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Fundações ditas de apoio
Educação não é mercadoria!
Filiado à
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O que são fundações de apoio
As fundações de apoio às instituições de
ensino superior são fundações de direito
privado, submetidas às regras de direito
civil, sem fins lucrativos.
►A Constituição Federal prevê que a criação dessas fun-
dações se dê mediante autorização legislativa, no entanto,
várias não obedecem a esse preceito.
“Indústria” de cursos
Os cursos pagos se tornaram uma “indústria” que anuncia
na TV, jornais e rádios, entre outros meios publicitários. A
prioridade dada a esses cursos tem induzido modificações
na graduação e pós-graduação gratuitas, afetando grades
curriculares, programas de disciplinas e o objeto de pes-
quisa em favor de temas de interesse do mercado. Assim, as
fundações violam o preceito constitucional do ensino gra-
tuito em estabelecimentos oficiais, garantido no artigo 206
da Constituição Federal.
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Fundações de apoio Autonomia universitária
A mercantilização do conhecimento
promovida pelas fundações de apoio
compromete a liberdade acadêmica, pois
direciona a formatação de cursos,
currículos, pesquisa para atender aos
interesses do mercado em
detrimento das demandas sociais.
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Como agem as fundações de “apoio”
Essas fundações se utilizam das institu-
ições públicas para burlar mecanismos
legais, sobretudo no tocante a isenções
ficais e na dispensa de licitações.
Casos emblemáticos
A Fundação Euclides da Entre 1997 e 2003, a Fi-
Cunha (FEC), que atua na natec, que atua na Univer-
Universidade Federal Flumi- sidade de Brasília (UnB),
nense (UFF), captou R$ 121 fechou quatro contratos no
milhões entre 2001 e 2004. valor de R$ 40 milhões.
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Um retrato nacional das fundações
Extecamp (Unicamp) - R$ 13,5 rio. A maior parte não presta
milhões em 2005 contas à universidade desde
A fundação matriculou 31 1999. Mais de 90% apresen-
mil alunos em 2005, enquan- tam irregularidades, como a
to a graduação da Unicamp não-prestação de contas e
matriculou 16 mil. Por ano, ausência de convênios.
são oferecidos 1.800 cursos.
Mais de 50% das verbas Unifesp: um intenso processo de
“captadas” com mensa- privatização
lidades são destinados à Um dos problemas mais gra-
remuneração dos professores ves da Universidade Federal
envolvidos em aulas ou co- de São Paulo (Unifesp) é a
ordenação dos cursos pagos. privatização do ensino. Em
Em 2005, o curso mais caro 2002, o Tribunal de Contas
cobrou R$ 9 mil por aluno da União fez uma auditoria
(Engenharia e segurança do na instituição que apontou a
trabalho) e o mais barato co- ilegalidade dos “centros de
brou R$ 1,1 mil (Matemática estudo” que ali proliferavam.
para professores de 5ª a 8ª Em 2004, por iniciativa do
séries do Ensino Fundamen- Conselho Universitário e de
tal). Naquele ano, a funda- 36 dos “centros”, foi criada a
ção captou R$ 13, 5 milhões. Fundação de Apoio à Uni-
fesp (FAp-Unifesp). A FAp
UNESP - 90% das fundações com gerencia 98 cursos pagos e 40
irregularidades convênios de pesquisa com a
Na Universidade Estadual iniciativa privada. O número
Paulista Júlio de Mesquita de alunos matriculados nos
Filho (Unesp), atuam 17 cursos de especialização já é
fundações “de apoio”. Des- maior do que a soma dos gra-
sas, seis foram criadas pelo duandos e pós-graduandos.
próprio Conselho Universitá-
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Facamp e a Fundação Euclides da Cunha
Ensino de excelência para A Fundação Euclides da
formar profissionais de elite Cunha (FEC) é parceira da
é o principal mote das Facul- UFF no Programa de Lín-
dades Campinas (Facamp), guas Estrangeiras Modernas
criada por três fundadores (Prolem), que oferece cursos
do Instituto de Economia da de inglês, francês, alemão,
Unicamp, associados ao ex- italiano e espanhol a preços
presidente da Bolsa de Valo- que variam entre R$ 80 e
res de São Paulo (Bovespa) e R$ 400 mensais. Entre 2001
idealizador da Bolsa de Mer- e 2004, a FEC captou R$
cadorias e Futuros (BM&F), 121 milhões. Uma análise da
o empresário Eduardo Rocha prestação de contas detectou
Azevedo. Situa-se ao lado da irregularidades como ine-
Unicamp e, não por coinci- xistência de documentos de
dência, para chegar às suas aprovação dos programas
instalações é obrigatório pas- e projetos pelos organismos
sar por dentro do campus da envolvidos, falta de indicação
universidade pública. O aces- do apoio acadêmico e ad-
so às instalações das Faculda- ministrativo que prestariam
des Campinas só é feito pelo à UFF e até inexistência de
sistema viário do campus da projetos para os quais ha-
Unicamp. As placas indica- viam sido liberados recursos.
tivas dos diversos institutos Essas irregularidades foram
e unidades da universidade denunciadas ao Ministério
estadual também trazem o Público do Estado do Rio de
nome da Facamp. Quem não Janeiro em 2001, mas até
tem conhecimento de que é hoje não foram devidamente
uma faculdade, confunde-se apuradas.
e acha que é um departa-
mento da Unicamp. A Universidade de Brasília e suas
fundações “de apoio”
A Universidade Federal Fluminense A Fundação Universidade
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de Brasília (FUB) atua em concluiu que houve abando-
parceria com outras três fun- no dos objetivos estatutários
dações: Finatec (Fundação e pediu o fim da isenção
de Empreendimentos Cientí- fiscal da fundação. A Finatec
ficos e Tecnológicos), Fepad tem até filial em Goiânia-
(Fundação de Estudos e GO.
Pesquisas em Administração
e Desenvolvimento) e Fubra Uma fiscalização do Tribunal
(Fundação Universidade de de Contas da União, reali-
Brasília). Essa parceria se zada a pedido da Comissão
dá por meio de subcontrata- de Fiscalização Financeira e
ções, ou seja, o poder públi- Controle da Câmara dos De-
co (maior cliente) contrata putados, encontrou irregula-
os serviços da FUB, que os ridades em quatro contratos
terceiriza. Isso contraria reso- da Finatec com o Ministério
luções e recomendações do da Agricultura, firmados en-
Tribunal de Contas da União tre 1997 e 2003. Os quatro
e do Ministério Público do contratos somam R$ 40,891
Distrito Federal. Dossiê pre- milhões. Chama atenção o
parado pela Associação de fato de a Finatec ser con-
Docentes da UnB (Adunb) tratada para realizar tarefas
revelou que essas funda- que requerem uma especia-
ções comportavam-se como lização que ela não possui:
empresas, e que os repasses monitorar safras agrícolas,
de recursos financeiros por executar e implementar
elas realizados à instituição zoneamento agroclimático e
de ensino resumiam-se a pedoclimático.
acanhados percentuais dos
valores que arrecadavam. Fubra
A Fundação Universidade de
Finatec Brasília (Fubra) captou mais
Após auditar a atuação da de R$ 40 milhões entre 2000
Finatec, a Receita Federal e 2002. O montante é fruto
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dos contratos firmados com Além da Feesc, atuam na
o setor público, muitos deles UFSC a Fapeu, Fepese e
sem licitação. Boiteux. Todas tiveram suas
prestações de contas rejeita-
Feesc sob interdição judicial das pelo Ministério Público
Em janeiro deste ano, a estadual.
justiça de Santa Catarina
decretou intervenção judicial UFBA e Fundação Bahiana de
na Fundação do Ensino de Cardiologia
Engenharia em Santa Cata- Essa relação é um caso
rina (Feesc), determinando exemplar de privatização
o afastamento da diretoria e danosa. O convênio entre
nomeando um administra- a Universidade Federal da
dor provisório que deverá Bahia (UFBA) e a Funda-
realizar uma auditoria nas ção Bahiana de Cardiologia
contas da fundação a partir (FBC) foi assinado em 1990
de 2000. O prazo dado para e formalizou uma parceria
a conclusão da auditoria entre a FBC e o Hospital
é de seis meses. Entre as Universitário (Hupes). De-
irregularidades detectadas núncias feitas por estudan-
pela fiscalização da Receita tes de medicina em agosto
Previdenciária de Florianó- de 2000, investigadas
polis estão: notas fiscais de pela Secretaria de Saúde
despesas pessoais, remune- do Estado da Bahia, pelo
ração de empregados como Denasus e pelo Tribunal de
se fossem prestadores de ser- Contas da União (TCU),
viço sem vínculo empregatí- foram confirmadas, e o con-
cio com a fundação e notas vênio foi interrompido em
fiscais com valores que não 2003. A FBC saiu da UFBA
correspondem aos lançados literalmente às escuras,
na contabilidade. A funda- numa madrugada, levando
ção tem uma dívida com o equipamentos médicos e
INSS de R$ 5,5 milhões. deixando uma dívida esti-
mada em R$ 48 milhões.
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A FBC não se extinguiu e por uma intensa transferên-
hoje é uma empresa de alta cia de conhecimento para a
tecnologia em Salvador que iniciativa privada. A Funape
oferece serviços de cardiolo- assumiu uma presença tão
gia a pacientes com planos ostensiva que se confunde
de saúde. Enquanto isso, o com a própria UFG.
Hupes enfrenta dificuldades
de pessoal e equipamentos Fundação de Apoio à Pesquisa e à
para atender aos usuários Cultura do Estado do Amapá
do SUS. A Universidade Federal do
Amapá (Unifap), uma das
Universidade Federal de Goiás mais novas do país, tam-
(UFG) e Funape bém teve sua fundação de
A UFG tem três fundações “apoio”: a Fundap. A rela-
de “apoio” associadas: Fun- ção entre as instituições foi
dação de Apoio à Pesquisa marcada por irregularidades
(Funape), Fundação Rádio como recebimento de re-
e Televisão Educativa e cursos pela fundação antes
Cultura (RTVE) e a FUN- da assinatura de contratos,
DAHC (Fundação de Apoio não-cumprimento de pra-
ao Hospital das Clínicas da zos, uso de dinheiro público
Faculdade de Medicina). A em aplicações financeiras e
Funape, a maior delas, atua desvio de recursos restantes
como guarda-chuva. Com após término dos projetos.
atuação em todas as áreas, Essas irregularidades foram
intermedeia todos os convê- detectadas por auditoria do
nios e projetos de extensão TCU. Hoje, a Unifap resolve
ou pesquisa que envolvam questões como a realização
docentes da UFG tanto com de vestibular, por exemplo,
empresas privadas (princi- contratando fundações por
palmente do setor farma- meio de licitação. A Fun-
cêutico) quanto com institui- dap continua existindo sem
ções públicas. Seu apoio à “apoiar” a universidade.
universidade se caracteriza
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Faculdades municipais
“Na maioria das vezes, os alunos de facul-
dades municipais não sabem que a insti-
tuição em que estudam é pública”.
Marcos Roberto do Nascimento, aluno do Instituto Matonense Mu-
nicipal de Ensino (SP), ao jornal O Estado de São Paulo (15/9/06)
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Ministérios públicos tentam impedir
cobrança de mensalidades e taxas
O Ministério Público Federal e os ministérios públicos
estaduais, motivados por alunos de universidades públicas,
vêm movendo ações em todo o país para tentar impedir
que essas instituições, em convênio com fundações priva-
das, cobrem por cursos de especialização.
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Irregularidades da Funcer
A entidade não poderia ter estabelecido convênio com
a UEG, já que não possuía autorização do Ministério da
Educação nem do Conselho Estadual de Educação para
atuar como instituição de ensino. Seus “instituidores” são
os principais dirigentes e professores da UEG que acabaram
por firmar convênio com eles mesmos, o que caracteriza
uma situação explícita de conflito de interesses.
Ceará e Pernambuco
O Ministério Público Federal ajuizou, em 2002, ação pública
contra a Universidade Federal do Ceará solicitando, entre
outras coisas, a suspensão do oferecimento de cursos lato e
stricto sensu mediante cobrança de mensalidades. O MPF
entrou também com um pedido de liminar no mesmo ano
contra a Universidade Vale do Acaraú.
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Bibliografia