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Planejamento em EaD

Profa. Irene Alves de Paiva


Profa. Marta Maria Castanho Almeida Pernambuco
Apresentação
O ponto central deste módulo é refletir sobre o planejamento de um curso de EaD. Uma
vez que já trabalhamos as especificidades da EaD, neste momento vamos nos voltar para a
dimensão do planejamento, visando responder duas questões gerais.

1 Que aspectos deverão ser considerados ao se planejar um curso?

2 Que aspectos deverão ser considerados ao se planejar uma disciplina?

Atividade 01
Retome as suas respostas dadas nas atividades anteriores e sintetize com as
suas palavras:
n   o que é EaD;
n   quais as vantagens e desvantagens da EaD.

A sua síntese deve ter apontado que na EaD o planejamento tem papel central, como
vimos na primeira parte deste módulo (p. 8):

O professor, por sua vez, tem que planejar com antecedência, pensar os materiais e a
maneira como vão ser trabalhados. Durante o processo, precisam estar informados
do que está acontecendo e antever a necessidade de materiais adicionais ou novas
abordagens do conteúdo, ou seja, a avaliação do processo tem que ser constante.

Atividade 02
Como professor e elaborador de projetos, você já deve ter feito diversos
planejamentos. Considerando a sua experiência, escreva no Moodle os aspectos
que você usa para organizar o planejamento de um curso, justificando o porquê
de cada aspecto utilizado.
Compare a sua resposta com a dos seus colegas. Todos usaram os mesmos aspectos
ou aspectos equivalentes? Refaça a sua resposta considerando as produções dos
seus colegas e, se for o caso, explicitando melhor as suas justificativas.

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Em geral, as agências financiadoras ou as direções das escolas nos pedem planejamentos
que fazemos para cumprir uma exigência burocrática.
Usamos uma estrutura um tanto padronizada, preenchemos formulários, perdemos tempo
tentando entender a terminologia, como a diferença entre Metas e Objetivos, Indicadores e
Resultados. Ao final, fazemos um documento para enviar a uma outra instância para prestação
de contas. A partir daí, só retomamos esses documentos na hora de fazer relatórios.
Mas, ao trabalhar com EaD, precisamos prever as condições necessárias com
antecedência, acompanhar ações que ocorrem em lugares diferentes e que envolvem muitas
pessoas. Basta pensar como o número de alunos que atingimos é muito maior do que nos
cursos presenciais. Não estamos nos mesmos espaços nem encontramos cotidianamente os
professores autores, tutores, regentes de disciplinas para ir adequando as ações conforme
as necessidades de momento. Não há também uma tradição que defina e padronize as várias
ações, como ocorre nos cursos presenciais.
Essa novidade e abrangência da EaD possibilita-nos rever as ações tradicionais e
pensar o que manter e o que mudar. Por outro lado, demanda que criemos mecanismos de
acompanhamento e tomada de decisão para manter a coerência entre as nossas intenções e
o que de fato estamos implementando.
Como fazer um planejamento que possa ser um instrumento eficaz para demarcar
as direções gerais das ações, organizar a estrutura necessária para o funcionamento
e identificar os pontos nodais, em que é preciso parar para revisar o trajeto e dar novos
encaminhamentos?

Usualmente, ao planejar, usamos elementos como:

n   descrição da situação inicial (diagnóstico, estudo da realidade, infra-estrutura);

n   direção (metas, objetivos, finalidades, intenções);

n   plano de ação (em etapas, atividades, em geral com uma descrição que envolve
espaço e tempo);

n   avaliação (indicadores, resultados etc.).

Como aponta Armani (2001), são vários os modos de planejamento gerados, durante o
século XX, para gerenciar ações de empresas, ONGs, ações governamentais e escolas.
Qualquer que seja a forma de especificar os elementos, um planejamento que nos apóie
na ação precisa:
n   descrever claramente quais as circunstâncias em que as várias ações vão se
desenvolver. As perguntas chaves para fazer essa descrição são:
1.  o que estou planejando?
2.  para quem se destina?
3.  em que instituição ocorre?

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4.  quais são os fatores externos que interferem nesse processo?
5.  quais são as condições locais que interferem nesse processo?

n   formular, com a maior precisão possível, o ponto de chegada, ainda sem descrever
o processo. Ou seja, o que eu quero garantir e como eu sei que alcancei.
1. Nesse caso, a confusão habitual é descrever o caminho, os procedimentos,
como sendo a meta/objetivo. Para se chegar a um ponto, existem vários
caminhos possíveis. Se especificamos como objetivo o processo para chegar,
perdemos de vista as possibilidades e tornamos o projeto rígido.
2. A dica é tentar indicar a mudança que se deseja descrevendo como seria
a situação ao final das ações planejadas: indicar o que existe e no que se
transforma.
3. A dicotomia presente aqui é entre processo e produto. Algumas técnicas de
planejamento enfatizam os produtos de tal forma que os fatores de processo,
que têm continuidade para além da situação de planejamento proposta, são
desconsiderados, reduzindo o âmbito das ações. Outras são tão genéricas
que descrevem um processo sem explicitar o ponto de chegada (produto).
Isso ocorre em muitos planejamentos escolares, com objetivos amplos,
sem fixar o que se espera ao final de cada etapa, enumerando-se possíveis
atividades sem estabelecer uma relação entre o ponto de chegada e as
ações propostas.
4. Uma forma de contornar essa dificuldade é estabelecer pontos de chegada
específicos (produtos) e intenções gerais, que serão perseguidas ao longo de
todo o processo. Por exemplo:
a) são mudanças específicas que podem ser descritas claramente, o
aprendizado do conceito de trabalho ou o cálculo das raízes de uma
equação. Assim, num curso é preciso especificar quais são as habilidades,
competências e conhecimentos indispensáveis para a qualificação;
b) são mudanças desejáveis, mas cuja aquisição não pode ser garantida
em uma situação específica de ensino, ainda que sejam balizadoras
fundamentais do trabalho educacional, do aprendizado da cidadania e do
espírito crítico.
5. Nas mudanças específicas, apontar o nível mínimo que se deseja, lembrando
que habilidades, conhecimentos, competências podem ter níveis de
aquisição: aprender a calcular as raízes de uma equação pode se transformar
em perceber o tipo de equação que faz sentido e da qual se podem calcular as
raízes. Espera-se em diferentes faixas de escolaridade que o padrão de leitura
e escrita vá se modificando. Assim, podemos apontar o mínimo que todos
devem alcançar, sem perder de vista que diferentes pessoas podem chegar a
diferentes patamares.

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n   descrever as ações previstas para chegar ao resultado desejado, apontando:

1. como se distribuem no tempo;


2.  em que espaços vão ocorrer;
3.  em que circunstâncias ocorrem;
4.  quem é responsável por fazê-las acontecer.

n   escolher os momentos em que é possível fazer reajustes no processo.

1. Identificar quais são as informações necessárias para saber como o processo


está ocorrendo e como obtê-las (quais são os registros que precisam ser
mantidos, que instrumentos escolher para avaliar diferentes aspectos etc.).

2. Quem são as pessoas que estão envolvidas nas diferentes ações.


Quem deve participar de qual nível de avaliação e de decisão. Quais as
instâncias? (por exemplo: o que se decide em colegiados, comissões, ou
por dirigentes etc.).

3. Como tomar as decisões necessárias para corrigir os rumos do processo


(por votação, em assembléia, a partir de análises de pareceristas, usando
estratégias de dinâmica de grupo).

4. Na EaD, considerando a não presencialidade, como esses mecanismos


funcionam? Via teleconferência, fóruns de discussão, enquetes, outras
interações virtuais? Quais formas podemos usar para quais instâncias e
grupos envolvidos?

n   analisar a viabilidade e a coerência entre o que se deseja, o que já existe e as ações


propostas, uma vez dimensionado o projeto.

1. As ações levam em conta as situações existentes? Por exemplo, estamos


propondo que o curso seja feito via web – os alunos a que se destina têm
acesso garantido à Internet de banda larga?

2. As ações propiciam que as finalidades sejam alcançadas? Por exemplo, se


queremos que os alunos aprendam a verificar a pressão arterial de pacientes
ou tocar um instrumento musical, alguma vez eles terão chance de usar o
aparelho (esfigmomanômetro) verificando a pressão arterial de uma pessoa
ou de manipular o instrumento musical? Ou apenas terão acesso à teoria
sobre como isso é feito?

3. Quais são as condições que precisam ser organizadas para que o que está
previsto ocorra? Por exemplo, preciso montar uma gráfica para imprimir
material, quais equipes preciso montar etc.

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O planejamento do curso em EaD

Atividade 03
Escolha um dos cursos que você apresentou no projeto enviado para o E-tec.
Reveja o planejamento que elaborou, identificando os pontos que acha necessário
especificar melhor e/ou complementar.

Como estamos trabalhando com cursos, a sua análise do planejamento feito deve
levar em conta:

n   a necessidade de especificar quem são os alunos, considerando a faixa etária,


o local onde moram, o tipo de experiência escolar que tiveram, o acesso que
têm aos recursos necessários para as atividades (computador, Internet, livros,
deslocamento para os pólos etc.);

n   os parâmetros legais que controlam o tipo de curso proposto, no caso de vocês,
além da legislação específica de EaD, disponível no portal do MEC e no portal da
SEDIS, a legislação específica dos cursos técnicos;

n   a flexibilidade da proposta:

1. existem mecanismos para validar conhecimentos obtidos fora da grade


escolar?

2. existem mecanismos para recuperar os déficits escolares anteriores?


3. é possível propor novas atividades (disciplinas, estruturas de apoio, oficinas
etc.) a partir da interação com os alunos que de fato entrarem para o curso?

4. é possível redistribuir os conteúdos e o tempo previsto para aprendê-los?


Como?

n   a elaboração de um projeto político pedagógico:

1. o projeto político pedagógico é só uma grade curricular com disciplinas e


ementas ou abrange também as condições de ensino, levando em conta as
intenções gerais e os aprendizados específicos?

2. aponta uma direção para o conjunto das pessoas envolvidas (alunos,


professores, tutores, dirigentes, técnicos)?

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3. possibilita a cada um perceber o significado das suas ações no conjunto do
projeto? (por exemplo, por que uma atividade ou disciplina está prevista para
ocorrer em certo período e não em outros? Qual relação mantém com as
atividades anteriores e posteriores?);

4. abre espaço para os professores e tutores participarem das definições do que


e de como as situações de ensino estão organizadas?

5. prevê atividades científicas e culturais, além das disciplinas?


6. prevê ambientes virtuais e presenciais em que os alunos possam se encontrar
e fazer trabalhos em grupo?

O planejamento de uma disciplina em EaD

Atividade 04
Escolha uma disciplina ou atividade do plano pedagógico do curso que
você analisou.
Faça o planejamento dessa disciplina e coloque na nossa página no Moodle.

1. Escolha um planejamento qualquer elaborado por um dos seus colegas. A


partir desse documento, você poderia organizar materiais para os alunos
e ministrar a disciplina?

2. No seu plano de disciplina, você levou em conta os aspectos do planejamento


discutidos anteriormente?

3. O que você precisa para decidir quais são as atividades que o aluno vai
fazer, que material necessita preparar e em que seqüência?

Agora, retomando os aspectos do planejamento, para elaborar um plano de disciplina,


precisamos considerar:

n   Descrição da situação inicial


1. Localizar o papel da disciplina no curso: o que foi trabalhado antes, o que vai
ser trabalhado depois, o porquê da ementa, o que só vai ser trabalhado nesta
disciplina, o que tem continuidade em outras disciplinas.

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2. Para quem o curso se destina: são adolescentes, jovens ou adultos? Estão há
muito tempo sem estudar? Em que comunidades vivem (rural ou urbana, pequeno
ou médio porte)? Quais conhecimentos de que já dispõem? Existe biblioteca,
cinema, Internet na localidade onde moram? Quais são os possíveis interesses
desses alunos?

n   Direção claramente definida

1. O que é indispensável que o aluno aprenda nesta disciplina?


2. O que é desejável e que vai continuar a ser trabalhado depois?
3. Em geral, o nome das disciplinas remete a temas amplos de área. Para ensinar,
sempre se faz, conscientemente ou não, uma seleção dos conhecimentos
que o tema abrange. O que está se usando para decidir qual é o recorte feito?
Leva-se em conta o papel da disciplina na grade curricular, a discussão dos
especialistas da área (por exemplo, as diretrizes curriculares, as pesquisas
em ensino), as abordagens contemporâneas, o papel social dos temas?

n   Plano das ações (espaço/tempo)

1. Identifica unidades de ensino, subdividindo as metas/objetivos das disciplinas


em seqüência(s) temporal(is)? Essas unidades podem ser chamadas de
unidades, blocos, “aulas”. Elas se caracterizam por ser possível definir um
produto final: uma problematização que provoque o aluno a estudar os tópicos
seguintes; o aprendizado de um conceito e/ou habilidade; uma síntese do que
foi visto. Esse “produto” final está claramente definido?

2. Em cada unidade de ensino, detalham-se atividades que propiciem chegar ao


produto final previsto? Está especificado que materiais são necessários para
que as atividades ocorram e em que condições? Por exemplo − inicia-se com a
leitura de um texto (que tipo de texto, onde pode ser encontrado?), segue com
um exercício de aplicação (a ser feito onde, precisa de algum instrumento?),
propõe uma pesquisa (de que tipo − de campo ou bibliográfica?) etc.

3. Em geral, os conhecimentos sistematizados têm estruturas muito diferentes


dos construídos no cotidiano. As atividades consideram que o aluno já dispõe
de conhecimentos que vão interferir no seu aprendizado?

4. Aprender a estrutura de uma molécula, as partes do corpo humano, os mapas


mundi, por exemplo, envolve a percepção de objetos em três dimensões,
em geral representados no papel. Analisar fluxos de água, corrente elétrica,
sangue, terremotos, implica visualizar processos dinâmicos, em diferentes
escalas de tempo e/ou espaço. Que recursos estamos usando para que o
aluno visualize esses processos?

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5. Considerando que algumas pessoas têm mais facilidade de ler, outras
de ouvir, outras de interpretar imagens, são oferecidas possibilidades
diversas de aprendizado?
6. Cada unidade de ensino prevê com clareza o que vai ser oferecido como
material escrito, imagens áudio-visuais, objetos de aprendizagem, material na
web, atividades práticas e/ou experimentais, a forma de suporte dos tutores
de conteúdo, como serão usadas plataformas virtuais, teleconferências,
outros meios de comunicação, como apoio da equipe da disciplina e como
forma de conhecer o desempenho do aluno?

n   Avaliação
1. Em EaD, este é um ponto fundamental, já que o processo exige uma autonomia
do aluno, que precisa de referências para organizar o seu aprendizado. Daí a
importância de repassar para o aluno com clareza o que se espera em cada
atividade proposta e dar elementos para que ele verifique se conseguiu atingir
os aprendizados previstos. É o que usualmente chamamos auto-avaliação e
precisa ocorrer a cada unidade de ensino, dando para o aluno orientações do
que fazer, caso não tenha conseguido chegar ao resultado esperado.
2. Quem conduz a disciplina também precisa saber se as atividades previstas
possibilitaram os objetivos desejados, se é necessário prever novas
atividades. Para tanto, precisa ter acesso ao desempenho dos alunos. Está
prevista alguma forma do professor acompanhar esses resultados?
3. Ainda que a avaliação seja para redefinição dos processos, ela também
tem um papel de aprovar ou reprovar. O que, como e quando avaliar para
atribuir uma nota? Reprovar o aluno significa dizer que ele não alcançou os
objetivos mínimos para seguir em frente. A forma de avaliação prevista está
centrada nesses objetivos? Qual é a relevância do que está sendo pedido
para o aluno? É essa a melhor forma de saber se ele alcançou o objetivo? Por
exemplo, dá para medir uma habilidade manual em uma prova escrita? Fazer
um trabalho em grupo propicia a identificação de dificuldades individuais em
conteúdos específicos? Como saber, em um curso a distância, que estou
recebendo a produção individual de cada aluno? Provas presenciais medem
o conhecimento que o aluno tem do assunto ou o desempenho que teve
frente a alguns aspectos avaliados em um dia específico?
n   Coerência entre as ações e aprendizados
Como em todo planejamento, o mais difícil é manter a coerência entre as intenções e as
propostas. Apenas olhando o plano como um todo e analisando as relações entre cada
um dos aspectos podemos avaliar essa coerência e modificar o que se faz necessário.
Nesse sentido:
1. que outras possibilidades de ações existem, que também podem levar ao
mesmo ponto de chegada?

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2. que indicadores vou coletar ao longo do processo para corrigir ou adequar
melhor os rumos das propostas?
3. quando é crítico que se pare para avaliar o processo, tendo ainda tempo de
alterá-lo?

Atividade 05
Escolha um dos planejamentos de disciplina colocados por você ou por seus
colegas no Moodle, que esteja suficientemente detalhado, e liste as estruturas
que precisam ser organizadas para que as ações possam ser desencadeadas
como previsto. Você pode tomar como referência a aula 10 do material do
CEDERJ, a qual descreve uma estrutura montada para produzir material
impresso. Por exemplo, se a disciplina proposta envolve experiências de
laboratório, o que é preciso para organizá-la? Se envolve material da web, o
que é necessário para produzi-lo?

Leituras complementares
FERREIRA, Francisco Whitaker. Planejamento: sim ou não. São Paulo: Paz e Terra, 1986.
Um bom livro para indicar os papéis e caminhos do planejamento.
VASCONCELOS, Celso dos S. Coordenação do trabalho pedagógico: do projeto político-
pedagógico ao cotidiano da sala de aula. 5. ed. São Paulo: Libertad Editora, 2004.
Para o planejamento de situações de ensino
PETERS, Otto. A educação a distância em transição. São Leopoldo, RS: UNISINOS, 2003.
Para discussão específica em EaD

Referências
ARMANI, Domingos. PMA: conceitos, origens e desafios: o planejmaneto, monitoramento e
a avaliação de programas sociais. Humanas, Porto Alegre, v. 24, n. ½, p. 98 - 114, 2001.

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