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ARTIGO DE OPINIÃO HOJE PUBLICADO NO JORNAL PÚBLICO, EM PORTUGAL

ARCEBISPO DESMOND TUTU CONVOCA PARA ACÇÃO GLOBAL PARA


PROMOVER, EM COPENHAGA, UM PACTO CLIMÁTICO JUSTO E COM BASE NA
CIÊNCIA

Mostre seu apoio pela justiça climática global com criatividade em 24 de


Outubro, apela ele

O debate intenso sobre as alterações climáticas tem tido lugar, sobretudo, entre os
agentes poderosos dos países ricos. Nesses países, batalhas entre ambientalistas e
as companhias petrolíferas e de carvão, cujos produtos provocam as alterações
climáticas, foram travadas durante muito tempo. EUA, a União Europeia e a China
lideravam as negociações a nível internacional. Todas as conversações de alto nível
tratavam do que se pensou ser possível – e muitas vezes do que é conveniente –
para essas potências.

Mas como não falta muito tempo até à Conferência de Copenhagen sobre as
Alterações Climáticas em Dezembro, ouvem-se vozes novas – as vozes das primeiras
vítimas das mudanças climáticas, mais categóricas e exigindo justiça à medida que a
clara realidade do significado disso tudo se torna mais visível. A ONU lista 28 países
que são ou serão afectados pelas alterações climáticas, dentre eles 22 na África.

No fim de Agosto, o Primeiro-Ministro da Etiópia, Meles Zenawi, que será o principal


negociador da União Africana na Conferência de Copenhagen, disse que a África não
só exigiria uma compensação justa dos Estados responsáveis pelas destruições
causadas pelas alterações climáticas, como também que os países ricos fariam o
melhor possível para reduzir as emissões de gases e manter o aquecimento global
tão baixo quanto humanamente possível. Ao Primeiro-Ministro juntaram-se pessoas
do continente inteiro que reclamam por um novo princípio para tratar as mudanças
climáticas, um princípio que também presta atenção às regiões mais pobres do
mundo.

A nova reivindicação dos africanos vem da nova ciência. Há poucos anos, as nações
em vias de desenvolvimento viram as alterações climáticas como mais um problema
ao qual poderiam se adaptar caso recebessem ajuda suficiente. Mas quando o gelo
do Ártico se desfez tão drasticamente no verão de 2007, os cientistas climáticos
começaram a reavaliar as suas previsões – a Terra estava reagindo mais
violentamente do que o esperado a aumentos até mesmo pequenos da temperatura.
Tornou-se óbvio que a sobrevivência básica de muitos países estava em jogo – as
ilhas baixas das Maldivas, embora pobres, começaram a poupar cada ano uma parte
do orçamento nacional para comprar novas terras enquanto o seu atual território se
afunda nas ondas. A seca permanente no Quénia que causou a morte de milhares de
cabeças de gado e a destruição da colheita mostra bem o que as alterações
climáticas descontroladas poderiam provocar no continente africano.
Muitos grandes cientistas perceberam que há um número que deve ser conhecido do
mundo todo: 350. Pois há 350 partes por milhão de CO2 na atmosfera, o gás com de
efeito-estufa. Há cada vez mais especialistas climáticos que acreditam ser esta a
concentração mais alta de CO2 permitida na atmosfera sem que terríveis
devastações climáticas sejam causadas. Como já estamos acima deste nível, em 390
partes por milhão, isso significa, que precisamos de uma acção política mais rápida
daquelas apoiadas pelos governos no passado – ou seja, entre outros, precisamos de
esforços sérios e rápidos para substituir a queima de carvão e a poluição provocada
por fontes de energia renováveis em todo o mundo.

Normalmente, as vozes de países como a Etiópia, as Maldivas e o Quénia não são


ouvidas nos fóruns internacionais. Mas, desta vez, pode ser diferente porque está em
desenvolvimento um grande movimento positivo e determinado da sociedade civil
para apoiar metas do clima científicas e justas. No dia 24 de Outubro, 350.org, uma
organização que apoio, coordenará milhares de acções criativas, encontros e
reuniões em quase todo o mundo para chamar atenção global ao número 350.

Outros que apoiam as metas da 350.org são os mensageiros conhecidos a nível


internacional como p.ex. Rajendra Pachauri, presidente do Painel Intergovernamental
sobre Mudanças Climáticas (IPCC), James Hansen, o cientista mais importante da
NASA.

Pessoas encontrar-se-ão nos lugares mais icónicos do mundo – desde Table Mountain
na Cidade do Cabo até ao cume do Himalaia e até mesmo em baixo das ondas. Em
todo o mundo, as igrejas tocarão os sinos 350 vezes neste dia; nas sinagogas, o dia
24 de Outubro é o dia em que a história de Noé é contada. Os monges budistas e as
comunidades muçulmanas também participarão com a mesma esperança. Em todos
os lugares, os participantes estarão focados no destino do seu próprio local – mas
também se manifestarão em favor das pessoas e regiões mais vulneráveis do
mundo, cujas vozes simplesmente devem ser ouvidas. Pessoas de quase todas as
nações do mundo estão envolvidas – é a mesma forma de coalizão que ajudou a
tornar o termo “apartheid” conhecido em todo o mundo.

Peço a todos os africanos e àqueles no mundo que se importam com África que
apoiem a justiça climática em 24 de Outubro, iniciando ou participando de uma
acção de mobilização onde vivem. É a nossa oportunidade de atuar como cidadãos
globais, em vez de individuais isolados ou consumidores sozinhos. É a oportunidade
para os líderes do mundo de ouvirem as vozes da consciência em vez daquelas que
só falam dos mercados financeiros. Na África do Sul, mostramos que, se actuarmos
em favor da justiça, teremos a força de mudar; dia 24 de Outubro, temos a
oportunidade de mudar as alterações climáticas.

SOBRE ARCEBISPO DESMOND TUTU

O Arcebispo Desmond Tutu é famoso a nível internacional devido ao seu trabalho


corajoso e incansável contra o regime do sistema racista (apatheid) na África do Sul
e em favor da reconciliação das raças no seu país e em todo o mundo. Ganhou o
Prémio Nobel da Paz em 1984 e presidiu a “South African Truth and Reconciliation
Commission”, fundada em 1994 para testemunhar, gravar e, em alguns casos,
conceder amnistia a autores de crimes contra os direitos humanos.

O Arcebispo Tutu continua promovendo activamente os direitos humanos e a justiça


ambiental via “The Desmond Tutu Peace Centre” e outras iniciativas incluindo “The
Elders”, um grupo de líderes do mundo que se dedica à resolução de problemas
globais difíceis.

Por favor, visite www.tutu.org para mais informações.

SOBRE 350.ORG
350.org é uma campanha internacional que pretende fazer o que a ciência diz ser
necessário para pôr fim à mudança do clima: reduzir a concentração do gás com
efeito de estufa, CO2, a um nível inferior a 350 partes por milhão. Em 24 de Outubro,
a 350.org quer inspirar todo o mundo a enfrentar o desafio da mudança climática
através de milhares de acções criadas simultaneamente em mais de 125 países em
todo o planeta, todas elas mostrando o número 350 de uma maneira criativa. Esse
dia de acção está previsto para ser o dia em que a atenção ao ambiente atingirá uma
dimensão jamais vista antes.

350 partes por milhão é aquilo que muitos cientistas, especialistas em clima e
governos progressistas consideram agora ser o limite superior de segurança para a
quantidade de CO2 na nossa atmosfera. Os cientistas concluem que estamos já
acima da zona de segurança com as atuais 390 ppm, e que a menos que consigamos
regressar rapidamente às 350 ppm neste século, arriscamo-nos a atingir impactos
irreversíveis, como é o caso do derretimento da placa de gelo da Gronelândia e da
libertação em massa de metano derivada desse derretimento.

Para mais informações, visite www.350.org/pt

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