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Introdução
Os estudos desta unidade apresentam conceitos importantes para vários outros temas
estudados no curso de Comunicação e Expressão (conceitos de signo, ícone, índice,
símbolo, as funções da linguagem).
Estuda ainda outros temas importantes para entendermos melhor as situações de comu-
nicação e pensarmos em como produzir nossos textos e organizar nossa fala (conceito
de linguagem e de estilo, por exemplo).
Há várias definições para esse termo; todas, de alguma forma, válidas. Uma definição
comum é vê-lo como o produto do pensamento de um dado autor. Essa idéia, em geral,
associa texto apenas ao ato de escrita e limita o papel do leitor a uma espécie de de-
codificador de uma mensagem.
Para Ingedore Koch, nessa concepção “(...) o texto é visto como um produto – lógico
– do pensamento (representação mental) do autor, nada mais cabendo ao leitor/ouvinte
senão ”captar” essa representação mental, juntamente com as intenções (psicológicas)
do produtor, exercendo, pois, um papel essencialmente passivo.”
Outra concepção bastante comum de texto associa-o apenas ao universo das palavras.
Koch e Travaglia apresentam, entre outros, o seguinte conceito: “Textualidade ou textura
é o que faz de uma sequência lingüística um texto e não uma seqüência ou um amon-
toado aleatório de frases ou palavras. A seqüência é percebida como texto quando
aquele que a recebe é capaz de percebê-la como unidade significativa global”.
Nessa definição, dois pontos destacam-se: o texto é visto como um todo lingüístico, uma
unidade significativa composta por palavras e frases. Além disso, ele é uma “textura”,
uma seqüência portadora de um sentido global para um dado leitor. Mas, ao pensar em
um ato de leitura, pode-se perguntar: quando leio um texto, não associo à mensagem
uma série de idéias, minhas ou retiradas de outras fontes (minha experiência de vida,
outros textos que li, informações que ouvi na televisão etc.)?
Uma outra definição de texto pode dar uma resposta a essas questões:
Importante
“É certamente preferível, conforme Weinrich, definir o texto
como uma seqüência significante (considerada coerente) de
signos entre duas interrupções marcadas da comunicação”
(CHARAUDEAU, P., MAINGUENEAU, D. Dicionário de análise
do discurso. São Paulo: Contexto, 2004)
Importante
Segundo Diana L. P. Barros, o texto “pode ser tanto um texto lingüístico,
indiferentemente oral ou escrito – uma poesia, um romance, um editorial de
jornal, uma oração, um discurso político, um sermão, uma aula, uma conversa de
crianças –, quanto um texto visual ou gestual – uma aquarela, uma gravura, uma
dança – ou, mais freqüentemente, um texto sincrético de mais de uma expressão
– uma história em quadrinhos, um filme, uma canção popular.”
Sintetizando
Há várias definições de texto, das quais foram destacadas três:
1) texto como produto do pensamento do autor, cabendo ao leitor um papel absolutamente
passivo, de decodificador da mensagem;
2) texto como seqüência de palavras ou frases, todo significativo capaz de ser compreendido
por um leitor;
3) texto como uma sequência coerente de signos de qualquer natureza, marcada por duas
interrupções na comunicação entre o autor e o leitor/interlocutor.
Os textos são produzidos para os mais variados fins comunicativos. Mas cada autor, ao
produzir o seu, privilegia um ou mais objetivos. Com vistas a atingi-los, fazemos
escolhas de signos mais denotativos ou conotativos, compondo textos em que há um
caráter predominantemente informativo ou figurado.
De acordo com a definição de Othon Garcia, “Quando uma palavra é tomada no seu
sentido usual, no sentido dito “próprio”, isto é, não figurado, não metafórico, no
sentido “primeiro” que dela nos dão os dicionários, quando é empregada de tal modo
que significa a mesma coisa para mim e para você, leitor, como todos os membros da
Esse cartaz de filme caracteriza-se como um texto
sociedade sócio-lingüística de que ambos fazemos parte, então se diz que essa palavra
literário, pois seus signos estão combinados de tem sentido denotativo ou referencial.
maneira predominantemente conotativa.
(...) Se, entretanto, a significação de uma palavra não é a mesma para mim e para
você, leitor, como talvez não o seja também para todos os membros da coletividade de
que ambos fazemos parte, e não o é por causa da interpretação que cada um de nós
Coerência textual
Essa receita médica caracteriza-se como um Uma cliente escreveu para um plano de saúde nos seguintes termos:
texto não-literário, pois seus signos estão
combinados de maneira predominantemente
denotativa. “Prezados senhores, gostaria de uma explicação detalhada sobre o aumento praticado na
mensalidade de meu plano, ocorrida neste mês. Atenciosamente, XX.”
Um primeiro ponto a ser destacado diz respeito à organização interna dos dois textos. É
possível compreender as informações: o texto da cliente é um pedido e o da empresa é
uma resposta a esse pedido. Nesse sentido, ambos são coerentes.
Para tentarmos entender por que a cliente classificou a resposta do plano de saúde
como incoerente, vamos analisar um outro aspecto: a relação que o texto conseguiu
estabelecer com ela na situação dada. Foi feito um pedido à empresa, solicitando uma
“explicação detalhada” sobre o aumento praticado na mensalidade. Na resposta,
afirma-se que o aumento seguiu “a legislação vigente”.
Nada é informado sobre qual é a lei, onde pode ser encontrada, se este procedimento
está previsto em contrato. A usuária solicitou que a empresa, prestadora de serviços,
respondesse sua pergunta de forma detalhada, o que não ocorreu. Sob o ponto de vista
dela, portanto, a coerência não se formou. Assim, percebe-se que só podemos analisar
se um texto é coerente ou não dentro de uma situação comunicativa real. O fato de um
texto estar bem escrito e internamente articulado não garante sua coerência.
A vaguidão específica
As mulheres têm uma maneira de falar que eu chamo de vago-específica.
Richard Gehman
- Maria, ponha isso lá fora em qualquer parte.
- Junto com as outras?
- Não ponha com as outras, não. Senão pode vir alguém e querer fazer-
qualquer coisa com elas. Ponha no lugar de outro dia.
- Sim senhora. Olha, o homem está aí.
- Aquele de quando choveu?
- Não. O que a senhora foi lá e falou com ele no domingo.
- O que é que você disse a ele?
- Eu disse para ele continuar.
- Ele já começou?
De acordo com o que foi visto, para falar da coerência ou da incoerência do texto “A
vaguidão específica” devemos levar em conta:
b) A relação que ele consegue manter com o interlocutor: nesse caso, tudo
dependerá da finalidade com que o texto for lido. O leitor procurará compreendê-
lo a partir de sua visão de mundo e do contexto em que o texto está inserido,
formulando hipóteses de sentido para esse diálogo em que não se sabe sobre o
que exatamente as interlocutoras conversam.
c) Em nosso caso, ele está em um contexto didático, sendo usado como exemplo para
estudo de coerência. Ter essa situação em mente é fundamental para que o texto
possa fazer sentido. Em outros contextos comunicativos, ele pode apresentar outras
significações.
Como vimos, a coerência depende de mais de um fator. Vejamos mais alguns deles,
tendo como base Koch e Travaglia:
c) Aceitabilidade: esse fator está ligado ao leitor/interlocutor. Para que um dado texto
funcione, é preciso que o leitor/interlocutor esteja disposto a participar da situação
comunicativa, compartilhando propósitos com o produtor.
Coesão textual
Para Koch e Travaglia, a coesão textual é “(...) explicitamente revelada através de marcas
lingüísticas, índices formais na estrutura da seqüência lingüística e superficial do texto,
sendo, portanto, de caráter linear, já que se manifesta na organização seqüencial do
texto.”
Como somos capazes de atribuir um sentido ao texto, é possível dizer que ele é
coerente. No entanto, essa construção não deveu-se a presença forte de elementos de
ligação entre as palavras, o que demonstra que a coerência e a coesão nem sempre
caminham juntas.
Texto B (paráfrase de A)
Muitas informações jornalísticas abordaram o tema neste pequeno período de tempo
(sete dias). Clovis Rossi e Carlos Heitor Cony, entre outros jornalista da Folha, tocaram
no assunto mais de uma vez na semana.
O texto B retoma as idéias de A, mas com termos diferentes, chegando mesmo a acres-
centar informações (como os nomes dos articulistas Clovis Rossi e Carlos Heitor Cony).
Nesse sentido, o texto B é recorrencial com relação ao texto A.
Seqüencial: “Os mecanismos de coesão seqüencial (...) são os que têm por função,
da mesma forma que os de recorrência, fazer progredir o texto, fazer caminhar o flu-
xo informacional. Diferem dos de recorrência, por não haver neles retomada de itens,
sentenças ou estruturas”. Observe o exemplo: Foi uma estadia excelente, não tenho do
que me queixar. Pena que, dois dias depois, parecia que aquela viagem tinha ficado no
passado. A expressão grifada (“dois dias depois”) faz com que o fluxo da informação
caminhe, pois, por meio dela, associamos a “estadia excelente” com “aquela viagem
tinha ficado no passado”. Ela estabelece a conexão, acrescentando um dado novo, sem
ser a repetição de um termo ou estrutura anteriormente citada.
Bibliografia
BARROS, Diana L. P. Teoria semiótica do texto. São Paulo: Ática, 1999.
CHARAUDEAU, P., MAINGUENEAU, D. Dicionário de análise do discurso. São Paulo:
Contexto, 2004
FÁVERO, Leonor L. Coesão e coerência textuais. São Paulo: Ática, 2001.
FERNANDES, Millôr. Trinta anos de mim mesmo. Rio de Janeiro: Desiderata, 2006.
GARCIA, Othon M. Comunicação em prosa moderna. Rio de Janeiro: Editora FGV,
2003.
KOCH, Ingedore V. Desvendando os segredos do texto. São Paulo: Cortez, 2002.
KOCH, Ingedore V., TRAVAGLIA, Luiz C. Texto e coerência. São Paulo: Cortez, 2000.
ORLANDI, Eni. Discurso e leitura. São Paulo: Cortez, 2006.
RAMOS, Ricardo. Os melhores contos de Ricardo Ramos. São Paulo: Global, 1997.
Sites
http://pt.wikipedia.org