de Sua es-
Deus não é dependente de atributos sência... É neste sentido que temos a
para ser o que é. Logo, é imutável. identidade entre Deus (o ser pen-
Sendo imutável, ao criar, haja vista sante), Logos (a mente, nous; no ato
Sua bondade e Sua sabedoria, cria, de pensar, noèsis) e Idéias (os obje-
necessariamente, um mundo o mais tos pensados, noèta), e apenas aqui:
perfeito possível, o que apenas à em sua natureza última, em sua eter-
primeira vista parece remeter a Pla- nidade originária. Porém, ao decidir
tão. Por outro lado, não há nada que criar o mundo, faz com que esse Lo-
seja desconhecido para Deus, pois gos e essas Idéias não mais perma-
n’Ele não há falta. Nesse caso, Seu neçam “dentro” de Si, incriados, sen-
pensamento encerra todas as idéias, do como que “projetados para fora”
mas, ao criar, deve escolher as me- de Sua essência, o que não quer di-
lhores para que faça nascer o melhor zer que haja aí um efetivo desloca-
mundo possível, uma vez que, se por mento espacial. Melhor dizendo, ad-
um lado, é contraditório que Deus quirem existência própria, distinta do
crie um mundo abaixo de suas po- próprio Deus, e nisto consiste o ato
tencialidades, mais inconsistente é de criar: a transformação de uma
considerar que poderia haver um concepção em objeto, como na ana-
mundo melhor do que aquele criado logia do planejamento da cidade
por Deus, o mais perfeito dos seres (mundo inteligível) pelo intelecto (Lo-
posto que é o único auto-suficiente.75 gos) do arquiteto (Deus), utilizada por
Fílon em De opificio mundi, §§17-24.
74
Cf. BRÉHIER, 1950, p. 88; FÍLON, 1996b,
Com isso, a partir da Criação, o Lo-
§228, p. 397; 1995, §51 (fim), p. 221; v. tam- gos e o mundo inteligível que com-
bém id., 1996b, §§205-206, p. 385. porta passam a semelhanças criadas,
75
Cf. FÍLON, 1995, §§39-44, p. 211-215. V. imagens de Deus, ou seja, ex-
também 1958b, §154, p. 305. Sobre isto, v.
BRÉHIER, op. cit., p. 70-71; WOLFSON, op.
cit., I, p. 299-300. Sobre a imutabilidade de 315; 1962c, §102 (fim), p. 87). Diversamente,
Deus, comparar com o que diz Platão em A em Platão, a expressão também era aplicada
república, II, 19-20, 381 b-c (1947, p. 86-87). com relação às Idéias, tal como lemos no
Na verdade, Deus é o único a ser considera- Fedro (1954, 247 e, p. 39). V. WOLFSON,
do como “aquele que é realmente” (ho ontôs 1982, I, p. 210; GUTTMANN, 1964, 25.
ôn; to ontôs on; ontôs ontos theou) (cf. FÍ- 76
Cf. 1961a, §23, p. 157.
LON, 1958b, §160, p. 309; 1959b, I, §75, p.

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186 NASCIMENTO.Dax F. M. Paes. O Logos Filoniano e o Mundo Platônico das Idéias

sistentes distintos de Deus Ele-


mesmo.77 Estas considerações nos fazem lem-
brar a teoria, consagrada por Leibniz,
Daí podemos tirar como conseqüên- segundo a qual este mundo é afirma-
cia que há irrestritos pensamentos do como “o melhor dos mundos pos-
divinos que não correspondem aos síveis”. Mais que isto, talvez, pode-
paradigmas de nosso mundo (Idéias), mos encontrar uma perfeita sintonia
e – por que não? – inumeráveis mun- entre a teoria leibniziana e, pelo me-
dos possíveis que não vieram a ser nos, este ponto da doutrina exposta
por serem inferiores ao nosso atual, por Fílon. Curiosamente, na obra
ou “piores”, e que, por isso, teriam consultada, que se detém até Spino-
sido rejeitados por Deus em Sua za, Wolfson sequer alude a esta rela-
bondade e sabedoria, subsistindo ção.
apenas em Sua essência completa.
Não quer dizer que existam real- De qualquer modo, por meio desta
mente (pois sequer se teriam tornado interpretação, parece-nos ficar mais
mundos inteligíveis), mas apenas que claro o papel fundamental da Vonta-
são possíveis a Deus. Afinal, não de divina na Criação. Essa Vontade é
estamos habilitados para pensar que expressa pela escolha, necessaria-
Deus, em Seu poder e em Sua liber- mente livre, dentre uma gama de
dade, não poderia criar outro mundo pensamentos, dos tipos e das causas
que não este, nem mesmo que, em a servirem como parâmetros da reali-
Sua bondade, conceberia outro mun- dade sensível – os primeiros são (cri-
do melhor, e, ainda assim, optasse ados como) Idéias; as últimas, Po-
por este, razão pela qual a imperfei- tências. Com isso, no (ou pelo) Logos
ção que o constitui deve ter um pro- (transcendente), temos o mundo inte-
pósito, o qual somente é conhecido ligível ordenado pelo demiurgo se-
atualmente pelo próprio Criador. gundo uma base noética preexisten-
te. Em seguida, escolhidos os para-
(...) durante sua existência eterna digmas e causas, atua o Verbo (Lo-
na mente de Deus, elas [idéias e gos imanente), pelo qual as Idéias
causas] eram tão “infinitas” e tão são “proferidas” – i.e., em sentido
“ilimitadas” quanto o próprio Deus. próprio, levadas adiante – e o mundo
Por esta última declaração ele sensível vem a ser segundo seu mo-
quer dizer que as potências ou
delo inteligível. Vale ainda observar-
idéias, antes de sua criação como
seres reais, para servirem como mos que essa “preexistência” con-
um finito e circunscrito número de siste não em uma anterioridade tem-
modelos para o mundo finito e cir- poral em relação ao “em seguida”,
cunscrito, existiam na mente de mas em uma “precedência natural”,
Deus como um número infinito e ontológica, visto que as medidas do
ilimitado de modelos de uma vari- tempo, segundo Fílon, somente são
edade infinita de mundos possíveis estabelecidas no “dia um” da Criação
que Deus, se quisesse, poderia (1961a, §35, 163), “a partir do qual”
criar.78 temos a sucessão de números ordi-
nais (“segundo dia”, “terceiro” etc.).
77
Cf. WOLFSON, op. cit., I, p. 231 et seq. V.
também p. 242 et seq.
78
Em suma: (1) há pensamentos eter-
WOLFSON, ibid., I, p. 223. nos na mente de Deus, que, embora

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NASCIMENTO.Dax F. M. Paes. O Logos Filoniano e o Mundo Platônico das Idéias 187

incriados, não são exatamente Idéias que não se tornaram reais, existen-
no sentido platônico pois não têm re- tes. Somente Deus, sendo superior
alidade efetiva, instanciada, ou hi- ao Logos e a todos os atributos, é
postasiada; (2) pela Vontade, Deus, a capaz de conhecer a Si, pois qual-
partir do (ou no) Logos, cria o mundo quer coisa, qualquer qualidade que
inteligível, formado por idéias e cau- sejamos capazes de imaginar é inte-
sas, ou potências, ainda diversas das ligível ou produto de uma inteligibili-
platônicas pois não são reais desde dade, enquanto que o pensamento
sempre, mas perpétuas desde sua de Deus inclui mundos possíveis
criação e ordenação pelo demiurgo apenas para Ele, absolutamente
sob os princípios da Bondade e da ininteligíveis para nós, inapreensíveis
Justiça; (3) pelo Verbo, pela Palavra, mesmo para a mais perfeita das al-
ou Logos, Deus faz emergir à visibili- mas, quiçá para o próprio Logos.
dade o mundo inteligível, manifesto Nesse caso, apenas Deus, Ele-
no mundo sensível. Nesse esquema mesmo, é transcendência absoluta; a
também vale notar o caráter inteligí- transcendência do Logos é mera-
vel, ou espiritual, psíquico, da Vonta- mente relativa ao mundo de que é
de, em contraposição ao caráter sen- modelo, “o melhor possível”, onde se
sível, estético – ou mesmo corporal, manifesta como imanência, permitin-
somático – da Fala, que, neste con- do mesmo sua continuidade, ou sub-
texto, não é para Fílon mais do que sistência. Qualquer coisa inimaginá-
uma metáfora, a qual podemos notar vel que venhamos a “intuir” ou pre-
a que se deve, a saber, à relação di- senciar, não é, pois, realmente im-
reta com a criação da realidade sen- possível ou inconcebível neste mun-
sível. No entanto, a questão da apli- do, pelo que Fílon nega o milagre en-
cação por Fílon do dualismo men- quanto “coisa de outro mundo”,79 por
te/corpo à linguagem consiste em assim dizer. Afinal, não há outro
tema por demais complexo para que mundo real existente; simplesmente,
o tratemos aqui em meras linhas ge- não temos acesso cognitivo a toda a
rais. realidade, enquanto Deus conheceria
mesmo o “irreal”, e poderia mesmo o
Por fim, o mesmo esquema aponta “impossível”.
para outro tipo de diferença que há
entre Deus e Seu Logos. Este último 79
V. id., ibid., I, p. 351-354.
unifica tudo aquilo que o profeta há
de conhecer. No entanto, o próprio
Deus ainda escapa, pois mesmo o
Logos transcendente agrega as Idéi-
as relativas ao nosso mundo efetivo,
não incluindo aquelas outras “idéias”

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