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astoral da Aids - CNBB

VII SEMINÁRIO NACIONAL DE PREVENÇÃO AO HIV/AIDS


Prevenção: Perspectivas e desafios na resposta da Igreja

Brasília, 09 a 12 de outubro de 2009.

Sexta-Feira, 09 de outubro de 2009.

8h – Espiritualidade
O encontro iniciou motivando todos a integrarem uma corrente de oração por todos, sobretudo
pelas pessoas que sofrem com a doença da AIDS. Posteriormente, os presentes foram convidados a
contemplar o ambiente preparado para a acolhida e momento de oração inicial. Acolhidos e imbuídos
de um espírito de partilha, unidade, amor e paz, o Salmo 46 foi recitado em dois coros, seguido do
canto A palavra de Deus vai chegando, vai, aclamando a Palavra de Deus que está no Evangelho de
Lucas 4, 14-21. O momento seguinte convidou à interiorização e partilha das leituras ouvidas. A oração
da manhã foi encerrada com uma oração final, entoada em dois coros, seguida da oração do Pai
Nosso e canto final.

8h30min – Apresentação dos Presentes

Frei Jose Bernardi motivou a dinâmica de acolhida dos presentes, subdivididas pelos regionais da
CNBB: Nordeste 1, Nordeste 2, Nordeste 3, Noroeste, Norte 1, Norte 2, Leste 1, Leste 2, Sul 1, Sul 2,
Sul 3, Oeste 1, Oeste 2, Centro-Oeste, ONG de Minas Gerais e Nelson Ramos (Ministério da Saúde).

9h – A sexualidade na perspectiva cristã


Frei Rubens Nunes Mota – psicólogo pós-graduado em Terapia da Família.

Quando trazemos presente a dimensão da sexualidade numa perspectiva cristã, enquanto linguagem
eclesial e pastoral, trazemos também uma bagagem. Para iniciar o diálogo, o assessor motivou para
uma técnica de aquecimento, que consiste na formação de uma família composta por pai, mãe e filho
(s) e fez o seguinte questionamento: Quais as principais dificuldades na abordagem do tema AIDS na
relação pais e filhos? Num primeiro momento os pais falam e os filhos escutam. Posteriormente, os
filhos fazem perguntas sobre a temática, mesmo que tenham vergonha de fazê-las. O assessor lançou
novo questionamento para os pais: Quais são os principais medos em relação às perguntas que os
filhos podem fazer e que eles podem não saber responder por desconhecer o assunto? Para encerrar a
técnica, escolheu três dessas questões que foram dialogadas nas famílias. Os presentes puderam
partilhar suas percepções sobre o diálogo na família. Destaque: como a Aids entrou na vida do casal,
uma vez que eles tinham uma união estável; questões do preconceito de gênero; reação dos pais em
relação à vida sexual ativa dos filhos; porque uma criança de cinco anos, portador do vírus HIV, precisa
tomar remédios que os colegas não precisam; ouvir que o filho ou a filha é homossexual.
Diante das impressões, de fato, precisamos nos colocar no lugar de um pai, de uma mãe, de
um filho ou filha, pois assim fazemos a reflexão sobre a temática acontecer. O processo pedagógico
que Jesus nos ensinou traz a misericórdia, a compaixão, o colocar-se no lugar do outro. Somos
imbuídos das realidades do HIV/AIDS e assim somos convidados a fazer o que Jesus fez. Qualquer
pessoa pode trabalhar em prol da vida, sobretudo da vida ameaça pelo vírus HIV. Somos chamados
por Deus para estar nesse meio. Como é o trabalho com o portador HIV tendo como principal
referencial Deus?
Erotismo, sexualidade, casamento e infidelidade (slides) - é muito comum falarmos de um
histórico e isso faz com que sejamos saudosistas, trazemos tabus, medos. Percebemos que estamos
em outro tempo, em outro contexto. A sexualidade está dentro da história e é preciso que nos
inculturemos para que sejamos menos preconceituosos, no diálogo com o outro. Não somos nós que
temos a sexualidade é ela que nos tem. Isso pressupõe um rito de passagens sexuais que se
apresentam nos padrões típicos experimentados pela maioria dos homens e mulheres de nossa
sociedade. Emergem as crises que passam na família, pelo fato de muitas das pessoas terem
descoberto muito tempo depois de casados a sua soropositividade. Hoje os índices mostram que a
maioria dos portadores são homens e mulheres casados e não mais os homossexuais, como se
acreditava. Nesse contexto há também as forças sociais e psicológicas que dificultam a vida dos
portadores.
Sendo assim, como fica a dimensão social das pessoas portadoras? Há oito estágios sexuais:
a) infância: desde a gestação, conhecimento, masturbação; b) adolescência: grande influência
hormonal, com diferenciação entre adolescência e puberdade, conflitos, influenciáveis e mutáveis pelas
questões culturais. Apesar da liberdade sexual não se fala nessa questão no contexto familiar; c) 20
aos 30 anos: emocionalmente mais desajustados entre si do que em qualquer outra fase, há processo
de crise natural, porque tem projetos de vida diversos, um período de mudanças onde a dimensão da
sexualidade é muito acentuada; d) até 40 anos: fase de revisão de vida, desajustes sexuais, rotina na
vida do casal, ocorre muita separação, há uma maior definição sexual; e) depois dos 40 anos: pode
ocorrer uma certa segurança, fase das experiências; f) 50 aos 60 anos: homens e mulheres se
combinam sexualmente e emocionalmente, pressupondo valores pré-construídos, dependendo de uma
co-construção; g) depois dos 60 anos: homens e mulheres escolhem relacionamentos com parceiros
mais jovens, em nome de um prolongamento sexual, a etapa pode ser sensual; h) 70, 80 anos:
cognitivamente permanece no estágio da colheita, colhendo tudo o que foi construído durante a vida.
A maioria dos desejos sexuais e emocionais pode ser relacionada às questões cognitivas.
Somos o que pensamos. A questão cognitiva tem a capacidade de nos reger. O inconsciente nos rege
e sobre ele não temos controle. Segundo Morin podemos nos disciplinar, mas não controlar. Na leitura
bíblica do Ex 3, Moisés fala da sarça ardente e do ato de tirar as sandálias em solo santo. Falar de
sexualidade é falar de um campo sagrado, onde para entrar nesse tema é preciso tirar as sandálias do
preconceito.
Gênero e sexualidade conjugal – herdamos uma moralidade culturalmente machista, e isso nos
faz sermos mais vulneráveis ao HIV. O dominar se sobressai ao cuidar. Homens e mulheres são
submetidos às verdades do padrão normativo. Nosso comportamento tem a ver com o lugar de onde
viemos. Todas as pessoas precisam avaliar seus comportamentos sexuais para minimizar o risco de
contração do vírus HIV. Somos frutos de um processo histórico, cultural e por isso devemos ajudar as
pessoas às quais acompanhamos diante da realidade do vírus HIV/AIDS. Sou co-contructo social,
precisamos não rotular as pessoas, não pensar que as pessoas são HIV ambulantes.
A energia que existe no prazer e na harmonia sexual nos seres humanos gera força para
mover seu mundo nas relações e nos desafios existenciais. O exercício de nossa sexualidade deve ser
uma decisão e de responsabilidade de cada um, desde que não gere danos. Numa linguagem eclesial
precisamos compreender que o universo da sexualidade é muito delicado. Numa linguagem psicológica
a dimensão da sexualidade é fornecedora de afeto. Afetar é a capacidade de afetar e ser afetado. A
afetividade é o movimento do afeto e o complemento dele. É diferente do sexo e do ato sexual. Sexo é
o movimento do sexo, somos seres sexuados. Compreendendo isso, seremos agentes pastorais mais
cuidadosos conosco e com os outros.
Perspectiva cristã da sexualidade – Moral: como nós, enquanto Igreja, pessoas de fé podemos
compreender essa questão? Moral: constituída a partir da moral sexual, é tida como um conjunto de
reflexões teológico-moral (como Deus olha para essa questão e como se normaliza essa mesma
questão). Tem como referenciais a Sagrada Escritura e as Ciências Antropológicas. A relação afetivo-
sexual é vista a partir da Palavra de Deus. Isso é construído, a partir de um lugar teológico que se dá
na revelação das escrituras e da encarnação desse Deus, em Jesus Cristo. Falamos desse Jesus que
nos inspira e ao qual nós seguimos. Além disso, baseia-se na questão antropológica, reconhecendo a
dimensão ético-social.
Temos traços do criador, pois o criador está presente na criatura. A Sagrada Escritura oferece
elementos para uma ética-cristã diferenciada, é ela que nos rege a partir da nossa fé. Não olhamos o
outro apenas como diferente, mas como irmãos, percebendo no outro a essência. Somos filhos do
mesmo Pai. Os valores específicos cristãos nos fazem ter a capacidade de conviver com o outro,
independente das diferenças e dos conflitos que possam existir. A concretude do compromisso traz a
oportunidade de exercer um ministério, com olhar divino, pois desenvolvemos nossa missão em nome
de Deus. Assim, na época de Jesus, com o olhar divino Ele acompanhava e cuidava dos leprosos, por
exemplo, hoje nós somos convidados a realizar essa prática moral-cristã com os portadores de HIV.
A dimensão da sexualidade tem uma inspiração divina. A criatura é ser individual no
anonimato, percebida como imagem e semelhança de Deus e isso nos torna coletivo. Atendemos a
todos e todas porque somos imagem de Deus e é por causa dele que nos dispomos a despir de alguns
preconceitos, por exemplo. Deus não depende de nossa fé, nós é que dependemos Dele,
independente de nossa religião, inclusive ateu. Destacamos a essência de cada ser: imagem de Deus.
Como agentes pastorais que desenvolvem seu trabalho em nome de Deus não temos o direito de
escolher a quem vamos acompanhar. A partir das relações, mantemos um diálogo inter-humano. A
erotização e o amor agápico (dar sem esperar nada em troca) estão andando lado a lado na Bíblia,
como no Cântico dos Cânticos, por exemplo. Somos herdeiros da aliança que Deus fez com Moisés,
somos continuadores do projeto do Reinado de Deus em nosso meio. Nossa aliança é o diferencial que
uma pastoral da AIDS tem em relação a outros grupos que desenvolvem trabalhos com os portadores.
A Moral Cristã também nos mostra que é importante a dimensão escatológica. Nossa fé diz
que a vida não acaba aqui, precisamos ter uma visão de passagem dessa vida terrena para a vida
eterna. Quando ressuscitamos o fazemos por completo, integralmente, inclusive com nossa
sexualidade e afetividade. Sempre existe uma esperança, mesmo quando o portador acredita que sua
vida acabou ao descobrir sua condição. Essa dimensão escatológica acontece através da tradição
cristã, evidenciada pelos documentos da Igreja em caráter sacramental de amor responsal.
A virgindade e a castidade têm dimensões próprias. Essa prática significa fidelidade a um
projeto. Castidade não é ausência do ato sexual e sim fidelidade diante de uma aliança, de um
compromisso. O homem deve ser casto a sua mulher e vice e versa. A Sexualidade é dimensão
humana para edificação da pessoa, consiste na personalização do sujeito humano. Integração do
comportamento sexual ao conjunto da pessoa. Inclui as categorias de atitude e de opção fundamental
X centralidade nos atos. Não podemos centrar nossa vida nos atos e comportamentos sexuais. Assim
como também não podemos escolher ser ou não homossexuais, mas podemos e devemos escolher
comportamentos adequados. A Igreja condena os comportamentos sexuais e não as pessoas.
Podemos comparar o HIV com um animal que está hibernando. A doença que nasceu com os
homossexuais e toxicodependentes, hoje, revela através das estatísticas que os heterossexuais estão
sendo muito mais afetados por conta dos relacionamentos sexuais esporádicos, com múltiplos
parceiros.

Trabalho de Grupo

Texto-Base:
AIDS é doença dos outro
(Fr. Rubens Nunes da Mota)
Questões:
1. Como trabalhamos a imagem de Deus em nossa pastoral?
2. Não escolhemos nossa orientação sexual, mas podemos escolher nossos comportamentos
sexuais. Como lidamos com essa responsabilidade social?
3. Como trabalhamos a inclusão social e a dignidade da pessoa na pastoral?

Partilha do Trabalho de Grupo

Questão 01 - Como trabalhamos a imagem de Deus em nossa pastoral?


É preciso trabalhar em cada um de nós a imagem de um Deus solidário, misericordioso,
verdadeira, que une que não cria doenças, que é compassivo e bondoso. Deus está na pessoa que
vive com HIV/AIDS, está presente naquele que sofre. Quando falamos do aspecto moral, a imagem
que temos de Deus é fundamental, pois somos a sua imagem e semelhança.

Questão 02 - Não escolhemos nossa orientação sexual, mas podemos escolher nossos
comportamentos sexuais. Como lidamos com essa responsabilidade social?
Somos sabedores que existem orientações sexuais diferenciadas e por isso precisamos ter
uma visão holística do ser humano, compreendendo-a como pessoa integral e não apenas sua
condição de portador do vírus HIV/AIDS. A conduta sexual é uma escolha, por vezes inconseqüente e
por isso é importante estarmos informados para que possamos também informar as pessoas sobre as
conseqüências de suas escolhas. Será que estamos preparados para responder às grandes questões
que a sexualidade humana apresenta, hoje. Um dos maiores desafios do agente de pastoral é como
lidamos com a escolha de cada ser humano, afinal não escolhemos a orientação, mas os
comportamentos. Exemplo: grupos de redução de danos. Além disso, como conviver, por exemplo,
com a questão das adoções em casos homossexuais.

Questão 03 - Como trabalhamos a inclusão social e a dignidade da pessoa na pastoral?


Sendo solidários, tornando a pessoa participativa, incluída, trazendo-a para junto, tornando-a
parte integrante, centro da roda. Para isso existem os grupos de auto-ajuda, o incentivo à capacitação,
as oficinas de artesanato que promovem trabalho e renda, a presença ativa dos movimentos,
distribuição de cestas-básicas, o movimento para a inclusão religiosa, a promoção de festas
comemorativas, o desenvolvimento de atividades que trabalhem a auto-estima dos portadores, a
capacitação dos soropositivos para atuação nos órgãos de controle social. Além disso, procuramos
acolher as opções em sua totalidade, com prevenção e acolhimento; trabalhar para diminuir as
condições de risco; prevenir com orientações específicas e gerais, inclusive na Igreja; incluir a pessoa,
reconhecendo seus direitos enquanto cidadãos; apontar novos caminhos diante das realidades que
conhecemos, acolher e respeitar os irmãos e as irmãs, não distinguir a pessoa por conta da sua
vivência religiosa, desenvolver a espiritualidade e eliminar os preconceitos. A humanização deve estar
em todas as instâncias e deve aproximar as pessoas. Por isso, somos diferentes, enquanto agentes de
pastoral precisamos ter um olhar cristão, assumindo um compromisso individual e coletivo, tendo a
mesma compaixão que Deus tem por cada pessoa.

Algumas impressões do assessor:


Alegria de ver a representatividade das regiões do país e o comprometimento da Igreja nessas
mesmas regiões, através da Pastoral HIV/AIDS. A dimensão do ministério que inclui Deus é um
trabalho voluntário, sem remuneração, sem cumprimento de horários, mas nos percebermos portador e
portadora desse serviço que é um chamado de Deus. Essa é a nossa identidade, o nosso referencial.
Não somos apenas trabalhadores, funcionários, mas missionários e missionárias, pois desenvolvemos
nosso ministério.
Desafios: Como a partir de nós, fazemos esse caminho Quais são os valores cristãos que nos
guiam? Duas grandes dimensões: conseguir evitar a instrumentalização das pessoas, não podemos
coisificar a pessoa, como um objeto de prazer, sobretudo diante de um contexto capitalista que nos
torna hedonistas. Nesse sentido a ética e a moral cristã vem trazer outro sentido. Quando tiramos o
prazer por prazer do centro, quando abolimos o esvaziamento começamos a nos relacionar, caso
contrário colocamos apenas o EU no centro. No contexto atual, tudo aquilo que é perpétuo está em
crise: casamento, vida religiosa, etc. Estamos remando contra a maré. Percebemos essas inquietações
da coisificação da pessoa, sem perceber que ela é um todo, que tem uma bagagem e que merece
respeito. Precisamos estabelecer parcerias, redes de ações. Percebemos-nos servidores no ministério
como instrumentos que precisam de parcerias que somem forças e que possibilitem fazer a diferença
diante dessa realidade.

Há certa inquietação quando falamos de uma exacerbação da sexualidade na atualidade.


Precisamos relativizar as coisas. Não devemos culpabilizar a contemporaneidade por isso, pois as
coisas acontecem há mais tempo, talvez com menos visibilidade. Quando falamos do universo
adolescente percebemos que há informação, mas não há tempo para processá-la. Já com os idosos,
há um agravante na questão biológica, pois o uso do preservativo está diretamente ligado ao tempo de
ereção, que nos idosos apresenta um período diminuído.

14h – Painel – Situação da Epidemia do HIV: Perspectivas e desafios da prevenção


Significado da Igreja na tarefa de prevenção – Ivo Brito, Frei Luiz Carlos Lunardi e Beatriz
Pacheco.

IVO BRITO – Coordenador da Unidade de Prevenção

A faixa de incidência vem aumentando na região norte e nordeste, permanecendo muito


acentuada na região Sul e Sudeste. A taxa de mortalidade permanece inaceitavelmente alta em alguns
estados (RS, MT e RJ). A sobrevida aumentou significativamente, assim como os efeitos adversos
decorrentes da terapia de longo prazo. As pessoas vivem mais, mas isso acarreta outros problemas de
saúde que também merecem cuidados. Além disso, houve um aumento expressivo da busca pela
testagem do vírus HIV, até porque há um acesso mais facilitado, sobretudo com campanhas que
promovem a informação e o conhecimento a toda a sociedade.
A categoria de exposição mais freqüente é a heterossexual, mas o risco relativo é diferente em
relação a outras categorias, ou seja, alguns grupos são mais afetados por estarem na zona de risco
diferencial. Dentro desse cenário, é preciso compreender melhor a epidemia. A população está mais
informada sobre as formas de transmissão e de prevenção com o uso do preservativo, sendo
reconhecido pela maioria das pessoas (99%) como melhor maneira de se prevenir. É preciso ter um
sistema de informação mais sensível, evitando assim, o atraso na atualização do sistema de
notificação ocorrida depois da constatação da infecção do vírus HIV.
Não sabemos o que de fato está acontecendo no Norte e Nordeste. Tampouco o que está
acontecendo no Sul e Sudeste para apresentar os números que vem sendo evidenciados
estatisticamente. É preciso desenhar estratégias de prevenção mais eficazes. As pessoas estão
vivendo mais com o tratamento, porém estão envelhecendo e essa nova fase traz efeitos adversos que
não são tão conhecidos quanto deveriam. Como trabalhar o estigma e a discriminação quando a
população ainda permanece num cenário de desconhecimento, embora haja informação. Além disso,
não sabemos onde estão ocorrendo as novas infecções, tampouco porque 40% da população fez pelo
menos um teste de HIV, além das gestantes. Quem são esses sujeitos.
A assistência tem endereço certo. Mas não sabemos qual o endereço da prevenção.
Precisamos cada vez mais procurar fazer da prevenção uma abordagem equilibrada com o tratamento.
Existem vários tipos de epidemia, sobretudo no norte, nordeste e sul que exigem estratégias
diferenciadas. Também precisamos fazer uma reflexão sobre quem faz prevenção no Brasil. É preciso
romper o mito de que a prevenção dos serviços de saúde são diferentes da prevenção realizada pelas
ONGs. Precisamos fazer com que essa rede de atendimento e prevenção seja integrada e capacitada
para responder à demanda dos portadores do vírus HIV.
Um paradoxo se estabelece, pois a prevenção não olha a realidade dos que já vivem com o
HIV como deveria da mesma forma que a assistência não olha a realidade de quem não vive com o
vírus. Há uma compreensão de que só procuramos o serviço de saúde quando já estamos infectados.
Temos que superar a situação da informação, da distribuição do material informativo. A prevenção
deve ser um processo continuado, contendo estratégias de abordagem, pois a conversa aproxima, cria
vínculos, estabelece relações. Temos que superar a idéia de distribuir folheto sem uma ação concreta
continuada. Precisamos incluir a discussão sobre a DST/AIDS em outras agendas, em outras esferas
de governo. É preciso trabalhar com as redes, tendo ações com a maior cobertura possível, para que
possamos chegar onde as pessoas estão e para isso é preciso que se façam ações ampliadas e de
alcance. O trabalho em rede é facilitado e promove a troca de experiências, chegando onde o governo
não atinge.
A relação com o movimento social em DST/AIDS – Grandes são os nós existentes nesse
aspecto, por não haver reconhecimento das agendas específicas por parte dos governos locais. Além
disso, há a fragilização do movimento, onde as disputas por espaços e financiamento, bem como a
concorrência local e a ausência de outros recursos são acentuados. Vivemos dificuldades gerenciais
nos projetos, rotatividade, profissionalização das ONGs e outras agendas que competem com a
DST/AIDS. Quando você não consegue organizar a agenda, um movimento enfraquece o outro.

FREI LUIZ CARLOS LUNARDI – Assessor Pastoral da AIDS

A AIDS e o HIV, a partir do momento que surgiu foi nos pautando e nos forçando a construir
determinadas respostas, pois desde então vem causando sofrimento e exigindo sustentabilidade das
ações do cuidado. A Igreja foi vista como uma instituição que teria uma contribuição na área da
assistência, e de fato, acolheu as pessoas no cuidado com os portadores. No Brasil, são
aproximadamente 300 instituições que desenvolvem trabalhos com os portadores do HIV. No início,
ninguém tinha a idéia clara do que era doença, do que fazer, de como fazer e de quem iria fazer. A
situação estava posta e era preciso tomar a decisão. A igreja se posicionou de forma, a além da
assistência, trabalhar na área da prevenção.
Optou pela prevenção porque é preciso cuidar dos soropositivos, mas também evoluir para a
discussão na sua contribuição na área da prevenção, já que 98% da população ainda não está
acometida pela doença. Quando se iniciou a discussão sobre a prevenção, encontrou-se um contexto
com alguns dificultadores, havendo um conflito entre governo-igreja, sociedade civil-igreja, sociedade
civil-governo. Desde o início não tivemos chance de ampliar a visão, porque não conseguíamos fugir
do chavão: vocês são contra e nós somos a favor. Esse conceito foi paralisador. Isso impedia qualquer
possibilidade de mostrar as iniciativas. Não queríamos ser visto como meros agentes de assistência, e
por isso trabalhávamos outros elementos. No fundo, a Igreja fazia isso por missão, já os órgãos
governamentais têm isso por obrigação, pois devem prover a saúde de todos os cidadãos como direito.
Sendo assim, a Pastoral da AIDS começou a focar nas práticas de base dos agentes, onde não
há a preocupação institucional. E essa evidencia mostrou a beleza do trabalho realizado pelos diversos
agentes que tem consciência dessa realidade e que garante espaço e meios para dar respostas às
demandas relacionadas a esse tema. Essa foi a resposta que a Igreja deu ao enfrentamento dos
questionamentos que eram evidenciados.
Mais do que as divergências fomos aprendendo com as fragilidades e hoje é um grande
sucesso. Uma das grandes conquistas foi o espaço conquistado pela Pastoral na ONG/AIDS como
organização da sociedade civil. E mesmo com opiniões diferentes e aprendendo com as diferentes
metodologias e pensamentos, conciliando diferenças e aproveitando oportunidades, hoje, estamos
realizando o VII Seminário Nacional de Prevenção ao HIV/AIDS, que nunca partiu de respostas
prontas, mas de uma indagação, de questionamentos, de interrogações sobre tudo que ainda não se
tem clareza quando o assunto é HIV/AIDS. No entanto, nossas ações ainda não são suficientes, pois a
epidemia continua. Esse seminário traz a oportunidade de aprofundamento, de contribuição na
construção dessa resposta que visa responder a essa interrogação. O que temos que fazer para a
nossa resposta seja mais eficiente? O que fazer para que nossas ações sejam eficazes? Nesse espaço
de insuficiente da nossa resposta, não só da Igreja, mas de toda a sociedade, percebemos que discutir
a prevenção da doença não é suficiente, pois ela é a conseqüência, já é o fim do processo. É preciso
evitar que cheguemos nesse estágio.
No caso do HIV/AIDS precisamos levar em consideração a pessoa na sua integralidade.
Precisamos voltar a conversar sobre o corpo e os relacionamentos, iniciar nossas conversa sobre as
orientações sexuais e comportamentos, é preciso aprofundar e clarear as questões de genitalidade.
Enquanto não aprofundarmos esses temas as pessoas continuarão morrendo não só por AIDS, mas
pelas DST também. Nesse sentido, o uso e a disponibilização do preservativo é importantíssimo, mas
não deve ser o único meio de prevenção, pois se assim o for torna-se insuficiente. É preciso, acima de
tudo, ter um comportamento adequado, um comportamento de cuidado, um comportamento de
prevenção. As pessoas possuem a informação, mas tem dificuldades de ecodifica-la, ou seja,
transformar o seu comportamento em atitude segura, porque as pessoas compreendem
intelectualmente, mas não se previnem.
Além da Pastoral da AIDS ter a missão de dialogar sobre os temas, deve descobrir alternativas
que incidam sobre as relações das pessoas e isso significa que precisamos achar a resposta para a
extinção do vírus. Como manter uma ação permanente prevenção? É preciso buscar respostas
diversificadas, não é possível uma estratégia única, é preciso alternativas novas. Como pastoral e
agentes de pastoral o desafio é aperfeiçoar a resposta no campo da prevenção. Precisamos trabalhar
espaços para vermos e iluminarmos a realidade para que a resposta ideal chegue até as pessoas que
precisam dela.

BEATRIZ PACHECO – Representante Legal da ONG RNP – Porto Alegre (RS)

O HIV é para todos nós. Todos têm direitos, sobretudo ao respeito e ao amor. Quando
trazemos a AIDS pra dentro de nossas casas percebemos o quanto somos preconceituosos. A
exclusão existe, ainda que seja disfarçada. Assistência sem prevenção é exclusão, pois o amor inclui
amar as pessoas que não tem vírus também. É possível amar uma pessoa com HIV sem risco. Morte é
pra quem está vivo e não pra quem tem AIDS. Teríamos a condição de eliminarmos essa epidemia se
cada um cuidasse de si, se não procurássemos culpados e responsáveis. A prevenção é muito mais do
que camisinha, é preciso cuidar do corpo que temos. Na realidade, o preconceito é que está matando.
Quando falarmos da pessoa, falemos em nós mesmos.
O vírus é terrível, mas ele não pode ter o tamanho maior do que ele realmente é. O corpo que
nós temos foi um presente de Deus e um dia ele vai cobrar o cuidado que nós tivemos com ele. Viver
com HIV não é fácil, mas é possível ser feliz com o vírus. É importantíssimo falar sobre AIDS nas
escolas.

Contribuição dos participantes

Por que notificar somente a AIDS e não o HIV? Destaque para o Projeto da Saúde do Homem,
que vem encontrando dificuldades na identificação dos casos em homens. Além disso, questiona-se
por que não realizar mais testes rápidos. Por que não investir mais em tratamentos menos agressivos?
No dia 1° de dezembro será realizada uma campanha contra o preconceito. É importante
incluir outras regiões nas campanhas. Foi realizado um levantamento nacional do total de casas de
apoio ao HIV/Aids, talvez seja importante colocar mais projetos específicos, como investimento em
casas de apoio. Para os profissionais de saúde o diferencial é a Pastoral da Aids: pois somos vistos
como uma pessoa não somente profissional. Investir em formação dos religiosos em relacionamentos,
sexualidade e relação: Aids e sociedade. Quando assunto é preservativo, a igreja não quer falar
somente nele, quer algo mais além, por isso é importante oferecer uma ação mais continuada.
A Pastoral da Aids está mais aberta para discutir alguns temas, basta observarmos a sua
trajetória. O governo foca a questão da prevenção em datas comemorativas, o ideal seria um programa
de educação continuada, com uma linha de prevenção sistemática. Destacou-se o fato da campanha
do MS de prevenção ser relacionada somente ao uso do preservativo.
Diagnóstico precoce e o pré-natal é uma importante fonte de descoberta. Existe um protocolo
para outras patologias e seria importante que os serviços de saúde estivessem ofertando o teste para
um protocolo que já existe. Existe município que já está colocando o pré-natal do homem. Em São
Paulo já existe um movimento na Frente Parlamentar para os homens terem direito a 2 dias de folga
para acompanhamento do pré-natal. Existe um projeto de lei que quem transmite o vírus passa a ser
um crime, que tramita na Câmara, que criminaliza a patologia. Foi sugerido que desse seminário se
elabore um documento que se posicione junto ao Projeto de Lei.
A mortalidade é alta hoje porque os efeitos colaterais são muito acentuados. No Rio de janeiro
morreram 6 pessoas porque não tomaram, ou porque não tem medicamento. Hoje muitas pessoas
estão aguardando na fila, inclusive na justiça o acesso ao medicamento. Algumas pessoas preferem
morrer sem saber que estavam soropositivas. Tem gente que escolhe a morte.
Destaque para a cartilha “Viva Mulher”, uma vez que é um instrumento muito interessante e
tem surtido muito efeito nos trabalhos desenvolvidos junto aos grupos de mulheres. Sugestão para que
se publique a Cartilha do Jovem. Além disso, foi citado o caso de municípios que recebem o recurso do
PAM e não desenvolvem nenhum trabalho efetivo sobre a prevenção da AIDS. Precisamos nos
conscientizar de que somos multiplicadores e devemos ter cuidado com nosso discurso. Se somos
multiplicadores precisamos capacitar jovens e que desenvolvam trabalhos junto aos jovens.
Repercussão dos Assessores

Devemos aumentar as oportunidades de diagnóstico de HIV. E experiências como a Saúde do


Homem, Fique Sabendo, além de experiências localizadas com a testagem, sendo possível dentro de
uma ONG, com apoio dos serviços de saúde. Então qualquer medida que amplie a oportunidade de
testagem com protocolos seria bem-vinda. E a decisão de notificar o HIV ainda não é uma prioridade
para os governos, porque existem mecanismos técnicos que podem dar com fidelidade a estimativa da
população infectada. Tem alguns países que fazem a notificação com HIV, mas também tem muitos
países que também não notificam. Quanto a questão das campanhas, o nó crítico são as regiões... Se
fizermos uma campanha segmentada sairá muito mais cara (custo muito elevado), no entanto deveria
ser feita uma decisão contrária, ou seja, os estados e municípios deveriam fazer suas campanhas a
nível local, não com o mesmo dimensionamento do MS. Não estamos fazendo campanhas somente no
carnaval e 1° de dezembro, pois falar isto é negar o trabalho da pastoral. Necessitamos de fato é fazer
com que a qualidade do que tem sido feito em alguns locais sejam extensivos a todo o país. Não acho
que deveríamos fazer prevenção baseada no medo, pois esta história já conhecemos e não foi bom,
acho que o trabalho que é dialógico, feita por pares, com respeito as diferenças tem um poder de fazer
com que as pessoas possam agir baseadas em comportamentos seguros.
O medicamento não faz somente aumentar o tempo de vida, e sim melhorar a vida das
pessoas. São feitas várias ações tipo protocolos... Garantir o direito sexual e reprodutivo das mulheres
soropositivas a ter filhos com protocolos bem estabelecidos. Avançamos muito nesta área. As pessoas
estão envelhecendo com o HIV e estão surgindo novos problemas e precisamos lidar com esta
temática.
Os efeitos colaterais dos medicamentos veiculados pelos meios de comunicação fazem com
que as pessoas que estão infectadas não queriam fazer o tratamento. Não podemos colocar estas
estratégias, pois assim a população não vai querer nem levantar na cama. Nós temos que fazer uma
campanha de amor, porque assim podemos melhorar o mundo. De tragédias a televisão está cheia e
as crianças estão aprendendo a ser violentas. Não estamos conseguindo ouvir nossas crianças,
estamos nos prevenindo, chega de discursos vazios. Vamos assumir nossa responsabilidade, parar de
colocar culpa nos governos, vamos começar a revolução em nossa casa. Temos que mudar o foco do
nosso discurso e ter uma atitude de amor. Não precisaríamos de campanha o ano inteiro se
começássemos a campanha dentro de casa.
Devemos ter prudência em falar, não temos respostas prontas que vão resolver a situação.
Precisamos avançar em falar em nós e pararmos de falar nos outros. Temos que ter cuidados com os
chavões paralisantes.
Na assembléia do ano passado, nas capacitações realizadas pela Pastoral da AIDS, iniciou-se um
trabalho, perguntando para os participantes das atividades quantos eram agentes de pastoral e
quantos eram agentes de saúde. O resultado surpreende, mas nas capacitações tem um número muito
mais acentuado de agentes de saúde, de outras pastorais e outras igrejas do que os próprios agentes
da Pastoral da DST/AIDS.

Lançamento da Campanha em defesa da saúde e dos direitos humanos


1 de dezembro – Dia Mundial de luta contra a AIDS 2009.

Sábado, 10 de outubro de 2009.

A realidade da Pastoral da AIDS nos regionais: Perspectivas e Desafios

O que fazer para responder a estes desafios?


• Capacitações para implantar a pastoral nas dioceses e escolher os coordenadores
• Capacitação Estadual e reuniões dos coordenadores diocesanos.
• Resgatar os agentes capacitados através de seminário
• Desenvolver a campanha de incentivo ao diagnóstico nas 18 dioceses;
• Incluir atividades da pastoral da Aids nas escolas, catequese e grupo de jovens,
• Continuar o processo de organização da pastoral da aids nas dioceses onde não existe
e fortalecer onde existe.
• Envolver as pessoas vivendo com HIV e Aids nas ações da pastoral;
• Motivar os agentes pastorais e pessoas vivendo com HIV/Aids para participarem na
incidência Política.
• Buscar lideranças diocesanas para que os coordenadores do Regional (tendo em vista
que somos uma equipe) possam trabalhar mais livremente suas parcerias,
• Temos o desafio de uma casa de convivência em Recife-PE
• Disponibilidade de tempo para a Pastoral da AIDS;
• Superar a falta de informação ou ma informação sobre a Pastoral da AIDS e sua
maneira de trabalhar;
• Articular encontros de sensibilização com os padres e seminaristas em todas as
dioceses e prelazias;
• Articular em parceria com a CRB regional, campanhas de sensibilização para
formandos e formadas religiosas;
• Aproveitar os espaços das pastorais sociais e conselhos de pastorais para divulgar a
pastoral da AIDS;
• Divulgação nos meios de comunicação da igreja da existência da pastoral; por meio de
vinhetas, no caso das rádios e mensagem no caso dos jornais.
• Articular espaços na sociedade civil, onde a pastoral da AIDS possa dar visibilidades
aos seus trabalhos e buscar parcerias com elas;
• Manter parceria com a coordenação municipal dst/aids para a continuação de
trabalhos;
• Todos os agentes ter a mesma linguagem para podermos trazer mais adeptos para este
serviço, como sacerdotes, leigos, leigas consagradas e religiosos, por exemplo;
• Expandir as sensibilizações entre jovens e adolescentes, em escolas e na própria igreja,
para que todos tenham melhor conhecimento de como melhor prevenir e como
funciona o serviço da pastoral da AIDS;
• Aprimorar a sustentabilidade da Pastoral e a mobilização de recursos financeiros;
• Articular a pastoral com outras matrizes religiosas;
• Resgatar e monitorar os agentes capacitados;
• Conseguir insumos e o PAM Estadual e Municipal
• Participar das assembléias diocesanas, levando material informativo;
• Mapear os eventos pastorais regionais para divulgar a pastoral;
• Produção material educativo para falar a linguagem dos adolescentes e jovens;
• A integração de todos os regionais para partilhar, disponibilização de materiais
produzidos em suas bases, materiais ilustrativos, informativos, palestras entre outros.
Para que todos possam melhor integrar e formar as bases;
• Melhorar a parceria com os programas nos departamentos DST/AIDS para que
possamos desenvolver melhor as ações de prevenção e assistência;
• Fazer uma reciclagem com os agentes capacitados, motivando o desenvolvimento de
ações em suas paróquias e dioceses. Inclusive, com momento de espiritualidade.
• Buscar financiadores na área governamental e privada, mostrando a importância do
serviço da pastoral da AIDS, para a sociedade, através de projetos;
• Avaliar os trabalhos desenvolvidos pelos agentes da pastoral
• Manter o encontro anual das coordenações Regionais

Perspectivas:

- Tentativa de Diálogos com Bispos e padres sobre a Pastoral da AIDS;


- Realizar capacitação com Seminaristas;
- Continuar parcerias, dentro e fora da Igreja;
- Implantar a pastoral em mais paróquias do nosso regional;
- Aguardar a vez do Rio de Janeiro para trabalharmos juntos no projeto do Fique Sabendo, caso não
possa fazer na capital do RJ, que procure-se novos municípios que queriam acolher. O RJ não pode
ficar de fora de um projeto tão importante
- produção material educativo para falar a linguagem dos adolescentes e jovens;
- a integração de todos os regionais para partilhar, disponibilização de materiais produzidos em suas
bases, materiais ilustrativos, informativos, palestras entre outros. Para que todos possam melhor
integrar e formar as bases;
- melhorar a parceria com os programas nos departamentos DST/AIDS para que possamos
desenvolver melhores as ações de prevenção e assistência.
- fazer uma reciclagem com os agentes capacitados, motivando o desenvolvimento de ações em suas
paróquias e dioceses. Inclusive, com momento de espiritualidade. Criar novas capacitações em outras
instâncias, incidência política, pastoral social.
- buscar financiadores na área governamental e privada, mostrando a importância do serviço da
pastoral da AIDS, para a sociedade, através de projetos;
- fazer visitas aos bispos das dioceses, mostrando a importância e o papel da Pastoral da AIDS;
- pensar e efetivar um projeto junto com outras matrizes, exemplo começar com o CONIC;
- fazer uma carta de apresentação para as Pastorais Sociais e o clero, se possível a participação de
um encontro diocesano;
- apresentar a estas instituições o papel e a importância da Pastoral da AIDS e que seja incluído no
PAM.
- Avaliar os trabalhos desenvolvidos pelos agentes da pastoral
Encontro trimestral da coordenação Regional com as coordenações Diocesanas
- Manter o encontro anual das coordenações Regionais

CONTRIBUIÇÃO DA OFICINA DE SUSTENTABILIDADE

• Parcerias com a prefeitura, secretaria municipal, programa DST/AIDS, centros médicos.


• Recursos repassados pela diocese, fundo diocesano de solidariedade, projetos de missão
franciscana, venda de camisetas, captação de recursos, bazar da solidariedade.
• Coleta da festa de Corpus Christi, contribuição do regional para a pastoral, pois algumas
dioceses contribuíram;
• Repasse de 38 mil do Fundo de Solidariedade Diocesano;
• Apoio dos Freis Capuchinhos de Curitiba;
• Apoio da diocese, secretaria municipal de saúde, eventos patrocinados pelo comércio local;
• Bingos, almoços beneficentes, compra de cestas básicas e leite;
• Coordenação Estadual da DST/AIDS e Apoio do PAM do Município;
• Trabalho de grupo

Contribuições das Casas de apoio e centros de convivência

1- Enquanto Pastoral da Aids, serviço da Igreja Católica, qual é a contribuição dos Centros
de Convivência e Casas de Apoio? Qual é o diferencial

• Realizar serviços de cunho social


• Desenvolver atividades de promoção a saúde, orientação, adesão e cuidado ao tratamento.
• Não organizar na cidade uma casa de apoio e trabalhar como centro de convivência
• Reinserção social e familiar
• Acolhida solidária, buscando atender as necessidades de cada individuo.
• A escuta solidária busca da reintegração social pareceria com ONGS e a Igreja.

2 - O ideal é trabalhar assistência, prevenção, reestruturação dos laços familiares e


comunitários e reinserção social. Como pode trabalhar de força prática cada um destes
pilares?

• Assistência-ter pessoas capacitadas nas vários ares de atendimento. Identificar as


necessidades das Pessoas com HIV e encaminhar conforme as suas necessidades, e criar
grupos de auto ajuda e capacita-las.
• Prevenção-incentivar quem mora, e já usa os serviços da casa do centro para que faça o
próprio trabalho como orientador. Usar linguagem clara que consiga abranger as populações
em suas diversidades, valorizando a vida em todas suas dimensões.
• Orientar de modo universal, sensibilizar, informar, conscientizar.

Reestruturação - manter a força do grupo. Mostrar que o movimento, a vida continua, através
do apoio psicológico.
• O fato de ser soropositivo fragiliza os laços familiares porque a Aids ainda é vista como um
castigo pela sua opção sensual

Reinserção sócial-incentivar a pessoa para inserir-se na vida social


• A busca da responsabilidade sobre si, baseado nos valores sendo sujeito de direitos e deveres
como pessoa ativa, buscando estabelecer laços com as famílias de sangue.
• Não só uniformizar a mensagem a ser passada mas adequar e uniformizar a linguagem a ser
utilizada pelo agente da pastoral da Aids

• 3 - Continua sendo o grande desafio: Despertar a atitude de cuidado. A informação precisa ser
completa, correta, direta e segura e precisa contemplar todos os perfis sendo compreensível e
aceita por todas as pessoas. Qual é essa informação?

• Informar da forma mais clara possível, Conhecer o publico alvo


• Desenvolver a linguagem específica para cada grupo social, cada cultura
• Fazer panfleto didático/educativos – para conscientizar as pessoas do que não deve ser dito
(politicamente incorreto)
• Material e informação pelos pares. Psicologia das idades (para populações específicas)

• 4 – Qual nossa opinião sobre prevenção entre sorodiscordantes?

• Mostrar que a prevenção deve ser feita, e que o casal pode ter a vida ativa normal como ter
filhos, porém sempre com acompanhamento médico
• A vida deve estar acima de tudo. O uso do preservativo não deve ser incentivado de modo
generalizado como uma forma de contenção do vírus.
• Trabalhar as condutas de reinfecção ou ainda da infecção do parceiro, a importância de
controlar CV
• Não olhar o companheiro que está infectado como objeto de cuidado e sim um ser em sua
totalidade amando e respeitando como homem ou mulher.

Domingo dia 11/ 10/2009


Prevenção como cuidado integral
Pe. José Trasferetti

Homossexualidade e AIDS são temas co-relacionados ao comportamento humano. E por essa


razão se dispõe a perceber o que a Teologia Moral pode contribuir no trabalho da Pastoral da
DST/AIDS? Falou da delicadeza do tema da teologia moral por possuir muitas nuances que envolvem
esta temática. Então precisamos saber qual a melhor maneira de abordá-la. A grande pergunta da
moral é “O que devo fazer?”. É uma ciência prática e não teórica. Com isso, o intuito é, diante da
realidade que a Pastoral da AIDS enfrenta o que fazer para que o povo não se infecte, não sofra com
essa situação de vulnerabilidade ao vírus HIV. Moral é uma ciência que se ocupa da criatura. É levar a
pessoa até Deus por meio de escolhas morais. Precisamos ajudar as pessoas a tomar suas decisões
para que saibam fazer corretamente, que escolham caminhos que leva até Deus. Ela está associada
às convicções, e o tema aids está associado ao mundo da moral.
Na dimensão da moralidade existe a moral fundamental e a moral especial. Como agir? Como
tomar decisões? Para a moralidade é importante ter discernimento, prudência, sabedoria. Ser sábio é
fundamental diante do mundo que se vive. A teologia moral visa ajudar a exercer a vida por meio da
sabedoria e das escolhas morais, exercitando seu discernimento. Objetivo: levar as pessoas até Deus
por meio das escolhas morais. Nós a fazemos, somos sujeitos da moralidade, o livre arbítrio. Assim
escolhe as ações, sendo ele sujeito moral de sua vida. Contribuir com a formação da consciência moral
para que as pessoas quando resolvam tomar suas decisões as façam de forma a levá-las até Deus. A
moral está associada ao trabalho das confissões. A formação moral é voltada às regras da convivência,
tendo em vista a reta conduta em sociedade.
Os nossos teólogos moralistas, nem todos têm muitos escritos sobre o tema AIDS. O tema é
difícil e muitos teólogos optam por não envolver-se nessa temática. Além disso, é importante destacar a
sociedade visual. Hoje existem várias morais na própria igreja católica e na própria sociedade em que
se vive. Não existe uma moralidade, ou uma teologia moral, existem várias e isso de certa forma é um
problema, porque causa confusão. O que fazer diante disso? Já nem temos mais noção do que, de
fato, é pecado. Na década de 40 o conceito de pecado era claro, hoje, embora existam os manuais, a
doutrina moral da igreja sofreu alterações, devido às mudanças da sociedade. As orientações da moral
são as mesmas. O último documento escrito sobre controle da natalidade foi em 1960, isso cria
dificuldades porque a sociedade tem outros parâmetros. Estamos numa época difícil onde existe
conflito dentro e fora da igreja. Um documento da Igreja é baseado numa sociedade com determinado
parâmetro de existência e hoje vivemos em outros parâmetros. Existem conflitos dentro da própria
igreja e da igreja com a sociedade.
Esse encontro é importante para refletir o que fazer para que a sociedade se previna? Ou o
que falar, que discurso vamos usar para que a sociedade encontre ações para agir. O que fazer para
que toda sociedade se previna? Qual é a co-responsabilidade na contenção da epidemia que atinge
todo ser humano. Como prevenir todas as pessoas? Os saberes se viram insuficientes para dar
resposta ao evento da AIDS. Assim também os teólogos morais não conseguiram responder aos
avanços dessa realidade. Há uma dificuldade na compreensão do advento da AIDS, além da
dificuldade de produzir materiais que subsidiassem as informações necessárias.
A moral católica tem uma resposta, mas uma resposta voltada para o público dela e responde
a toda a sociedade. A Igreja tem uma resposta, que em princípio seria para o seu público, mas o
próprio público da igreja não está se sentindo contemplado com essa resposta, pois não a segue. Em
que sociedade estamos vivendo? Há uma forte presença da razão que traz modificações ao conceito
de modernidade. Hoje estamos em uma sociedade pos moderna. Os bens de comunicação, as TVs
brasileiras apresentam um avanço enorme e que traz uma mudança considerável em nossos
comportamentos. Que comportamentos, que valores morais estão presentes na sociedade atual? E
quais valores a igreja transmite ao seu público? As mudanças acontecem numa velocidade
considerável. Não apenas do tempo, mas dos comportamentos. A tecnologia trouxe muitas mudanças
comportamentais, assim como no universo da ciência.
Hoje quando pensamos sobre a pessoa precisamos pensar no contexto da sociedade atual.
Que padrões, comportamento morais os meios de comunicação estão transmitindo para o povo. Hoje
se fala de hipermodernidade, mais feroz ainda, mais veloz ainda, tem haver com a velocidade, rapidez,
faz mudança. Os meios de comunicação estão mudando o comportamento das pessoas, crise de
valores. Todos precisamos trabalhar para que o discurso contribuía para o melhor para as pessoas.
Vivemos numa sociedade fragmentada com uma crise mundial de valores profunda, provinda
da globalização que emergiu na década de 90. O que fazer, por exemplo, com as crianças que já
nasceram com o vírus HIV? Como a igreja compreende e faz o discernimento moral do direito que
essas pessoas têm de amar e não podem pelo fato da proibição do uso do preservativo em nome de
uma moral católica. O problema do nosso tempo é que estamos numa crise contínua, permanente,
onde quando você pensa que está saindo de uma, entra em outra e assim a realidade nunca modifica,
seja crise de valores, econômica, de família. Vivemos dentro da mudança e é preciso que a
compreendamos.
Há uma crise nas famílias, por exemplo. Que estrutura de família encontramos hoje? As
escolas, universidade, partidos políticos, movimentos sociais estão se fragmentando e estão em pleno
momento de crise. A esta crise damos o nome de crise estrutural que afeta as instituições. Além disso,
há a crise formal que atinge os agentes morais: pais, professores, médicos, advogados. Vivemos um
vazio moral e ético. Existe uma indefinição da vida pessoal. O vazio é um espaço de desesperança e
isso gera sinais de depressão e stress agudo. Há uma confusão e inversão de valores. Isso gera uma
confusão entre o que é certo e errado no mundo de hoje. Há uma cultura contrastante entre uma moral
do rigor, da norma e a moral laxista, quer dizer uma moral que se perdeu, que vive no vazio, sem
identidade, permissiva.
A riqueza da diversidade, nesse caso, acaba gerando confusão devido à falta de
discernimento. Precisamos de pessoas mais centradas para exercer um comportamento ético. O
homem tem uma preocupação com o sentido tecnológico, há um excesso de tecnologia. Há uma vida
muito ativa – praxismo, um consumismo exacerbado, a perda do sentido da vida, a proliferação da
violência, o esquecimento do verdadeiro amor, a relação única do homem com o individualismo, o
materialismo exacerbado. Esses são males gerados pela sociedade da velocidade.
Hoje existe uma mudança muito significativa do ethos = identidade mais profunda como na
moral (hábitos e costuems). Ética enquanto exercício da crítica. Quem sou eu, nessa sociedade? Há
uma mudança de época que implica numa nova identidade e isso gera uma crise de identidade,
individual. Somos altamente preocupados com o ter, com os bens materiais. Há uma preocupação
excessiva com os bens de consumo. As mídias são agentes produtoras de uma nova moralidade. As
religiões vivem uma nova realidade, pois oferecem uma série de opções. As religiões se transformaram
em religiões de mercado. Tudo se transforma em indústria e mercado: do sexo, das religiões, etc.
Surgem os novos paradigmas: paradigma do prazer X dever. Sexo casual, sem compromisso,
associados à mídia, ao desenvolvimento da ciência e a pós-modernidade; paradigma do não falharás
(Viagra) é o paradigma do sexo enquanto consumo; paradigma da indiferença, ausência de
compromisso, de responsabilidade, uma vida individualista; paradigma da ausência do cuidado e da
responsabilidade com o outro, a preocupação é mais pragmática; paradigma da exclusão do outro,
social e moral; paradigma da ausência da culpa; paradigma do corpo estético; paradigma do consumo,
da indústria; paradigma do tempo (fast); paradigma da ciência, do progresso sem limites, a ciência todo
pode, tudo resolve; paradigma da corrupção; paradigma da ausência de sentido para a vida;
paradigma do amor on-line.
A sexualidade dentro desse contexto é uma das áreas que mais mudou nos últimos anos e não
conseguimos acompanhar essa questão. A moral sexual é a mesma moral de 40, 50, 60. Tem muitos
elementos positivos, como a família, o amor, mas também tem elementos negativos, devido ao
fechamento e ao não acompanhamento da moral pública, civil. A moral rigorista se sobrepõe a moral
laxista.
Dois desafios: a) o problema da procriação – temos uma moral que ainda condiciona a
sexualidade à procriação. Devemos reconstruir essa questão da lei moral da procriação, já que a
sociedade não a compreende assim, sobretudo com a emancipação da mulher, assim como da lei
moral natural – uma lei imutável, que supõe a natureza do corpo. Deus criou assim, e assim deve
permanecer não podemos interferir. A relação sexual humana tem uma conjunção biológica e cultural.

Desafio da prevenção – somos responsáveis pela vida e por isso devemos dar condições de
prevenção, fazendo sexo seguro, sexo protegido, por exemplo. Um é o discurso do governo e outro é o
discurso da igreja. Devemos usar o discurso do bem maior. É preferível realizar todos os atos de forma
consciente, objetivando o cuidado com a vida. Devemos combater o preconceito, a discriminação
moral. A questão da assistência deve incluir o combate à ignorância, priorizando o cuidado, o amor, o
acolhimento, o respeito, a misericórdia, a compaixão. Há um desconhecimento e falta de educação e
orientação das pessoas sobre esses assuntos. Por causa disso, algumas pessoas optam por viver
anonimamente sua condição de portadores do vírus HIV. Precisamos saber explicar para a
comunidade a questão da AIDS, tanto em relação à prevenção quanto aos comportamentos diante do
preconceito e da realidade das pessoas infectadas. Pior do que o vírus é o preconceito! Isso sim, mata!
Devemos agir mais com a razão e não apenas com a emoção.
A Pastoral da AIDS orienta os seminaristas, padres, religiosos que façam o teste para que
possam ser acompanhados, cuidados, diagnosticados a tempo de fazer o tratamento quando
necessário. No entanto, não há como obrigar que as pessoas façam o teste, sobretudo enquanto
condição de ingresso ou permanência no ministério ordenado e consagrado. Todos têm o direito de
saber se é ou não portador do vírus HIV. O que não pode é sofrer preconceito e discriminação pelo fato
de ser portador. O grande desafio é o trabalho junto à consciência moral que está relacionada à moral
renovada. Sua consciência determina seu ato moral. A moral trabalha com a Sagrada Escritura, temos
que nos basear na Bíblia, escolhendo o jeito moral, o comportamento moral de Jesus agir diante da
samaritana, do sábado. Em segundo lugar a Patrística, a tradição. Seguida do magistério. Atualmente
os documentos de Puebla, do CELAM, da CNBB. Também devem ser lembrados os teólogos, seguida
da experiência vital da comunidade. Esses são os dados que devem ser inculturados nos nossos
trabalhos.
Sem dúvida, o cuidador merece ser cuidado. Porque se é difícil para a pessoa que vive com o
vírus HIV, quem convive com essa pessoa também sofre e passa por momentos de desânimo e
dificuldades. Isso pode ser realizada através de uma espiritualidade encarnada, pois envolve muita
emoção, e o lado emocional e afetivo também acaba sendo afetado de uma forma muito profunda.
Temos a tendência de julgar e condenar e não de acolher, compreender e conviver na busca pela vida,
ainda vivenciamos uma moral negativista. É o que predominou em nossa moral nos últimos tempos. Há
diferença entre moralismo (julgamento de forma preconceituosa) e moral. Temos que ter um olhar de
poeta e não de um machista ou moralista. Reeducar o olhar é reeducar o corpo, os comportamentos.
Precisamos cuidar de nós mesmos, para garantir essa reeducação do olhar para então, construir uma
moralidade positiva.
O cuidado é um ato de delicadeza. Imbuídos de quatro palavras: obrigado – expressar gratidão
pela vida; desculpe – expressar que somos vulneráveis; eu te amo – revelar nossa ternura; adeus –
abrir-se a perspectiva de uma vida nova numa dimensão transcendente. O que seria uma boa morte?
Ninguém deseja morrer, porém mais cedo ou mais tarde seremos tocados por ela. Para nos
despedirmos da vida é preciso tomar alguns cuidados: aliviar a dor e o sintomas de sofrimento, evitar o
prolongamento do processo de morrer, manter um senso de controle com vulnerabilidade (autonomia),
não se sentir um peso para os ente queridos, resolver conflitos, ter confiança e confidência nos
cuidadores, ser tratado com dignidade e sinceridade no prognóstico e diagnóstico, ter a consciência de
que a vida não termina com a morte.
Decálogo: Não tenha medo de tocar; não se sinta inconfortável com o silêncio; não faça
afirmações não verdadeiras; não pense que você tem todas as soluções para todos os problemas;
partilhe o dom do tempo juntos; ofereça ajuda; procure localizar fontes de apoio; respeite a privacidade
e integridade da pessoa doente.

Bíblia e Prevenção
Aprofundamento de elementos de espiritualidade da prevenção
Alexandre Rangel (CEBI)

Quando falo de espiritualidade, falo daquilo que sinto, o que perpassa pelo corpo (canto).
O tema da saúde é inseparável do tema da espiritualidade. A raiz da palavra cura, cuidado,
saúde, salvação, prevenção pode ser resgatada na fé. Afinal, as pessoas desejam conquistar a vida
plena, ainda aqui na terra, e quando falamos dos portadores do HIV percebe-se ainda mais essa busca
pela vida. A palavra cura foi muito deturpada por algumas religiões. Como resgatar isso numa
dimensão pastoral? Como compreendemos o tema da cura num processo pascal, a partir da fé. A
saúde deve deixar de ser um tema apenas de tratamento, mas de cuidado, de prevenção, integrando o
nosso cotidiano. A saúde passa a ser integrada com a salvação.
Para o encontro de hoje, refletir o tema da espiritualidade e da prevenção através de um
caminho que é difícil. Quando se fala em espiritualidade, o livro de Jonas é muito indicado, pois trata da
dimensão do cuidado, sobretudo quando encontro o outro, o diferente. O livro de Jonas é desafiante, o
mais bonito da Sabedoria. Diante da leitura do texto, somos convidados a destacar os símbolos
trazidos pelo autor e qual o caminho de espiritualidade que o livro de Jonas nos propõe para nossa
ação pastoral? Jonas 1-4.

SÍMBOLOS
Tempestade, vento violento, fuga, navio, sacrifício, caminho contrário, peixe grande, vestir-se
com saco, sentar-se sobre as cinzas, planta que cresce e morre, montanha, tirar o manto real,
cabana, percorrer a cidade um dia, fúria do mar, sol forte, algas, templo, saudade, poço fundo,
objetos lançados fora, três dias na barriga da baleia, deitado no fundo do barco, vômito, jogar a
sorte, decreto, oráculo, promessa, votos, filho de abitai (fidelidade).

CAMINHOS
Persistir como Jonas, sem fugir; o decreto confirma uma ação popular em torno de uma
situação que precisa ser mudada; não há como fugir da missão (diálogo); imagem de Deus
punitivo x Deus misericordioso; experiência de Jonas com Deus; a diversidade quando se
encontra está preocupada de achar o problema; sair do comodismo e enfrentar o desafio; dor
como processo de descoberta, de encontro; mudança deve ser uma ação coletiva; o tempo do
mergulho é importante; Jonas não quer fazer o trabalho preventivo; não quer mudar a situação
de morte; Jonas nos representa; o texto foi construído para chamar a atenção de Jonas e não
da cidade; a visão dele produz a doença; ele representa o sistema que está corrompido; vem
enfrentar a visão de Esdras; Jonas precisa se dar conta que o diferente é importante; é preciso
se dar conta da imagem que quero acreditar; o Deus que eu acredito pode justificar a situação;
precisamos acreditar no Deus que reafirmar e confirmar nossos valores; chegar na profundeza
daquilo que realmente somos. Qual o desafio, qual a preocupação de Jonas? Jonas chega no
fundo do templo e sente a saudade do templo, ele está preocupado com sua situação. Qual a
grande lição? O povo que era inimigo mostra outra situação. É preciso o tempo necessário, o
dia a mais pode ser a depressão. Vestir-se de saco tem a ver com a prevenção porque lembra
a equidade, lembra a igualdade de todos. O cuidado é alimentação para o cuidado. As cinzas
vêm dos ramos, usados no domingo de Ramos, onde se celebra a entrada de Jesus em
Jerusalém. A imagem das cinzas e do saco são imagens preventivas.

PASSOS PARA ESPIRITUALIDADE DE PREVENÇÃO

Não fuga – tomar consciência dos problemas e da situação, no âmbito social e pessoal. Tenho
que tomar consciência de um sistema de doença, que parte do sistema capitalista. Devo continuar
mexendo no sistema, mas devo faze uma tomada de consciência pessoal que provoca uma mudança
social. Elas não devem andar separadas.

Diálogo – instrumento de cura, prevenção e mudança. A fé dos marinheiros ajuda Jonas a tomar
consciência. Deus se relaciona através da fala do povo. Diante de uma vida ameaçada toda fé faz a
diferença. Quem está preocupado com a vida não é Jonas. Por isso, é preciso fazê-lo lembrar quem é
o seu Deus e começar a perceber que está no caminho incorreto. A fé dos marinheiros dá a condição
de perceber que alguém está colocando a vida de mais gente em risco, nesse caso Jonas representa
um grupo que se destoa dos demais. O problema de uns afeta os outros. Quais são os
questionamentos que os marinheiros fazem sobre Jonas, diante da sorte? Quem é você? De onde
vens? Sou hebreu (passageiro), adoro a Deus criador do céu e da terra. A resposta já afronta uma
tradição fechada, uma vez que os hebreus são passageiros. O diálogo procura aprofundar as relações.
Toda fuga produz tempestade, a consciência do problema já é um passo de superação. Mergulhar
fundo é o caminho de aprofundamento da fé e da espiritualidade, caminho de descoberta do ser (ir ao
deserto). Mergulhar naquilo que é o oposto, ou mesmo o desconhecido. Esse é o caminho do amor,
mergulhar na situação mais adversa que puder.
No trabalho popular e no caminho de mudança e prevenção o povo toma consciência que por
sua vez modifica a posição dos governantes e em seguida vira lei. No trabalho pastoral é necessário
aprofundar sobre as imagens de Deus, para filtrar a revelação e manipulação por interesse pessoal ou
institucional. Morte e vida fazem parte do ser, da integralidade. Diante da vida ameaçada toda a fé
pode ter um valor e importância desde que seja para resgatar a vida e a dignidade. Estamos todos no
mesmo barco. Deus nos ajuda a tomar consciência de que a vida e a morte são parte da mesma
moeda. A revelação de Deus como ternura e misericórdia, já é um passo de cura, de promoção de
saúde. Enquanto o amor resgata, a culpa e o castigo separam, excluem. Entender o pecado com
promoção de doenças tendo cuidado para não individualizar essa relação (Livro de Jó e Evangelho de
Maria Madalena).
A resposta de Deus a Jó foi mostrar o universo. Já os amigos de Jonas mostraram o
desequilíbrio humano. Para que jogar para Deus o problema que não é dele. É o sistema humano que
provoca a doença – capitalismo. Mesmo antes disso o sistema humano produz a doença e a morte.
Tudo isso é promotor do desequilíbrio humano: monoteísmo, patriarcado, entre outros. Você pode
entender o vírus matando a planta, mas Deus quer mostrar que a vida está para além da planta.

Segunda feira,12/10/2009

Pastoral da Aids: Desafios e perspectivas


Fr. Luiz Carlos Lunardi

No nosso modo de ver a partir de tudo que falamos o que ficou para nós como desafio e
perspectiva? Quais as principais ações?
Foi realizado um momento de encontro em grupos para levantar elementos para um possível
documento. Feita a plenária, redigiu-se o documento que segue:

Carta de Brasília

Nós, lideranças e agentes da Pastoral da AIDS, vindos dos estados de Rondônia, Amazonas, Pará, Rio
Grande do Norte, Pernambuco, Bahia, Alagoas, Paraíba, Mato Grosso, Goiás, Tocantins, Distrito Federal, Mato
Grosso do Sul, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Espírito Santo, São Paulo, Paraná e Rio Grande do Sul, reunidos
em Brasília, de 9 a 12 de outubro de 2009, por ocasião do VII Seminário de Prevenção ao HIV, como fruto do
nosso engajamento e do amplo processo de discussão, dirigimo-nos à sociedade brasileira, através das
instâncias governamentais e não governamentais, para manifestarmo-nos:
1. Pela preservação da vida com qualidade e dignidade em toda sua extensão, da concepção à morte
natural;
2. Pela manutenção da atual política de financiamento das ações de prevenção e assistência das DST
e Aids através da transferência de recursos do Fundo Nacional aos fundos estaduais e municipais de saúde,
mediante os Planos de Ações e Metas – PAM – conforme disciplinado pelas portarias MS 2313 e 2314/2002;
3. Pelo cumprimento dos dispositivos da Portaria 399/2006 que imputa aos estados e união a
fiscalização da correta aplicação dos recursos transferidos por estas esferas governamentais aos fundos
municipais de saúde e cumprimento da Portaria MS 1679/2004 que disciplina o monitoramento da execução dos
Planos de Ações e Metas;
4. Em apoio à criação de Frentes Parlamentares de enfrentamento ao HIV Aids junto a todas as
Assembleias Legislativas dos estados para defesa dos direitos das pessoas vivendo com HIV e Aids e
apresentação de emendas aos orçamentos públicos para ações em DST/Aids;
5. Pelo imediato e definitivo arquivamento do Projeto de Lei 4887/2001 que introduz o artigo 267-A no
Código Penal Brasileiro conforme Decreto Lei 2848, de 7 de dezembro de 1940 e passa a considerar crime
contra a Saúde Pública a contaminação de terceiros com doença incurável de que sabe ser portador, incluindo o
contágio pelo vírus HIV.
6. Pela ampliação das ações do Diagnóstico Precoce (testagem sorológica) para as HIV, sífilis e
Hepatites Virais;
7. Pela maior divulgação dos editais do Departamento de DST e Aids para projetos das organizações
não governamentais;
8. Pela atenção diferenciada por parte do Departamento de DST e Aids do Ministério da Saúde aos
municípios de pequeno porte e de difícil acesso em virtude do processo de interiorização da epidemia;
9. Em apoio às atividades desenvolvidas pelos Fóruns de ONGs/Aids que fortalecem a resposta
brasileira à epidemia;
10. Pelo fortalecimento da Rede Nacional de Jovens vivendo com HIV e Aids, estabelecendo
estratégias e políticas integradas para o trabalho com crianças, adolescentes e jovens;
11. Pelo incentivo à criação de Grupos de Trabalho de Aids e Religiões nos Programas Estaduais e
Municipais de DST/Aids
12. Pela implementação, nos estados, da “Portaria da Lipodistrofia” e pela sensibilização dos
profissionais para realizar os procedimentos;
13. Pela criação do Programa de DST/Aids nos municípios que não os possuem e de comissões
municipais de DST/Aids junto aos Conselhos Municipais de Saúde;

Como serviço pastoral, em conformidade com o Documento de Aparecida e das Diretrizes Gerais da
Ação Evangelizadora 2008-2011, vemos como muito importante que a Igreja:
- Propicie maior visibilidade à Pastoral da Aids e às datas marcantes de enfrentamento do HIV: 1º de
Dezembro e Vigília pelos mortos de Aids;
- Promova a sensibilização e capacitação de clérigos, religiosos/as e leigos/as para colaborar no
enfrentamento da epidemia e superação do preconceito;
- Fortaleça a Pastoral da Aids nas comunidades, paróquias e dioceses, motivando os cristãos ao
trabalho neste campo.

Brasília, 12 de outubro de 2009.


Festa de Nossa Senhora Aparecida – Padroeira do Brasil

A partir do Seminário do ano passado, o projeto de incentivo ao diagnóstico precoce está


sendo pensado e refletido. Assim, num primeiro momento o lançamento será em Brasília, e
posteriormente em Fortaleza, Curitiba, Manaus, João Pessoa e Porto Alegre. É importante fazer o teste
anti-HIV, evitando que a doença se manifeste. Não um teste compulsório, mas será orientado que as
pessoas o façam por adesão. No dia 22 de outubro, lançamento da Campanha em Brasília.

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