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Claudionor Bezerra

www.pastorclaudionor.blogspot.com
claudoulos@hotmail.com
Sumário
Introdução: Problematização
I - Análise Gramatical
1.1 Tradução e Denominação de Termos
1.2 Análise Manuscritológica: Aparatus Crítico
1.3 Interpretação das Sentenças
II - Análise Histórica
III - Análise Teológica
3.1 1ª Questão
3.2 2ª Questão
Conclusão
Anexo
QUEM CEGOU O ENTENDIMENTO DOS INCRéDULOS?
Uma Análise Exegética de 2.Cor.4.4

2Cor.4.4 - Nos quais o deus deste século cegou o entendimento dos incrédulos, para que lhes não resplandeça a
luz do evangelho da glória de Cristo, que é a imagem de Deus. (Revista Corrigida Fiel)

INTRODUçãO: A PROBLEMATIZAçãO
Nesta pesquisa quero tentar responder à pergunta que lhe dá título. Uma leitura do texto
sem maiores cuidados seria suficiente e essa resposta tornar-se-ia clara e óbvia. Satanás, o deus
deste século, cegou o entendimento dos incrédulos. Talvez ninguém ainda tenha superado John
Bunyan na forma como expressou essa passagem bíblica em sua obra alegórica: “As Guerras da
famosa cidade de Alma-humana.”

Diábolo, tendo agora livre ingresso pelas portas da cidade, marchou para o centro
da mesma, a fim de tomar, tanto quanto lhe fosse possível, [...] E, não se
considerando ainda perfeitamente seguro, tomou outras precauções, sendo uma
delas demitir alguns dos funcionários públicos da cidade. Aconteceu assim que o
governador, que era o sr. Entendimento, tivera de abandonar seu cargo.
O governador era um homem inteligentíssimo, e não se havia oposto a que os
habitantes de Alma-humana abrissem a porta ao gigante, mas Diábolo não julgou
prudente que ele continuasse exercendo as suas elevadas funções, por ser um
homem dotado de uma visão muito clara. Tratou, portanto, de o envolver na
obscuridade, e para isso não somente o despojou do cargo que desempenhava,
mas mandou construir entre o sol e as janelas do palácio do ex-governador uma
alta e sólida torre, de maneira que ele e tudo quanto lhe pertencia ficou mergulhado
nas mais profundas trevas. E assim, inteiramente privado da luz, tornou-se como
um homem que houvesse nascido cego.
[...] O governador que Diábolo escolheu chamava-se Luxúria e não tinha olhos
nem ouvidos. Em todos os seus atos, quer como magistrado quer como homem,
procedia como um verdadeiro irracional, isto é, obedecia simplesmente aos
instintos naturais.1

A despeito de em linhas gerais este ser um ponto pacífico, tem-se levantado algumas
objeções sobre a possibilidade de 2Cor.4.4 não está se referindo a Satanás como o agente da
cegueira dos incrédulos, mas o próprio Yahweh ser o “Deus” que cegou o entendimento dos
incrédulos. Essa idéia remonta a discussão agostiniana contra o maniqueísmo que o forçou a
interpretar 2Cor.4.4 em termos judiciais, tentando dessa maneira anuviar o brilho do dualismo
maniqueísta e estabelecer o monopólio de “Deus” na sua criação, afirmando que ele era o agente
na cegueira dos incrédulos.
Apesar dessa possibilidade ser aterradora e desprovida de apoio exegético, ela fundamenta-se
em pelo menos três argumentos: (1) a presença do artigo definido (o qeo.j) estaria sinalizando para
o Deus, Pai de Jesus Cristo; (2) a correlação com outras passagens bíblicas que aponta para o
fato de Deus privar alguns de reconhecerem, ou de “verem” o real significado da mensagem
evangélica, e assim perecerem nos seus pecados; (3) o cuidado de evitar um dualismo cósmico
onde Deus e Satanás estariam medindo forças pela posse do homem.
Para tanto procurarei expor a passagem seguindo alguns princípios de interpretação
bíblica, crendo que este é um meio que o “Espírito da verdade” se agrada em conduzir o seu povo
“em toda a verdade”. E assim passaremos para uma discussão tríplice do sentido do texto, numa
perspectiva gramatical, histórica e teológica.

I ANáLISE GRAMATICAL

2
1.1 Tradução e Denominação dos Termos

evn oi-j o` qeo.j tou/ aivw/noj tou,tou evtu,flwsen


em os quais o deus do século este cegou
preposição pronome relativo artigo definido substantino artigo definido substantivo pronome 3ª pes. verbo
dativo dativo masc. pl. nominativo masc. nominativo masc. genitivo masc. sin. genitivo masc. sin. demonstrativo indicativo 1º
sin. sin. (2ªd) (3ªd) genitivo masc. sin. aoristo ativo sing.

ta. noh,mata tw/n avpi,stwn eivj to mh auvga,sai


as mentes dos incrédulos para o não iluminar
artigo definido substantivo artigo definido substantivo preposição artigo definido conjunção verbo infinitivo 1º
acusativo neutro acusativo neutro genitivo masc. pl. genitivo masc. pl. acusativo acusativo neutro negativa aoristo ativo
pl. pl. (2ªd) sing.

auvtoi/j to.n fwtismo.n tou euvaggeli,ou th/j do,xhj tou


lhes o esclareciment do evangelho da glória do
pronome 3ª artigo definido substantivo artigo definido substantivo artigo definido substantivo artigo definido
pessoa dativo acusativo masc. acusativo masc. genitivo masc. genitivo masc. genitivo fem. sing. genitivo fem. sing. genitivo masc.
masc. pl. sing. sing. (2ªd) sing. singl. (1ªd) sing.

cristou o[j evstin eivkw.n tou/ qeou


cristo que é imagem de deus
substantivo pronome relativo 3ª pessoa verbo substantivo artigo definido substantivo
genitivo masc. nominativo masc. do indicativo genitivo fem. sing. genitivo masc. genitivo masc.
sing. sing. presente ativo sing. sing.
1.2 Análise Manuscritológica: Aparatus Crítico3

TEXTO RECEPTUS (M) TEXTO CRíTICO (E)


Sentença em Análise (2Cor.4.4)
evn oi-j o` qeo.j tou/ aivw/noj tou,tou evtu,flwsen ta. noh,mata tw/n avpi,stwn eivj to. mh. auvga,sai
auvtoi/j to.n fwtismo.n tou/ euvaggeli,ou th/j do,xhj tou/ Cristou/ o[j evstin eivkw.n tou/ qeou/ 1
Aparatus Crítico
a) M (vs) E

b) qeou/ Mpt E, TR Cr (vs) + tou/ aoratou Mpt


1

T
Descrição da
Versões Mudança Textualpt Versões

COR FIEL
auvga,sai auvtoi/j to.n Omissão de palavra
t
auvga,sai to.n fwtismo.n ATU
fwtismo.n
REV COR VRE

JER

VOZ

NVI

BLH

Leitura do Aparatus Crítico

a) O primeiro codificador do aparatus significa a omissão do pronome auvtoi/j (eles) na família dos textos egípcios,

assim, apenas os textos Majoritários preservam esse pronome. Essa omissão na família egípcia não tem tanta

importância, pois não altera em nenhum sentido a intenção do autor.

b) A nota de referência aponta para uma adição da expressão tou/ aoratou (do invisível) numa parte dos textos

majoritários. Noutra parte desses textos, bem como nos textos de família egípcia a ausência é notada. Assim, o Texto

Receptus e os Textos Críticos também compartilham dessa ausência, daí porque nas versões mais conhecidas do

Brasil essa expressão também não aparece. Apesar de ser um adjetivo de Deus (do Deus invisível) a ausência dele

não traz prejuízos para o sentido da passagem.

Podemos afirmar à luz dessa análise que 2Cor.4.4 não possui nenhum problema sério de
manuscritologia, anulando assim qualquer argumento que interfira no sentido do texto recorrendo
a esse particular.

3.1 Interpretação das Sentenças 2Cor.4.4

a) Nos quais o deus deste século cegou o entendimento dos incrédulos,...


Esta sentença, bem como todo o versículo, tem como ênfase central os “avpi,stwn”
(incrédulos) e não “o` qeo.j tou/ aivw/noj” (o deus deste século). É sobre eles que o texto fala e as
perguntas interpretativas devem girar em torno deles.
Quem são estes? O pronome relativo “oi-j” nos faz retroceder para identificarmos sobre
quem o autor irá falar. E esses são os que se perdem. O versículo três é uma oração condicional
que expressa uma condição realizável com certeza, aqueles que se perdem, e somente para
estes é que o evangelho está encoberto. Esses a quem o pronome relativo aponta são os aqui
chamados de “avpi,stwn”. Isso porque os que se perdem são os incrédulos.

Mas, se ainda o nosso evangelho está encoberto, para os que


se perdem está encoberto. (2Cor.4.3)

Por que são assim identificados? São assim identificados porque estes “avpi,stwn” estão
afetados em suas mentes - “ta. noh,mata”. Esse substantivo (noêma) pode ser também traduzido
por Razão. Ele ocorre apenas seis vezes, sendo que cinco são aqui em 2Coríntios. Isso faz com
que busquemos sua significância no próprio livro. Segundo Goetzmann “é a faculdade geral do
juízo, que pode tomar decisões e pronunciar certos ou errados os vereditos, conforme as
4
influências às quais tem sido expostas”. É por essa razão que Paulo na autoridade da sua missão
cuida de levar todas as noemas cativas a Cristo.

Destruindo os conselhos, e toda a altivez que se levanta contra o


conhecimento de Deus, e levando cativo todo o entendimento
(noêma) à obediência de Cristo; (2Cor.10.5) ênfase minha.

Podemos afirmar que noêma tem uma conotação estritamente religiosa. Sendo o
entendimento da vontade divina a respeito da salvação. Essa noêma mesmo no exercício de sua
mais alta compreensão religiosa corre o risco ainda de se corromper.

Mas temo que, assim como a serpente enganou Eva com a sua
astúcia, assim também sejam de alguma sorte corrompidos os
vossos sentidos (noêma), e se apartem da simplicidade que há em
Cristo. (2Cor.11.3) ênfase minha

Contudo, o que mais nos importa aqui é que essa noêma corrompida na compreensão da
vontade divina a respeito da salvação fica inacessível à Palavra de Deus e ao entendimento das
Escrituras, ao ponto de já não perceber a iluminação que advém do Evangelho da Glória de Deus.
É exatamente essa situação que Paulo diz estar os “avpi,stwn”, ou seja, incredulidade.
Evidentemente não se pode separar radicalmente qual a causa e o efeito. Se eles têm a noêma
assim porque são incrédulos, ou se são incrédulos porque possui uma noêma corrompida. O fato é
que como resultados da boa criação de Deus algo exterior a eles certamente os afetou.
Qual a razão dessa atual condição? O próprio texto explicita qual a influência que afetou a
noema dos apistôn “o deus deste século”. De imediato precisamos agora responder uma outra
indagação: Quem é o deus deste século? Aqui chegamos ao nosso intento maior nessa
abordagem. Resta apenas duas possibilidades. Ou o texto está se referindo a “Deus” como
afirmava Agostinho nas suas interpelações contra Fausto, principal filósofo maniqueísta. Ou então
se refere a Satanás como a grande maioria dos intérpretes testifica. Deixaremos as implicações
teológicas dessa discussão para a análise teológica.
Todavia deve ficar claro que a estrutura gramatical “o` qeo.j” usando o artigo definido não
favorece a idéia de que é “Deus” e não Satanás. A razão é óbvia. De onde veio a idéia de que todas
as vezes que se usa o artigo definido refere-se a “Deus”. Estamos diante de uma falácia
exegética. Entre as falácias que Carson alista na sua obra: “A Exegese e suas Falácias” essa se
configura na chamada falácia vocabular. Ela ocorre quando se diz que uma palavra tem um
sentido ligado à sua forma. No caso em questão se instalou na forma (o artigo definido em “o` qeo.j”)
um sentido (refere-se a “Deus”). Carson ironiza esse tipo de postura citando Soderblom: “A
filologia é o fundo da agulha através do qual todo camelo teológico deve entrar nos céus da
teologia.”5
Deve-se entender que a função semântica do artigo definido é caracterizar a pessoalidade
do sujeito que se fala. Ressalvando que quando o contexto já pressupõe essa pessoalidade pode
ocorrer o substantivo sem o artigo definido, como acontece nos casos genitivo e dativo. Ambos os
casos abaixo o termo Theos não vem precedido de artigo definido.

Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou há de odiar um e


amar o outro, ou se dedicará a um e desprezará o outro. Não
podeis servir a Deus e a Mamom. (Mt.6.24) ênfase minha

Então aproximaram-se os que estavam no barco, e adoraram-no,


dizendo: És verdadeiramente o Filho de Deus. (Mt.14.33) ênfase
minha

Uma outra consideração é que ao usar “qeo.j” nem sempre os autores bíblicos estavam
designando a pessoa, mas a natureza de quem se fala. Como é o caso do prólogo do Evangelho
de João.

VEn avrch/| h=n o` lo,goj kai. o` lo,goj h=n pro.j to.n qeo,n kai.
qeo.j h=n o` lo,goj (Jo.1.1) grifo meu

Theos além de indicar uma pessoa (com ou sem o artigo definido), ou mesmo a natureza
daquele que se fala, pode ainda apontar para a idéia de uma divindade. Senão vejamos a própria
epístola de Paulo aos Coríntios, em ambos os casos não aparece o artigo definido.

Assim que, quanto ao comer das coisas sacrificadas aos ídolos,


sabemos que o ídolo nada é no mundo, e que não há outro Deus,
senão um só. (1Cor.8.4) ênfase minha
Todavia para nós há um só Deus, o Pai, de quem é tudo e para
quem nós vivemos; e um só Senhor, Jesus Cristo, pelo qual
são todas as coisas, e nós por ele. (1Cor.8.6) ênfase minha

Concluímos que não há nenhuma razão de força gramatical para crermos que o uso “o`
qeo.j” queira indicar “Deus”. Mas simplesmente que se refere a um ser pessoal que dentro da sua
esfera o século age com características de uma divindade.
Avançando um pouco mais na resposta a questão - Quem é o deus deste século?
diríamos que toda essa discussão poderia ser evitada se cuidarmos da função ablativa que aponta
de onde procede o “deus” que se fala: “tou/ aivw/noj”. Mais uma vez precisamos considerar qual era
a intenção de Paulo ao afirmar que este “o` qeo.j” procedia deste “tou/ aivw/noj”. Para isso precisamos
fazer jus à teologia paulina sobre as “eras” escatológicas, a qual ele cita com muita vastidão nas
suas comunicações epistolares aos coríntios. Paulo tendo sido um judeu zeloso partilhava da
esperança judia da vinda do Messias para destruir seus inimigos, redimir Israel e estabelecer o
Reino de Deus; Todavia, a despeito de ser a estrutura básica do pensamento de Paulo, essa
esperança messiânica começou a se configurar através das interpolações de “eras”:

Acima de todo o principado, e poder, e potestade, e domínio, e


de todo o nome que se nomeia, não só neste século (aiôni), mas
também no vindouro; (Ef.1.21)

Nas duas epístolas aos coríntios fica claro que Paulo confronta seus oponentes a respeito
da perspectiva que tinham sobre o “aivw/n”. No pensamento paulino estas eras são identificadas em
esferas distintas. Ele fala frequentemente deste “aivw/n” como o tempo do mal e da morte. A
sabedoria deste “aivw/n” é incapaz de levar os homens a Deus. Os homens que ocupam posições
de poder neste “aivw/n” são tão cegos à verdade de Deus que crucificaram o Senhor da Glória.

Todavia falamos sabedoria entre os perfeitos; não, porém, a


sabedoria deste mundo, nem dos príncipes deste mundo
(aiôn), que se aniquilam; (1Cor.2.6) ênfase minha

Onde está o sábio? Onde está o escriba? Onde está o


inquiridor deste século (aiôn)? Porventura não tornou Deus
louca a sabedoria deste mundo? (1Cor.1.20) ênfase minha

A qual nenhum dos príncipes deste mundo (aiôn) conheceu;


porque, se a conhecessem, nunca crucificariam ao Senhor da
glória. (2Cor.2.8) ênfase minha

Evidentemente que Paulo também fala numa antítese apropriada a esta “era”, e essa se
dará na revelação de Cristo em sua parousia. No entanto, a razão de Paulo enfatizar esse século
mal reside na perspectiva errada do grupo de entusiasta penumatistas que substituíram a
expectativa escatológica futura com uma escatologia presente através do realismo sacramental
(semelhante aos cultos místico helenistas), afirmando que já tinham atingido o alvo da redenção
sem esperar por uma outra era.
Ora, se prega que Cristo ressuscitou dentre os mortos, como
dizem alguns dentre vós que não há ressurreição de mortos?
(1Cor.15.12)

Por isso Paulo enfatiza este “aion” em sua condição de queda, caracterizado por uma vida
de auto-gratificação, em vez de obediência à vontade de Deus. Por isso não é de se estranhar que
ao falar da cegueira daqueles que se perdem, ele descreva como rebelião contra Deus e quanto
ao trabalho redentor de Deus em Cristo, subserviente a Satanás, “o deus deste século.”
Realmente seria muito estranho uma teologia bíblica que diante de tudo isso ainda considerasse
que “Deus” é o “deus” deste “aion”.
Concluímos que a razão desta atual condição dos incrédulos como suas mentes
corrompidas, dá-se pela influência de Satanás “o deus deste século”. O modus operandi de
Satanás alcançar seu objetivo é descrito com o verbo cegar (evtu,flwsen). O tempo verbal aoristo
indica a ação vista no seu todo, uma ação completa sem necessariamente significação temporal
(pontilear). Por essa razão não devemos nos preocupar demasiadamente sobre o tempo em que
Satanás cegou os incrédulos, mas simplesmente, segundo o tempo aoristo, tomar isso como um
fato já estabelecido. Isso sugere uma discussão a respeito do dualismo no cristianismo que
veremos na abordagem teológica. Abaixo, Champlin comentando esta ação de Satanás alista
algumas possibilidades usadas por ele:

1. Por ser ele o deus deste mundo, ele surge equipado com muitos
meios poderosos para prejudicar aos seres humanos.
2. Ele é capaz de utilizar-se da concupscência da carne, dos desejos
dos olhos e do orgulho da vida (1Jo.2.16). com o intuito de destruir as
almas humanas, e de por em obstáculo à espiritualidade dos crentes.
3. Ele descobre meios para contrabalançar a beleza de Cristo,
conforme essa beleza é vista no espelho espiritual (ver as maldades,
das vantagens que ele oferece e dos benefícios ilusórios que ele
promove).
4. Ele impele os homens a sacrificarem sua própria vida, por causa
de alguma vantagem temporária. Em seu mercado, todas as coisas
são vendidas, e os homens compram ansiosa e avidamente as suas
quinquilharias, a custo de seu próprio bem-estar espiritual. Mas, que
lhes importa isso? Ele conseguiu engana-los completamente, e se
sentem felizes em sua ignorância. Alguns chegam mesmo a negar
que Deus existe, ou que o homem sobrevive à morte física. Ao
negarem assim a realidade de suas próprias almas, os homens
odeiam a si mesmos.6

b) “... para que lhes não resplandeça a luz do evangelho da glória de Cristo,...”
Esta sentença sugere uma outra pergunta interpretativa: Qual o objetivo final da cegueira
dos incrédulos? Ora, para não alongar e fugir da proposta da pesquisa, não comentarei algumas
expressões dessa sentença. Haja visto que a “noêma” é a faculdade do juízo estritamente
relacionada com o entendimento da salvação, ofuscada pelos artifícios de Satanás ela não
consegue perceber a luz do Evangelho que por sua vez reflete a beleza (Glória) de Cristo. Ou seja,
impossibilita a salvação pela obra expiatória de Cristo.
II ANáLISE HISTóRICA

A particularidade histórica que nos interessa para essa passagem é o “modus vivendi” da
cidade de Corinto no primeiro século. Haja vista ser um centro comercial, Corinto atraia para si
povos de todos os recantos do mundo mediterrâneo. Essa miscelânea de culturas deu origem a
uma moralidade que era considerada inferior mesmo à luz dos padrões do paganismo. Houve uma
altura em que o templo de Afrodite em Corinto alojava mil sacerdotisas que eram prostitutas
profissionais, e o fluxo e refluxo dos viajantes traziam a cidade uma população flutuante que
incluía a escumalha do Mediterrâneo.7 Essa vida religiosa refletia a grande mistura de povos e
costumes. Contavam com diversos cultos misteriosos onde se destacava o sincretismo dos
deuses. Diante dessa imoralidade relacionada aos cultos pagãos o apostolo Paulo afirmava ser
adoração ao próprio demônio (1Cor.10.20). Não deveria nos espantar que agora ele afirme que
essa cegueira espiritual procedia de Satanás, “o deus deste século”. Por isso, dizer que é “Deus”
aquele a quem Paulo se refere como “o deus deste século” é não levar em consideração o próprio
contexto religioso e moral da cidade de Corinto.
O ministério de Paulo em Corinto parece também ter decorrido debaixo de uma tensão
considerável com o judaísmo local. Por essa razão é que ele refere-se a o véu posto sobre aqueles
judeus (2Cor.3.15), esse véu tem função similar à cegueira dos incrédulos, visto que ambos
impedem de serem iluminados e salvos pelo Evangelho da Glória de Cristo.

III ANáLISE TEOLóGICA

Nessa abordagem buscaremos identificar alguns tópicos que podem ser tidos como
conflituosos, pois afirmar que “o deus deste século” é Satanás pode gerar pelo menos duas
controvérsias que alistaremos abaixo e procuraremos resolver.

3.1 Como admitir que Satanás é o agente da cegueira se em outras passagens “parece” ser
uma obra de Deus?

Vejamos as principais passagens que estão em questão:

“E disse-lhe Jesus: Eu vim a este mundo para juízo, a fim de que os


que não vêem vejam, e os que vêem sejam cegos.” (Jo.9.39).
Cegou-lhes os olhos, e endureceu-lhes o coração, A fim de que não
vejam com os olhos, e compreendam no coração, E se convertam,
E eu os cure. (Jo.12.40)

É notável que nos textos citados bem como em outros similares a estes a cegueira
espiritual é dita em relação ao povo judeu. Essa é a chave de interpretação. A cegueira física em
Israel era um defeito cúltico. Os cegos não podiam atuar como sacerdotes (Lv.21.18). Muitos
judeus interpretaram como castigo divino porque impedia o estudo da lei. Diante disso a cura de
um cego era um sinal claro que o tempo da redenção tinha se tornado uma realidade presente, ou
seja, era um sinal messiânico. Quando João Batista teve dúvidas e mandou os discípulos para
fazerem perguntas a Jesus, ele respondeu: “os cegos vêem”. (Mt.11.5; Is.19
18; 35.5).
Por outro lado, metaforicamente os judeus consideravam todos os gentios como cegos.
Isso produziu uma perspectiva missionária que é marcada por uma esperança de alcance
mundial, mesmo no Antigo Testamento, pois a verdade de Javé sairia como “luz para as nações”
(Is.51.4), e elas viriam em grandes números para a luz de Deus (Is.60.3).
Essa função de Israel servir de luz para as nações alcançaria seu ápice na revelação de
Jesus como filho de Davi. Todavia, esses que são considerados iluminados, e não são cegos
espirituais, tornaram-se como os tais ao rejeitar o próprio Messias. Por essa razão os textos acima
mencionados devem ser tomados “judicialmente,” neles Deus os julga pela sua própria cegueira: o
não reconhecimento de Jesus como Messias. Ao citar o texto veterotestamentário, o evangelista
muda os imperativos de Isaías para o passado porque a profecia alcançara então seu
cumprimento na Era Messiânica. Não se pode eliminar o propósito pelo qual o Senhor cegara seus
olhos e endurecera seu coração, era para que não se volvessem para ele, e como resultado
fossem curados. Mas será que há algum antecedente lógico nesse decreto divino de cegar esses
judeus? Sim. O versículo 38 esclarece: “quem creu na nossa pregação?” As multidões judaicas,
por meio de suas próprias falhas fracassaram em aceitar a Cristo pela fé genuína.
Essa idéia e corroborada pelo apóstolo Paulo quando no capítulo nono de Romanos
aborda o fracasso de Israel:
Como está escrito: Eis que eu ponho em Sião uma pedra de tropeço, e
uma rocha de escândalo; E todo aquele que crer nela não será
confundido. (Rm.9.33).

Paulo então vai à própria raiz do fracasso de Israel, ou de sua cegueira, a razão histórica é
porque se chocaram contra a Pedra de Tropeço, fracassaram em reconhecer a Jesus como seu
Salvador e assim não perceberam que em Cristo o véu (usado figuradamente pelo apóstolo) é
removido. Mas se perguntássemos: Por que tropeçaram? O versículo anterior responde de
maneira definitiva revelando a mesma lógica de João: “Porque não foi pela fé, mas como que pelas
obras da lei; tropeçaram na pedra de tropeço;” (Rm.9.32).
Nessa condição os judeus se assemelham aos gentios que vivem na escuridão espiritual. E por
essa razão, para que saiam dessa cegueira espiritual devem ter a mesma atitude dos gentios: a
conversão. “Mas, quando se converterem ao Senhor, então o véu se tirará.” (2Cor.3.16).
Ora, fica claro que essa cegueira espiritual dos judeus é judicial, é uma obra de Deus. Mas,
quanto a 2Cor.4.4 percebemos que o apóstolo Paulo muda a audiência, ele apresenta a
necessidade de não desfalecer no anúncio desse Evangelho que é Luz, e prossegue relacionando
esse anúncio a uma audiência que vai além dos judeus: “e assim nos recomendamos à
consciência de todo o homem, na presença de Deus, pela manifestação da verdade. “ 2Cor.4.2
(ênfase minha). Portanto, ao falar da cegueira dos incrédulos, apesar de ser semelhante no seu
fim as trevas espirituais essa cegueira não é de natureza judicial, como no caso dos judeus. A
cegueira dos incrédulos não é um juízo porque não identificaram os sinais da missão messiânica
de Cristo, essa era a tarefa dos judeus, pois foram oráculos da sua revelação. O próprio contexto
sinaliza a razão da cegueira dos gentios:

Mas temo que, assim como a serpente enganou Eva com a sua
astúcia, assim também sejam de alguma sorte corrompidos os
vossos sentidos (noêma), e se apartem da simplicidade que há em
Cristo. (2Cor.11.3) ênfase minha

A cegueira espiritual é relacionada com o “deus deste século” exatamente por causa do
evento da queda do homem. Na passagem mencionada os crentes devem cuidar de não
incorrerem no erro de Eva, pois desde lá os homens tiveram suas noêma corrompidas. E assim
não resta mais nenhuma dúvida de que em 2Cor.4.4 o “deus deste século” é o mesmo que esteve
no Éden tentando os primeiros homens e assim todos permanecem nas trevas espirituais.
Apesar da cegueira dos judeus ser um juízo pelo não reconhecimento dos sinais
messiânicos e a cegueira dos gentios remontar a astúcia de Satanás no evento da queda.
Elementos de um podem estar também no outro. No caso dos judeus Jesus revela que o próprio
Satanás também estava envolvido no fato deles não o reconhecerem como Messias:

Por que não entendeis a minha linguagem? Por não poderdes


ouvir a minha palavra. Vós tendes por pai ao diabo, e quereis
satisfazer os desejos de vosso pai. (Jo.8.43,44a)

Quanto aos gentios não se pode negar que essa cegueira, mesmo remontando ao evento
da queda, também envolva um aspecto judicial.

E, como eles não se importaram de ter conhecimento de Deus,


assim Deus os entregou a um sentimento perverso, (Rm.1.28)

Conclui-se que tanto num caso como no outro Satanás como arquiinimigo de Deus sempre
está envolvido com aqueles que estão nas trevas espirituais. Mas também que Deus para cumprir
seus desígnios de juízo se vale inclusive das obras do próprio Satanás.
3.2 Afirmar que Satanás é o “deus deste século” não é extrair o monopólio de Deus e
instaurar um dualismo cósmico?

Antes de qualquer coisa precisamos definir o que significa dualismo. Este ensina que Deus
e o diabo são poderes independentes, como se fosse dois titãs lutando igualmente pelo domínio
do universo.8 Apesar de ter sua origem nas religiões da Pérsia, o dualismo foi introduzido no
cristianismo por um siro-persa chamado Mani (de onde surgira o nome maniqueístas) que
rebelou-se contra uma seita judeu-cristã no sul da Babilônia no terceiro século.
A grande característica do maniqueísmo é que ele rejeita qualquer possibilidade de traçar
as origens do bem e do mal a uma e mesma fonte. O mal existe como um princípio independente e
completamente separado do bem. Deus não teria nada que ver com a origem ou com a presença
do mal no universo.
Um dos teólogos que mais se envolveu com essa concepção foi Agostinho, quando jovem
estudante da academia de Cartago, foi influenciado pelos ensinos ainda recentes do
maniqueísmo. Muito tempo depois, já como cristão Agostinho voltou para o Norte da África,
descobriu que a religião que antes admirava, o maniqueísmo, estava em plena atividade. Quando
finalmente teve a oportunidade de entrevistar o filósofo principal do maniqueísmo, um homem
chamado Fausto, Agostinho abandonou definitivamente o movimento, revoltado, convicto de que
não possuía as respostas que prometia.
Como bispo, anos depois, usou suas faculdades críticas para desmascarar as falsas
reivindicações dos maniqueístas. O principal livro de Agostinho contra os maniqueístas é Da
natureza do bem.9 Levado pelo zelo apologético e tentando anular qualquer argumento que
favorecesse esse dualismo Agostinho interpretou “o deus deste século” de 2Cor.4.4 como
“Deus”.10
O que aconteceu nessa interpretação agostiniana é que a teologia determinou a
interpretação, e não a interpretação a teologia. A partir do conceito neoplatonista ele mostrou que
o mal é simplesmente a privação do bem e assim não admitia qualquer possibilidade de um
dualismo. A questão que deve ser formulada é: Existe algum tipo real de dualismo no cristianismo?
Sim. Apesar de diametralmente diferente do maniqueísmo o evangelho de João apresenta um
dualismo primariamente vertical, um contraste entre dois mundos mundo superior (de cima) e o
mundo inferior (de baixo). “E dizia-lhes: Vós sois de baixo, eu sou de cima; vós sois deste mundo,
eu não sou deste mundo” (Jo.8.23). Este mundo é visto como mal, tendo o diabo como seu
governante (Jo.16.11). O mundo inferior é o reino das trevas, mas o mundo de cima é o mundo da
luz (Jo.1.5). Esse mundo é visto como estando sob o controle de um poder sobrenatural, sendo
descrito como o “príncipe deste mundo” (Jo.12.31; 14.30; 16.11).
Evidentemente que Paulo tinha a mesma concepção, sendo que ao invés de ser vertical (o
mundo de cima e o mundo de baixo) era horizontal (a era presente e a era porvir). Assim não era de
se estranhar que para o apóstolo, semelhante a João, afirmasse que essa era antiga estava sob o
domínio dos poderes sobrenaturais do mal (Ef.2.2), o “deus deste século.
Que existe um dualismo nas Escrituras é inegável. Mas esse dualismo pode ser descrito como um
dualismo temporário, porque a doutrina cristã afirma que o princípio do mal será finalmente
subjugado. Além do que esse é um dualismo histórico, pois o governo providencial e soberano de
Deus é atemporal. Tudo o que existe e acontece no universo é produto da vontade soberana de
Deus. Deus é o Senhor da História, pois está além dela, todos os homens são protagonistas da
realização do governo divino que é determinado de antemão, pois ele opera todas as coisas
conforme o conselho da sua vontade (Ef.1.11).
Afirmar que Satanás é “o deus deste século” não significa igualar dois poderes cósmicos
dualismo cósmico maniqueísta mas reconhecer que existe uma guerra real, existe de fato dois
poderes que enquanto ocorre a história são opostos entre si. Todavia, nessa peleja já está definido
o vencedor e o vencido, alem do que o vencedor é o mesmo que enquanto lutador mantém o
governo sobre o vencido.

CONCLUSãO

Finalizamos essa pesquisa acreditando ter alcançado o objetivo tencionado. O que


falamos versa sobre um tema onde uma atividade satânica e ressaltada. Mas seguindo John
Bunyan em sua representação alegórica, Diábolo apesar de conquistar a cidade de Alma-humana
e provocar nela sérias mudanças, teve enfim que encarar sua derrota.

O Príncipe mandou então chamar um arauto, e ordenou-lhe que percorresse


todo o arraial de Emamnuel, tocando a trombeta e proclamando que o
Príncipe, o Filho de Shaddai, tinha, em nome e para glória de seu Pai,
alcançado uma completa vitória sobre Alma-humana. [...] Procedeu-se em
tudo conforme a ordem que Ele tinha dado, e ouviu-se nas altas regiões uma
dulcíssima música, os capitães que estavam no acampamento romperam
em aclamações, e os soldados entoaram, em honra do Príncipe cânticos de
triunfo; as bandeiras tremulavam, e em toda a parte reinava a alegria [...]
Depois mandou chamar o ex governador Entendimento, que fora demitido
desse lugar quando Diábolo tomou posse da cidade, e reintegrou-o no seu
posto, que havia de exercer durante toda sua vida. Ordenou-lhe também que
mandasse levantar um palácio perto da Porta-Olho, que tivesse o aspecto
exterior de uma torre defensiva. Disse-lhe, outro sim, que lesse todos os dias
da sua vida a Revelação dos mistérios, para que pudesse desempenhar
acertadamente as funções do seu cargo.11
NOTAS

1
BUNYAN, John. As Guerras da Famosa Cidade de Almahumana. São Paulo: Novo Século, 1999. P.30,36.
2
Material usado para consulta: (1) REGA, Lourenço Stelio. Noções do Grego Bíblico. 3ed. São Paulo: Vida Nova,

1991. 227p. (2) GINGRICH, F. Wilbur. DANKER, Frederick W. Léxico do NT Grego/Português. São Paulo: Vida Nova,

1984. 228p. (3) BÍBLIA WORKS FOR WINDOWS. Versão 5.0. CD-ROM.
3
HODGES, Zane C. FARSTAD, Arthur L. (Org.) The Greek New Testament According to the majority Text. 2ed. New

York: Thomas Nelson Publishers, 1985. P.552.


4
HARDER, G. Razão, Mente, Entendimento. In: BROWN, Colin, et al. (Org.) Dicionário Internacional de Teologia do

Novo Testamento. 2 ed. São Paulo: Vida Nova, 2000.Vol. 2. P.1925.


5
CARSON, D. A. A Exegese e suas Falácias. São Paulo: Vida Nova, 1992. P.25.
6
CHAMPLIN, R. N. O Novo Testamento Interpretado versículo por versículo. 4 ed. São Paulo: Candeias, 1997. Vol.

4. P.323.
7
TENNEY, Merril C. O Novo Testamento Sua origem e Análise. 3ed. São Paulo: Vida Nova, 1995. P.301.
8
CAMPOS, Heber Carlos de. A Providência e a sua realização histórica. São Paulo: Cultura Cristã, 2001. P.27
9
OLSON, Roger. História da Teologia Cristã. São Paulo: Vida, 2001. P.266.
10
CHAMPLIN, R. N. O Novo Testamento Interpretado versículo por versículo op cit. P.323
11
BUNYAN op cit. P.127.
ANEXO

Citações que se harmonizam com a interpretação que afirma ser Satanás “o deus deste
séculos” em 2Cor.4.4

“O deus deste século. É o diabo”


BÍBLIA SHEDD. Revista e Atualizada. 2ed. São Paulo: Vida Nova, 1998. p.1634.

“Todos os homens naturais andam cegados pelos seus próprios pecados e também pela
operação do maligno em suas vidas (2Cor.4.4)”
CAMPOS, Heber Carlos de. A Providência e a sua realização histórica. São Paulo: Cultura
Cristã, 2001. p.173.

“Satanás é o príncipe das potestades do ar (Ef.2.2), o deus deste século (2Cor.4.4), cujo objetivo é
cegar as mentes dos homens...”
LADD, George. Teologia do Novo Testamento. São Paulo: Hagnos, 2001. p.375.

“... o diabo cega o entendimento das pessoas, para que elas não compreendam o que lhes está
sendo dito acerca do plano redentor de Deus. (2Cor.4.4)”
LOPES, Augustus Nicodemus. O que você precisa saber sobre batalha espiritual. 3ed. São
Paulo: Cultura Cristã, 2001. p.135.

“Satanás é o deus deste século, que tem valores equivocados, distantes do que realmente
importa, conforme revelado nas Escrituras.”
COSTA, Hermisten Maia Pereira da. O Pai Nosso. São Paulo: Cultura Cristã, 2001, p.83.

“Quando Satanás é chamado o deus e príncipe deste mundo [...] estas representações não
contemplam outra coisa senão a que sejamos cautos e vigilantes...”
CALVINO, João. Efésios. São Paulo: Paracletos, 1998. p.190.

“A mente é o dom mais elevado do homem e, por isso, o diabo concentra os seus ataques nas
mentes dos homens”
JONES, D. M. Lloyd. O Combate Cristão. São Paulo: PES, 1991. P.76;

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