Este documento apresenta uma resenha detalhada do livro "Gestão da Inovação: a economia da tecnologia no Brasil" de Paulo Bastos Tigre. A resenha descreve a trajetória acadêmica do autor e como isso influenciou sua abordagem do tema. O livro é dividido em três partes que discutem as teorias econômicas da tecnologia, a relação entre inovação e competitividade, e as políticas de inovação no Brasil. A resenha elogia a análise rigorosa e ilustrativa do
Este documento apresenta uma resenha detalhada do livro "Gestão da Inovação: a economia da tecnologia no Brasil" de Paulo Bastos Tigre. A resenha descreve a trajetória acadêmica do autor e como isso influenciou sua abordagem do tema. O livro é dividido em três partes que discutem as teorias econômicas da tecnologia, a relação entre inovação e competitividade, e as políticas de inovação no Brasil. A resenha elogia a análise rigorosa e ilustrativa do
Este documento apresenta uma resenha detalhada do livro "Gestão da Inovação: a economia da tecnologia no Brasil" de Paulo Bastos Tigre. A resenha descreve a trajetória acadêmica do autor e como isso influenciou sua abordagem do tema. O livro é dividido em três partes que discutem as teorias econômicas da tecnologia, a relação entre inovação e competitividade, e as políticas de inovação no Brasil. A resenha elogia a análise rigorosa e ilustrativa do
Revista Brasileira de Inovao ;, Revista Brasileira de Inovao Volume 5 Nmero 2 Julho / Dezembro 2006 ;,
Gesto da Inovao: a economia
da tecnologia no Brasil Paulo Bastos Tigre Rio de Janeiro: Elsevier, 282 pginas, 2006. RESENHA Resenhar uma obra significa um esforo analtico e reflexivo sobre o pensamento e a contribuio de um autor sobre determinado tema ou assunto. Como fazer isso dissociado da caminhada do prprio autor? Conhecer sua trajetria nos ajuda a compreender o tema tratado e o mtodo de abordagem. Assim, acho muito importante apresentar, mesmo que de forma breve, o pro- fessor Paulo Bastos Tigre. Paulo Tigre Professor Titular do Instituto de Eco- nomia da Universidade do Rio de Janeiro e coordenador do Grupo de Estudo sobre a Economia da Inovao. Ph.D. em Poltica Cientfica e Tecnolgica pela Universidade de Sussex (Inglaterra, 1982), Mestre em Engenharia da Pro- duo pela COPPE/URFJ (1978) e Bacharel em Economia pela URFJ (1974). Foi Diretor Financeiro e de Planejamento da COBRA Computadores e Sis- temas (1986-1988). pesquisador do CNPq e autor de vrios livros entre eles Computador Brasileiro: Indstria, Tecnologia e Dependncia (1984), que lhe conferiu o Prmio Harambus Simeonides da Associao Nacional de Ps- Graduao em Economia. Como o prprio autor ressalta na Introduo (p.VII), o livro expressa uma viso integrada, reunindo e sistematizando 30 anos de experincia em pesquisa, ensino, consultoria e gesto empresarial na rea de inovao, pautada principalmente na realidade brasileira. Assim, o olhar Maria Teresa Franco Ribeiro Prof. Adjunto da Escola de Administrao/Ncleo de Ps-Graduao NPGA /UFBA Revista Brasileira de Inovao c que Paulo Tigre direciona Gesto da Inovao de algum que compreende a inovao como o resultado de um processo econmico, sociocultural e po- ltico. Nessa perspectiva sendo a inovao e a sua gesto de natureza transversal, o mtodo de abordagem precisa incorporar o dilogo com outras reas do conhecimento, caminhando em direo interdisciplinaridade. O livro inicia a abordagem da Gesto da Inovao e da Economia da Tecnologia a partir das principais contribuies tericas e dos contextos hist- ricos que as respaldaram e avana complexificando em termos do debate te- rico e das diversas experincias internacionais e nacionais que do contedo e clareza importncia da inovao como um dos elementos-chave do desenvol- vimento, sinalizando os desafios envolvidos na sua gesto, principalmente em pases como o Brasil. Paulo Tigre aponta a importncia e a necessidade de uma nova postura intelectual, como a abertura para o dilogo com diferentes reas do conheci- mento, a integrao dialtica entre a teoria e o objeto emprico, e a percepo da importncia da histria na compreenso e construo do presente e do futuro. Ao abordar a inovao e a tecnologia de forma complexa, como um ato no isolado e neutro, Paulo Tigre resgata a dimenso da economia poltica da ino- vao, apontando os desafios envolvidos na construo do desenvolvimento econmico brasileiro, intensificados com o acirramento da competitividade e da expanso do novo paradigma tcnico-econmico a partir das novas TICs. A temtica da economia da tecnologia e da gesto da inovao tecnolgica, principalmente a partir da dcada de 1970, tem tido contribuies importan- tes, decorrentes do debate internacional sobre os fatores que condicionam o desenvolvimento econmico. Os resultados pfios do processo de globalizao, que acirram as desigualdades, aumentaram a concentrao do capital, do co- nhecimento e da riqueza mundial e foram os grandes pilares dessas pesquisas (Lastres & Cassiolato, 2005). Paulo Tigre investiga e discute as bases tericas que vm respaldando esse debate, resgata e organiza com muito rigor as principais contribuies inter- nacionais e nacionais sobre o tema e realiza um esforo de ilustrar o debate com situaes concretas, o que torna a leitura agradvel e profundamente elucidativa. O foco na realidade brasileira vem preencher uma lacuna terica e emprica, uma vez que a literatura internacional no d conta das especificidades e singularidades dos processos de desenvolvimento da periferia, como o Brasil. RESENHA Revista Brasileira de Inovao : A compreenso dessas especificidades exige uma combinao dos avanos da literatura internacional com a anlise e o esforo de compreenso da realidade local, muito bem construdos nesse livro. Para desenvolver essa proposio o livro divide-se em trs partes que so, na verdade, dimenses da dinmica inovacional e da sua complexidade ao longo da histria. A primeira parte, Teorias Econmicas da Tecnologia, apresenta e discute os conceitos das principais contribuies tericas luz dos contextos histrico-institucionais em que as tecnologias foram produzidas e difundidas. Assim, constitui-se dos captulos cujos ttulos explicitam as principais correntes analisadas: 1.Teorias econmicas clssicas da tecnologia; 2. A tecnologia nas vises marxista e neoclssica; 3. A era fordista e a concorrncia oligopolista; e 4. O ps-fordismo e as novas teorias da firma e da tecnologia. Nessa parte, o autor investiga como as teorias econmicas da firma tm incorporado a mudana tecnolgica desde a Primeira Revoluo Industrial. O resgate da histria de algumas tecnologias como a mquina a vapor, a eletrici- dade e o motor a combusto interna ilustra a complexidade do processo de inveno e inovao e a importncia da dimenso poltica-institucional na consolidao dessas inovaes e as transformaes que acarretaram em toda a economia. Essas transformaes, como ressalta o autor, no so fceis e rapi- damente incorporadas pelas teorias, no existe um corpo terico nico e co- erente, pois as teorias esto condicionadas por diferentes filiaes e baseiam-se em contextos institucionais histricos e setoriais diversos (p.IX). Dos autores mais importantes investigados, ressalta-se a contribuio de Schumpeter como um dos economistas que mais compreendeu as anlises de Marx sobre a dinmica capitalista e o papel da tecnologia no processo de de- senvolvimento. Desenvolvimento aqui entendido como um fenmeno quali- tativamente novo e no um crescimento derivado do aumento da populao e da riqueza (p.44). A partir da interpretao schumpeteriana da firma, no apenas como um espao de produo, mas tambm de inovao, abre-se um espao para novas interpretaes do comportamento da firma, como a firma organizada, na perspectiva dos behavoristas, a firma instituio, que incorpora a dimenso social e poltica do contexto de sua atuao, e as contribuies de Coase (1937) com a Teoria dos Custos de Transao, que traz novas questes sobre a natureza da firma, considerando esta como um tipo de arranjo institucional especfico, alternativo ao mercado. Gesto da Inovao: a economia da tecnologia no Brasil Revista Brasileira de Inovao : Mais recentemente, a partir dos impactos econmicos, sociais e polticos do chamado novo paradigma tcnico-econmico, protagonizado pela difuso das Tecnologias da Informao e Comunicao (TICs), as idias de Schumpeter so retomadas pela corrente de pensamento evolucionista ou neo-shumpeteriana, bem como os institucionalistas, que abordam a firma numa perspectiva sistmica, ressaltando assim a importncia da relao desta com o ambiente externo como condicionante de seu desempenho tecnolgico e competitivo (p.53). Essas contribuies ressaltam a natureza dinmica da tecnologia, a racionalidade li- mitada dos agentes econmicos, ou seja sua natureza cognitiva e procedural; a ao dos agente se materializa ao longo do processo, no podendo ser prede- terminada, alm de rejeitarem qualquer tipo de equilbrio to caro aos econo- mistas neoclssicos. Assim, no lugar da maximizao, introduzem o princpio da pluralidade do ambiente de seleo tecnolgica e a importncia do ambiente coletivo de aprendizado. Ou seja, a histria importa, estando a acumulao da firma de- pendente da base de conhecimentos adquiridos anteriormente que no desvia de sua trajetria bem-sucedida a no ser por mudanas na conjuntura econ- mica ou na natureza da tecnologia (pg.61). A partir dessa anlise, o autor alerta para a importncia de se considerar a natureza multidisciplinar das firmas e da mudana tcnica, nos esforos de formulao de novos conceitos para analisar esses fenmenos. Na segunda parte, Paulo Tigre discute os aspectos meso-econmicos ou as relaes entre inovao e competitividade. Para tanto, realiza uma reviso conceitual da inovao, difuso e dos condicionantes desse processo: o setor de atividade em que a empresa atua, a localizao regional e as limitaes e opor- tunidades abertas para a inovao segundo o porte da empresa. Apresentam-se, ento, os seguintes captulos: 5. Inovao e difuso tecnolgica; 6. Fontes de inovao na empresa; 7. Setor de atividades, tamanho da firma e localizao geogrfica; 8. Inovao e competitividade internacional. H aqui uma reviso detalhada e rigorosa dos conceitos que, conjugada com os casos, permite uma leitura crtica da sua formulao terica e aplicao. O conceito schumpeteriano de inovao, ao associar-se a tudo que diferencia e cria valor ao negcio, foca- se na perspectiva da competitividade, tornando-se til no trato da gesto tecnolgica e organizacional. Se a tecnologia no exgena como vislumbravam os neoclssicos, ela RESENHA Revista Brasileira de Inovao , tambm no pode ser considerada totalmente endgena. Paulo Tigre explora, com exemplos bastante atuais, as diferentes fontes de tecnologia usadas pelas empresas para inovar e provocar os impactos necessrios sobre a competitividade. O processo de difuso analisado em quatro dimenses distintas: direo ou trajetria tecnolgica, ritmo ou velocidade da difuso, fatores condicionantes e impactos sociais, econmicos e ambientais/institucionais. Na discusso sobre as diversas fontes internas e externas de inovao que as firmas exploram o autor interfere com anlises bastante atuais sobre o desempenho tecnolgica de algumas empresas em pases diversos e, especialmenteno Brasil. Enquanto nos pases desenvolvidos os esforos em P&D so importantes, nos pases em de- senvolvimento o esforo tecnolgico ainda se d fundamentalmente por meio da aquisio de mquinas e equipamentos incorporados s plantas existentes ou sob a forma de turn-key. Embora essa seja uma forma de absoro tecnolgica, um pas no pode prescindir do esforo tecnolgico prprio e de uma indstria local de bens de capital que complemente a oferta internacional e que seja compatvel com as necessidades locais (p.103). A tendncia do pensamento dominante universalizao dos mercados, implcita no processo de globalizao, questiona o conceito de tecnologia apropriada, adequada a determinado contexto. Mas como ressalta o autor, esse ainda um conceito pertinente e necessrio ao desenvolvimento industrial dos pases perifricos. A dimenso local do processo de inovao fundamental para a explorao do conhecimen- to tcito, que permite a diferena de capacitao entre empresas e constitui uma vantagem competitiva nica (p.104). A insero da geografia da firma, j to explorada por Marschall (1860) volta a ser percebida como um determinante do padro de especializao e da intensificao tecnolgica de uma indstria. A presena de infra-estrutura social e tecnolgica adequada uma condio fundamental para o sucesso de uma empresa inovadora. Dentro dessa perspectiva, o conceito de Sistemas de Ino- vao aponta para a importncia da sinergia dos atores envolvidos no processo de inovao, que inclui no apenas as instituies voltadas para as atividades de p&d, mas tambm a rede de interaes entre usurios e fornecedores, relao de trabalho, sistema jurdico e polticas governamentais (p.137). Esses sistemas podem ser analisados em suas dimenses nacional, supranacional, setorial e tecnolgica, como esferas complementares, com formas de articulao idiossincrticas segundo o tipo de produto. Gesto da Inovao: a economia da tecnologia no Brasil Revista Brasileira de Inovao A partir de estudos sobre os fatores que explicam a competitividade in- ternacional de algumas empresas e setores, o autor ressalta o papel da inovao como um aspecto do mosaico das questes geopolticas e econmicas que compem o comrcio internacional. Nesse sentido, mostra a importncia de se compreender como se articula o padro de especializao de um pas e sua demanda por tecnologia. A eficincia dinmica da indstria depende da capa- cidade domstica de gerar e administrar mudanas tecnolgicas utilizadas na produo. Para alcanar esses nveis de capacitao, os mecanismos de mercado no so suficientes, so necessrias polticas pblicas que desenvolvam capacitao, infra-estrutura tecnolgica e medidas de apoio sustentado inovao (p.145). Nesse aspecto, o autor enftico ao apontar os desafios da competitividade da indstria brasileira, uma vez que hoje, em termos gerais, suas bases competi- tivas se apiam fundamentalmente em vantagens comparativas naturais, como a biodiversidade, recursos hdricos para a irrigao e gerao de energia renovvel, mineral e florestal (p.159). A terceira parte do livro sobre a Gesto da Inovao propriamente dita, uma atividade de natureza fundamentalmente microeconmica. O argumen- to-chave dessa parte que o sucesso da incorporao de uma nova tecnologia depende do matching entre oferta de conhecimentos e a capacidade de as empresas absorverem de forma eficiente novos equipamentos, sistemas e processos pro- dutivos. Ou seja, o resultado competitivo fruto de uma estratgia tecnolgica que depende da conjugao de fatores como: capacidade tcnica da empresa, da sua fora financeira e do mercado em que atua. Esto compreendidos nesta parte os seguintes captulos: 9. Inovao e estratgia competitiva; 10. Integrao entre estratgia competitiva e capacitao tecnolgica; 11. Inovaes orga- nizacionais; 12. Redes de firmas e cadeias produtivas; 13. Gesto da inovao na economia do conhecimento. Paulo Tigre explora os avanos na economia do conhecimento e os desa- fios que esta apresenta para as organizaes, na medida em que novas compe- tncias e padres de competio esto em fase de mudana. Muitos conceitos e princpios pensados para a economia industrial no do conta das especificidades e potencialidades desconhecidas das trocas intensivas em conhe- cimento. O conhecimento torna-se cada vez mais importante para se ter acesso informao, devido a sua codificao lingstica, tcnica ou cientfica para a manipulao e transmisso. O conjunto de habilidades exigidas constitui o que RESENHA Revista Brasileira de Inovao , se chama de capital humano de difcil reproduo. A organizao em rede assume um papel-chave na economia do conhecimento na medida em que ela aumenta as economias externas, por meio das economias de escala e de escopo, ampli- ao dos mercados, acelerao do processo de inovao e aceso a competncias tecnolgicas crticas (p.216). As inovaes com carter sistmico, como as redes, aumentam seu valor medida que mais usurios as adotam, em um processo conhecido como feedback positivo. A flexibilidade organizacional e a capacidade cognitiva para absorver novos conhecimentos constituem elementos crticos para a difuso de novas tecnologias. Segundo Tigre, avaliar as vantagens e desvantagens de se vincular a uma rede implica identificar os ncleos virtuosos, formados por ns em que a agregao de valor relativamente maior, e os ncleos competitivos em que a competio por preo mais acirrada. Ter essa capacidade no tarefa fcil e essencial para a formulao de estratgias competitivas consistentes. Segundo o autor, como a economia do conhecimento depende de padres que assegurem a compatibilidade de diferentes subsistemas, o entendimento das implicaes das decises tcnicas quanto liberdade futura (no aprisionamen- to a um padro) constitui um elemento essencial da gesto da inovao (p.256). O esforo em abordar os pontos-chave da obra ainda est aqum da rique- za de sua contribuio para a formao terica e emprica sobre a economia da tecnologia e gesto da inovao em nvel internacional e no Brasil especifica- mente. A sua leitura importante e fundamental para a graduao, e o mtodo abordado com exemplos permite a compreenso e aplicao de conceitos hoje imprescindveis na formao acadmica e profissional. Os alunos da ps-gra- duao, alm de bases tericas e anlises recentes dos desafios da gesto da inovao no Brasil, tero no final de cada captulo sinalizao de espaos im- portantes de pesquisa e orientaes bibliogrficas complementares. Esse livro tambm essencial para os gestores pblicos e privados de todas as reas de atuao, tendo em vista o carter transversal e multidisciplinar da gesto da inovao. Boa leitura. Gesto da Inovao: a economia da tecnologia no Brasil