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8h – Espiritualidade
O encontro iniciou motivando todos a integrarem uma corrente de oração por todos, sobretudo
pelas pessoas que sofrem com a doença da AIDS. Posteriormente, os presentes foram convidados a
contemplar o ambiente preparado para a acolhida e momento de oração inicial. Acolhidos e imbuídos
de um espírito de partilha, unidade, amor e paz, o Salmo 46 foi recitado em dois coros, seguido do
canto A palavra de Deus vai chegando, vai, aclamando a Palavra de Deus que está no Evangelho de
Lucas 4, 14-21. O momento seguinte convidou à interiorização e partilha das leituras ouvidas. A oração
da manhã foi encerrada com uma oração final, entoada em dois coros, seguida da oração do Pai
Nosso e canto final.
Frei Jose Bernardi motivou a dinâmica de acolhida dos presentes, subdivididas pelos regionais da
CNBB: Nordeste 1, Nordeste 2, Nordeste 3, Noroeste, Norte 1, Norte 2, Leste 1, Leste 2, Sul 1, Sul 2,
Sul 3, Oeste 1, Oeste 2, Centro-Oeste, ONG de Minas Gerais e Nelson Ramos (Ministério da Saúde).
Quando trazemos presente a dimensão da sexualidade numa perspectiva cristã, enquanto linguagem
eclesial e pastoral, trazemos também uma bagagem. Para iniciar o diálogo, o assessor motivou para
uma técnica de aquecimento, que consiste na formação de uma família composta por pai, mãe e filho
(s) e fez o seguinte questionamento: Quais as principais dificuldades na abordagem do tema AIDS na
relação pais e filhos? Num primeiro momento os pais falam e os filhos escutam. Posteriormente, os
filhos fazem perguntas sobre a temática, mesmo que tenham vergonha de fazê-las. O assessor lançou
novo questionamento para os pais: Quais são os principais medos em relação às perguntas que os
filhos podem fazer e que eles podem não saber responder por desconhecer o assunto? Para encerrar a
técnica, escolheu três dessas questões que foram dialogadas nas famílias. Os presentes puderam
partilhar suas percepções sobre o diálogo na família. Destaque: como a Aids entrou na vida do casal,
uma vez que eles tinham uma união estável; questões do preconceito de gênero; reação dos pais em
relação à vida sexual ativa dos filhos; porque uma criança de cinco anos, portador do vírus HIV, precisa
tomar remédios que os colegas não precisam; ouvir que o filho ou a filha é homossexual.
Diante das impressões, de fato, precisamos nos colocar no lugar de um pai, de uma mãe, de
um filho ou filha, pois assim fazemos a reflexão sobre a temática acontecer. O processo pedagógico
que Jesus nos ensinou traz a misericórdia, a compaixão, o colocar-se no lugar do outro. Somos
imbuídos das realidades do HIV/AIDS e assim somos convidados a fazer o que Jesus fez. Qualquer
pessoa pode trabalhar em prol da vida, sobretudo da vida ameaça pelo vírus HIV. Somos chamados
por Deus para estar nesse meio. Como é o trabalho com o portador HIV tendo como principal
referencial Deus?
Erotismo, sexualidade, casamento e infidelidade (slides) - é muito comum falarmos de um
histórico e isso faz com que sejamos saudosistas, trazemos tabus, medos. Percebemos que estamos
em outro tempo, em outro contexto. A sexualidade está dentro da história e é preciso que nos
inculturemos para que sejamos menos preconceituosos, no diálogo com o outro. Não somos nós que
temos a sexualidade é ela que nos tem. Isso pressupõe um rito de passagens sexuais que se
apresentam nos padrões típicos experimentados pela maioria dos homens e mulheres de nossa
sociedade. Emergem as crises que passam na família, pelo fato de muitas das pessoas terem
descoberto muito tempo depois de casados a sua soropositividade. Hoje os índices mostram que a
maioria dos portadores são homens e mulheres casados e não mais os homossexuais, como se
acreditava. Nesse contexto há também as forças sociais e psicológicas que dificultam a vida dos
portadores.
Sendo assim, como fica a dimensão social das pessoas portadoras? Há oito estágios sexuais:
a) infância: desde a gestação, conhecimento, masturbação; b) adolescência: grande influência
hormonal, com diferenciação entre adolescência e puberdade, conflitos, influenciáveis e mutáveis pelas
questões culturais. Apesar da liberdade sexual não se fala nessa questão no contexto familiar; c) 20
aos 30 anos: emocionalmente mais desajustados entre si do que em qualquer outra fase, há processo
de crise natural, porque tem projetos de vida diversos, um período de mudanças onde a dimensão da
sexualidade é muito acentuada; d) até 40 anos: fase de revisão de vida, desajustes sexuais, rotina na
vida do casal, ocorre muita separação, há uma maior definição sexual; e) depois dos 40 anos: pode
ocorrer uma certa segurança, fase das experiências; f) 50 aos 60 anos: homens e mulheres se
combinam sexualmente e emocionalmente, pressupondo valores pré-construídos, dependendo de uma
co-construção; g) depois dos 60 anos: homens e mulheres escolhem relacionamentos com parceiros
mais jovens, em nome de um prolongamento sexual, a etapa pode ser sensual; h) 70, 80 anos:
cognitivamente permanece no estágio da colheita, colhendo tudo o que foi construído durante a vida.
A maioria dos desejos sexuais e emocionais pode ser relacionada às questões cognitivas.
Somos o que pensamos. A questão cognitiva tem a capacidade de nos reger. O inconsciente nos rege
e sobre ele não temos controle. Segundo Morin podemos nos disciplinar, mas não controlar. Na leitura
bíblica do Ex 3, Moisés fala da sarça ardente e do ato de tirar as sandálias em solo santo. Falar de
sexualidade é falar de um campo sagrado, onde para entrar nesse tema é preciso tirar as sandálias do
preconceito.
Gênero e sexualidade conjugal – herdamos uma moralidade culturalmente machista, e isso nos
faz sermos mais vulneráveis ao HIV. O dominar se sobressai ao cuidar. Homens e mulheres são
submetidos às verdades do padrão normativo. Nosso comportamento tem a ver com o lugar de onde
viemos. Todas as pessoas precisam avaliar seus comportamentos sexuais para minimizar o risco de
contração do vírus HIV. Somos frutos de um processo histórico, cultural e por isso devemos ajudar as
pessoas às quais acompanhamos diante da realidade do vírus HIV/AIDS. Sou co-contructo social,
precisamos não rotular as pessoas, não pensar que as pessoas são HIV ambulantes.
A energia que existe no prazer e na harmonia sexual nos seres humanos gera força para
mover seu mundo nas relações e nos desafios existenciais. O exercício de nossa sexualidade deve ser
uma decisão e de responsabilidade de cada um, desde que não gere danos. Numa linguagem eclesial
precisamos compreender que o universo da sexualidade é muito delicado. Numa linguagem psicológica
a dimensão da sexualidade é fornecedora de afeto. Afetar é a capacidade de afetar e ser afetado. A
afetividade é o movimento do afeto e o complemento dele. É diferente do sexo e do ato sexual. Sexo é
o movimento do sexo, somos seres sexuados. Compreendendo isso, seremos agentes pastorais mais
cuidadosos conosco e com os outros.
Perspectiva cristã da sexualidade – Moral: como nós, enquanto Igreja, pessoas de fé podemos
compreender essa questão? Moral: constituída a partir da moral sexual, é tida como um conjunto de
reflexões teológico-moral (como Deus olha para essa questão e como se normaliza essa mesma
questão). Tem como referenciais a Sagrada Escritura e as Ciências Antropológicas. A relação afetivo-
sexual é vista a partir da Palavra de Deus. Isso é construído, a partir de um lugar teológico que se dá
na revelação das escrituras e da encarnação desse Deus, em Jesus Cristo. Falamos desse Jesus que
nos inspira e ao qual nós seguimos. Além disso, baseia-se na questão antropológica, reconhecendo a
dimensão ético-social.
Temos traços do criador, pois o criador está presente na criatura. A Sagrada Escritura oferece
elementos para uma ética-cristã diferenciada, é ela que nos rege a partir da nossa fé. Não olhamos o
outro apenas como diferente, mas como irmãos, percebendo no outro a essência. Somos filhos do
mesmo Pai. Os valores específicos cristãos nos fazem ter a capacidade de conviver com o outro,
independente das diferenças e dos conflitos que possam existir. A concretude do compromisso traz a
oportunidade de exercer um ministério, com olhar divino, pois desenvolvemos nossa missão em nome
de Deus. Assim, na época de Jesus, com o olhar divino Ele acompanhava e cuidava dos leprosos, por
exemplo, hoje nós somos convidados a realizar essa prática moral-cristã com os portadores de HIV.
A dimensão da sexualidade tem uma inspiração divina. A criatura é ser individual no
anonimato, percebida como imagem e semelhança de Deus e isso nos torna coletivo. Atendemos a
todos e todas porque somos imagem de Deus e é por causa dele que nos dispomos a despir de alguns
preconceitos, por exemplo. Deus não depende de nossa fé, nós é que dependemos Dele,
independente de nossa religião, inclusive ateu. Destacamos a essência de cada ser: imagem de Deus.
Como agentes pastorais que desenvolvem seu trabalho em nome de Deus não temos o direito de
escolher a quem vamos acompanhar. A partir das relações, mantemos um diálogo inter-humano. A
erotização e o amor agápico (dar sem esperar nada em troca) estão andando lado a lado na Bíblia,
como no Cântico dos Cânticos, por exemplo. Somos herdeiros da aliança que Deus fez com Moisés,
somos continuadores do projeto do Reinado de Deus em nosso meio. Nossa aliança é o diferencial que
uma pastoral da AIDS tem em relação a outros grupos que desenvolvem trabalhos com os portadores.
A Moral Cristã também nos mostra que é importante a dimensão escatológica. Nossa fé diz
que a vida não acaba aqui, precisamos ter uma visão de passagem dessa vida terrena para a vida
eterna. Quando ressuscitamos o fazemos por completo, integralmente, inclusive com nossa
sexualidade e afetividade. Sempre existe uma esperança, mesmo quando o portador acredita que sua
vida acabou ao descobrir sua condição. Essa dimensão escatológica acontece através da tradição
cristã, evidenciada pelos documentos da Igreja em caráter sacramental de amor responsal.
A virgindade e a castidade têm dimensões próprias. Essa prática significa fidelidade a um
projeto. Castidade não é ausência do ato sexual e sim fidelidade diante de uma aliança, de um
compromisso. O homem deve ser casto a sua mulher e vice e versa. A Sexualidade é dimensão
humana para edificação da pessoa, consiste na personalização do sujeito humano. Integração do
comportamento sexual ao conjunto da pessoa. Inclui as categorias de atitude e de opção fundamental
X centralidade nos atos. Não podemos centrar nossa vida nos atos e comportamentos sexuais. Assim
como também não podemos escolher ser ou não homossexuais, mas podemos e devemos escolher
comportamentos adequados. A Igreja condena os comportamentos sexuais e não as pessoas.
Podemos comparar o HIV com um animal que está hibernando. A doença que nasceu com os
homossexuais e toxicodependentes, hoje, revela através das estatísticas que os heterossexuais estão
sendo muito mais afetados por conta dos relacionamentos sexuais esporádicos, com múltiplos
parceiros.
Trabalho de Grupo
Texto-Base:
AIDS é doença dos outro
(Fr. Rubens Nunes da Mota)
Questões:
1. Como trabalhamos a imagem de Deus em nossa pastoral?
2. Não escolhemos nossa orientação sexual, mas podemos escolher nossos comportamentos
sexuais. Como lidamos com essa responsabilidade social?
3. Como trabalhamos a inclusão social e a dignidade da pessoa na pastoral?
Questão 02 - Não escolhemos nossa orientação sexual, mas podemos escolher nossos
comportamentos sexuais. Como lidamos com essa responsabilidade social?
Somos sabedores que existem orientações sexuais diferenciadas e por isso precisamos ter
uma visão holística do ser humano, compreendendo-a como pessoa integral e não apenas sua
condição de portador do vírus HIV/AIDS. A conduta sexual é uma escolha, por vezes inconseqüente e
por isso é importante estarmos informados para que possamos também informar as pessoas sobre as
conseqüências de suas escolhas. Será que estamos preparados para responder às grandes questões
que a sexualidade humana apresenta, hoje. Um dos maiores desafios do agente de pastoral é como
lidamos com a escolha de cada ser humano, afinal não escolhemos a orientação, mas os
comportamentos. Exemplo: grupos de redução de danos. Além disso, como conviver, por exemplo,
com a questão das adoções em casos homossexuais.
A AIDS e o HIV, a partir do momento que surgiu foi nos pautando e nos forçando a construir
determinadas respostas, pois desde então vem causando sofrimento e exigindo sustentabilidade das
ações do cuidado. A Igreja foi vista como uma instituição que teria uma contribuição na área da
assistência, e de fato, acolheu as pessoas no cuidado com os portadores. No Brasil, são
aproximadamente 300 instituições que desenvolvem trabalhos com os portadores do HIV. No início,
ninguém tinha a idéia clara do que era doença, do que fazer, de como fazer e de quem iria fazer. A
situação estava posta e era preciso tomar a decisão. A igreja se posicionou de forma, a além da
assistência, trabalhar na área da prevenção.
Optou pela prevenção porque é preciso cuidar dos soropositivos, mas também evoluir para a
discussão na sua contribuição na área da prevenção, já que 98% da população ainda não está
acometida pela doença. Quando se iniciou a discussão sobre a prevenção, encontrou-se um contexto
com alguns dificultadores, havendo um conflito entre governo-igreja, sociedade civil-igreja, sociedade
civil-governo. Desde o início não tivemos chance de ampliar a visão, porque não conseguíamos fugir
do chavão: vocês são contra e nós somos a favor. Esse conceito foi paralisador. Isso impedia qualquer
possibilidade de mostrar as iniciativas. Não queríamos ser visto como meros agentes de assistência, e
por isso trabalhávamos outros elementos. No fundo, a Igreja fazia isso por missão, já os órgãos
governamentais têm isso por obrigação, pois devem prover a saúde de todos os cidadãos como direito.
Sendo assim, a Pastoral da AIDS começou a focar nas práticas de base dos agentes, onde não
há a preocupação institucional. E essa evidencia mostrou a beleza do trabalho realizado pelos diversos
agentes que tem consciência dessa realidade e que garante espaço e meios para dar respostas às
demandas relacionadas a esse tema. Essa foi a resposta que a Igreja deu ao enfrentamento dos
questionamentos que eram evidenciados.
Mais do que as divergências fomos aprendendo com as fragilidades e hoje é um grande
sucesso. Uma das grandes conquistas foi o espaço conquistado pela Pastoral na ONG/AIDS como
organização da sociedade civil. E mesmo com opiniões diferentes e aprendendo com as diferentes
metodologias e pensamentos, conciliando diferenças e aproveitando oportunidades, hoje, estamos
realizando o VII Seminário Nacional de Prevenção ao HIV/AIDS, que nunca partiu de respostas
prontas, mas de uma indagação, de questionamentos, de interrogações sobre tudo que ainda não se
tem clareza quando o assunto é HIV/AIDS. No entanto, nossas ações ainda não são suficientes, pois a
epidemia continua. Esse seminário traz a oportunidade de aprofundamento, de contribuição na
construção dessa resposta que visa responder a essa interrogação. O que temos que fazer para a
nossa resposta seja mais eficiente? O que fazer para que nossas ações sejam eficazes? Nesse espaço
de insuficiente da nossa resposta, não só da Igreja, mas de toda a sociedade, percebemos que discutir
a prevenção da doença não é suficiente, pois ela é a conseqüência, já é o fim do processo. É preciso
evitar que cheguemos nesse estágio.
No caso do HIV/AIDS precisamos levar em consideração a pessoa na sua integralidade.
Precisamos voltar a conversar sobre o corpo e os relacionamentos, iniciar nossas conversa sobre as
orientações sexuais e comportamentos, é preciso aprofundar e clarear as questões de genitalidade.
Enquanto não aprofundarmos esses temas as pessoas continuarão morrendo não só por AIDS, mas
pelas DST também. Nesse sentido, o uso e a disponibilização do preservativo é importantíssimo, mas
não deve ser o único meio de prevenção, pois se assim o for torna-se insuficiente. É preciso, acima de
tudo, ter um comportamento adequado, um comportamento de cuidado, um comportamento de
prevenção. As pessoas possuem a informação, mas tem dificuldades de ecodifica-la, ou seja,
transformar o seu comportamento em atitude segura, porque as pessoas compreendem
intelectualmente, mas não se previnem.
Além da Pastoral da AIDS ter a missão de dialogar sobre os temas, deve descobrir alternativas
que incidam sobre as relações das pessoas e isso significa que precisamos achar a resposta para a
extinção do vírus. Como manter uma ação permanente prevenção? É preciso buscar respostas
diversificadas, não é possível uma estratégia única, é preciso alternativas novas. Como pastoral e
agentes de pastoral o desafio é aperfeiçoar a resposta no campo da prevenção. Precisamos trabalhar
espaços para vermos e iluminarmos a realidade para que a resposta ideal chegue até as pessoas que
precisam dela.
O HIV é para todos nós. Todos têm direitos, sobretudo ao respeito e ao amor. Quando
trazemos a AIDS pra dentro de nossas casas percebemos o quanto somos preconceituosos. A
exclusão existe, ainda que seja disfarçada. Assistência sem prevenção é exclusão, pois o amor inclui
amar as pessoas que não tem vírus também. É possível amar uma pessoa com HIV sem risco. Morte é
pra quem está vivo e não pra quem tem AIDS. Teríamos a condição de eliminarmos essa epidemia se
cada um cuidasse de si, se não procurássemos culpados e responsáveis. A prevenção é muito mais do
que camisinha, é preciso cuidar do corpo que temos. Na realidade, o preconceito é que está matando.
Quando falarmos da pessoa, falemos em nós mesmos.
O vírus é terrível, mas ele não pode ter o tamanho maior do que ele realmente é. O corpo que
nós temos foi um presente de Deus e um dia ele vai cobrar o cuidado que nós tivemos com ele. Viver
com HIV não é fácil, mas é possível ser feliz com o vírus. É importantíssimo falar sobre AIDS nas
escolas.
Por que notificar somente a AIDS e não o HIV? Destaque para o Projeto da Saúde do Homem,
que vem encontrando dificuldades na identificação dos casos em homens. Além disso, questiona-se
por que não realizar mais testes rápidos. Por que não investir mais em tratamentos menos agressivos?
No dia 1° de dezembro será realizada uma campanha contra o preconceito. É importante
incluir outras regiões nas campanhas. Foi realizado um levantamento nacional do total de casas de
apoio ao HIV/Aids, talvez seja importante colocar mais projetos específicos, como investimento em
casas de apoio. Para os profissionais de saúde o diferencial é a Pastoral da Aids: pois somos vistos
como uma pessoa não somente profissional. Investir em formação dos religiosos em relacionamentos,
sexualidade e relação: Aids e sociedade. Quando assunto é preservativo, a igreja não quer falar
somente nele, quer algo mais além, por isso é importante oferecer uma ação mais continuada.
A Pastoral da Aids está mais aberta para discutir alguns temas, basta observarmos a sua
trajetória. O governo foca a questão da prevenção em datas comemorativas, o ideal seria um programa
de educação continuada, com uma linha de prevenção sistemática. Destacou-se o fato da campanha
do MS de prevenção ser relacionada somente ao uso do preservativo.
Diagnóstico precoce e o pré-natal é uma importante fonte de descoberta. Existe um protocolo
para outras patologias e seria importante que os serviços de saúde estivessem ofertando o teste para
um protocolo que já existe. Existe município que já está colocando o pré-natal do homem. Em São
Paulo já existe um movimento na Frente Parlamentar para os homens terem direito a 2 dias de folga
para acompanhamento do pré-natal. Existe um projeto de lei que quem transmite o vírus passa a ser
um crime, que tramita na Câmara, que criminaliza a patologia. Foi sugerido que desse seminário se
elabore um documento que se posicione junto ao Projeto de Lei.
A mortalidade é alta hoje porque os efeitos colaterais são muito acentuados. No Rio de janeiro
morreram 6 pessoas porque não tomaram, ou porque não tem medicamento. Hoje muitas pessoas
estão aguardando na fila, inclusive na justiça o acesso ao medicamento. Algumas pessoas preferem
morrer sem saber que estavam soropositivas. Tem gente que escolhe a morte.
Destaque para a cartilha “Viva Mulher”, uma vez que é um instrumento muito interessante e
tem surtido muito efeito nos trabalhos desenvolvidos junto aos grupos de mulheres. Sugestão para que
se publique a Cartilha do Jovem. Além disso, foi citado o caso de municípios que recebem o recurso do
PAM e não desenvolvem nenhum trabalho efetivo sobre a prevenção da AIDS. Precisamos nos
conscientizar de que somos multiplicadores e devemos ter cuidado com nosso discurso. Se somos
multiplicadores precisamos capacitar jovens e que desenvolvam trabalhos junto aos jovens.
Repercussão dos Assessores
Perspectivas:
1- Enquanto Pastoral da Aids, serviço da Igreja Católica, qual é a contribuição dos Centros
de Convivência e Casas de Apoio? Qual é o diferencial
Reestruturação - manter a força do grupo. Mostrar que o movimento, a vida continua, através
do apoio psicológico.
• O fato de ser soropositivo fragiliza os laços familiares porque a Aids ainda é vista como um
castigo pela sua opção sensual
• 3 - Continua sendo o grande desafio: Despertar a atitude de cuidado. A informação precisa ser
completa, correta, direta e segura e precisa contemplar todos os perfis sendo compreensível e
aceita por todas as pessoas. Qual é essa informação?
• Mostrar que a prevenção deve ser feita, e que o casal pode ter a vida ativa normal como ter
filhos, porém sempre com acompanhamento médico
• A vida deve estar acima de tudo. O uso do preservativo não deve ser incentivado de modo
generalizado como uma forma de contenção do vírus.
• Trabalhar as condutas de reinfecção ou ainda da infecção do parceiro, a importância de
controlar CV
• Não olhar o companheiro que está infectado como objeto de cuidado e sim um ser em sua
totalidade amando e respeitando como homem ou mulher.
Desafio da prevenção – somos responsáveis pela vida e por isso devemos dar condições de
prevenção, fazendo sexo seguro, sexo protegido, por exemplo. Um é o discurso do governo e outro é o
discurso da igreja. Devemos usar o discurso do bem maior. É preferível realizar todos os atos de forma
consciente, objetivando o cuidado com a vida. Devemos combater o preconceito, a discriminação
moral. A questão da assistência deve incluir o combate à ignorância, priorizando o cuidado, o amor, o
acolhimento, o respeito, a misericórdia, a compaixão. Há um desconhecimento e falta de educação e
orientação das pessoas sobre esses assuntos. Por causa disso, algumas pessoas optam por viver
anonimamente sua condição de portadores do vírus HIV. Precisamos saber explicar para a
comunidade a questão da AIDS, tanto em relação à prevenção quanto aos comportamentos diante do
preconceito e da realidade das pessoas infectadas. Pior do que o vírus é o preconceito! Isso sim, mata!
Devemos agir mais com a razão e não apenas com a emoção.
A Pastoral da AIDS orienta os seminaristas, padres, religiosos que façam o teste para que
possam ser acompanhados, cuidados, diagnosticados a tempo de fazer o tratamento quando
necessário. No entanto, não há como obrigar que as pessoas façam o teste, sobretudo enquanto
condição de ingresso ou permanência no ministério ordenado e consagrado. Todos têm o direito de
saber se é ou não portador do vírus HIV. O que não pode é sofrer preconceito e discriminação pelo fato
de ser portador. O grande desafio é o trabalho junto à consciência moral que está relacionada à moral
renovada. Sua consciência determina seu ato moral. A moral trabalha com a Sagrada Escritura, temos
que nos basear na Bíblia, escolhendo o jeito moral, o comportamento moral de Jesus agir diante da
samaritana, do sábado. Em segundo lugar a Patrística, a tradição. Seguida do magistério. Atualmente
os documentos de Puebla, do CELAM, da CNBB. Também devem ser lembrados os teólogos, seguida
da experiência vital da comunidade. Esses são os dados que devem ser inculturados nos nossos
trabalhos.
Sem dúvida, o cuidador merece ser cuidado. Porque se é difícil para a pessoa que vive com o
vírus HIV, quem convive com essa pessoa também sofre e passa por momentos de desânimo e
dificuldades. Isso pode ser realizada através de uma espiritualidade encarnada, pois envolve muita
emoção, e o lado emocional e afetivo também acaba sendo afetado de uma forma muito profunda.
Temos a tendência de julgar e condenar e não de acolher, compreender e conviver na busca pela vida,
ainda vivenciamos uma moral negativista. É o que predominou em nossa moral nos últimos tempos. Há
diferença entre moralismo (julgamento de forma preconceituosa) e moral. Temos que ter um olhar de
poeta e não de um machista ou moralista. Reeducar o olhar é reeducar o corpo, os comportamentos.
Precisamos cuidar de nós mesmos, para garantir essa reeducação do olhar para então, construir uma
moralidade positiva.
O cuidado é um ato de delicadeza. Imbuídos de quatro palavras: obrigado – expressar gratidão
pela vida; desculpe – expressar que somos vulneráveis; eu te amo – revelar nossa ternura; adeus –
abrir-se a perspectiva de uma vida nova numa dimensão transcendente. O que seria uma boa morte?
Ninguém deseja morrer, porém mais cedo ou mais tarde seremos tocados por ela. Para nos
despedirmos da vida é preciso tomar alguns cuidados: aliviar a dor e o sintomas de sofrimento, evitar o
prolongamento do processo de morrer, manter um senso de controle com vulnerabilidade (autonomia),
não se sentir um peso para os ente queridos, resolver conflitos, ter confiança e confidência nos
cuidadores, ser tratado com dignidade e sinceridade no prognóstico e diagnóstico, ter a consciência de
que a vida não termina com a morte.
Decálogo: Não tenha medo de tocar; não se sinta inconfortável com o silêncio; não faça
afirmações não verdadeiras; não pense que você tem todas as soluções para todos os problemas;
partilhe o dom do tempo juntos; ofereça ajuda; procure localizar fontes de apoio; respeite a privacidade
e integridade da pessoa doente.
Bíblia e Prevenção
Aprofundamento de elementos de espiritualidade da prevenção
Alexandre Rangel (CEBI)
Quando falo de espiritualidade, falo daquilo que sinto, o que perpassa pelo corpo (canto).
O tema da saúde é inseparável do tema da espiritualidade. A raiz da palavra cura, cuidado,
saúde, salvação, prevenção pode ser resgatada na fé. Afinal, as pessoas desejam conquistar a vida
plena, ainda aqui na terra, e quando falamos dos portadores do HIV percebe-se ainda mais essa busca
pela vida. A palavra cura foi muito deturpada por algumas religiões. Como resgatar isso numa
dimensão pastoral? Como compreendemos o tema da cura num processo pascal, a partir da fé. A
saúde deve deixar de ser um tema apenas de tratamento, mas de cuidado, de prevenção, integrando o
nosso cotidiano. A saúde passa a ser integrada com a salvação.
Para o encontro de hoje, refletir o tema da espiritualidade e da prevenção através de um
caminho que é difícil. Quando se fala em espiritualidade, o livro de Jonas é muito indicado, pois trata da
dimensão do cuidado, sobretudo quando encontro o outro, o diferente. O livro de Jonas é desafiante, o
mais bonito da Sabedoria. Diante da leitura do texto, somos convidados a destacar os símbolos
trazidos pelo autor e qual o caminho de espiritualidade que o livro de Jonas nos propõe para nossa
ação pastoral? Jonas 1-4.
SÍMBOLOS
Tempestade, vento violento, fuga, navio, sacrifício, caminho contrário, peixe grande, vestir-se
com saco, sentar-se sobre as cinzas, planta que cresce e morre, montanha, tirar o manto real,
cabana, percorrer a cidade um dia, fúria do mar, sol forte, algas, templo, saudade, poço fundo,
objetos lançados fora, três dias na barriga da baleia, deitado no fundo do barco, vômito, jogar a
sorte, decreto, oráculo, promessa, votos, filho de abitai (fidelidade).
CAMINHOS
Persistir como Jonas, sem fugir; o decreto confirma uma ação popular em torno de uma
situação que precisa ser mudada; não há como fugir da missão (diálogo); imagem de Deus
punitivo x Deus misericordioso; experiência de Jonas com Deus; a diversidade quando se
encontra está preocupada de achar o problema; sair do comodismo e enfrentar o desafio; dor
como processo de descoberta, de encontro; mudança deve ser uma ação coletiva; o tempo do
mergulho é importante; Jonas não quer fazer o trabalho preventivo; não quer mudar a situação
de morte; Jonas nos representa; o texto foi construído para chamar a atenção de Jonas e não
da cidade; a visão dele produz a doença; ele representa o sistema que está corrompido; vem
enfrentar a visão de Esdras; Jonas precisa se dar conta que o diferente é importante; é preciso
se dar conta da imagem que quero acreditar; o Deus que eu acredito pode justificar a situação;
precisamos acreditar no Deus que reafirmar e confirmar nossos valores; chegar na profundeza
daquilo que realmente somos. Qual o desafio, qual a preocupação de Jonas? Jonas chega no
fundo do templo e sente a saudade do templo, ele está preocupado com sua situação. Qual a
grande lição? O povo que era inimigo mostra outra situação. É preciso o tempo necessário, o
dia a mais pode ser a depressão. Vestir-se de saco tem a ver com a prevenção porque lembra
a equidade, lembra a igualdade de todos. O cuidado é alimentação para o cuidado. As cinzas
vêm dos ramos, usados no domingo de Ramos, onde se celebra a entrada de Jesus em
Jerusalém. A imagem das cinzas e do saco são imagens preventivas.
Não fuga – tomar consciência dos problemas e da situação, no âmbito social e pessoal. Tenho
que tomar consciência de um sistema de doença, que parte do sistema capitalista. Devo continuar
mexendo no sistema, mas devo faze uma tomada de consciência pessoal que provoca uma mudança
social. Elas não devem andar separadas.
Diálogo – instrumento de cura, prevenção e mudança. A fé dos marinheiros ajuda Jonas a tomar
consciência. Deus se relaciona através da fala do povo. Diante de uma vida ameaçada toda fé faz a
diferença. Quem está preocupado com a vida não é Jonas. Por isso, é preciso fazê-lo lembrar quem é
o seu Deus e começar a perceber que está no caminho incorreto. A fé dos marinheiros dá a condição
de perceber que alguém está colocando a vida de mais gente em risco, nesse caso Jonas representa
um grupo que se destoa dos demais. O problema de uns afeta os outros. Quais são os
questionamentos que os marinheiros fazem sobre Jonas, diante da sorte? Quem é você? De onde
vens? Sou hebreu (passageiro), adoro a Deus criador do céu e da terra. A resposta já afronta uma
tradição fechada, uma vez que os hebreus são passageiros. O diálogo procura aprofundar as relações.
Toda fuga produz tempestade, a consciência do problema já é um passo de superação. Mergulhar
fundo é o caminho de aprofundamento da fé e da espiritualidade, caminho de descoberta do ser (ir ao
deserto). Mergulhar naquilo que é o oposto, ou mesmo o desconhecido. Esse é o caminho do amor,
mergulhar na situação mais adversa que puder.
No trabalho popular e no caminho de mudança e prevenção o povo toma consciência que por
sua vez modifica a posição dos governantes e em seguida vira lei. No trabalho pastoral é necessário
aprofundar sobre as imagens de Deus, para filtrar a revelação e manipulação por interesse pessoal ou
institucional. Morte e vida fazem parte do ser, da integralidade. Diante da vida ameaçada toda a fé
pode ter um valor e importância desde que seja para resgatar a vida e a dignidade. Estamos todos no
mesmo barco. Deus nos ajuda a tomar consciência de que a vida e a morte são parte da mesma
moeda. A revelação de Deus como ternura e misericórdia, já é um passo de cura, de promoção de
saúde. Enquanto o amor resgata, a culpa e o castigo separam, excluem. Entender o pecado com
promoção de doenças tendo cuidado para não individualizar essa relação (Livro de Jó e Evangelho de
Maria Madalena).
A resposta de Deus a Jó foi mostrar o universo. Já os amigos de Jonas mostraram o
desequilíbrio humano. Para que jogar para Deus o problema que não é dele. É o sistema humano que
provoca a doença – capitalismo. Mesmo antes disso o sistema humano produz a doença e a morte.
Tudo isso é promotor do desequilíbrio humano: monoteísmo, patriarcado, entre outros. Você pode
entender o vírus matando a planta, mas Deus quer mostrar que a vida está para além da planta.
Segunda feira,12/10/2009
No nosso modo de ver a partir de tudo que falamos o que ficou para nós como desafio e
perspectiva? Quais as principais ações?
Foi realizado um momento de encontro em grupos para levantar elementos para um possível
documento. Feita a plenária, redigiu-se o documento que segue:
Carta de Brasília
Nós, lideranças e agentes da Pastoral da AIDS, vindos dos estados de Rondônia, Amazonas, Pará, Rio
Grande do Norte, Pernambuco, Bahia, Alagoas, Paraíba, Mato Grosso, Goiás, Tocantins, Distrito Federal, Mato
Grosso do Sul, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Espírito Santo, São Paulo, Paraná e Rio Grande do Sul, reunidos
em Brasília, de 9 a 12 de outubro de 2009, por ocasião do VII Seminário de Prevenção ao HIV, como fruto do
nosso engajamento e do amplo processo de discussão, dirigimo-nos à sociedade brasileira, através das
instâncias governamentais e não governamentais, para manifestarmo-nos:
1. Pela preservação da vida com qualidade e dignidade em toda sua extensão, da concepção à morte
natural;
2. Pela manutenção da atual política de financiamento das ações de prevenção e assistência das DST
e Aids através da transferência de recursos do Fundo Nacional aos fundos estaduais e municipais de saúde,
mediante os Planos de Ações e Metas – PAM – conforme disciplinado pelas portarias MS 2313 e 2314/2002;
3. Pelo cumprimento dos dispositivos da Portaria 399/2006 que imputa aos estados e união a
fiscalização da correta aplicação dos recursos transferidos por estas esferas governamentais aos fundos
municipais de saúde e cumprimento da Portaria MS 1679/2004 que disciplina o monitoramento da execução dos
Planos de Ações e Metas;
4. Em apoio à criação de Frentes Parlamentares de enfrentamento ao HIV Aids junto a todas as
Assembleias Legislativas dos estados para defesa dos direitos das pessoas vivendo com HIV e Aids e
apresentação de emendas aos orçamentos públicos para ações em DST/Aids;
5. Pelo imediato e definitivo arquivamento do Projeto de Lei 4887/2001 que introduz o artigo 267-A no
Código Penal Brasileiro conforme Decreto Lei 2848, de 7 de dezembro de 1940 e passa a considerar crime
contra a Saúde Pública a contaminação de terceiros com doença incurável de que sabe ser portador, incluindo o
contágio pelo vírus HIV.
6. Pela ampliação das ações do Diagnóstico Precoce (testagem sorológica) para as HIV, sífilis e
Hepatites Virais;
7. Pela maior divulgação dos editais do Departamento de DST e Aids para projetos das organizações
não governamentais;
8. Pela atenção diferenciada por parte do Departamento de DST e Aids do Ministério da Saúde aos
municípios de pequeno porte e de difícil acesso em virtude do processo de interiorização da epidemia;
9. Em apoio às atividades desenvolvidas pelos Fóruns de ONGs/Aids que fortalecem a resposta
brasileira à epidemia;
10. Pelo fortalecimento da Rede Nacional de Jovens vivendo com HIV e Aids, estabelecendo
estratégias e políticas integradas para o trabalho com crianças, adolescentes e jovens;
11. Pelo incentivo à criação de Grupos de Trabalho de Aids e Religiões nos Programas Estaduais e
Municipais de DST/Aids
12. Pela implementação, nos estados, da “Portaria da Lipodistrofia” e pela sensibilização dos
profissionais para realizar os procedimentos;
13. Pela criação do Programa de DST/Aids nos municípios que não os possuem e de comissões
municipais de DST/Aids junto aos Conselhos Municipais de Saúde;
Como serviço pastoral, em conformidade com o Documento de Aparecida e das Diretrizes Gerais da
Ação Evangelizadora 2008-2011, vemos como muito importante que a Igreja:
- Propicie maior visibilidade à Pastoral da Aids e às datas marcantes de enfrentamento do HIV: 1º de
Dezembro e Vigília pelos mortos de Aids;
- Promova a sensibilização e capacitação de clérigos, religiosos/as e leigos/as para colaborar no
enfrentamento da epidemia e superação do preconceito;
- Fortaleça a Pastoral da Aids nas comunidades, paróquias e dioceses, motivando os cristãos ao
trabalho neste campo.