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Introdução
Eni Orlandi define discurso da seguinte forma: “o uso que estou fazendo de discurso é
o da linguagem em interação, ou seja, aquele em que se considera a linguagem em
relação às suas condições de produção, ou dito de outra forma, é aquele em que se
considera que a relação estabelecida pelos interlocutores, assim como o contexto, são
constitutivos da significação de que se diz.”
Nesse sentido, discurso pode ser entendido como sinônimo de interação entre sujeitos,
em um dado contexto. Muito distante do sentido comum do termo discurso (que está as-
sociado à política ou a comunicações formais), esse conceito destaca o caráter interativo
e contextualizado da linguagem. Observe as situações a seguir:
Em nossa primeira imagem desta unidade, na qual vemos pessoas assistindo a uma
peça de teatro, podemos observar um discurso lúdico. É um tipo de situação de interlo-
cução em que o sentido não está absolutamente fechado. Ao contrário, a peça e todos
os elementos que a compõem foram construídos de tal modo que os interlocutores po-
dem interpretá-la de mais de uma forma. Esse tipo de discurso mais aberto a diferentes
atribuições de sentido é denominado lúdico.
Há outras classificações para “tipos de discurso”. Em todas elas, de certa forma, pode-
se entender, como Charaudeau e Maingueneau, que “os tipos de discurso são modos
fundamentais de estruturação que se combinam nos textos concretos”.
Assim, de acordo com Adilson Citelli, gêneros do discurso como letras de música, poe-
mas, romances de ficção, pinturas, esculturas, entre muitos outros, podem ser conside-
rados lúdicos. Já “uma discussão entre amigos, uma defesa de tese, um editorial, uma
aula” são exemplos de gêneros do discurso polêmico. Por fim, o anúncio publicitário
imperativo, os comandos de ordem, as leis, o sermão religioso podem ser considerados
gêneros do discurso autoritário.
Se, como afirma Bakhtin, gêneros do discurso são “tipos relativamente estáveis de enun-
ciados”, ao estudá-los, estamos verificando:
• o caráter social desses traços, pois foram constituídos pelos indivíduos em interação
e assim são reconhecidos;
De maneira ampla, podemos utilizá-los tanto na modalidade oral como na escrita (po-
demos, por exemplo, esquematizar oralmente nossa fala, resumir uma história que nos
contaram, analisar um filme etc.). Tradicionalmente, no entanto, apenas a “apresenta-
ção oral” caracteriza-se como gênero oral dentre os que serão estudados.
Observando esta casa, talvez chame a atenção apenas sua beleza e tamanho. São vá-
rios quartos, janelas, um belo jardim. Muitos de nós, habitantes de pequenas e grandes
cidades, podem ver casas parecidas todos os dias: ao lado da nossa, no trajeto para a
escola, no caminho do passeio.
O que nem sempre nos lembramos é que para essa casa existir ocorreram muitas eta-
pas no processo de sua construção. Houve a etapa da fundição, a das paredes e lajes,
do acabamento e a da decoração final. Mas, antes ainda de tudo, uma etapa importan-
te possibilitou a realização dessa residência.
Muitos outros objetos (talvez a maioria deles) pressupõem uma estruturação anterior.
Aliás, mesmo que a gente não perceba, ao construir alguma coisa estamos realizando
uma estrutura. Mas, se não temos consciência disso, pode ser que nosso resultado final
fique insatisfatório.
Segundo A. L. Pita e Sueli Pitta, “a função básica de um esquema é definir o tema e hie-
rarquizar as partes de um todo numa linha diretriz, para torná-lo passível de uma visão
global. Pelo esquema, pode-se atingir o todo numa única mirada.”
Textos verbais também apresentam uma “estrutura”. Uma narrativa, por exemplo, pres-
supõe um esquema que organize a história que será contada. No caso dos escritores
profissionais, a narrativa que se organizará é toda esquematizada antes de ser produ-
zida, mesmo que seja apenas mentalmente. Mas, mesmo que o autor não pense na
organização de sua história, ela acabará seguindo algum esquema.
Podemos partir de perguntas como: qual a história que desejo contar? Como vou organi-
zá-la? Como começa? Quais seus acontecimentos principais? Como vou terminá-la?
Da mesma forma que nos textos narrativos, os dissertativos também pressupõem uma
esquematização por parte de seu produtor. Isso significa dizer que, em sua construção,
um autor estabelece um fio de raciocínio que dará sustentação a seu ponto de vista.
Fique Atento
Em muitos livros, os autores apresentam, esquematicamente, o que será desenvolvido nos
mesmos. Essa apresentação pode se dar por meio de algumas palavras de esclarecimento, de
um texto que apresenta a obra, o chamado “prefácio”. E pode se dar ainda por meio de um ín-
dice dos conteúdos que serão trabalhados, na ordem em que aparecerão no livro em questão.
Esse índice de conteúdos é o chamado “sumário”.
Os sumários e prefácios são partes importantes para a compreensão de uma obra, pois nos
esclarecem sobre os conteúdos que serão desenvolvidos na mesma e de que maneira serão
abordados. De certa forma, apresentam o fio de raciocínio da obra, muitas vezes de forma
esquemática.
Resumo
Ela tem acompanhado as aulas, mas tem percebido que, sem as leituras prévias dos
textos que dão apoio às falas, ela perde uma parte significativa do conteúdo, sentindo,
inclusive, dificuldade em formular perguntas pertinentes.
Pensando na situação vivida por Carla e na definição de resumo dada por Marli Q.
Leite, podemos entender que esse gênero de texto apresenta-se como uma forma de
sumarizar informações. Ao sermos capazes de sintetizá-las, demonstramos uma forma
de compreensão dos diferentes textos que vemos, ouvimos, lemos.
A princípio, fazer um resumo pode parecer uma tarefa simples. Mas, como qualquer ou-
tra atividade, requer algumas habilidades e conhecimentos de como deve ser produzida.
Quando ouvimos uma palestra, por exemplo, ouvimos as mais variadas informações.
O pensamento do autor, por vezes, vai de um lado a outro, sendo difícil acompanhá-lo.
Para fazer um resumo, portanto, temos de ter em mente como proceder diante de um
grande volume de informações, nem sempre apresentado de forma linear e didática.
De acordo com Anna Raquel Machado (2004), “a primeira etapa para se escrever um
bom resumo é compreender o texto que será resumido. Auxilia essa compreensão o co-
nhecimento sobre o autor, sua posição ideológica, seu posicionamento teórico etc.”
Já Marli Quadros Leite destaca outros aspectos para a produção de resumos. Diz: “As
estratégias são de dois grandes tipos: as que se concretizam por seleção dos conteúdos
lidos, e as que decorrem de construção elaborada a partir dos conteúdos apreendidos.”
A autora destaca elementos ligados a interioridade dos textos. Cada obra apresenta, de
alguma forma, uma série de informações organizadas sobre um dado assunto ou acon-
tecimento, real ou imaginário (se pensarmos em textos de ficção). Resumir, portanto,
implica em selecionar informações mais relevantes em um conjunto maior de dados.
Resenha
Maria Lúcia Andrade define resenha como “uma síntese seguida de um comentário
sobre obra publicada, geralmente feita para revistas especializadas das diversas áreas
da ciência, arte e filosofia. As resenhas desempenham papel fundamental para qualquer
estudante ou especialista, pois é por meio delas que tomamos conhecimento de um livro
que acaba de ser publicado, e a partir dessa informação podemos decidir pela leitura
ou não da referida obra.”
Talvez pensando nisso, em toda a dificuldade que muitos leitores têm em estar
diante de um clássico, a editora Jorge Zahar tenha lançado em português a histó-
ria em quadrinhos do livro “No Caminho de Swann - Combray”, do escritor Marcel
Proust.
Esse era um grande desafio para essa adaptação: como transformar sentimentos e
reflexões em imagens? Uma das opções feitas foi mesclar momentos de mais ação
com momentos mais reflexivos, sendo que, destes, foram destacados momentos
cruciais da história original (como o momento em que o narrador entre em contato
casual com um pequeno bolo chamado “madalena” e vive um intenso momento de
resgate de sua memória distante).
Um outro aspecto que deve ser destacado na produção das resenhas é a distinção das
vozes do resenhista e do autor da obra resenhada. É importante que o leitor perceba
claramente quando a fala é do produtor da resenha ou quando se trata de uma citação
do original.
De acordo com Anna Raquel Machado (2007), “como no caso do resumo, a resenha é
um texto sobre outro texto, de outro autor. Assim, é natural que haja menções ao texto
original, o que, no caso da resenha, vem acompanhado de comentários feitos pelo re-
senhista. Porém, deve-se tomar cuidado ao fazer essas menções para que o que foi dito
pelo resenhista e o que foi dito pelo autor do texto original fiquem absolutamente claros
para o leitor.”
Apresentação Oral
Há muitas situações profissionais em que somos obrigados a falar em público. Essa fala
pode ser produzida a partir de uma situação de improviso ou de um evento previamente
marcado. Se tivermos a oportunidade de preparar nossa apresentação oral, ela poderá
ter um êxito maior frente a nosso público.
De acordo com o especialista Reinaldo Polito, “Nós temos internamente dois oradores
distintos: um real e outro imaginado. O real é o verdadeiro, aquele que as pessoas
vêem efetivamente. O imaginado é fruto da nossa imaginação, aquele que nós pensa-
mos que as pessoas vêem quando falamos.
Esse orador imaginado é construído principalmente pelos registros negativos que rece-
bemos — os momentos de tristeza, de derrota, de cerceamento que passamos ao longo
da vida. Esses registros formam uma auto-imagem negativa, distorcida, diferente da
imagem verdadeira que possuímos.”
2 Aspectos verbais
• registro: a fala, devido à situação de interlocução, mostra-se, às vezes, um pouco
menos formal do que a escrita. No entanto, opte, sempre, pelos usos do Português
padrão, sem exageros (você não precisa parecer erudito, tampouco deve usar
gírias)
• apresentação da proposta: é importante que você se apresente ao público, bem
como o tema de sua fala. Além disso, para facilitar o entendimento, pode-se sinte-
tizar, antes do início propriamente dito, o caminho que será percorrido. Nada im-
pede, também, que, durante a apresentação, a cada novo momento que se inicia,
você avise seus ouvintes de que um outro tópico será destacado.
• fio de raciocínio: uma fala deve ter um fio, previamente estabelecido. Ao compor
uma apresentação, organizamos uma série de informações sobre um dado assun-
to. Portanto, tão importante quanto dominar o assunto é saber como apresentá-lo.
• leituras: devem ser evitadas, especialmente de longos trechos. Quando necessário,
fazê-las de modo que possam ser acompanhadas pelo público (em transparência,
data show ou cópia entregue a cada participante).
• citação de fontes: devem citar-se as fontes dos dados e informações que serão
apresentadas na fala. Além disso, sempre que um elemento for mencionado literal-
mente, deve aparecer com a notação bibliográfica.
• apresentação programada: toda apresentação tem um tempo de duração. Portan-
to, é fundamental estabelecer como a fala será distribuída no tempo. Assim, se-
guindo o fio de raciocínio, deve-se estabelecer o tempo de duração de cada parte
da fala.
• interação (falas em grupo): em algumas situações, uma apresentação é feita por
um grupo. Nesses casos, é importante organizar previamente a ordem e o momen-
to de fala de cada um. Um recurso complementar nessa organização é o “passar a
palavra”, quando houver troca de orador; isso evita a sobreposição de falas, situ-
ação que deve ser evitada por poder gerar confusão de entendimento, demonstrar
desorganização, insegurança etc.
Materiais Complementares