You are on page 1of 3

MUN D

M e l h o r a m e n to

Café made in Brazil é


plantado pelos maiores
genético
Fotos: IAC

produtores mundiais
Basta derramar água
quente sobre o pó escuro
que o cheiro inconfun-
dível se espalha pelo am-
biente. O café está servido. Com sabor
singular e qualidades estimulantes, o
hábito de sorver uma xícara de café con-
quistou pessoas em todo o planeta e fez
com que o grão, depois do petróleo, seja
o segundo produto mais exportado no
mundo, em valor, segundo o Centro de
Cooperação Internacional em Pesquisa Pés de café robusta, variedade de alta produtividade e que resiste a pragas como a
Agronômica para o Desenvolvimento. ferrugem, é uma das bases da cafeicultura e matéria-prima para o café solúvel

Com leite, com creme, mais forte, mais


fraco, são inúmeras as maneiras de pre- de melhoramento de café mais antigo do do Centro de Café do IAC, cujo nome
parar, mas, nos países em que a bebida é mundo foi implantado no Brasil, mais homenageia o pesquisador, falecido em
tradicional, é grande a probabilidade de precisamente no Instituto Agronômico 1993. Fazuoli lembra que, no mesmo ano
que o café servido seja do Brasil. Pode ter de Campinas (IAC), por Carlos Arnaldo da publicação do artigo na Ciência & Cul-
sido produzido aqui, já que nosso país Krug, em 1928. O programa passou a ser tura, foi feito o cruzamento das variedades
responde por 30% da produção mun- coordenado por Alcides Carvalho, que caturra com mundo novo. O resultado foi
dial, ou pode ter sido plantado na Costa dedicou mais de 50 anos de sua vida às a catuaí, liberada em 1972, que resulta em
Rica e na Colômbia, a partir de varieda- pesquisas para obter variedades, ao mes- uma planta muito produtiva e com por-
des desenvolvidas em nosso país. mo tempo, produtivas e resistentes a do- te baixo, o que gera grande economia de
Obter café de boa qualidade depende de enças e pragas. Alcides Carvalho é quem mão-de-obra. Ela representa hoje cerca de
vários requisitos, entre eles o clima e boas assina um dos artigos do primeiro volume 40% da cafeicultura brasileira.
técnicas de processamento, mas o funda- da revista Ciência & Cultura, publicada
mental é a matéria-prima, isto é, a cultivar em 1949. “O texto traz uma análise sobre Café colombiano “Embora tenhamos
plantada. O Brasil, primeiro produtor e os aspectos reprodutivos da flor do cafeei- um enorme potencial para produzir
segundo maior consumidor mundial, é ro, pesquisa básica para o melhoramento cafés de altíssima qualidade, por uma
também referência em pesquisa para ob- genético”, conta Luiz Carlos Fazuoli, que série de razões, principalmente marke-
tenção de cultivares de café. O programa trabalhou com Carvalho e hoje é diretor ting, sempre fomos superados neste

14

3_Mundo_28.indd 14 6/18/09 11:54:15 AM


ND Campinas (Unicamp). Outra caracte-
rística do nosso vizinho latinoameri-
cano são os altos índices de insolação
que favorece o crescimento da planta
do café. Isso exige variedades de porte
Notícias
do
Mundo

canephora para a arabica”, conta Paulo


Mazzafera, da Unicamp.
As pesquisas do IAC são responsáveis
por levar a cultura do café para muito
além das famosas terras roxas paulistas.
mais baixo, caso da cultivar catuaí. Ensaios feitos nos laboratórios do insti-
De posse de bons cultivares, a Colôm- tuto, em solos de cerrado, permitiram a
bia passou a investir em campanhas expansão da cultura para todo país.
de publicidade. O personagem Juan A cafeicultura baseia-se no plantio des-
Valdez, camponês tradicional que está sas duas espécies: Coffea arabica, que
sempre acompanhado da mula Con- fornece o tipo de café arábica, e Coffea
chita, carregada com sacas de grão, é a canephora, que fornece o café robus-
marca do café colombiano reconhecida ta, com sabor menos atraente, porém,
em todo o mundo pela qualidade e sa- como o nome diz, mais resistente a
bor típico. Um dos resultados mais re- doenças. A primeira espécie é reconhe-
centes da agressiva estratégia comercial cida por produzir bebida de boa qua-
dos colombianos é a instalação de ca- lidade ou o café de coador. A segunda
feterias sofisticadas, com a marca Juan é matéria-prima para o café solúvel. O
Alcides Carvalho dedicou 50 anos ao Valdez, nos Estados Unidos, México, pioneirismo do instituto e a persistên-
desenvolvimento de variedades de café Costa Rica, Panamá, Equador, Chile e cia de seus pesquisadores para obtenção
Espanha, entre outros países. de novas variedades fizeram com que o
segmento pela Colômbia, Quênia e pa- IAC criasse um dos maiores acervos de
íses da América Central, como a Costa Resistência à ferrugem Fundamen- café do mundo. Mais de 90% do mate-
Rica, Guatemala e El Salvador”, lamen- tais para o sucesso do café colombiano, rial que se cultiva no Brasil saiu de lá.
ta Fazuoli. O que poucos sabem é que as as variedades resistentes à ferrugem fo- Além da catuaí, outras variedades são
variedades do IAC também são da base ram um marco nas pesquisas na área a bourbon, caturra, mundo acaiá e ica-
da cafeicultura de importantes produ- de melhoramento de café no Brasil. tu. Entre as mais recentes estão a obatã,
tores mundiais. Colômbia e Costa Ri- Alcides Carvalho começou a estudar a tupi e ouro verde.
ca, por exemplo, utilizam as variedades doença em 1959, dez anos antes de ela
caturra e catuaí, que apresentam alta chegar efetivamente ao Brasil. Causa- Naturalmente sem cafeína Esse
produtividade e resistência à ferrugem. da por um fungo que faz surgir man- importante acervo ainda promete im-
“A Colômbia tinha problema grave chas amareladas nas folhas do cafeei- portantes descobertas. Exemplo disso
com a ferrugem e, como predominam ro, a ferrugem chega a provocar perdas ocorreu em 2003, com a identificação
terrenos de montanha, é mais difícil de 50% na produção de um cafezal. de uma planta que produz um fruto
fazer pulverizações com tratores, daí a Carvalho fez o cruzamento entre duas naturalmente descafeinado. A planta,
necessidade de variedades resistentes à espécies de café: Coffea arabica com que possui vinte vezes menos cafeína,
doença”, explica Paulo Mazzafera, pes- a Coffea canephora. “O objetivo era foi descoberta por Paulo Mazzafera,
quisador da Universidade Estadual de transferir a resistência à ferrugem da Luiz Carlos Fazuoli e Maria Bernadete

15

3_Mundo_28.indd 15 6/18/09 11:54:19 AM


MUN D Fotos: IAC

Brasil é primeiro produtor mundial e o


segundo maior consumidor de café

e do mercado consumidor. “Em vista


da crescente dificuldade em obter mão-
de-obra para colheita do café, algumas
variedades mais novas como a tupi e a
Variedade robusta, desenvolvida no IAC; plantio experimental na Fazenda Santa Elisa, ubatã visam facilitar a colheita mecâni-
em Campinas (SP) ca”, conta Fazuoli. “Também estamos
Silvarolla, também do IAC. As plantas nessa linha estão sendo desenvolvidas estudando plantas com sistema radi-
do acervo do instituto vieram da Eti- no Japão, mas ainda há resistência por cular que proporcione melhor absor-
ópia e seu café nunca tinha analisado parte do mercado em consumir café de ção de nutrientes. Plantas assim usam
para saber o teor de cafeína. Enquanto plantas transgênicas. “O grande apelo menos adubo”, complementa. No ano
o café que tomamos tem de 1% a 1,2% da nossa pesquisa é que estamos traba- passado, o IAC gerou uma coleção de
de cafeína, a variedade do IAC apre- lhando com uma planta naturalmente 300 plantas matrizes, que poderão ge-
senta teor de 0,07%. Ainda pouco co- descafeinada, que não passa por ne- rar cultivares de café robusta. Por pos-
mum no Brasil, onde representa apenas nhum tratamento químico ou genéti- suir mais substâncias solúveis, açúcares
1% do mercado, o café descafeinado é co”, ressalta Mazzafera. Atualmente, a e cafeína, em comparação ao café ará-
muito procurado na Europa, princi- pesquisa busca cruzar a variedade des- bica, o café robusta é bastante utilizado
palmente na Alemanha, e nos Estados cafeinada com outras mais produtivas na fabricação de café solúvel. O robusta
Unidos, onde 25% do café comerciali- como a mundo novo e a catuái, para via- pode ser uma opção para o plantio em
zado é descafeinado. Hoje ele é obtido bilizar o cultivo pelo produtor. Só as- regiões de temperaturas elevadas e uma
utilizando solventes que lavam os grãos sim será possível chegar a um produto oportunidade para alcançar o mercado
de café e dissolvem a cafeína. Entretan- final com preço competitivo. com altas cotações praticadas pela in-
to, o processo compromete o sabor da Segundo o diretor do Centro de Café, dústria de café solúvel, em crescimento
bebida. Além do processo químico, a a produtividade é um objetivo perma- no Brasil e que representa a maior fatia
alternativa para obter café com baixo nente das pesquisas no IAC, que segue no mercado norte-americano.
teor de cafeína era desenvolver plantas na busca de plantas cada vez melhor
geneticamente modificadas. Pesquisas adaptadas às necessidades do produtor Patrícia Mariuzzo

16

3_Mundo_28.indd 16 6/18/09 11:54:20 AM

You might also like