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Watchman Nee
Quem é Pecador?
O Maior Pecado
Capítulo Dois
O Amor de Deus
A Misericórdia de Deus
A Natureza da Graça
No primeiro capítulo, tratamos do problema do pecado. No
segundo, falamos acerca da graça de Deus. Entretanto, não
concluímos essas questões; portanto este capítulo será uma
continuação dos anteriores que tratará adicionalmente das
questões da graça e do pecado.
Primeiramente temos de ver qual é a natureza da graça.
Que características a graça possui? Valorizamos o amor de Deus,
pois sem o amor de Deus como fonte não haveria o fluir da
salvação. O fluir da salvação resulta do amor de Deus. Ao
mesmo tempo, sem a misericórdia de Deus não haveria a
possibilidade de salvação. Por ter Deus mostrado misericórdia
para conosco, Ele nos deu a Sua salvação. A salvação de Deus é
a expressão concreta do amor de Deus. Por isso valorizamos o
amor e também valorizamos a misericórdia. Contudo, o que de
mais precioso nos alcança é a graça. O amor sem dúvida é bom,
mas ele não nos traz nenhum benefício concreto. A misericórdia
é também muito boa, mas ela não nos traz qualquer benefício
direto; no entanto, com a graça há um benefício direto. Portanto,
a graça é mais preciosa. O Novo Testamento está repleto, não
com o amor de Deus nem com a misericórdia de Deus, mas com
a graça de Deus. Graça é o amor de Deus vindo para cumprir
algo para o pecador caído, perdido e que perece. Agora não
temos somente um amor abstrato e uma misericórdia
sentimental, mas temos a graça que vem ao encontro das
nossas necessidades de maneira concreta.
Podemos achar que já é bastante maravilhoso se Deus for
misericordioso conosco. Um carnal ou uma pessoa que vive na
carne pensará que misericórdia é suficiente. O Antigo
Testamento está repleto de palavras de misericórdia. Não
existem muitas palavras sobre graça. Quando o homem está na
carne, ele acha que misericórdia basta, que não há necessidade
de graça. Ele pensa assim por não considerar o pecado como
algo grave. Se o homem estivesse sem comida, sem roupas ou
sem casa, misericórdia não seria suficiente; haveria também a
necessidade de graça. Mas o problema com o pecado não é falta
de comida, de roupas ou de casa. O problema com o pecado é a
inquietação na consciência do homem e o julgamento diante de
Deus. Por essa razão, o homem acha que se tão-somente Deus
fosse misericordioso conosco e um pouco mais brando, tudo
estaria bem. Se Deus desconsiderasse nossos pecados já seria
bastante bom para nós. Em nosso coração esperamos que Deus
seja misericordioso conosco e nos deixe ir. O conceito do homem
é deixar ir e desconsiderar. Mas Deus não pode
misericordiosamente desconsiderar nossos pecados. Ele não
pode deixar-nos ir de qualquer jeito. Ele precisa lidar totalmente
com nossos pecados.
Deus não somente tem de mostrar misericórdia para
conosco, como também tem de nos conceder graça. O que
procede do amor de Deus é a graça. Deus não está satisfeito
somente com a misericórdia. Pensamos que se houvesse a
misericórdia e que se Deus nos deixasse ir e não ajustasse
contas conosco, tudo estaria bem. Mas Deus não disse que
desde que tenha pena de nós Ele nos deixaria ir. Essa não é a
maneira de Deus trabalhar. Quando age, Ele faz em harmonia
Consigo mesmo. Portanto, o amor de Deus não pode parar na
misericórdia. Seu amor deve estender-se até a graça. Ele deve
lidar completamente com o problema dos nossos pecados. Se o
problema dos pecados fosse algo que pudesse ser
desconsiderado, a misericórdia de Deus seria suficiente. Mas
deixar-nos ir e desconsiderar nossos pecados não é suficiente
para Ele. Assim, ter só a misericórdia não é suficiente. Ele deve
pôr a questão de pecados completamente em ordem. Aqui
vemos a graça de Deus. É por isso que o Novo Testamento,
embora não isento de misericórdia, está cheio de graça. Ali
vemos como o Filho de Deus, Jesus Cristo, veio ao mundo para
manifestar a graça e tornar-se graça a fim de que pudéssemos
receber graça.
Que é graça? Graça nada mais é que a grande obra de Deus
realizada gratuitamente em Seu amor incondicional e ilimitado
em favor do homem desamparado, indigno e pecador. A graça
de Deus é simplesmente Deus trabalhando para o homem. Como
isso se diferencia da lei? A lei é Deus exigindo que o homem
trabalhe para Ele, enquanto a graça é Deus trabalhando para o
homem. Que é a lei? A lei é a exigência de Deus para que o
homem faça algo para Ele. Que é obra? Obra é o esforço do
homem para fazer algo para Deus. Que é graça? Graça nem é
Deus exigindo algo nem é Deus recebendo a obra do homem,
mas graça é Deus fazendo a Sua própria obra. Quando Deus vem
para fazer algo pelo homem e a favor do homem, isso é graça.
A ênfase no Novo Testamento não está no princípio da lei.
Na verdade, o Novo Testamento opõe-se ao princípio da lei, pois
a lei e a graça jamais podem misturar-se. É Deus quem está
trabalhando ou é o homem? Deus está dando algo para o
homem ou está pedindo algo do homem? Se Deus estiver
pedindo algo do homem, nós ainda estamos na era da lei.
Contudo, se Deus estiver dando algo para o homem, estamos na
era da graça. Você não iria à casa de alguém dar-lhe dinheiro se
houvesse ido lá para pedir dinheiro. Semelhantemente, lei e
graça são princípios opostos; elas não podem ser colocadas
juntas. Se é para o homem receber graça, ele deve colocar a lei
de lado. Por outro lado, se ele seguir a lei, cairá da graça.
Se é para o homem seguir a lei, ele deve ter suas obras
aceitas por Deus. Se há o princípio da lei e das obras e se o
homem deve dar algo a Deus, ele deve dar-Lhe aquilo que Ele
exige. A Bíblia indica que as obras do homem deveriam ser uma
resposta à lei de Deus. A lei de Deus requer que se faça algo. Ao
fazê-lo, estou respondendo à lei de Deus. Isso é o que a Bíblia
chama de obras. Mas quando a graça vem, o princípio da lei e
das obras é posto de lado. Aqui vemos que é Deus trabalhando
pelo homem em vez de o homem trabalhar para Deus.
Graça, que é Deus trabalhando pelo homem desamparado,
infeliz e aflito, tem três características ou naturezas. Quem
quiser entender a graça de Deus deve lembrar-se dessas três
características ou naturezas. Se nos esquecermos delas, como
pecadores não seremos salvos, e como cristãos fracassaremos e
cairemos. Se virmos as características e a natureza da graça de
Deus, receberemos mais graça de Deus para socorro em ocasião
oportuna. Vamos considerar brevemente essas três
características na Bíblia.
Quais são as obras do homem? Genericamente falando,
existem três coisas consideradas como obras do homem: 1) seus
delitos, 2) suas realizações e 3) suas responsabilidades. As obras
más do homem são seus delitos; as boas são suas realizações e
as obras que ele está disposto a assumir suas responsabilidades.
Aqui temos três coisas: das coisas que o homem faz, as que não
são bem feitas tornam-se seus delitos; as que são bem feitas
tornam-se suas realizações, e as que ele promete fazer para
Deus são suas responsabilidades. Na questão do tempo, delitos e
realizações são coisas do passado, enquanto responsabilidades
são coisas do futuro; são coisas pelas quais um homem é
responsável. Se a graça de Deus é Deus trabalhando pelo
homem pecaminoso, fraco, ímpio e desamparado,
imediatamente vemos que a graça de Deus e o delito do homem
não podem ser unidos. Tampouco pode a graça de Deus ser
unida às realizações e responsabilidades do homem. Quando a
questão do delito entra em cena, a graça não existe. Quando a
questão da realização entra em cena, a graça também não
existe. De semelhante modo, onde houver a responsabilidade, a
graça não existirá. Se a graça de Deus é de fato graça, os
delitos, as realizações e as responsabilidades não podem ser
misturados a ela. Sempre que os delitos, as realizações e as
responsabilidades são adicionados, a graça de Deus perde suas
características.
Capítulo Quatro
A Função da Lei
Compreendemos que a posição do homem diante de Deus é
a de um pecador. Agora, consideremos por que Deus
estabeleceu a lei. Uma vez compreendida a lei, seremos capazes
de compreender a obra de Deus.
Deus sempre soube da condição do homem, mas o homem
conhece sua própria condição? Posto que o pecado foi
manifestado diante de Deus, ele também deve ter sido sentido
na consciência do homem. Todavia, a consciência do homem
está apercebida do pecado? Infelizmente, não. Porquanto o
homem não percebe o pecado, precisamos do operar da lei.
Neste livro vamos estudar este assunto.
Que é a lei? A lei nada mais é do que a exigência de Deus
para que o homem trabalhe para Ele. Em Romanos, Efésios e
Gálatas, o apóstolo Paulo mostra repetidamente que o homem é
salvo pela graça, não pela lei. Em outras palavras, o homem é
salvo porque Deus trabalha para o homem, não porque o homem
trabalha para Deus. Não é uma questão de sermos algo diante
de Deus ou de fazermos algo para Deus, mas do próprio Deus vir
para o nosso meio a fim de tornar-se algo e fazer algo por nós.
Essa é a razão de o apóstolo, sob a revelação do Espírito Santo,
constantemente enfatizar este ponto: que tanto para os gentios
como para os judeus, a salvação procede absolutamente da
graça e não da lei. Queremos gastar algum tempo para ver que é
impossível o homem ser salvo pela lei. Não estou usando o
termo lei em referência à lei mencionada no Antigo Testamento.
Lei, conforme aplico aqui, refere-se a um princípio, isto é, o
princípio de o homem trabalhar para Deus. Veremos se a nossa
salvação depende ou não de fazermos algo para Deus.
A maneira como utilizo a palavra lei não é sem base bíblica.
O apóstolo Paulo usava as palavras de um modo muito preciso e
significativo. Na Bíblia, a palavra Cristo é freqüentemente
utilizada. Na língua original, algumas vezes não há o artigo
definido antes da palavra Cristo. Em outras ocasiões existe um
artigo definido, e neste caso podemos entendê-la como o Cristo.
Infelizmente, não muitas versões traduzem isso precisamente.
Outra palavra freqüentemente usada é fé. Algumas vezes há um
artigo definido na frente dela; nesses lugares é a fé. Da mesma
forma, existem lugares na Bíblia onde a palavra lei também tem
um artigo definido antes dela, e devemos ler a lei.
Os significados dessas poucas palavras com o artigo
definido são bem diferentes de seus significados sem o artigo
definido. Por exemplo, quando Cristo é mencionado, refere-se ao
Senhor Jesus Cristo; mas quando o Cristo é mencionado, você e
eu também estamos incluídos. Quando a Bíblia fala do Cristo
individual, não há artigo definido; mas ao falar do Cristo que nos
inclui, encontramos o Cristo. Quando a Bíblia fala do nosso crer
individual, ela usa fé, sem o artigo. Todavia, ao falar naquilo que
cremos, isto é, nossa fé, ela usa a fé. Os tradutores da Bíblia
sabem que sempre que a Bíblia menciona a fé, ela não está se
referindo ao nosso crer normal, mas àquilo em que cremos. Que,
então, é a lei? Na Bíblia, a lei sempre se refere à lei de Moisés, a
lei no Antigo Testamento. Porém, se não houver o artigo definido
antes de lei, esta refere-se à exigência que Deus faz ao homem.
Portanto, tenhamos em mente que lei na Bíblia não se
refere meramente à lei dada a nós por Deus, por intermédio de
Moisés. Em muitos lugares na Bíblia, lei refere-se ao princípio
que Deus aplica a nós ou ao princípio da exigência de Deus para
conosco. A lei significa apenas a lei mosaica, a lei dada no monte
Sinai, ou a lei do Antigo Testamento. Ela também significa as
condições para a comunhão entre Deus e o homem. A condição
para a comunhão entre Deus e o homem é a exigência que Deus
faz ao homem, o que Ele quer que o homem faça e execute por
Ele.
O homem é salvo pelas obras da lei? Deus salva o homem
por que este faz coisas por Ele? Todo mundo diz que devemos
fazer o bem antes de Deus nos salvar. Se pusermos isso em
termos bíblicos, significa que devemos ter as obras da lei a fim
de sermos salvos. Os que falam dessa maneira cometem dois
grandes erros. O primeiro é que desconhecem quem é o homem.
O segundo é que não compreendem qual era a intenção de Deus
ao dar a lei ao homem. Se soubermos o que somos, certamente
não diremos que o homem precisa ter obras da lei para ser
salvo. E, se conhecermos o propósito de Deus ao dar a lei,
tampouco diremos que o homem pode ser salvo pelas obras da
lei. Por ter cometido esses dois grandes erros, o homem carrega
um conceito errado e diz coisas erradas.
Por que o homem diz que pode ser salvo pelas obras da lei
quando nem mesmo sabe o que ele é? É porque o homem não
sabe quão maligno ele é; ele não sabe que é carnal. Uma vez
que o homem se tornou carne, existem três coisas nele que são
imutáveis: sua conduta, sua lascívia e sua vontade. Por ser
carnal, o que quer que ele faça é pecado e é maligno. Ao mesmo
tempo, sua lascívia interior está ativamente tentando-o,
provocando-o a pecar o tempo todo. Além disso, a vontade e o
desejo do homem rejeitam Deus. Uma vez que a conduta do
homem é contrária a Deus, sua concupiscência incita-o a pecar e
a sua vontade é rebelde contra Deus, não há possibilidade de o
homem ter as obras da lei e ser obediente a Deus. Portanto, é
impossível que o homem satisfaça a exigência de Deus por meio
da justiça da lei.
Não temos somente nossa conduta exterior, mas também
temos a concupiscência em nosso corpo; e não temos somente a
concupiscência em nosso corpo, mas também temos a vontade
em nossa alma. Você pode ser capaz de lidar com sua conduta,
mas quando a concupiscência desperta dentro de você, mesmo
que não consiga produzir uma conduta exterior pecaminosa, ela
existe em você e provoca-o o tempo todo. E, mesmo que você
odeie sua lascívia e se esforce ao máximo para lidar com ela, a
sua vontade é totalmente incompatível com a de Deus. Nas
profundezas do coração, o homem é rebelde contra Deus e quer
crucificar o Senhor Jesus. Por um lado, a cruz significa o amor de
Deus; mas por outro significa o pecado do homem. A cruz
significa o grande amor que Deus tem ao tratar com o homem;
mas ela também significa o tremendo ódio que o homem tem de
Deus. O Senhor Jesus foi crucificado não apenas pelos judeus,
mas também pelos gentios. A vontade do homem para com Deus
nunca mudou. A vontade do homem está em total inimizade
contra Deus.
Romanos 8:7-8 diz: “Por isso, o pendor da carne é inimizade
contra Deus, pois não está sujeito à lei de Deus, nem mesmo
pode estar. Portanto, os que estão na carne não podem agradar
a Deus”. A mente posta na carne é inimizade contra Deus. Os
que estão na carne não estão sujeitos à lei de Deus, nem mesmo
o podem estar. Não compreendemos suficientemente o homem.
Achamos que o homem ainda é curável e útil. Por isso, dizemos
que as obras da lei ainda podem salvar o homem. Mas o homem
jamais pode estar sujeito à lei de Deus; simplesmente não é
nossa natureza fazê-lo. Em nossa conduta não existe o poder de
ser submisso e nossa natureza não consegue ser submissa. Não
somente somos incapazes de ser submissos, nós simplesmente
não estamos dispostos a ser submissos. Ser incapaz de se
sujeitar é uma questão da nossa natureza e da nossa lascívia;
não estar disposto a ser submisso é uma questão da nossa
vontade. Fundamentalmente, na sua vontade, o homem não está
sujeito a Deus.
Portanto, a lei somente irá manifestar a fraqueza, a
impureza e a pecaminosidade do homem. Ela não manifestará a
justiça do homem. Se alguém diz que uma pessoa pode receber
vida e ser justificada pelas obras da lei, esse realmente não
conhece o homem. Se o homem não fosse carnal nem
pecaminoso, a lei talvez pudesse dar-lhe vida. Essa é a razão de
Gálatas 3:12 dizer: “Aquele que observar os seus preceitos [as
obras da lei, por eles viverá”. Infelizmente, os seres humanos
são todos pecadores. Eles são carnais e impotentes para se
sujeitarem a Deus, e não têm coração de se submeter a Deus. O
homem não tem força para fazer as obras da lei nem coração
para isso. A lei é boa, mas a pessoa que faz as obras da lei não
é. Todos devemos admitir isso.
Capítulo Cinco
A Justiça de Deus
Nos primeiros capítulos, vimos que o homem pecou e que a
salvação de Deus é baseada no fato de o homem ter pecado. Se
o homem não tivesse pecado, não haveria necessidade de
salvação. Uma vez que o homem pecou, Deus deu a lei para
mostrar-lhe que ele pecou. A lei de Deus veio ao mundo a fim de
que as transgressões humanas abundassem. No princípio, o
homem tinha apenas pecado; ele não tinha transgressões. Mas
quando a lei veio, o homem não só possuía pecado, mas também
transgressões. Após transgredir, o homem percebe que é um
pecador. Graças ao Senhor, porque apesar de termos pecado e
transgredido, Deus, que é amor, propôs-se a dar-nos graça e
misericórdia. Ele propôs fazer algo para nós a fim de resolver os
problemas que não podemos resolver por nós mesmos.
Neste capítulo, contudo, devemos ver algo mais. Apesar de
Deus nos amar e mostrar-se misericordioso para conosco e
apesar de pretender plenamente nos dar graça, há algo que
torna muito difícil para Deus fazê-lo. Deus não pode conceder-
nos graça instantaneamente; Ele não pode dar-nos vida eterna
diretamente. Há um dilema que Deus deve resolver antes de
poder conceder-nos graça. O problema, o qual a Bíblia menciona
freqüentemente, é a própria justiça de Deus.
A expressão justiça de Deus tem confundido muitos
teólogos há séculos. Se lermos a Bíblia sem conceitos nocivos ou
noções preconcebidas, Deus nos mostrará o que é a Sua justiça.
Podemos ver essa questão claramente sem muita dificuldade.
Neste capítulo, desejamos ver, pela graça de Deus, o que é a
justiça de Deus. Em outras palavras, esperamos ver a dificuldade
que Deus encontra quando Ele nos salva.
Sua Salvação Combinada com Sua Justiça
Redenção e Substituição
Capítulo Oito
Capítulo Nove
Há uma coisa que precisa estar clara para nós. Ter vida
eterna é diferente de entrar no reino dos céus. Todos os que não
conseguem ver a diferença entre vida eterna e o reino dos céus
jamais terão clareza acerca do caminho da salvação e do
caminho da preservação. O Senhor Jesus disse que de João
Batista até agora o reino dos céus é tomado por violência (Mt
11:12). Os violentos o tomam. A lei e as profecias dos profetas
terminaram com João (11:12, 13). Baseados nessa palavra,
alguns têm dito que precisamos ser violentos, isto é, devemos
esforçar-nos para ser salvos. Se não nos esforçarmos, não
seremos salvos. Uma pessoa diz isso porque não consegue dizer
qual a diferença entre o reino dos céus e a vida eterna. Existe
uma diferença entre a vida eterna e o reino dos céus.
A primeira diferença entre ambos é em relação ao tempo. A
vida eterna é para a eternidade, mas o reino não é para a
eternidade. Quando o novo céu e a nova terra vierem, o reino
dos céus passará. O reino dos céus denota o governo de Deus. O
período do governo de Deus é o período do reino dos céus. A
soberania de Deus na terra e Seu governo sobre a terra serão
manifestados por somente mil anos. Que são os céus? O livro de
Daniel fala sobre o governo dos céus (7:27). Portanto, o reino
dos céus é a esfera na qual os céus governam. Quando o Senhor
Jesus vier reger a terra, aquele será o tempo em que os céus
governarão. Hoje quem governa a terra é o diabo, Satanás. A
política e a autoridade mundial hoje em dia são de Satanás. O
Senhor Jesus não reinará senão no período do reino dos céus.
Mas o período no qual a autoridade dos céus será efetuada é
muito curto. Em 1 Corintios 15:24 é dito: “E, então, virá o fim,
quando ele entregar o reino ao Deus e Pai, quando houver
destruído todo principado, bem como toda potestade e poder”. O
reino será entregue a Deus Pai. Portanto, há um limite temporal
para o reino. Contudo, a vida eterna é para sempre. Todo o que
lê 1 Coríntios 15 sabe que no início do novo céu e nova terra, isto
é, na conclusão do milênio, o reino será entregue. Portanto, há
uma diferença temporal entre a vida eterna e o reino dos céus.
A segunda diferença reside no método pelo qual o homem
entra no reino dos céus e na maneira pela qual ele obtém a vida
eterna. O recebimento da vida eterna é o assunto de todo o
Evangelho de João. A maneira de se obter a vida eterna é por
meio do crer. Uma vez que cremos, obtemos. Nunca lemos de
outra forma. Contudo, entrar no reino dos céus não é uma
questão simples. Todo o Evangelho de Mateus menciona o reino
dos céus trinta e duas vezes. Nenhuma vez é dito que o reino
dos céus é recebido pela fé. Como um homem ganha o reino dos
céus? Mateus 7:21 diz: “Nem todo o que Me diz: Senhor, Senhor!
entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de Meu
Pai, que está nos céus”. Pode-se ver que a entrada no reino dos
céus é mais uma questão de obra do que de fé. Mateus 5:3
também nos diz: “Bem-aventurados os pobres em espírito,
porque deles é o reino dos céus”. Aqui não diz vida eterna, mas
o reino dos céus. Para ter o reino dos céus, a pessoa precisa ser
pobre no espírito. O Senhor também diz: “Bem-aventurados os
que são perseguidos por causa da justiça, porque deles é o reino
dos céus” (v.10). Não é necessário ser perseguido para receber a
vida eterna, mas o reino é para os que têm sido perseguidos por
causa da justiça. Mesmo se um homem tiver a vida eterna, se
ele não tem sido perseguido por causa da justiça hoje e não é
pobre no espírito, ele ainda pode não ter parte no reino.
Há uma terceira diferença. É quanto à atitude que os
cristãos devem ter acerca da vida eterna e do reino dos céus.
Com relação à vida eterna, Deus nunca nos disse para
procurarmos obtê-la. Pelo contrário, toda vez que é mencionada,
Ele nos mostra que já a temos. Entretanto, com relação ao reino,
a palavra da Bíblia diz que devemos procurar obtê-lo e buscá-lo
diligentemente. Hoje, em se tratando do reino, estamos no
estágio de busca; ainda não o obtivemos. Ainda temos de
empregar esforço para buscar e persistir em obter o reino.
A quarta diferença reside na maneira como Deus considera
o reino e a vida eterna. Deus considera a vida eterna como um
presente; ela é dada a nós (Rm 6:23). Não se vê uma pessoa
indo ao Senhor para buscar vida eterna. Nunca houve tal coisa,
pois a vida eterna é uma graça gratuita; ela é dada por meio do
Senhor Jesus para todos aqueles que crêem Nele. Não existe
diferença entre alguém que busca e alguém que não está
buscando. Contudo, o mesmo não ocorre com o reino. Lembre-se
da mãe dos dois filhos de Zebedeu que veio ao Senhor Jesus
querendo que o Senhor fizesse com que seus dois filhos se
sentassem um de cada lado Dele no reino (Mt 20:21). Mas o
Senhor Jesus disse: “O assentar-se à Minha direita e à Minha
esquerda não Me compete concedê-lo; mas é para aqueles a
quem está preparado por Meu Pai” (v. 23). A graça é obtida uma
vez que O invocamos. Mas o reino depende se alguém pode ser
batizado em Seu batismo e pode beber o cálice que Ele bebeu.
Ambos os discípulos disseram que podiam. Todavia, o Senhor
disse que apesar de terem prometido que o fariam, a questão
não cabia a Ele decidir. O Pai é Aquele que o concede.
Além disso, o criminoso que foi crucificado juntamente com
o Senhor disse a Ele: “Jesus, lembra-te de mim quando entrares
no Teu reino”. (Lc 23:42). O Senhor Jesus ouviu sua oração? Sem
dúvida que sim. Mas Ele não concedeu seu pedido. O criminoso
pediu que o Senhor se lembrasse dele quando o Senhor
recebesse o reino. O Senhor Jesus não lhe respondeu que ele
estaria com Ele no reino. Pelo contrário, Ele respondeu-lhe: “Hoje
estarás Comigo no Paraíso”. (v. 43). O Senhor não lhe respondeu
sobre o reino. Mas Ele lhe deu uma resposta com relação ao
paraíso. Uma vez que O invoquemos, podemos ir ao Paraíso.
Contudo, não é tão simples ir ao reino. Portanto, há uma grande
diferença aqui. A atitude de Deus para com a vida eterna e o
reino dos céus é diferente: um é o presente de Deus e o outro é
a recompensa de Deus.
Com respeito à diferença entre o reino dos céus e a vida
eterna, existem outras passagens na Bíblia que são muito
interessantes. Agora, chegamos à quinta diferença. Apocalipse
20 mostra-nos que os mártires recebem o reino, embora não
diga que sejam os únicos a receberem o reino (v. 4). A Bíblia,
entretanto, nunca nos mostra que o homem deva ser martirizado
a fim de receber a vida eterna. Se esse fosse o caso, o
cristianismo tornar-se-ia uma religião de morte, posto que o
homem deveria morrer. Contudo, não se vê coisa semelhante.
Entretanto, o reino é diferente. O reino requer esforço. Até
mesmo requer o martírio para obtê-lo. Por exemplo, a pobreza é
uma condição para o reino dos céus. Para obter o reino dos céus,
a pessoa precisa perder suas riquezas. A Bíblia nos mostra
claramente que nenhuma pessoa na terra que seja rica segundo
seus próprios meios pode entrar no reino dos céus. Não podemos
dizer que nenhum rico possa ser salvo. Não podemos dizer que
ninguém pode entrar na vida eterna se não quiser perder suas
riquezas. Assim como é difícil um camelo passar pelo fundo de
uma agulha, da mesma forma é difícil um rico entrar no reino
dos céus (Mt 19:24). Todavia, você já ouviu dizer que por ser
impossível um camelo passar pelo fundo de uma agulha, da
mesma forma é impossível que um rico seja salvo e tenha a vida
eterna? Graças ao Senhor. O pobre pode ser salvo. Assim como o
rico pode. O pobre pode herdar a vida eterna e o rico também
pode. Contudo, entrar no reino dos céus é um problema para o
rico. Se acumularmos riquezas na terra, não seremos capazes de
entrar no reino dos céus. É óbvio que isso não significa que
alguém tenha de desistir de toda a sua riqueza hoje. Estou
dizendo que a pessoa tem de entregar toda a sua riqueza ao
Senhor. Somos apenas os administradores. Não somos o dono da
casa. A Bíblia nunca reconhece um cristão como o dono de seu
dinheiro. Cada um é apenas um administrador do dinheiro que é
para o Senhor. Todos nós somos apenas os administradores do
Senhor. Existe esta condição para entrar no reino.
Há outra coisa muito peculiar. Não se vê as questões de
casamento e família envolvendo a questão da vida eterna. Mas o
evangelho de Mateus diz que alguns não se casam por causa do
reino dos céus. Alguns até mesmo se fizeram eunucos por causa
do reino dos céus (Mt 19:12). A fim de entrar no reino dos céus e
ganhar um lugar no reino, eles escolheram permanecer virgens.
Ninguém vê a vida eterna ser negada a uma pessoa casada. Se
esse fosse o caso, Pedro teria sido o primeiro a ter problema,
pois ele tinha sogra (Mt 8:14). Vemos que a questão da vida
eterna não está de forma nenhuma relacionada à família e ao
casamento, mas a questão do reino está muitíssimo relacionada
à família e ao casamento. Essa é a razão de a Bíblia dizer que
aqueles que têm esposa devem ser como se não a tivessem. Os
que se utilizam do mundo devem ser como se dele não
utilizassem, e os que compram como se nada possuíssem (1 Co
7:29-31). Isso tem muito a ver com nossa posição no reino dos
céus.
Finalmente, temos de mencionar outra diferença. No reino,
há diversos níveis de graduação. Mesmo que os homens sejam
capazes de entrar no reino, há diferença na posição que eles
ocupam ali. Alguns receberão dez cidades, outros receberão
cinco (Lc 19:17-19). Alguns receberão meramente uma
recompensa, mas outros receberão um galardão. Alguns
ganharão uma rica entrada no reino (2 Pe 1:11). Alguns entrarão
no reino sem uma rica entrada. Portanto, existe uma diferença
de graduação no reino. Mas nunca haverá uma questão de
graduação com relação à vida eterna. A vida eterna é a mesma
para todos. Ninguém receberá dez anos a mais que o outro. Não
existe diferença na vida eterna, todavia no reino há diferença.
Se alguém ponderar um pouco, perceberá que na Bíblia, o
reino e a vida eterna são duas coisas absolutamente diferentes.
A condição para a salvação é a fé no Senhor. Além da fé, não há
outra condição, pois todos os requisitos já foram cumpridos pelo
Filho de Deus. A morte de Seu Filho satisfez todas as exigências
de Deus. Mas entrar no reino dos céus é outra questão: requer
obras. Hoje um homem é salvo pela justiça de Deus. Mas não
podemos entrar no reino dos céus a menos que nossa justiça
exceda a dos escribas e fariseus (Mt 5:20). A justiça no viver e
na conduta de uma pessoa deve ultrapassar a dos escribas e
fariseus para que ela possa entrar no reino dos céus. Portanto,
pode-se ver que a questão da vida eterna é completamente
baseada no Senhor Jesus. Contudo, a questão do reino está
baseada nas obras do homem. Não estou dizendo que reino é
melhor que vida eterna, mas Deus tem um lugar tanto para um
como para outro.
Capítulo Dez
Capítulo Doze
CONFISSÃO NA BÍBLIA
MATEUS 3:5 e 6
ATOS 19:18 E 19
Capítulo Treze
Capítulo Catorze
O Caminho da Salvação — Fé
A Função da Fé — Substantificação
Capítulo Quinze
Capítulo Dezesseis
AS PROMESSAS DE DEUS
Capítulo Dezessete
Capítulo Dezoito
Capítulo Dezenove
RECOMPENSA E DOM
A Bíblia diz que o Senhor nos disciplina porque nos ama (Hb
12:6). O homem quando ama, é tolerante. Mas Deus quando
ama, disciplina. Quando o homem ama, ele é negligente. Mas
quando Deus ama, Ele é sério. Se Deus não nos tivesse amado,
Ele não teria enviado Seu Filho para morrer pelos nossos
pecados na cruz. Da mesma forma, se Deus não nos amasse, Ele
não nos disciplinaria. O amor disciplinador de Deus é semelhante
ao Seu amor salvador, o qual fez com que Ele enviasse Seu Filho
para morrer por nós na cruz. Foi Seu amor que fez Seu Filho
morrer em nosso favor. Da mesma forma é Seu amor que nos
disciplina. Todo cristão deveria saber que não há contradição
entre a disciplina de Deus e a graça de Deus. Pelo contrário, a
disciplina de Deus manifesta a graça de Deus. Apesar de termos
visto que uma pessoa não pode perecer após ser salva, jamais
podemos dizer que essa pessoa nunca sofrerá a disciplina de
Deus. Agora, a questão é se a disciplina de Deus restringe-se a
esta era ou se ela se estende à era vindoura também. Essa é
uma questão que muitos jamais consideraram. Então vamos
examiná-la.
A Bíblia nos mostra que a disciplina de Deus não se
restringe somente a esta era. Ela também pode ser vista na
próxima era. Muitos restringiram a disciplina de Deus a esta era.
Entretanto, você não consegue encontrar na Bíblia nenhuma
base para tal ensinamento. Em se tratando de experiência cristã,
certamente existe a possibilidade de disciplina na era vindoura.
Muitos não têm sido disciplinados nesta era. Embora sejam filhos
de Deus, eles não têm um viver consagrado nesta era. Fazem o
que querem e em muitas coisas são desobedientes por toda a
vida, até à morte. Embora alguns sejam zelosos e trabalhem pelo
Senhor, e exteriormente até experimentem, muitos milagres e
obras de poder, todas essas coisas são feitas segundo sua
vontade pessoal e são contrárias ao propósito de Deus. Alguns
têm até mesmo pecados evidentes e transgressões específicas.
Não vemos muita disciplina neles. Pelo contrário, vivem
tranqüilamente em paz partem deste mundo. Entretanto, além
de perderem a recompensa, essas pessoas serão disciplinadas
no reino. Elas experimentarão uma disciplina específica de Deus.
Portanto, de acordo com a experiência, se um cristão viver na
terra, hoje, sem controlar suas paixões, amando o mundo e
andando nos seus próprios caminhos, ele será disciplinado na
era vindoura. Temos ampla evidência disso na Bíblia.
MISERICÓRDIA E JULGAMENTO
RESUMO
CONFISSÃO
F I M