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Roteiro de Nucleação

e Iniciação da
Pastoral Universitária

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I. Apresentação

Brasília, 25 de junho de 1999-07-06


P n° 0527/99

“O Espírito do Senhor está sobre mim. Ele me escolheu para anunciar a Boa Nova aos pobres
e me mandou anunciar a liberdade aos presos, dar vista aos cegos, pôr em liberdade os que
estão sendo maltratados e anunciar o ano que o Senhor vai salvar o seu povo. (Lc 4, 18-20)”.

Aos Universitários(as) Cristãos(ãs):

Apraz-me apresentar-lhes este Roteiro de Nucleação e Iniciação.


Ele nasce do sonho do(a) universitário(a) que está preocupado com a evangelização do
mundo universitário e o compromisso deste com a construção de uma sociedade mais justa, ética
e solidária.
É um esforço de várias mãos, como bem identifica a capa. Mãos que. na diversidade de
idéias e projetos, se unem em torno de um projeto maior: a construção do Reino, tendo, na
pedagogia de Jesus Cristo, o referencial por excelência.
Agradeço a todos os que se envolveram nesta construção coletiva, priorizando a Pastoral
Universitária, como um dos ideais a serem assumidos pelo mundo da Universidade, para que o
saber realmente possa ser colocado a serviço da opção preferencial pelos pobres.
Eu os convoco a serem os discípulos de Emaús: promovam o reino de Deus,
anunciando a Boa Nova.
Que o espírito do Senhor esteja sempre convosco.
Cordialmente,

Dom Jayme Henrique Chemello,


Presidente da CNBB

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II. Introdução

“Como fazer para começar a PU em nossa diocese ou Universidade? Qual a melhor


maneira de iniciarmos um grupo de PU? Qual o material que vocês têm para nos ajudar a fazer
PU?” Essas e outras perguntas nos chegam a cada momento. Elas traduzem uma demanda
objetiva por PU. É verdade que, na CNBB, temos muitas publicações, temos até um “kit — PU”
enviado para todos os que solicitam material. São relatórios, textos conceituando PU, o “Roteiro
de Estudos”, etc. Mas falta alguma coisa!
Por outro lado, temos consciência de nosso tamanho. Para a PU, quantidade nunca foi
questão fundamental. Nossos objetivos fundamentais e nossa metodologia implicam um
“formato” de pastoral baseado em pequenas comunidades que se fazem instrumento para
atingirmos o mundo universitário.
Todavia, tem crescido entre nós a consciência de que precisamos aumentar
quantitativamente. Primeiro, porque vamos sentindo a acolhida que o ambiente universitário
proporciona às mais diversas e variadas formas de religiosidade; segundo, porque o aumento
quantitativo é, antes de tudo, a concretização de nossa missão, capacitando-nos à profética
denúncia do individualismo (gritante no meio acadêmico) e da mercantilização, pela qual passa o
ensino superior; terceiro, porque esse crescimento quantitativo é um elemento importante na
evangelização, à medida que interfere diretamente na visibilidade de nossa experiência; e,
finalmente, porque estamos certos de que tal opção pelo aumento da quantidade não exclui, nem
se confronta com a afirmação de nossa identidade. E, para multiplicar o número de
grupos/comunidades, procurando atingir uma percentagem mais significativa da população uni-
versitária do país, precisamos de um bom instrumental.
Foi assim que surgiu a idéia de elaborarmos um roteiro para fazer NUCLEAÇÃO e
INICIAÇÃO na PU. Numa oficina de trabalho que reuniu coordenadores, assessores e ex-
militantes no I Encontro Inter-regional de Coordenações — Vinhedo/SP, 26 a 30/01/98 —,
fizemos uma primeira versão para ser aplicada durante o ano de 98. Em janeiro de 99, no VII
Encontro Nacional da PU, foi revisada a partir das observações e emendas vindas das
experiências realizadas até aquela data.
O formato de roteiro quer ajudar os que nucleiam e iniciam um novo grupo, partindo de
grupos já existentes ou do nada. Ele contém reflexões e conceitos, mas também instruções e
dicas. Não queremos, contudo, que seja confundido com uma espécie de “receita de bolo”. Na
verdade, sabemos que as diferenças entre cada realidade particular torna isso impossível. O seu
papel é auxiliar, colaborar diretamente com um processo em que os protagonistas são pessoas e
realidades bem contextualizadas que não podem, em hipótese nenhuma, ser substituídas por
manuais.
O texto está assim estruturado: após a apresentação e a introdução, vem o capítulo O
MODELO DE NOSSOS GRUPOS, que procura contextualizar nossa história e nossa
experiência de Pastoral; segue uma conceituação dos processos de NUCLEAÇÃO e
INICIAÇÃO, descrevendo o objeto central do texto; o capítulo seguinte resgata os
condicionantes, FATORES EXTERNOS E INTERNOS, que incidem direta e/ou indiretamente
sobre nossas iniciativas; depois, apresentamos as ATIVIDADES, maneiras como podem ser
executados os processos; e, finalmente, os caminhos para a AVALIAÇÃO, destacando que,
como empreitada necessária e contínua na missão da PU, os processos de NUNCLEAÇÃO e
INICIAÇÃO precisam ser constantemente revistos e melhorados.
Enfim, ressaltamos que este ROTEIRO brotou da consciência de que, pela vocação, somos
enviados para o anúncio, como colaboradores na ação salvífica de Deus. Por isso, ele é,
sobretudo, um instrumento para a realização da vontade do Pai e para ele esperamos um
acolhimento criativo e entusiasmado.

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III O modelo de nossos grupos

3.1 Síntese Histórica


Compreendemos a Pastoral Universitária de Linha Diocesana como uma presença eclesial
no mundo universitário. Diocesana, porque a realidade da Igreja Particular é seu lugar vital, lugar
de motivação e de ação primária; eclesial, porque se insere na iniciativa evangelizadora da
diocese, sendo parte integrante de sua Pastoral de Conjunto.
Trata-se de uma experiência que nasce com a rearticulação dos Universitários católicos no
Concílio de Jovens de Lins — SP, em 19771. Naquele momento, na busca de resgatar a
experiência da Juventude Universitária Católica, os universitários presentes, que já estavam
organizados em grupos nas Universidades, procuraram um rosto próprio.
Em seu primeiro período (entre 1977 e 1986), essa articulação procurou agrupar
genericamente as várias experiências espalhadas pelo país. Com a caminhada, as diferenças
foram se tornando cada vez mais fortes, inclusive com o surgimento de Movimentos em seu
interior. Em 1986, o VI Encontro Nacional optou por constituir uma PU Nacional Pluralista,
reconhecendo os diferentes carismas em seu interior. É nesse momento que surge o que
chamamos, hoje, de Pastoral Universitária Diocesana. Fundamentalmente, essa experiência
procurou retomar, com criatividade, a continuidade dos princípios da JUC, como, por exemplo, a
metodologia (Ver - Julgar - Agir - Celebrar e a Revisão de Vida2) e a evangélica Opção
Preferencial pelos Pobres.
Em 1987, a PU de Linha Diocesana fez seu primeiro Encontro Nacional. Nesses doze
anos, as experiências foram se somando e sendo sistematizadas. Hoje, nós nos compreendemos
como COMUNIDADES PROFÉTICAS NO MEIO UNIVERSITÁRIO3, presença da Igreja com
um rosto fortemente laical, que procura viver os sinais do Reino através de pequenas
comunidades e, como tal, existem em função da missão de anunciar profeticamente os seus
valores (do Reino) no meio universitário.O objetivo fundamental é evangelizar o mundo
universitário, buscando impregnar o ambiente acadêmico dos valores que nós, cristãos/ãs,
professamos (ética, justiça, verdade, solidariedade, fraternidade), buscando propagação do
Evangelho no cotidiano do ensino superior.
Marca-nos, ademais, o forte protagonismo laical e estudantil, o compromisso de
evangelizar pessoas e estruturas, a busca de provocar uma presença cristã comprometida com os
destinos da Universidade, para que ela assuma, determinadamente, seu papel de serviço à
sociedade e, nesta, aos marginalizados e excluídos. Presença solidária com os que integram a
comunidade universitária, compromisso com a formação integral dos estudantes para que sejam
academicamente competentes, eticamente comprometidos e espiritualmente inspirados, tendo em
vista seu futuro agir profissional. Marca-nos, enfim, a consciência da missão, de que somos,
sobretudo, enviados para fazer com que todos os povos se tornem discípulos (Cf Mt 28,19).
Sabemos que não somos a única experiência de evangelização no meio universitário. Aí
estão também a Pastoral da Universidade, uma iniciativa da própria instituição universitária
(geralmente confessional), que oferece serviço de pastoral aos estudantes, professores e
funcionários, e movimentos eclesiais como a RCC, Focares, Comunhão e Libertação, etc. (Uma
reflexão mais aprofundada sobre esse assunto ejlcontra-se no caderno de estudos Pdu/Pu —n0
1).

1
Cf. CNBB. Evangelização e Pastoral da Universidade. Cadernos de Estudo 56. São Paulo — SP: Ed. Paulinas,
1988.
2
Não discorremos sobre o método neste capítulo, porque acreditamos haver vasta bihliografia a respeito
do assunto.
3
Ver Oliveira,, Alcivam P. “PU — Conceitos” - CNBB — Setor Pastoral Universitária. Brasília — DF,
1996.

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3.2 Aspectos referenciais
A Pastoral Universitária procura concretizar a missão evangelizadora da Igreja na
Universidade, como apresentam os diversos documentos eclesiais,4 a partir da experiência que
foi sendo acumulada e sistematizada ao longo dos anos e das demandas que a realidade nos
apresenta. Para isso, temos como fundamento a constituição de pequenas comunidades, núcleos
formados por estudantes (cujo número ideal é entre quatro a oito) acompanhados1 sempre que
possível, por um assessor.
Marcados pelo amadurecimento5 pessoal e grupal, destacam-se quatro aspectos na vida do
núcleo:
⇒ a vivência de uma dinâmica comunitária;
⇒ a tomada de consciência e explicitação da espiritualidade cristã, encarnada na cultura
universitária;
⇒ a ação evangelizadora;
⇒ e, finalmente, o estabelecimento de relações privilegiadas com a Universidade.
A vivência comunitária de tais aspectos visa a dar unidade à nossa experiência, sem, no
entanto, ter qualquer intenção de uniformizar os grupos. Para nós, é grande o valor do respeito ao
espaço de liberdade para o aparecimento da diversidade no interior da Pastoral Universitária.

3.2.1 A dinâmica comunitária


Nossos grupos têm a vida comunitária como imperativo de Deus: o grupo que segue Jesus
é comunidade que procura viver, antecipadamente, os sinais do Reino, no amor, que é
solidariedade, partilha, atenção e carinho mútuos. E essa experiência que vai inspirar e alimentar
os compromissos cotidianos, o processo exigente de seguir a Cristo incondicional e
continuamente e as relações intersubjetivas para o amadurecimento pessoal e grupal.
Dos membros da comunidade requeremos uma atitude em que o referencial de conduta
não é a posse da verdade, do definitivo, mas o desejo de construir, através do provisório, os
pontos de encontro nos quais valores, motivações e objetivos, por vezes diferentes, possam ser
explicitados. comparados, avaliados e “reelaborados”, continuamente, sem nunca termos a
pretensão de chegar a uma síntese definitiva e sem perder a identidade própria. É preciso afirmar
a subjetividade6 como capacidade de autocompreensão e autonomia, fatores decisivos para a
compreensão e a convivência com o outro. No grupo, tal atitude se traduz na postura de diálogo
permanente, em que a relação que se estabelece com o outro é de constante aprendizado. Mais
cresce quem mais aprende. O desafio é, portanto, de aprender a aprender, sem nunca desperdiçar
as oportunidades de aprendizado. O que equivale a dizer que a busca da maturidade implica um
processo de afirmação do eu como realização comunitária.
Outro aspecto mantenedor da vida comunitária é o respeito ao outro diante das eventuais
falhas, não com o intuito de ignorá-las, mas com o de que sejam tratadas no momento oportuno e
da maneira adequada. O amadurecimento pessoal e coletivo se concretiza na criação de vínculos
de intimidade e amizade, que proporcionem, não apenas a partilha das dores, alegrias, frustrações
e felicidades, mas também do pão e da roupa, da passagem do ônibus e dos livros. Assim,
responsabilizamo-nos pelos companheiros e companheiras e constituímos um espaço de
discernimento e construção de um projeto de vida.
Essa experiência comunitária é movida, acima de tudo, pela gratuidade que pode gerar,
4
Entre eles, vale destacar a Constituição Apostólica “Ex—Corde Ecclesiae”, o documento “A Presença da Igreja
na Cultura Universitária”, “As linhas de Ação da Pastoral Universitária na América Latina”, no relatório do
Seminário Taller de PU de Guadalajara — México, 1993.
5
Temos consciência da ambigüidade em que pode cair tal conceito. Para nós, significa, sobretudo, o momento de
reconhecimento da história pessoal e grupal experimentada, considerando as diversas dimensões do sujeito humano.
6
Não confundir com a tendência subjetivista atual, que pode levar a um protagonisrno de matriz econômica,
expresso no momento liberal e neoliberal como afirmação da iniciativa e desejo de possuir. Na verdade, trata-se de
unia redução que ofende a própria autonomia humana.

7
espontaneamente, atitudes e posturas. No grupo de PU, contudo, ela é marcada também pela
metodologia (na prática da Revisão de Vida, através do método Ver—Julgar — Agir — Rever
— Celebrar, vivida com sistematicidade). Para nós, é o aspecto comunitário vivido, como
experiência da mística cristã, que marcará profundamente a vida do universitário.

3.2.2 Espiritualidade
Como afirma Dom Cândido Padim7, só existe uma espiritualidade cristã: a vivida por
Jesus Cristo. Quando destacamos a espiritualidade como aspecto marcante no grupo de PU,
enfatizamos atitudes e posturas que, na dimensão transcendente do ser humano, ganham
características próprias. São espirituais no sentido de que são especialmente motivadas pelo
Espírito de Deus, a exemplo do que aconteceu com Jesus de Nazaré.
Em primeiro lugar, vem a relação com o Criador. Os membros da comunidade são levados
a amadurecer sua relação pessoal com Deus, através da oração (conversa intima com Deus), da
leitura bíblica, que busca compreender a revelação para atualizá-la, e, no silêncio, para ouvi-lo
através de sua criação. O mesmo se dá na vida do grupo, nos momentos celebrativos e nos de
estudo e escuta da Palavra e na busca de uma referência para compreender melhor o mundo.
A vivência, segundo o Espírito, é cultivada para afirmar a abertura e o acolhimento da
diferença, a radicalização da comunhão com Deus através dos irmãos/ãs e da natureza (também
esta, criatura divina que precisa ser respeitada em sua existência ativa) e a resposta à proposta de
Deus como fé existencial, encarnada na vida em todas as suas dimensões.
A espiritualidade vivida pelo grupo e pelos seus membros procura se encarnar,
primariamente, em seu lugar vital: a Universidade. Isso implica uma fé celebrada e vivida a
partir dos elementos próprios da vida universitária, experimentando-a como graça, como dom
que se torna dívida no momento em que traz a exigência de ser partilhada (seus conhecimentos e
frutos) com todos os irmãos/ãs. É preciso, contudo, dizer que ela é dinâmica, é processo que se
aprofunda paulatinamente e, nas diversas situações e dimensões da vida, procura experienciar a
presença mistérica e amorosa de Deus, revelada na vivência da mística espiritualidade do
seguimento a Jesus. Enfim, nossa espiritualidade está sempre aberta à descoberta de quão belo e
gostoso é sermos filhos e filhas de Deus.

3.2.3 Ação evangelizadora


A comunhão e a espiritualidade existem em função do anúncio e da missão
evangelizadora, sem a qual a comunidade eclesial perde o sentido.
A missão do grupo de PU é evangelizar o mundo universitário. O amadurecimento pessoal
e grupal cresce em direção à ação evangelizadora que será, ao mesmo tempo, caminho e critério
para tal crescimento.
A primeira ação acontece com a própria constituição da comunidade: a dinâmica
comunitária e a espiritualidade vivida são alimentos para a evangelização plena da comunidade,
uma espécie de “auto-evangelização”. Mas não haverá sentido, caso paremos por aí. O maior
sentido está na evangelização para fora do grupo, em direção ao mundo universitário.
Em comunhão com a Igreja do Brasil8, compreendemos a ação evangelizadora como
propagação do evangelho na “cultura” universitária, realizada através:
⇒ do testemunho do serviço,
⇒ do diálogo,
⇒ do anúncio
⇒ e do testemunho comunitário.

7
PADIM, Dorri Cândido. “Espiritualidade e Pastoral”. In: Vida Pastoral. São Paulo —SP Ed. Paulus, jul/ago 1995,
nº183. “Creio, portanto, como conclusão, não ser recomendável a preocupação em criar ‘espiritualidades’
especializadas para cada grupo na igreja ou para cada tipo de função. Não vejo necessidade de falar de
espiritualidade preshiterai, laical ou religiosa. Melhor seria falar em distintos processos de formação espiritual, pois
os processos têm vários modos de ordenamento, conforme sua destinação”.
8
CN BB — Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil. Paulinas, S. Paulo — SP, 1995.

8
O grupo em conjunto e/ou cada membro tem como fundamento essas exigências.
Como serviço, são desenvolvidas atividades de acolhimento a estudantes que estão longe
de suas famílias e não podem arcar com despesas muito grandes para sua hospedagem, como por
exemplo, aqueles que saem de suas cidades para fazer vestibular. Mas é também atitude gratuita
emprestar um livro, oferecer um caderno para aulas serem copiadas, assumir as lutas acadêmicas
(através dos Diretórios e Centros Acadêmicos) como canal para a construção de uma
universidade voltada para a formação integral da pessoa e comprometida com as demandas que
vêm dos empobrecidos, marginalizados e excluídos, preferidos por Jesus de Nazaré, isto é, ser
presença solidária.
Como diálogo, o testemunho é dado através da postura pessoal, do relacionamento com
irmãos de outras confissões e na abertura para ouvir o que a ciência tem a dizer para a fé. E
também ter o que apresentar, ter uma identidade que possa entrar em intercâmbio para o
crescimento comum, promovendo debates, conferências e palestras que abram espaço para a
comunidade universitária refletir e aprofundar temas importantes. E, enfim, a atitude de escutar o
outro na atenção de captar a vontade de Deus através de suas criaturas. Esse, talvez, seja o
testemunho mais requisitado de um cristão no ambiente universitário. Sem dúvidas, se há uma só
característica tipicamente universitária, esta é o pluralismo de pensamento e expressões nos mais
variados campos da cultura.
Acreditamos que tais testemunhos conseguem PROVOCAR nossos interlocutores,
sensibilizá-los para os valores apresentados pela proposta de Jesus: a promoção da justiça, a
construção da fraternidade e o cultivo da esperança. Deles podemos ver emergir uma ética que
prioriza a vida e a solidariedade, uma política que prima pela participação democrática e um
‘fazer” técnico-científico que tem, na valorização de cada pessoa, sua motivação e seu
horizonte.
Sabemos, entretanto, que a evangelização, em seu sentido pleno, exige mais. Exige um
testemunho que anuncie explicitamente o nome de Jesus Cristo como Senhor. Com a consciência
de que tal anúncio precisa ser como uma resposta a algo que procuramos, e não como imposição
de um pensamento, o grupo de PU realiza, entre outras iniciativas, a preparação de
universitários/as para o sacramento da crisma, celebrações nos campus universitários, divulgação
da Campanha da Fraternidade; oportuniza aos estudantes o aprofundamento da fé através de
retiros e de reflexões a respeito de temas religiosos.
Por último, é o testemunho da própria comunidade, que procura seduzir universitários e
universitárias para se integrarem na “família”. O testemunho pessoal e grupal da vida
comunitária é o primeiro caminho para o convite ao outro: VINDE E VEDE COMO VIVEMOS.
Porém, isso não basta. É preciso que:
⇒ o convite seja feito de maneira explícita e direta;
⇒ a ação evangelizadora se plenifique, ao oferecer a oportunidade para que outros
também possam experimentar o gostoso da vida comunitária de Pastoral Universitária;
⇒ os acadêmicos possam conhecer Jesus mais de perto e assim aprofundar sua fé;
⇒ possam, enfim, fazer de sua fé, uma maneira de existir, um vinho que mergulha no
corpo e renova toda a vida em alegria.
E isso exige ter uma postura verdadeiramente profética, em que, ao sermos
vocacionados/as e imersos/as na graça do Espírito, nos descubramos apaixonados/as pelo projeto
do Reino. Assim, vamos formando novos grupos que começarão a caminhada para se tornarem
comunidades.
Nada disso, contudo, pode depender apenas da espontaneidade. Desfrutando dos dons do
conhecimento e da racionalidade acadêmica que lhes foram dados, o grupo procura primar, ao
máximo, pela sua organização. A ação evangelizadora precisa ser guiada pela gratuidade, mas
não poderá esquecer o planejamento e a avaliação contínuos. Afinal, ser evangelizador é ser
mediador de uma proposta de muito valor, que não pode ser apresentada de qualquer jeito. Para
isso, o grupo possui uma rotina de trabalho, com reuniões periódicas e uma metodologia própria
(Ver — Julgar — Agir Rever — Celebrar e a Revisão de Vida). Além disso, prepara-se através

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de estudos9, procurando a vivência de uma fé consciente e comprometida que visa à
transformação da realidade na qual está inserido. Ademais, o grupo está sempre articulado,
assumindo sua organicidade com a Igreja local e com os outros grupos de PU espalhados pelo
país.
Finalmente, ressaltamos que, apesar da prioridade, o ambiente universitário não é o único
espaço para nossa ação evangelizadora. O grupo ou alguns de seus membros desenvolvem
atividades junto a comunidades carentes (como campanhas educativas e assistenciais) e procura
estar presente na vida da Igreja, oferecendo seus dons de universitários para o crescimento de
toda a comunidade eclesial. Muitos membros da PU são catequistas, acompanhando, por
exemplo, a preparação dos sacramentos de iniciação cristã em paróquias.

3.2.4 A relação com a universidade


Esse destaque se deve, em primeiro plano, à importância sócio-cultural da Universidade.
Ela abastece hoje todas as instâncias decisórias da sociedade com informações e pessoas, seja no
campo político, no econômico ou no educacional. Nesses termos, é impossível não reconhecer a
hegemonia da racionalidade e do conhecimento científico e tecnológico na cultura
contemporânea. Assim, a Universidade ganha importância à medida que produz uma elite que
tende a controlar os destinos da sociedade. Dela se esperam, também, alternativas tecnológicas
para um desenvolvimento económico que não seja excludente.
O papel da Universidade dentro da sociedade já indica, por si, a importância que ela possui
como um meio pelo qual a Igreja pode desenvolver, com sucesso, sua missão no mundo. Não
obstante, vale ressaltar o destaque dado por Jesus ao saber intelectualizado. Se é certo que não
podemos simplesmente fazer uma transposição histórica entre os legistas do século I na Palestina
— que, tomando a chave da ciência, não entram e impedem a entrada dos outros (Cf Lc 11,52)—
e os cientistas de nossa época, não é menos verdade que aqueles assumiam, à sua época, o papel
que esses assumem hoje. De forma que a crítica de Jesus explicita, sobretudo, a responsabilidade
que têm os “sábios” perante o mundo. Certamente, o mundo seria outro se a cultura científica
moderna fosse melhor permeada pelos valores evangélicos.
Daí a necessidade de uma ação pastoral que objetive a evangelização da Universidade
como estrutura de produção e difusão do saber científico e ambiente próprio das pessoas ligadas
a essas atividades. Essa necessidade se torna maior, quando percebemos, ainda presente, uma
tendência à dicotomização entre ciência e fé. Evangelizar o mundo da Universidade, nesse
aspecto, significa buscar a superação dessa tendência, anunciando e testemunhando que ciência e
fé podem e devem se relacionar através de uma mútua complementação. Por um lado, a fé
precisa cada vez mais dos elementos de compreensão e transformação do mundo, oferecidos pela
ciência e tecnologia para fazermos fé existencial; por outro, o fazer científico e tecnológico tem
demonstrado sempre mais a necessidade de um direcionamento ético que pode e deve ser
oferecido pela fé, pela esperança no projeto salvífico de Jesus Cristo.
Evangelizar a Universidade — pessoas e estruturas — deve ser, hoje, ponto fundamental
para a comunidade eclesial que quer chegar até os confins do mundo. Prescindir desse meio,
significa, pelo menos, abrir mão de um canal adequado para o diálogo com a cultura hegemônica

9
Na verdade, trata-se da formação permanente na PU. Ela é uma prioridade constante entre nós. A própria dinâmica
de vida dos grupos sugere o aprimoramento intelectual dos participantes na construção coletiva do saber e na ação
cotidiana. A avaliação constante desenvolve a autocrítica e a busca pelo aperfeiçoamento.
A formação acontece, assim, em todas as atividades de articulação, nucleação e no proprio testemunho pessoal e/ou
grupal; nos eventos (palestras, debates, entre outros); nos estudos individuais e em grupos; na leitura e produção de
textos. Para incentivar essa busca pelo saber, produzimos cadernos de estudo com temas ligados ao mundo
universitário; existem colunas nos boletins, escritas pelos participantes da Pastoral; seminários apresentados pelos
mesmos; organizamos, ainda, eventos específicos para formar os militantes, corno seminários regionais de formação
teológica e cursos de capacitação técnica. Uma de nossas últimas puhlicações foi o “Roteiro de Estudos”.Trata-se de
um subsídio que indica áreas de conhecimento, temas e assuntos para serem aprofundados em grupos ou
pessoalmente, acompanhado de sugestões de bibliografia e de metodologia para cada área.

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contemporânea. Isso implica que o grupo considere, em seu agir pastoral, os mais diversos
aspectos da vida universitária, para que, no diálogo e no serviço, possa haver evangelização.
Assim, é preciso que o grupo:
⇒ considere, em primeiro lugar, que ela (a Universidade) é uma instituição situada
na sociedade e, como tal, estabelece relações de obrigações e de deveres. Assim,
poderíamos dizer que, governada por cânones próprios, a Universidade exige que a
presença e atuação junto a ela obedeçam as suas linguagens, aos seus ritmos, aos seus
rituais, isto é, a sua própria dinâmica. Na busca de propagar o evangelho, é preciso estar
atento aos sinais que vêm deste mundo, com abertura para reconhecer seus valores e
estabelecer diálogo. E não qualquer diálogo, mas um que traduza a postura de respeito
por este mundo como criação de Deus e como lugar de manifestação de Seu Espírito;
⇒ considere a Universidade como lugar próprio de pessoas que, na qualidade de
jovens estudantes, estão decidindo seu futuro. Neste sentido, ela é uma realidade
marcante, mas transitória e, como tal, intermediária. A ação do grupo está voltada, não
só para frutos no presente, provocando o compromisso dos estudantes com a
transformação da realidade em que vivem, mas também para frutos no futuro,
provocando-os a buscarem uma formação que corresponda a seus compromissos como
cristãos na vida profissional.
Isso se traduz:
⇒ na compreensão da ciência e da tecnologia como dons de Deus, que precisam
estar voltados para realizar Sua vontade;
⇒ no fato de assumir os estudos como atitude inspirada pelo mesmo Espírito que
inspira o compromisso da solidariedade com o outro;
⇒ na convivência acadêmica como testemunho existencial de sua fé, contradizendo
a competitividade selvagem que, muitas vezes, se apresenta até mesmo na sala de aula;
⇒ no engajamento nos diversos movimentos acadêmicos, políticos e culturais;
⇒_ enfim, na participação ativa em todos os momentos da vida universitária.
Essa compreensão e atitude são cultivadas no dia a dia com os colegas, nas ações do grupo
e em seus momentos mais fortes de revisão de vida e celebração.

IV Nucleação e iniciação: A PU como processo


Chegar a um grupo/comunidade, com as características descritas no capítulo anterior, não
é fácil. Na verdade, é preciso percorrer um caminho, desenvolver um processo que leve um
grupo a afirmar sua decisão de ser comunidade cristã.
O ser cristão é, fundamentalmente, tomar uma decisão de seguir o MESTRE e, no
caminho, ir aperfeiçoando a maneira de segui-lO. Os exemplos bíblicos dos seguidores de Jesus
no Novo Testamento indicam que não basta tomar a decisão.

⇒ Como Pedro, somos tentados a negar (Cf Mc 14, 66-72);


⇒ como Tomé, somos tentados a não crer (Cf Jo 20, 24-29);
⇒e, como todos, temos dificuldades em compreender a mensagem de Jesus (Cf At 1, 1-6).
Ao longo dos anos, fomos sistematizando nossa experiência, lançando mão dos dados da
realidade, da história e da herança que recebemos. Chegamos a algumas conclusões. Entre elas, a
de que o processo é complexo, não é linear e está sempre intimamente ligado à realidade onde se
insere o grupo e à realidade existencial de cada pessoa que dele participa. Sabemos, também, que
nossa maneira de percorrer o caminho da experiência cristã não é única nem exclusiva, mas
particular. Ela reflete nossas opções e nossos objetivos como estudantes universitários cristãos.
Hoje, compreendemos nosso processo como sendo constituído por três etapas:
NUCLEAÇÃO, INICIAÇÃO e CONSOLIDAÇÃO. Numa analogia que temos usado bastante,
falamos também dos três momentos, como ocorre na relação entre dois jovens: primeiramente,

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há a paquera, a troca de olhares, a busca de oportunidades de encontro, o encanto da sedução...
Esse é o momento da NUCLEAÇÃO. Aceito o primeiro convite— ou paquera —, inicia-se o
namoro, a descoberta do outro. E o momento de conhecer-se e dar-se. O momento do namoro,
identifica-se com a INICIAÇÃO. A última etapa, que corresponde ao casamento, refere-se à
CONSOLIDAÇÃO.
A partir de agora, abordaremos as duas primeiras.

4.1 Nucleação
O termo indica o ato de construir um núcleo, demarcando seus limites e seu formato. Para
nós, significa os primeiros passos visando à estruturação do grupo/comunidade.

4.1.1 Motivação
A NUCLEAÇÃO é a partida para concretizar nossa ação evangelizadora em seu sentido
mais pleno: fazer crescer a comunidade dos discípulos que confessam Jesus Cristo como Senhor.
⇒ A motivação inicial é a fé: a certeza de que a proposta de Jesus é algo que vale a
pena ser vivido, algo que outras pessoas merecem conhecer.
⇒A nucleação motiva a experiência da vida comunitária: outras pessoas merecem
vivenciar a alegria de ter em quem confiar, com quem partilhar, de quem receber a
alegria de experimentar, mesmo que fragilmente, os sinais do Reino, pois precisam
disso.
⇒A nucleação motiva, ainda, a consciência de que o trabalho émuito e os operários
são poucos e, por isso, precisamos de mais gente para anunciar a Boa Nova ao
mundo.
É o encontro com Jesus Cristo, que se revela para nós na vida acadêmica e na partilha
comunitária, experienciada no grupo e testemunhada no cotidiano, que nos leva a irradiar a
proposta da PU aos universitários.

4.1.2 Sensibilizar e Provocar


Na etapa da NUCLEAÇÃO, agindo com ou sem intencionalidade declarada, queremos
sensibilizar nossos colegas para o fato de que existe uma proposta de vida que possibilita uma
vivência integradora do ser humano em todas as suas dimensões (inclusive a transcendente) em
busca de felicidade, que tal proposta considera o caráter particular do ser universitário, além de
ser vivida desde o ambiente acadêmico.
Através do testemunho pessoal, na conversa cotidiana, nas atitudes que cada membro do
grupo/comunidade vai apresentando, os sinais são enviados. O objetivo é despertar a curiosidade
para, quem sabe, chegar à formulação de perguntas: Que negócio é esse de PU? O que é que
vocês fazem tanto em reuniões? Vocês acreditam mesmo em Deus? São católicos? ...À maneira
de Jesus, nos deixamos ver no cotidiano da vida universitária. Esse é o grande espaço para a
NUCLEAÇÂO.
Na etapa de NUCLEAÇÃO, buscamos provocar nossos colegas, chamá-los para fora de si
mesmos, para estarem em nosso caminho. Diante da curiosidade demonstrada, respondemos:
VINDE E VEDE. Trata-se do primeiro convite explícito e direto para as pessoas participarem da
PU.

4.1.3 Espontaneidade e Estratégias


A NUCLEAÇAO tem como pressuposto a gratuidade evangélica do semeador que não
escolhe o terreno (Cf Mc 4,3-20) e a capacidade de saber quando se encontram interlocutores
com os quais caberia a comparação de Jesus à sua geração, “... semelhante a meninos que se
assentam nas praças e gritam aos seus companheiros: Tocamo-vos flautas e não dançastes;
cantamo—vos lamentações e não chorastes.”(Mt 11,16—17).
⇒ É preciso dedicar atenção aos que se sensibilizam gratuitamente, procurando
responder aos questionamentos;

12
⇒ é preciso saber não insistir, não “forçar a barra” de quem, muitas vezes, atende a um
convite por pura educação;
⇒ é preciso ter consciência de que nossa proposta não corresponde ao desejo de todo
mundo.
Além disso, a NUCLEAÇÃO precisa de posturas estratégicas. Num mundo com tantas
“ofertas”, é fácil haver confusão. Nesse sentido, desde o primeiro momento, a identidade da PU
precisa estar clara, bem delimitada. A forma também é importante. Numa época em que a
comunicação se realiza intensamente através da imagem, não podemos dispensar os cuidados
com o que vamos apresentar em nossos convites.
É importante acentuar que o contato inicial da nucleação quer levar a despertar o interesse
pela proposta da PU, motivando o acadêmico e conquistando-o, para a formação de novos
grupos. O contato inicial precisa ser sensibilizador, provocativo, mas também, sedutor,
apaixonante. Se, por um lado, ele é proposta, por outro, precisa aparecer como oportunidade e
resposta aos anseios e desejos de quem o recebe. Não custa lembrar que a proposta de Jesus é
acolhida pelo povo, à medida que responde aos anseios de liberdade (como todos que esperam o
vinho antigo para a alegria voltar a uma festa triste, à maneira das bodas de Caná — Cf Jo 2, 1-
12) e de felicidade10. Daí que a NUCLEAÇÃO necessita ser bem preparada, inclusive com um
bom planejamento estratégico.

4.2 Iniciação
Depois de conhecer a PU a ponto de se sentir provocado/a, o/a universitário/a entra na
segunda etapa: a INICIAÇÃO. Como no namoro, esta é a fase do conhecimento mais profundo,
da conscientização e da experiência. Através dela, buscamos levar o/a interessado/a ao compro-
misso e à vivência de PU, até que ele/a não fale em ser “da” PU ou participar da PU, mas em
“SER” PU, criando-se uma identidade de PU.
Antes de tudo, devemos dizer que não se trata de uma iniciação ao modelo de discípulos
que são introduzidos em ciências misteriosas por um mestre, que vai iluminando seu caminho.
Tampouco, de um processo de puro aprendizado teórico. E, sobretudo, o caminhar com todos os
riscos e prazeres que isso pressupõe, é fazer a “experiência” da iniciação cristã.
Como tal, trata-se de uma experiência pedagógica. Ela é um processo de aprendizado do
qual faz parte:
⇒ aprender a proposta da PU;
⇒ aprender a reconhecer-se como diferente dos demais;
⇒ aprender a reconhecer-se como grupo diferente de outros grupos;
⇒ descobrir valores;
⇒ assumir compromissos.
Para tanto, necessitamos de:
⇒pessoas que assumam papéis;
⇒de instrumental pedagógico que facilite o aprendizado e as descobertas;
⇒de recursos físicos;
⇒ de metodologia.
Na verdade, marca a passagem da 1° para a 2° etapa, a sistematicidade do trabalho: agora
serão reuniões com horários, pauta e frutos mensuráveis.
Por outro lado, mesmo com sistematizações que procurem objetivar ao máximo o
processo, não conseguimos fugir de incertezas. O fato é que a INICIAÇÃO, na PU, está em

10
A moral cristã, baseada no Novo Testamento, é acentuadamente um convite para a felicidade. A palavra
“FELIZ” aparece 55 vezes, com as quais devemos somar expressões afins como alegria (chara), 140 vezes;
júbilo (agalliasis), 16 vezes; alegrar—se (euphainein), 16 vezes; alegria irradiante (hilaros), 2 vezes; com prazer
(asmenos), 2 vezes; ter prazer (oninasthai), 1 vez. Ao todo, a noção de felicidade é mencionada 231 vezes. Para
um maior aprofundameinto consultar: PLÉ, A. “Por Dever ou Por Prazer?” S. Paulo: Ed. Paulinas, 1984.

13
função do grupo ou pessoa que, tendo feito a NUCLEAÇÃO, trata de dar prosseguimento ao seu
trabalho; do contexto em que se está inserida (universidade, cidade, curso ...) e da realidade
existencial do iniciante (sua origem, seus projetos, sua postura ...). Quer dizer, são muitas as
variáveis que devemos considerar. Soma-se a elas o caráter de intersubjetividade que tem o
processo: o encontro de sujeitos que buscam amadurecer em comunidade.

4.2.1 Temas a serem abordados


Simultaneamente, vários temas que traduzem a proposta da PU irão sendo trabalhados.
Além disso, esperamos que os novos integrantes da PU tragam consigo expectativas1 desejos,
questionamentos e sugestões de temas. Esses não poderão ser desconsiderados, pois propor o
projeto da PU supõe um diálogo, e não, uma imposição. Portanto, uma das atitudes básicas do
processo é a da escuta das inquietudes do jovem universitário.

4.2.1.1 A identidade da PU
A identidade da PU consiste em apresentar, da maneira mais objetiva possível, o projeto da
Pastoral Universitária. Se, no momento da NUCLEAÇÃO, houve “conversas” sobre o assunto,
devemos falar da PU, sem atropelos, de maneira bem sistematizada, para que o iniciante possa
saber com o que/quem está se encontrando. O mais importante, nesse momento, é a busca de
equilíbrio entre a objetividade e o respeito aos iniciantes: nem o extremo de trabalharmos apenas
exposições no estilo clássico de conferências, nem o outro, de conversas espontaneístas, sem
nenhuma preparação ou roteiro.
Importa, ainda, que a proposta seja apresentada com segurança, indicando que ela traz
consigo uma experiência acumulada e que tem algo a oferecer. Claro que sua encarnação na
realidade do novo grupo precisará de uma atualização, de ser adaptada, o que pressupõe
iniciativas e sugestões dos iniciantes. Isso, contudo, não pode significar um eterno retorno, um
ter que recomeçar a PU a cada grupo novo que se inicia.
No tema identidade, estão subentendidos todos os outros que dão caráter à PU, entre eles o
da história, da metodologia, da organização e organicidade e sua inserção no mundo
universitário, etc.

4.2.1.2 Experiência da dinâmica comunitária


Mais que um tema de estudo, trata-se de proporcionar a vivência para aprofundar o inter-
relacionamento pessoal. Significa organizar vivências e dinâmicas para que os membros do
grupo possam ir se conhecendo, aprendendo a confiar um no outro, possam escutar-se
mutuamente, enfim, possam ir criando laços afetivos mútuos. Nos primeiros momentos da vida
do grupo, será essa afetividade que irá dar-lhe sustentação. Trabalhá-la significa construir um
ambiente no grupo o qual seja acolhedor, gostoso, alegre e descontraído. E também iniciar todo o
processo de amadurecimento das relações afetivas e dos laços de amizade. Isso será decisivo
para o futuro do grupo, pois dará sustentação para toda a sua vida.

4.2.1.3 Aprofundamento da experiência religiosa


O grupo/comunidade de PU não é apenas um grupo de estudo e reflexão, ou de amigos
que buscam acolher-se mutuamente. E um grupo que tem, na motivação religiosa, seu maior
impulso. Isso precisa estar presente desde os primeiros momentos da INICIAÇÃO. É importante
não cair em extremos. Um seria o esquecimento; o outro seria a insistência em modelos pré-
estabelecidos de orações e liturgias. É verdade que nossa liturgia católica possui determinados
limites. Não obstante, a atitude de respeito à caminhada dos iniciantes é fundamental: é preciso
reconhecer o estágio em que eles se encontram e, a partir dai, começar com eles o
profundamento e a sistematização de sua experiência religiosa.

4.2.1.4 O crescimento da consciência crítica e do compromisso diante da realidade


É estudo, análise, mas também engajamento, participação e experiência. Ajudarmos os
estudantes a descobrirem no cotidiano da vida universitária (no estudo-pesquisa-extensão, na

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relação com os amigos, na relação com os professores, nas entidades políticas e/ou culturais de
organização estudantil ...) um lugar de compromisso cristão é a nossa tarefa.
É inegável que a geração atual de universitários/as não se sente convocada para um
compromisso maior através dos temas ligados à participação política. Isso, porém, não deve ser
desculpa, e sim, desafio a ser enfrentado com coragem e criatividade.
Por outro lado, é importante que não seja um tema teórico. Não raro, há muito desejo de
participação em algum tipo de atividade de caráter social (“concreta”, como se costuma dizer). É
preciso acolhê-la e estimulá-la de maneira pedagógica. A tomada de consciência é processo, e o
fundamental nele é o momento de avaliação: perguntar pelos frutos, procurando uma análise
mais ampla da atividade desenvolvida, o mais importante é que possa ir se desenvolvendo, ao
lado da consciência da realidade, o compromisso em transformá-la, a certeza de que se trata de
vivência de fé e não de execução de projeto político. A ação transformadora da realidade na
perspectiva da construção do Reino é uma exigência evangélica.

4.2.2 Pedagogia
Saber quais os temas que precisam ser abordados no processo de INICIAÇAO é difícil.
Como fazê-lo é muito mais.
No capítulo V, apresentamos sugestões de metodologias, inclusive com dinâmicas a serem
trabalhadas. Sabemos, porém, que o instrumental de nada valerá se não houver uma postura
pedagógica coerente com ele: uma pedagogia libertadora só dá certo quando aplicada por
pedagogos libertadores.
Pensando assim, apresentamos a seguir alguns critérios para uma postura pedagógica
coerente com o que estamos propondo no processo de INICIAÇÃO. Eles não esgotam o tema;
outros critérios poderão ser acrescentados

4.2.2.1 Abertura
Como em toda ação evangelizadora, é preciso que haja uma postura de escuta: ouvir e
entender os que chegam e o que estão falando, quais são seus anseios, questionamentos, projetos,
medos ...
É preciso uma postura de compreensão em relação ao outro ou, dito de outra maneira, não
haver “pré-conceitos”. E não é fácil escaparmos dessa tentação: melhor que sejam nucleados os
que se parecem mais conosco; que sigam na INICIAÇÃO os que facilmente entraram em nosso
esquema ... Há uma grande demanda por “ouvidos” nos dias de hoje: muitos querem apenas ser
ouvidos, precisam de atenção para se sentirem acolhidos. A postura de abertura, como o
princípio pedagógico quer traduzir, desde o primeiro momento, é a determinação de que, no
processo, a construção do conhecimento será coletiva.

4.2.2.2 Objetividade
Estar aberto e escutar, acolher e não ter “pré-conceitos” não é igual a não propor. É
preciso que, no processo de INICIAÇÃO, haja objetividade para que os iniciantes possam
reconhecer, com facilidade, que proposta está sendo apresentada. Por sua vez, a postura objetiva
no processo pedagógico deixará claro os seus rumos: para onde estamos caminhando. Significa
dizer que não podemos temer fazer propostas e exercer um papel de liderança.
O entrave talvez se dê exatamente neste campo: como compreendemos o papel da
liderança em um grupo? Como compreendemos o significado de autoridade? Ao contrário do
que diz o senso mais imediato dos termos, liderança e autoridade não significam somente poder
de mandar, independente da vontade dos outros, ou poder delegado. Ser liderança é saber ajudar
o grupo a caminhar, e caminhar com ele, ser AUTOR das coisas. Isso é concedido, não apenas
por uma capacidade inata; isso é concedido pela experiência que acumula conhecimento e pela
capacidade de comunicá-lo.

4.2.2.3 Respeito
Significa dialogar com os iniciantes, ter a postura de trocar conhecimentos com eles. No

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sentido evangélico, significa ter capacidade de reconhecer que a VERDADE que vem do
Espírito de Deus não está apenas conosco, que temos uma maior intimidade com o projeto de
Jesus. O Espírito também é dado ao mundo. Os iniciantes, como o mundo, têm consigo a
manifestação de Deus.
Respeito significa, também, a postura de termos zelo pelo que estamos fazendo. É preciso
que haja “PRE-OCUPAÇÃO” com o trabalho. É preciso que preparemos bem a reunião, a
metodologia, os instrumentos. Talvez, para quem é responsável, em primeira instância, por uma
reunião, ocorra o pensamento de que, quando uma palestra não é bem preparada (o que
acontece), a improvisação não é percebida. Grande engano! Os participantes reconhecem, de
longe, quando uma reunião foi organizada às pressas.

4.2.2.4 Coragem e criatividade


Não se trata de atitudes de coragem e rasgos de criatividade. Para o trabalho num campo
difícil como o universitário, em que os questionamentos são intensos, em que a atividade
pedagógica faz parte do dia-a-dia, em que o professor e os livros são personagens de cada hora, é
preciso que haja muita criatividade, que haja determinação de inovar. Como não repetir, no
processo de INICIAÇÃO, a pedagogia que se enfrenta na sala de aula? Como motivar para que
se aprendam coisas que não dizem respeito ao mundo técnico? Como sensibilizar para
experiências que não se traduzem em diplomas?
Criatividade é algo que se estimula, que se aprende. É importante lembrar que, via de
regra, a escola formal trabalha no sentido oposto: as matérias já estão prontas para ser
aprendidas, as provas perguntam apenas o que foi oferecido ... Furar este bloqueio é atitude que
precisa de CORAGEM, não temer o novo, arriscar.
Em síntese, diríamos: é preciso ousar neste trabalho. E a ousadia é fruto da liberdade,
somada à coragem e à criatividade.

4.2.3 Quem acompanha o grupo iniciante


A etapa da INICIAÇÃO é o momento quando toda a PU assume um novo grupo. Por isso,
o processo é de responsabilidade, em primeiro plano, de todos os que já estão na Pastoral. É
como a acolhida de um novo morador em nossa casa; se alguém da família não o recebe bem, ele
nunca ficará à vontade. Uma maneira muito eficiente de iniciar alguém é a do “apadrinhamento”:
para cada iniciante, o melhor é que haja um “padrinho”, que possa estabelecer com ele uma
relação mais estreita, de maneira que ele possa concretizar, rapidamente, o sentimento de
pertença à PU. Fundamental, entretanto, é o acompanhamento do grupo em seu cotidiano, desde
os primeiros contatos, quando da NUCLEAÇÃO. Aí surgem duas figuras: o
ACOMPANHANTE e o ASSESSOR.

4.2.3.1 O acompanhante
A Pastoral Universitária é construída pelos/as universitários/as com a colaboração dos
assessores e em comunhão com toda a Igreja. Essa identidade é construída a partir da
compreensão de que os/as universitários/as são os protagonistas fundamentais da evangelização
em sua dimensão humana, até mesmo pela realidade antropológica que favorece a comunicação
e a convivência entre os sujeitos que estão mais próximos num determinado contexto.
Em função disso, o grupo iniciante tem, como interlocutor principal na PU, um
MILITANTE — ACOMPANHANTE com experiência, identidade e domínio de nosso método,
suficiente para animar e coordenar o grupo em seus primeiros passos, fazendo-se o elo mais forte
entre este e toda a história da PU. Seu papel é ser o coordenador nas primeiras atividades do
grupo, sendo o principal agente pedagógico. A ele cabe:
⇒ apresentar a PU: estrutura, metodologia, mística ...;
⇒ tomar a iniciativa para 05 primeiros passos do grupo:
• organizando as primeiras reuniões,
• sugerindo as metas iniciais,

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• sugerindo e aplicando dinâmicas,
• estimulando e sistematizando a caminhada dos iniciantes...
Seu trabalho será tanto mais eficiente quanto maior for a velocidade com que o grupo vai
criando autonomia para seguir em frente sem necessitar de agentes externos.

4.2.3.2 O assessor
O papel do ASSESSOR deve começar a ser inserido ainda no estágio da INICIAÇÃO. O
ideal é que o CANDIDATO A ASSESSOR do grupo comece a acompanhar o grupo juntamente
com o acompanhante, situando-se, porém, de modo mais tímido nesse começo. Seu papel é
auxiliar o acompanhante e conseguir se inserir no grupo. À medida que o grupo vai construindo
sua autonomia, seu papel irá se concretizando até o momento em que, consolidado o grupo, o
acompanhante sai de cena e o assessor se configure como o único integrante com papel
diferenciado.
Sabendo da necessária empatia que deve haver entre o ASSESSOR e o grupo, é
fundamental que os seus integrantes possam indicar nomes, refletir sobre eles e escolher e
convidar alguém para assumir a assessoria. Nisso diferem o acompanhante e o ASSESSOR.
Enquanto o primeiro é preparado e indicado pela PU, obviamente, respeitando-se a realidade do
grupo iniciante, o convite ao segundo é algo protagonizado pelos iniciantes, cabendo ao
acompanhante, provocar o grupo a assumir tal tarefa, acentuando a necessidade e a importância
de um ASSESSOR em sua vida do grupo.

4.2.4 Algumas dificuldades


Devemos alertar que três dificuldades tendem a surgir no processo de INICIAÇÃO.

4.2.4.1 A heterogeneidade do grupo nucleado


É comum que o grupo nucleado seja formado por pessoas de diferentes origens sociais,
com diferentes histórias de relação com a Igreja ou com o mundo religioso, provenientes de
diferentes cursos, quer dizer, o grupo de PU é composto por universitários/as que possuem
diferentes realidades existenciais. É um desafio para os acompanhantes equacionar essa
diversidade. Como eles provêm de diferentes cursos e até de diferentes instituições, não será
fácil achar um horário de reunião conveniente para todos. Da mesma forma, será difícil pensar
uma atividade que consiga reunir todos. Assim, na medida do possível, é aconselhável que o
processo de nucleação possibilite o encontro de pessoas, pelo menos, da mesma instituição. Ser
do mesmo curso implica uma facilidade: ter o horário mais harmonizado; e uma perda: a do
pluralismo e interdisciplinaridade no grupo.
Talvez a dificuldade maior seja de outra ordem, mais subjetiva: quando há pessoas que
vêm de outras experiências religiosas (em alguns casos, mesmo que sejam católicas), é preciso
bastante objetividade e, ao mesmo tempo, respeito por parte de quem as acompanha para
fazermos entender que a proposta da PU tem um quê de diferente, que, na Igreja, a pluralidade
(e, portanto, a diferença) adiciona riqueza, quando vivida com o devido respeito. O maior
cuidado é para que não arrisquemos nossa identidade em nome do crescimento da PU.

4.2.4.2 A incompreensão da estrutura de pequenos grupos


A experiência tem mostrado que, para quem é sensibilizado e provocado pelo testemunho
da PU, que cresce em simpatia por nossa experiência, soa muito estranho não participar do
mesmo grupo/comunidade dos antigos.
Para contornar tal dificuldade, é preciso que, desde o momento da NUCLEAÇÃO,
esclareçamos a estrutura, enfatizando que os grupos não caminham isolados como se cada um
fosse uma PU diferente. A articulação entre os grupos de uma mesma cidade e, depois, destes
com os do regional e nacional, é fator, não apenas de organização, mas de organicidade. Além de
haver uma estrutura que organize tarefas, o que buscamos com a articulação é que cada grupo se
sinta como parte de um corpo integrante ativo de um sistema que não pode ser dispensado, nem
pode dispensar os outros.

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É importante destacarmos que um grupo grande não poderá chegar às características de
comunidade que são apresentadas em nossa proposta.

4.2.4.3 Quando não se pode formar um grupo novo


E quando conseguimos sensibilizar e provocar apenas duas ou três pessoas? Como fazer?
Ou seja, quando o número de nucleados não dá para formar imediatamente um grupo?
Devemos informar que deve ser evitada, ao máximo, a entrada de pessoas novas em
grupos/comunidades que já possuam uma caminhada significativa, em que o conhecimento sobre
a identidade da PU já esteja bem avançado e o inter-relacionamento pessoal já inspire confiança
e afetividade. Uma pessoa que entra num grupo que já está caminhando, ou irá perder o que já
passou (enfrentando o desconhecido), ou terá de fazer o grupo estacionar para poder alcançá-lo.
Quem entra numa comunidade que já possui um inter-relacionamento afetivo significante, muito
provavelmente, se sentirá deslocado. O grupo facilmente irá isolá-lo, mesmo que seja
inconscientemente.
Para esses e outros desafios, valerá, como critério de superação, a realidade local: quais as
peculiaridades que o grupo apresenta e como elas poderão ajudar na superação dos problemas?.
Deixemos claro que nem tudo será tranqüilo, mas, para isso, podem ser criados subgrupos
(grupos de estudos paralelos). Assim, o conhecimento da identidade da PU poderá ser levado aos
nucleados, até que seja alcançado o equilíbrio ou o mínimo de conhecimento necessário para a
caminhada em um só grupo.

V Fatores que condicionam o processo


A primeira atitude de quem quer executar uma proposta precisa ser sempre a de OLHAR o
ambiente no qual agirá, e daí confrontá-lo com suas possibilidades e seus limites. Do contrário,
correrá o risco de as boas intenções transformarem-se em péssimas ações.
Em todo processo que se inicia, é preciso um levantamento da realidade, desde a
Universidade ou Faculdade em que se está inserido, até às macrotendências. Por exemplo, é
preciso que, aos dados apresentados neste roteiro, somem-se outros da realidade local (como o
nível de participação dos estudantes em organizações sociais e/ou eclesiais, aspectos relativos à
ocupação do tempo livre, realidade e natureza da instituição onde estuda — pública, privada,
confessional — gênero, faixa etária, meios de comunicação utilizados, etc.).
Apresentada nossa proposta, chamaremos a atenção para a realidade (nossa e do mundo) a
fim de encontrar fatores que condicionam os processos de NUCLEAÇÃO e INICIAÇÃO.
Chamaremos de Fatores Externos algumas macrotendências que identificamos como
fortemente incidentes na vida dos/as universitários/as e de Fatores Internos aquilo que é
condição irrenunciável para que a PU possa nuclear e iniciar novos grupos.

5.1 Fatores externos


Nossa intenção é fazer um rápido sobrevôo sobre a macrorrealidade, identificando as
macrotendências e indicando o tipo de incidência sobre nosso trabalho. Primeiro, porque uma
análise mais aprofundada (não obstante à sua extrema necessidade) demandaria o trabalho de
especialistas em diversas áreas do conhecimento e um maior espaço do que o oferecido;
segundo, porque sabemos que tais informações são de mais fácil acesso.
O fato é que devemos ter presente que o mundo universitário não está isento das dinâmicas
sociais e participa delas num processo de mútua influência. Assim, no nosso esforço de
compreender o universo dos estudantes, temas como globalização, políticas neoliberais, aumento
da exclusão sócio-econômica, desemprego e flexibilização do mercado de trabalho
necessariamente aparecerão.
Isso implica um perfil diversificado do universitário quanto à situação financeira, ao lazer,
ao trabalho, à faixa etária, ao estado civil, ao interesse em freqüentar a universidade, à utilização

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do conhecimento aprendido e às concepções de mundo. Em muitos casos, alguns/algumas
universitários/as trabalham, estudam e mantêm uma família, e sua disponibilidade em se engajar
em algum movimento dentro da universidade é pequeno. Outros/as passam por um processo de
crise de identidade, pulverização de valores, conflitos de idéias, incertezas quanto ao certo e ao
errado, muita carência afetiva e falta de um referencial. E, a partir dessa vivência, desejam ter
uma consciência critica de si, dos outros e da realidade social. Pessoas que querem “mudar o
mundo”, mas, às vezes, não sabem por onde começar. A Pastoral Universitária deve estar atenta
a esta realidade e ser um instrumento de acolhida e de discernimento, abrindo espaço para
esses/as universitários/as poderem partilhar e expressar suas necessidades.

5.1.1 Tendência da globalização


Os meios de comunicação contemporâneos são a estrada para a globalização. Através da
informática, dos satélites e cabos ópticos, deixa de haver lugar distante no mundo. Os vários
processos histórico-sociais, políticos, econômicos e culturais passam a receber e enviar
informações e a se influenciarem mutuamente (uns influenciando mais do que outros, claro).
E, assim, vamos tendo acesso a uma visão de mundo tão abrangente e imediata quanto
nenhuma das antigas gerações puderam ter. Isso gera frutos como a facilidade de encontrarmos o
diferente, de irmãos perdendo o medo da pluralidade, de poder haver influência à distância, de
precisarmos afirmar a identidade particular ... Mas também gera outros: a capacidade de haver
domínio à distância entre países economicamente diferentes, a possibilidade de uniformização da
cultura (eliminação das mais “fracas”), a aceleração da troca de informações e, por conseguinte,
a aceleração das mudanças.
No mundo universitário, isso tem impacto intenso e imediato. Hoje, por exemplo, não
podemos imaginar um bom profissional universitário que não tenha domínio (pelo menos
instrumental) de uma língua estrangeira. Ademais, no campo da ciência e da tecnologia,
intensifica-se a tendência da importação de modelos estrangeiros pré-estabelecidos.
Por outro lado, a massificação de informações tem gerado uma fragmentação da visão de
mundo, pois não ajuda a compreender que os diversos problemas têm uma interligação global,
sugerindo a idéia de que eles são simplesmente de ordem particular.
De pronto, precisamos considerarem nosso trabalho uma visão de mundo mais ampla, não
podemos oferecer como perspectiva apenas o particular, o local. Os processos da PU precisam
abrir horizontes, procurar integração com iniciativas internacionais até mesmo para propor um
outro modo de integração. Em outra frente, necessitamos insistir numa visão do mundo (da
sociedade e da cultura) como sistema, onde há uma interdependência e mútua influência de
fatores que, à primeira vista, parecem estar isolados.

5.1.2 Tendência da fragmentação dos referenciais


A massificação da informação gera também a disseminação em massa de pensamentos e
critérios. O que ocorre com as marcas de creme dental que se multiplicam, dificultando a escolha
no supermercado, ocorre também com a oferta de “critérios” para o discernimento pessoal.
Mesmo no interior das ordens de conhecimento como a ciência ou a filosofia, as sínteses
não são fáceis. Quantas correntes da Psicologia ou Psicanálise precisamos considerar para ter um
conceito de pessoa? E o mesmo tende a acontecer com a religião: há uma grande fragmentação
do religioso, o que leva a um enorme pluralismo de ofertas. Percebemos a emersão da
subjetividade como subjetivismo e a valorização da espiritualidade desvinculada da experiência
comunitária, mais voltada ao intimismo. O positivo de tal fenômeno é a valorização da
autonomia. Viver numa época assim é ter que exercitar (mesmo sem querer) a capacidade de
decidir, de escolher o que se quer.
Por outro lado, isso fragiliza o processo de amadurecimento da identidade pessoal,
fragiliza o sujeito. Uma das grandes dificuldades que vivemos hoje: somos fragmentados em nós
mesmos. Frágeis na vivência da nossa afetividade-sexualidade.
⇒ Quem somos?
⇒ Qual o nosso projeto de vida?

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⇒ Para onde caminhamos?
⇒ Qual o sentido profundo dos estudos?
⇒ Para que serve este curso?
São essas algumas das perguntas que muitos jovens não formulam, não só como pessoas,
que constroem relações interpessoais, mas como universitários/as na identidade.
A época da Universidade, por sua vez, traz consigo mudanças:
⇒ muda a relação pedagógica com a escola — há uma maior liberdade e responsabilidade
sobre a forma de se estudar;
⇒ muda a relação como ciclo de amizade — vão aparecendo pessoas mais maduras
como amigos/as;
⇒ muda a relação como ambiente — já não é a escola com muros e funcionários
cuidando da disciplina, etc.
Com a Universidade, chega o momento das decisões: a carreira profissional que o/a jovem
vai seguir, o tipo de profissional que deseja ser, etc.
Nesse contexto, o/a universitário/a é atingido/a de cheio: dúvidas, inseguranças, vontade
de arriscar ou reação de isolamento, de ensimesmamento; a procura de todas as experiências ou a
busca da proteção sob algo muito sólido e fundamentado
A NUCLEAÇÃO e a INICIAÇÃO devem estar atentas a esses fenômenos. É preciso
considerar que toda a proposta oferecida passará pelo crivo da realização pessoal. Importa
descobrir o que oferecer aos estudantes para ajudá-los a superar tais dificuldades. Não considerar
tal fenômeno, é correr o risco de, como Igreja, fechar as portas à cultura contemporânea,
buscando, quem sabe, respostas fundamentalistas pelo simples fato de manter a segurança.

5.1.3 Tendência da exclusão econômica


Na verdade, estamos falando das tendências no mundo laboral. Aqui não é preciso de
muito para lembrar que a tendência é a exclusão econômica de boa parte daquilo que se chama
mercado (produtor e consumidor). Há, inclusive, teóricos que apontam como tendência, o fim do
trabalho na forma como é conhecida hoje. O mundo profissional que se apresenta tende à
excessiva competição pela limitação de vagas, excessivo rigor técnico, multicompetência
profissional, relações regidas tão somente pelas leis do mercado e do controle de grandes
corporações.
A incidência de tais tendências sobre o mundo da Universidade são arrasadoras. Incide
sobre o modelo das instituições que tendem a oferecer uma formação quase que totalmente
concentrada no conteúdo técnico (ensino puramente profissional), excluindo a formação integral
dos estudantes. A Universidade — paradoxalmente — vai perdendo seu caráter de lugar do
universal, da integração do conhecimento humano; percebemos até uma relativa perda da
importância das instituições educativas no processo de socialização dos jovens.
O curso de graduação tende a perder o valor; já não possibilita o acesso ao aprendizado
científico, mas puramente tecnológico. E já não oferece meios para ascensão sócio-econômica.
Quem quiser tais privilégios, hoje, terá que, ou estudarem uma superuniversidade, ou se progra-
mar para os cursos de pós-graduação. Sobre o estudante, as conseqüências são diretas. O meio
universitário passa a ser um ponto para sua realização pessoal e estabilidade financeira. A luta
maior é pela inclusão num mercado cada vez mais restrito, que invade a universidade, promo-
vendo um clima de competição em sala de aula. Tudo isso gera uma enorme ansiedade no/a
universitário/a, que busca soluções individuais na perspectiva de ser o/a melhor, pois já não pode
contar com uma formação acadêmica que lhe possibilite encontrar o sentido totalizante da
realidade (a sua e a que o cerca).
“Paira no ar” uma sensação de que os estudantes dedicam seu tempo, prioritariamente, à
busca da qualificação profissional e inserção no mercado de trabalho, sabendo que o mercado é
cada dia mais exigente e excludente e que, nessa lógica, só os melhores sobreviverão. Junto com
outras tendências, essa exacerba o individualismo, ao passo que tende a produzir gerações
frustadas por se acharem incapazes de corresponder as expectativas do mercado. Com isso,

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movimentos universitários que, no passado, se destacavam pela consistência e esperança —
como Movimento Estudantil e o Cultural Artístico — passam por graves crises.
Para nossos processos, apresenta-se o desafio de ler, em tal conjuntura, a presença de
Deus.
⇒ Como encontrar os sinais de vida numa cultura com esses traços?
⇒ Como não cair no pessimismo diante da realidade?
⇒ Como ajudar as pessoas a adquirirem a consciência da sua dignidade?

Fica ainda o desafio fundamental:


sermos capazes de construir esperança a partir de nosso
referencial de fé.

5.2 Fatores internos


No item anterior, indicamos temas que, se não considerados, poriam em risco nossa
chegada aos estudantes. No caso dos Fatores Internos, é preciso mais que consideração. Na
realidade, são verdadeiros condicionantes para o processo de NUCLEAÇÃO E INICIAÇÃO.

5.2.1 Motivação e maturidade


A atitude de um grupo que deseja ampliar a PU precisa ser fruto de uma motivação
consciente: o grupo QUER DETERMINADAMENTE plenificar sua ação evangelizadora.
Significa que o grupo crê na proposta da PU, está seduzido por ela, a ponto de a paixão exigir ser
comunicada a outros/as. Como seduzir (nuclear) e fazer com que o outro/a se apaixone (faça a
INICIAÇÃO) se não estivermos apaixonados?
É preciso, também, que ele tenha:
 maturidade suficiente;
 consciência de sua caminhada histórica para melhor preparar o caminho dos outros;
 um inter-relacionamento pessoal capaz de, naturalmente, testemunhar a vida comunitária;
 uma boa compreensão da identidade de PU.

5.2.2. Recursos
É difícil falar do tema porque recursos é o que menos existe na PU. Possuímos poucos
recursos humanos. Faltam pessoas que nos ajudem no estudo de temas teológicos. Por outro
lado, um estudante já tem tanto a fazer, mesmo quando não trabalha, que assumir mais uma
responsabilidade que vai exigir dele tempo e atenção não é fácil. Lembramos que para o
processo de NUCLEAÇÃO e INICIAÇÃO precisamos de, pelo menos, uma pessoa com bastante
dedicação na tarefa de acompanhamento do grupo que, de preferência, seja sempre a mesma.
Recursos materiais também são precisos. Material escrito (subsídios), lugar para reuniões,
telefones, material de escritório, etc. Sugerimos buscar ajuda junto à Igreja local ou à uma
Universidade/faculdade mais próxima. As vezes, dá mais certo do que possamos esperar. A
Coordenação Nacional da PU, pode oferecer publicações e apoio com visitas, assessoria ...
enfim, o que lhe for possível.

5.2.3 Planejamento
Etimologicamente, a palavra planejamento significa o ato de tornar plano. Uma boa
imagem é a construção de uma estrada que, vencendo acidentes geográficos, tenta ampliar a
visão do horizonte. Numa palavra:
evitar surpresas! E quanto menos recursos temos, mais precisamos planejar, porque não podemos
desperdiçá-los ou desviá-los de onde poderiam render mais.
Quando falamos em planejamento, estamos falando em plano escrito. Planejar, todos nós
planejamos sempre que não tomamos alguma atitude na vida por simples reflexo. Quando
traçamos um plano, sentamo-nos e preocupamo-nos com o que queremos fazer; precisamos
escrever as idéias, para que a memória não nos traia. E, afinal, procurar antever o futuro. Há

21
sempre a ressalva de que um plano pode “amarrar a execução de um processo, ou tornar-se um
modelo mais real que a realidade. Porém, a melhor característica de um plano é, justamente, a
capacidade de ele ir se adaptando à realidade, de deixar acontecer com flexibilidade.
Não nos preocupamos em oferecer um método de planejamento porque sabemos que
existe bibliografia em abundância sobre o assunto.

VI Atividades
Sugerimos algumas atividades para serem executadas nos processos de NUCLEAÇÃO e
INICIAÇÃO. Propositalmente, há alternativas para um mesmo objetivo e há vazios. Esperamos
que isso estimule a criatividade de vocês

6.1.Nucleação
Critérios de
O quê ? Para quê? Como? Quando?
avaliação
• Escolhendo o tema.
• Despertar o interesse dos • Formando equipe para
1.Promoção de estudantes para a PU, estruturar o encontro /
utilizando sua linguagem. atividade. • O planejamento • Número de
eventos na
do grupo participantes do
universidade • Sensibilizar os estudantes • Buscando parcerias
(semestral, anual, evento.
(Debates / para as questões da realidade com outros atores /
etc.) deverá • Nível de
Seminários sobre universitária. Instituições para a
contemplar o conhecimento
temas de interesse • Promover espaços de promoção do evento
período ideal de da PU que se
dos universitários integração dos estudantes. (universidade, cáritas,
acordo com cada provoca
– ética, • Promover maior DCE’S, CA’S).
realidade. • A qualidade
universidade e participação estudantil na • Elaborando o
conhecimento, • Em períodos do evento
vida universitária planejamento.
aborto, afetividade que sejam (palestras,
• Dar a conhecer nossos • Escolhendo os
e sexualidade, etc., adequados ao organização,
interesses e propostas. palestrantes.
jogos, atividades • Convidar as pessoas que se • Providenciando infra- calendário dinâmica e
universitário. infra-estrutura).
culturais...) interessam pela PU para uma estrutura.
reunião. • Divulgando o encontro
? atividade.

Critérios de
O quê ? Para quê? Como? Quando?
avaliação
• Formando equipes.
• Utilizando os meios eficazes para • No início do período
se atingir os estudantes com uma letivo. • Receptividade
linguagem criativa na elaboração do
• Em datas pela comunidade.
2. Material • Divulgar a material.
siginificativas da vida • Nível de diálogo
informativo “Boa Nova” • Buscando locais estratégicos para
acadêmica que se consegue
sobra a PU do Senhor. divulgação do material (locais (olinpíadas, semanas, gerar com os
(folders, vídeo, • Despertar o freqúentados pelos universitários:
universitárias, etc.) estudantes.
home-page, interesse pela bibliotecas, jornais de circulação no
• Antecedendo as • Número de
faixas, cartazes, PU. meio universitário, secretarias de
atividades da PU. pessoas que se
murais, boletins, • Apresentar cursos, horários de rádios
panfletos, etc) • Percebendo o interessam pela
a PU. universitárias, paróquias
interesse das pessoas PU.
freqúentadas por universitários, etc.)
pela PU.
• Definindo critérios e objetivos da
comunicação.

22
Critérios de
O quê? Para quê? Como? Quando?
avaliação
• Buscar espaços • Divulgando o
• Nível de
de encontro e evento.
3. Participação nos eventos da participação no
diálogo entre os • Definindo com • De acordo
vida universitária (jogos evento.
estudantes. antecipação, o sentido com os
universitários, noites culturais, • Espaços de
• Apresentar-se da participação da PU convites
corais, festas, celebrações, mostrar a cara da
como uma nova no evento. oferecidos.
debates). PU(ser presença)
maneira de se • Participando como
• Testemunho.
Igreja. estudante universitário

Critérios de
O quê? Para quê? Como? Quando?
avaliação
• Estabelecer contato mais personalizado e
• Interesse que a
contínuo com os estudantes, facilitando uma • Através do • Aproveitando
pessoa
4. comunicação mais fluida e a criação de laços. bate-papo na os momentos e
demonstra pela
Conversas • Desenvolver um trabalho pedagógico de sala de aula, espaços
PU.
informais. encantamento dos estudantes pela PU. nos barzinhos, adequados no
• Diálogo com
• Ouvir as motivações pessoais dos festas, etc. cotidiano.
os estudantes.
estudantes.

Critérios de
O quê? Para quê? Como? Quando?
avaliação
• Participar da
Pastoral orgânica
• Através de
da Igraja local.
correspondência.
• Dialogar e trocar • Número de
• Estando presente nas • Ao ser convidado
experiências. pessoas que
5. Entrar em contato com instâncias para as atividades.
• Mostrar a demonstrem
as dioceses, representativas da Ig. • Buscando
existência da PU. interesse pela PU.
coordenadores de Local. conhecer o
pastorais, paróquias e • Despertar • Número de
• Divulgação de calendário dos
consciência sobre realizações de
PdU. materiais da PU. outros organismos
o meio atividades em
• Participando das pastorais.
universitário. conjunto.
atividades como DNJ,
• Realizar
CF...
atividades em
conjunto.

Critérios de
O quê? Para quê? Como? Quando?
avaliação

• Acolher e dar
• Organizando standers / painéis • Surgir o contato
assistência ao
6. Trabalho com de informação sobre a PU. com a PU.
universitário. • Início do
vestibulandos e • Divulgando nas salas de aula. • Nível de
• Proporcionar um semestre.
calouros. • Criando espaços de conhecimento da
ponto de referência.
hospedagem para os estudantes. proposta da PU.
• Divulgar a PU.

Critérios de
O quê? Para quê? Como? Quando?
avaliação
• Proporcionar • Divulgando o encontro. • Qualidade do
espaços de • Viabilizando infra-estrutura. • De acordo evento.
convivência e • Trabalho em equipe. com o • Nível de
reflexão para os • Escolhendo palestrantes. planejamento participante e
7. EDUC/EUC estudantes. • Entrando em contato com as do grupo, o aproveitamento.
• Apresentar a PU pessoas que já participaram desses calendário da • Nível de
como espaço de eventos ou já os assessoraram. Universidade engajamento na PU.
vivência cristã da • Leitura do Projeto dos EDUCs: e da Igreja. • Repercussão
realidade acadêmica. uma proprosta de trabalho externa.

23
• Preparar o pós-
encontro
(seguimento).

O quê? Para quê? Como? Quando? Critérios de avaliação


• De acordo com o
calendário da PU
• Nível de interesse do
regional.
• Proporcionar conhecimento • Definindo critérios convidado
• De acordo com o
8. da PU a partir de uma / espaços de demonstrado depois
nível de interesse
ERPU/EBPU vivência em um espaço participação dos do encontro.
pela PU do
orgânico e inter-cidades. convidados. • Nível d acolhimento
convidado.
ao convidado.
• Naqueles que não
forem deliberativos.

6.2 Iniciação
6.2.1 Uma proposta de itinerário
A proposta segue o esquema dos quatro aspectos referenciais para os grupos: dinâmica
comunitária, espiritualidade, ação evangelizadora e relação com a Universidade. No total, são
onze temas que podem ou não equivaler a onze reuniões. Ou seja, é melhor falarmos em onze
momentos que precisam ser trabalhados de acordo com a realidade (tamanho, disponibilidade e
necessidades) do grupo. Sugerimos uma dinâmica de trabalho para os quatro primeiros temas.
Ressaltamos que a sua aplicação deve considerar sempre a realidade particular do grupo.

6.2.1.1 Dinâmica Comunitária


a) IDENTIDADE - QUEM SOMOS NÓS?
Dinâmica: O coordenador distribui aos participantes um cartão de cartolina e pede que
cada um escreva seu nome completo. Depois, que conte a história do seu nome: como foi
escolhido, que comente se gosta do nome, como gosta de ser chamado, se existe (ou existiu)
algum fato interessante relacionado com o seu nome, se tem apelido, se gosta dele, que relembre
alguma história de sua família...
Reflexão bíblica: Relembramos as seguintes leituras da Bíblia:
⇒ “Moisés, Moísés! Eis-me aqui, respondeu ele”. (Ex 3,4)
⇒ “Samuel! Samuel! — Falai, respondeu o menino, vosso servo escuta!” (I Sam 3,4)
⇒ “Passando ao mar da Catiléia, viu Simão e André, seu irmão, que lançavam as redes ao
mar. Jesus disse-lhes: Vinde após mim, eu vos farei pescadores de homens. Eles, no
mesmo instante, deixaram as redes e seguiram-no” (Mc 1, 16-18)
⇒ “Saulo, Saulo, por que me persegues? Saulo disse: Quem és, Senhor? Respondeu ele:
Eu sou Jesus a quem tu persegues. Então, trêmulo e atônito, disse ele: Que queres que
eu faça?
E agora?
⇒ E na universidade, você já prestou atenção no nome dos seus amigos e amigas?
⇒Você conhece a história deles?
⇒Que tal conversar com eles durante a semana?

b) INTEGRAÇÃO GRUPAL
Dinâmica: Pedir a todos os participantes que façam um círculo. Em seguida, pedir para
que, dois a dois, fiquem de costas uns para os outros e dêem-se as mãos. Lançar o desafio para
voltarem a estar de frente uns para os outros sem quebrar a corrente (as mãos devem permanecer
seguras todo o tempo). Ao final da dinâmica, pedir para cada um narrar como se sentiu: se

24
participou da tomada de decisão ou deixou-se guiar pelos demais, se lhe pareceu difícil ou fácil a
tarefa, como interagiu com as outras pessoas...
Reflexão bíblica: “Jesus reuniu seus doze discípulos. Conferiu-lhes poder de expulsar os
espíritos imundos e de curar todo o mal e toda enfermidade. Eis o nome dos doze apóstolos: o
primeiro, Simão, chamado Pedro, depois André, seu irmão. Felipe e Bartolomeu. Tomé e
Mateus, o publicano. Tiago, filho de Alfeu, e Tadeu. Simão, o cananeu e Judas Iscariotes, que foi
o traidor” (Mt 10, 2-4).
E agora?
Você gostaria de fazer parte de um grupo de cristãos?
Quais são as suas expectativas?

c) INTEGRAÇÃO GRUPAL
Dinâmica: Pedir para os participantes se reunirem em duplas e, em silêncio, responderem
ao questionário abaixo, tentando fazê-lo apenas através da observação. A seguir, pedir para as
duplas analisarem as respostas buscando confrontar as imagens, que cada um formulou do/a
companheiro/a, com a realidade. Ao final, discutir com todo o grupo sobre o tema das “imagens”
tão presentes na sociedade e nos grupos de jovens (em que ajuda e em que dificulta o
relacionamento humano).

Olha para a/o tua/teu companheira/o e adivinha:


⇒ Qual é o seu filme preferido?
⇒ Na sua opinião, qual é a sua comida preferida?
⇒ Qual é o seu tipo de música predileto?
⇒ Você acha que ela/ele gostaria de:

SIM NÃO
Viajar.
Ir à Igreja.
Ter um carro próprio.
Viver em outro país.
Ver esportes.
Ter filhos e filhas.
Ler muitos livros.
⇒ Tua/teu companheira/o é de que cidade e estado?
Reflexão bíblica: “Então Deus disse: Façamos o homem à nossa imagem e semelhança.
Que ele reine sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus, sobre os animais domésticos e
sobre toda a terra, e sobre todos os répteis, que se arrastam sobre a terra. Deus criou o homem à
sua imagem; criou-o à imagem de Deus, criou o homem e a mulher” (Gn 1, 26-27).
E agora?
⇒ Que atitudes devemos manter no nosso grupo?
⇒ É possível comprometermo-nos em apresentar a nossa verdadeira dimensão e também
de buscar conhecer o outro na sua essência?
⇒ É possível caminharmos juntos num processo comunitário que nos permite. ao mesmo
tempo, descobrirmo-nos e descobrir o/a outro/a, buscando complementarmo-nos uns aos
outros e desenvolver ao máximo as nossas potencialidades?

d) VIDA COMUNITÁRIA: UMA PROPOSTA CRISTÃ


Dinâmica: Uma pessoa se coloca como voluntária. Sua tarefa será tentar entrar no grupo.
Sem que ela saiba, pedir ao restante do grupo para não deixá-la entrar. Marcar um tempo de três
minutos. Depois, os participantes partilham como se sentiu o que queria entrar e não podia, e os
que não o deixaram entrar.
Reflexão bíblica: Preservavam eles na doutrina dos apóstolos, nas reuniões em comum, na
fração do pão e nas orações. De todos eles se apoderou o temor, pois pelos apóstolos foram feitos

25
muitos prodígios e milagres em Jerusalém, e o temor estava em seus corações...
E agora?
⇒ Por que Jesus elege um grupo para desenvolver junto com Ele a sua missão?
⇒ Para Deus é importante a vida em grupo? Por quê?
⇒ Existem muitos grupos em nossa sociedade? Quais?
⇒ Qual a diferença entre um grupo cristão e os demais grupos?

6.2.1.2 Espiritualidade
a) SIM AO CHAMADO DE DEUS
Oração Inicial: Salmo 138.
Dinâmica: Leitura da música Deus chama a gente pra um momento novo... Cada
integrante deve receber uma cópia da música e, depois, completar a seguinte frase DEUS
CHAMA A GENTE PRA....
Reflexão bíblica: O chamado a Jeremias (Jr. 1,4-10).
E agora?

b) VIVER SEGUNDO O ESPÍRITO


⇒Rm 12, 1ss;
⇒Texto base: Fiéis no cotidiano de Luís Roberto Benedetti, no documento: Dia de oração
Latino-Americano, X Comitê Latino-Americano do MIEC-JECI.

c) A VIDA CRISTÃ COMO LUGAR DE SEGUIMENTO DE JESUS


⇒ At 2,42;

d) A ESPIRITUALIDADE DO SABER
⇒ Ver texto de Luís Fernando Crespo no documento do Encontro Latino-Americano de
PU.

6.2.1.3 Ação Evangelizadora


a) A MISSÃO DA PU É FORMAR COMUNIDADES
⇒ Música: Brincar de Viver (Guilherme Arantes).

h) CONHECENDO A PU: SUA HISTÓRIA, ESTRUTURA E METODOLOGIA


⇒ Subsídios da PU.

6.2.1.4 Relação com a Universidade


a) SER UNIVERSITÁRIO HOJE
⇒ Partilha: textos sobre a situação da universidade ou alguma dinâmica de
análise da realidade.

b) A UNIVERSIDADE COMO TERRA DE MISSÃO


⇒ Elaborar um pequeno instrumento de pesquisa da realidade, com base nos indicadores
utilizados na pesquisa apresentada no EIRC.

c) CIDADANIA ESTUDANTIL
⇒ Fragmentos do texto do Boletim Internacional.

6.2.1.5 Dicas importantes


Ao final de todo o processo, sugerimos uma celebração em que, em conjunto com outros
grupos e/ou convidados especiais, se façam:
⇒ Memória de momentos importantes;
⇒ Renovação do compromisso batismal;

26
⇒ Escolha do símbolo e do nome para o grupo.

É importante relembrar que nosso processo de formação prima pela relação teoria/prática.
Para que se possa vivificar essa busca de práxis, recomendamos que, em seu decorrer, o grupo
possa fazer algumas experiências educativas. Como exemplo, citamos:
Vida comunitária: os componentes saírem juntos para assistir a um filme, ou ir a um
barzinho, ou para a casa de alguém, para um bate-papo informal, a fim de haver maior
integração. O grupo não pode ficar limitado apenas ao espaço da reunião semanal ou quinzenal, é
preciso criar uma dinâmica de grupo, de pessoas que se querem e que compartilham um mesmo
ideal e uma mesma fé.
Espiritualidade: que o grupo possa fazer um dia de oração ou um retiro ou uma
celebração. É preciso ir criando espaços comunitários de celebração da fé. É preciso ir educando
os universitários na oração pessoal, cultivando o prazer do encontro com Deus.
Ação evangelizadora: é preciso criar espaços de ação para o grupo. Podem ser ações
assistencialistas, mas é importante que sejam dotadas de um caráter pedagógico. O encontro
pessoal com o pobre, o necessitado ajuda no encontro com Deus. Também, nesse momento,
reconhecer a realidade eclesial e social em que o grupo está inserido.
Relação com a Universidade: podem ser gerados encontros com outros atores como o
ME, grupos de culturas, conversas com professores que ajudem a descobrir a realidade da
Universidade e a missão como cristãos.

VII Avaliação
Avaliar significa rever o caminho percorrido. A avaliação é uma etapa que propicia os
avanços do grupo, porque nos permite lançar um olhar crítico, suscitando sugestões para corrigir
os equívocos e reafirmar princípios e atividades positivas. Ela é fundamental na vida dos grupos;
ela lembra a atitude de Deus diante da criação (“Deus viu as coisas que fez e disse que eram
boas” Gn 1, 10). Assim, esse ato não deve estar relacionado com uma perspectiva de punição,
exclusão ou a simples classificação.
A proposta de avaliação para a Pastoral Universitária precisa ser contínua, isto é, não nos
restringirmos a determinados momentos de operacionalização de nossos projetos, do que
decorreria uma visão fragmentada, parcializada de nossa ação no mundo da Universidade, além
de que, para criarmos uma cultura avaliativa, é necessário que esta passe a ser uma prática
cotidiana na caminhada.

7.1 Quem avalia


Devemos ter bastante consciência de que a eficiência da avaliação é proporcional à sua
abrangência, tanto dos pontos a serem avaliados, quanto dos sujeitos que a protagonizam.
Chamamos de avaliadores tanto os que elaboram e coordenam o processo, como aqueles que
emitem juízo de valor sobre os temas propostos.
a) Nucleados/iniciantes — apesar de não serem os coordenadores do processo avaliativo,
os nucleados/iniciantes têm importante papel. Como destinatários e/ou interlocutores diretos,
eles serão os mais indicados para emitirem juízo de valor.
b) Nucleadores/acompanhantes — como coordenadores do processo, eles farão, na
verdade, uma auto-avaliação das idéias propostas e executadas e do seu próprio comportamento.
c) Sujeitos externos — são os atingidos apenas indiretamente pelo processo: o público
universitário em geral, o da diocese, os colegas mais próximos que não se envolvem... E
importante considerar a opinião deles, mesmo que seu não-envolvimento prejudique o
conhecimento sobre 05 detalhes do processo. Também como sujeitos externos, contamos com
algum especialista de fora (da PU de outra cidade ou de outra Pastoral da mesma diocese) cuja
análise é importante, à medida que conseguimos observar pequenos detalhes que podem ser
encobertos por nossa proximidade extrema com o processo.

27
7.2 Condicionantes para uma boa avaliação
Chamamos a atenção para a importância de alguns condicionantes essenciais para uma boa
avaliação:
⇒É preciso que o processo avaliativo seja preparado, elaborando-se antecipadamente os
critérios que irão confrontar-se com os resultados e um cronograma de aplicação da avaliação.
⇒ É preciso que tenhamos um bom instrumento de trabalho, indicando, por exemplo,
quais os dados que vamos recolher (pontos a serem abordados) e de que maneira vamos fazê-lo.
O instrumento de trabalho irá, inclusive, traduzir se nossa avaliação vai considerar dados
objetivos e subjetivos e se queremos uma avaliação quantitativa e/ou qualitativa.
⇒É fundamental que se faça um bom registro do material captado e das análises feitas. A
memória histórica servirá para o futuro imediato do grupo, o futuro de grupos que
virão, grupos de outras cidades; enfim, para uma análise histórica da própria PU.
⇒ Uma condição mais subjetiva, porém, não menos importante, é a predisposição que
temos ao iniciarmos um processo de avaliação. Pedimos apenas que não seja a de
punição, correção ou outra coisa do gênero. Essa é a hora de lembrarmos que a
avaliação é, na verdade, aquilo que está por trás de nossa dinâmica de crescimento
cristão (a RdV), ou seja, que possui uma profunda inspiração na fé num Deus que é,
sobretudo, misericordioso.

7.3 Sugestões de instrumentos de trabalho


Hoje, podemos encontrar uma bibliografia relativamente farta sobre avaliação. Há,
inclusive, trabalhos de tese sobre o tema. Mesmo as cartilhas de dinâmicas para trabalhos em
grupo trazem sugestões de fichas, etc. A intenção é oferecermos um exemplo de como isso pode
ir se adaptando à PU. Observem, contudo, que os dois exemplos que apresentamos a seguir são
incompletos e genéricos. Incompletos, porque ainda haverá outros itens que poderão ser
pesquisados; genéricos, porque está dirigido a todas as realidades e a nenhuma em especial. É
fundamental que, ao elaborarmos um projeto de NUCLEAÇÃO/INICIAÇÃO, elaboremos junto
o instrumento para a avaliação.

7.3.1 Para o processo de NUCLEAÇÃO


A)Dados Objetivos:
a) Data e local dos eventos que tiveram o objetivo direto de nuclear.
b) Tema, pauta e metodologia.
c) Número de inscritos/participantes.
d) Custos financeiros (é importante incluirmos tudo o que gastamos, principalmente o que
vem da contribuição direta dos estudantes).
e) Responsáveis diretos e indiretos pela organização.

B) Sobre a preparação do evento:


a) Número e origem das pessoas envolvidas na preparação.
b) Como foi o trabalho de preparação? Houve planejamento e um plano escrito? Se, sim,
como foi a execução do cronograma operacional ? Qual foi o envolvimento da Igreja local?
c) Como foi o processo de divulgação do evento? Quais os canais e linguagem utilizada?
Que impacto esse processo teve sobre o público (quantos se inscreveram/participaram em função
desse trabalho)?
d) Qual o nível de preocupação com a questão financeira?

C) Sobre o evento:
a) Que avaliação fizeram os participantes em relação:
⇒ a tema(s) abordado(s);
⇒ a assessor(es)/Palestrante(s);

28
⇒ à dinâmica e metodologia;
⇒ à infra-estrutura;
⇒ a presenças/ausências.

b) Quais as dificuldades encontradas pela equipe de organização em relação:


⇒ a envolvimento dos participantes;
⇒ à infra-estrutura;
⇒ à capacidade de coordenação das atividades.

D) Sobre o pós-evento:
a) Houve repercussão na cidade/universidade/diocese?
b) Houve avaliação sistemática ou só a final?
c) Quantas pessoas explicitaram o interesse pela PU após o evento?
d) Quais as repercussões que houve no grupo de PU ou na equipe que preparou e
executou o evento?

7.3.2 Sobre o processo de INICIAÇÃO


O instrumento que segue poderá ser adaptado para servir como ficha de acompanhamento
contínuo (avaliação durante) do processo, de maneira que, ao seu final, tenhamos uma visão
evolutiva do mesmo.

A) Dados objetivos:
a) Quantas pessoas começaram o processo de INICIAÇAO
h) Quantas concluíram o processo?
c) Quantas e quais as atividades desenvolvidas?
d) Quantas pessoas se envolveram diretamente como acompanhantes?

B) Sobre o planejamento:
a) Como se originou o processo (motivação)?
b) Houve elaboração de um plano? Com que nível de detalhes?
c) Houve preparação individual para o acompanhamento do processo?
d) Foram indicados responsáveis diretos pelo acompanhamento do processo?

C) Sobre a execução:
a) Houve co-responsabilidade do grupo no acompanhamento do processo?
b) Qual o nível de preparação de cada atividade?
c) Quais as dinâmicas mais utilizadas? Quais as que deram certo? E as que não deram?
c) Que material (subsídio escrito) foi utilizado?
d) Qual o nível de envolvimento dos iniciantes na preparação e execução das atividades?
e) Houve processo de avaliação sistemática (no decorrer da INICIAÇÃO)?
f) Que fatos podem ser aponados como indicativos concretos do avanço dos iniciantes?
g) O que não foi feito no processo?
h) Qual a manifestação dos iniciantes quanto ao trabalho realizado (atividades)?
i) Qual a reação dos iniciantes diante da proposta da PU?
j) Qual o grau de criatividade desenvolvida no processo?
k) O que foi percebido de novo ou original no processo?
l) Qual o momento ou fato que indicou o término do processo?

29
VIII Conclusão
Esperamos que este ROTEIRO possa servir de inspiração a todos aqueles que quiserem
fomentar grupos de Pastoral Universitária em sua Universidade seja ela federal, estadual,
comunitária, confessional ou não.
Ele é fruto de muito trabalho, discussões, estudo, noites em claro, dedicação.
Não citamos nomes, pois foram muitas as mãos que o escreveram, como bem exemplifica
a capa.
A Pastoral Universitária tem possibilidade de existir mais claramente depois desse
ROTEIRO DE NUCLEAÇÃO E INICIAÇÃO, que é parte essencial do material que integra o
KIT PU e pode ser solicitado para:

Secretaria Nacional da Pastoral Universitária


Caixa Postal 02067
70259-970 — Brasília — DF
Fone: 313-8300
E-mail: cnb-b@cnbb.org.br

Sumário

I. Apresentação ...........................................................................................................2
II. Introdução ..............................................................................................................5
III O modelo de nossos grupos ....................................................................................6
IV Nucleação e iniciação: A PU como processo .......................................................11
V Fatores que condicionam o processo .....................................................................18
VI Atividades .............................................................................................................22
VII Avaliação.............................................................................................................27
VIII Conclusão...........................................................................................................30

30

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