O documento discute as variações da língua portuguesa no Brasil, incluindo variações diacrônicas ao longo do tempo, diatópicas entre regiões, diastráticas entre classes sociais e diamésicas entre meios de comunicação. Ele argumenta que a língua é dinâmica e variada, não fixa, e que a noção de uma única forma de português brasileiro é irrealista.
O documento discute as variações da língua portuguesa no Brasil, incluindo variações diacrônicas ao longo do tempo, diatópicas entre regiões, diastráticas entre classes sociais e diamésicas entre meios de comunicação. Ele argumenta que a língua é dinâmica e variada, não fixa, e que a noção de uma única forma de português brasileiro é irrealista.
O documento discute as variações da língua portuguesa no Brasil, incluindo variações diacrônicas ao longo do tempo, diatópicas entre regiões, diastráticas entre classes sociais e diamésicas entre meios de comunicação. Ele argumenta que a língua é dinâmica e variada, não fixa, e que a noção de uma única forma de português brasileiro é irrealista.
lngua que falamos. So Paulo: Contexto, 2006, p. 151-196. Pedro Filipe da Luz Souza
O captulo Portugus do Brasil: a variao que vemos e a variao que esquecemos de ver um estudo da questo da uniformidade da lngua portuguesa do Brasil. Os autores se propem a desconstruir a viso de que a lngua falada em nosso pas uma apenas, baseada em certa forma de nacionalismo (p. 151), ignorncia dos fenmenos que ocorrem alm da norma culta e falta de ateno ao fenmeno da variao decorrente dos contextos de fala. A primeira forma de variao citada a diacrnica, aquela que ocorre no decorrer dos anos em uma certa comunidade lingustica. Ela ocorre em decorrncia de duas questes principais: a histria externa e a histria interna, que juntas englobam os fenmenos gramaticais e sociais da lngua. A variao diacrnica pode ser percebida na comparao entre geraes que convivam nos mesmos espaos: h grias e maneirismos que ocorrem em determinados espaos de tempo, com incio e fim, que se tornaram marcas de uma poca especfica e so praticamente impenetrveis para pessoas que no tenham vivido o contexto de seu desenvolvimento o caso do termo estar de bonde, que antigamente significava estar com a namorada. Dois processos importantes ocorrem a partir desta variao: a gramaticalizao, quando (...) uma palavra de sentido pleno assume funes gramaticais (p.153) e seu inverso, a lexicalizao, que cuida de palavras que eventualmente (...) foram transformadas em substantivos (...) (idem). De qualquer maneira, os autores ressaltam que a lngua no deve ser vista como algo pr-estabelecido e imutvel, e sim como um organismo em constante alterao. Em seguida, discorre-se sobre a variao diatpica, que engloba as diferenas de uma lngua nos espaos em que falada. O primeiro estudo referente s diferenas entre o portugus europeu e o portugus do Brasil, discusso que chega a atingir pontos de discusso sobre a prpria questo de serem ou no a mesma lngua devido s diferenas acentuadas entre ambas. O ponto mais frisado do captulo, entretanto, a variao regional no portugus do Brasil. Trata-se de (...) uma lngua muito uniforme em todo o seu territrio (...) (p.160), que permite o reconhecimento dos termos com facilidade entre falantes de qualquer ponto do territrio nacional. H, claro, variao regional que permite, por exemplo, identificar a origem de um falante pela maneira como se expressa. A migrao interna do pas tambm garante dinamismo aos falares regionais, e possvel perceber diversas variaes convivendo e interagindo em todo o pas. tambm necessrio dar ateno ao fato de que a variao diatpica mais presente em contextos informais de fala, sendo predominante em contextos formais uma tendncia de reprimir variaes do tipo do erre caipira nas escolas. Os fenmenos lingusticos podem ser traados em um mapa por meio das isoglossas, as divisas das reas em que a lngua uniforme com respeito a determinado fenmeno (p.169), que permite a criao dos chamados atlas lingusticos, mais presentes no Brasil na forma de atlas regionais. A ausncia de dialetos diatpicos contrabalanceada pela existncia de forte variao diastrtica , uma diferena entre a lngua falada pela parte mais escolarizada e a menos escolarizada da populao. Tambm chamada de portugus subpadro ou sub- standard, caracterizada por certa simplificao fontica e gramatical, como a reduo da conjugao verbal a duas formas (primeira pessoa do singular inalterada, e conjugaes restantes iguais terceira pessoa do singular) por exemplo. As variedades diastrticas so pouco presentes na escrita. A variao diamsica, enfim, a percebida nas alteraes presentes entre diferentes meios ou veculos de comunicao, e representa a maior distncia observvel entre a lngua falada e a lngua escrita. As regras gramaticais se apresentam com mais fora nesta e tm a tendncia de serem mais lenientes naquelas, o que gera dissonncia entre a forma como falamos e a forma como nos comunicamos por escrito. Internamente, os gneros so tambm outra caracterstica diamsica localizada, e podem ser percebidos nas diferenas entre o modo de escrever usado em um artigo cientfico e uma notcia jornalstica, por exemplo. Finalmente, importante mencionar que todas as variaes convivem entre si: (...) toda produo verbal simultaneamente marcada do ponto de vista diacrnico, diatpico, diastrtico e diamsico.. A lngua um mecanismo constantemente sujeito variao, e a uniformidade e manuteno de um s tipo de portugus brasileiro se apresentam como ideias distantes e sem possibilidades de aplicao prtica.
Pedro Filipe da Luz Souza estudante do primeiro semestre de Letras da Universidade de So Paulo. N 8973907.