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Por mais que pareça óbvio para o homem contemporâneo, o conceito de íntimo e privado

nem sempre foi tratado como natural. Richard Sennett diz em “O declínio do homem
público: as tiranias da intimidade”, que a tendência de tratar a vida privada como um
privilégio natural do ser humano em detrimento da vida pública, não é própria do ser social,
e sim um resultado de uma mudança que ocorreu sobre a idéia do homem moderno
ocidental no século XVIII.

O desequilíbrio entre a vida privada e a pública tem nascente na continuidade entre o teatro
e a cidade. A expressão do indivíduo no século XVIII era tratada como de sentimentos e
condições íntimas, tornando-se invasiva para quem a assiste e perigosa para quem a efetua,
dessa maneira, a expressão era separada e situada no domínio da arte. De acordo com
Richard Sennette : “O homem agora precisa agir de maneira autêntica, conforme os seus
sentimentos e não conforme os seus interesses”. A falta de sentimentos na vida pública é o
que a tornaria indesejável, levando a uma reclusão na vida íntima. Nesse sentido, a ação
coletiva se torna restrita, só parece autêntico associar-se a grupos e pessoas que tenham
personalidade semelhante, e na busca da autodefinição, os próprios interesses desses grupos
são ignorados. Para Sennett são nesses dois pontos que constroem-se o declínio do homem
público, o distanciamento dos sentimentos na vida pública e a diminuição das ações
coletivas.

Segundo Richard Sennette, existe um problema sóciopolítico e um problema pessoal.


Sóciopolítico no sentido de que os modelos contemporâneos de ação coletiva, enfraquecem
a capacidade do homem urbano de agir defendendo interesses de classes, ao invés disso,
esse mesmo homem encontra-se vulnerável ao poder de expressividade, poder este que é
então aproveitado pelo político para suscitar em sua platéia a identificação. O poder de
expressividade nesse sentido é usado pelo político como força para exercer a identificação
com os demais.
O problema pessoal encontra-se na incapacidade de sentir e no vazio de sentido, que a
obsessão da personalidade e a descodificação da expressão criam, fazendo do narcisismo a
psicopatologia do nosso tempo. Richard Sennett diz que o narcisista engloba todo o mundo
externo na definição de si, porém, não consegue definir-se completamente. Como as
interações são sempre desvalorizadas por serem consideradas insuficientes, a satisfação
acaba por ser adiada. Esse é o desequilíbrio não saudável entre a vida intíma e a pública, as
relações pessoais, amorosas e fraternas são sobrecarregadas de expectativas, e dessa
maneira correm um grande risco de fracasso.

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