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Os dilemas da Rádio Digital

Lívia Dutra Justino

“Indo aonde nenhum homem jamais esteve.” era a fala de abertura do Capitão Kirk ao
decolar com sua nave Entreprise rumo ao universo desconhecido no seriado de ficção
científica Jornada nas Estrelas.

Ainda falta muito para o ser humano chegar lá. Por enquanto, somente temos acesso a
aventuras como essa através de bem boladas histórias de ficção científica como Jornada
nas Estrelas. Mas, certamente, quando o homem alcançar esse estágio, um aparelho,
cuja tecnologia remonta ao século XIX, fará parte das quinquilharias levadas a bordo:
um rádio. Obviamente, não da forma como o conhecemos hoje, mas algum aparelho
aperfeiçoado que possa transmitir a voz humana e estabelecer pontes de comunicação
entre os aventureiros de então. É assim que o rádio alcançou a sua maior
responsabilidade da época contemporânea: sendo um elo de comunicação entre as
pessoas, capaz de eliminar milhares de quilômetros de distância.

Com a chegada da TV, nos anos 50, muitas pessoas afirmaram que o rádio estava com
os seus dias contados. De fato, foram dias difíceis para esse meio. Muitos artistas e
apresentadores migraram para a nova mídia encantados pelo fascínio da imagem. As
agências publicitárias logo enxergaram as novas possibilidades de lucro e transferiram
as verbas dos seus clientes para o novo meio. Entretanto, a capacidade de falar para
públicos específicos conferiu ao rádio o poder da segmentação. Após um período de
desinteresse dos anunciantes, houve um retorno gradual ao meio, em parte por causa
desse diferencial.

Não são poucos os que afirmam que o rádio vai a todos os lugares. Em um país de
dimensões gigantescas como o Brasil, o rádio assume função específica e essencial de
comunicação. Ele leva notícias, transmite fatos, conta fofocas, diverte e perverte ao
tocar músicas de apelo popular e sentido dúbio.

Para o bem ou para o mal, lá está o rádio ligado no serviço, enquanto a dona de casa dá
a sua limpeza semanal ou diária, ou enquanto um alto executivo de uma grande
multinacional toma importantes decisões que afetarão a milhares de pessoas. Do pobre
ao rico, do empregado ao empregador, do santo ao pecador, todos usam o rádio em suas
vidas, seja no lar ou no trabalho.

Muito se tem discutido sobre os avanços tecnológicos, convergência e acessibilidade


para a população. É nítido para todos que hoje, mais do que nunca a população tem cada
vez mais acesso a informação e disseminação da mesma. Mas será que com todo esse
avanço tecnológico a rádio tem algum futuro?

Mais uma vez, assim como no passado com o surgimento da TV o futuro da rádio esta
em cheque. Será que ainda existe espaço para as velhas transmissões? Como já citamos
na década de 50 com o advento da TV no Brasil muitas pessoas predisseram a morte do
rádio nessa época. Algumas mudanças seriam inevitáveis. Fascinados pela imagem e
pelas novas possibilidades do audiovisual, artistas, locutores e outros profissionais se
transferiram para o novo meio. As verbas publicitárias, até então abundantes no rádio,
concentraram-se na TV, um erro de planejamento estratégico de anunciantes e de
agências de publicidade que pode ser verificado ainda hoje.

O rádio teve que se reinventar e fez isso com sucesso. O surgimento de uma nova
tecnologia e a modulação de freqüência (FM) permitiu uma nova expansão do meio. A
necessidade comercial das emissoras levou à sua segmentação em nichos de mercado. E
mesmo naquela época foi preciso inovar. A chegada da internet na década de 90 no
Brasil, também provocou discussões sobre a sobrevivência dos meios de comunicação
tradicionais. Ainda é cedo para se falar em mudanças.

Hoje, a tendência é de convergência entre os meios. Assim, um meio não significa a


anulação de outro, mas antes, a sua consolidação. A soma das comunicações, na qual se
destaca a convergência das mídias, é a grande aposta da moda. Enquanto os mais
variados profissionais discutem o futuro das mídias, o rádio permanece ligado em
nossas casas, desempenhando tranqüilamente o seu papel de meio de comunicação.
Atualmente convergência das mídias à rádio deverá rapidamente ser incorporada aos
novos meios e inovar ainda mais no quesito participação e interação.
Um exemplo que estabelece certo nível de interação é a crescente participação da
população com relação à informação no jornalismo que se apropriou das novas mídias
para ter contato direto com os espectadores. Com apenas um celular a população pode
enviar fotografias, áudios e vídeos como meio de denúncia para algum acontecimento
que a imprensa não conseguiu cobrir. E isso acontece devido a tão comentada inclusão
digital. Com o aumento da procura de novos meios de comunicação – internet,
celulares, câmeras digitais – a população tem conseguido em um curto espaço de tempo
se adequar a convergência das mídias, logo os preços desses equipamentos tendem a
diminuir aumentando mais ainda a oferta para a população.

A participação da população com as mídias é ainda estabelecida em blogs e fóruns


particulares na internet. A novidade no campo da rádio é a possibilidade das web rádios
que são em sua maioria gratuitas. Podemos afirmar que com o avanço da tecnologia e o
advento da convergência qualquer indivíduo pode sim ter sua própria web rádio. Muitos
sites já colam disponíveis notícias em formato de PODCAST (arquivo de áudio
transferido automaticamente pela internet), trazendo a idéia da rádio para as páginas da
web.

Nos dias atuais, indiscutivelmente, a rádio brasileira continua sendo um dos mais
poderosos veículos de comunicação social no país. Motivos práticos, financeiros e
geográficos fazem do rádio uma presença superior à televisão, nos países em
desenvolvimento, ao passo que, nos países altamente industrializados, a televisão e o
rádio convivem lado a lado, com largas audiências. Independente da plataforma na qual
o indivíduo da era da convergência escuta a rádio ela ainda é tida como instrumento de
cultura popular, especialmente nos países em desenvolvimento, o rádio é uma realidade
incontestável, prestando valiosa folha de serviços às comunidades.

Mais leve que a imprensa escrita, menos fugaz que o cinema, o próprio cego e o
analfabeto podem sintonizá-lo. Leva a todos, sem nada exigir em troca, mensagens
vivas: a voz, o canto, a dramatização, a novela, a notícia ou até mesmo a partida de
futebol.

Assim como o futuro da televisão foi muito discutido com a chegada da internet assim
como os jornais impressos (que cada dia mais estão definhando com informações
antigas). Mas o que sabemos é que a convergência e a transformação que a internet
trouxe para o mundo mudarão definitivamente qualquer meio de comunicação existente
e a rádio é um deles.

Ultimamente é comum falar de sites como: Lastfm e o Blipfm. Eles são listas virtuais de
músicas que possibilitam ao ouvinte ter suas músicas favoritas a sua disposição de
forma aleatória em qualquer lugar do mundo através da web. Esses tipos de sites não
configuram uma rádio web, mas demonstra claramente as possibilidades de
convergência digital. É nesse momento que podemos construir uma análise das grandes
possibilidades de “renascimento” e firmamento de um novo conceito de rádio. Em
muitos desses sites que disponibilizam listas musicais criam-se vínculos afetivos através
de redes sociais. Dessa maneira podemos concluir que essa nova plataforma de
disseminação musical uni três conceitos básicos: transmissão musical, redes
sociais/interação e convergência digital ao passo que a estrutura ocorre na web.

É importante definir aqui o que é uma web rádio – diferencialmente da rádio


convencional ela pode ser ouvida em qualquer lugar do mundo através da web por meio
de plataformas diversas como: receptor digital do carro, player do computador, pelo
aparelho celular e mais recentemente através dos consoles de games. Além dessas
possibilidades podemos ouvir a rádio pelo próprio site da web-rádio via dispositivo
chamado streaming. Um dos sites mais conhecidos que disponibiliza inúmeras web
rádios e rádios analógicas com transmissão via streaming é o
http://www.radios.com.br/.

Fica aqui a idéia relacionada a The Long Tail, ou Calda Longa: A internet está aí para
todos e com a possibilidade da convergência das mídias qualquer um tem a
oportunidade de fazer acontecer na web, porém a de se ter o diferencial. Ser sempre
uma pessoa engajada e pronta para novas possibilidades.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

CHANTLER, Paul & Sim Harris. Radiojornalismo. São Paulo: Summus Editorial,
1998.
FELICE, Mauro de. Jornalismo de rádio. São Paulo: Thesaurus, 1981.
JUNG, Milton. Jornalismo de Rádio. São Paulo: Editora Contexto, 2004.
PERUZZOLO, Adair Caetano. Comunicação e cultura. Porto Alegre: Sulina, 1972.
STEPHENS, Mitchell. História das comunicações – do tantã ao satélite. Rio de
Janeiro: Editora Civilização Brasileira S/S, 1993.

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